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VII Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação. De 14 a 16 de setembro de 2015 Uberlândia MG Entendendo a função dos adjuvantes Autora: Fernanda de Oliveira B. Costa ¹ Coautor: André Luis Conde¹ 1 OXITENO S.A. - AGROCHEMICALS Contato: [email protected] Introdução Adjuvante pode ser definido como qualquer aditivo que, ao ser utilizado com um defensivo agrícola, assegure ou melhore o seu desempenho e/ou modifique as características físico-químicas da calda de pulverização. O objetivo do adjuvante é, portanto, obter a melhor eficiência da aplicação do produto agroquímico. Comumente associa-se o termo adjuvante aos produtos aplicados diretamente na calda. Entretanto, existem duas categorias quanto à sua incorporação: os adjuvantes podem ser formulados em conjunto com o princípio ativo, fazendo parte da formulação comercial ou podem ser adicionados separadamente na calda, antes da pulverização. Quanto à forma de atuação, podemos classificá-los como adjuvantes de utilidade e ativadores. Os primeiros têm como objetivo a modificação das propriedades da calda, por exemplo: compatibilizantes, modificadores de pH, anti-espumantes, condicionadores de água e redutores de deriva. Já os adjuvantes ativadores buscam potencializar a atividade biológica dos ingredientes ativos, melhorando a deposição, retenção e penetração dos defensivos. Exemplos de produtos dessa categoria são os espalhantes, umectantes, adesivos e óleos emulsionados. A amina graxa etoxilada, tensoativo mais utilizado nas formulações do herbicida glifosato, é o exemplo mais conhecido de adjuvante ativador.

Entendendo a função dos adjuvantes

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Page 1: Entendendo a função dos adjuvantes

VII – Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação.

De 14 a 16 de setembro de 2015 – Uberlândia – MG

Entendendo a função dos adjuvantes

Autora: Fernanda de Oliveira B. Costa¹

Coautor: André Luis Conde¹

1 OXITENO S.A. - AGROCHEMICALS

Contato: [email protected]

Introdução

Adjuvante pode ser definido como qualquer aditivo que, ao ser utilizado com um

defensivo agrícola, assegure ou melhore o seu desempenho e/ou modifique as

características físico-químicas da calda de pulverização. O objetivo do adjuvante é,

portanto, obter a melhor eficiência da aplicação do produto agroquímico.

Comumente associa-se o termo adjuvante aos produtos aplicados diretamente na calda.

Entretanto, existem duas categorias quanto à sua incorporação: os adjuvantes podem

ser formulados em conjunto com o princípio ativo, fazendo parte da formulação

comercial ou podem ser adicionados separadamente na calda, antes da pulverização.

Quanto à forma de atuação, podemos classificá-los como adjuvantes de utilidade e

ativadores. Os primeiros têm como objetivo a modificação das propriedades da calda,

por exemplo: compatibilizantes, modificadores de pH, anti-espumantes,

condicionadores de água e redutores de deriva. Já os adjuvantes ativadores buscam

potencializar a atividade biológica dos ingredientes ativos, melhorando a deposição,

retenção e penetração dos defensivos. Exemplos de produtos dessa categoria são os

espalhantes, umectantes, adesivos e óleos emulsionados. A amina graxa etoxilada,

tensoativo mais utilizado nas formulações do herbicida glifosato, é o exemplo mais

conhecido de adjuvante ativador.

Page 2: Entendendo a função dos adjuvantes

Figura 1: Atuação dos Adjuvantes

Esse trabalho focará na atuação dos adjuvantes em três importantes fenômenos:

Formação da gota e Deriva;

Umectação e Espalhamento;

Mecanismos de ativação ou Penetração.

Formação da gota e Deriva

A deriva é definida como a quantidade de agroquímicos utilizados para proteção das

plantas que são desviados para fora do alvo por correntes de ar no momento das

aplicações. Trata-se de um fenômeno complexo e pode ser influenciado por diversos

fatores, entre eles, destacam-se: as condições climáticas no momento das aplicações, a

tecnologia de aplicação utilizada, as características do ambiente e as características

físicas e químicas do líquido aplicado.

Nesse cenário, a utilização de adjuvantes na formulação agroquímica ou diretamente

na calda de pulverização tem conquistado espaço visando proporcionar melhorias na

eficiência e no desempenho dos agroquímicos, reduzindo a deriva e, consequentemente

causando menor impacto ambiental e à saúde dos aplicadores.

A principal variável relacionada à ocorrência de deriva é o tamanho da gota formada

no processo de pulverização. É comumente reconhecido na literatura científica que

gotas pequenas contribuem significativamente para a deriva. Algumas normas ou

associações adotam uma faixa de tamanho de gota chamadas de gotas finas, que variam

entre valores inferiores a 100 ou 200 µm.

Page 3: Entendendo a função dos adjuvantes

As principais classes de produtos utilizados como adjuvantes para controle de deriva são

os polímeros de alto peso molecular e os óleos emulsionados.

Figura 2: Atuação dos Adjuvantes no Espectro de Gotas

Os polímeros usados nessa aplicação aumentam a viscosidade extensional e fazem com

que o jato resista à deformação, formando gotas maiores. Entretanto, alguns desses

produtos são sensíveis ao cisalhamento sofrido durante o processo de aplicação e

podem ser sensíveis a variações de pH e presença de sais.

Os óleos emulsionados funcionam por um mecanismo diferente. Alguns autores

acreditam que a exposição e deformação da superfície hidrofóbica do óleo criam

perfurações no filme, que provocam a quebra do mesmo mais cedo e mais próximo à

ponta de pulverização. Como a espessura do filme é inversamente proporcional à

distância da ponta, as gotas formadas são maiores e mais homogêneas. Esse mecanismo

ajudaria a explicar o fato de certos adjuvantes base óleo reduzirem a formação de gotas

finas, sem aumento significativo de gotas muito grandes. A adequada seleção do óleo,

dos tensoativos e da razão entre eles é essencial para atingir esse efeito. Uma

desvantagem de alguns desses produtos é a variação do desempenho de acordo com o

tipo de ponta utilizado, podendo ocorrer efeito inverso quando utilizados bicos de

indução de ar.

Page 4: Entendendo a função dos adjuvantes

Figura 3: Quebra de filme com adjuvante base óleo (QIN et al, 2010)

Umectação e Espalhamento

A maneira com que uma gota umecta, espalha e recobre a superfície da folha é um fator

relevante no desempenho do produto agroquímico. Esse fator é importante não apenas

no caso de produtos que atuam por contato, mas também para ativos sistêmicos onde o

rainfastness pode ser uma questão que afeta a aplicação do produto.

A superfície de uma folha é hidrofóbica, pois é recoberta por uma camada de cera

cristalina de álcoois parafínicos com cadeias de 24 a 35 átomos de carbono. Essa

superfície é, portanto muito difícil de molhar e ser recoberta por água.

Um produto é chamado de umectante quando, ao ser dissolvido em água, diminui o

ângulo de contato entre o líquido e a superfície a ser recoberta. Por essa razão, a medida

do ângulo de contato é um importante parâmetro em relação à cobertura ou

espalhamento da gota sobre a superfície da folha. Quanto menor o ângulo de contato,

melhor essa cobertura ou espalhamento.

O nonilfenol etoxilado é um tensoativo muito versátil e bastante usado nessa aplicação.

Há diversos tipos de tensoativos que podem ser usados para obtenção desse efeito além

do nonilfenol etoxilado.

Page 5: Entendendo a função dos adjuvantes

Figura 4: Ângulo de contato

Figura 5: Relação do Fator de Espalhamento com Ângulo de contato (adaptado de TADROS, 2009)

Mecanismos de Ativação ou Penetração

Quatro principais sítios de ação são considerados para o aumento da penetração do

ingrediente ativo em uma folha: na superfície da folha; na cutícula; na parede celular

sob a cutícula; na membrana celular dos tecidos internos. O adjuvante ativador é

inicialmente depositado junto com o ativo e pode penetrar na cutícula atingindo outros

sítios de ação, então o seu papel no processo de ativação pode ser bastante complexo.

O efeito principal das interações dos adjuvantes é aumentar a transferência de massa do

ativo de uma fase líquida ou sólida fora da cutícula para a fase aquosa dos tecidos

internos das folhas.

O processo de difusão governa os processos de transferência de massa, mas também a

solubilização de um ingrediente ativo dentro da micela formada pelos tensoativos é uma

abordagem interessante para ativar a sua penetração. No caso de adjuvantes base óleo,

a penetração do ativo pode ser melhorada pelo mecanismo da solubilização micelar,

onde os ativos hidrofóbicos são incorporados aos glóbulos de óleo.

Page 6: Entendendo a função dos adjuvantes

Um caso prático bastante comum é a adição de adjuvantes base óleo em mistura de

tanques de fungicidas sistêmicos com a formulação do tipo Suspensão Concentrada

(SC).

Figura 6: Solubilização micelar

Além desse efeito, o uso de adjuvantes base óleo apresenta outras vantagens, pois

reduzem a taxa de evaporação das gotas e aumentam o espalhamento e adesão das

mesmas na superfície da folha.

Outros possíveis mecanismos de ativação que são influenciados pelos adjuvantes são

propostos na literatura científica: Solubilização da cera cuticular ou Plastificação;

formação cristalina dos depósitos; retenção de umidade nos depósitos e infiltração pelos

estômatos.

Conclusão

Apesar do crescimento expressivo do mercado mundial de defensivos agrícolas nos

últimos anos, o desenvolvimento e lançamento de novos ingredientes ativos vêm caindo

devido a alto custo de desenvolvimento e maiores barreiras regulatórias. Nesse cenário,

o desenvolvimento de novas formulações e, portanto o maior e melhor uso de

adjuvantes mostra-se uma oportunidade para as empresas e aplicadores que buscam

diferenciação e novos atributos.

Os adjuvantes tem um papel relevante no desempenho de produtos agroquímicos. A

difusão de conhecimento a respeito das diferentes categorias, modos de ação,

compreensão de aspectos físico-químicos e interação com sistemas biológicos auxilia

na seleção e no desenvolvimento de produtos que atendam a novos e complexos

desafios que a indústria agroquímica enfrenta, a saber: deriva de produtos,

compatibilidade e estabilidade de misturas complexas, interação com biopesticidas e

fertilizantes, pressão regulatória e maior produtividade - com mais produtos atingindo

o seu alvo.

Óleo

Water

HidrofílicoHidrofóbico

Tensoativos

Adjuvantes base óleo: óleo + tensoativos

IA suspenso

Calda com SC

Page 7: Entendendo a função dos adjuvantes

Referências Bibliográficas

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Pesticide Spray Drift Reduction Adjuvants for Ground Application, ASTM

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