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Comunicado Técnico 57 ISSN 1679-0162 Dezembro, 2002 Sete Lagoas, MG CULTIVO DO MILHO Quimigação Ricardo A.L. Brito 1 1 Eng. Agr., PhD, Embrapa Milho e Sorgo. Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG. E-mail: [email protected] Introdução A Quimigação consiste em aplicar uma solução, ou calda, de agroquímicos (fertilizante, inseticida, fungicida, herbicida ou nematicida) por meio do sistema de irrigação. Quando se trata de produtos que atuam no solo, a aplicação, em princípio, pode ser feita por meio de qualquer método de irrigação: gravitacional, aspersão ou localizado. Porém, a plicação de produtos com atividade foliar somente é viável nos sistemas de irrigação por aspersão: laterais portáteis (convencional), pivô central, rolão e outros. Uma vez que a solução estará misturada à água de irrigação, a uniformidade de aplicação do agroquímico se confunde com a da aplicação da água e, portanto, é necessário que essa uniformidade seja elevada, para que se obtenha uma boa uniformidade de aplicação do produto. A quimigação é praticamente restrita aos métodos pressurizados (aspersão e irrigação localizada). Os sistemas pressurizados vêm sendo cada vez mais utilizados nesse processo, devido ao movimento turbulento da água, que ajuda a manter o material químico uniformemente distribuído nas tubulações. Essa característica contribui na obtenção de boa uniformidade de aplicação. Esses sistemas podem ser usados para aplicar diversos produtos químicos, como fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas e até mesmo outros produtos não tradicionais, como bioinseticidas e vírus. A injeção é feita na tubulação principal ou lateral e o ponto de aplicação será o aspersor ou emissor. No caso da cultura do milho, pelas suas características de densidade de plantio, a irrigação localizada tem pouco uso comercial.

Cultivo do milho quimigação

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ComunicadoTécnico

57ISSN 1679-0162Dezembro, 2002Sete Lagoas, MG

CULTIVO DO MILHOQuimigação

Ricardo A.L. Brito1

1 Eng. Agr., PhD, Embrapa Milho e Sorgo. Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG.E-mail: [email protected]

Introdução

A Quimigação consiste em aplicar umasolução, ou calda, de agroquímicos(fertilizante, inseticida, fungicida, herbicida ounematicida) por meio do sistema de irrigação.Quando se trata de produtos que atuam nosolo, a aplicação, em princípio, pode ser feitapor meio de qualquer método de irrigação:gravitacional, aspersão ou localizado. Porém,a plicação de produtos com atividade foliarsomente é viável nos sistemas de irrigação poraspersão: laterais portáteis (convencional),pivô central, rolão e outros.

Uma vez que a solução estará misturada àágua de irrigação, a uniformidade de aplicaçãodo agroquímico se confunde com a daaplicação da água e, portanto, é necessárioque essa uniformidade seja elevada, para que

se obtenha uma boa uniformidade deaplicação do produto. A quimigação épraticamente restrita aos métodospressurizados (aspersão e irrigação localizada).

Os sistemas pressurizados vêm sendo cada vezmais utilizados nesse processo, devido aomovimento turbulento da água, que ajuda amanter o material químico uniformementedistribuído nas tubulações. Essa característicacontribui na obtenção de boa uniformidade deaplicação. Esses sistemas podem ser usadospara aplicar diversos produtos químicos, comofertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidase até mesmo outros produtos não tradicionais,como bioinseticidas e vírus. A injeção é feitana tubulação principal ou lateral e o ponto deaplicação será o aspersor ou emissor. No casoda cultura do milho, pelas suas característicasde densidade de plantio, a irrigação localizadatem pouco uso comercial.

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A injeção dos produtos pode ser efetuadautilizando-se diferentes métodos eequipamentos (Costa & Brito, 1994), porém,independentemente do método adotado, aqualidade dos resultados obtidos naquimigação depende do cálculo correto deváriáveis como taxa de injeção, quantidade doproduto a ser injetada, volume do tanque deinjeção, dose do produto a ser aplicada naárea irrigada, concentração do produto naágua de irrigação, entre outros.

Além dos cálculos operacionais feitoscorretamente, é necessário assegurar-se deque o sistema, tanto de irrigação quanto deinjeção, está funcionando de acordo com osparâmetros para os quais está ajustado, ouseja, que a vazão calculada correspondeàquela efetiva no sistema, ou que a taxa deinjeção desejada estará realmente ocorrendono campo. Portanto, tão importante quantoos cálculos operacionais, é também proceder àcalibração periódica dos equipamentos (Brito& Costa, 1998).

Informações preliminares sobre produtos

A quimigação requer que os produtos usadosestejam em solução, ou que possam serdisponibilizados em forma líquida, ou fluida.Portanto, se os materiais usados não foremoriginalmente fluidos, é necessário preparar asolução desejada, antes de proceder à injeção.Para tanto, é importante conhecer algumascaracterísticas dos produtos, comosolubilidade, conteúdo do elemento ouprincípio ativo desejado, densidade e/ouconcentração e limite de tolerância pelasculturas, entre outros.

Aplicação via aspersão com laterais portá-teis (Convencional)

A injeção de produtos químicos pode serrealizada utilizando vários métodos (Costa &Brito, 1994). Pelo fato de o sistemapermanecer estacionário durante a aplicaçãode água, é comum a utilização de depósitoshermeticamente fechados, constituídos defibra de vidro, ou de metal protegido contra a

ação corrosiva dos agroquímicos. Nesse caso,o volume do depósito é função da área a serirrigada, do método de injeção e dascondições de suprimento de água.

A quantidade do produto a ser aplicada, porhectare, depende da dose recomendada e édeterminada a partir das análises laboratoriaisou do receituário agronômico. A quantidadetotal do produto requerida pela cultura podeser parcelada em diversas aplicações,conforme as exigências da mesma em cadaestádio de desenvolvimento. O tipo e aconcentração da solução a ser aplicadadependem das recomendações agronômicasestabelecidas para a cultura e do manejo a serusado na aplicação.

A área a ser irrigada e o tempo requerido porcada posição da(s) linha(s) lateral(ais) sãoinformações que devem estar disponíveis, paraque se possa calcular as quantidades deproduto/solução a injetar. O tempo é funçãoda capacidade do sistema de irrigação, dacapacidade de retenção de água no solo, doclima e da cultura.

Quantidade do produto injetada por lateral

A aplicação de agroquímicos, num sistema deaspersão com laterais portáteis, consiste devárias etapas, cujos cálculos são apresentadosna seqüência seguinte (Frizzone et al. 1985):

Quantidade de produto a ser injetada

Para calcular a quantidade de produto a serinjetada, pode-se usar a fórmula:

em que Qi é a quantidade de produto, ouprincípio ativo, a ser aplicada por linha lateral(kg); Ea é o espaçamento entre aspersores nalinha lateral (m); El é o espaçamento entrelaterais (m); Na é o número de aspersores nalinha lateral; Pd é a dose recomendada doproduto ou princípio ativo (kg/ha).

(eq.1)

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Quantidade de produto sólido a sercolocada no tanque

Quando o produto, no seu estado original, ésólido, é necessário preparar a solução notanque, podendo-se usar a equação:

sistema de irrigação com laterais portáteis(convencional), em que cada lateral écomposta de 12 aspersores, com vazãoindividual de 3 m3/h, espaçamento igual entrelinhas e entre aspersores, de 18 m. Asseguintes informações são disponíveis:

. concentração desejada na água deirrigação, Ca = 250 ppm de N;

. capacidade de injeção da bomba, qi = 0,50m3/h;

. capacidade do tanque, Va = 400 L (0,40m3);

. dose recomendada do nutriente (N), Pd =50 kg/ha de N;

Calcular:a. a quantidade de nutriente (N) a ser

aplicada, por lateral;b. a quantidade de fertilizante sólido

(uréia), a ser colocada em cada tanque.c. o número necessário de tanques, por

aplicação;

Solução:

1. quantidade de N a ser injetada, emcada lateral :Usando a eq. 1, tem-se:

em que Qp é quantidade de produto a sercolocada no tanque (g); Ca é a concentraçãodesejada do elemento ou princípio ativo nasolução na saída dos aspersores (g/m3, mg/Lou ppm); Q é a vazão do sistema de irrigação(m3/h); Va é a capacidade do tanque (m3); qi

representa a taxa de injeção (m3/h); P é aporcentagem do elemento no produto,expresso em valor decimal. Vale mencionarque a presença de Ca na fórmula deve-se aofato de que alguns produtos, dependendo desua concentração na água, podem produzirefeitos de queima ou toxidez na folhagem. Aoutilizar algum produto dessa natureza, deve-severificar o limite recomendável deconcentração.

Número necessário de tanques do produto(NT)

Para estabelecer o número de tanques queserão necessários para comportar a solução,ou calda, a ser injetada, faz-se o cálculoseguinte:

em que Qp representa a quantidade doproduto (sólido) em cada tanque, que, nestafórmula, é comumente usado em kilograma(kg), diferentemente da eq. 2; A é a áreairrigada, em cada posição da linha lateral (ha),e os outros termos já foram anteriormentedefinidos.

Exemplo 1: Pretende-se aplicar nitrogênio (N)numa área, utilizando-se uréia, com um

como a uréia tem 45% de N, esses 19,44kg equivalem a 43,2 kg de uréia.

2. quantidade de fertilizante sólido (uréia),a ser colocada em cada tanque. Comocada lateral contém 12 aspersores, comvazão individual de 3 m3 /h, a vazão nalateral, Q, será de 36 m3 /h. A uréiacontém 45% de N, ou 0,45. Usando aeq. 2, calcula-se:

que é a quantidade de uréia sólida a sercolocada em cada tanque.A solubilidade da uréia é de 120 kg/100L.Como o tanque tem capacidade de 400

(eq.2)

(eq.3)

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litros, para diluir 16 kg de uréia, issoequivale a uma solubilidade de 4 kg/100L,bastante inferior à da uréia. Portanto, oproduto será facilmente diluído.

3. Número necessário de tanques(NT):A área irrigada a cada posição dalateral, considerando o espaçamento de18 x 18 m, será de 12 x 324 m2 =3.888 m2, ou aproximadamente 0,39ha.Usando a eq. 3, obtém-se:

Cálculo da taxa de injeção

A taxa de injeção de produtos químicos viapivô central deve ser constante durante aaplicação de uma determinada dose na áreairrigada. Essa condição é necessária porque oequipamento opera com um deslocamentocontínuo e uniforme para aplicação da lâminade água requerida.

A taxa de injeção de determinado produtoquímico depende da dose do produto a serdistribuída na área, da velocidade dedeslocamento do equipamento, da áreairrigada e da concentração do produto notanque de injeção. Estas variáveis estão todasrelacionadas e a taxa de injeção pode sercalculada pela equação:Portanto, serão necessários três

tanques. Multiplicando-se o número detanques pela quantidade de uréia a sercolocada em cada um (3 x 16), obtém-se o total de 48 kg, portanto, superiorao valor encontrado no final do item (a)do exemplo, 43,2 kg, devendo-se adiferença a erros de arredondamento.Nesse caso, pode-se ajustar aquantidade do produto a ser colocadaem cada tanque para 43,2/3 = 14,4kg.

Aplicação via pivô central

O sistema pivô central tem sido amplamenteusado para quimigação, graças à suafacilidade de automação e possibilidades deaplicação eficiente da água. O comprimentoda lateral do sistema é bastante variado,dependendo da necessidade do produtor, dascaracterísticas topográficas e das dimensõesda área a ser irrigada, variando de 60m atéaproximadamente 650m, correspondendo auma área irrigada de 1,31 a 133ha,respectivamente. Os métodos de injeçãoempregados normalmente utilizam as bombasde deslocamento positivo, que se caracterizampor baixas vazões e altas pressões, ideais paraaplicação de produtos químicos via pivôcentral.

em que qi é a taxa de injeção (L/min); Pd é adose do produto na área irrigada (kg ou L/ha);vt é velocidade do pivô na última torre (m/min); rt é a distância do ponto do pivô até aúltima torre (m); r é o raio irrigado do pivôcentral; Qp é a quantidade do produto notanque de injeção (kg ou L); e Va é o volumede água no tanque em que o produto édiluído (L). Na constante 20.000 estáembutida a unidade m2/ha. Na prática,geralmente, a taxa de injeção é pré-fixada,calculando-se a quantidade do produto a serdiluída em um determinado volume de água.

Dependendo da concentração da soluçãoinjetada, de sua taxa de injeção e da vazão dosistema de irrigação, poderão surgir efeitosindesejáveis, como precipitação de sais daágua, corrosão dos materiais componentes doequipamento, toxicidade das plantas oucontaminação do ambiente. Por isso,considera-se muito importante obter aconcentração final do produto injetado naágua de irrigação e avaliar as possibilidades dedano ao equipamento de irrigação e aosistema de produção utilizado. O cálculo da

(eq.4)

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concentração do produto na água deirrigação, Ca (mg/L), pode ser realizadoutilizando a seguinte expressão:

fertilizante, de uma só vez, em 800 L de águano tanque de injeção. Pede-se determinar: a) ataxa de injeção necessária para aplicar uréiauniformemente; b) a concentração do produtona água de irrigação, sabendo que a vazão nosistema de irrigação é de 47,5 L/s; c) o volumetotal de solução necessário para aplicação dadose requerida em toda a área desse pivôcentral.

Solução:

Sendo o raio irrigado de 400m, a área total ép (400)2 = 502.654 m2, ou 50 ha. Com adose de 20 kg/ha, isso representa um total de1000 kg de uréia a serem aplicados.

1. Taxa de injeção:

em que Q representa a vazão do sistema deirrigação (L/s).

Quando o sistema não dispõe de um medidorde vazão, recomenda-se estimar seu valor apartir de informações sobre a lâmina médiaaplicada e a uniformidade de distribuição deágua do equipamento, utilizando a seguintefórmula:

em que Li é a lâmina média aplicada (mm/d); eUi representa o índice de uniformidadeadotado, expresso em forma decimal;

O número de tanques a serem utilizados naaplicação depende do tamanho do pivô, dacapacidade do reservatório de injeçãoutilizado, da velocidade de deslocamento doequipamento e da taxa de injeção empregada.Pode ser calculado da seguinte forma:

em que NT representa o número de tanquesnecessários para a aplicação em um círculocompleto; as outras variáveis já foramdefinidas anteriormente.

Exemplo 2: Deseja-se aplicar uma dose de 20kg/ha de uréia, através de um pivô centralcom raio irrigado de 400 m. O equipamentoirá deslocar-se numa velocidade de 2,5 m/min,na última torre, que se encontra a 385 m doponto pivô. Pretende-se dissolver 360 kg do

Usando a eq. 4

2. Concentração do produto na água deirrigação

Aplicando o valor obtido acima na eq.5

Se for o caso de produto com maiornível de toxidez, este valor deconcentração deverá ser comparado aolimite tolerável pela cultura.

3. Volume total de solução:

Redistribuindo os termos da eq. 7, o queequivale aproximadamente a 2,8 tanques de800 L, ou seja, serão usados três tanques.Ajustando-se os 1000 kg de uréia para trêstanques, deverão ser diluídos 333 kg de uréiapor tanque.

O equipamento de pivô central deve estar bemajustado, para promover uma aplicaçãoeficiente. Em geral, equipamentos com

(eq.5)

(eq.6)

(eq.7)

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uniformidade de distribuição acima de 85%são considerados adequados para aquimigação.

Calibração

Na produção agrícola, são usados diferentestipos de equipamentos e técnicas de medição.Uma vez tomada a decisão de “quimigar”,deve-se ter em mente que uma calibração bemfeita é essencial para a segurança dooperador, segurança ambiental e para aeconomia do empreendimento. Erros decalibração podem resultar no desperdício degrandes somas em químicos, além do risco decontaminação que isso representa.

Para que a uniformidade de distribuição dosprodutos químicos seja efetiva na áreairrigada, ela deve ser similar à uniformidade dedistribuição de água do sistema de irrigação.O processo de calibração dos sistemasenvolvidos na quimigação deve ser iniciadocom a checagem do coeficiente deuniformidade do sistema de irrigaçãoempregado. Após esse procedimento, pode-seiniciar a calibração dos equipamentos deinjeção dos produtos químicos e do sistemade irrigação.

O sistema de injeção é o equipamento usadopara adicionar o produto à água de irrigação.As peças individuais incluem: bomba injetora,tubo de calibração, tanque-depósito comagitador e as conexões e tubulaçõesassociadas. Conforme sugestões daUniversidade de Nebraska (1996), parasegurança e precisão na aplicação, deve-se tersistemas diferentes de injeção para pesticidase fertilizantes. Os sistemas são semelhantes,mas as capacidades são diferentes. Pesticidasgeralmente são aplicados com bombas dediafragma de baixo volume, que podem serajustadas durante o bombeamento, portanto,agilizando o processo de calibração. Ostanques normalmente têm capacidade de 200a 400 L. A taxa de injeção de pesticidas, emmédia, está em torno de 30 a 200 mL/min.Portanto, um tubo de calibração de 1000 mLé adequado. Em contraste, os fertilizantes são

aplicados em quantidades relativamentegrandes e tanques com capacidade de até4000 L são comuns.

Geralmente, os equipamentos vêm comrecomendações dos fabricantes, com oobjetivo de diminuir a margem de errosdurante o processo de injeção. Entretanto, aspossibilidades de aplicação de produtosquímicos são muito variadas, em função dascaracterísticas dos produtos e dos sistemas deirrigação. Por isso, é de bom senso que, juntocom as informações dos fabricantes, hajamonitoramento dos sistemas de injeção, emintervalos regulares ou no começo de cadaoperação, com o objetivo de assegurar aaplicação uniforme e segura do produto.

A calibração dos equipamentos de injeção érelativamente simples e direta, se um mínimode material é colocado à disposição para esseprocedimento. Nesse material, incluem-sebasicamente um cilindro graduado comcapacidade de até 20 litros, para coletar oefluente do sistema de injeção, um hidrômetroe um cronômetro.

Os passos requeridos para uma calibraçãoacurada são (Universidade de Nebraska,1996):

. determinação da área a ser tratada;

. cálculo da quantidade de químiconecessária;

. determinação do tempo de aplicação (ou derevolução, no caso de pivô central);

. cálculo da taxa de injeção;

. conversão da taxa de injeção para asunidades do tubo de calibração.

A calibração é conduzida pelo ajuste da taxade injeção de produto da bomba injetora, parainjetar a quantidade correta do produto.Pequenos erros na entrada de produtos podemcausar taxas mais altas ou mais baixas deaplicação e podem-se obter resultadosinsatisfatórios.

Dentre os vários tipos de equipamento deinjeção, os sistemas baseados no venturi e asbombas injetoras de pistão e diafragma são osmais usados na injeção de fertilizantes

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nitrogenados (Moreira & Stone, 1994). Oprocesso de calibração, quando se usaventuri, é feito determinando-se a vazãoderivada, que é uma parte da vazão total quepassa pelo tanque de solução. A determinaçãodessa vazão é feita instalando-se umhidrômetro na mangueira entre o ponto detomada de água na tubulação de irrigação e otanque de solução. Após a determinação davazão derivada, é feita a calibração, isto é, avazão derivada é ajustada à taxa de aplicaçãodo produto determinada antecipadamente.

Por exemplo, deseja-se aplicar uma solução deagroquímico a uma taxa de 20 L em 10minutos. Com o sistema em funcionamento eo tanque com água, mede-se o tempo gastopara passar os 20 litros pelo hidrômetro; se otempo for menor que os 10 minutosnecessários, é sinal de que o registro estámuito aberto e deve ser fechado um pouco.Se maior, está muito fechado e deve seraberto um pouco mais. Este procedimentodeve ser repetido até obter a vazão desejadade 20 litros em 10 minutos. Na ausência deum hidrômetro, pode-se utilizar o cilindrograduado e coletar a vazão derivada em umtempo preestabelecido, ou determinar otempo de uma vazão preestabelecida. Emambos os casos, deve-se utilizar a unidade delitros por minuto (L/min) (Moreira & Stone,1994).

As bombas injetoras de pistão são bastanteapropriadas para a injeção de fertilizantesnitrogenados. Nesse equipamento, a taxa deinjeção do produto químico é determinadapelo número de golpes dados por um pistãode determinado comprimento e diâmetro.Normalmente, a relação taxa de injeção pornúmero de golpes é fornecida pelo fabricanteatravés de catálogos, o que não deve impedirque se faça uma nova calibração a cadaaplicação, uma vez que os valores dessarelação estão sujeitos a variações resultantesde alterações na pressão diferencial a que oinjetor é submetido.

O procedimento de calibração é o seguinte(Moreira & Stone, 1994): com a bomba

instalada e o sistema de irrigação emfuncionamento, abre-se lentamente o registrode entrada de água localizado na parte inferiorda bomba. A bomba imediatamente entra emfuncionamento. Ligado à bomba, um contadorregistra o número de golpes do pistão. A cadamovimento do pistão, a bomba injetadeterminada vazão, que deve ser medida pormeio de um cilindro graduado. Como aquantidade de produto por área é calculadaantecipadamente, ajusta-se o funcionamentoda bomba injetora a esses valores. Isto é feitomediante a abertura do registro de água, queregula a freqüência dos golpes, quenormalmente são de um a doze por minuto, oque corresponde a aproximadamente 30 a 360L/h de solução.

Em seguida, são apresentados procedimentosde calibração para sistemas de irrigação porlaterais portáteis, pivô central e gotejamento,extraídos de Moreira & Stone (1994).

Sistema de aspersão por laterais portáteis(convencional)

a) Determinar a área irrigada por uma linhalateral. Multiplicar o espaçamento entrelaterais ao longo da linha principal pelocomprimento da lateral. Se mais de uma linhalateral funciona simultaneamente, multiplicartambém pelo número de laterais.

Exemplo:6 laterais com 240 m de comprimento cada,espaçadas entre si de 6 m. (240m x 6m x 6) /(10.000m2/ha) = 0,86 ha

b) Determinar a quantidade necessária doproduto químico por hectare (especificação doproduto)

Exemplo:Dose de 4 L/ha.

c) Determinar a quantidade total de produtoquímico necessária, multiplicando-se a áreairrigada pela quantidade do produto porhectare: 0,86 ha x 4 L/ha = 3,44 L doproduto.

d) Determinar a quantidade de água a seraplicada durante a irrigação de uma lateral

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(calculada na elaboração do projeto deirrigação).

Exemplo:28 mm de água devem ser aplicados nairrigação de uma lateral.

e) Determinar a taxa de aplicação de água dosistema de irrigação (obtida de tabelas, emfunção das características do aspersor em uso)

Exemplo:De acordo com a tabela de aspersores, a taxade aplicação de água será de 7mm/h.

f) Determinar o tempo de irrigação, dividindo-se a quantidade de água a ser aplicada (item4) pela taxa de aplicação de água (item 5): (28mm) / (7mm/h) = 4 h de irrigação.

Recomenda-se que alguns produtos, comoherbicidas, sejam aplicados durante a primeirametade do tempo de irrigação, ou durante asprimeiras duas horas.

g) Encher parcialmente o tanque de soluçãocom água, deixando espaço suficiente para aadição do produto químico. Acionar o agitadordo tanque e adicionar o produto.

Exemplo:Para um tanque de 50 L, adicionaraproximadamente 46,5 L de água, ligar oagitador e adicionar os 3,44 L do produto paracompletar o volume total.

h) Determinar a taxa de injeção, dividindo ototal de litros no tanque (item 7) pelo tempo,em horas, requerido para aplicar o produto(item 6): 50 L/2 h = 25 L/h.

i) Ajustar a taxa de injeção da bomba para 25L/h, para assegurar a aplicação correta doproduto químico.

j) Se a solução for aplicada no final do tempode irrigação, deixar o sistema de irrigação emfuncionamento por tempo suficiente, após otérmino da injeção, para assegurar que asolução foi completamente removida dosistema.

Pivô central

a) Determinar a área irrigada pelo pivô central.O cálculo é:onde A é área irrigada (ha) e r é o raio máximomolhado (m).

Exemplo:

Se r = 280 m

b) Determinar a quantidade total de produtoquímico a ser aplicado, multiplicando-se aárea irrigada pela quantidade de produto porhectare.

Exemplo:Supondo-se uma dose recomendada para oproduto de 3 L/ha, tem-se:Volume = 24,6 ha x 3 L/ha = 73,8 L doproduto a serem injetados.

c) Encher parcialmente o tanque de soluçãocom água e deixar espaço suficiente para aadição do produto químico. Acionar oagitador do tanque e adicionar o produto.

Exemplo:Num tanque de 200 L, adicionaraproximadamente 126 L de água, ligar oagitador e adicionar os 73,8 L do produto,para completar o volume total.

d) Determinar a velocidade de deslocamentodo pivô central. A velocidade rotacional dopivô é dada geralmente em metros porminuto.

Exemplo:

Distância percorrida em 10 minutos = 200metros.

e) Determinar o tempo de uma revoluçãocompleta do pivô central. A circunferência e avelocidade rotacional do pivô são necessárias

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Comitê dePublicações

Presidente: Ivan CruzSecretário-Executivo: Frederico Ozanan Machado DurãesMembros: Antônio Carlos de Oliveira, Arnaldo Ferreira daSilva, Carlos Roberto Casela, Fernando Tavares Fernandes ePaulo Afonso Viana

Expediente Supervisor editorial: José Heitor VasconcellosRevisão de texto: Dilermando Lúcio de OliveiraEditoração eletrôncia: Tânia Mara Assunção Barbosa

ComunicadoTécnico, 57

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Milho e SorgoCaixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas, MGFone: 0xx31 3779 1000Fax: 0xx31 3779 1088E-mail: [email protected]

1ª edição1ª impressão (2002) Tiragem: 200

nesse cálculo. A circunferência (C) é calculadapela fórmula:

em que r é o raio medido do centro até aúltima torre do pivô (m).

Exemplo:

Raio do pivô = 250 metrosO tempo de revolução é calculado dividindo-sea circunferência pela velocidade dedeslocamento do pivô:

f) Determinar a taxa de aplicação/injeção doproduto, que é obtida dividindo-se aquantidade de solução necessária para aquimigação (item 3) pelo tempo de revoluçãodo pivô (item 5):

g) Ajustar a taxa de injeção da bomba injetorapara 15,3 L/h, para assegurar a corretaaplicação do produto.

h) Deixar o pivô central em operação portempo suficiente (normalmente em torno decinco minutos) após o término da injeção,para assegurar que a solução foicompletamente removida do sistema deirrigação.

Literatura Citada

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MOREIRA, J.A.A.; STONE, L.F. Calibração. In:In: COSTA, E.F.; VIEIRA, R.F.; VIANA, P.A.Quimigação: aplicação de produtos químicose biológicos via irrigação. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. cap.6, p.159-171.