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25/10/2015 Teologia Brasileira Artigo: 'O liberalismo teológico não é cristianismo': A proposição de J.G. Machen contra a teologia liberal http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=296 1/13 Apresentação Corpo editorial Contatos Normas de publicação Notícias Edição atual Edições anteriores RSS Atualidades Bíblia e Exegese Devocional Entrevista Espiritualidade Família História da igreja Ministério Missiologia Resenhas Teologia Teologia histórica Vídeos Menu temas OK Werner Wiese OK Palavra: Articulista: Pesquisar A prática homossexual é igual a qualquer outro pecado?¹ por: Robert A. J. Gagnon A realidade bíblica sobre o inferno por: Gaspar de Souza O culto e os seus princípios por: David Bowman Riker Em defesa do arminianismo: uma avaliação por: Franklin Ferreira O uso dos Salmos na devoção cristã por: Franklin Ferreira Mais lidos acompanhe Onde estou: Página inicial » Tema: » Teologia » 'O liberalismo teológico não é cristianismo': A proposição de J.G. Machen contra a teologia liberal « Voltar 122 Curtir Tweet 0 1 Comentário(s) Imprimir artigo Teologia 'O liberalismo teológico não é cristianismo': A proposição de J.G. Machen contra a teologia liberal 27/11/2012 16:15:02 A apresentação da leitura de Cristianismo e liberalismo tem por objetivo apontar o modo como John Gresham Machen identifica o liberalismo moderno como uma outra religião diferente da cristã. Aponta à religião cristã, os dogmas, doutrinas e a história neotestamentária como elementos fundamentais e inseparáveis caracterizadores desta Religião. Portanto, negálos é negar todo o fundamento cristão. Por que ler Machen hoje? Quando igrejas e seminários teológicos sucumbem desacreditados dos dogmas e da veracidade dos relatos bíblicos, sem saberem a que se agarrar, o teólogo desafia a modernidade apresentando a histórica fé cristã como sempre atual. Com Machen, a “fé conservadora” ergue a sua cabeça, não apenas para apontar os erros hermenêuticos e exegéticos (eixegéticos) modernos, mas também firmar a veracidade das Escrituras. E J. G. Machen não faz isto para se justificar das acusações recebidas da teologia liberal ou neoortodoxa nos séculos XIX e XX. pelo contrário, Machen procura colocar a fé conservadora sobre uma base de tal autoridade capaz de ser objetivamente plausível e analisável, em nada perdendo para o liberalismo e a neoortodoxia. Acredita que esta fé poderá sobressair às duas correntes teológicas posteriores a ela. Pelo menos, assim julga ao expor que o seu “objetivo não é o de decidir a questão teológica dos dias atuais, mas, tão somente, apresentar a questão da maneira mais vívida e clara possível, para que o leitor possa ser auxiliado a decidir por si mesmo”. 1 Deste modo, para ele, a opção pela Teologia Conservadora procede de bases justificáveis. Curiosamente, Machen não aponta as influências do Iluminismo sobre a teologia intra ou extra eclesiástica; afirma apenas que o surgimento do liberalismo teológico deveuse às mudanças sociais e intelectuais surgidas no século XIX. Conjuntamente às grandes invenções e ao industrialismo, as ciências surgidas com o especificismo 2 do conhecimento humano em diferentes esferas, grassaram à fé e o orgulho de fazer parte deste momento histórico promoveu erosões profundas à fé cristã. Tantas convicções tiveram de ser abandonadas que as pessoas acreditam que todas elas devem ser deixadas de lado. [...] o Cristianismo, durante muitos séculos, tem apelado para a veracidade de suas afirmações, não meramente nem mesmo primariamente segundo experiências atuais, mas de acordo com certos escritos antigos, dos quais o mais recente data de aproximadamente vinte séculos atrás. 3 O fato de a religião cristã ter como base as Escrituras, frente à ciência contemporânea, ela não se retira e assiste alienada, de longe, o progresso desta como um inimigo capaz de lhe calar a voz. Àqueles que consideram a fé cristã (ortodoxa) como opositora à ciência e exige que ela siga por campo isolado do saber científico devem ser censurados, pois, “a religião se tem baseado em diversas convicções, especialmente na área histórica, que podem ser assuntos de investigação científica”. 4 Não é acerca de tal investigação que os teólogos liberais foram levados a buscar a “essência do cristianismo”? Encontrar o “Jesus Histórico” dentre as flores do mito apostólico? Todavia, seria eficaz provar que o fundamento do cristianismo pode ser verificado pelas ciências humanas? Segundo Machen, a questão não é tão somente impor o cristianismo como um fenômeno antropológico ou objeto de análise psicológica. Não se trata de fundamentar a fé cristã como objeto da filosofia da religião. Os campos científicos não se contentam em apenas estudar a superfície da fé cristã. É sabido que o materialismo moderno, logo que possível, se oporá tanto ao idealismo filosófico do pregador liberal quanto Início Revista Notícias Temas Articulistas Edição atual Edições anteriores Congresso Editora Pesquisar: TITULO OK

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2º A realidade bíblica sobre o infernopor: Gaspar de Souza

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4º Em defesa do arminianismo: umaavaliaçãopor: Franklin Ferreira

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Teologia'O liberalismo teológico não é cristianismo': A proposição de J.G. Machencontra a teologia liberal27/11/2012 16:15:02

A apresentação da leitura de Cristianismo e liberalismo tem porobjetivo apontar o modo como John Gresham Machen identifica oliberalismo moderno como uma outra religião diferente da cristã.Aponta à religião cristã, os dogmas, doutrinas e a histórianeotestamentária como elementos fundamentais e inseparáveiscaracterizadores desta Religião. Portanto, negálos é negar todo ofundamento cristão.

Por que ler Machen hoje? Quando igrejas e seminários teológicossucumbem desacreditados dos dogmas e da veracidade dos relatosbíblicos, sem saberem a que se agarrar, o teólogo desafia amodernidade apresentando a histórica fé cristã como sempre atual.

Com Machen, a “fé conservadora” ergue a sua cabeça, não apenaspara apontar os erros hermenêuticos e exegéticos (eixegéticos)modernos, mas também firmar a veracidade das Escrituras. E J. G.

Machen não faz isto para se justificar das acusações recebidas da teologia liberal ou neoortodoxa nosséculos XIX e XX. pelo contrário, Machen procura colocar a fé conservadora sobre uma base de talautoridade capaz de ser objetivamente plausível e analisável, em nada perdendo para o liberalismo e aneoortodoxia. Acredita que esta fé poderá sobressair às duas correntes teológicas posteriores a ela. Pelo menos, assimjulga ao expor que o seu “objetivo não é o de decidir a questão teológica dos dias atuais, mas, tãosomente, apresentar a questão da maneira mais vívida e clara possível, para que o leitor possa ser

auxiliado a decidir por si mesmo”.1 Deste modo, para ele, a opção pela Teologia Conservadora procede debases justificáveis.

Curiosamente, Machen não aponta as influências do Iluminismo sobre a teologia intra ou extraeclesiástica; afirma apenas que o surgimento do liberalismo teológico deveuse às mudanças sociais eintelectuais surgidas no século XIX. Conjuntamente às grandes invenções e ao industrialismo, as

ciências surgidas com o especificismo2 do conhecimento humano em diferentes esferas, grassaram à fé eo orgulho de fazer parte deste momento histórico promoveu erosões profundas à fé cristã.

Tantas convicções tiveram de ser abandonadas que as pessoas acreditam que todas elas devem serdeixadas de lado. [...] o Cristianismo, durante muitos séculos, tem apelado para a veracidade de suasafirmações, não meramente nem mesmo primariamente segundo experiências atuais, mas de acordo com

certos escritos antigos, dos quais o mais recente data de aproximadamente vinte séculos atrás.3

O fato de a religião cristã ter como base as Escrituras, frente à ciência contemporânea, ela não se retira eassiste alienada, de longe, o progresso desta como um inimigo capaz de lhe calar a voz. Àqueles queconsideram a fé cristã (ortodoxa) como opositora à ciência e exige que ela siga por campo isolado dosaber científico devem ser censurados, pois, “a religião se tem baseado em diversas convicções,

especialmente na área histórica, que podem ser assuntos de investigação científica”.4 Não é acerca de talinvestigação que os teólogos liberais foram levados a buscar a “essência do cristianismo”? Encontrar o“Jesus Histórico” dentre as flores do mito apostólico? Todavia, seria eficaz provar que o fundamento docristianismo pode ser verificado pelas ciências humanas?

Segundo Machen, a questão não é tão somente impor o cristianismo como um fenômeno antropológico ouobjeto de análise psicológica. Não se trata de fundamentar a fé cristã como objeto da filosofia da religião.Os campos científicos não se contentam em apenas estudar a superfície da fé cristã. É sabido que omaterialismo moderno, logo que possível, se oporá tanto ao idealismo filosófico do pregador liberal quanto

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à fé nas doutrinas bíblicas.

Logo, o liberalismo teológico se apresentará como uma tentativa frustrada de manter o cristianismoconfiável à geração vigente. Esta tentativa servirá, apenas para nos dar a certeza de que o liberalismoteológico, mesmo com todo o seu esforço intelectual para apresentar a “religião cristã’ como racional, não

é nem cristão, nem científico”.5

O argumento é lógico, uma vez que ao tentar a conciliação entre cristianismo e ciência moderna, o teólogoliberal abandona o que é característico à fé cristã: a crença no Salvador pessoal, bem como ahistoricidade factual da fé cristã; isto é, a ressurreição não só é dogma, mas também parte essencial da

história6. O cristianismo não dicotomiza da história aquilo que é factual do que é evento. Cruz e

ressurreição são elementos plenamente cabíveis numa mesma história.7

É deste modo que a própria necessidade dos milagres é exigida. Dizer que milagres não são possíveis,pois a História não lhe dá espaço numa existência onde o próprio Criador se condiciona a necessidade

‘situacional’, é ter como a única opção o misticismo ou imanentismo ou, até mesmo, o ateísmo.8 Serianegar o conteúdo bíblico, bem como, definir o Deus bíblico como simplesmente humano. Esta divindade éimanente, mas não transcendente. Não é sem razão que o melhor consolo à razão humana seria aceitar o

Cristianismo como um estilo de vida, mas não como uma doutrina.9

Assim, resulta claro o caminho o qual Machen trilhará: nem cristão, nem científico; o liberalismo teológicoé uma outra religião cujos fundamentos não procedem de uma fé propriamente histórica. Alimentase daestrutura de outra religião cuja vida engendrase na história dos homens exigindolhes fé, mas suas raízessão outras. “O liberalismo moderno não somente é uma religião diferente do cristianismo, mas pertence a

uma classe totalmente diferente de religiões.”10 Faltalhe a fé cristã e a agradável utilização da razão.Mas, é fato que seu fundamento histórico se deve à religião cristã, sem a qual ele não conseguiriasobreviver. Caso fosse o contrário; caso fosse o cristianismo que dependesse do liberalismo moderno,

teria este o poder para sustentar a ‘nova religião’?11

Se pudéssemos imaginar uma situação na qual toda pregação fosse controlada pelo liberalismo, o que já épreponderante em muitos lugares, cremos que o cristianismo já teria desaparecido da face da terra, e o

Evangelho já não seria mais proclamado.12

Portanto, o liberalismo moderno, antagonicamente ao pretendido, ocupa um lugar inferior à própria fé cristãprimitiva, cujo fundamento é as Sagradas Escrituras. A procura de elevar a fé cristã a uma certa posiçãode intelectualidade e razão histórica (perdida no kerygma do cristianismo primitivo), per si mesmo, o

liberalismo moderno tornouse num misticismo moderno13, cujas bases dependem d’outra religião14 à qual

julga infantil.15

A base argumentativa na qual Machen sustenta a proposição de que o Liberalismo moderno não éCristianismo está no Dogma e na História bíblica, presentes desde o princípio na Igreja Primitiva. Segue

numa exposição intrinsecamente bíblica,16 expondo a proposição em seis pontos. Destes pontos, fundase a proposição sobre as perspectivas dogmáticas e históricas dos evangelhos como factuais à

situação17 humana. Uma mente arguidora perceberá facilmente que cada capítulo de Cristianismo eliberalismo reforçam a ideia de que o Liberalismo moderno é inconsistente para consigo mesmo, uma vezque exclui os dogmas centrais da fé cristã. Não é sem mais que Gresham retoma sempre, em cadacapítulo, às “pressuposições da mensagem da fé cristã.” É ratificada a ideia da impossibilidade de um

Jesus Histórico fora da realidade encarnacional na história.18

O Jesus histórico que os teólogos liberais diziam encontrar é estranhamente ausente nas mensagens daIgreja Neotestamentária. Segundo Gresham, se negada a divindade de Jesus Cristo e, sustentada apenasa ideia kerigmática dos apóstolos, até mesmo as mais restritas narrativas com informações das ações erelações eclesiásticas (desprovidas do aspecto do Cristo divino), entre a incipiente Igreja e os discípulos,

também deveriam ser desconsideradas.19 Pois, é possível, ainda que com lentes puramente históricas,observar que havia um relacionamento de comum acordo entre os apóstolos quanto a Jesus ser mais do

que um exemplo ético de filiação divina.20

Ora, os teólogos liberais e conservadores concordam, ao menos, que a questão crítica às epístolaspaulinas confere com os dados históricos. Paulo teve contato com aqueles homens que, de alguma forma,seguiram a Jesus de Nazaré. Então, pelos escritos paulinos, obtemos uma amostra do tipo de fé que oscrentes nutriam e relacionavam entre si. As epístolas paulinas servemnos de fonte de

[...] abundante informação sobre a relação de Paulo com Jerusalém. Paulo era profundamenteinteressado pela igreja de Jerusalém; ao se opor aos seus adversários judaizantes, que de certaforma havia apelado, contra ele, aos apóstolos originais, Paulo enfatizou a sua concordância comPedro e os outros. Mesmo os judaizantes não tinham objeção ao modo como Paulo consideravaJesus o objeto de sua fé; nas epístolas, não há o mínimo indício de que tenha ocorrido algumdebate sobre esse assunto. [...] os apóstolos originais, evidentemente, não deram o menor indíciode se contraporem aos ensinos de Paulo. [...] Toda a história do Cristianismo primitivo seria um

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labirinto sem saída se a igreja de Jerusalém e Paulo não tivessem feito de Jesus o objeto da fé.O Cristianismo primitivo, com certeza, não consistia em mera imitação de Jesus. [...] Jesus nãomanteve a sua pessoa fora de seu Evangelho, pelo contrário, apresentouse como o salvador da

humanidade.21

Procuraremos seguir lógica bíblica de J. G. Machen sobre três passos em seu livro, Cristianismo eliberalismo, a fim de entendermos o porquê de o liberalismo moderno (teológico) ser diferente docristianismo. Antes, seguirá uma disposição geral do argumento descaracterizante entre as “duasreligiões” e, depois, seguirseá a uma análise dos capítulos:

1. O liberalismo teológico não é cristianismo porque é inconsistente per si e/ou ilógicoJ. G. Machen procura associar a busca do conhecimento com a religião. Se a ressurreição de Cristo temalguma possibilidade de ser um fato (histórico), então, a razão que lida com ele, e dele depende, não podeser desprezada pela fé. Esta ideia denuncia o erro do liberalismo moderno, uma vez que, manifesta aimpossibilidade de a razão provar a fé. Não é plausível afirmar que a razão seja capaz de inferir aessência da religião. Assim, acreditar que se deve buscar pela essência religiosa no homem mediantemanifestações empíricas paralelas à Bíblia, significa que o liberalismo está “somente rejeitando um

sistema teológico e o trocando por outro”.22

A questão é lógica, pois, se ela versa sobre o fundamento da religião, todas as crenças são igualmenteverdadeiras. Porém, “se todas as crenças são igualmente verdadeiras, e algumas delas contradizem as

outras, então todas são igualmente falsas, ou pelo menos incertas”.23

Tomese, por exemplo, o Jesus Histórico. Este não pode ser sobrenatural, caso contrário, não seriahistórico. Seria necessário que o Novo Testamento apresentasse o evento histórico separado dasnarrativas dos milagres. Mas, honestamente, o leitor sabe que tal separação (daquele evento histórico dosmilagres a ele associados) desfaz o entendimento da própria narrativa em si mesma. O “cerne da trama”se desmancha e o próprio Jesus histórico tornase alienado numa narrativa onde a referência a si mesmo

não é distinguível. 24

2. O liberalismo moderno não é cristianismo porque possui características imanentistas queexcluem a crença no Deus transcendente e pessoal:A religião cristã lida com o paradoxo do Deus transcendental e imanente que coexiste perfeitamente comsuas criaturas. Tratase de uma questão ontológica, quando o Criador deve ser pessoal e, portanto, real(enquanto a criatura apenas existe). A identificação de Deus para com o mundo se dá num livre ato de vontade e não de necessidade. Mas, aocriar, Ele necessariamente deve ser imanente aos seres criador, pois estes não tem razão de ser em simesmos caso esse se retire. As Escrituras asseguram que no ato de criar, Deus mantém suas“propriedades” eternas como sempre foram, embora mantenha relações para com as coisas criadas, forade si mesmo. Sem esta relação, os ‘entes’ não teriam permanência. Tratase de uma relação dedependência do criado e não do Criador.

É por isto que a noção de paternidade universal é para os teólogos liberais uma das melhores maneiras degarantir a ligação entre Criador e criatura. Nela, ambos comungam duma mesma natureza, fazendo comque a religião assuma um papel, sobretudo, empírico ou “sentimental”. Todavia, “devese observar que, sea religião consistisse somente de sentimentos da presença de Deus, ela seria destituída de qualquer

qualidade moral. O puro sentimento, se é que existe tal coisa, é não moral”.25 Não pode ser concebida naReligião a ideia do Transcendente e do Imanente sem que se formule um conceito ou um dogma sobreDeus.

[...] Faz toda a diferença o que pensamos sobre Deus; o conhecimento de Deus é a base dareligião. [...] No liberalismo moderno, por outro lado, essa distinção tão aguda entre Deus e omundo é totalmente destruída, e o nome “Deus” é aplicado no próprio processo natural.Encontramonos em meio a um grande processo que se manifesta naquilo que é extremamentepequeno e naquilo que é extraordinariamente grande [...]. A esse processo natural do qual nósfazemos parte, aplicamos o temível nome ‘Deus’. Dessa forma, portanto, Deus não é uma pessoadistinta de nós; pelo contrário, nossa vida é uma parte da vida dele. [...] O liberalismo modernopossui características panteísta, mesmo não sendo consistentemente panteísta. Sua tendência ése desfazer, em todos os lugares, da separação existente entre Deus e o mundo, e da precisa

distinção entre Deus e o homem.26

3. O liberalismo teológico não é cristianismo porque nega o aspecto principal do cristianismo – odogma como elemento factual da história O cristianismo é, inerentemente, a religião do dogma e da história. Isto é percebido na ideia de Machensistematizada nos sete capítulos do livro. Logo na introdução se tem a tese de que o liberalismo teológiconão pode ser cristianismo; o capítulo um dará lugar às doutrinas na religião cristã.

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É significativo observar que o lugar das doutrinas se estenderá pelos demais capítulos subsequentes, oque fortalece a noção de que o cristianismo, além de fé e racionalidade, ocupa um lugar epistemológicocomo nenhuma outra religião o pode ocupar. Dos capítulos três ao sete, Machen argumenta em favor dosdogmas e confissões de fé sobre Deus e o homem, a Bíblia, Cristo, salvação e a Igreja.

3.1. A doutrinaConforme observado acima, o cristianismo não pode ser crido independente da doutrina. A rejeição dosliberais à Teologia Conservadora não se deve às frases e palavras tradicionais, mas à semântica destas.Tornar a semântica das palavras e frases do credo cristão em ideias próximas às da nova religião é, pois,uma maneira de fortalecêla sem que precise se expor e perder o espaço na igreja.

Poucos anseios têm sido mais exagerados, por parte dos professores de teologia, do que o de evitarofender algo ou alguém. Muitas vezes, isso tem se aproximado perigosamente da desonestidade. Oprofessor de teologia, no mais profundo do seu coração, está consciente do radicalismo do seu ponto devista, mas permanece firme na decisão de não perder o seu lugar na atmosfera santa da igreja ao expor o

que pensa.27

É perigoso acreditar que é racionalmente possível permanecer num campo neutro quando a questão éreligião. Se hoje é incongruente aceitar a ideia de um sujeito neutro na abordagem científica, muito mais o

será no âmbito da fé.28 O que se descobre no criticismo moderno é, antes de tudo, que a rejeição aosdogmas doutrinários da igreja se dá por certo grau de conveniência. Pois,

É desta forma que, comumente, se expressa a moderna hostilidade à doutrina. Mas será que érealmente a doutrina como tal que é rejeitada, ou será ou será que se rejeita uma doutrinaespecífica, para o benefício de outra? [...] Existem doutrinas do liberalismo moderno que sãodefendidas com tanto vigor e intolerância quanto qualquer outra doutrina encontrada nos credoshistóricos. [...] são doutrinas como todas as outras, e assim exigem defesa intelectual. Aodemonstrar uma aparente rejeição de toda a teologia, o pregador liberal, muitas vezes, estárejeitando somente um sistema teológico e o trocando por outro. Assim, a tão desejada imunidade

de controvérsias teológicas não é alcançada.29

Ora, negar a substituição dogmática entre as duas religiões é beirálas ao ceticismo. Podemos atéconsiderar as controvérsias doutrinárias como quirelas frente à necessidade de comunhão fraternal, ouseja, a experiência da fé na paternidade universal, e ainda assim o cristianismo excluirá qualquer ideiateológica que não compactue com o seu dogma. Mais uma vez, afirmamos que a rejeição aos dogmascristãos é rejeição a todo o sistema cristão. O cristianismo exige que o seu sistema de fé caminhe com ahistória. Pois, dizer que o cristianismo é um estilo de vida é já, por si mesmo, submetêlo à investigaçãohistórica. Se o cristianismo é, então, um fenômeno histórico, deve ser investigado com bases históricas,não?

O conceito de Machen sobre doutrina pode fortalecer o comprometimento desta com a história. Segundoele,

A doutrina cristã está nas próprias raízes da fé. Devese admitir, então, que se vamos ter umareligião não doutrinária, ou uma religião doutrinária fundamentada meramente em verdades gerais,isso significa que não somente temos que nos livrar de Paulo, da igreja primitiva de Jerusalém,mas também de Jesus. Porém, o que significa doutrina? Aqui, ela tem sido interpretada comoqualquer apresentação de fatos, com seus verdadeiros significados, que estejam na base dareligião cristã. Contudo, essa é a única definição da palavra? Será que ela não pode ser tomadaem um sentido mais específico? Não pode significar uma sistemática, minuciosa e unilateralapresentação científica de fatos? Se a palavra for tomada nesse sentido mais específico, seráque a objeção moderna à doutrina não envolve meramente uma objeção à sutileza excessiva dacontrovérsia teológica, e de forma alguma uma objeção às brilhantes palavras do Novo

Testamento?30

Restanos perguntar: como pensar no cristianismo sem história e na Bíblia sem o dogma? Ao que parece,o dogma é sempre um ponto de partida para qualquer forma de conhecimento e, mormente, os fatoshistóricos. É assim que, ao abrir mão dos fundamentos dogmáticos do cristianismo o pregador liberal abremão desta religião. Abrir mão dos fundamentos dogmáticos cristãos, procurando fazer a distinção entreaquilo que é fato histórico do seu evento, é se tornar mais imperativo ou dogmático do que o própriocristianismo em si. Pois, o cristianismo exige a fé em seus dogmas históricos, ao passo que o pregadorliberal pressupõe uma fé que, para existir, deve expurgar a própria dúvida que dá razão a sua existência.Noutras palavras: o liberalismo moderno sem os dogmas cristãos se reinventa. A fé liberal existe em

detrimento de uma história que surge como resquício da “verdade” que supera o mito.31 Logo, afundamentação histórica do dogma cristão deve ser objetiva e, não subjetiva. A diferença entre ocristianismo e o liberalismo moderno consiste em a impossibilidade de indiferença quanto a tomada deposição à origem dos dogmas.

Fundamentemos, então, a necessidade de se ter os dogmas ligados à realidade histórica:

(A) “O cristianismo constitui um fenômeno histórico muito bem definido”

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A religião cristã tem em sua origem a proclamação de uma mensagem tida por verdadeiro relato de fatos.Lembremonos que o apóstolo Paulo não teve com a Igreja da Galácia a mesma tolerância que houve paracom os romanos. Paulo entendeu que a mensagem dos falsos mestres na Galácia atacaram osfundamentos da fé, ao passo que, em Roma, a mensagem, ainda que pregada pelos rivais, manteve suasbases. “Nunca passou pela mente de Paulo que um evangelho pode ser verdadeiro para uma pessoa e

não para outra. [...] Ele estava convencido da verdade objetiva da mensagem do evangelho”.32

(B) O cristianismo é, em si mesmo, incongruente se doutrina e história dos relatos da igreja forem

elementos distintos em sua aplicação à fé.33 A própria terminologia da palavra “evangelho” designa o pertencimento entre doutrina e história. Evangelhoé “boas novas” e, estas consiste em algo ocorrido.

E desde o início, o significado do que aconteceu foi estabelecido, e quando o significado foiestabelecido, surgiu a doutrina cristã. “Cristo morreu” – isso é uma referência histórica; “Cristomorreu pelos meus pecados” – isso é doutrina. Sem esses dois elementos, unidos de uma

maneira indissolúvel, não existe Cristianismo.34

Ora, ao pensar nas “boas novas” qual mente não se volta ao seu oposto, isto é, ao estado anterior que lheserviu de motivo porque ela veio a ser proclamada? Foi a mensagem da ressurreição como história fatualque deu origem à doutrina. “O mundo seria redimido pela proclamação de um evento; e com o evento,segui o seu significado; e o estabelecimento do evento, como seu significado, era uma doutrina. Esses

dois elementos estão sempre juntos na mensagem cristã”.35

(C) O ensino de Jesus estava ligado ao ensino de uma doutrina Não precisamos falar da aplicação que Jesus fazia do Antigo Testamento aos seus contemporâneos.Todavia, é significativo dizer que ele aplicava as Escrituras como cumprimento à sua pessoa. Ele próprionão se mantinha fora do seu evangelho. A aplicação da lei à sua pessoa incluíalhe como alguémautoconsciente de sua messianidade. Ele não só se incluía na história, como dizia ser parte inerente dela.Seja como for que os pregadores liberais descrevam a escatologia, as palavras de Jesus contidas nelaapontarão para um evento no qual ele mesmo diz ser o agente. “A consciência de Jesus está em todo o

lugar.”36

3.2. Deus e o homemAs duas pressuposições principais que diferem o cristianismo do liberalismo moderno são, certamente, oseu conceito sobre Deus e o homem. Já vimos, anteriormente, que a questão da imanência etranscendência divina são características fundantes para a economia soteriológica. Ainda que de difícilentendimento, no Novo Testamento são as duas quem possibilitam a própria ideia da redenção humana napessoa de Jesus Cristo. Porém, o liberalismo teológico procura outro caminho para a salvação doshomens.

(A) DeusEnquanto o cristianismo entende o conhecimento de Deus pelo viés da revelação, o liberalismo modernoensina o sentimentalismo. Ainda assim, segundo Machen, o liberalismo é inconsistente, pois mesma aafeição humana é dependente de dogmas. As afeições não são oriundas de várias observaçõesarmazenadas na mente? É assim que a divindade de Jesus faz sentido. O conceito “Deus” não pode nosremeter primariamente a Jesus; antes, “a não ser que haja alguma ideia de Deus independente de Jesus,a confirmação de sua divindade não faz o menor sentido. Simplesmente dizer que ‘Jesus é Deus’ não tem

sentido, a não ser que a palavra ‘Deus’ tenha um significado antecedente atrelado a ela”.37 Não teve queser assim para que os próprios discípulos entendessem o conceito de “Deus” dito pelo Mestre?

Jesus apresenta aos discípulos um Deus pessoal e, ainda assim, supremo. A sua religião era baseada nacrença da existência real de um Deus pessoal. A começar pelo próprio termo “pai”, embora aplicado emdiversas religiões, nos lábios de Jesus o termo implica num relacionamento familiar cujo significado só

tem valor em sua Pessoa.38 Portanto, o próprio conceito que o liberalismo moderno traz de paternidadeuniversal implica numa perda do senso de transcendência divina.

(B) O homemUma vez perdida a noção da transcendência divina, o lugar do homem é suposto facilmente. Aplicar aohomem os conceitos tradicionais como, pecado original ou consciência de pecado, implica emcompartilhar com deus de sua natureza mesma.

Assim, a revelação cede o seu lugar para a excessiva confiança na bondade humana. Isto priva, nãosomente a atribuição do mal à imanência divina, como também, elimina qualquer necessidade deintervenção externa à razão humana. O fundamento do cristianismo não é tão otimista quanto à bondadehumana. “O humanismo cristão é tão mais elevado – um humanismo fundamentado não no orgulho

humano, mas na graça divina”.39 O cristianismo tem, portanto, outro conceito sobre a natureza humana.Por isto, ao abandonar o conceito do Deus Vivo e a realidade do pecado, o liberalismo moderno colocasenuma posição contrária ao cristianismo.

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3.3. A BíbliaA Bíblia é o elemento chave na fundamentação da fé cristã. Ela “contém o relato da revelação de Deus ao

homem, que não pode ser encontrado em nenhum outro lugar”.40 As Escrituras põem o cristianismo comoa religião do evento e não de ideias. Pois,

Todas as ideias do cristianismo poderiam ser encontradas em alguma religião diferente, e aindaassim não haveria o Cristianismo nessa outra religião, pois o Cristianismo não depende de umcompêndio de ideias, e sim da narração de um evento. Sem esse evento, de acordo com oCristianismo, o mundo é totalmente escuro, e a humanidade está perdida debaixo da culpa do

pecado.41

Apelar apenas para o aspecto da experiência cristã como satisfatório para ser cristão não vale. Aexperiência cristã só é de fato válida se confirmada pela crença nos eventos escriturísticos comorealmente fatuais. É por isto que J. Gresham Machen afirma que “a experiência cristã é corretamenteusada quando afirma a evidência documentária. Mas ela jamais funcionará como substituto para

evidência”.42 Fica claro, pois, que se a Bíblia não for aceita como um relato de fatos verdadeiros darevelação de Deus, cuja plena inspiração e inerrância é essencial para a fundamentação da Fé genuína, a

religião será outra, mas não a religião cristã.43

A base para asseverar a diferença entre as duas religiões pode ser encontrada na própria consideraçãoque Cristo faz às Escrituras. Se o liberalismo moderno rejeita o Velho Testamento, os argumentos e o“misticismo paulino”, e se atém somente ao que Jesus ensinava, podese perguntar: a qual regraautoritativa o pregador liberal se baseia, capaz o suficiente, para distinguir o que pode ou não ser aceitocomo oriundos dos lábios de Jesus? Qualquer leitor honesto sabe que as asseverações de Jesus Cristosobre si mesmo, sobre Deus e o seu reino têm aplicações diretas sobre os seus ouvintes. O objetivo de

suas palavras só será alcançado se amarrado ao todo contextual.44

Portanto, é evidente que essas palavras de Jesus, que devem ser consideradas autorizadas peloliberalismo moderno, em primeiro lugar, devem ser selecionadas da grande massa de palavraspreservadas, por meio de um processo crítico. O processo crítico, certamente, é muito difícil, e, muitasvezes, surge a suspeita de que o crítico somente retém como palavras genuínas do Jesus históricoaquelas que estão em conformidade com suas próprias ideias preconcebidas. Mesmo depois que oprocesso de refinamento foi concluído, ainda assim o estudioso liberal não consegue aceitar todas aspalavras de Jesus como autênticas; por fim, ele deve admitir que mesmo o Jesus “histórico”, como o

reconstruído pelos historiadores modernos, disse inverdades.45

Mais uma vez, a diferença entre a religião cristã e o liberalismo moderno reside no seu fundamento; isto é,o cristão aceita a Bíblia como verdade objetiva aplicável em todo o seu conteúdo; crê que ela émagistralmente apropriada para contemplar todos os eventos históricos da humanidade sem anecessidade de adequações de conteúdo às novas verdades emergidas da ciência. Pois, “quando averdade é considerada somente como aquilo que funciona em um momento específico, então ela deixa de

ser verdade. O resultado é um profundo ceticismo”.45

3.4. CristoSe a mensagem das duas religiões (cristianismo e liberalismo) é diferente, obviamente, a origem destadiferença se deve a interpretação acerca da pessoa a qual se fundamentam.

Já foi observado, aqui, a maneira como a igreja primitiva e os apóstolos viam a pessoa de Jesus deNazaré. Estes depositaram em Jesus toda a sua fé, como se crê no próprio Deus. Jesus era tal pontoconsiderado o objeto de sua fé que os apóstolos confiaramlhe o destino de suas almas. Não se observanenhuma reprovação por parte dos apóstolos originais à identificação de Jesus como objeto da fé Cristã,nos ensinos de Paulo. Os evangelhos revelam que Jesus evocava a fé em si mesmo como Deus.Observemos o argumento:

(A) Jesus não manteve a sua pessoa fora de seu evangelhoO Jesus histórico, resultado da redução e demintologiação, acaba por confirmar a expectativas epercepção que o mestre tinha sobre si mesmo. Suas mensagens informavam aos ouvintes que a únicasegurança eterna que poderiam ter, por parte de Deus, era tendoO como objeto da fé. Suas pregações,antes de consolo, era a da ira de Deus que pairava sobre os homens pecadores. Conclusivamente,somente no Filho os homens seriam salvos. Cristo Jesus é muito mais do que um exemplo de fé; é o objeto desta fé. Ele nunca convidou ninguém ater como modelo a fé que ele tinha em Deus Pai. Antes, convidou os homens para crerem nele como oFilho de Deus.

(B) Jesus não era um cristãoNietzsche afirmou, em uma de suas obras, que “no fundo, existiu apenas um único cristão, esse morreuna cruz. O que desde esse instante se chamou “evangelho” era já o outro contrário do que Cristo vivera:

uma “má nova”.47 Esta crítica de Nietzsche de alguma maneira influenciou a muitos liberais ao ponto de

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inverterem a ordem histórica dos fatos. O fato de Jesus ser o fundador do Cristianismo não faz dele umcristão. O Cristianismo não poderia ser a sua religião, até mesmo por questões lógicas. Vejamos:

(i) A consciência messiânica de Jesus: As experiências de nosso Senhor não podem ser seguidas peloscrentes em todos os seus aspectos. Ele se intitulava o “Filho celestial de Deus, que deveria ser o juiz de

toda a terra”.48 A menos que Cristo tenha abandonado o seu caráter santo e humilde, o seu exemplopoderia ser seguido nisto; ou não. Ele não seria um exemplo digno a ser seguido. Se Jesus tivesseassumido a sua consciência messiânica tardiamente, como alguns teólogos liberais afirmavam, este fatoo tornaria menos digno ainda de confiança; o problema residiria, então, no âmbito moral.

(ii) A relação de Jesus para com o pecado: “Se Jesus está separado de nós pela sua consciência

messiânica, ele está ainda mais fundamentalmente separado pela ausência do pecado em si”.49 Elenunca demonstrou consciência alguma de pecado e, nem mesmo, qualquer um de seus perseguidores

apontoulhe um se quer.50 Esta era a mensagem pregada pelo cristianismo primitivo: a fé cristã é um meio para se livrar do pecado.E por si só, fica claro que Jesus não pode ser um cristão, uma vez que, a própria comunidade cristãprimitiva o eximia de pecado. É forçoso mudar a concepção de salvação do Novo Testamento, quando oque se tem em vista é o que o Cristianismo significa. Segundo as narrativas neotestamentárias, Jesusrepresenta bem mais do que uma figura de caráter exemplar; significa o perdão dos pecados. E, se Jesusera o objeto da fé, por meio de quem Deus perdoava pecados, ele mesmo não pode ser um cristão, “assim

como Deus não pode ser religioso”.51

(iii) As reivindicações de Jesus: Jesus exigiu que aqueles que o seguissem estivessem dispostos aquebrar até mesmo os vínculos mais sagrados. O cristão não entende o chamado de Jesus como o de ummestre a ser seguido, mas como o chamado de um salvador a ser obedecido; não um exemplo de fé, maso objeto da fé.

(iv) O cristianismo considera Jesus uma pessoa sobrenatural: Machen entende que “um eventosobrenatural é aquele que acontece pela ação imediata de Deus, no sentido de não acontecer por um

intermediário”.52 Esta definição de milagre apresenta a necessidade de um Deus Pessoal, ao mesmotempo em que exclui a necessidade de causas secundárias. A Bíblia apresenta o milagre como esta açãodireta de Deus na natureza, admitindo, pois, que esta interferência em nada é arbitrária à ciência. Mas, setratando de uma ação teísta primária na natureza, as duas naturezas de Cristo são claramente possíveisde existência no Jesus dos Evangelhos. É igualmente por isso que negar os milagres de Cristo é negar

toda a sua Pessoa, bem como o próprio teísmo.53

Machen afirma que, por toda Escritura a mensagem central, isto é, a revelação de Deus na históriamediante seu Filho Eterno, não pode ser considerada verdade se isolada a sua manifestação sobrenatural.A natureza divina per si a exige assim. Sem os milagres, pode ser que seja mais fácil crer no NovoTestamento. Porém, aquilo no qual se creria seria inteiramente diferente daquilo que se apresenta a nós

agora. Sem os milagres, teríamos um mestre; com os milagres, temos um salvador.54

3.5 SalvaçãoHaja vista as proposições anteriores, é lógico que a noção de salvação apresentada pela teologia moderna(liberal) desenvolverá o sistema soteriológico sobre bases antropológicas. Nisto se distinguemradicalmente essas duas religiões, pois a salvação para o cristianismo é ato divino.

A concepção de pecado universal assume lugar importante, pois, impõe ao homem a condição dedesespero e dependência absoluta em Deus. Esta diferença requer de Jesus uma manifestação salvadorae não, somente, ética. A ética é, para o Cristianismo, um motivo desesperador, uma vez que, em pecado,o homem não consegue por si mesmo se salvar. Machen aponta esta verdade quando critica ahermenêutica liberal acerca do Sermão do Monte; a moral tornase relevante e possível somente se vivida

em Cristo.55

Parece que, “não é a doutrina bíblica que é difícil de entender realmente incompreensíveis são oselaborados esforços modernos para excluir a doutrina bíblica por causa dos interesses do orgulho

humano”.56 Por que os liberais atacam a doutrina de expiação? Machen encontra três motivos:

(1) A sua dependência histórica Segundo Gresham, acatar a cruz de Jesus Cristo é contrassenso aos liberais. Estes procuram aplicar a fénos efeitos obtidos pela cruz, mas não na causa em si. Isto dá maior poder às experiências e os finspráticos, devendo ser estes os desejados, e não o fator histórico e dogmático da morte do salvador. Mas, Machen afirma que as experiências destituídas da história é um mero misticismo, mas nunca será oCristianismo. Se o Cristianismo for aceito apenas como uma experiência religiosa, se tornará incongruentepara com a sua própria mensagem. Enfim, não existe Evangelho sem que o tenha como fato histórico.

(2) A exclusividade da salvação ‘somente’ em JesusA ofensa aos liberais consiste em admitir a salvação ‘somente’ em Jesus. E aqueles que, mesmo bonshomens, morrem sem Jesus? Machen alude que o problema não reside na exclusividade da pessoa de

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Jesus, mas na maneira como a igreja o tem levado. Segundo ele, “o nome de Jesus é estranhamente

adaptável a pessoas em todo o tipo de contexto”.57 A responsabilidade para com o Evangelho é deconfiança filial.

O liberalismo moderno pode objetar ainda que, Cristo morrer por todos os homens é um nãosenso dejustiça, pois em nada diminui a culpa do pecador; todos os homens devem ser individualmenteresponsáveis por seus pecados.

A resposta é simples: a visão acerca da majestade de Jesus foi perdida. A pessoa de Jesus não pode serigualada aos demais homens. Perdida a pessoa divina de Cristo, a expiação centrase no homem e,consequentemente, perde todo o sentido. E, mas uma vez, centralizar apenas um aspecto de Jesus nasEscrituras, ou apenas em alguns milagres faz com que todo o cerne da religião cristã perca o sentido ecareça de linguagem acessível à razão humana.

(3) A doutrina cristã da cruz não condiz com o caráter de DeusOs pressupostos cristãos acerca da ira e inimizade de Deus contra o homem pecador são criticados pelosliberais como inconsistente à natureza divina. Todavia, a visão liberal de pecado está aquém daquilo que oNovo Testamento anuncia. Perdoar a todos os homens sem a cruz não apaga a sua culpa. A cruz apontapara a necessidade de o homem não só desejar esquecer o pecado, mas o apagar para sempre.

Portanto, o conceito dos liberais acerca da moral está, até mesmo, muito aquém da moral apresentadanos evangelhos. Não é forçoso, então, considerar que a própria cruz é tanto a manifestação da ira deDeus sobre os homens quanto a prova de seu amor. “Se alguém, alguma vez, já esteve debaixo da

verdadeira convicção do pecado, essa pessoa terá pouca dificuldade com a doutrina da cruz”.58

3.6. A igrejaMachen, quando ainda discute a ideia dos liberais sobre a salvação, afirma que o conceito de fé da igrejaliberal é, essencialmente, fazer de Cristo o mestre da vida. Mas, para ele, isto anula não só o conceitoneotestamentário de graça, mas o da própria justificação. Logo, se distancia da leitura que osreformadores protestantes deram da epístola aos Gálatas. Consequentemente, a esperança escatológica

da parousia é outro elemento que, sem os conceitos abordados, é inexistente.59

A igreja do liberalismo moderno acredita que o que há de útil no cristianismo é a aplicação de “verdadesmorais”. Os cristãos, entretanto, crê que a aplicação do cristianismo é ocorrência de um ato primário deDeus, isto é, regeneração. Deste modo, o conceito que o cristianismo tem acerca da fraternidade édistinto ao do liberalismo moderno, não podendo ambos conviverem como uma religião e, óbvio, mesmainstituição.

(A) O cristianismo não crê na fraternidade/paternidade universalSalvaguarda a analogia de irmandade entre os homens como criados por Deus, o cristão considera comorelacionamento fraternal somente aqueles que são redimidos por Cristo. É necessária a fé em tudo aquiloque os teólogos liberais negam.

(B) O cristianismo entende a transformação da sociedade possível somente pela Igreja Invisível de

Cristo:60 “A igreja é a resposta cristã mais elevada para as necessidades sociais do ser humano”. E é sobesta perspectiva que a igreja não apenas se mantém, mas também, age na sociedade, quer com açõessociais, quer através de missões.

Todavia, se a igreja invisível tem em seu corpo dois posicionamentos opostos acerca da pessoa de seuFundador e Senhor, a razão de ser deixa de existir. É certo que a igreja tem como característica umamensagem baseada nos dogmas do Senhor ressurreto, divino. Negada tal verdade, o Cristianismoassumirá outra mensagem; isto é, uma transformação nem sempre possível, pois é baseada somenteneste mundo.

Além do mais, cristianismo e liberalismo seriam igualmente desonestos. Simplesmente, os pressupostosassumidos por ambas as religiões não podem ser considerados com frivolidade. O cristianismo assume

dogmas que não suportam meias verdades ou que não exija a exclusividade da fé.61

Quer goste ou não, essas igrejas estão fundamentadas em credos; elas são organizadas para apropagação de uma mensagem. Se alguém quiser combater essa mensagem em vez de propagála, não tem direito, não importa quão falsa seja essa mensagem, de ganhar uma posiçãovantajosa para combatêla, ao fazer uma declaração de fé que não é que se diga com todas aspalavras honesta. [...] ao perceber que as igrejas “evangélicas” existentes estão amarradas a umcredo com o qual discorda, a pessoa deve se unir a alguma outra instituição ou fundar uma na

qual ela se encaixe bem.62

O que Machen diz é que, as igrejas cristãs se unem em torno de uma mensagem baseada na Bíblia. É aoredor da fé no credo das Escrituras como inspiradas por Deus que as pessoas se reúnem. As diferenças

levantadas entre elas não falha pela falta de definição.63 Isto, todavia, não é possível de se ver quando osliberais se reúnem com os cristãos. Eles rejeitam as convicções defendidas pelos crentes sem que antes

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busque entendêlas. Não é a fé conservadora que tem a “mente estreita”, mas os liberais.64 Não se tratade heresia, mas de um fundamento outro, que não o da fé evangélica. Não é próprio da fé cristã, desde oseu início, considerar os desvios doutrinários assunto primordial a ser debatido?

Portanto, parece ilógico querer que o liberalismo moderno continue entre os cristãos considerandose umaparte dele. “Ele difere do cristianismo em seu conceito sobre Deus, o homem, a autoridade e sobre ocaminho da salvação. E, não somente difere do cristianismo em teologia, mas também na totalidade da

vida.”65

Embora, a crítica de Machen se refira ao Liberalismo moderno do início do século XX, o que torna seusescritos contemporaneamente válidos é o fato de têlos feito sobre as bases da fé genuinamente cristã.Aquele que julga que esta fé não tem voz no presente século deve ler os argumentos macheanos a fim dedescobrir quão sólida é a verdade que se vale das Escrituras. Pois, Machen é uma prova de que épossível, mesmo no século presente, o teólogo, estudante e pastor serem: eruditos, racionais, piedosos erelevantes; não sem, mas, mormente, se forem absolutamente fieis à Fé Cristã.

BibliografiaHORDEN, W. Teologia contemporânea, São Paulo: Hagnos, 2003.LENNOX, J. C. Por que a ciência não consegue enterrar Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 2011.MACHEN. J.G. Cristianismo e liberalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2012.MCGRATH, Alister, Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã, SãoPaulo: Shedd Publicações, 2005.MILLER, Ed. L. Teologias contemporâneas, São Paulo: Vida Nova, 2011.NIETZSCHE, O anticristo: anátema sobre o cristianismo, Lisboa: Ed. 70, 2002.TILLICH, Paul. Teologia sistemática, São Leopoldo: Sinodal, 1987.

_____________________

1 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2012, p. 9.2 Lembremonos que psicologia, biologia, sociologia e outros, são ciências relativamente novas nahistória. Todavia, apresentaram um criticismo constrangedor à autoridade religiosa.3 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 11.4 Idem, p. 12.5 MACHEN, J.G. Cristianismo e liberalismo, p. 13.6 O termo “história” é, maioria das vezes, utilizado por Machen, não como heilsgeschichte (uma históriaque é identificada apenas como fundamento para a fé bíblica, conforme Cullmann), mas no sentido dahistoriografia científica. A mesma noção poderá ser encontrada nas citações dos eventos.7 MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã, SãoPaulo: Shedd Publicações, 2005, p. 451: “Para Bultmann, embora a cruz e a ressurreição sejam ,de fato,fenômenos históricos (pois ocorreram no âmbito da história humana), devem, contudo, ser discernidospela fé como atos divinos. No kerigma, a cruz e a ressurreição estão interligadas como o ato da salvaçãode Deus. São precisamente estes atos divinos que possuem um significado constante, e não o fenômenohistórico que lhes serviu de suporte. Portanto, o kerigma não se preocupa com questões históricas, massim em comunicar a necessidade de uma tomada de decisão por parte daqueles que ouvem aproclamação do evangelho [...].”8 Idem, p. 145.9 Ibidem, p. 2310 Ibidem.11 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.21.12 Idem, p.14.13 HORDEN, W. Teologia contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2003, pp. 9091: “[...] A grande deficiênciado liberalismo se encontrava no irracionalismo e no antiintelectualismo que o liberalismo alardeava. Osliberais [...] alegam que a religião é coisa que não se pode expressar com exatidão e que, por issomesmo, a expressão intelectual nela admissível terá de empregar termos simbólicos [...], jogam compalavras. [...] diz apenas interessado na aplicação do cristianismo às necessidades da existência.Entretanto, [...] como é que o indivíduo poderá fazer aplicação de uma coisa que não sabe o que é?Comefeito, para que se possa saber o que é o cristianismo, é necessário pensar no cristianismo, isto é, oindivíduo terá de analisar suas doutrinas. [...] o liberal é antiintelectualista por causa dos hábito quecultiva, que o levam a ler na Bíblia exatamente o que ele quer encontrar nela e não o que ela registra.”14 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 145, 135: “O fato óbvio é que o liberalismo, seja elefalso ou verdadeiro, não é mera heresia – uma divergência em alguns pontos do ensino cristão. Pelocontrário, procede de uma raiz totalmente diferente, e consiste, em essência, em um sistema unitáriopróprio. [...] O cristianismo tem sido atacado de dentro por um movimento que é anticristão em sua raiz.[...] A grande ameaça à igreja de hoje não vem de seus inimigos externos, e sim dos inimigos internos;vem da presença, dentro da igreja, de pessoas cuja fé e prática são totalmente anticristãs.”15 Idem, p. 14: “[...] A tentativa liberal de reconciliar o Cristianismo com a ciência moderna renunciou atudo o que é peculiar ao Cristianismo, deixando somente aquele tipo indefinido de aspiração religiosa jápresente no mundo antes de o Cristianismo entrar em cena. Na tentativa de remover do Cristianismo tudo

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o que poderia ser questionado pela ciência, subornando o inimigo com as concessões que ele maisdesejava, o apologista abandonou aquilo que, no começo, estava defendendo. Nisso, como em muitasoutras áreas da vida, vêse que as coisas que parecem ser mais difíceis de defender são as que maisvalem a pena ser defendidas.”16 Os leitores de Cristianismo e liberalismo provavelmente observarão que J. Machen conseguirá recorrerà Bíblia em defesa de sua tese. De modo simples, Machen percorre o Novo Testamento utilizandose deconceitos, consideravelmente simples, a fim de dar caráter discursivo e científico às narrativas bíblicas. 17 TILLICH, Paul. Teologia sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 1987, pp. 683685.18 Tillich e Bultmann resolve o problema encarnacional do Jesus histórico, isto é, fé e história, traçandodistinção entre o evento e o factual. Enquanto Bultmann dá objetividade ao evento Cristo, Tillich dá aoJesus da história a “corporificação do novo ser.”O evento de Jesus como o Cristo é um elemento factual.O Jesus ocupa um lugar existencialmente histórico, enquanto o Cristo, a sua existência é factual apenasà esfera situacional; ou seja, símbolo da fé. Aparentemente, Tillich mantém a transcendência divina, masmantém uma figura pálida do Jesus das narrativas bíblicas.19 MILLER, Ed. L. Teologias contemporâneas, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 55: “Portanto, a perguntaque se deve fazer é agora é a seguinte: O kerigma, ou a mensagem essencial do Novo Testamento,poderá sobreviver depois de eliminada a mitologia? Neste ponto, o aspecto mais positivo da contribuiçãode Bultmann começa a tomar forma. Ele acredita que a verdade essencial e a relevância do NovoTestamento podem ser preservadas por meio de um programa de entmythologisierung, ou“demitologização”, isto é, pelo processo de libertação da mensagem do Novo Testamento de seu contextoe de sua expressão mítica.Na verdade, o termo “demitologização”, conforme reconhecia o próprioBultmann, é inadequado porque o objetivo não é eliminar ou subtrair os elementos mitológicos do NovoTestamento, e sim interpretálos. O Liberalismo antigo havia tentado fazer tal subtração, mas acaboujogando fora o kerygma e nos deixou apenas com os ideais esteriotipados e sentimentais do evangelhosocial [...].”20 Idem, p.82: “Para Paulo, a ressurreição é incontestavelmente empírica e, a princípio, um evento quepode ser falsificado. Seria também destituído de sentido para muitos outros, inclusive Barth, queconfiaram sua salvação e esperança no fato objetivo, histórico e (pelo menos na teoria) investigável dosmilagres, sofrimentos e ressurreição de Jesus Cristos.”21 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 73.22 Ibidem, p. 22.23 Ibidem.24 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 92.25 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 51.26 Idem, pp. 52, 58, 59.27 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 22.28 LENNOX, J. C. Por que a ciência não consegue enterrar Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 45:“[...] O ideal iluminista do observador científico friamente racional, completamente independente, livre deteorias preconcebidas, de prévios compromissos filosóficos, éticos e religiosos, que faz pesquisas echega a conclusões desapaixonadas e imparciais, é visto hoje em dia como um mito simplista. Assimcomo o resto da humanidade, os cientistas têm ideias preconcebidas, na verdade cosmovisões de que seutilizam em todas as situações.”29 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 22.30 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 42.31 Idem, p. 44: “Aqui se encontra a diferença real entre liberalismo e cristianismo: liberalismo é totalmenteimperativo, enquanto que o cristianismo começa com um indicativo; o liberalismo apela ao arbítrio dohomem, enquanto o cristianismo, em primeiro lugar, o ato gracioso de Deus”.32 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 25.33 Idem, p. 30: “A grande arma, com a qual os discípulos de Jesus viriam a conquistar o mundo, não erauma mera compreensão de princípios eternos, mas uma mensagem histórica, um relato de algo que haviaacontecido recentemente: a mensagem “ele ressuscitou”. Porém, a mensagem [...] estava ligada com atotalidade da vida de Jesus sobre a terra. A vinda de Jesus agora era entendida como um ato de Deus,pelo qual os pecadores eram salvos”. 34 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.29.35 Idem, p. 30.36 Ibidem, p. 35.37 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 52.38 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 57: “[...] A doutrina moderna da paternidade universal deDeus, celebrada como a “essência do cristianismo”, na verdade pertence, no máximo, àquela vaga religiãonatural que forma a pressuposição que o pregador cristão usa quando o evangelho é proclamado; porém,quando é considerado como algo autossuficiente e independente, então entra em direta oposição ao NovoTestamento”.39 Idem, p. 61.40 Ibidem, p. 63.41 Ibidem, p. 64.42 Ibidem, p. 65.

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Jakson Santos Gonçalves | londrina/PR | 04/12/2012 14:29:32Parabens Eliandro ...

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43 Ibidem, p.67: “Uma Bíblia que é cheia de erros, certamente, é divina no sentido panteísta de divindade.Sentido no qual Deus é só mais um nome no curso do mundo, com todas as suas imperfeições e todo oseu pecado. Mas o Deus a quem o cristão adora é o Deus da verdade”.44 Ibidem, p. 35: “Mas, mesmo no Sermão do Monte há muito mais do que algumas pessoas pressupõem.Elas dizem que não há teologia ali; no entanto, ele contém teologia da melhor qualidade. Particularmente,ali está a mais elevada apresentação da pessoa de Jesus. Essa apresentação aparece na estranha formade autoridade que permeia todo o seu discurso; aparece nas palavras recorrentes: ‘Mas eu vos digo’.Jesus coloca suas palavras em pé de igualdade com aquelas que ele, certamente, reconhece comopalavras divinas da Escritura; ele reivindicou o direito de legislar sobre o Reino de Deus. Não se podeargumentar que essa forma de autoridade envolve, meramente, uma consciência profética em Jesus ummero direito de falar em nome de Deus. Pois, qual profeta falou dessa maneira alguma vez?”45 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.69.46 Idem, p. 70.47 NIETZSCHE, Friedrich. O anticristo: anátema sobre o cristianismo, Lisboa: Ed. 70, 2002, p. 59.48 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.75.49 Idem, p. 77.50 Ibidem, p. 78: “[...] Nos evangelhos, Jesus é apresentado constantemente lidando com o problema dopecado. Ele sempre assume que os outros são pecadores; no entanto, ele nunca encontra pecado em simesmo. Aqui se encontra uma estupenda diferença entre a experiência de Jesus e a nossa. Essadiferença previne que a experiência religiosa de Jesus sirva como base para a vida cristã. [...] se oCristianismo é alguma coisa, ele é um meio de se livrar do pecado.”51 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 79.52 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 86.53 Idem, p. 92: “O Jesus apresentado pelo Novo Testamento certamente era uma pessoa históricaqualquer um que realmente tenha chegado a enfrentar problemas históricos irá admitir isso. Mas, tãoclaramente quanto isso, Jesus é apresentado no Novo Testamento como uma pessoa sobrenatural.Contudo, para o Liberalismo moderno, uma pessoa sobrenatural nunca é uma pessoa histórica. Assimsurge um problema para os que adotam o ponto de vista liberal o Jesus do Novo Testamento é histórico,ele é sobrenatural, mas o que é sobrenatural, de acordo com o Liberalismo, não pode ser histórico. Oproblema só poderia ser resolvido pela separação do natural e do sobrenatural no registro do NovoTestamento sobre Jesus, para que, então, o sobrenatural seja rejeitado e o natural, retido”.54 Ibidem, p. 89,90.55 Ibidem, p. 37: “[...] todo o discurso é direcionado aos discípulos de Jesus; e o mundo a sua volta édistinguido da maneira mais clara possível. As pessoas para quem a “Regra de ouro” é direcionada sãopessoas em quem uma grande mudança aconteceu uma mudança que os torna aptos para entrarem noReino de Deus.”56 Ibidem, p. 101.57 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 106,107.58 Idem, p. 113.59 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 117132.60 Idem, p. 134.61 Ibidem, pp. 124,125.62 Ibidem, pp. 138,139.63 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 45: “[...] Ao insistir na base doutrinária do cristianismo,não queremos dizer que todos os pontos da doutrina são igualmente importantes. É perfeitamentepossível manter a comunhão cristã apesar da diferença de opinião. [...] eles compartilham conosco areverência pela autoridade da Bíblia, e diferem de nós somente na interpretação dela [...].” 64 Idem, pp. 136,148.65 MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 145.

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AUTOR

Eliandro da Costa Cordeiro

É casado com Queila Loubach da S. Cordeiro e pai de Anna ClaraLoubach Cordeiro. Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil.Reside e leciona no Seminário Presbiteriano de Cianorte‐PR asdisciplinas filosofia, teologia sistemática, teologia contemporânea,história da teologia, apologética, análise de Romanos e Hebreus. ÉBacharel em Teologia pelo SPR‐Cne, Linguística e Missiologia pela ALEM‐DF, graduado e pós‐graduado (Epistemologia) em Filosofia pelaUniversidade Estadual de Maringá‐PR (UEM).

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