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1 SISTEMA ROLANDO TORO ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO TITULAÇÃO EM BIODANZA (DES)COBRINDO O LÚDICO Por ANDRÉA LOPES ZATTAR RIO DE JANEIRO 2001

(Des)cobrindo o lúdico - Por Andrea Zattar

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SISTEMA ROLANDO TORO

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA

ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO

TITULAÇÃO EM BIODANZA

(DES)COBRINDO O LÚDICO

Por

ANDRÉA LOPES ZATTAR

RIO DE JANEIRO

2001

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(DES)COBRINDO O LÚDICO

Por

ANDRÉA LOPES ZATTAR

Monografia apresentada à escola de Biodanza Rolando Toro

do Rio de Janeiro, para obtenção do grau de professor titular em

Biodanza.

Orientador: Antonio José Sarpe

RIO DE JANEIRO, 24 DE MARÇO DE 2001

3

“DEUS NOS RESPEITA QUANDO TRABALHAMOS,

MAS NOS AMA QUANDO DANÇAMOS”

VELHO PROVÉRBIO SUFI

4

A mim mesma por ter coragem para estar sempre em movimento;

A meus pais , que me deram a vida e as primeiras lições de amor e

pertencimento;

A minha família pela sua presença amorosa;

A Robbert Lang, meu companheiro nesta jornada;

A Rolando Toro, do qual não tenho nada a falar que já não tenha

sido dito; mas que meu gesto de eterno agradecimento chegue até ele;

Ao professor Antonio José Sarpe, por sua amizade, amor, paciência

e ajuda no direcionamento do meu trabalho;

A Danielle Tavares por estar comigo nesta estrada amorosa;

Aos meus alunos que me ensinaram tanto quanto eu ensinei;

A todos que participaram de alguma forma da minha vida e do meu

processo de aprendizagem em Biodanza;

À vida, por estar me dando a chance de continuar bailando.

Meus Agradecimentos

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.................................................................. 06

2. O LÚDICO........................................................................ 08

3. O BRINCAR...................................................................... 10

4. CRIATIVIDADE................................................................ 13

5. MOVIMENTO E GRAÇA...................................................... 16

6. UM POUCO DE LORENZ.................................................... 19

7. A VISÃO DE HUIZINGA.................................................... 23

8. ROGER CAILLOIS – O JOGO E O HOMEM.......................... 27

9. A POESIA, O EROTISMO E O LÚDICO............................... 30

10. O JOGO NA “PHYSIS” GREGA E EM HERÁCLITO........... 33

11. A DANÇA DO UNIVERSO – RETORNO AOS PRÉ-

SOCRÁTICOS...............................................................

36

12. CHRONOS E KAIROS.................................................... 39

13. O LÚDICO NA BIODANZA ............................................ 43

14. AFETIVIDADE – UMA LIÇÃO A SER APRENDIDA........... 46

15. CONCLUSÃO................................................................. 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................... 52

ANEXOS............................................................................... 55

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1-) INTRODUÇÃO

Em nossa sociedade impregnada de valores econômicos, onde

“poupamos” o afeto e valemos pelo que produzimos e realizamos, e não

pelo que vivemos, o lúdico obviamente passa a ser algo destituído de

importância.

Penso em quantos risos e olhares de desdém recebi toda vez que

falava sobre minha monografia. Ouvi muitas vezes várias desqualificações

sobre o assunto.

Agradeço hoje a cada uma dessas pessoas pois sem elas não teria

sido acesa em mim a faísca da curiosidade.

O que possui o prazer, a diversão que assusta e fascina tanto?

Porque o fazer algo com prazer nos remete a irresponsabilidade?

Porque o divertimento ficou condenado ao mundo das crianças?

Não tenho nenhuma pretensão de responder de forma definitiva

essas perguntas, quero pensar sobre elas, brincar com elas, quero ficar

com a inquietude infantil que nos impulsiona a descobrir cada vez mais.

As conclusões são por conta dos leitores e de sua abertura para o

mundo do “inútil”.

Meu interesse será focar os jogos leves, a brincadeira, o divertir-se,

o desfrutar e tentar elucidar porque esses termos são vistos inúmeras

vezes como pejorativos.

Segundo Winnicott “o brincar não tem um lugar e um tempo”. não é

dentro, nem é fora. Brincar é fazer. Brincar precisa do contato do

indivíduo sobre o que o rodeia.

Afinal, lúdico é a descoberta do mundo pelo prazer.

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2-) LÚDICO

Lúdico vem do latim ludus que quer dizer jogo, divertimento + ico

que refere-se a participação, a relação.

Portanto, lúdico vem a ser tudo no qual eu me relaciono ou participo

com alegria, incluindo-se aí, a própria visão que se tem da vida. Posso

fazer o que tem que ser feito rotineiramente ou posso dar sentido ao meu

cotidiano.

Quando Heráclito (1), diante do forno/fogo, diz a alguns estranhos

“podem entrar, pois aqui também habitam os deuses”, ele deixa uma

mensagem clara da sacralidade da vida. E se é sagrada e efêmera porque

desperdiça-la em lástimas?

O brincar/jogar, como veremos em Winnicott e em Huizinga, não é

antônimo de seriedade, nem de responsabilidade.

A criação do universo é um eterno jogar, brincar, é um ocultar-

se/revelar-se é um cobrir-se/descobrir-se. A dança da vida em seu eterno

devir é um grande jogo/brincadeira.

O objetivo não importa, importa o caminho.

Você pode fazer a mais séria de todas as escolhas: Como viver

sua vida!!

(1) Em Heidegger – Heráclito – Ed. Relume Dumará

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3-) O BRINCAR

“Nada mais sério do que uma criança

brincando”

D.W.WINNICOTT

A brincadeira é universal, própria da saúde, conduz aos

relacionamentos grupais e faz parte do desenvolvimento saudável da

criança e começa no espaço entre mãe e bebê, entre o espaço interno e

externo do indivíduo.

A característica principal do pensamento de Winnicott refere-se ao

brincar como uma experiência, sempre uma experiência criativa, uma

experiência na continuidade espaço-tempo, enfim, uma forma básica de

viver.

O brincar da criança possui tudo em si, e o momento mais

significativo é aquele em que a criança se surpreende a si mesma e não

quando o adulto o faz.

Para a criança o conteúdo do brincar não interessa. O que importa é

o estado de quase alheamento, aparentando à concentração das crianças

mais velhas e adultos. A criança quando brinca habita uma área que não

pode ser facilmente abandonada nem admite interferências. Ela traz para

dentro das brincadeiras conteúdos da realidade externa usando-os a

serviço da realidade interna ou pessoal, expressando seus sonhos e

correlacionando essas duas áreas.

A criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste

fenômenos externos, escolhidos com significação e sentimentos oníricos.

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Brincar é sair do utilitário e entrar no prazer de divertir-se consigo,

com o outro e com o todo. E ocorre quando não existe ansiedade, objetivo

ou propósito.

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4-) CRIATIVIDADE

“Para viver uma vida criativa,

precisamos perder o medo de estar

errados”

Joseph Chilton Pearce

Criar, vem do latim “creare”. Dar existência, tirar do nada, dar

origem, produzir, imaginar, expressar, cuidar (criar filhos), cultivar (criar

rosas).

Está em nossa base biológica, no instinto exploratório. Buscar,

manipular, investigar são vitais para a conservação da espécie humana. E

é o instinto ligado diretamente a criatividade, e é assim que o ser humano

se conserva e se expande, se tornando criatura e criador.

É no brincar que a criança ou o adulto exercitam integralmente sua

liberdade de criação, o que é essencial ao ser humano.

Criatividade é a expressão do seu ser único.

Na não intencionalidade que o ser se revela em sua plenitude.

Se nós aceitamos passivamente a realidade externa nos entramos

em submissão. Nossa relação com a vida se torna submissa.

O que dá sentido a vida, o que nos traz a sensação de que a vale o

prazer de viver é a criatividade.

Viver ou não de maneira criativa constituem alternativas

existenciais.

Criar a vida ou apenas submeter-se a ela, é o que faz toda a

diferença.

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O início de uma vida criativa saudável está no brincar. E o brincar

depende da confiança em si, no outro, no todo. Confiança esta, criada nos

primórdios de nossa vida.

E esse criar é incessante, pois nossa existência é uma eterna

construção.

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5-) MOVIMENTO E GRAÇA

O primeiro imperativo da vida é: MOVA-SE. Sem movimento não há

vida.

Os bebês vão aprendendo a rolar, a sentar, engatinhar e finalmente

andar.

Ecofatores, são os fatores ambientais que determinam a expressão

dos potenciais genéticos. Entre os ecofatores o principal é o humano. Se

os ecofatores forem positivos a capacidade de movimento do bebê é

desenvolvida em caso contrário ela pode ser bloqueada.

Quando o ecofator humano é positivo, jogam-se objetos, bate-se

palminha, chama-se a criança, tudo para que o desenvolvimento motor

aconteça.

No entanto, no decorrer desse processo, os gestos ou movimentos

não aceitos na cultura, na qual a criança está inserida, vão sendo tolhidos.

A espontaneidade vai dando lugar a movimentos comedidos,

pensados e nossos movimentos antes repletos de nossa marca pessoal vai

se tornando mera réplica do que nossa cultura solicita.

A graça do gesto surge da estesia, origem da palavra estética que

quer dizer sentir.

Como veremos em Lorenz os outros animais mantêm a graça

perdida pelo homo sapiens.

A graça na Biodanza é o movimento supremo, é o máximo de

integração.

A graça surge do prazer de mover-se.

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No brincar, a graça surge em função da implicação da totalidade do

ser em movimentos repletos de prazer e sem finalidade. Estamos

vivenciando o lúdico em sua plenitude.

Ver crianças, animais ou homens brincando é ver um gesto repleto

de sentido e conseqüentemente beleza.

Quando convidamos os alunos em Biodanza à dançar, estamos

convidando-os para um movimento expressivo e sensível do ser.

Todos os movimentos constituem a vida humana acontecendo e a

dança se alimenta desses movimentos.

Quando o ser se torna a dança e o prazer surge dessa fusão, a

dança se torna lúdica.

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6-) UM POUCO DE KONRAD LORENZ

Konrad Lorenz, zoólogo e psicólogo austríaco foi um dos fundadores

da etologia, ciência que estuda o comportamento animal.

Lorenz dedicou quase toda a sua existência a esse trabalho. No

entanto, focarei minhas observações sobre a parte em que ele fala sobre o

brincar dos animais.

Assim como os humanos, os animais também brincam*, ou jogam*.

Tais brincadeiras servem como uma iniciação no mundo.

“Nas formas primitivas de play” (2), como fala Lorenz, não é

necessária uma motivação especial, ela ocorre pelo prazer dos próprios

padrões motores.

A única diferença entre o sério e o brincar é que, no segundo “as

garras e dentes se tornam suaves e não machucam”. Mas a intensidade e

a entrega é a mesma do que durante o que Lorenz chama de execução

séria.

Segundo a observação de Leyhausen, (em Lorenz) “durante o

brincar o sistema nervoso vegetativo não está envolvido da mesma forma

que durante a função séria. Enquanto o brincar durar o pêlo do animal fica

deitado, quando o sério toma conta o pêlo se eriça”. O brincar para os

animais é uma antecipação para a perfeição do comportamento

subseqüente, assim como para os humanos.

*Lorenz usa o verbo Play que em inglês tanto pode significar jogo como brincadeira.

(2) Konrad Lorenz – “Os fundamentos da Etologia” – ed.Unesp

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A criatividade também é um fator de grande importância no brincar dos

animais. Pássaros se entrelaçam em vôo para criar novas formas; nas

brigas ou corridas de cães e gatos, movimentos novos são criados para

escapar e a base é o prazer do movimento.

Com os animais também vão se estabelecendo ligações com o

externo. Não simbolicamente ou através de vínculo como os humanos.

Mas através de uma interação com o que os rodeia criando novas formas

de movimento, como os golfinhos que se utilizam das ondas criadas pelos

navios para ganhar velocidade no seu deslocar-se.

Assim como o homo sapiens, os animais iniciam sua vida brincando,

e é através da experiência prazerosa que se descobre o mundo.

Obviamente que isso só se torna possível em ambientes saudáveis.

O curioso é que em todos os casos, se existe tensão a brincadeira

inexiste. Se o instinto é ativado e o ego tem que satisfazê-lo, a totalidade

se desfaz e o prazer do brincar se torna secundário.

Um exemplo é a do macaco Sultan, citado por Lorenz, que foi

incapaz de apanhar uma banana com duas varetas. Enquanto seu instinto

alimentário dominava, ele tentava apanhar a banana a qualquer custo,

com a vareta maior; quando ele entrou no prazer descompromissado do

jogo de juntar duas varetas e formar uma pinça, fazendo assim a banana

cair, a fruta foi alcançada.

Não é de espantar que a verdadeira função criativa do brincar ocorre

quando não está tolhida pela fixação, por um objetivo.

O poeta alemão Friedrich Schiller, (em Lorenz) afirmou que “o

homem é inteiramente humano apenas quando está brincando”.

O biólogo Alfred Kuhn, (idem) expressou o mesmo pensamento

dizendo “que não existe nada igual a ciência aplicada; se ocasionalmente

a ciência fornece bons frutos, ela o faz apenas para aquele que cultiva

ciência pelas suas flores”.

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Alguns movimentos dos animais como as brincadeiras de luta e as

cambalhotas dos golfinhos despertam nosso gosto estético porque,

segundo Lorenz, esses movimentos nascem do prazer de mover-se. Se

mais tarde isso servir para conservação da espécie, será apenas a vida

seguindo seu rumo.

E, para Lorenz, é óbvio que a mais antiga forma de arte humana, a

dança, tenha se originado com base nisso. Na verdade é possível que toda

a arte humana tenha derivado desses primeiros movimentos de

intercâmbio com o meio e que visam sempre a harmonia.

O brincar se torna verdadeiramente criativo, no momento em que

nada é premeditado, exceto as regras do jogo.

O instinto mais presente em todas as espécies , principalmente no

homem, é o instinto exploratório. E este está intimamente ligado a

brincadeira, uma vez que a brincadeira é uma forma prazerosa de

descobrir o “em torno”.

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7-) A VISÃO DE HUIZINGA

Johan Huizinga é filósofo e um dos maiores escritores de nosso tempo. Ele

se dedicou de forma preciosa ao estudo do lúdico na nossa cultura.

Diferente dos outros autores que têm visões psicológicas e biológicas

sobre o brincar, Huizinga contextualiza o brincar/jogar na nossa cultura.

Uma das primeiras colocações de Huizinga é para a língua. Segundo ele,

entre as principais línguas européias não existe divisão entre o jogar e o brincar

(spielen, to play, jouer, jugar).

Escolher uma das duas terminologias já nos faz perder, uma vez que a

unidade se desfaz.

O jogo, leia-se também a brincadeira, antecede a cultura; pois os animais

não foram ensinados a brincar e os mesmos brincam da mesma forma, conforme

visto em Lorenz.

Segundo Huizinga (3) “o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou

um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou

biológica. É uma função significante, que contém em si mesmo um sentido”.

Várias linhas como a filosofia e a psicologia procuram estudar o lúdico, tentam

definir a função, a origem, o fundamento e cada uma dessas linhas realmente

consegue explicar uma parte desse todo sem no entanto existir nenhuma

decisiva.

Por quê um bebê grita de prazer, por quê o jogador se deixa levar por sua

paixão, por quê uma multidão imensa pode ser levada ao delírio durante um

jogo? A intensidade de lúdico e seu poder de fascinação não podem ser

explicados.

E, contudo, é nessa intensidade , nessa fascinação, nessa capacidade de

excitar que reside a própria essência e a característica primária do jogo.

(3) Johan Huizinga – Homo Ludens – Ed. Perspectiva

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Temos que considerar o jogo como uma totalidade e como tal tentar

abarcá-lo.

Em um mundo utilitarista, o jogo se torna supérfluo e destrói nossa

crença profunda de racionalidade, pois é irracional.

O jogar/ brincar, não é um produto da cultura como já falado

anteriormente mas inserida na mesma, o que o jogo faz?

Se procurarmos compreender o jogo como fator cultural da vida,

veremos que todas as atividades arquetípicas da humanidade têm o jogo

como marca.

A linguagem cria palavras, designa, salta do pensamento para a

matéria, brinca com as palavras. Cria o mundo poético e metafórico.

O mito transforma os fenômenos não explicados, não controlados

em algo divino, trazendo respostas às inquietações humanas.

Para os homens o jogo é oposto a seriedade. Mas, segundo

Huizinga, se examinarmos mais de perto veremos que este contraste

entre jogo e seriedade não é decisivo, nem imutável.

Para começar, que tal pensarmos ao contrário que o jogo não é

sério, ou que o jogo é a não seriedade; imediatamente o contraste

começa a desaparecer já que há caso de jogo seriíssimos.

O riso, que é o contraste da seriedade, não existe em alguns jogos

como o xadrez e não existe nos animais. Mas a inexistência do riso não

quer dizer que exista ausência do prazer.

Poderia me deter horas a expor o pensamento de Huizinga mas

resumo seu pensamento utilizando suas próprias palavras: “Chegamos

portanto, através de um caminho tortuoso, à seguinte conclusão: a

verdadeira civilização não pode existir sem um certo elemento lúdico,

porque a civilização implica a limitação e o domínio de si próprio, a

capacidade de não tomar suas próprias tendências pelo fim último da

humanidade, compreendendo que se está encerrando dentro de certos

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limites livremente aceitos. De certo modo a civilização sempre será um

jogo governado por certas regras, e a verdadeira civilização sempre

exigirá um espírito esportivo, a capacidade de fair play”.

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8-) ROGER CAILLOIS – O JOGO E O HOMEM

Por ser uma atividade gratuita, é por muitos considerado sinônimo

de frivolidade.

Somente com o trabalho de Huizinga na década de 30 é que todo o

mundo científico se voltou para o lúdico e começou a perceber que este

era um fator decisivo no desenvolvimento da cultura.

Segundo Roger, os jogos são estéreis porque não produzem nada. O

jogar/brincar é somente uma aprendizagem de funções posteriores.

Cada jogo/brincadeira, desenvolve uma habilidade distinta.

Roger classifica os jogos da seguinte forma:

Jogos de sorte, de competência, de simulação e de vertigem.

Na página seguinte, veremos dois quadros e eles deixam claras as

classificações e suas implicações em nossa cultura.

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9 -) O EROTISMO, A POESIA E O LÚDICO

“Voy por tu cuerpo como por el mundo”

Otávio Paz

Em que momento ambos se encontram?

Para que ponto coisas aparentemente tão distintas convergem?

Segundo Octavio Paz (4), “a relação entre o erotismo e a poesia é

tamanha que pode se dizer, sem afetação, que o primeiro é uma poética

corporal e que a segunda é uma erótica verbal. Ambos estão constituídos

por uma oposição complementar. A linguagem –sons que emite sentido,

traz material que denota idéias incorpóreas - é capaz de dar nome ao

mais fugitivo e evanescente: a sensação; por sua vez o erotismo não é

mera sexualidade animal: é cerimônia de representação. O erotismo é a

sexualidade transfigurada: metáfora. O agente que move os dois é o

mesmo: a imaginação. É a potência que transfigura o sexo em cerimônia

e rito, a linguagem em ritmo e metáfora. A imagem poética é o abraço de

realidades opostas é a rima, é a cópula de sons; a poesia erotiza a

linguagem e o mundo porque ela mesma em seu modo de operação é o

erotismo. E do mesmo modo: o erotismo é uma metáfora da sexualidade

animal.”

Então veremos que o erotismo é a transgressão da sexualidade,

porque os amantes rompem com o utilitarismo procriativo e se lançam ao

prazer.

(4) Ocatvio Paz – La llama doble – Amor y Erotismo – Ed. Siciliano

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O mesmo se dá com as palavras. A língua com sua estruturação de

signos tem o objetivo funcional da comunicação enquanto a poesia

possibilita a abertura de novos sentidos e novos universos simbólicos, pois

a poesia nos convida a tocar o intocável e ouvir o inaudível. Nos remete a

um outro mundo dentro deste.

E por fim chegamos ao lúdico, cuja característica é o prazer da

atividade em si.

O jogo, para permanecer na esfera verdadeiramente lúdica, não

deve orientar-se para um objetivo utilitário.

O primeiro sentido a aparecer no embrião é o tato, não é portanto

de admirar que as crianças sentindo seu corpo erógeno, criem e vivenciem

jogos eróticos. Um corpo quando tocado, acariciado, cresce de forma mais

saudável.

Na poesia, no encontro erótico e no lúdico, o ato sagrado se realiza

através das palavras, dos gestos, da entrega. Neste instante de amor se

podem unir os opostos, a linguagem cessa, os significados desaparecem,

nada há a ser dito ou feito, só existe o ser.

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10-) O JOGO NA “PHYSIS” GREGA E EM HERÁCLITO

As datas do nascimento e da morte de Heráclito são desconhecidas.

Sabe-se, porém, que atingiu o ápice de sua existência na época 69 A.C.

Com isso, podemos contextualizá-lo entre Xenófanes e Parmênides, seu

principal opositor, por apregoar a imutabilidade das coisas.

Um dos aspectos principais de sua doutrina foram suas crenças de

que todas as coisas estão em movimento e que o movimento se processa

através de contrários.

Não é de espantar que a deusa de Heráclito seja Ártemis, a

caçadora, a deusa da caça, da luz e do jogo.

Ártemis é a deusa da “Physis”, pois caças e animais pertencem a

natureza. Suas parceiras de jogo, as ninfas, jogam e tocam o jogo da

“Physis”. Essa palavra designa o nascer e o desabrochar que se

entreabrem para erguer e mostrar num encobrimento. Significa aquilo que

a partir de si mesmo surge para o aberto e o livre, e que nesse

surgimento, permanece e aparece, doando-se para o livre no

aparecimento, embora sempre siga uma regra. Vigorar é a essência do

jogo. A “Physis” pertence ao jogo.

Resumindo, “Physis” é esse jogo de ocultação e revelação, talvez

por isso, Heráclito tenha sido conhecido como “O obscuro”, ele gostava de

expressar-se tal como sua deusa, através de enigmas, ou seja, brincando

e jogando com as palavras.

Uma das histórias que se conta de Heráclito, e que não possui

nenhum fundamento histórico, fala que o mesmo se dirigiu, uma vez ao

templo de Ártemis, para lá, jogar dados com as crianças. Voltando aos

efésios, que se colocaram de pé ao seu redor, exclamou: “infames o que

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olham tão espantados? Não é melhor fazer o que estou fazendo do que

cuidar da pólis junto com vocês?” (5)

Quando nessa história Heráclito fala de sua preferência, ele indica a

descontração e a serenidade, o balanço e a liberdade do jogo/do brincar,

que precisamente por ser jogo, possui sua regra, sua lei, permanecendo

assim no limite e na continência, naquilo que chamamos de mundo, onde

os jogadores se vêem imersos , sem porém se afogarem.

E é justamente no templo de Ártemis, deusa da "Physis" e do jogo é

que ele joga seus dados.

Ártemis aparece com tochas nas mão, a claridade sem o qual nada

pode ser revelado, mas carrega também a lira e o arco, sendo também a

deusa da morte, do que é oculto, parte do jogo da vida.

Heidegger define Heráclito como um pensador da dimensão do fogo,

da luta e na proximidade do jogo.

(5) Heidegger – Heráclito – Ed. Relume Dumará

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11-) A DANÇA DO UNIVERSO – RETORNO AOS

PRÉ-SOCRÁTICOS

“Imagine que o mundo seja algo como

uma gigantesca partida de xadrez

sendo disputada pelos deuses e que

não fazemos parte da audiência. Não

sabemos quais são as regras do jogo;

podemos apenas observar seu

desenrolar.

Em princípio se observarmos por tempo

suficiente iremos descobrir algumas

das regras. As regras do jogo são o que

chamamos de física fundamental”.

Gleisser (6)

Muito antes de nosso conhecimento atual existir, a relação dos seres

humanos com o mundo era diferente.

A natureza era respeitada e idolatrada, sendo a única responsável

pela sobrevivência de nossa espécie. E os estudiosos possuíam

conhecimentos não somente científicos como místicos.

Tudo que ocorria na natureza era atribuído aos mitos, que são

histórias que procuram viabilizar ou reafirmar sistemas de valores que não

só dão sentido à nossa existência como também servem para estudarmos

uma determinada cultura.

Obviamente que vários deuses e mitos foram criados para explicar o

incompreensível e o incontrolável.

(6) A Dança do Universo – Marcelo Gleisser – Ed. Cia das Letras

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Pode parecer que esta visão ficou contida no passado depois que o

racionalismo, tomou conta de nosso mundo, uma vez que é mais fácil se

colocar em um mundo previsível e controlável.

Mas com o retorno a questões como a origem do universo, várias

das afirmações antes certas, tiveram de ser discutidas e físicos,

astrônomos e cientistas como um todo falam, como nos primórdios da

ciência, de uma dança cósmica, lúdica, vigorosa, de opostos: tudo e nada,

ser e não ser, yin e yang, luz e escuridão, caos e ordem, ocultamento e

desvelamento.

Uma dança de contrários.

Não saberemos jamais por mais que a ciência avance qual o

desfecho desse jogo, somente bem, friso bem, apenas algumas das

regras, pois como diria Heráclito de Éfeso:

“ A verdadeira constituição das coisas gosta de ocultar-se”

A Grécia, berço de nossa civilização, sempre foi muito criticada e

pouco valorizada. Mas foi principalmente nesse período pré socrático que

o pensamento e o impulso criativo ascendeu a níveis que os

transformaram em inspiração para os que estavam por vir, sobrevivendo

ao tempo.

Resumir o pensamento de cada um deles não é a proposta do meu

trabalho, mas que percebamos como nessa dança do universo nossos

pensadores foram cada vez mais paralisando-a, esquecendo-a, tirando da

natureza o seu poder criador, entregando a um deus distante e imutável a

responsabilidade pela nossa criação e dono de nosso destino.

Sorte ser a natureza feita de ciclos e o jogo da vida de leis, como a

do eterno retorno.

Segundo Carl Sagan (7), a natureza tem regras, no entanto ela é

imprevisível. Não seria lúdica a natureza da natureza?

(7) Carl Sagan – Série Cosmos

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12-) CHRONOS E KAIROS

Chronos e Kairos são radicalmente contrários como veremos a

seguir.

No entanto, antes de continuarmos é necessário esclarecer a noção

de “devouring time”,(8) termo utilizado por Shakespeare em seu

admirável XIX soneto. O tempo é realmente devorador?

Ou somos nós que o devoramos?

No séc VI A.C. o pobre Cronos (nome em latim)/Saturno (nome em

grego), foi aparentemente confundido com Chronos o tempo. E como

Cronos/Saturno devorou seus filhos a conclusão é de que o tempo

devorava aos seus filhos.

Chronos o dançarino, se afirma como o modelo da regularidade e da

repetição, sua dança, cíclica, períodica é decomponível, analisável,

imitável, seus passos e gestos são apolíneos, o que chama ao

consentimento e que faz as consciências se desdobrarem as suas leis

ritmadas.

Kairos se revela ao mesmo tempo saltador e acrobata

desconcertante, irregular, dionisíaco, confere aos seus movimentos a

totalidade, desafio e irrepetibilidade, risco engajamento e aventura; ele

convida as consciências a permanecer como ele, intrépidas.

Percebemos que o tempo Kairos é o tempo do lúdico, onde

perdemos a conexão com Chronos e tal como explicarei adiante o tempo

se torna circunstancial e como tal, passa rápido.

(8)E. Moutsopoulos - Chronos et Kairos – Entretiens D’Athènes Institut International de

Philosophie

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Chronos, o dócil e Kairos o indomável se encontram num eterno e

incessante conflito: Chronos cria o mundo e governa, Kairos o destrói para

recriá-lo ao seu modo; e esta rivalidade sem início, nem fim se arrasta,

inelutável e inexorável, sem vencedor, nem vencido.

Kairos desmascarando Chronos, o falso, Chronos molestando Kairos,

o impetuoso e rebelde sob o olhar de Aiôn, o impassível/eterno,

entretanto, ambos participam da cumplicidade desse olhar e ambos

contribuem para garantir a duração infalível do reinado.

A meu ver, a grande lição da antigüidade grega consiste na

ocorrência do fato que, com Kairos, nós não nos achamos numa corrida

eterna a fim de agarrar “pelos cabelos”, como numa representação

pitoresca, o momento favorável, mas abandonamos ou ultrapassamos o

tempo circular, reiterado e penetramos num mundo (e um tempo) da

medida e da forma, da diversidade, onde a força ativa leva a formas

criadoras, originárias da transformação e da modelagem da matéria

amorfa da vida.

Kairos representa não o tempo abreviado mas condensado na

dimensão da profundidade; o tempo reduzido à essência do vivido

espiritual.

Trata-se justamente da relação entre um tempo de fluxo e um

tempo de explosões criativas, carregado de significados, por conseguinte,

fora do tempo.

Kairos significa o momento de explosão das energias criadoras da

arte, o momento de sossego das águas impetuosas, dos valores calmos,

mas também do mistério.

Resumindo Kairos seria um tempo circunstancial, onde a noção do

tempo Chronos desaparece para dar lugar a um tempo pessoal.

Podemos perceber isso claramente, quando temos que lidar com

situações desagradáveis e o tempo parece se tornar eterno. Já em uma

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situação de profundo prazer, como o ato de brincar o tempo parece

escorrer por entre os dedos.

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13-) O LÚDICO NA BIODANZA

Até o momento procurei abordar a teoria. Busquei os principais

autores sobre o tema; no entanto, dentro da metodologia da Biodanza

existe uma parte da aula destinado ao lúdico, que são os impulsos lúdicos

e os jogos de vitalidade.

O objetivo máximo da Biodanza é a expressão e integração da

identidade. A identidade se expressa de forma paradoxal descrito

poeticamente por Thiago de Mello: “Mudar em movimento, sem deixar de

ser o mesmo que muda, como um rio”.

O lúdico abarca a totalidade do ser e convida-o a experimentar a

sensação de estar vivo, de criar, de sentir-se uno e reabilitado

existencialmente.

No entanto para brincarmos, criarmos, sentirmos é necessário

possuirmos vitalidade.

Toro aborda o conceito de vitalidade do ponto de vista sistêmico, a

vitalidade é resultante de múltiplos fatores que integram para manter a

estabilidade funcional, permitir sua expressão genética e conservar, em

interação com as mudanças ambientais, a harmonia do sistema. O

sistema de correlação orgânica límbico-hipotalâmica, endócrinos e

imunológicos são a base da unidade funcional do organismo.

Possuir vitalidade significa possuir fortes motivações para viver,

conexão profunda com a vida , para viver e possuir energia disponível

para a ação (ímpeto vital).

Toro diz que os sistemas vivos possuem um psiquismo que organiza

a unidade funcional e é chamado de inconsciente vital.

O inconsciente vital é um psiquismo que cria regularidade e tende a

manter as funções estáveis. Esse psiquismo se estende a tecidos e células

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que obedecem a um sentido global de auto conservação. O inconsciente

vital origina uma solidariedade celular, criação de tecidos, defesa

imunológica, resumindo ele coordena as funções de regulação orgânica e

homeostase (equilíbrio interno) e possui uma grande autonomia não

passando pela consciência. A vivência é a via de acesso direto ao

Inconsciente vital.

O inconsciente vital contém a memória da vida.

Quando o indíviduo está existencialmente bloqueado ou

desorganizado, as forças integradoras que mantém a unidade da vida,

cedem e se inicia um processo de auto destruição.

A Biodanza é por excelência o veículo de ativação do inconsciente

vital, já que seus exercícios envolvem todo o organismo mobilizando

instintos e emoções e se projetam progressivamente na harmonia

orgânica.

Através do prazer da alegria, surge o desejo de estar no grupo de

vincular-se. Sorrir, ativar energia, seguir o ritmo, conectar-se consigo e

com o outro.

Os jogos de vitalidade devem ser tonificantes (aflorar a energia

vital) e criativos (abrir espaço para a expressão máxima/possível do ser).

As vivências lúdicas, os jogos, humor, riso e todo movimento, que

transformado em dança pela integração cenestésica gera prazer, bem

estar e ativa o humor endógeno (*), são uma confirmação de que a

Biodanza dentro das abordagens terapêuticas, educativas e de

desenvolvimento humano, é uma das que mais integram o elemento

lúdico.

(*) Humor endógeno – humor que resulta de uma conjunção de fatores genéticos e do

estado global de saúde

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14-) AFETIVIDADE – UMA LIÇÃO A SER APRENDIDA

Em Biodanza, concordamos com Darwin (9), quando defende que

toda emoção, se expressada, se reforça por isso estimula-se a expressão

de emoções vinculadoras e integradoras.

As duas linhas que mais trabalhamos no lúdico em Biodanza são a

vitalidade e a criatividade.

A vitalidade traz uma experiência de plenitude pois nos sentimos

reconectados com nossas emoções de alegria e entusiasmo e

consequentemente com nossa energia vital.

Já a criatividade remete a expressão e liberação, podendo chegar a

experiência de criação artística ou científica, através de emoções de

exaltação criativa e êxtase estético.

O lúdico,ou seja, a brincadeira, o jogo propicia a permissão

necessária para um maior nível de entrega.

O lúdico, metodologicamente falando, tem sua forma apropriada

para ser estimulado.

Explico por que:

Nem sempre, mais do bom, é o melhor; e se nós utilizarmos de

estímulos vitais em demasia, poderemos reforçar no aluno sua crença na

falta de vitalidade.

A afetividade é uma lição a ser aprendida, e é a fonte de todas as

formas diferenciadas de inteligência: motora, social, sistêmica, etc...

(9) Darwin – “A expressão das emoções nos homens e nos animais – Ed. Cia das Letras

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Nos deixar ser afetados pelas experiências, pela vida, pelas pessoas

sem que isso se torne tão pesado que eu não possa suportar, é

reaprendizagem, uma segunda chance que os alunos se dão. E é neste

momento que o lúdico entra com toda a sua carga de permissão, pois

estão “apenas” brincando.

Permissão, vem do latim, permissione, que é ato ou efeito de

permitir, consentir, autorizar para o que é lícito.

O que é lícito? Aquilo que as leis admitem.

Esta aí o poder dos jogos lúdicos em Biodanza. Se estou brincando,

eu posso, é lícito, é admissível, não cria culpa e assim possibilitamos ao

aluno dar mais um passo em direção a expansão de seu potencial.

Mas para isso é necessário que a atmosfera do grupo, como diz

Rolando Toro, seja: deflagadora, facilitadora, permissiva, integradora,

criativa e transcendente. Desta forma os mandatos (*) vão

gradativamente dando lugar a permissão.

“Em sua qualidade deflagadora, o

grupo dá permissão aos membros para

diminuir a força dos mecanismos de

defesa. A repressão suspende

temporariamente sua função. A energia

afetiva reprimida começa a circular por

suas vias espontâneas”

Rolando Toro Araneda

(*) Mandatos - mensagens parentais negativas não verbais, de não vida: - Não vivas; -

Não sejas o que é; - Não sintas; - Apressa-te a crescer, entre outros.

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15-) CONCLUSÃO

Ao terminar este trabalho, vejo o quanto somos reducionistas em

nossas formas de ver o mundo e as coisas ao nosso redor, incluindo-se aí,

as palavras.

Gostaria de lembrar que lúdico, etimologicamente falando, quer

referir-se a tudo que é feito com prazer/divertimento. No entanto

reduzimos tanto a palavra, a ponto de ficar restrita a servir de sinônimo

para brincar.

Se trabalhamos com prazer; esse trabalho não é lúdico? Se estamos

realizando um estudo com prazer; ele não é lúdico?

Obviamente que sim, na concepção de todos os autores que neste

trabalho eu apresentei. Estamos imersos no lúdico e isso não desqualifica

o trabalho, porque lúdico não representa falta de seriedade, mas a

presença do prazer. Porque não podemos possuir os dois em nossas

escolhas? Um não inviabiliza o outro.

A Biodanza como um todo é um resgate desta ludicidade quando

propõe uma aprendizagem pelo prazer.

Isso não quer dizer que não deflagramos emoções, ditas negativas,

como tristeza, raiva, melancolia, medo. O que vimos é que não é através

dessa via que vai o nosso trabalho em Biodanza.

Entramos em um mundo vivencial, onde rompemos com o

utilitarismo e nos entregamos a Kairos e a Ayôn e a beleza de suas danças

infinitas.

Juntei minha experiência de vida, a minha experiência como

facilitadora e deduzi que o lúdico resgata a permissão para experimentar

sem julgar.

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Nos lançamos ao prazer de brincar, de dançar, de viver.

Redescobrimos a nós mesmos, ao mundo com olhos menos severos,

percebemos que a aprendizagem pelo prazer não se esquece e cria

vínculos, cria laços, como diz Winnicott, descobrimos que podemos dançar

a vertigem, confiando cada vez mais nas pessoas, nas relações e na vida.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAILLOIS Roger. Los Juegos y los hombres – la máscara y el vertigo.

Fondo de Cultura Económica – México.

LORENZ Konrad. Os fundamentos da Etologia. Editora Unesp

WINNICOTT D. W. O brincar e a Realidade. Imago Editora

WINNICOTT D. W. Os bebês e suas Mães. Editora Martins Fontes

GLEISSER Marcelo. A Dança do universo - Dos mitos de Criação ao

Big-Bang. Editora Cia das Letras.

HUIZINGA Johan. Homo Ludens. Editora Perspectiva.

MOUTSOPOULOS E.. Chronos et Kairos – Entretiens D’Athènes.

Institut. International de Philosophie.

HEIDEGGER. Heráclito. Editora Relume Dumará

BORNHEIN Gerd. Os filósofos pré socráticos. Editora Cultrix.

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PAZ Octávio. La llama doble – Amor y Erotismo. Editora Siciliano

DARWIN Charles. A expressão das emoções nos homens e nos

animais. Ed. Cia das Letras

GARAUDY Roger. Dançar a vida. Editora Nova Fronteira

ROTH, Gabrielle. Os Ritmos da Alma – o movimento como prática espiritual. Editora Cultrix

WAGNER Cezar. Vivência – Caminho à identidade. Editora Viver

ARANEDA, Rolando Toro. Inteligência Afetiva – A unidade da mente

com o universo. Texto para a formação de facilitadores em Biodanza.

Editora International Biocentric

ARANEDA, Toro, Rolando. Vitalidade. Texto para a formação de

facilitadores em Biodanza.Editora International Biocentric Foundation.

ARANEDA, Toro, Rolando. Modelo Teórico e Inconsciente Vital. Texto

para atualização e formação de Didactas em Biodanza. Editora

International Biocentric Foundation.

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DEPOIMENTOS DE MEUS ALUNOS DE BIODANZA:

“...brincar é buscar pela criança eterna dentro de nós, tudo o que nos fala

de qualidades que, embora raras, nunca deixarão de existir – lealdade,

respeito, amor, amizade, etc...”

Pedro Brandão

“...a Bio me fez aprender a sorrir, a brincar, a querer e me sentir

querido...”

Gilmar

“ ...eu preciso aprender a brincar.”

Tânia Vergueiro

“...através destas brincadeiras consegui mudar muita coisa que queria na

minha vida, muito mais profundamente..."

“...brincar é a melhor coisa que existe...descobri que toda essa energia e

criatividade estavam dormindo dentro de mim. e que bom consegui

acordá-las a tempo de aproveitar a minha vida...”

Gabriella Ricca

“...simplesmente brincar por brincar e com muito prazer...”

Laércio De Carvalho

“...pude experienciar vivências que eu não tive enquanto criança. foi o

resgate da criança que eu fui e trago dentro de mim. voltar a brincar me

ajuda a amadurecer, crescer...”

Claudia Dedesk

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“...eu voltei a brincar; a fazer coisas de brincadeira: trabalhar de

brincadeira, namorar de brincadeira, planejar a vida de brincadeira. É um

jeito maravilhoso de levar a vida. voltei a ser feliz e não quero parar

mais...”

Luciano De Melo

“...atitudes minhas que no passado eram coisas bem mais pesadas e hoje

são algo leve e mais agradável...”

Henrique Miranda

“...adoro brincar, me dá uma energia, alegria, astral melhor e, muito

importante também: uma conexão com quem vou brincar...”

Léopold Robbert Lang

“...porque não desfrutar de cada minuto, do trabalho, do sono, do

alimento, da diversão. sentir o prazer e sorrir..”

Bernardo Gebara

“o brincar para mim sempre foi visto como coisa de criança. quando

cresci, decidi deixar isso para trás, para não ser vista pelo mundo como

infantil. com a maturidade e com as aulas, aprendi que posso deixar meu

lado criança atuar sem que isso seja um incômodo para mim. me solto,

me divirto e é isso que vale.”

Renata Fraga

“a descoberta do brincar na biodanza trouxe em mim uma nova maneira

mais agradável de relacionamento com meus amigos. me faz tentar me

relacionar com minhas filhas porque é difícil para mim. não tenho muito

jeito, sou seca. e estou conseguindo desmanchar isso.”

Adriana Soares

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“...as vivências lúdicas da biodanza estimulam a alegria de viver, a

espontaneidade das emoções e a liberdade de expressão na sua

integridade...”

Tânia Gomes

“Alegria – uma responsabilidade

Gargalhada, uma bem gostosa

Igual a da criança

Que leve e solta

Corre, pula, grita, ri,

Brinca, joga, compete...

Tempo em que tudo o que se ganha

É o prazer, a satisfação

Gargalhada, uma bem gostosa

Igual aquela em que mexendo na lama

Sujando todo o rosto e o corpo

Experimenta-se uma experiência ímpar de contentamento

E você, adulto, que cresceu a fim de ser responsável

E se esqueceu

Da responsabilidade maior

Da responsabilidade consigo mesmo

A de buscar dentro de si

Aquela gargalhada de criança

Que faz sua alegria emergir

Sair

Explodir

Subir ao céu

Como fogos de artifício

Iluminando e colorindo

Uma linda noite de festa”

Nedjma Murad

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(DES)COBRINDO O LÚDICO

CRIAÇÃO

DO NADA INICIAL

FEZ-SE O TUDO

UM SER HUMANO NASCEU

FEZ-SE A VIDA

MILAGRE DE ETERNA CONSTRUÇÃO

NOSSA LIBERDADE DE SER O QUE QUISERMOS

SE DEIXARMOS NOSSOS CORAÇÕES TRANSBORDAREM

EM NOSSOS GESTOS REPLETOS DE POSSIBILIDADES

TUDO É CRIAÇÃO

CRIAR AÇÃO, FAZER DESDE O NASCER

DA VIDA UM ETERNO BRINCAR

DE AMAR

(ANDRÉA ZATTAR)