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461 cidade sp de quem viu a A aberturadoIbirapuera ,o fim dobonde, a inauguração do primeiro shopping . Muita coisa Aconteceu Nos últimos 60 anos, e os moradores acompanharam tudo de perto. Eles contam o que viram e sentiram , e voltam aos lugares que os marcaram, numa espécie de viagem sentimental notempo para celebrar a aniversariante do dia. históriaS MUDAR :: : Edição de > A cidade vistapor nossos fotógrafos Pág.12 Aniversário Aniversário a D r r r r H1 DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

SP 461 anos - Edição de aniversário

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Page 1: SP 461 anos - Edição de aniversário

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A abertura do Ibirapuera, o fim do bonde, a inauguração do primeiro shopping. Muita coisa Aconteceu

Nos últimos 60 anos, e os moradores acompanharam tudo de perto. Eles contam o que viram e sentiram, e voltam aos lugares que os marcaram, numa espécie de

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COORDENAÇÃO E EDIÇÃO: ANA CAROLINA SACOMAN; PAUTA E REPORTAGEM: DANIEL TRIELLI, EDISON VEIGA E JULIANA RAVELLI; EDITORA DE ARTE: ANDREA PAHIM; EDITORES-ASSISTENTES DE ARTE: ADRIANO ARAUJO E THIAGO JARDIM, Viviane Jorge; EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA: EDUARDO NICOLAU; FOTÓGRAFOS: DANIEL TEIXEIRA, EDUARDO NICOLAU, JF DIORIO, HÉLVIO ROMERO, MÔNICA ZARATTINI, NILTON FUKUDA, SÉRGIO NEVES E TIAGO QUEIROZ; TRATAMENTO DE IMAGENS: CARLA REJIANE

MONFILIER; MULTIMÍDIA NA WEB: JULIANA RAVELLI, DANIEL TRIELLI E EDGAR MACIEL (TEXTO); VINICIUS SUEIRO, RENAN KIKUCHE E TIAGO HENRIQUE (DESIGN); ESTADÃO FAVORITOS: EDITOR-ASSISTENTE: DANIEL TRIELLI; DESIGNER: AKIRA YAMAMOTO

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DA CIDADEabre depois da

festa

o parque mais

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A edição de aniversário de São Paulo continua

na INTERNET. O ESTADO criou um site com os

principais eventos da cidade desde 1954,

data da festa do 4.º Centenário e da inauguração

do Ibirapuera, as memórias mais antigas

publicadas neste especial.

Nessa linha do tempo,

o leitor vai poder

explorar fatos que

mudaram a cidade para

sempre, como a abertura

da AVENIDA 23 DE MAIO, em

1969, a criação do RODÍZIO

DE VEÍCULOS, em 1995, e a

aplicação da LEI CIDADE

LIMPA, que transformou

radicalmente a paisagem

da capital, em 2007.

Também há um QUIZ para

quem quiser testar

os conhecimentos

sobre curiosidades da

história paulistana.

Além disso, o

ESTADÃO FAVORITOS,

aplicativo do

ESTADO para TABLETS

e CELULARES, lança

o especial SP461. Ele

mostra a evolução

da cidade década

a década, desde

1954, em MAIS DE CEM

FOTOS do cotidiano

paulistano. O

aplicativo pode

ser baixado

gratuitamente

na AppStore e na

GooglePlay, mas Cada

especial é comprado

separadamente. O

SP461 custa US$ 2,99

(cerca de R$ 7,70).

bienal do LIV

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Confira! www.estadao.com.br/e/sp461

oimponente Dodge verde

do tio parou na frente decasa. Era sempre umafesta quando ele e a tiachegavam. Aquele, en-tretanto, seria um dia

diferente. A visita não fi-caria restrita ao almoço far-

to e ao bom papo com a famí-lia. Em 21 de agosto de 1954, CeciliaMarisa Cifú, de 69 anos, entrou nocarro com “cheirinho bom de couro”em direção àquela que se tornaria asua melhor memória da infância: ainauguração do Parque do Ibirapue-ra, na zona sul da capital.

“Meus tios haviam combinadocom meus pais, mas eu não sabia aon-de iríamos. Foi surpresa chegar aoparque.” Na época, a dona de casatinha 9 anos. Recorda o movimento,as pessoas “bonitas e arrumadas” e agritaria. “Nunca tinha visto nada tãoamplo, tão cheio de cor.” Naqueledia, ela recebeu aval dos pais para sefartar de algodão-doce, pipoca e sor-vete. Passou mal de tanto comer.

Com projeto arquitetônico de Os-car Niemeyer e paisagístico de Otá-

vio Augusto Teixeira Mendes, o Ibi-rapuera foi chamado de “o mais mo-derno logradouro público do mun-do”. Antes de nascer, existia um pân-tano na região. O plantio de árvores– eucaliptos, principalmente – e adrenagem da água tornaram o proje-to possível.

A previsão era inaugurá-lo na festados 400 anos da cidade, em janeiro,mas as obras atrasaram. Quandoabriu as portas, em agosto, o públicotambém pôde conferir a Exposiçãodo 4.º Centenário, com parque de di-versões, mostras de Estados brasilei-ros e de 28 países, além de um museude cera. Para Cecilia, as figuras pare-ciam vivas, algumas tão terríveis que“causariam pesadelos em muita gen-te”. Após conferi-las, resolveu per-guntar a um guarda se ainda tinhamuita coisa para ver. Os pais e os tioscomeçaram a gargalhar. Só aí ela per-cebeu: o guarda também era de cera.

Ao longo da vida, Cecilia testemu-nhou outros acontecimentos históri-cos da cidade. Chorou com o fim dobonde, em março de 1968 (leia maisna página 9). Em outubro do mesmo

ano, sentiu pavor na Batalha da Ma-ria Antonia. Ela estava em uma ótica,no centro, quando o conflito entrealunos da Universidade de São Paulo(USP) e do Mackenzie começou.

Mas de tudo o que viu e viveu, ainauguração do Ibirapuera ainda ocu-pa um canto especial no coração. Oevento foi um alento para a meninaque, um ano antes, havia enfrentadomeses de choro e tristeza pela doen-ça e morte da avó. “Foi a primeirafesta após um período triste.”

Cecilia voltou ao parque várias ve-zes durante a juventude, depois decasada e com o filho. “É especial.Uma referência para o paulistano. Otempo passou e o Ibirapuera se tor-nou um dos ícones de São Paulo.”

Em seis décadas, o parque recebeualguns dos mais importantes espetá-culos e exposições da capital. Hoje,abriga 494 espécies de plantas e 218de animais. Até 90 mil pessoas visi-tam o local por dia, nos fins de sema-na e feriados. Em 2005, enfim ga-nhou o Auditório do Ibirapuera, úni-ca obra de Niemeyer que ainda nãohavia saído do papel. / JULIANA RAVELLI

m 1970, a produção edi-torial no Brasil engati-nhava. Naquele momen-to, já circulavam pelo

mundo teorias que anunciavamo fim do livro. Desafiando previ-sões pessimistas, nasceu a 1.ªBienal Internacional do Livrode São Paulo. Alfredo Weis-zflog, de 70 anos, hoje presiden-te da Editora Melhoramentos,participou da feira, assim comode todas que se seguiram.

“Na época, não havia profis-sionalismo nenhum”, diz. “Brin-co que a primeira vez em que fuipara Frankfurt (sede da maior fei-ra do setor no mundo), em 1969,sentei na calçada e chorei ao vercomo era a produção de livrosdeles e a nossa.”

Idealizada por Francisco Ma-tarazzo Sobrinho, o Ciccillo Ma-tarazzo, a bienal paulistana foirealizada pela Câmara Brasilei-ra do Livro (CBL) entre 15 e 30de agosto. Editoras do País e deoutras 23 nações participaramda iniciativa, que atraiu 40 milvisitantes. Naquela edição, oevento recebeu o escritor argen-tino Jorge Luis Borges.

Minutos antes da abertura,instalações elétricas aindaeram concluídas, pregos erambatidos, escadas, arrastadas, evassouras tentavam colocar al-guma ordem no edifício quetambém recebia a Bienal Inter-nacional de Arte, no Parque doIbirapuera, na zona sul.

“Os estandes eram de madei-ra. Só em 1984 passamos a ter es-tandes-padrão”, diz Weiszflog.“No começo, a feira só tinha umaentrada e uma saída. Era o que agentechamavade‘caminhodera-to’. As pessoas tinham de passarpor todos os estandes até sair.”

Com o tempo, tudo mudou. Abienal cresceu e se profissionali-zou. Em 1996, foi para o ExpoCenter Norte. Em 2002, para oCentro de Exposições Imigran-tes, e, em 2006, para o Anhembi.“Hoje, as bienais são grandeseventos. No começo, era tão mo-desto, singelo, que hoje não fariasucesso.” A última edição, em2014,teve 720 milvisitantes. /J.R.

CeciliaMarisaCifú. ‘Eununca tinhavisto nadatão amplo,tão cheiode cor’

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******************************

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

exta-feira, 31 deo u t u b r o d e1975. Em plenaditadura, oitomil pessoas sereuniram na Ca-tedral da Sé,centro de SãoPaulo, para um

ato ecumênico comandado pe-lo então cardeal-arcebispo deSão Paulo, d. Paulo EvaristoArns, pelo rabino da Confede-ração Israelita Paulista, HenryIsaac Sobel, e pelo reverendoJaime Nelson Wright, pastorpresbiteriano. Uma semana de-pois de o jornalista VladimirHerzog, o Vlado, ter sido mor-to nos porões do Exército, a ce-lebração era um desafio ao regi-me militar.

“Eu era estudante (do 3.º anode Jornalismo, na Escola de Comu-nicação e Artes da Universidadede São Paulo), aluno do Vlado efoca (jornalista iniciante) delena TV Cultura”, recorda-se o ho-je consultor de comunicaçãoGabriel Priolli, na época com 22anos. “Fomos para lá morrendode medo, achando que, no fim,todos seríamos presos. Era umatensão muito grande, apesar desabermos que estávamos calça-dos politicamente, graças aoapoio do cardeal, do rabino e doreverendo. Os religiosos foramnosso escudo protetor.”

Priolli lembra bem do temorque sentia ao olhar para os pré-dios ao redor da Praça da Sé evê-los tomados por policiais,munidos de câmeras e, claro,armas.

Então estudante de Letras na

Faculdade de Filosofia, Letras eCiências Humanas (FFLCH), ohoje jornalista Dirceu Rodri-gues também tinha 22 anos na-quele dia e foi até a Praça da Sécom outros quatro estudantes.

“Eu morava numa travessada Brigadeiro Luís Antônio.Nos encontramos na minha re-pública e de lá partimos”, con-ta. “Nossa rua ficava próximade um departamento do Exérci-to. Tinha guarda armado o tem-po todo.”

Rodrigues lembra que, a man-do do Exército, o trânsito de veí-culos na região central foi inver-tido naquele dia, para dificultara chegada à Praça da Sé de carroou de transporte público. Elefoi a pé com os amigos. “Estáva-mos apreensivos, com medomesmo, pois o clima era horro-roso”, conta o jornalista. “Lem-bro da emoção que foi o culto.Quando terminou, saímos rapi-dinho. Sabíamos apenas queacabávamos de testemunharum momento bem negro danossa história.” / EDISON VEIGA

obre quebrar oviolão e jogá-lono público, Sér-gio Ricardo dissea u m a m i g o :“Não podia terfeito outra coi-

sa”. E completou: “Que estra-gou minha carreira, nada. Te-nho um lastro atrás de mim. Eesse público que me vaiou?.”

A conversa foi publicada peloEstado, em 22 de outubro de1967, um dia após a final do 3.ºFestival de Música Popular Bra-sileira. Na noite anterior, emum teatro da Avenida Brigadei-ro Luís Antônio, na Bela Vista,jovens mudavam o rumo da mú-sica no País, entoavam cançõesque entrariam para a história edesafiavam a ditadura militar.

O jornalista Zuza Homem deMello, de 81 anos, era técnicode som da TV Record na época,emissora que exibia o evento.Conta que, naquele festival, avaia ganhou tanta importânciaquanto os aplausos. “Lembroda luta que foi fazer com que oscantores fossem ouvidos.”

Após a confusão com SérgioRicardo, Caetano Veloso anda-va de um lado para o outro,preocupado com o que aconte-ceria quando também subisseao palco. Nada perto, porém,do pânico que tomou conta deGilberto Gil em uma das elimi-natórias. Foi preciso buscá-lo

no hotel para que cantasse.Segundo Zuza, as principais

canções finalistas foram a gran-de marca do festival. “Eram qua-tro músicas de tal nível que qual-quer uma que vencesse não te-ria problema. A melhor grava-ção de Roda Viva é aquela.”

Mas a noite de 21 de outubrode 1967 foi de Edu Lobo e Marí-lia Medalha. Ovacionados, fize-ram muita gente chorar comPonteio, a campeã do festival.Zuza revela que esta era a suapreferida. “Era uma música queme tocava profundamente”,

diz. “O júri preferia músicascom conteúdo político. Se o jú-ri preferia, imagina o público.”

Domingo no Parque, com Gil eOs Mutantes, ficou em segundolugar, seguida por Roda Viva, in-terpretada por Chico Buarque eo MPB-4, e Alegria, Alegria, comCaetano e os Beat Boys.

O último festival da Recordfoi exibido em 1969. Chico, Gil,Caetano e Edu viraram ícones.E naquele teatro da Brigadeirohoje fica o Teatro Renault, umdos principais palcos para musi-cais na cidade. / JULIANA RAVELLI

o Vale doAnhanga-baú pare-

cia “umat o r n e i r a

aberta” detanta gente que chegava para aúltima e maior passeata das Di-retas Já na capital paulista, em17 de abril de 1984. No meio damultidão, o físico e ativista cul-tural José Luiz Goldfarb, hojecom 57 anos e professor de His-tória da Ciência na PUC-SP, viacom prazer o movimento histó-rico do qual participava. “Eramuito lindo. A gente que estavano movimento, era jovem, acre-ditava que ia ganhar”, lembra.“Só tinha visto uma cena daque-la, do Vale do Anhangabaú lota-do daquele jeito, em 1970, quan-do a seleção tricampeã chegoudo México.”

Goldfarb, que sete anos de-pois se tornaria curador do Prê-mio Jabuti, era um ativo militan-te a favor da aprovação da Pro-posta de Emenda Constitucio-nal Dante de Oliveira na Câma-ra dos Deputados, que coloca-ria um fim efetivo na ditadura,ao exigir o fim do voto indiretopara presidente. Esteve no mo-vimento em São Paulo desde oprimeiro protesto, que juntou15 mil pessoas na Praça CharlesMiller, em novembro de 1983.“Ainda era pequeno, mas já sen-sibilizou.”

Há exatos 31 anos, também noaniversário de São Paulo, cercade 500 mil pessoas se reuniramna Praça da Sé para o primeirogrande comício das Diretas nacidade. Goldfarb, claro, estavalá. “Foi uma loucura, estava su-perespremido. Efoi um momen-

to legal, porque juntou muitosartistas e políticos, como Ulys-

ses Guimarães e Lula.”O maior comício, no

entanto, seria o doAnhangabaú, que reu-

niu 1,5 milhão de pes-soas. E poderia não ter

acontecido. “Houve uma cer-ta vacilação, um certo receio sevaleria a pena provocar o regi-me mais uma vez”, conta Gold-farb. Mas, no meio dessa indefi-nição, ele se viu em uma posi-ção privilegiada para conseguiruma informação que poucos ti-nham. Na época, Goldfarb tra-balhava em um livro com depoi-mentos de pessoas que convive-ram com o físico Mário Schen-berg (1914-1990). “Uma das pes-soas que queria entrevistar eraum senador chamado Fernan-do Henrique Cardoso”, lembra.

Ele foi até a casa de FHC emIbiúna, no interior paulista, con-seguiu a entrevista e um poucomais. “Tive de interromper 500vezesa conversa porquetoda ho-ra telefonava Jorge da Cunha Li-ma (então secretário de Cultura erepresentante do governadorFranco Montoro no Comitê Pró-Diretas) para falar com o FHCsobre a necessidade do segundocomício. Foi engraçado, porqueele pedia para eu desligar o gra-vadortoda vezque precisava dis-cutir com o Jorge. No fim, saífeliz, porque percebi que ia ter.”

Depois do 17 de abril históri-co, era hora de acompanhar avotação da emenda, no dia 25 domesmo mês. Foram 298 votos afavor, mas a proposta não che-gou aos dois terços necessários.Goldfarb viu o resultado do Ibi-rapuera, onde uma multidãoacompanhava a votação. “Aca-bou ali aquele movimento, masfoi muito importante para oPaís. Não tinha mais volta.” Cin-co anos depois, após a eleição emorte de Tancredo Neves e omandato de José Sarney, os bra-sileiros finalmente votariam pa-ra presidente.

Hoje, o Anhangabaú ainda épalco da história de São Paulo edo País. Lá ocorrem manifesta-ções, como os atos contra o au-mento da tarifa de ônibus orga-nizados pelo Movimento PasseLivre (MPL). E também é umlocal de festas: hoje mesmo vaipassar por ali a Pedalada de Ani-versário de São Paulo, promovi-da pela Prefeitura, a partir das 8horas. / DANIEL TRIELLI

DirceuRodrigues.‘Estávamos

apreensivos,com medo’

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o início dos anos1990,aaids assom-brava o mundo. AParada Gay demo-raria alguns anosaté ganhar as ruasda capital. E, ape-sar das conquis-tas desde 1960, amulher brasileira

ainda lutava para se desvenci-lhar da visão tradicional de seupapel na sociedade. Quandochegou para seu primeiro showno Brasil, em 1993, a já supers-tar Madonna era uma das pou-cas que colocavam o dedo na fe-rida. Falava sobre sexo, aids ehomofobia nas apresentações.

Foi assim, com audácia, que aturnê The Girlie Show tomou oEstádio do Morumbi, na zona

sul, em 3 de novembro. RachelPerez, de 42 anos, tinha 20 quan-do foi assistir à cantora, da qualera fã desde 1984. “Era umaquarta-feira. Cheguei de madru-gada, às 4 horas. Fiquei o dia in-teiro na fila. Nem fui trabalhar.”

Semanas antes de Madonna,nos dias 15 e 17 de outubro, oMorumbi recebeu outro supe-rastro. Michael Jackson apre-sentou ali a turnê DangerousWorld Tour para 200 mil pes-soas. Foi sua segunda passagempelo País; a primeira havia acon-tecido em 1974, com o Jackson 5.

A expectativa para a apresen-tação de Madonna era grande.Naquela época, os shows eramuma incógnita. Sem internet pa-ra pesquisar, era preciso vascu-lhar jornais e revistas – muitas

eve atraso de atéquatro horas. Cho-veu tanto que a con-centração ficouinundada. As arqui-bancadas de alvena-

ria não puderam ser construí-das, e o jeito foi montar as demadeira. A iluminação tambémnão estava pronta. Mas os suces-sivos problemas não importa-vam, afinal, a casa era nova, per-manente. Em fevereiro de 1991,o carnaval paulistano finalmen-te ganhou a sua passarela defini-tiva, o Polo Cultural e Esporti-vo Grande Otelo, mais conheci-do como Sambódromo doAnhembi, na zona norte.

O analista contábil Luiz Car-los da Silva, de 54 anos, estavalá. Desfilou em uma ala da Ro-sas de Ouro, campeã naquele

ano, ao lado da Camisa Verde eBranco. “A gente já imaginavaque seria maravilhoso, como aSapucaí, no Rio. Foi um choque.O sambódromo era muito gran-de, bonito e cheio de TV.”

Integrante da Rosas desde1979, Silva estava habituado aosdesfiles na Avenida Tiradentes,

também na zona norte. “Naque-la época, era mais folia. A gentepassava mandando beijinho pa-ra as arquibancadas. Não paga-va (entrada). O povão mesmoera quem desfilava e, depois,voltava para ver o resto.”

Com projeto inicial de OscarNiemeyer – que também haviacriado a Marquês de Sapucaí,no Rio –, o Anhembi era o quefaltava para a profissionaliza-ção do carnaval paulistano, se-gundo dirigentes da folia na épo-ca. “As mudanças foram com odecorrer do tempo. Hoje, tem odesfile técnico. Naquela épocanão tinha isso. A gente ensaiavana quadra, na rua. Agora, é mui-ta regra para seguir. É um negó-cio bem profissional.”

Em 1991, a Rosas levou o títu-lo com o enredo sobre as mulhe-res. “A gente fez uma festa dana-da”, diz Silva, que há 21 anos to-ca surdo de primeira na bateriada agremiação. Em 1992, a esco-la foi bicampeã com samba emhomenagem a São Paulo.

No primeiro carnaval, as ar-quibancadas tinham espaço pa-ra 25 mil pessoas. Hoje, a capaci-dade total é de 29.199, contan-do camarotes, mesas e cadeirasde pista. Com 530 metros de ex-tensão e 14 de largura, a passare-la do Anhembi não é só o palcodas escolas. Recebe shows, fei-ras e até mesmo eventos auto-mobilísticos, como a FórmulaIndy, realizada no local entre2010 e 2013. / JULIANA RAVELLI

aquele já histórico 12de junho de 2014, pou-cos conheciam tãobem a Arena Corin-

thians, popularmente chamadade Itaquerão, quanto SeverinoSantos da Silva, o Barba, per-nambucanode 44 anos, corintia-no desde criança, morador deSão Miguel Paulista, extremoleste paulistano.

Eraa esperada abertura da Co-pa do Mundo e, em campo, a se-leçãobrasileira inauguravao tor-neio enfrentando o time da

Croácia. Na moderna arquiban-cada, entre os 62.103 torcedoresestava Barba – um dos cerca de 2mil operários que construíramo estádio do Corinthians. “Tra-balhei aqui desde o primeiro diadas obras, em 2011”, conta ele,que ganhou o ingresso para verojogo, assim como todos os ope-rários das arenas – as partidasforam sorteadas entre eles.

“Eu nunca tinha visto um jo-godo Brasilem um estádio. Cho-rei muito quando a bola come-çou a rolar”, admite. “Ver a casa

cheia deu um gostinho especialpara mim. Afinal, eu vi o estádionascer, a grama ser plantada, tu-do ser construído.” Antes, Bar-ba só tinha ido ao Pacaembu – eem jogos do seu Corinthians.“A primeira vez que pisei lá eutinha 12 anos e fui com minhamãe, Maria Virgínia, tambémcorintiana, e dois dos meus oitoirmãos”, lembra.

Tirando a parte futebolística– porque ninguém aqui quer fi-car lembrando daqueles famige-rados 7 a 1 –, o Mundial no Brasilfoi um sucesso, muito superioràs previsões pessimistas do ti-po “imagina na Copa” que circu-lavam antes de o torneio come-çar. E São Paulo, de patinho feioentre as cidades-sede acabou serevelando um badalado destinoturístico.

A Vila Madalena, tradicionalbairro boêmio da zona oeste, setornou ponto de encontro detorcedores brasileiros e estran-geiros a cada jogo – e, principal-mente, após as partidas. Pare-cia um carnaval no meio do ano.Carros nem sequer conse-

guiam transitar pelas principaisruas da região, e as festas inva-diam a madrugada. O pico degente no bairro foi no dia 4 dejulho, quando 70 mil pessoas as-sistiram de lá à partida das quar-tas de final entre Brasil e Colôm-bia. No centro, o Vale do Anhan-gabaú também lotou todos osdias, com o palco oficial da Fifa– a chamada Fan Fest.

De acordo com balanço divul-gado pela São Paulo Turismo(SPTuris), 495.859 turistas pas-saram pela capital durante os30 dias do evento futebolístico.Desse total, 299.322 eram brasi-leiros e 196.547, estrangeiros –um terço oriundo da Argentina.

O brasileiro gastou em médiaR$ 2,2 mil, enquanto o estran-geiro desembolsou R$ 4,8 mil.A Prefeitura estima ter gastadode R$ 30 milhões a R$ 40 mi-lhões com operações relaciona-das ao evento – sem consideraros investimentos em infraestru-tura. Ao mesmo tempo, a arre-cadação foi de R$ 1 bilhão, deacordo com a administraçãomunicipal. / EDISON VEIGA

Luiz Carlosda Silva.‘Foi umchoque’

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o engenheiro e indus-trial Herminio Marsi-

cano era um desses sujeitos vi-sionários, que enxergam o futu-ro nas obras do presente. Pelomenos é assim que dele se lem-bra sua neta Maria Tereza Rodri-gues, hoje advogada e diretorade Relações Institucionais deuma empresa energética.

“Minha família morava noJar-dim Europa e, quando ele soubeque estavam para construir umshopping center ali perto, come-çou a discursar para todos: aqui-lo iria mudar o bairro, o compor-tamento do paulistano, seriaum marco”, diz.

Marsicano decidiu investirno empreendimento. Com-

prou dez cotas e, no dia da inau-guração, em 28 de novembro de1966, convidou Maria Tereza,então com 13 anos, para a festa –que teve show de Chico Buar-que, Nara Leão, Eliana Pittmane Chico Anysio, para mais de 5mil pessoas. “Todas as lojas chi-ques da (Rua) Augusta se muda-ram para o shopping.”

O avô de Maria Tereza morre-ria dois anos depois. Não veriaSão Paulo se transformar na ter-ra dos shoppings – hoje sãomais de 50 espalhados pela cida-de. As cotas da família foramvendidas em seguida. “Mas oIguatemi segue sendo o ‘nossoshopping’”, diz ela.

Antes dele, a cidade experi-mentou o conceito multifuncio-nal do Conjunto Nacional, aber-to na Avenida Paulista em 1956.O arquiteto David Libeskind(1928-2014) projetou o prédiode modo que o térreo fosse in-terligado com o espaço públicoexterno. / E.V.

importadas – para obter algumainformação. “Sabíamos só a rou-pa principal que ela iria usar,que estava de cabelo curtinho eos adereços de Vogue.”

À tarde, quando Rachel já esta-va no estádio, uma surpresa.“Entrou no palco uma mulherencapuzada,pequena, dando or-dem para todo lado. Na hora,coloquei o binóculo e vi aquelamulher maravilhosa. Chorei docomeço ao fim”, diz Rachel, quehoje integra o fã-clube e portalbrasileiro Estilo Madonna.

O show começou às 21 horas;86 mil pessoas viram, eufóricas,a apresentação que evocava oscabarés e os anos 1970. Madon-na falou palavrões em portu-guês, cantou Garota de Ipanemaem inglês e dedicou In This Life

para dois amigos que haviammorrido de aids.

Paty Prudente, de 42 anos,saiu sozinha de Maceió para vera estrela. “Cheguei um dia an-tes. Meu tio me levou ao estádioe esperou até do fim do lado defora.” Para Paty, que coordenao fã-clube Minsane, entre os mo-mentos mais marcantes estão amúsica Everybody, a última daapresentação, e a hora em que acantora levantou sobre os om-bros a camisa da seleção brasi-leira. “Chorei muito.”

Além de Madonna e Michael,Queen, Kiss e Menudos já ha-viam passado pelo Morumbi. Ea vocação para grandes showscontinua. O último a se apresen-tar no estádio foi o Foo Figh-ters, na sexta-feira. / J.R.

FOTOS: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

oram apenas 500 partici-pantes, conforme algu-mas estimativas. Ou 2mil, de acordo com ou-tras. Apesar dos núme-ros modestos, a primeira

edição da Parada Gay de SãoPaulo foi um marco. “Ocupa-mos as ruas durante o dia e nostornamos visíveis”, recorda-seo ativista Roberto de Jesus,mais conhecido como Beto deJesus, hoje com 52 anos, um dosorganizadores daquele evento.“No final, eu chorava muito. Defelicidade.”

A marcha que nos anos se-guintes ocuparia a AvenidaPaulista – com término na Pra-ça Roosevelt – teve, em 1997,um trajeto do Estádio do Pa-caembu até a Barra Funda. For-mado em Filosofia e Teologia,Beto acumulara experiênciano movimento operário da zo-na leste nos anos 1980 e, na épo-ca, coordenava um programasocial para crianças na entãoSecretaria do Menor do Estadode São Paulo.

“A Parada foi organizada porsete grupos de ativistas gays edois núcleos de partidos políti-cos, um do PT (Partido dos Tra-balhadores), outro do PSTU(Partido Socialista dos Trabalha-dores Unificado)”, lembra Beto,atualmente consultor nas áreasde HIV, diversidade e combateàhomofobia no ambiente de tra-balho, além de ocupar o postode secretário para América Lati-na e Caribe da Associação Inter-nacional de Gays e Lésbicas (IL-GA, na sigla em inglês).

“Foi mambembe, mas comu-nitário. Demoramos seis mesespara organizar tudo, em diver-sas reuniões, nas quais pintáva-mos os convites à mão, um aum”, conta. “No dia da marcha,nosso carro de som era uma ve-lha Kombi, com um microfoneque tinha apenas 2 metros defio. Mas as pessoas estavam feli-zes e, no fundo, era isso o quemais importava.”

Dissidente do grupo queatualmente organiza o evento –agora chamado de Parada do Or-gulho LGBT –, Beto dedicou-se,a partir de 2002, a criar marchassemelhantes em outros locaisdo País. “Mas nunca deixei deestar presente na Parada de SãoPaulo. Embora discorde doatual formato, vou a todas as edi-ções. Não mais pela festa, maspor dever cívico.”

De 1997 para cá, a Parada cres-ceu. Os números são discrepan-tes, mas considerando as esti-mativas da organização, o recor-de teria sido em 2012, com 4,5milhões de participantes. / E.V.

RachelPerez.‘Chorei docomeço aofim’

Beto deJesus. ‘As

pessoasestavamfelizes’

APEOESP parabeniza São Paulo pelos seus 461 anos!Nós, professores, sabemos que a educação é o passaporte para o futuro.

Sabemos também que uma nação constrói seu futuro cotidianamente. Edu-cação pública, gratuita, de qualidade para todos os paulistanos é, portanto,fundamental para que a capital do nosso estado seja cada vez mais justa eofereça mais qualidade de vida à sua população.

Para tanto, Estado e Município precisam valorizar seus professores. Esta-mos em luta por essa valorização. Entre todas as categorias profissionais comformação de nível superior, temos os menores salários. Para alcançarmos aequiparação com as demais categorias, como prevê a meta 17 do Plano Nacio-nal de Educação, os professores estaduais precisam de 75,33% de aumento.Mas a previsão do Governo Estadual é zero de reajuste.

Não vamos aceitar. Se não houvernegociação, as escolas estaduais vão parar!

Maria Izabel Azevedo NoronhaPresidenta da APEOESP

Informe Publicitário

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