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SARDINHADA CÍVICA PROPOSTA PARA O CONCURSO NO RULES, GREAT SPOT

Sardinhada Cívica | No Rules Great Spot | Moreira & Moreira

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SARDINHADA CÍVICAPROPOSTA PARA O CONCURSO NO RULES, GREAT SPOT

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Pelos meus nove e dez anos

Gostava de tocar à campainha dos prédios grandes.

Drrim... drrim... drrim...

Depois, fugia até à esquina, afogueado,

A disfarçar o medo.

Mas às vezes quando tinha mais vontade de viver que de fugir

Voltava para trás e espreitava...

Inquilinos em todos os patamares,

Uns olhando para cima e outros para baixo,

Primeiro rogando pragas ao acaso,

Depois interrogando-se,

Cumprimentando-se tardiamente, oferecendo-se os serviços,

E dando-se de um certo calor alheio.

Tocar as campainhas...

Fiz isso em muitas ruas.

Era o modo que eu tinha de convocar a cidade

A encontrar-se, a perguntar-se, a dar-se as mãos e dialogar.

Fernando Sylvan , Convocação

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Houvera sido naquele dia posto a descoberto o último logradouro do quarteirão de

Cedofeita que faltava explorar, com ruínas de granito e jardins imensos por dentro. Os

vizinhos do bairro comiam ameixas no descanso da horta, alguns tocavam instrumentos,

outros liam à sombra, consertavam bicicletas, projectavam o espaço adoptado com a

leveza da cidade que se quer habitável. Respirava-se. As crianças juntavam pauzinhos, que

ateariam o lume da sardinhada cívica na Praça de Lisboa. A Assembleia Popular estava

marcada para as 18h.

- Seremos mil.

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Aos vinte e oito dias do mês de Maio de dois mil e

onze pelas dezoito horas, realizou-se na Praça de

Lisboa a trigésima sétima Assembleia Popular da

Devolução da Praça às Pessoas. Participaram

seiscentos e sessenta e seis cidadãos e cidadãs.--------

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Foi posto à discussão o primeiro ponto da ordem de

trabalhos assente na problemática dos Contrastes

no Tecido Urbano Envolvente, levantada pelo

IGESPAR a propósito do contraste entre a Praça de

Lisboa e a sensível e imponente, histórica e

esplendorosa, Torre dos Clérigos. A questão

partilhada pelo senhor Barroco, despoletou grande

apoio pelos participantes, que se indignaram

conjuntamente com o que a seu ver é um completo

destoar entre a cidade burguesa dos sécs.

XVIII/XIX, face à faixa publicitária com cerca de

setenta e cinco metros de altura, na qual o James

Bond brinda a cidade, ironicamente, com “mais uma

prova de bom gosto”. Posto à votação se o “Porto

tem pinta” ou não com tal desrespeito pelo

monumento, sem demoras e em consenso

mobilizou-se um grupo de pessoas que arrancou a

dita com os braços, e depois saltou-se à fogueira.-----

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Passou-se de seguida ao segundo ponto da ordem de

trabalhos, do qual constava o Acolhimento dos

refugiados dos Mercados do Bom Sucesso e do

Bolhão, e das vítimas de despejo da ES.COL.A

da Fontinha. -----------------------------------------------

A mensagem de boas vindas em forma de quadra

sanjoanina foi declamada pela Dona Maria dos Anjos,

que tinha em tempos vendido ovos de codorniz no

Mercado homónimo singular.--------------------------------

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Seguiu-se a discussão do terceiro ponto da ordem de

trabalhos: a Programação das actividades

extraordinárias da semana. Em representação dos

refugiados recém-chegados à Praça, interveio a Dona

Lisboa, que propôs que se montassem bancas de flores

e vegetais na continuação do mercado de trocas. Da

ES.COL.A disseram estar preparados para trazer as

actividades auto-gestionadas para o novo local. Posto a

votação, o abraço foi consensual, e a âncora do

projecto mantém-se alfarrabista.----------------------------

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Nada mais havendo a tratar, foi apresentado um voto

de confiança à menina Papoila para lavrar a presente

acta, que depois lida em voz alta foi passada de mão

em mão e assinada pelos presentes. Deu-se assim por

encerrada a reunião e abriram-se as hostes da

sardinhada cívica, sem querer marcar posição alguma,

só a espontaneidade das pessoas que também param

para comer a dada hora, e que agradecem quando os

sabores ao prato trazem cores da terra que é nossa.-----

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