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Comunicado Técnico 50 ISSN 1679-0162 Dezembro, 2002 Sete Lagoas, MG CULTIVO DO MILHO Manejo Integrado de Pragas (MIP) José Magid Waquil 1 Paulo Afonso Viana Ivan Cruz 1 Eng. Agr., PhD, Embrapa Milho e Sorgo. Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG. E-mail: [email protected] O manejo integrado de pragas (MIP) é definido como um sistema que associa os conhecimentos tanto do ambiente como da dinâmica populacional da espécie-alvo e utiliza todos os métodos e técnicas apropriadas de forma tão compatível quanto possível para manter a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico. Os fundamentos, tanto do Controle Integrado como do Manejo Integrado de Pragas, baseiam-se em quatro elementos: na exploração do controle natural, no nível de tolerância da planta aos danos causados pela praga-alvo, no monitoramento das populações para tomadas de decisão e na biologia e ecologia da cultura e de suas pragas em geral. Estas premissas implicam no conhecimento dos fatores naturais de mortalidade, nas definições das densidades populacionais ou da quantidade de danos causados pelas espécies-alvo equivalentes ao nível de dano econômico (NDE) e ao nível de controle (NC), que fica imediatamente abaixo do NDE. Outra variável importante seria a determinação do nível de equilíbrio (NE) das espécies que habitam o agroecossistema em questão. Em função da flutuação da população da espécie e de sua posição relativa a esses três níveis (NE, NDE E NC) ao longo do tempo, as espécies fitófagas podem ser classificadas em pragas-chave (densidade populacional sempre acima do NDE), pragas esporádicas (densidade na lavoura raramente atinge o NDE) e não- pragas (a densidade da espécie em questão nunca atinge o NDE). Mais recentemente, tem sido proposto também o nível de não-controle (NNC), ou seja, a densidade populacional de uma ou mais espécies de inimigos naturais capazes de reduzir a população da espécie- alvo a níveis não econômicos, dispensando, assim, a utilização de medidas de controle.

Manejo integrado de pragas no milho

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ComunicadoTécnico

50ISSN 1679-0162Dezembro, 2002Sete Lagoas, MG

CULTIVO DO MILHOManejo Integrado de Pragas(MIP)

José Magid Waquil1Paulo Afonso VianaIvan Cruz

1 Eng. Agr., PhD, Embrapa Milho e Sorgo. Caixa Postal 151 CEP 35 701-970 Sete Lagoas, MG.E-mail: [email protected]

O manejo integrado de pragas (MIP) é definidocomo um sistema que associa osconhecimentos tanto do ambiente como dadinâmica populacional da espécie-alvo eutiliza todos os métodos e técnicasapropriadas de forma tão compatível quantopossível para manter a população da praga emníveis abaixo daqueles capazes de causar danoeconômico. Os fundamentos, tanto doControle Integrado como do Manejo Integradode Pragas, baseiam-se em quatro elementos:na exploração do controle natural, no nível detolerância da planta aos danos causados pelapraga-alvo, no monitoramento das populaçõespara tomadas de decisão e na biologia eecologia da cultura e de suas pragas em geral.Estas premissas implicam no conhecimentodos fatores naturais de mortalidade, nasdefinições das densidades populacionais ouda quantidade de danos causados pelasespécies-alvo equivalentes ao nível de dano

econômico (NDE) e ao nível de controle (NC),que fica imediatamente abaixo do NDE. Outravariável importante seria a determinação donível de equilíbrio (NE) das espécies quehabitam o agroecossistema em questão. Emfunção da flutuação da população da espéciee de sua posição relativa a esses três níveis(NE, NDE E NC) ao longo do tempo, asespécies fitófagas podem ser classificadas empragas-chave (densidade populacional sempreacima do NDE), pragas esporádicas (densidadena lavoura raramente atinge o NDE) e não-pragas (a densidade da espécie em questãonunca atinge o NDE). Mais recentemente, temsido proposto também o nível de não-controle(NNC), ou seja, a densidade populacional deuma ou mais espécies de inimigos naturaiscapazes de reduzir a população da espécie-alvo a níveis não econômicos, dispensando,assim, a utilização de medidas de controle.

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Monitoramento

O monitoramento é o primeiro passo para sepraticar o MIP. Sem monitorar a densidadepopulacional da espécie-alvo no campo, nãohá como se aplicar os princípios do MIP.Assim, recomenda-se iniciar o monitoramentomesmo antes de se iniciar o plantio. Afreqüência e o método de amostragemdependem da fase de desenvolvimento dacultura e do nível de precisão com que sepretende conduzir o manejo. Quanto maior afreqüência e o tamanho da amostra, melhor.Entretanto, deve-se considerar também oscustos dessas amostragens.

Monitoramento de pragas de solo – deve-seexaminar amostras de solo de 30 cm x 30 cmpor 15 cm de profundidade, utilizando-se umapeneira e procurando-se por insetos. Para alarva-arame, medidas de controle devem seradotadas se dois ou mais insetos foremdetectados por amostra. A média de uma larvapor amostra é suficiente para causar danoeconômico. Neste caso, recomenda-se otratamento de solo com inseticidas. Para asimples detecção da presença de insetos nocampo, pode-se proceder da seguinte maneira:tomar cerca de 200 g de sementes semtratamento e enterrar em locais, comidentificação, dentro da área a ser cultivada ecobrir com um pedaço de plásticotransparente; alguns dias depois, desenterrar omaterial e procurar por insetos. No caso decupins subterrâneos, examinar pedaços decolmo ou sabugos de milho da cultura anteriorou pode-se enterrar pedaços desses materiaisou mesmo rolo de papel higiênico (sem cor eperfume) em pontos estratégicos e, apósalguns dias, examinar o material, visandodetectar a presença de insetos.

Monitoramento de pragas iniciais e do períodovegetativo - Sendo realizado o tratamento desementes, esse levantamento pode seriniciado a partir da terceira semana após asemeadura do milho. A detecção dacigarrinha-do-milho pode ser feita através deexame direto ou utilizando-se redeentomológica. Para se estimar a densidade

com maior precisão, pode-se usar o métododo saco de plástico. Em áreas e/ou condiçõesde risco de incidência de enfezamentos eviroses, recomenda-se fazer o controle quandodetectada a presença dos insetos. No caso daincidência da lagarta-do-cartucho, lagarta-elasmo, broca-da-cana ou lagarta-rosca, deve-se estimar a incidência contando-se o númerode plantas atacadas em 10 m de fileira eadotar medidas de controle em função donível de dano. Para o controle da lagarta-do-cartucho, recomenda-se a utilização deamostragem seqüencial.

Estratégias de manejo

Tratamento de sementes - é uma prática quetem sido largamente difundida, nos últimosanos, visando o controle de pragassubterrâneas e iniciais da cultura do milho emáreas que apresentam histórico de problemasoriundos de ataque de determinados gruposde insetos (ver sessões de pragas subterrânease iniciais). Os danos causados por essaspragas resultam em falhas na lavoura, devidoà alimentação, nas sementes, após asemeadura, nas raízes, após a germinação, ena parte aérea de plantas recém-emergidas.Tem-se como ponto primordial para se obteralta produtividade o estabelecimento donúmero ideal de plantas por hectare. Emlavoura com baixo estande, a contribuição dosdemais insumos fica limitada e o agricultornão consegue obter a rentabilidade esperadada lavoura. No tratamento de sementes, aquantidade relativamente pequena deingrediente ativo, aplicado sobre as sementes,protege-as no solo até a sua germinação, bemcomo as raízes e a parte aérea da planta logoapós a sua emergência.

O seu emprego, muitas vezes, reduz anecessidade de pulverizações de plantasrecém-emergidas com inseticidas de custoselevados que, na aplicação, geralmente nãoatingem o alvo, devido à pequena área foliardas plantas logo após a emergência. Portanto,essa prática contribui para reduzir o impactonegativo no ecossistema, uma vez que nãoafeta diretamente os inimigos naturais que

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estão se estabelecendo nessa fase dedesenvolvimento da cultura. A técnica aindaapresenta a vantagem de o uso serrelativamente fácil e, em alguns casos, debaixo custo. Atualmente, existe uma variaçãobastante grande nos preços de inseticidas, natoxicidade e na eficiência do tratamento desementes. Tem-se observado quedeterminados grupos de inseticidaspossibilitam melhor controle de lagartas(lagarta-elasmo e lagarta-rosca), outrosapresentam melhor desempenho para insetossugadores (percevejo castanho, percevejobarriga verde, percevejo preto), térmitas(cupins) e larvas de coleópteros (bicho-bolo,larva-arame e larva-alfinete). Para cada caso, aescolha do inseticida deve estar de acordocom os registros no Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Tabela 1).

O período de proteção das sementes e dasplantas recém-emergidas proporcionado pelotratamento de sementes dependerá dainteração de vários fatores. Pode-se destacaros fatores relacionados com a própria semente(tamanho, formato, textura, permeabilidade),com a natureza dos inseticidas (modo eespectro de ação, formulação, dose) e com ascondições do ambiente (pressão de infestaçãoda praga, textura, temperatura e umidade dosolo). Também é importante levar emconsideração a qualidade da aplicação, comoo tipo de equipamento utilizado e aqualificação e capacitação do pessoalenvolvido.

Dependendo da toxicidade do inseticida, otratamento de sementes pode ser realizado naprópria fazenda, ou em Centros deTratamentos de Sementes ou em revendasespecializadas, com máquinas apropriadas ecom pessoal treinado. Nas fazendas,geralmente são utilizados tambores rotativos(Figura 1), construídos especificamente paraessa finalidade. No entanto, independente doequipamento ou inseticida utilizado, todos oscuidados devem ser tomados para evitarpossíveis contaminações ou intoxicações dooperador.

No caso da semente de milho, a eficiência nadistribuição da semente tratada, no sulco desemeadura, pode ser melhorada com a adiçãode grafite em pó. Como a semente tratadacom inseticida apresenta uma alteração emsua forma original, muitas vezes pode tercomo conseqüência uma maior dificuldade deescoamento dentro do compartimento dasemeadora. Nesse caso, o uso de grafitemelhora o escoamento das sementes tratadas,especialmente em sistemas de distribuiçãoatravés de discos. Entretanto, o excesso degrafite, colocado nos sistemas de dedos(garras), tem funcionado de maneira contrária.A quantidade recomendada de grafite varia deacordo com o tamanho da semente. Sementesmaiores demandam uma maior quantidade.Em geral, recomenda-se de 2 a 4 gramas degrafite em pó por quilo de semente tratada.

Finalmente, recomenda-se que as sementestratadas não sejam armazenadas por muitosdias e que se faça a semeadura logo após otratamento. Os inseticidas geralmente nãoafetam a germinação de sementes com altaqualidade. Entretanto, sementes de qualidadeinferior podem ter o vigor afetado e,conseqüentemente, o número de plantas nalavoura reduzido. Deve-se, também, evitar queas sementes fiquem descobertas no sulco deplantio, pois são tóxicas para pássaros eoutros animais.

Figura 1

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Tabela 1. Inseticidas registrados para o controle de insetos-praga na cultura do mlho. 2002.

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Tabela 1. Inseticidas registrados para o controle de insetos-praga na cultura do mlho. 2002. - Continuação

Seletividade de inseticidas - no passado, aescolha de determinado inseticida para usocontra as pragas da agricultura era baseada nacapacidade do produto químico de atuarrapidamente e sobre diferentes espécies depraga. Geralmente, eram produtos de amploespectro de ação e, invariavelmente,altamente tóxicos. Por apresentarem custorelativamente baixo, tais produtos químicoseram considerados seguros para a produçãode alimentos e utilizados independentementeda necessidade. No entanto, com o passar dosanos, foi fácil verificar os efeitos danosos dosprodutos para a natureza como um todo;especialmente em relação ao método decontrole em si, começaram a aparecer raçasresistentes de pragas e até mesmo novas

pragas, anteriormente presentes, porém emnível populacional baixo em virtude da açãode diferentes agentes de controle natural.Atualmente, o conceito do controle químicotem mudado. Há uma preocupação crescentenão só da sociedade como um todo, mastambém do próprio agricultor, com o usoindiscriminado de produtos químicos. Aspróprias empresas produtoras de inseticidastêm buscado produtos que sejam menosdanosos ao ambiente e a seletividade dosmesmos. Tal seletividade pode ser alcançadaatravés do produto em si, por exemplo,produtos que atuem somente sobredeterminados grupos ou sobre determinadasfases da biologia dos insetos (inseticidasfisiológicos). A seletividade também pode ser

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alcançada através de aplicações dirigidas. Porexemplo, a aplicação tratorizada deinseticidas, para o controle de lagartas nocartucho-do-milho, posicionando o bico depulverização de modo a aplicar o produtosomente na planta, é mais seletiva do que aaplicação via água de irrigação, que é umaaplicação em área total. De maneirasemelhante, o tratamento de sementes é maisseletivo do que a pulverização, em função daformulação do produto e do modo deaplicação. A seletividade também pode ser emrelação a determinados inimigos naturais. Poralgum mecanismo do inseto, ele pode não serafetado drasticamente por determinadoprincipio ativo. Tais produtos devem serpreferidos em programas de manejo.

Aplicação de Inseticidas via Água de Irrigação-define-se como insetigação a aplicação deinseticidas via água de irrigação. Nainsetigação, o sistema de irrigação poraspersão tem sido o método mais utilizadopara a aplicação dos inseticidas. A técnicainiciou-se na América do Norte, na década de60, visando o controle de pragas foliares nacultura do milho, com a utilização dosinseticidas azinphos methyl e carbaryl. NoBrasil, a insetigação começou a ser utilizadana década de 80, havendo uma grandeescassez de informações técnicas para asnossas condições. Atualmente, com aexpansão de áreas agrícolas irrigadas, tem-seutilizado aplicações de inseticidas via irrigaçãopor aspersão, muitas vezes, sem se conhecerparâmetros técnicos necessários para se obtera melhor eficiência e redução de riscosoriundos da utilização de defensivos agrícolas.

A insetigação tem sido utilizada com sucessopara o controle de diversas pragas e culturas;entretanto, existem exemplos de insucessos,indicando que o método não se aplica a todasas condições. As doses dos inseticidasaplicadas na insetigação são as mesmasutilizadas em pulverizações pelos métodosconvencionais (tratorizada ou costal). Asprimeiras avaliações de inseticidas nainsetigação basearam-se nos princípios ativos

que apresentavam eficiência comprovadaatravés de pulverização para o controle dedeterminada praga.

Para se obter uma eficiente e segurainsetigação, vários cuidados devem sertomados, destacando-se a importância dascondições ambientais como velocidade dovento, umidade relativa, precipitaçãopluviométrica, tipo e umidade do solo, daseleção de inseticidas (solubilidade em água,dose), do volume, qualidade e velocidade dofluxo de água e da compatibilidade deprodutos. Na utilização da insetigação, deve-se precaver contra as aplicaçõesindiscriminadas e o manuseio inadequado dosinseticidas que, na sua maioria, sãoinflamáveis. Deve-se, obrigatoriamente,utilizar equipamentos de segurançaadequados, evitar deriva e não entrar na árealogo após a aplicação.

O emprego dessa técnica tem sidopesquisado, na Embrapa Milho e Sorgo, parao controle da lagarta-do-cartucho, Spodopterafrugiperda, lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea,lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus elarva-alfinete, Diabrotica speciosa. Osresultados indicam que essas pragas podemser controladas empregando-se inseticidaaplicado via água de irrigação por aspersão,conforme mostrado na Tabela 2.

Os inseticidas mostrados na Tabela 2 podemser aplicados utilizando equipamentosconvencionais de irrigação (tipo lateralportátil) ou através de pivô. Para oequipamento convencional, a calda inseticidapode ser injetada no sistema de irrigaçãoatravés de bomba dosadora ou de umequipamento portátil de injeção desenvolvidona Embrapa Milho e Sorgo, denominado“vaquinha” (Figura 2). Para o pivô central,

Figura 2

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utiliza-se a bomba dosadora. Independente dométodo de injeção adotado, a qualidade dosresultados obtidos na aplicação depende docálculo correto de variáveis como taxa deinjeção, quantidade do inseticida a serinjetada, volume do tanque de injeção e dosedo inseticida a ser aplicada na área irrigada.Desde o início de sua utilização, a insetigaçãotem adaptado tecnologias existentes, tanto naparte de equipamentos ou dos químicos aserem aplicados. No futuro, novasformulações de inseticidas deverão serdesenvolvidas para essa modalidade deaplicação, visando obter maior eficiência nocontrole das pragas. Pesquisas deverão serconduzidas objetivando reduzir a quantidadede inseticidas aplicados nas lavouras, comreflexos diretos nos custos de produção e decontaminação ambiental. A indústria deverádesenvolver equipamentos com alta eficiênciatanto para irrigação como para aplicação deprodutos químicos. Melhoria de eficiência decontrole de pragas poderá também ser obtidacom novos aspersores, tanques e depósitospara a mistura da calda inseticida,microprocessador controlando irrigação einjeção.

Controle Biológico: Papel dos inimigosnaturais no controle das pragas - em funçãoda importância de insetos-praga da ordemLepidoptera (mariposas, especialmente) como

Tabela 2. Inseticidas com melhor desempenho para o controle de insetos-pragas de milho aplicados via irrigação por aspersão.Embrapa Milho e Sorgo.

pragas da cultura do milho, no Brasil, etambém em relação ao aparecimento depopulações resistentes aos inseticidas, como éo caso da lagarta-do-cartucho, as pesquisascom controle biológico têm aumentado nopaís. Deve-se considerar que, em certascircunstâncias, os inimigos naturais podemdiminuir consideravelmente a população dapraga no campo.

Todos esses inimigos naturais atuam nasprimeiras fases de desenvolvimento da praga,evitando, portanto, danos significativos àplanta. Uma delas, talvez a espécie maisimportante e facilmente percebida no campo,é a chamada “tesourinha”, que está semprepresente no cartucho da planta ou entre aspalhas da espiga. As outras espécies são asvespas, conhecidas como parasitóides, ouseja, insetos cujas larvas se desenvolvemdentro dos ovos ou das lagartas-praga.

A tesourinha, Doru luteipes (Figura 3), tempresença constante na cultura do milho.Tanto os imaturos quanto os adultosalimentam-se de ovos e de lagartas pequenasda praga. Um adulto desse predador podeconsumir cerca de 21 larvas pequenas por dia.Os ovos da tesourinha são colocados dentrodo cartucho da planta, sendo que umapostura possui, em média, 27 ovos. O períodode incubação dura cerca de sete dias. Asninfas, à semelhança dos adultos, são

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também predadoras. A fase ninfal dura cercade 40 dias. Os adultos podem viver quase umano. A presença do predador em até 70% dasplantas de milho é suficiente para manter apraga sob controle.

A vespa Chelonus insularis (Figura 6) é deocorrência comum no Brasil. A fêmea colocaseus ovos no interior dos ovos das mariposas,permitindo, no entanto, a eclosão das larvas.

Figura 3

Entre os parasitóides, dois atuamexclusivamente sobre os ovos da praga,impedindo a eclosão da larva: Trichogrammaspp. (Figura 4) e Telenomus remus (Figura 5).

Figura 4

Figura 5

São insetos facilmente criados no laboratório,a um custo inferior ao do produto químicopadrão. Esses inimigos naturais já estão sendoliberados, com sucesso, em áreas comerciaisde diferentes regiões do Brasil. O ciclo totaldessas vespas varia entre 10 e 12 dias.

Figura 6

A larva parasitada não provoca danossignificativos ao milho. O ciclo biológico totaldo parasitóide é de 28 dias, distribuídos emperíodos de incubação de 1,8 dia, larval de20,4 dias e pupal de 6,2 dias. A larva de S.frugipereda parasitada sai precocemente docartucho, dirigindo-se para o solo, ondeconstrói uma câmara. Dentro dessa câmara, alarva do parasitóide perfura a cutícula dalagarta parasitada e constrói seu própriocasulo, onde passa a fase de pupa.Campoletis flavicincta (Figura 7) é outravespa, que mede cerca de 7 mm decomprimento e coloca seus ovos no interiordo corpo de lagartas de S. frugiperda recém-eclodidas. Uma só fêmea pode ovipositar emmais de 200 lagartas. O ciclo biológicocompleto do inseto é de 16,5 dias. Dentro dalagarta-do-cartucho, o parasitóide passa cercade 9,6 dias. A larva parasitada reduzsignificativamente a quantidade de alimentoingerido. Próximo à saída da larva doparasitóide, a lagarta parasitada sai docartucho da planta e dirige-se para as folhasmais altas. Nesse local, fica praticamenteimóvel, até completar sua morte peloparasitóide, que perfura seu abdômen.

Existem vários outros inimigos naturais que,de certa forma, contribuem para diminuir apopulação das espécies-praga na cultura domilho. No entanto, os mencionados aqui já

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são criados em laboratório e apresentamgrande potencial para serem utilizados emliberações inundativas – em grande númeropara controlar diretamente a espécie-alvo ouinoculativas – estabelecimento de umapopulação inicial para multiplicar-se na área e,paulatinamente, reduzir a população daespécie-alvo.

literatura, há registros de várias fontes deresistência genética do milho a pragas.Destacam-se como fontes de resistência à S.frugiperda os genótipos do grupo antigua.Com resistência múltipla a vários lepidópteros-praga, vêm sendo citados os genótipos 2D-118, MpSWCB-4, Zapalote Chico 2451 e MP701 a 707. Milhos tropicais como o CMS 23,CMS 14C e CMS 24 estão sendo melhoradospara resistência à lagarta-do-cartucho domilho, em Sete Lagoas, MG. Antibiose e não-preferência são os mecanismos de resistênciaà S. frugiperda observados nessas fontes. Oconteúdo de hemicelulose tem sidorelacionado com a resistência à S. frugiperda,mas não com a resistência à Ostrinia nubilalis.Para resistência à Diatraea saccharalis existempoucas referências. No Brasil, foi observadoum menor índice de intensidade de infestaçãono milho sintético – 16 (9,1%) quandocomparado com o pipoca amarelo (32,9%).Linhas de milho com resistência múltipla paraS. frugiperda e para outras espécies debrocas, como a D. grandiosella, têm sidoliberadas. Nos EUA, mais de 30 cultivares demilho resistentes a S. frugiperda, H. zea e D.grandiosella foram registrados e distribuídosnos últimos 15 anos. Entretanto, essas fontesde resistência selecionadas são provenientesdo grupo antigua e, portanto, têm a basegenética relativamente estreita. Não têm sidoencontradas outras fontes com alto nível deresistência à lagarta do cartucho.

Recentemente, com o desenvolvimento dastécnicas de engenharia genética, viabilizando,inclusive, a transformação do milho, oconjunto de genes disponíveis para seremutilizados como fonte de resistênciaaumentou significativamente, incluindoespécies evolutivamente muito distantes. Umesforço tremendo tem sido feito paradesenvolver plantas expressando o gene bt,clonado da bactéria Bacillus thuringiesis (Bt.),que codifica uma proteína tóxica. Essabactéria produz a b-exotoxina e a d-endotoxina, ambas com ação tóxica sobre umgrande número de espécies de insetos. O gene

Figura 7

A conscientização de que os inimigos naturaispodem ser aliados importantes no manejo depragas tem forçado a busca de inseticidas e/ou aplicações mais seletivas. No casoespecífico da cultura do milho, o predador D.luteipes tem papel importantíssimo nocontrole biológico de várias espécies deinsetos-praga. Como o desenvolvimento detodas suas fases biológicas se dá no cartuchoda planta, essa espécie se torna maisvulnerável à ação dos produtos químicos. Poressa razão, tem-se avaliado o impacto dosdiferentes produtos químicos sobre suasfases. Sabe-se que os adultos são maistolerantes a vários produtos, especialmentebiológicos e fisiológicos. No entanto, ovos eformas imaturas são bem mais sensíveis. Asensibilidade desse e de outros inimigosnaturais, bem como os critérios para a escolhade um produto químico para uso no manejointegrado de S. frugiperda em milho foramabordados por Cruz (1997).

Resistência do Milho a Pragas - A resistênciagenética, através da seleção natural oudirigida, vem sendo intensivamente utilizadapelo homem, no controle de pragas edoenças, desde que as plantas foramdomesticadas, há mais de 12 mil anos. Na

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codificador da d-endotoxina, Cry I A(b),clonado do Bt., foi introduzido com sucesso,pela primeira vez, em planta de fumo. Hoje,nos EUA, híbridos de milho transgênico,provenientes de várias companhias desemente, expressando a proteína tóxica d-endotoxina, vêm sendo anualmente testadospara resistência às duas gerações de Ostrinianubilalis. Entretanto, poucos estudos têmsido conduzidos para se avaliar a reaçãodesses milhos transgênicos em relação aosinsetos-praga importantes para a agriculturabrasileira.

As toxinas do Bt. são altamente específicas nasua atividade e, portanto, não apresentamriscos na sua utilização. Como bioinseticida, oBt. vem sendo usado há décadas e estáregistrado, sem limitação de uso, para ocontrole de várias espécies de Lepidoptera. Alimitação para sua maior participação nomercado se deve ao alto custo de produção eà instabilidade dos resultados obtidos nocampo. Conforme registro de uso, mesmosendo o Bt. efetivo no controle de váriasespécies-praga do milho como, por exemplo, aD. saccharalis, a eficiência das estirpes hojecomercializadas (HD-1) sobre a lagarta docartucho é baixa.

Embora os bioinseticidas à base de Bt. nãotenham dado bons resultados no controle deS. frugiperda, tem-se observado que plantastransgênicas com o gene bt apresentamresistência a essa espécie. Híbridos de milhoexpressando o gene bt (CryIA(b))apresentaram resistência tanto a S. frugiperdacomo para D. Grandiosella. A proteína tóxicaexpressa na palha (bráctea da espiga) oucabelo (estilo-estigma) causou 100% demortalidade, respectivamente, a larvas de D.grandiosella e de H. zea, quando alimentadascom dietas contendo tecidos liofilizadosdesses órgãos. Neste tipo de teste, a S.frugiperda foi a menos susceptível à toxina doBt., mas foi observada redução nasobrevivência e desenvolvimento das larvas.Aumento significativo no nível de resistênciado milho à S. frugiperda foi obtido pelo

cruzamento de linhas com genes deresistência natural (obtidos do mesmo poolgênico do milho) e linhas expressando o genebt. Portanto, a liberação de híbridos de milhoexpressando os dois tipos de resistênciapoderá reduzir significativamente os danoscausados pela S. frugiperda e também reduzira taxa de seleção de biótipos do inseto quevenham a quebrar essas resistências.

Trabalhos conduzidos mais recentemente têmdemonstrado que há diferenças significativasentre os eventos Bt(s) incorporados ao milho,quanto à resistência, à lagarta-do-cartucho,destacando-se os híbridos que expressam astoxinas Cry 1F como altamente resistente, Cry1Ab resistente, Cry 1Ac moderadamenteresistente e Cry 9C como suscetível. Osmilhos Bt(s), expressando as toxinas Cry 1F eCry 1Ab, reduzem tanto a sobrevivência comoo desenvolvimento e a biomassa das larvas deS. frugiperda. Há também diferençassignificativas, quanto ao nível de redução deárea foliar, entre os grupos de híbridosaltamente resistentes, resistentes,moderadamente resistentes e suscetíveis. Aresistência natural expressa em híbridos demilho representa apenas cerca de 50% daproteção dada ao milho, quando comparadacom a toxina mais eficiente Cry 1F. Sabe-se,ainda, que há interação entre o evento Bt e abase genética do híbrido receptor do gene bt.A utilização de cultivares resistentes aqualquer agente biológico, numa áreaextensiva e por algum período de tempo,fazendo pressão de seleção, pode ou nãoresultar no aparecimento de biótipos quequebrem essa resistência. Portanto, é da maiorimportância se conhecer os mecanismosenvolvidos na resistência, a variabilidadegenética da planta e do agente-alvo para seestabelecer estratégias de manejo dessaresistência, prolongando-se, assim, a suautilização. Nos EUA, as empresas de sementestêm recomendado o uso intercalado de milhotransgênico com milho normal para reduzir apressão de seleção sobre as espécies pragas.

Considerando os vários exemplos, descritos naliteratura sobre a interação entre a resistência

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Comitê dePublicações

Presidente: Ivan CruzSecretário-Executivo: Frederico Ozanan Machado DurãesMembros: Antônio Carlos de Oliveira, Arnaldo Ferreira daSilva, Carlos Roberto Casela, Fernando Tavares Fernandes ePaulo Afonso Viana

Expediente Supervisor editorial: José Heitor VasconcellosRevisão de texto: Dilermando Lúcio de OliveiraEditoração eletrôncia: Tânia Mara Assunção Barbosa

ComunicadoTécnico, 50

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Milho e SorgoCaixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas, MGFone: 0xx31 3779 1000Fax: 0xx31 3779 1088E-mail: [email protected]

1ª edição1ª impressão (2002) Tiragem: 200

de plantas e controle biológico, pode-se inferirque, dependendo do mecanismo e das causas(químicas, físicas, morfológicas e /oufisiológicas) da resistência envolvidas, oimpacto do uso de cultivares resistentes noagroecossistema varia desde efeitosantagônicos até complementares. No caso dasplantas transgênicas, com o gene bt, em quea toxina tem efeito de antibiose, causando amorte ou afetando a biologia do inseto,poderá haver efeito negativo sobre apopulação dos inimigos naturais. Formasimaturas de Chryzoperla carnea alimentadascom larvas de O. nubilalis e S. littoralis,criadas em milho transgênico e nãotransgênico, não mostraram diferenças nas

taxas de mortalidade, mas observou-se umaumento no tempo de desenvolvimento larvaldos predadores alimentados com O. nubilaliscriados em milho transgênico. Esse fato podeser uma exceção, pois, dada a especificidadeda toxina do Bt. var. kurstaki aoslepidópteros, o esperado seria nenhum efeitosobre o predador como observado com apresa, S. littoralis.

Literatura Citada

CRUZ, I.; VALICENTE, F.H.; SANTOS, J.P.dos; WAQUIL, J.M.; VIANA, P. Manual deidentificação de pragas da cultura do milho.Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1997. 67p.