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Márcio Barreto 1 Márcio Barreto MANUAL PARA SER ALGUÉM Sem precisar passar na prova

Marcio Barreto

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Para ser alguém não é necessário ser o melhor na escola, na universidade. É saber como funcionam as emoções humanas, como adotar estratégias para uma vida de acordo ao que se busca. Ser alguém é conhecer a si mesmo(a) para conhecer aos demais. Ser alguém é saber buscar resultados por meio de acoes diferenciadas. Ser alguém não é viver perguntando por quê, mas para quê.

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Márcio Barreto

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Márcio Barreto

MANUAL PARA

SER ALGUÉM Sem precisar passar na prova

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Manual para ser alguém

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Barreto, Márcio

Manual para ser alguém

ISBN: 978-956-402-922-1

Técnicas de Autoajuda

Copyright © 2021 by Marcio Barreto

Registro de propriedade intelectual n°2021-A-1546

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito do autor, sejam quais forem os meios

empregados.

Fonte do texto: Palatino Linotype 10

Design de capa: Márcio e Giuliana Barreto

Contato direto com o autor

e-mail: [email protected]

Luz do Oriente

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Márcio Barreto

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Agradecimento

Escrever um livro requer assunto, vontade, inspiração e a parte

mais importante, que é o talento para executar o trabalho. Se temos o

assunto e não temos os demais atributos, nada acontece.

Contudo, há algo muito importante neste processo, o que eu

considero ser uma mola que nos lança para cima e para frente, o que

nos faz sentir que realmente podemos fazer isto, que podemos chegar

até o fim e ver a própria obra publicada. A este importante atributo, eu

denomino motivação.

Ela pode vir de alguém, de uma pessoa que vê em nós, aquilo que

nós mesmos não podemos ver. No meu caso, quem me motivou a

escrever este livro, foi a mulher que Deus me designou como um

instrumento de muitas motivações. Muito caminhei, graças ao amor

incondicional dela por mim.

Para escrever um livro é necessário ter paz, ambiente sereno,

apropriado para absorver a inspiração; e a minha querida esposa me

possibilitou essas muitas horas tranquilas para que esta obra pudesse

se materializar. A Rita de Cássia, eu agradeço por ser uma fonte de

motivação inesgotável nesta minha presente vida.

Também sou imensamente grato ao Criador do Universo, a causa

primária de todas as coisas. Ele me proporcionou, além dessa alma

bendita que é a minha esposa, talento para transcrever o que borbulha

em minha mente. Nada seria possível, se não fosse por permissão do

Arquiteto do universo.

Sou grato, igualmente, a todos os momentos dolorosos, a todas as

subidas íngremes, a todas as portas fechadas e a todas as pessoas que

me fizeram crescer, seja pelo amor ou pela dor. Hoje, vejo claramente

que tudo o que enfrentei, foi apenas uma aquisição de material de vida

para que eu pudesse utilizá-lo ao escrever esta obra; pois que aqui,

expresso muito mais que teorias, nele estão as minhas referências

pessoais, tudo o que me ajudou a ser quem sou hoje. Ainda sigo em

constante processo de amadurecimento, e esta obra é parte deste

processo; outras estão por vir.

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Dedicado ao amor imenso que sinto pelos mestres que vieram a

este planeta, pessoalmente, com a intenção de nos mostrar o caminho

do autoconhecimento.

À minha família que trabalhou neste livro. Giuliana, Catarina e em

especial, quem por muitas vezes insistiu para que eu escrevesse estas

linhas. Ela que me incentivou, motivou e acreditou muito em mim.

Tem sido nesta encarnação, um grande pilar de inteligência emocional

e sentimental para mim: a minha querida esposa e amiga.

E aos seres de luz, que sempre estão presentes em todos os

momentos nessa minha presente existência.

“Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que

não sabem voar”. Friedrich Nietzsche

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Índice

AGRADECIMENTO _______________________________________ 3

PREFÁCIO ______________________________________________ 9

INTRODUÇÃO __________________________________________ 12

CAPÍTULO 1 ____________________________________________ 17

A SOMBRA ____________________________________________ 17

CAPÍTULO 2 ____________________________________________ 20

A APRENDIZAGEM E O CONHECIMENTO ____________________ 20

CAPÍTULO 3 ____________________________________________ 26

SER, FAZER OU TER? ____________________________________ 26

CAPÍTULO 4 ___________________________________________ 32

A REALIDADE __________________________________________ 32

CAPÍTULO 5 ____________________________________________ 35

O JULGAMENTO ________________________________________ 35

CAPÍTULO 6 ___________________________________________40

O COMPROMISSO ______________________________________40

CAPÍTULO 7 ____________________________________________46

A COMUNICAÇÃO_______________________________________46

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6

CAPÍTULO 8 ___________________________________________ 50

AS DECLARAÇÕES ______________________________________ 50

CAPÍTULO 9 ___________________________________________ 56

O PODER DO SABER _____________________________________ 56

Saber Perdoar ____________________________________________ 61

Saber Amar ______________________________________________ 63

Saber Agradecer __________________________________________ 64

Ter Coragem _____________________________________________ 65

CAPÍTULO 10 ___________________________________________ 67

PEDIR, OFERECER E PROMETER ___________________________ 67

CAPÍTULO 11 ___________________________________________ 73

A ESCUTA _____________________________________________ 73

CAPÍTULO 12 ___________________________________________ 79

A CONFIANÇA __________________________________________ 79

CAPÍTULO 13 ___________________________________________ 84

AS EMOÇÕES __________________________________________ 84

CAPÍTULO 14 ___________________________________________ 91

A RAIVA ______________________________________________ 91

CAPÍTULO 15 ___________________________________________ 95

A EXIGÊNCIA ___________________________________________ 95

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7

CAPÍTULO 16 ___________________________________________ 99

O MEDO ______________________________________________ 99

CAPÍTULO 17 __________________________________________ 105

A CULPA _____________________________________________ 105

CAPÍTULO 18 __________________________________________ 110

O BASTA _____________________________________________ 110

CAPÍTULO 19 __________________________________________ 115

AS QUATRO DISPOSIÇÕES ______________________________ 115

A Determinação __________________________________________ 117

A Estabilidade ____________________________________________ 118

A Flexibilidade ___________________________________________ 120

A Abertura ______________________________________________ 121

Equilibrando As Disposições ________________________________ 122

CAPÍTULO 20 _________________________________________ 125

COMEÇANDO A TRANSFORMAÇÃO _______________________ 125

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Prefácio

A busca pelo autoconhecimento tem sido estimulada por

numerosos mestres que pisaram em diversos países deste

planeta. Cada um trouxe seus métodos, de acordo ao contexto social

no qual esteve inserido. Portanto, foram muitos os caminhos revelados

para que a humanidade pudesse escolher um ou mais, e proporcionar

um encontro com ela mesma. No entanto, apesar de tanta revelação,

ainda estamos peregrinando pelas estradas do sofrimento, porque

preferimos escutar que ter é muito melhor do que ser.

Nós, há muitos séculos, alimentados pelo idealismo do consumo,

estamos conquistando inúmeras maneiras de sofrer, por meio de dores

diversas, muitas delas imaginárias; assim, deixamos de lado o mundo

mais precioso que possuímos: o mundo interior. Por isso, as dores que

sentimos estão muito mais relacionadas às da alma.

Existem diversas metodologias que nos ajudam a encontrar e a

explorar este mundo que nos habita. O que existe de comum entre elas,

é o meio indispensável pelo qual podemos encontrar o nosso real eu: o

estudo. Mas para se estudar é necessário encontrar quem esteja

disposto a ensinar e também, encontrar quem esteja com vontade de

aprender.

Existem muitas pessoas que tiveram a oportunidade de aprender, e

hoje, infelizmente, fazem das suas metodologias de ajuda, uma fábrica

de sonho para quem quer a obtenção de fortuna; ou seja, preferem

estimular, no ser humano que quer se descobrir, o fomento pelo

autoconhecimento com o propósito de conquistar a “liberdade

financeira”. Não nego que ter a liberdade financeira é excelente,

sobretudo num país como o Brasil, que enfrenta uma das suas piores

crises econômicas e sociais de sua história, porém, temos visto que, em

diversas partes do mundo, há bastante sofrimento nos “libertos

financeiros”. O vazio existencial os preenche, já que se não houver

metas, propósitos ou ideais de vida que realmente justifiquem ter a

liberdade financeira, sempre existirá um fantasma da insatisfação os

perseguindo frequentemente.

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O mundo atual nos pede ponderação, interação, apoio mútuo e

ajuda humanitária para haver mais justiça neste planeta, onde existem

seres primitivos e robôs quase que vivendo lado a lado.

O mais controverso nesse paradoxo, é ver que as maiores de taxas

de suicídios no mundo estão nos países da tecnologia avançada e não,

naqueles ainda existe quem saia para buscar a sua comida com arco e

flecha nas mãos. O que está acontecendo, então?

O mundo exterior é como a humanidade o vê, e continuará sendo

até que as pessoas comecem a entender que ele será sempre o resultado

do mundo interior que habita cada um de nós. Portanto, é necessário

reestruturar a nossa forma de buscar a liberdade financeira, pelo

princípio do despertar, em primeiro lugar, do ser humano que somos;

em segundo lugar, do ser empreendedor que poderemos ser para

colaborar com um mundo melhor.

Ser rico não é só ter muito dinheiro, o que acaba em curto espaço de

tempo se não houver quem o multiplique pelo meio da inteligência e

do trabalho. É necessário ter o dom, a visão empreendedora e muita

vontade de trabalhar, de aprender constantemente, afinal, deixar tudo

nas mãos dos outros é correr um risco tremendo de amanhecer

desfalcado ou falido.

Olhar o mundo abastado pelas redes sociais, leva muita gente a crer

que o nosso planeta é um lugar onde muitos nascem para sofrer

enquanto poucos, nascem para sorrir.

Está na hora de mergulharmos fundo no abstrato mundo interior

tão abandonado pela sociedade mundial. O louvor ao dinheiro e à

aparência, tem nos mostrado ser ineficiente; do contrário, o consumo

de drogas e fármacos para a mente não seguiria crescendo, a cada ano,

no mundo. O Brasil lidera, com os Estados Unidos, o consumo de

cocaína no planeta, assim como também o de antidepressivo. Isto prova

que o mundo exterior não anda satisfazendo a necessidade moral,

espiritual e emocional de quem, constantemente, anda buscando, no

lado de fora, o que está no lado de dentro.

Desejo que você, ao terminar de ler este livro, possa sentir que existe

uma luz no fim do túnel. Que você possa ver, que para se chegar onde

se quer, é necessário, em primeiro lugar, saber quem você é, e assim,

definir como fazer para ter o que você deseja.

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Um dos inúmeros mestres que vieram a este planeta, Jesus de

Nazaré, conhecedor desta realidade, nos revelou: “O que importa

ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo!”

Creio que não será necessário relacionar diversas celebridades,

milionárias, que tiveram suas vidas ceifadas pela falta de

autoconhecimento e propósito no mundo.

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Introdução

Somos todos seres humanos, disso não temos dúvida.

Justamente por isso, não vivemos como um robô que funciona dado a

uma série de programas para que as tarefas sejam executadas. Se os

programamos equivocadamente, certamente haverá erro de execução e

precisão no seu funcionamento. Para que não haja equivoco, se faz

necessário conhecer seu manual de operação, e assim obter o máximo

de proveito de sua capacidade técnica. Contudo, não é qualquer pessoa

que possui competência para fazê-lo funcionar de acordo ao propósito

para o qual ele foi criado. Qualquer problema na sua “atuação”, o

responsável será o seu criador ou o programador, mais ninguém.

Como seres humanos, o que nos distancia do robô é o meio pelo qual

chegamos neste mundo, quem nos criou e a nossa própria natureza

humana dotada de vida, pensamento, vontade, emoções e sentimentos,

além de uma série de outros atributos que não merecem maiores

comentários aqui. Nosso funcionamento não provém de algoritmos1,

que estabelecem os padrões do nosso comportamento. Como já

sabemos, funcionamos por meio do aprendizado em nossa mente.

Quanto mais aprendemos, mais nos tornamos capazes de executar

inúmeras tarefas.

Entretanto, há em nós algo que nos aproxima do robô, quanto ao seu

modo de funcionar. Também atuamos alimentados por meio de um

sistema que nos faz decidir por tal coisa e não por outra; ser quem

somos ou o que os outros querem que sejamos; de escolher por conta

própria ou deixar que os outros escolham por nós; de agradar a nós

mesmos, em primeiro lugar, em vez de agradar aos outros para sermos

bem avaliados; de dizer sim quando queremos dizer sim e dizer não

quando queremos dizer não. Enfim, este sistema basicamente é quem

nos guia na jornada da vida e seu nome é sistema de crenças.

Crescemos sem saber que ele existe. Desde a nossa infância somos

condicionados por este sistema, sem nos darmos conta que este

fenômeno está acontecendo dia após dia, sem percebermos que

1 Algoritimos = instruções na linguagem da informática

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estamos sendo alimentados de crenças (algoritmos) que nos fazem agir

de uma forma e não de outra.

Não somos capazes de identificar, no momento das

“programações”, quem são os nossos programadores, porque cremos

que eles são os especialistas mais adequados para nos programar. E

quem são essas pessoas, afinal? Qualquer indivíduo que nos criou,

ensinou ou orientou na nossa infância e adolescência; e ainda na fase

adulta, seguimos sendo programados por qualquer um que encontre

em nós, a vulnerabilidade para recebermos novos programas; estamos

sempre aptos para recebermos novas crenças, se não estivermos

atentos.

Existem diversos tipos crenças que são inseridas em nós por meio

de palavras, fatos, referências, ideologias, experiências etc. Muitas

delas, implantadas por nós mesmos ou por terceiros, mas que de

alguma forma se gravam na nossa mente.

Seguem abaixo, alguns exemplos dessas crenças, sobretudo, as que

escutamos de quem nos programou durante as duas primeiras fazes

mais importantes de nossas vidas: à infância e à adolescência.

Algoritmos machistas

“Quem é homem não chora.”

“A mulher nasceu para servir ao homem.”

“O lugar da mulher é no fogão, em casa.”

Algoritmos impositivos

“Você será uma excelente juíza, esqueça a dança!”

“Somos uma família de artistas, portanto, você será um também.”

“Você só se casará se eu aprovar o seu casamento.”

Algoritmos condicionais

“Só pagarei a sua universidade se você estudar economia.”

“Se você mostrar que me ama, eu te prometo te ajudar no seu

projeto.”

“Você só terá seu carro se terminar a faculdade.”

“Você só será alguém se estudar muito!”

Algoritmos sugestivos

“Você nasceu pobre e morrerá pobre.”

“Somos uma família de fracassados, por que você vive pensando em

riqueza?”

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“Você é um burro, não serve para nada, só para comer capim.”

“Desista, você não nasceu para ser um jogador de futebol.”

Algoritmos religiosos

“Ter relação sexual antes do casamento é pecado.”

“Se você pecar irá para o inferno!”

“Peça perdão a Deus ou serás castigada por Ele!”

“Seja obediente a Deus e você irá para o céu.”

“O homossexualismo é um crime perante as leis de Deus.”

Algoritmos acusativos

“Por sua culpa eu sou infeliz!”

“Graças a você eu me dei mal na prova.”

“É você quem me faz sentir inseguro.”

“Sinto ciúmes de você, graças ao seu comportamento.”

Algoritmos de escusa

“Eu não me separei do seu pai por causa de vocês.”

“Eu só como chocolate porque você nunca deixa de comprá-lo.”

“Eu não consigo emagrecer, porque você não me ajuda fazendo uma

comida mais saudável.”

Creio, que com esses exemplos dados acima, você será capaz de

identificar tantos outros programas que se carregam em nós, de forma

quase imperceptível, em muitos casos. Aos poucos, vamos aceitando

várias programações como verdade, que nos fazem distanciar de nós

mesmos.

Com o passar dos anos, já não sabemos quem somos, o que

queremos, onde desejamos estar. Esses “algoritmos” geram um

tremendo conflito interno porque, graças a eles, caímos em contradição

fazendo uma coisa e acreditando em outra. E nós mesmos, na nossa

essência, desconfiamos que devemos fazer ou ser algo diferente do que

nos disseram. Nem todos nós, possuímos a autonomia suficiente para

tomar as régias da nossa própria vontade para deletar, corajosamente,

essa quantidade de crenças que absorvemos durante anos, e quiçá

ainda continuam entrando na nossa mente. Muitas vezes é difícil dizer:

“Eu vou estudar o que eu quero!” Esse grito de liberdade pode gerar

retaliações que dificultarão a nossa jornada. Conheci muitos jovens que

tiveram que abandonar o próprio lar, para viverem com estranhos,

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devido a rejeição dos seus familiares, simplementes por serem o que

seus pais queriam que eles fossem.

Os seres programados tendem a transmitir seus programas para os

seus tutelados, e é nisso que pretendo trabalhar com este livro, uma

forma de interromper essa “hereditariedade algorítmica”, que há anos

vem formando seres sofredores, inseguros, medrosos, possessivos,

pessimistas, depressivos, ansiosos, preocupados, justamente porque

não sabem como encontrar o botão para deletar esses programas

instalados neles. Isso porque não chegamos ao mundo acompanhado

de um manual, como chegam os eletrônicos e eletrodomésticos que

compramos nas lojas.

Como funcionamos no sentido emocional? Para que servem as

emoções? Elas são boas ou ruins? O que são sentimentos? Por que

sentimos? O que devemos fazer com o que sentimos? Quando

interpreto algo? Por que julgo as coisas e as pessoas? O que eu escuto é

a verdade? Afinal, como nos relacionamos com o nosso mundo

interior?

Durante vários anos, venho tentando entender como funcionamos

para encontrar uma forma de simplificar o nosso funcionamento

mental. Sei que ainda me resta por caminhar, mas já pude me

aproximar de onde eu queria estar, que era sentir e saber por que sinto;

pensar e saber por que penso; ser e por que quero ser; fazer e por que

quero fazer, para finalmente ter e por que quero ter. Não foi necessário

estudar a parte concreta do ser humano para isso, ou seja, o cérebro,

preferi me deter no que é o abstrato, aquilo que não podemos ver,

apenas sentir e não, medir.

Este manual está longe de ser um instrutivo terminado, com qual

podemos crer que seja tudo para transformarmos a nossa vida de os

olhos fechados. Mas, com certeza, ele despertará em você o desejo de

continuar a sua busca pelo crescimento psicológico, emocional e

espiritual. Quanto mais nos aproximamos de nós mesmos, melhor

entendemos o nosso papel no mundo e o que devemos fazer para

atuarmos de forma equilibrada e determinada, a fim de chegarmos ao

final da jornada da vida carnal com, pelo menos, parte da nossa missão

cumprida.

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Somo seres interpretativos e interpretamos tudo o que vemos e

sentimos, quando não interpretamos quem gostaríamos de ser. Muitas

vezes, vivemos subtraídos da nossa própria liberdade de sermos, isto

porque, tememos as consequências que poderão vir como, por

exemplo, a rejeição, a crítica e toda espécie de julgamento por parte da

sociedade hipócrita, na qual existe muita gente criticando a própria

sombra que reconhece nos outros.

Espero, que ao terminar de ler a última palavra deste manuscrito,

você sinta que a esperança não morreu e que tampouco algum dia

morrerá, e que valeu à pena ter investido o seu tempo nessa leitura. Que

Deus esteja sempre presente em você.

“A dignidade pessoal e a honra não podem ser protegidas por outros, devem ser zeladas pelo indivíduo em particular.”

Mahatma Gandhi

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Capítulo 1

A Sombra “Se deres as costas à luz, nada mais verás do que a tua própria

sombra”.

Aron Zalkind

Todos nós possuímos um “fantasma” que nos assombra

constantemente. Ele, é aquele do qual queremos fugir ou fingir que

não existe, porque a sua personalidade, caráter ou comportamento nos

assusta muito. Não podemos aceitar que este espectro sombrio nos

persiga o tempo inteiro. Inclusive, é ele quem nos motiva a fazer coisas

que não queremos. Há quem o chame de demônio, capeta, cão, diabo

ou espirito das trevas. Mas, quem é este ser sombrio ao qual jogamos

as culpas e as responsabilidades, muitas vezes?

Há muitos anos atrás, um senhor chamado Carl Gustav Jung, o

famoso psiquiatra suíço do século XIX, trouxe para o mundo a teoria

da sombra que, segundo a história, foi um termo usado por Friedrich

Nietsche, um célebre filósofo alemão do mesmo século de Jung.

A sombra, nada mais é do que a personalidade oculta que todo ser

humano tem, ou seja, é a parte feia que tentamos esconder,

frequentemente, de nós mesmos e principalmente dos outros. Devido a

essa crença, tratamos de reprimir as nossas emoções e sentimentos;

principalmente, aqueles que interpretamos como feios ou ruins.

Segundo Jung, este fantasma também assombra uma comunidade

inteira como um grupo familiar, um partido político, uma instituição

religiosa, uma empresa, etc. E quanto mais tratamos de reprimir este

ser medonho, mais ele se enfurece, gerando estados de perturbação e

neurose.

Certamente, não pode haver dúvida de que o ser humano é, em

geral, menos bom do que ele imagina ser. Todo mundo tem uma

sombra, e quanto mais escondida ela fica na vida do indivíduo, mais

negra e densa ela é. Em todo caso, é um de nossos piores obstáculos,

pois frustra as nossas melhores intenções.

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O que podemos ou devemos fazer com essa sombra, então?

Permitimos que ela se apodere de nós e faça conosco o que bem

entender? Qual é a nossa meta com ela, finalmente?

A nossa principal missão na vida, é nos aceitarmos plenamente e

integrar a nossa sombra na nossa personalidade, a fim de torná-la

consciente e trabalhar com ela, encarando-a cara a cara. Ocultá-la,

permitindo que ela permaneça no nosso universo inconsciente, pode

nos roubar o equilíbrio e a oportunidade de sermos felizes.

Não podemos esquecer que tipo de dinâmica compõe este conceito

chamado de sombra: são os nossos medos, são aqueles traumas do

passado, são as decepções que nos envenenam, são sonhos não

realizados pela indecisão, que se tornam tubarões frustrados

navegando na nossa personalidade. Se os escondermos, esses demônios

internos adquirem maior ferocidade e se os silenciarmos, acabarão por

nos controlar, projetando nos outros, em muitos casos, uma imagem de

nós mesmos que não gostamos, dai nascem as críticas.

Portanto, não podemos esquecer que o nosso crescimento pessoal e

o nosso bem-estar psicológico, sempre dependerão da nossa

capacidade de trazer à tona essas sombras. Depois desse ato de

coragem, um trabalho delicado, porém valioso, começará a nos curar, a

encontrar a calma e o bem-estar.

O budismo nos diz que, desde que nascemos, a sociedade nos

condicionou, pouco a pouco, com o passar do tempo. Se nos

observarmos agora, somos um acúmulo de experiências, aprendizados

e condicionamentos que nos tornam quem somos hoje. Para o budismo,

grande parte dessas condições não as questionamos, mas as

consideramos verdadeiras e muitas delas inconscientemente.

Assim mesmo, pelo ponto de vista do budismo, se diz que os seres

humanos são bons por natureza. Logo, a nossa sombra seria composta

de toda a nossa história de aprendizados e condicionamentos. No

entanto, ele não qualifica a sombra como uma coisa boa ou ruim.

Apenas se fala sobre ações felizes ou infelizes. Portanto, se queremos

observar nosso lado escuro, devemos aprender a meditar para observar

a nossa mente. É uma observação sem julgamento e sem reprimir

qualquer pensamento. Observar tudo o que passa por ela, sem julgar.

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Dessa forma, observamos os pensamentos e as ideias que nem

sabíamos que existiam.

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Capítulo 2

A Aprendizagem e o Conhecimento “A inteligência não ensina a aprender muitas coisas.”

Heráclito

Aprender é algo involuntário no ser humano. Mesmo quando

não estamos interessados em aprender, o conhecimento entra pelos

nossos cinco sentidos e lá está ele gravado em nossa mente.

Vou citar alguns exemplos para que você não creia que estou

inventando teorias sem fundamento.

- Como foi que você aprendeu que olhar para o sol, sem alguma

proteção, é bem desagradável? (Visão)

- Como foi que você aprendeu que o contato com o fogo, no corpo,

queima e dói demais? (Tato)

- Como foi que você aprendeu que a pimenta arde a boca e te dá

vontade de beber muita água? (Paladar)

- Como foi que você aprendeu aquela música horrorosa, que ecoa na

sua caixa craniana, e te faz crer que só com cirurgia a desgraçada

desaparecerá? (Audição)

- Como foi que você aprendeu que esquecer a panela no fogo torra

a comida? (Olfato)

Eu poderia citar tantos outros exemplos sobre o aprendizado

involuntário, mas prefiro deixar por sua conta fazer essa investigação.

Nós crescemos ganhando conhecimento, a partir das experiências

diárias, no mundo exterior que nos cerca. Aprender é algo que nenhum

de nós, em condições físicas adequadas, pode evitar no nosso dia-a-dia.

Desde que começamos a despertar os nossos sentidos, ainda como

bebês, o conhecimento penetra na nossa mente sem sequer sabermos o

que seja aprender. Nossos pais ou tutores, são os professores informais

que nos ensinam as primeiras lições básicas da vida e logo, por conta

própria, aprendemos algo mais como, por exemplo, que enfiar um

grampo de cabelo na tomada nos dá um inesquecível choque. Assim foi

a forma como eu conheci a eletricidade nos meus primeiros anos de

vida.

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A jornada do aprendizado, como aquisição cultural, começa na

escola. Sei que essa não é a realidade de todos neste mundo, mas para

aqueles que podem, ela é a principal forma de adquirirmos o

conhecimento. Então, começa o que eu chamo de o despertar do

espírito competitivo na nossa mente. O saber, passa a ser posto à prova

e medido num determinado espaço de tempo. Quem aprendeu dentro

do tempo é um vitorioso, orgulho da família e da professora; quem não

aprendeu é um fracassado que merece ser penalizado não só dentro da

escola, mas também dentro da própria casa. Se não foi assim com você,

tenha certeza que é assim para muita gente, como foi para mim

também. A cada nota baixa que eu tirava eu ouvia o mantra: “Quem é

burro, morre pastando!” Imagine seu eu tivesse absorvido essa crença!

Que podemos dizer, então, de Louis Pasteur, Albert Einstein,

Thomas Edson, Winston Churchill, Walt Disney, Tom Cruise, Steven

Spielberg e Bill Gates? Todos que tiveram problemas de aprendizado

na escola e que, mesmo assim, brilham ou brilharam na constelação de

suas áreas profissionais?

O despertar do espirito competitivo começa, quando na família ou/e

na escola, tem sempre alguém que diz “Você é o melhor de todos!” ou

“O fracassado sem futuro!”, abalando diretamente a autoestima de

quem está apenas começando a viver. Nem todos reagem para subirem

no pódio, ao contrário, sentem uma tremenda vontade de enfiar a

cabeça na terra. E para piorar, aquele bulling que se iniciou na escola,

não termina dentro de casa. Dessa forma, o mundo interior começa a

sofrer os primeiros abalos sísmicos numa importante etapa da vida.

A ciência já comprovou que o ato de aprender é mais lento ou mais

rápido em cada pessoa e, portanto, querer que todos aprendam no

mesmo espaço de tempo é uma das maiores estupidezes

implementadas neste planeta, no meu ponto de vista. Poucos países no

mundo foram capazes de eliminar este método ineficiente e

desmotivador do seu sistema de educação escolar; a Finlândia, é um

exemplo onde o aprender dar prazer e não desmotiva o aluno. O que

falta para os demais países copiarem este mesmo modelo,

comprovadamente, eficaz?

O que acontece com o nosso mundo interior, que sofre os primeiros

abalos sísmicos desde a infância e ainda na fase adulta, as réplicas

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desses abalos continuam a mover nossas crenças que influenciam,

diariamente, nas suas ações?

Nos disseram que deveríamos ter para depois ser, e dado a essa

equivocada tese, saímos como loucos pela vida, agindo como

acreditamos ser o melhor para ter tudo o que queremos, com a certeza

que, tendo tudo, seriamos os destacados do mundo, enriquecidos de

felicidade.

As estatísticas mundiais provam justamente o contrário, os que

menos cometem suicídio no planeta são os que menos têm. E por que

se insiste que consumir é o que nos faz ser?

O que conhecemos desse mundo que orbita em nossa mente? O que

aprendemos com as vergonhas, os vexames e as piadas no período

escolar para sermos alguém na vida? Nada! Apenas nos escondemos,

porque o ser que somos nós, enriquecidos de emoções e sentimentos,

não é incluído nesta parte do aprender consciente. O mundo interior foi

deixado de lado e transformado numa espécie de ilusão: não se sabe

como funciona, não se mede, não se pode tocar e não se vê, como se faz

com o saber do mundo exterior.

Como se mede o prazer de amar ou odiar alguém? Como se mede a

dor de perder alguém? Como medir a sensação da ternura, de um

abraço de quem te ama? Como provar a saudade de um ente querido?

Até mesmo os profissionais da mente humana não podem medir a

emoção e o sentimento de alguém, por mais que o nosso corpo reaja de

acordo a cada emoção que sentimos. Detectar uma emoção não é medi-

la.

O mundo interior e o aprendizado atual, estão com sérios

problemas. Cada vez mais, aprender é um duro exercício muito

desmotivador para muita gente, a juventude de hoje quem o diga.

Muitos jovens preferem ser alguém batalhando por conta própria,

explorando a internet, onde aprendem com prazer, ganhando dinheiro,

em vez de ficarem trancados, em salas de aulas, sendo medidos e

abalados na sua autoestima, onde os fazem crer que um triste futuro

sendo ninguém os espera.

A nossa realidade atual, nos convida a reaprender nos

relacionarmos com o mundo exterior e o povo que o habita. Está mais

que na hora de saber quem somos e como funcionamos, nessa parte que

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Márcio Barreto

23

somente alguns têm acesso privilegiado, o que chamo de o mundo das

emoções e dos sentimentos. Está na hora de aprendermos sobre nós

mesmos e como crescemos abastecidos de informações que, aos poucos,

nos fazem funcionar de maneira harmoniosa ou desequilibrada. Cada

comentário, cada crítica, cada julgamento que ouvimos no nosso

período de formação pessoal e escolar, pode abrir uma imensa porta na

alma para a fuga do inevitável mundo do saber interior. Cada ser

humano é um ser único, individual, com as suas próprias

particularidades, que vão muito além da incrível impressão digital,

algo que a ciência diz que nenhum humano a possui igual ao outro.

Mas... como fazer para penetrarmos neste mundo interior que está

tão perto de nós e mesmo assim, ainda é bem desconhecido pela

maioria da população global?

Nós somos emoção e sentimento, corpo e linguagem e esta realidade

é igual para todos. Sentimos, nos emocionamos e expressamos pelo

corpo ou pela linguagem, o que está em nossa mente. O pensamento é

a fonte que interage entre esses três pilares, movendo o mecanismo do

nosso mundo interior; é uma espécie de energia que circula nesse

universo chamado mente humana.

Não existe uma ordem exata para ordenarmos esses três pilares no

seu funcionamento, tudo depende do momento; mas, com certeza, o

pensamento estará sempre presente entre eles. Não existe um caminho

de mão única que necessariamente tenha que ser emoção, corpo e

linguagem.

Vamos ao prático pensando nessa cena: Você está num ambiente

qualquer e alguém pisa no seu pé. Você sente dor (emoção). Se você

interpreta que foi por querer, você se expressa de uma forma seja por

atitude ou gesto (corpo), senão por palavra (linguagem). Se você

interpreta que foi sem querer, você sente a mesma dor, porém, a sua

forma de agir é outra. Neste momento, entra algo muito importante

que explicarei mais à frente, que é a interpretação do fato.

Nós somos uma “caixa de crenças”, e é necessário saber o que está

dentro dessa caixa com todo cuidado que ela merece. Quem afirma

saber de tudo, não abre espaço para aprender o que existe dentro de si.

O maior inimigo da aprendizagem é a nossa própria imagem, essa que

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Manual para ser alguém

24

tentamos preservar publicamente, aquela que chamo de a proprietária

da verdade e da razão.

Nos escondermos de nós mesmos e dos outros, é o recurso que

normalmente utilizamos, ao invés de nos conhecermos como num

delicioso jantar romântico, aquele que nos desperta a curiosidade de

saber quem é a pessoa do outro lado da mesa. Infelizmente, preferimos

viver como na era medieval, pensando que o mundo é só aquilo que os

nossos olhos conseguem ver por entre as aberturas da nossa armadura.

Na realidade, quanto mais desconhecedora de si a sociedade se

mantém, mais ela se permite viver como gado, consumindo seu pasto

robusto, sentindo amor por quem o alimenta, e sem perceber que o seu

fim será morrer para ser consumido em eventos como Black Friday,

Cyber Monday e várias outras espécies de ilusões que, temporariamente,

matam a nossa fome. Sendo que mais tarde, ela voltará mais intensa e

acompanhada da tristeza e de um grande vazio existencial.

Não somos o que sabemos. Somos o que estamos dispostos a

aprender. Aquele que muito diz ser sabedor do mundo exterior e que

nada lhe resta para aprender, tem como pior inimigo a sua própria

crença. Este tipo de pessoa é quem julga os demais constantemente;

adora ter resposta para tudo; ama desautorizar a outra pessoa que a

quer ensinar; cobra clareza nas explicações; é especialista nas escusas

afirmando ser como é, e que nada a faz mudar. Quando se torna idosa,

diz já não ter mais tempo ou energia para aprender.

O aprender deve ser prazeroso e, por isso mesmo, precisamos,

urgentemente, aprender a aprender. Para isso, é importante dar o

primeiro passo que é sair da “casinha protetora”, onde vivemos com

medo do desconhecido, e nos aventurarmos para o mundo mágico dos

novos conhecimentos, iniciando uma bonita jornada para dentro,

mesmo que nos sintamos medrosos ou angustiados por encontrar as

nossas sombras.

Pode ser que apareça o fantasma da desistência, da resistência e que

te farão tais perguntas como: “Terás tempo?”, “Quanto te resta de

vida?”, “Tem certeza que vale a pena essa mudança?”, “E se não der

certo?”, “Isto não te causa medo?”, “Por que não ficas onde estás?”,

“Que tal deixar para mais tarde?”

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Márcio Barreto

25

Aprender é um bonito hábito que agora deve ser consciente,

inovador, motivador, apaixonante; e se desenvolvermos o hábito de

saber qual é a hora de mudar de hábito, avançamos rumo ao mundo

novo.

Você sabe o que você já sabe? Você sabe o que você não sabe? Você

não sabe o que você já sabe? Então, perceba o quanto ainda há de sobra

por aprender!

Portanto, promova em ti o doce sabor do aprender novas coisas.

Liberte-se das amarras que te fazem oxidar, como um navio encalhado

no litoral.

Você precisa SER quem você quer ser! Você precisa FAZER o que

você quer fazer! Você precisa TER o que você quer ter! Mas para isso,

vire a página porque que eu te explicarei como começar a sua

transformação.

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Manual para ser alguém

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Capítulo 3

Ser, fazer ou ter? “Se buscas resultados diferentes, não faças sempre o mesmo. ”

Albert Einstein

Somos o que temos ou temos o que somos? Esta pergunta

nos faz pensar como estamos conduzindo a nossa vida. Se priorizamos

o mundo exterior ou interior.

Eu posso estar enganado, mas se você adquiriu este livro, muito

provavelmente, você está ou esteve priorizando o mundo exterior, mas

agora você quer saber quem você é, como é seu mundo interior, certo?

Desde a nossa infância, fomos alimentados pela tradicional crença

do “ter para ser feliz”, e crescemos educados para atingirmos essa meta:

Tenha e serás alguém!

A custa dessa verdade, começamos a nossa corrida em busca dos

nossos certificados, sempre com aquelas promessas motivadoras dos

nossos familiares e professores que trataram de nos abastecer com

palavras persuasivas. Sempre nos dirigindo para o caminho do

consumo e assim, crescemos sonhando ganhar muito dinheiro para

viajar, ter patrimônios e poder disfrutar a vida ao máximo. Crescemos

com a certeza de que fazer é o caminho para se ter. Compartilho contigo

algumas frases motivadoras do tipo fazer e ter.

“Faça uma ótima prova e terás a melhor nota da turma!”

“Me faça o pai mais orgulhoso da família e terás o carro zero tão

sonhado!”

“Faça a lição de casa e terás a minha admiração!”

“Faça a sua cama e terás o valor que mereces!

“Faça o que eu mando e terás o meu respeito!”

“Faça sempre o seu melhor no trabalho e terás a desejada

promoção!”

“Faça o que eu desejo e terás o meu amor!”

Vale ressaltar que as coisas não acontecem se a gente não fizer por

onde. O mais importante é saber que, fazer por fazer, não nos garante

o resultado que buscamos. Fazer para agradar alguém ou fazer porque

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Márcio Barreto

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nos disseram para fazer, nos afasta de nós mesmos porque o comando

não vem do SER que somos. Portanto, deixar de fazer porque nos

disseram que não somos bons no que fazemos, é algo muito comum.

Sem percebermos, fizemos muito para termos o máximo possível.

Muitas pessoas conseguiram ter, outras não; e muitas mais continuam

seguindo a cartilha do fazer para ter, e até agora continuam com as suas

angustias e ansiedades, sem encontrarem o ponto da satisfação plena;

vivem querendo sempre aquilo não têm.

O pensamento racionalista é o grande guia da humanidade há

muitos séculos. Graças a ele, as indústrias cresceram e o marketing

voraz continua inflando a nossa mente com desejo insaciável do ter.

Estimulados por ele, continuamos fazendo, e muita gente faz contrato

até com o capeta para ter o máximo possível. Subornam e são

subornados; corrompem e são corrompidos; vendem e são vendidos. É

rachadinha, mensalão, obra superfaturada, fraude no imposto de

renda, conta no exterior, dinheiro na cueca, na parede falsa da casa,

enfim, são muitos os métodos criativos e ilícitos de se fazer para ter. Só

que neste “fazer para ter”, os valores, princípios e ética não fazem a

menor falta, simplesmente desaparecem do dicionário mental do

indivíduo.

Crescemos acreditando que ter é o melhor para recebermos o valor

da sociedade. Tenha títulos! Tenha poder! Tenha status! Tenha

dinheiro! Faça de tudo para que o mundo lhe dê o que desejas!

Na era atual, onde há muita gente olhando para a “grama do

vizinho” pelas redes sociais, a corrida pelo ter aumentou mais ainda e,

junto com ela, a frustração, a angustia, a ansiedade e a depressão,

aumentaram também. Deixamos de olhar a nossa própria vida para

olhar a vida alheia, pois acreditamos que os outros são mais felizes do

que nós, fazendo com o que têm.

Um grande erro que cometemos, com essa crença estabelecida no

inconsciente coletivo da humanidade, é olhar para o que os outros têm,

a fim de entender o que fazem para tê-lo e, por último, saber quem eles

são. Levando-nos a crer que o ciclo correto é fazer para ter e logo, ser.

É normal que devamos fazer algo para termos resultados, mas as

referências que temos das pessoas e do mundo, nos mostra que isto

nem sempre funciona. Os ricos também se matam, certo?

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Manual para ser alguém

28

Tony Robbins, um grande mestre na área do autoconhecimento,

afirma no seu livro, Desperte Seu Gigante Interior, que apesar das

conquistas exteriores, o vazio existencial continua a existir na mente de

muitos milionários que ele conhece, levando-os a consumir álcool,

drogas e anfetaminas, diariamente. Inclusive, menciona que os Estados

Unidos são um dos maiores consumidores de antidepressivos no

mundo!

“Ser você mesmo, em um mundo que está constantemente tentando fazer de você

outra coisa, é a maior realização. ” Ralph Waldo Emerson

Vamos descobrir um pouco mais de você. Responda a estas

perguntas: Quem você é? A quem segues, a você ou aos outros? O que

mais te importa, é o que os outros te dizem que você é ou o que você

crê que você é? Para quem você se veste? A quem você tenta agradar,

em primeiro lugar? Você diz sim querendo dizer não ou você diz não

querendo dizer sim? Você faz o que quer fazer ou que os outros dizem

que você deve fazer? Você é alguém que interpreta personagens ou é

realmente quem você é, de caráter? O que você faz para ter amizade,

bajula ou mostra seu valor e a sua personalidade realmente? Você segue

às suas vontades ou a dos outros? Você faz o que os outros fazem? Por

quê?

A crença no fazer para ter, transforma muita gente em marionetes,

em seres “fotocopiados” dos supostos felizes e bem-sucedidos. Por isso,

há dificuldades para responder, com verdade, as perguntas acima. Se

tudo deu certo, somos os vencedores; se deu errado, se busca a quem

culpar. Normalmente, Deus e o demônio são os primeiros na fila dos

réus, depois vêm os familiares, os políticos os patrões e fila continua até

se perder no infinito, nela ocupamos sempre o último lugar.

“Numa empresa qualquer, em qualquer lugar no mundo, numa bela

manhã ensolarada, as pessoas chegaram para trabalhar e encontram

um cartaz na recepção onde dizia: Ontem morreu a pessoa que impedia o

seu crescimento profissional e o da empresa. Seu corpo está sendo velado na

quadra de esporte. Favor dirigir-se até o local do velório. Conforme as

pessoas iam se aproximando do local, as perguntas internas surgiam

em cada um: Quem é essa pessoa que impedia meu crescimento nesta

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empresa? Pelo menos ela está morta e isto me alegra muito! Cada um

ia chegando ao local com um misto de falsa tristeza e curiosidade; saber

quem estava dentro do caixão era o que mais lhe interessava. Até que,

passado algumas horas, se organizou a fila e lentamente as pessoas

foram passando pelo caixão para ver quem era o morto, a fim e desejar-

lhe uma boa viagem para o inferno. No entanto, à medida que as

pessoas olhavam para o interior do caixão, um olhar triste e de surpresa

se estampava de imediato no rosto de cada um. Dentro do ataúde havia

um espelho.”2

Somente você pode mudar a sua vida, porque a mudança começa

dentro de ti. O que acontecer fora dela, nada é mais do que o reflexo

que você fez no seu mundo interior. Se algo te prejudica, ocupe o

primeiro lugar na fila dos réus antes dos outros, de Deus ou do

demônio. Se você não se vê como parte do problema, tampouco se verá

como parte da solução dele.

A sua vida não mudará se a do seu chefe, do seu marido ou esposa,

do namorado ou namorada, do seu pai ou da sua mãe mudar. Sendo

indivíduos que somos, cada um é um mundo à parte. Tudo muda

quando você muda por dentro. Não é mudando a sua aparência que

um novo mundo se revelará para você, pois que a beleza e a feiura, a

obesidade, a magresa ou o corpo sarado, não nos livram de viver

semelhantes dilemas pessoais. O mundo que te rodeia nada mais é que

o reflexo dos seus pensamentos, e a realidade que você vê é resultado

da interpretação que você lhe dá.

A maneira como você encara o seu mundo interior, é o que faz a

diferença. O medo, a insegurança, a subestima, a superestima, o pavor

pelo não, pela rejeição, pelo trauma, não passam de uma intepretação

para cada situação que surge na sua vida.

“Sofremos muito mais na imaginação que na realidade”.

Sêneca.

O que te bloqueia para ser quem você quer ser? O que não te permite

vencer as suas inseguranças? O que te faz pensar que o seu futuro será

2Autoria atribuída a Luis Fernando Veríssimo

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Manual para ser alguém

30

trágico? O que te impede de se libertar dos traumas? O que te falta para

melhorar a sua autoestima? O que te faz crer que os seus problemas não

têm solução? Por que você pensa que o mundo exterior precisa mudar

para que o seu mundo interior se transforme?

Te sugiro fazer um exercício muito simples para que você comece a

transformar a sua vida, focando no que você precisa trabalhar, já. Anote

num bloco de notas o seguinte jogo do quero-tenho.

Mencione no quadro abaixo o seguinte: O que você quer e já tem. O

que você quer e não tem. O que você não quer e tem. O que você não

quer e não tem.

Ao anotar, em detalhes, as suas metas para cada tópico acima, é

possível ver claramente em que parte da sua vida, você precisa gastar

mais tempo e energia, além cuidado você de tomar para evitar

problemas; entretanto, é muito importante entender o conceito básico

do SER + FAZER = TER.

O que a grande maioria faz na vida é começar pelo fazer para ter,

esperando que o resultado seja brilhante. Não se deve aprender a nadar

justamente no momento do afogamento. Se você não é um nadador,

deve ter prudência ao agir em muitas situações onde o afogamento é

um risco alto. Para tudo o que queremos fazer na vida, é prudente

medir os riscos antes de começarmos a agir.

Ao escrever este parágrafo, me lembrei de uma situação real em que

salvei três irmãos de um afogamento na praia da Barra da Tijuca, no

Rio de Janeiro. Estávamos eu e outro surfista na água, num dia em que

o mar só estava para peixe. Ao ouvirmos os gritos de socorro, vimos

que quatro pessoas se afogavam e, imediatamente, agimos para salvá-

NÃO QUERO

NÃO

TENHOTENHO

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ESCREVA NO INTERIOR DOS CAMPOS COLORIDOS DE ACORDO A COMBINACAO ENTRE ELES

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Márcio Barreto

31

los. Eram quatro irmãos. O outro surfista resgatou um deles e me

deixou os três como “missão impossível”. Para a minha supresa e

desespero, a única mulher do grupo desmaiou, e os dois homens só

choravam de pavor. Bem... resumindo, salvei os três e aqui estou

escrevendo essas linhas para te dizer o seguinte: Se somente um

estivesse em afogamento, seria muito mais fácil fazer o resgate dele, do

que foi resgatar quatro. Além disso, os pais não teriam sentido a imensa

angústia, ao pensarem que voltariam para casa sem os quatro filhos de

uma só vez.

Para ajudar no raciocínio, aqui deixo algumas dicas: Quem não é um

amante de si mesmo, não terá êxito nos relacionamentos amorosos;

quem não é seguro, não terá segurança em cargos de liderança e nos

relacionamentos interpessoais; quem é um ser desconfiado por

natureza, se sentirá em constante ameaça dentro da sociedade; quem é

pessimista, sempre desenhará um futuro apocalíptico para si mesmo.

Creio que agora ficou claro entender a importância do ser, a fim de

fazermos corretamente para termos o que estimamos na vida.

Mude o seu mundo interior sendo quem você é, sem se importar

como o mundo exterior te vê, sem precisar fingir para que te aceitem.

SER você em todos os momentos é libertador. Saber que você pode se

transformar é esperançoso e motivador demais! Quem resolve

permanecer na casinha, como um caracol, desperdiça a grande

oportunidade de viver uma nova realidade.

Aprenda a criar uma nova realidade para a sua vida, virando a

próxima página.

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Manual para ser alguém

32

Capítulo 4

A Realidade “O que chamamos realidade é apenas o senso comum de nossa cultura. ”

Alan Moore

O que é a realidade? A maioria dos dicionários diz que é

“tudo aquilo que existe.”

Quero te fazer pensar um pouco mais sobre a realidade. Responda

essa pergunta: Ela é o que vemos ou é algo que interpretamos?

Leia esta poesia abaixo3.

“Não te amo mais

Mentiria dizendo que

Ainda te quero como sempre te quis.

Tenho a certeza que

Nada foi em vão

Sinto dentro de mim que

Tu não significas nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

Eu te amo!

Lamento, mas devo dizer a verdade.

É muito tarde.”

Agora volte a ler o poema de novo, sendo que de baixo para cima. E

então, o que é a realidade?

A realidade é a forma como você define, interpreta, percebe, conclui

ou qualquer outra palavra que te faça entender que ela é decodificada

na sua mente, filtrada por uma série de informações que estão

guardadas dentro dela. Essas informações foram absorvidas durante o

seu crescimento, desde a infância até hoje. Essas tais informações têm

3 Autoria de Clarice Lispector

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Márcio Barreto

33

raízes culturais, familiares, além das referências externas ou internas.

Entenda por referência, toda experiência vivida por você, que pode ter

sido traumática ou prazerosa. Quando uma pessoa sofre um trauma,

normalmente a realidade dela passa ser outra. Para uns, amar é uma

triste realidade, enquanto que para outros, é a mais doce realidade que

a vida os oferece.

Olhando por este novo aspecto da realidade, o que era antes

imutável, agora é algo que podemos modificar, mas para isso é

necessário verificar essas informações adquiridas (sistema de crenças),

a fim de entendermos o quanto elas nos influenciam a ver os fatos como

os vemos hoje. A partir de agora, temos o poder nas mãos, o meio de

renascer dos “escombros” e recomeçar uma nova vida.

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode

começar agora e fazer um novo fim.” Hammed.

Mudar o nosso mundo interior, está diretamente relacionado com a

forma como interpretamos o mundo exterior, pois que ele (interior) está

formado por uma série de crenças limitantes que o deturpa (exterior) e

nos enganam, provocando em nós a “perda da personalidade”.

Quando isto acontece, temos uma forte tendência a saber quem somos,

mas, na realidade, somos diferentes da visão que temos de nós mesmos.

Faça uma prova sobre quem é você, perguntando a uma pessoa

próxima como ela te vê. Não fisicamente, mas em personalidade,

caráter e como atua no mundo.

Provavelmente, alguns te dirão que você é mais do que como você

se vê, o que te fará perguntar olhando para um espelho imaginário:

Quem eu sou na realidade? Por que os demais me veem assim?

Será que você é capaz de distinguir, nas respostas que darás acima,

o que é fato do que é interpretação? Muito provavelmente, você

perceberá que, o que você é hoje, não passa de um personagem que te

assumiu e te guia, devido à uma série mudanças que você sofreu para

sobreviver na sociedade, que nos cobra de todas formas, e sem

percebermos, deixamos a nossa realidade de lado para viver a realidade

dos outros. Desejamos ser outra pessoa na base da “fotocopia da alma”,

queremos ser como os ídolos, ter o que eles têm; porque viver a

Page 34: Marcio Barreto

Manual para ser alguém

34

realidade deles é a vida ideal. Mas... o que fazemos com a nossa

realidade, enquanto invejamos a dos outros? Ela não é senão o reflexo

do nosso mundo interior? Cada um vive a sua própria realidade; cada

um tem o seu papel na vida. Qual é o seu?

Justamente por isso, julgamos que a nossa realidade é uma desgraça,

que a nossa vida é o que é e pronto, nada pode mudá-la! Julgamos Deus;

julgamos o sistema de governo; julgamos os políticos; julgamos os

nossos ancestrais, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos...

A realidade, quando deturpada pela emoção, se desdobra à nossa

frente como aquele vapor da estrada que nos faz crer que o asfalto se

move. Por falar em estrada, leia este conto abaixo e descubra a resposta.

Um homem negro, dirigia um carro preto, com o interior todo

escuro. Os faróis do carro estavam apagados, as luzes da rodovia

também. O asfalto estava muito negro e não havia sinalização. De

repente, um cachorro escuro cruzou na frente do carro. O motorista

conseguiu enxergá-lo e freou a tempo de evitar o atropelamento e,

possivelmente, a morte dele. Como foi possível isto?4

Os julgamentos que fazemos, podem ser frutos da certeza que

somente com a sorte o nosso futuro será melhor; que Deus escolheu

alguns para sofrer, enquanto outros riem. Como se Deus girasse uma

roleta, diariamente, para escolher quem irá sorrir ou chorar, como

forma de distração, a fim de evitar o tédio que dever ser governar o

universo. Se você virar a página seguinte, aprenderá algo interessante

sobre o julgamento.

4 Era dia

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35

Capítulo 5

O Julgamento “Não há coisa que mais nos engane do que o nosso julgamento. ”

Leonardo da Vinci

O julgamento também pode ser deturpado pela

interpretação, essa que é composta por uma série de filtros internos,

assim como a realidade que nasce a partir dela, explicada no capítulo

interior.

Imagine esta cena onde você protagoniza o fato.

Você está na cozinha preparando a janta, cortando alguns legumes,

em profundo estado de concentração. Não percebe que o gato do seu

amor saltou para mesa e sem querer, esbarrou no pote da massa de

tomate que, ao cair no chão, quebrou e esparramou o extrato por toda

cozinha. Rapidamente, sem largar a faca, com a outra mão, você levanta

o gato para retirá-lo da mesa e o bicho cai sobre a massa de tomate no

chão. Rapidamente, você o retira dali pelo pescoço e, de repente, a

pessoa que mais te ama - e ao gato também - entra no ambiente e olha

para aquele quadro de carnificina pintado na frente dela; te pegou no

flagra! Os olhares se cruzam e... O que vem à mente do seu amor?

Está matando o meu gato? Você não gosta do meu gato? Você quer

cozinhar o meu gato? Ainda bem que eu cheguei a tempo, do contrário

você me daria o meu próprio gato para eu comer! Eu sabia que você

não gostava do meu gato!

O que é o julgamento, então? Ele é um pensamento que nos ajuda a

olhar para frente, a mirar o futuro de forma precavida, mas não

sabemos distingui-lo da interpretação, muitas vezes.

O que acontece se aprendemos a distinguir um do outro? O que

poderia fazer a dona do gato crer que o bichano iria ser morto por você?

Poderia ser pela faca que estava na sua mão. Talvez pela forma que

você segurava o gato. Pelo vermelho estampado no corpo do gato ou

pelo vermelho espalhado pelo chão da cozinha. Pode ser que na sua

vida, fatos como este já ocorreram e se você não julgou alguém, sofreu

com o julgamento alheio.

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Manual para ser alguém

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O ser humano, em geral, quando não conhece tudo sobre um fato

que quer narrar, preenche este vazio com as suposições, que nada mais

são que os julgamentos baseados em interpretações.

A suposição é a incerteza declarada como verdade, sempre e

quando a investigação não é feita sobre o fato, alguém ou alguma coisa.

É a realidade deturpada pela falta de confirmação.

Já que o julgamento pode nascer a partir de uma suposição, que

também é a realidade inventada, ele pode ser muito bom ou não para

nossa vida. Dependerá da forma como nós identificamos se as

interpretações estão ou não no comando da nossa mente.

Que tal você fazer julgamentos bastante motivadores para alcançar

os seus objetivos?

Afirme diariamente: “Eu sou uma pessoa de fibra!” “Eu sou uma

pessoa de garra!” ” Eu sou uma pessoa de coragem!” “Eu sou uma

pessoa que persiste!” “Eu sou uma pessoa capaz de superar os meus

medos e as minhas inseguranças!” “Eu sou uma pessoa que vê um

problema como uma oportunidade!” “Eu sou capaz!” “Eu tenho fé em

Deus!” “Eu tenho fé no meu potencial!”

Eu, por exemplo, afirmo, diariamente, que o Senhor é o meu pastor

e nada me faltará. Desde que comecei a usar este “mantra”, afastei

drasticamente a ansiedade e a preocupação da minha vida.

Experimente, não te custará nada!

Te ensinei alguns julgamentos motivadores e libertadores, agora,

use a sua criatividade para criar outros mais.

Assim como existem os julgamentos motivadores, existem os

opostos que nos levam para bem longe dos nossos objetivos. Perceba se

alguns deles, mencionados aqui abaixo, estão dentro de ti.

“Sou incapaz de ser feliz!” “O mundo é injusto comigo!” “Ninguém

me ama!” “Acho ruim amar alguém!” “Ninguém me vê como uma

pessoa de valor!” “A vida é difícil e nada poderá mudar a minha

realidade!” “Não tenho valor profissional!” “Aprender é horrível!”

“Estudar não vale para nada!” “Não quero saber do futuro, ele será

ruim mesmo!” “Sou assim porque me disseram que não sou capaz!”

Com certeza, você poderá engrossar esta lista com outros mais que

podem estar no seu mundo interior. Pelo menos agora, você já sabe

como identificar os julgamentos em ti e o que fazer com eles.

Page 37: Marcio Barreto

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37

Quando se fala em julgamento, é muito importante saber que não

existe um que seja bom ou ruim. Entretanto, o efeito dele em nós e nos

outros, depende do significado que damos a ele e da decisão que

tomamos para atuarmos no mundo, motivados por ele.

Te explicarei melhor por meio de algumas perguntas para que você

as responda com sinceridade.

Que decisão você tomaria se soubesse que a pessoa que amas, te

trai? Quando você discute com uma pessoa e, constantemente, você diz

ter razão e que ela está errada, é um julgamento? Em que você se baseia

para julgar ter sempre a razão? Você está numa situação, em que você

considera uma falta de respeito o que te dizem ou fazem. E se alguém

descordar de você? Se alguém te chamar para ir ao cinema, mas você

afirma que ir ao teatro será melhor. Em que você se apoia para escolher

um e não o outro?

Agora podemos perceber claramente que por detrás que tudo que

fazemos ou dizemos, há sempre um julgamento implícito. Crescemos

tão acostumados com ele em nossas vidas que nem percebemos que é

com ele que a gente pensa, sente, fala e age na vida. É como um órgão

virtual que está em nós, mas não sabemos como ele é e como funciona.

O julgamento é invisível e passa desapercebido por todos nós, e se

estabelece na nossa mente, automaticamente, como uma marca que

reflete a nossa experiência, cultura, referencias, tudo que foi impresso

em nós; e esta marca, é que nos faz pensar que as coisas são como são e

pronto. Nos faz perguntar a nós mesmos: Como eu poderia me

contradizer na minha forma de pensar? Estás louco!

As grandes pessoas são aquelas que são donas dos seus próprios

julgamentos e não, obedientes a eles.

Você sabia que um dia disseram que a bebida RedBull seria um

fracasso? Você sabia que o Bill Gates, um dia, disse que 640K seria

suficiente para qualquer um?

Agora que te revelei este novo conceito, é muito importante saber

distinguir o que é um julgamento de um fato. Pergunte-se novamente

se um dia de chuva é ruim, considerando a importância dela para o

equilíbrio do ecossistema. Ela é excelente para a natureza (Fato), mas é

ruim para você que esperava ir à praia com os amigos. (Julgamento).

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Manual para ser alguém

38

O conceito de bom ou ruim é um julgamento baseado numa

interpretação, como nas frases abaixo, normalmente ditas por muita

gente no mundo.

“Arrumar um emprego, atualmente, está difícil (Fato), por isso

nunca conseguirei uma vaga para mim.” (Julgamento)

“Meus pais não tiveram a oportunidade de estudarem e serem

prósperos (Fato), logo eu tampouco a terei.” (Julgamento)

Creio que o nosso maior problema está em definir como certo, as

nossas interpretações (essas verdades nascidas de um filtro com várias

camadas, explicadas anteriormente), em vez de olharmos para o fato

sem a contaminação proveniente de tudo o que compõe o nosso sistema

de crenças. Automaticamente, acabamos com a pureza da verdade por

meio do filtro que faz o papel inverso daquele que foi criado para

descontaminar. Ao observarmos o espaço para os comentários nas

redes sociais e nos jornais eletrônicos, podemos constatar a população

na grande batalha de julgamentos acerca de um mesmo fato, onde cada

um exige o direito de ter a sua verdade como única e válida. Muito

raramente, há quem, realmente, domina o assunto e expõe os

fundamentos para o que comenta.

Na grande maioria da massa popular, falta o compromisso com a

veracidade dos fatos. Mas antes de nos comprometermos com a

verdade deles, devemos nos comprometer com nós mesmos e, logo,

com o mundo. Por falar em compromisso, o próximo capítulo é

dedicado a este tema.

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Manual para ser alguém

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Capítulo 6

O Compromisso “Para mudar nossos hábitos, temos que assumir o compromisso profundo de pagar o

preço que for necessário. ”

William James

Comprometer-se é fazer um pacto ou uma promessa, é

aceitar uma obrigação ou uma missão para determinado fim.

Nos comprometemos com nós mesmos, com alguém ou algo. Cada

compromisso é uma criação na mente, de algo que irá se materializar

ou concretizar em determinado tempo.

Este assunto, não é uma matéria escolar com a qual aprendemos de

forma consciente, em sala de aula; ou um tema que os pais debatam,

com os filhos, de forma clara e instrutiva. Normalmente, o aprendemos

na prática, faltando ou cumprindo com ele. Tanto em casa, como na

escola ou no trabalho, se somos, responsáveis, obedientes e acatamos

as ordens que nos foram dadas, ficamos bem; do contrário, colhemos as

consequências que correspondem, sentido a dor ou o prazer das nossas

escolhas.

Falhamos, muitas vezes, quando assumimos algum compromisso

no passado e hoje, sentimos os reflexos dessas falhas. A partir de agora,

já teremos motivos para mudar a nossa postura diante dos

compromissos que assumirmos.

Quando nos comprometemos, é importante ter bem claro que não

estamos fazendo favor nenhum a ninguém; escolhemos por livre e

espontânea vontade, aquilo com o qual ou quem nos comprometemos.

Portanto, se comprometer não deve ser satisfazer a outra parte, senão a

nós mesmos; do contrário, o que é escolha passa a ser uma obrigação.

Eu desconheço quem seja feliz fazendo algo na base da obrigação.

Justamente por isso, ponha muita atenção ao assumir uma

responsabilidade daqui para frente, porque se você disser que agora

você tem que cumprir com a sua promessa, saiba que o verbo ter

também indica fazer algo contra a vontade. Poucos são os que

percebem quantas vezes, diariamente, repetem este mesmo verbo, no

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sentido da obrigatoriedade. A partir de hoje, comece a contar este verbo

para você constatar quantas tarefas você faz por obrigação. Não é à toa

que estamos contraindo enfermidades emocianais graves.

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Se usamos o compromisso com seriedade, temos um imenso poder

em nossas mãos. Podemos mudar a nossa realidade e de muita gente.

No budismo, a realidade significa o resultado de nossas próprias

decisões.

A sua vida de hoje, é o resultado dos diversos compromissos que

você assumiu, os realizou ou os deixou de lado. Nossos compromissos

devem ser assumidos por nós mesmos, antes de ser assumido perante

a alguém. Repito, não se trata de favor a ninguém.

Normalmente, se entende que o compromisso é um acordo ou um

pacto que assumimos para realizarmos algo no mundo exterior, mas ele

é, também, o que assumimos no mundo interior. É onde o seu poder é

muito maior. O compromisso pode ser com: a verdade, a honestidade,

a saúde, a espiritualidade, a paz interior, o crescimento intelectual, a

sabedoria, a fé, o amor, a justiça, enfim, com tudo o que nos faz ser antes

de querermos fazer para ter.

Para ver o mundo exterior transformar-se, é necessário que cada

compromisso seja um ato de verdade e prazer, porque o sacrifício é

inevitável. Nada muda em nossas vidas, se não for por meio do

compromisso que assumimos internamente. O resultado é tudo aquilo

o que se vê refletido no mundo exterior em que habitamos.

Atos simples e comuns, como chegar tarde no trabalho, não seguir

a dieta corretamente, não dizer o que se pensa, dormir mais que o

necessário, inventar escusas para cada vacilo dado, não pôr limites aos

outros, não exigir respeito, ignorar o que nos incomoda, procrastinar o

máximo possível, também são faltas de compromisso.

E o que acontece quando nosso mundo interior nos inspira a ver

tudo que está fora de forma negativa? Certamente, que o nosso

compromisso é diretamente afetado! Exemplo: Para que vou me

candidatar a este trabalho, se não me darão o mínimo valor? Isto é o

que eu chamo de autosabotagem.

Pintar um quadro de terror do futuro, sem que o conheçamos, é

sofrer por antecipação e desnecessariamente. Não foi à toa, que Buda

nos recomendou viver o presente e somente o presente.

Se o seu presente não te agrada, saiba que ele é o futuro do seu

passado. Tudo o que estava na sua mente até ontem, está refletindo

hoje. Você pode imaginar como será seu futuro, se você insistir em

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projetar cenários apocalípticos no seu mundo interior? Assim como o

presente é o futuro do passado, ele também é o passado do futuro. Veja

onde estás e o que pretendes fazer com a sua vida, ao terminar de ler

este livro.

Nada importa se o nosso compromisso não está alinhado com as

nossas ações. Não construímos uma vida melhor com palavras, apenas.

O trabalho é necessário e deve ser sagrado, ou seja, fazendo o sacrífico

(sacro oficio) que nos corresponde.

“O compromisso é um ato, não uma palavra. ”

Jean-Paul Sartre.

Segundo o coach Jim Selman, o compromisso é a diferença entre

viver num contexto de responsabilidade pela criação do futuro, versus

viver num contexto de racionalidade no qual devemos suportar o que

as circunstâncias nos dão.

Agora que você já sabe o que é um compromisso, escolha o que fazer

com ele em todos os setores da sua vida, como a família, o trabalho, o

matrimônio, a diversão, a espiritualidade, a saúde etc. Anote cada um

deles num caderno e para cada setor, analise como andam suas ações,

se elas correspondem ao compromisso assumido.

Muito provavelmente, você verá que o hábito da procrastinação está

presente em muitos deles, que o deixar para amanhã o que se pode

fazer agora é mais comum que imaginamos. Assumimos muitos

compromissos com outros e com a gente, entretanto, onde mais

falhamos, são aqueles que obviamente assumimos com nós mesmos

porque, se falhamos neles, ninguém nos cobrará, nos fará passar

vergonha. A importância que damos ao que os outros vão pensar, é

maior da que pensamos ao nosso próprio respeito. Nosso mundo

interior está em estado de abandono total.

Como escusas, simplesmente dizemos a nós mesmos que amanhã

faremos o que nos comprometemos fazer. Assim, postergamos o

exercício físico, o deixar de fumar, a caminhada de um quilometro por

dia, o jantar com a família, o estudar mais, o deixar de comer porcarias,

e tantas outras metas não alcançadas, porque o amanhã chegará e

haverá tempo. Mas, quem nos garante?

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Cada compromisso deixado de lado, é um grão de areia que cai no

chão. No princípio nem se nota, mas quando os grãos começam a se

acumular, um pequeno monte se forma e o que era um monte, vira um

relevo, depois um morro, logo uma duna até chegar a se tornar um

deserto. Os movimentos lentos da natureza nos enganam; na nossa

mente reside a ideia de que tudo acontece de repente; e para nos

livrarmos da culpa, nos acostumamos a dizer que, de repente, a nossa

vida ficou de cabeça para baixo. É que não percebemos que, em câmera

lenta, ela foi girando, lentamente, enquanto a gente deixava tudo para

depois. Nossos estados de angustia e ansiedade, nos indicam que algo

está falhando em nós e que, muito provavelmente, estamos buscando a

quem culpar há anos. Só que está na hora de aproveitarmos o labirinto

de espelhos aonde estamos, para termos a certeza que a única maneira

de sairmos dele é olhar para nós mesmos. É hora de estabelecermos

uma comunicação sincera com quem nos maltrata. E por falar em

comunicação, se eu fosse você, continuaria lendo o livro e seguiria para

o próximo capítulo!

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Capítulo 7

A Comunicação “Saber se comunicar é uma coisa. Mas a precisão de ser entendido é outra totalmente

diferente. ”

Tiago Carossi

Falar sem parar não é, necessariamente, se comunicar.

Comunicacão não é, somente, falar. Paul Watzlawick, no seu livro

A Teoria da Comunicação Humana diz que se estamos em silencio,

também estamos nos comunicando, da mesma maneira que há

comunicação fazendo um tremendo barulho ou falando. Ele afirma,

que tudo o que fazemos ou não fazemos, dizemos ou não dizemos, é

algum tipo de comunicação.

Pense na cena de almoço em família. Alguns sentados à mesa e, de

repente, a mãe nota que faltam os copos. Há duas formas dela se

comunicar: A primeira, é se queixando que nunca fazem as coisas como

deveriam, que só não se esquecem da cabeça porque ela está colada no

pescoço; ou a segunda, que é fazendo um pedido direto para que algum

desocupado traga os copos para a mesa. A primeira forma só gera mal-

estar; e a segunda, faz com que os copos estejam na mesa.

O modelo mais ultrapassado de comunicação diz que o emissor

emite a mensagem, o receptor a recebe e que os ruídos (não entenda

como barulho) são as interferências existentes neste fluxo

comunicativo. E por que se diz ser ultrapassado? Porque novos estudos

envolveram outros elementos importantes como as emoções, os gestos,

o contexto (local e circunstâncias), o domínio (o trabalho, a família, os

amigos, o casal ou instituições) e finalmente, as distinções na linguagem

(julgamento, fatos, compromisso, afirmações etc.)

Como podemos ver, é muito mais que falar, fazer gestos, escrever

mensagens, fazer barulho e outros recursos comunicativos que

utilizamos. A filosofia da linguagem, afirma que é impossível não se

comunicar. Somos seres linguísticos e, portanto, devemos sempre

emitir algum tipo de comunicação. Não fale nada com ninguém, feche

seus olhos e não se mova. Em sua mente há comunicação, seu mundo

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interior está em constante estado de conversa. Por isso, se diz que

meditar é difícil, afinal, ficar imóvel, sem pensar em nada, é quase

impossível. Será ou é um julgamento do povo?

A PNL (Programação Neolinguística) estuda a influência da palavra

na comunicação interpessoal ou intrapessoal (a comunicação com o

mundo exterior e com o mundo interior) e a maneira como as nossas

emoções são expressadas, já que o nosso corpo é quem diz.

Miguel Ruiz, no livro Os Quatro Acordos, diz que devemos ser

impecáveis nas palavras. Mas o que significa isto? Impecável, é ser sem

pecado. Resumindo, palavras sem pecado. Mas, é importante eliminar

o significado religioso dado a palavra, a fim de evitar que você pense

que o inferno te espera por falar um palavrão.

O que autor nos explica, é que a qualidade das palavras que

proferimos está diretamente relacionada com a emoções que sentimos

e mais, com estado de “limpeza ou sujeira” que existe no nosso mundo

interior. O efeito que as nossas emoções causam na nossa linguagem,

também é percebido no nosso corpo. Não podemos controlar as nossas

emoções, mas podemos escolher entre dizer, “Que bosta!” ou “Que

droga!”, quando as nossas emoções borbulharem no nosso mundo

interior.

Tony Robbins, no livro Desperte Seu Gigante Interior, nos revela que

as palavras e as emoções agem, umas nas outras, em caminho de duas

vias; ele quer dizer que as nossas emoções influenciam na qualidade

das nossas palavras, assim como as palavras influenciam na qualidade

das nossas emoções. Ele nos afirma que, se queremos sentir boas

emoções ou pelo menos melhorar nosso estado emocional, é importante

saber escolher entre dizer “Me sinto o pão que o diabo amaçou pelo dia

horroroso que tive hoje” ou “Sinto cansaço pelo dia intenso que tive

hoje.” A segunda opção, alivia bastante o peso emocional que

sentimos, pois que as palavras impecáveis agem diretamente na mente

e no corpo, e muda a realidade em relação ao dia que tivemos.

A comunicação interior é muito importante, assim como também é

a exterior, pois que o mundo exterior se modifica, significativamente,

quando entendemos essa magia, que é o dom de se comunicar.

Portanto, a visão do modelo transmissor, receptor e ruído fica mais

restrito ao mundo da mídia televisiva e radiofônica. Nós, os seres

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humanos, somos muito complexos, porque acreditamos em muitas

coisas que pensamos e dizemos. Por seguirmos estritamente o que o

nosso mundo interior nos diz, somos capazes de sofrer muito mais na

imaginação que na realidade.

Crescemos recebendo mensagens através de diversas formas de

linguagem, e as guardamos como parte do sistema de aprendizagem

involuntário e, de uma forma ou de outra, são elas que nos fazem ser

determinados ou abatidos crônicos.

O poder da comunicação, em nossas vidas, é bem mais que trocar

palavras ou gestos por meio de códigos ou canais diferentes. Hitler foi

capaz de estimular o ódio e causar uma guerra mundial, por meio da

comunicação e assim como ele, vários outros transformaram o mundo

e até hoje o tranforma com diferentes propósitos.

Os meios de comunicação são os que governam o mundo. Eles,

basicamente, determinam o futuro de uma nação entregando

mensagens que possuem um tremendo poder de manipular as mentes

desavisadas, provocando emoções que terminam por guiar as suas

escolhas.

Nós somos, a grosso modo, emoção, linguagem e corpo, não

necessariamente nesta ordem. A comunicação que existe entre eles é

constante, e quando somos capazes de observar como eles funcionam

em nós, podemos promover mudanças muito interessantes na

qualidade do nosso mundo interior, obviamente, causando impactos

bastante positivos no mundo exterior.

O que você disser tanto para fora, quanto para dentro, poderá

provocar efeitos salvadores ou mortais. Nossas vidas são salvas por

meio das palavras; as vidas de outras pessoas são salvas por meio delas

também. Quando você diz “Não irei vencer!”, saiba que está decretado

o resultado. Este mesmo efeito avassalador pode ser causado na vida

de alguém. Como já mencionei anteriormente, se eu estivesse

assimilado quem é burro morre pastando, você não estaria lendo este

livro.

O CVV ou Centro de Valorização da Vida, se você não o conhece, é

uma central telefônica que atende milhares de chamados, anualmente,

de pessoas deprimidas, tristes e com fortes tendências suicidas. Graças

ao poder da comunicação, por meio da palavra de amor, vem

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conseguindo mudar o pensamento de diversas pessoas, tão

necessitadas de uma mensagem salvadora.

Espero que você possa ter aprendido, de forma prazerosa, algo bem

mais profundo a respeito da comunicação e que, a partir da leitura

deste capítulo, você jamais se esqueça dessa frase: “Seja impecável nas

suas palavras.” Declare sempre o melhor de si para si e para o mundo

que te rodeia. Ele precisa de pessoas que saibam declarar o amor em

vez da guerra, e já que mencionei a declaração, te sugiro virar a página.

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Capítulo 8

As Declarações “Sem a crença em uma vida futura, a presente seria inexplicável. ”

Marquês de Maricá

O mundo cria a palavra ou a palavra cria o mundo? Quem

gera quem? O mundo está em primeiro lugar ou é ao contrário?

No capítulo anterior, você aprendeu que a palavra é muito mais que

um código criado pela humanidade para expressar seu mundo interior,

ou seja, seu pensamento e suas emoções. Ela possui um poder para

provocar mudanças em nossa vida e na vida de outra pessoa, ela irradia

energia de construção ou destruição, tudo depende do que queremos

fazer com ela.

Temos uma grande facilidade para acreditar no “acaso”, no que foi

determinado pela vida, como se nós não fossemos dotados de poder do

livre arbítrio. O nosso presente será sempre o resultado do que

escolhemos ou não no passado, e por mais que exista interferências

provenientes das ações de outras pessoas, haverá sempre uma

oportunidade de ver em que parte do contexto existe a nossa

participação, a nossa responsabilidade nele.

A declaração, é uma afirmação que se faz procurando evidenciar

uma verdade na qual se acredita chamada convicção. Sempre que

declaramos a nós mesmos ou a alguém, seja o que for, necessariamente,

estamos criando uma realidade existente na mente que, em seguida,

será materializada graças ao compromisso e a ação. Não haverá o

resultado esperado, se o compromisso não for assumido como parte do

processo de criação ou da transformação que se quer realizar, a partir

da declaração estabelecida. Ela até pode ser, opcionalmente,

compartilhada com alguém. Quando o padre ou o juiz diz “Eu vos

declaro marido e mulher!”, aquilo que não existia antes, começa a

existir e a relação passa a ser outra com os compromissos estabelecidos.

Ao se declarar a independência de um pais, muda-se a história dele

completamente, que também passa a ter compromissos sérios com o

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seu povo. Em ambas situações, se declara com o poder que foi

outorgado aos declarantes.

Agora que você já sabe o que é uma declaração, é bem mais fácil

responder as perguntas no primeiro parágrafo. Se o mundo tivesse o

domínio na criação de tudo o que existe, nada mais nos restaria a fazer

senão aceitar aquilo que já existe, sem nenhuma chance de modificá-lo.

No entanto, ele passa por constantes modificações graças a este poder

maravilhoso que temos de declarar o que pretendemos fazer com ele,

seja o nosso mundo interior ou neste onde vivemos com os demais seres

da criação. Infelizmente, nem sempre fazemos transformações

benéficas nele, ao contrário, o prejudicamos bastante.

“Acredita que vale a pena viver, e a tua convicção ajudará a criar esse fato. ”

William James

Quando somos convictos, podemos declarar com segurança aquilo

que queremos fazer com o nosso mundo interior e com o que nos

rodeia. A convicção tem um enorme poder libertador se soubermos

como fazer o uso adequado dela. Ela é formada por palavras oriundas

do nosso imaginário e aí está o belo; podemos fazer as transformações

maravilhosas, escolhendo as palavras certas para formar a convicção

adequada e provocar a mudança que queremos implementar nos

nossos mundos.

Te sugiro fazer uma experiência simples, porém fantástica, com o

seu vocabulário antes de declarar qualquer coisa. Em vez de você dizer

eu odeio isso ou aquilo escolha dizer eu prefiro isso ou aquilo, que te

sugere uma emoção totalmente diferente, já que despertará em ti o

amor por algo e não, o ódio por outro. Você entenderá a importância

de viver com os melhores sentimentos em evidência na sua mente,

como se escolhesse viver sentindo o melhor aroma ao seu redor,

(analogamente explicando), caso isto seja possível. Lembrando do que

você aprendeu anteriormente, a emoção também surge a partir das

palavras. Experimente, não te custará nada!

Para reforçar a experiência que te sugeri fazer, verifique a sua

convicção em relação ao seu talento para realizar algo que você deseja

muito, mesmo que alguém te diga o contrário. Agora repita várias

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vezes: “Eu posso!” “Eu consigo!” “Eu já consegui!”, etc. Verás que uma

força imensa brota em ti, uma emoção forte te toma, e a declaração que

automaticamente vem à sua mente é “Eu chegarei aonde quero

chegar!” A neurociência pode dizer o contrário, que o cérebro age assim

ou assado, que muitos fatores poderão interferir etc., não importa! O

que você estabelece como VERDADE para você é o que te moverá para

frente! Quem não tem fé, não tem poder!

“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós, enquanto vivemos.”

Norman Cousins

O jornalista americano, Norman Cousins, autor do livro Anatomia de

Uma Enfermidade, relata como ele foi capaz de se curar de uma doença

degenerativa grave, apenas pelo poder das suas convicções que o

fizeram não somente se curar, mas viver vinte e seis anos além do

declarado pela medicina. Ele fez uso das boas palavras que geraram

boas emoções, que geraram bom humor, que geraram alívio e

obviamente, geraram bons resultados.

Mas sempre surge a pergunta que não quer calar: E se eu não obtiver

o resultado esperado, mesmo fazendo a minha parte, declarando o

melhor possível com a minhas convicções?

Te respondo perguntando o seguinte: Sabendo do perigo que existe

nas ruas, do imprevisto que é viver e de tudo que pode acontecer

inesperadamente, você não continua vivendo igualmente? Você,

quando anda às ruas, você caminha pela calçada ou pelo pavimento? O

bom senso dirá que é pela calçada, obviamente! Mas esta ação é cem

por cento segura para evitar um atropelamento? Comprovadamente

que não! E por isso você caminhará por onde passam os veículos?

O que quero dizer com essas analogias é: Faça a sua parte! Não

estimar o melhor para você é o mesmo que caminhar pelo asfalto,

somente porque morrem pessoas atropeladas nas calçadas. Cada

simples ato de proceder com segurança provém de uma convicção, que

essa é a forma correta de preservarmos a nossa integridade física,

emocional, espiritual ou moral, entretanto, tudo pode acontecer no

caminho. O nosso maior problema está no querer ver antes de crer!

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A partir deste capítulo a sua postura deve mudar porque antes de

irmos às ruas, não precisamos ver se vamos sobreviver para crer que as

nossas obrigações serão realizadas. Então, qual é o problema

procedermos de maneira semelhante para mudarmos a nossa vida? No

meu lugar, como escritor, você esperaria ver a vendagem do livro para

crer que valeria à pena escrevê-lo?

Um dos grandes triunfadores neste mundo, que partiu do zero para

construir um mundo maravilhoso de cores, fez uma declaração muito

forte. Ele resolveu que sim ou sim ele seria quem ele queria ser: um

criador de sonhos. Eu a reproduzo abaixo.

“E assim depois de esperar tanto, um dia como outro qualquer

decidi triunfar. Decidi não esperar as oportunidades, senão eu mesmo

buscá-las; decidi ver cada problema como a oportunidade de encontrar

uma solução; decidi ver cada deserto como a oportunidade de

encontrar um oásis; decidi ver cada noite como um mistério a resolver;

decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Àquele dia, descobri que meu único rival não eram mais que as

minhas próprias debilidades, e que nelas, está a única e melhor forma

de superarmos; aquele dia deixei de temer o perder e comecei a temer

ao não ganhar; descobri que não era eu o melhor e que talvez eu nunca

o fui. Me deixou de importar quem ganharia ou perderia, agora me

importa simplesmente me conhecer melhor que ontem.

Aprendi, que o difícil não é chegar ao cume, senão jamais deixar de

subir. Aprendi, que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de

chamar a alguém de amigo. Descobri que o amor é mais que um simples

estado de paixão, “o amor é uma filosofia de vida.”

Àquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos

passados e comecei a ser minha própria tênue luz deste presente.

Aprendi, que de nada serve ser luz se não irás iluminar o caminho dos

demais.

Àquele dia decidi mudar tantas coisas.... Àquele dia, aprendi que os

sonhos são somente para se tornarem realidade. Desde aquele dia, já

não durmo para descansar, agora simplesmente durmo para sonhar.”

Walter Elias Disney

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O que nos difere dos grandes triunfadores deste mundo, que

começaram a partir do zero? O que fez um Bill Gates ser o que é, de um

Steve Jobs ser quem foi para o mundo? Eles usaram o que eles nem

sequer conheciam conscientemente, que foi o poder da convicção e da

declaração que fizeram para si mesmos: “Eu posso!” Considere que

eram jovens em situação muito semelhante, econômica e culturalmente

falando, aos demais rapazes do bairro onde moravam, ambos nem

sequer tiveram diplomas universitários.

Se houver o desejo sem muita vontade, nada acontece; se houver à

vontade sem algum conhecimento básico, nada acontece. Não é

simplesmente ter as melhores convicções, fazer as melhores

declarações; é necessário a parte fundamental do processo que é a

transpiração, o aprendizado, o que realmente difere os triunfadores dos

desertores. Ninguém se torna um experto antes para depois fazer o que

se quer. O importante é ter o mínimo para começar e a expertise chegará

com a prática constante, com os equívocos no processo. Você se lembra

do não sei o que eu sei?

O que nos bloqueia e nos impede de começarmos? É a importância

que damos para o erro e os possíveis fracassos na jornada da criação. É

a defesa da própria imagem, são os níveis de cobrança internos que

possuímos. Se somos convictos e nos declaramos competentes, os erros

passam a ser senão ajustes no processo da realização do queremos, algo

que Thomas Edson conheceu bem, errando mais de novecentas vezes

até inventar a lâmpada. O julgamento tem um papel fundamental neste

processo! Ao substituirmos a palavra erro por ajuste, muda totalmente

o peso da emoção que sentimos, e a necessidade de nos protegermos do

nosso proprio julgamento, desaparece.

Uma mudança que devemos implementar, em segundo lugar, logo

após de mudar as nossas convicções, é declararmos o que queremos; é

deixar de ouvir o que outros dizem, sobretudo aqueles covardes e

medrosos que pulam do barco, mesmo não sabendo nadar, em vez de

esperarem para ver como a aventura irá terminar. A opinião alheia é

importante quando nos alerta, quando nos fazem ver o que não

havíamos considerado, quando chama a nossa atenção para algum

possível perigo de trajeto. Portanto, desenvolver o poder do ser é

fundamental!

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Quando aprendemos que a vida possui uma dinâmica própria, que

ela nos traz sempre o que necessitamos e não, o que queremos,

desenvolvemos o estado de fé. A fé, é crer que a vida nos responderá,

de maneira imprevisível, nos conduzindo para o encontro com o

desejado. Mas para que este encontro aconteça, é preciso ação, requer

contínuo estado de determinação para alcançar o que se busca. O que

frustra muita gente é o estado de ansiedade permanente que,

sorrateiramente, nos faz querer tudo no momento que estabelecemos

como único válido, ou seja, exigimos que o universo atue na nossa

velocidade, sem percebermos que, no tempo de espera, a Inteligência

Suprema coloca cada um de nós no seu devido lugar, muda a nossa

mentalidade, programa os encontros “por acaso” para que, finalmente,

ao recebermos o objeto desejado, estejamos alimentados com certa

carga de maturidade para não desperdiçarmos a nossa conquista.

Lembre-se: Tudo que vem fácil, vai fácil!

Seja prudente, seja paciente, seja uma pessoa de fé, determinada. Já

que ser é muito importante, não feche o livro e vá para o próximo

capítulo.

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Capítulo 9

O Poder do Saber “Só se pode alcançar um grande êxito, quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.

Friedrich Nietzsche

Todos nós buscamos inúmeras coisas em nome da

felicidade. Coisas licitas e ilícitas para preenchermos as nossas vidas

de bens, de fortuna, de status, de pessoas ou outra coisa qualquer que

nos dê prazer. Mas, no fundo no fundo, o que todos nós queremos é ser

amados, queremos o amor presente em nossas vidas.

No capítulo anterior, você aprendeu que o poder das convicções

para fazer declarações libertadoras, que te fará sair às ruas mesmo sem

saber se você irá voltar para casa; que te fará caminhar pelas calçadas,

mesmo sabendo que um veículo poderá invadi-las e te atropelar. Neste

capítulo, você conhecerá o outro lado das declarações; o poder de ser

livre para assumir o controle da própria vida.

Sendo o amor a nossa meta, de forma consciente ou inconsciente,

desenvolvemos hábitos, muitas vezes involuntários, para buscarmos a

aprovação dos outros, para que nos queiram, para que pensem bem ao

nosso respeito, para mostrarmos que somos bons e que sempre estamos

disponíveis para os demais. Quando isto ocorre, anulamos a nossa

própria identidade, deixamos de lado os nossos desejos, deixamos de

lado a nossa vida, assumindo compromissos que não queremos

assumir, a fim de evitarmos que a nossa imagem fique deteriorada,

talvez, sendo chamados de irresponsáveis e até de mentirosos. É

quando adotamos a postura de o “Ser do SIM”.

Uma vez assumida esta forma de vida, passamos a viver em função

do outro, de crer no outro, de pensar como o outro, de fazer o querem

que a gente faça, ou seja, nos tornamos escravos subservientes apenas

para ter o amor, a consideração e o respeito alheios. Esta postura, é um

grande risco para eliminar as nossas convicções libertadoras mais

profundas, já que na intenção de ser o que aos outros agrada, não

declaramos nada que possa contrariar a opinião alheia. Os nossos

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sonhos são esquecidos, porque tememos que a nossa imagem seja

prejudicada.

Você já deixou de realizar o seu sonho para agradar aos outros?

Então, diante de um espelho, faça essas perguntas, olhando nos seus

olhos, e as responda com sinceridade. O que te faz dizer sim na sua

vida? Quais são os teus benefícios, secundários, quando você diz que

sim, e, na verdade, você quer dizer, não? Você se considera uma pessoa

fácil de dizer sim? Por quê?

As nossas convicções devem ser autônomas, livres dos julgamentos

alheios, mesmo aqueles que nos apoiam porque, muitas vezes, aqueles

que nos dizem “Siga em frente!”, no íntimo, querem dizer “Que infeliz

queda do cavalo será!” Lembre-se de que, assim como nós, as outras

pessoas fingem porque, também, querem ser amadas. O grande

segredo para proteger as nossas convicções e declarações dos ataques

dos hackers,5 é permanecermos em silêncio. Não é necessário que

ninguém, além de nós, creia nos nossos sonhos, a menos que seja

alguém que realmente tenha a mesma crença nos desafios que nos

propomos. Se os seus pais duvidam de você, nem eles mesmos

merecem conhecer, a fundo, onde você pretende chegar. Busque meios

para realizá-los e não te preocupes, porque a vida se encarregará de te

colocar no lugar certo, diante da pessoa mais adequada para te ajudar

na sua jornada.

“Cada vez que consideramos que devemos dizer que NÃO e não o dizemos, veremos a nossa dignidade comprometida. “

Rafael Echeverría

A arte de dizer o NÃO é tão necessária, quanto dizer o SIM sempre

que convém. A diferença entre o sim e o não, está no poder que o sim

tem de viciar, e o não, de gerar ressonâncias no ser humano.

Muitos de nós sofremos quando ouvimos o não, ainda que ele nos

salve a vida, mas dificilmente alguém se lamenta por ter ouvido um

sim, ainda que ele nos leve ao sofrimento. A menos que o sim queira

5 Hackers = ladrões que detectam falhas e invadem sistemas informáticos para roubar

informações privadas.

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dizer não, o que pode acontecer em algumas situações, como por

exemplo: “Você está dizendo que não me ama mais? Sim, estou!”

Por isso, dizer um não, é muito difícil porque se sofremos com ele,

provavelmente, pensaremos que a outra pessoa sofrerá também. A

insegurança, nos faz idealizar situações desagradáveis. Pura

imaginação!

Da nossa infância, trazemos muitas referências (internas ou

externas) que construíram a nossa identidade, que formaram o nosso

sistema de crenças e que hoje, influenciam nas nossas emoções, gerando

os nossos pensamentos, de onde nascem as ações e logo, os resultados.

Este ciclo do desenvolvimento humano é igual para todos, e são os

resultados que nos mostram se essa cadeia apresenta problema ou não.

Quase sempre em um ou em diversos campos da vida.

Muitas vezes, não percebemos que a estagnação em que muitos de

nós nos encontramos, provém da falta do não em nossas vidas, pois que

também somos muito generosos com nós mesmos, e toleramos

determinadas atitudes que devem ser detectadas e eliminadas por meio

da mudança de hábitos. Precisamos dizer não, às nossas mentiras;

precisamos dizer não, aos obstáculos que inventamos para justificar a

nossa permanência na inércia; devemos dizer não, às histórias que

contamos para permanecermos onde estamos.

É necessário dizer não, aos que nos enfraquecem e todos aqueles

tentam construir seus muros no nosso caminho. Pessoas que, por não

terem coragem e terem o seu sistema de crenças bastante

enfraquecedor, tentam desestimular o nosso querer por possuírem uma

visão apocalíptica em relação ao futuro. Vale a pena mencionar que os

grandes mártires que passaram por este mundo, foram fortes para

dizerem não, aos seus regimes de governo, à política social etc. Pessoas

como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr, Nelson Mandela,

poderiam ter sido pessoas comuns, se não fosse pelo desejo que

possuíam de modificar as suas vidas e de quem como eles pensavam.

Por saberem dizer não, foram importantes líderes que fizeram história

neste mundo.

Na democracia, podemos dizer não a tudo aquilo que não achamos

que seja justo e no livre comércio, podemos dizer não, a tudo aquilo que

não nos interessa comprar. Se concordamos com o injusto e compramos

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Márcio Barreto

59

o que não queremos, é porque não temos o domínio suficiente da

autoestima e de nossas crenças. As pessoas que sempre dizem sim para

tudo, raramente fazem história.

“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. ”

Sócrates

Quando a palavra não, vem antes da palavra sei, nos abre uma

grande possibilidade de conhecermos algo novo. Entretanto, há quem

as diga por pura preguiça, falta de vigor ou de compromisso com as

pessoas e com o mundo. Simplesmente, não percebem que a

displicência não as levam a lugar algum; não entendem o poder que

ambas palavras possuem para nos conduzirem na jornada do saber.

Ao saber dizer que não sabemos, declaramos a nós mesmos que

podemos aprender algo novo, que podemos abrir uma porta para um

mundo desconhecido, movendo as forças mais poderosas dentro do

processo da transformação pessoal, algo que você está fazendo neste

momento.

Quantas vezes vamos em busca do saber, quando dizemos a nós

mesmo ou a alguém que não sabemos? É algo que devemos responder

considerando os motivos, obviamente. Fazendo uso das palavras do

apóstolo Paulo de Tarso, “Tudo nos é licito, mas nem tudo nos

convém”, saber.

Não saber alguma coisa, não implica ter que saber, simplesmente

para o ser o sabe tudo da família, da escola, do grupo etc. É importante

selecionar o que realmente nos guia para o que nos transforma em seres

melhores no mundo.

Quando dizemos, não sei cozinhar, nos dá um poder imenso de

conhecer algo que, de repente, poderá ser a nossa felicidade

professional. A magia está em descobrir o que já sabíamos, porém,

nunca havíamos dado conta que sabíamos. Todo ser deve saber o que

sabe; precisa ser curioso para saber o que não sabe; e tentar descobrir

aquilo que pensa que não sabe. Esta caixinha de surpresa existe em

todos nós, o que nos falta é a curiosidade e a liberdade de nos permitir

abrí-la.

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Manual para ser alguém

60

Muitas pessoas viram suas vidas transformadas quando, por um

motivo de força maior, foram obrigados a descobrir o que nelas havia

para sobreviver. Quantos profissionais não descobriram seus reais

talentos, quando ficaram desempregados? Quanta gente não aprendeu

a fazer doces e salgados para superarem uma dificuldade econômica?

É muito frequente esperarmos chegar o caos em nossas vidas, para

abrirmos a caixinha do saber em busca da sobrevivência ou da

felicidade.

No Estado do Espirito Santo, um diretor de uma empresa

conceituada foi demitido, sem aviso prévio, e para continuar na luta

pela sobrevivência, resolveu que ia começar um novo negócio: fazer

sorvetes para vender. Começou com um pequeno trailer e pouco tempo

depois era o dono da sua própria fábrica e profissionalmente muito

mais feliz que no seu anterior trabalho. Você conhece alguma história

parecida?

Lamentavelmente, muitas pessoas sentem vergonha do “não saber”

e preferem inventar teorias sem sentindo, se sentem diminuídas, como

um sintoma da falta de humildade. Para você ficar bem feliz, é

impossível que alguém saiba tudo, pelo menos no atual planeta em que

vivemos. Então, qual é o problema não saber? Um profundo

conhecedor do corpo humano pode não saber andar de bicicleta, algo

que muitas crianças fazem ainda estando no jardim da infância. Cada

um domina uma especialidade, portanto, é uma perda de oportunidade

deixar de aprender o que não se sabe; e mais, deixar de descobrir o que

já sabe. Pode ser que este livro esteja mal escrito, mas pelo menos eu

comecei algo novo, resolvi abrir a caixinha do saber que também existe

em mim.

Cada vez que afirmamos eu não sei, começamos a nossa escalada

na montanha do aprendizado. Ter consciência do que se sabe é tão

importante quanto saber o que não se sabe. Quando sabemos o que

não sabemos, dizemos, inconscientemente, que aprenderemos.

Quantas vezes você não foi na internet buscar o que não sabia? Não foi

bom aprender algo novo sem sentir dor?

Quando você declara que não sei plantar alho, você pode atuar de

duas formas: A primeira é ficar na inercia e continuar sem saber; e a

segunda, é buscar o conhecimento e fazer uso dele, se é que a sua

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Márcio Barreto

61

intenção é ir mais além do saber, é pôr em prática o que acabou de

aprender. Aprendi a plantar alho assim, buscando na internet. Imagine

você, quantas oportunidades você tem para aprender, pelo simples ato

de saber o que não se sabe! Sei como era o mundo antes da internet e

posso te garantir que nunca foi tão fácil e rápido aprender algo novo.

E agora, o que te falta? É difícil saber o que já se sabe? E de saber o

que não se sabe? E que tal matar a curiosidade para saber aquilo que

você não sabia que já sabia? A única forma de fazer esta descoberta é

ser humilde, abrindo a mente para se permitir aprender, enquanto a

mente e o corpo te proporcionarem essa fascinante arte de crescer em

sabedoria e intelectualidade.

Saber Perdoar

“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra. ”

William Shakespeare

Perdoar, não significa estar de acordo com as coisas que

aconteceram e que, tampouco, as aprove. Também não significa que

ficará no esquecimento e que a relação poderá fluir como antes.

Perdoar, não quer dizer que tenhamos que conviver com quem nos

prejudicou ou nos decepcionou. É bastante comum pensar que perdoar

é conviver, é “deixar para atrás” o que aconteceu, sem considerar que,

o que aconteceu, poderá acontecer de novo. Esquecer, pode ser um

gesto de displicência dependendo do ocorrido, porque para muita

gente o perdão é uma porta aberta para outro ataque.

Vale saber que existem dois tipos de pedido de perdão usados pela

humanidade: o perdão consciente e o perdão social. Este último,

normalmente, é usado para “limpar a própria imagem”, todavia, sem o

aprendizado adquirido, algo que ocorre no perdão consciente, quando

existe reconhecimento do erro e desejo de reparar o dano causado. O

perdão social, quase sempre é usado para aplicar um novo golpe. O

compositor e cantor, Renato Russo, deixou isso claramente em uma de

suas canções ao dizer “...sempre as mesmas desculpas e desculpas nem

sempre são sinceras, quase nunca são.”

O autoperdão é um gesto de amor que fazemos a nós mesmos, da

mesma forma quando perdoamos a alguém porque, no fundo, nós

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Manual para ser alguém

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sempre somos os mais beneficiados quando perdoamos, mesmo que

ninguém nos peça perdão, algo muito comum de acontecer.

Quando perdoamos alguém, tiramos a corda do nosso pescoço que

nos amarrava a quem nos causou danos ou dor. E o principal motivo

do perdoar, é eliminar os pensamentos negativos que nos atordoam,

gerando-nos emoções bastante desagradáveis que nos consomem

muito.

Pedir perdão é, também, algo importante que devemos não só fazer,

mas saber como fazê-lo, deixando claro que não concordamos com a

nossa ação equivocada, que reconhecemos o dano causado e que, de

alguma forma, queremos repará-lo. Ao reconhecer o nosso erro,

também reconhecemos o ser falível que somos e também nos

perdoamos. O que vale pedir perdão e não se perdoar?

Ao nos dirigirmos a alguém para lhe pedir perdão, devemos ter

consciência de que poderemos ser ou não perdoados, entretanto, a

segurança é um sentimento que deve existir em nós, porque da mesma

forma que escolhemos perdoar ou não, a outra pessoa também tem o

mesmo direito. Se houver a possibilidade, o correto é dizer à pessoa “Eu

reconheço que não agi corretamente contigo e que te causei tal dano,

porém, faço questão de repará-lo.” Dessa forma, lhe mostramos

humildade, reconhecimento do equívoco e deixamos a nossa

consciência tranquila, mesmo que não sejamos perdoados.

Se nos dirigimos a alguém para lhe pedir perdão dizendo “Sei que

errei contigo, porém, quero reparar o meu erro e espero que você me

perdoe.”, entregamos nas mãos dessa pessoa o poder de deixar a nossa

consciência pesada por anos, caso ela não nos perdoe. Lembre-se, que

o ato de perdoar e pedir perdão é, na realidade, o poder se liberar,

emocionalmente, do fato.

O gesto do perdão e do autoperdão é, também, uma declaração que

fazemos a nós mesmos, porque buscar a nossa liberdade emocional é

gerar mudanças na nossa vida; progredimos emocionalmente,

moralmente e espiritualmente. Qual é a sua dificuldade para perdoar

alguém? Por que você não se sente capaz de perdoar a quem te causou

algum dano? O que te falta para isso acontecer? Como você se sentiria

se isto acontecesse? Você pode começar a se dar essa liberdade, hoje?

Por que sim ou por que não?

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Márcio Barreto

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Saber Amar “Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.

Vladimir Maiakóvski

Amar o próximo como a ti mesmo é algo complexo, porque o que

nos falta, e muito, é amar a nós mesmos, em primeiro lugar. Depois de

você ter lido os capítulos anteriores, pode ser que você concorde

comigo, percebendo que damos muito mais importância aos outros que

a nós mesmos, e o pior, sem sermos altruístas! Se, pelo menos,

pensássemos na dor do próximo e fizéssemos algo por ele, seria um

gesto sublime. A importância que damos aos outros é, quase sempre,

para impressioná-los, dando muito mais valor aos outros, por

entendermos que desta forma resguardamos a nossa imagem de gente

boa.

Quando pensamos em amar ao próximo, pensamos em satisfazê-lo

de alguma forma, porém, este pensamento poder ser um desastre para

o ser amado. Amar, não é satisfazer a vontade de ninguém, é dar ao

próximo o que ele necessita e muitas vezes dizer não, é necessário e

nem por isso deixa de ser um ato de amar.

Diz a história, que Francisco de Assis viu os escravos do pai dele

trabalhando na lavoura e sentiu por eles um tremendo amor.

Rapidamente, tratou de encontrar um meio de tirá-los dali. Em

determinado momento, ele ouviu uma voz espiritual que lhe disse: “Se

você os tirar dessa condição, os tirará do caminho do crescimento

espiritual que eles necessitam. Se quer amá-los, os trate com dignidade

e faça de tudo para aliviar o sofrimento deles.”

Expressar o amor, não significa deixar a razão de lado, não significa

viver em eterno estado de romance, essa energia emocional que

envolve o ser humano quando há amor entre casais, sem se importar

com gêneros.

O amor, é entender o que cada um precisa para se erguer, jamais

para cair. Portanto, é dar o que corresponde mesmo que o desagrade.

Não é dar dinheiro ao dependente químico, é dar a opção do

tratamento. Não é dizer sim, sempre; não é dizer não, sempre. É dar

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Manual para ser alguém

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agua para quem tem sede e não comida, porque a comida não mata a

sede. É alimentar a quem tem fome e não lhe dar agua, porque a água

não alimenta. É saber exatamente ser racional sem ser calculista e

egoísta, sem fazer nem mais nem menos. É fazer o melhor para quem

necessita, e isto é válido para nós mesmos, afinal, não nos esqueçamos

que para amar a nós mesmos a fórmula é a mesma.

Saber Agradecer “A tudo dê graças ”

Paulo de Tarso

O sentimento de gratidão, normalmente, surge quando algo

agradável acontece em nossas vidas. Isto porque o vinculamos ao

prazer, de forma inconsciente. Alguma vez você disse graças a Deus

por ter perdido um avião? Provavelmente, só depois de saber que ele

caiu e ninguém sobreviveu. Deu para perceber como a gratidão se

vincula ao que nos agrada?

Eu sou um crente convicto de que tudo pode ser pior, portanto, ser

grato, independe do que me faz sorrir ou chorar. Nós nunca sabemos

onde fica realmente o fundo do poço. Se quebramos um braço, basta

imaginarmos se estivéssemos ficados sem ele. Se olharmos com a razão

para os fatos de nossas vidas, percebemos que realmente Paulo de

Tarso tinha razão ao dizer “A tudo dê graças”.

Pelo recebido e pelo não recebido, a gratidão sempre deve estar

presente. O que me fez vir para o exterior e ter tido uma vida muito

melhor que eu teria no Brasil, foi por eu ter dado graças a um salário

muito baixo que me foi oferecido em 1998, para entrar na empresa que

me trouxe para o exterior em 2010.

A gratidão é aceitar o desconhecido, é gesto de humildade, porque

sempre achamos que merecemos muito mais, e que somos

subestimados por Deus ou pela vida, seja como cada um queira dizer.

Outra coisa que nos bloqueia o sentimento de gratidão, é o hábito

de esperar que tudo seja ou aconteça como queremos. No livro, O

Cavaleiro da Armadura Enferrujada, de Robert Fisher, aprendemos que o

nosso maior erro na vida está em esperar, em vez de aceitar. Existe uma

brutal diferença entre um e outro, já que esperar nos faz exalar a

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Márcio Barreto

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ansiedade, o desejo de controlar as coisas, as pessoas e os fatos. Já o

aceitar, nos coloca na humilde posição do autoconhecimento e

aceitação, tornando-nos, assim, merecedores de muito mais. A gratidão

nos faz crescer, nos prepara para o grandioso, porque a vida possui

mecanismos inteligentes que nos transforma, diariamente, para o que o

futuro nos reserva. Para quem é tudo ou nada, a vida é frustrante e

triste; para quem diz que um é melhor do que nada, cria para si mesmo

um futuro próspero porque sabe que, à medida que se esforça, mais a

vida lhe retribui.

A gratidão é muito mais que um gesto de educação, na relação entre

pessoas. Algo que fazemos, mecanicamente, ao recebermos algum

benefício. Se bem que há muita gente que diz obrigado, querendo dizer

miserável, sobretudo, àquelas pessoas que vivem esperando sempre.

Ao expressarmos a nossa gratidão pela palavra, devemos realmente

sentí-la com verdade, dizendo a Deus ou à vida o quanto nos sentimos

gratos pelo conseguido. Nunca se esqueça disso, tudo pode ser pior.

Quando eu entendi essa mágica fórmula da gratidão, por tudo,

entendi o poder que ela tem de nos fazer crescer espiritualmente, pois

que aceitar é mais que ser obediente e passivo, é entender que existe

um preparo que não percebemos, algo inteligente que ocorre e que só

tempo poderá nos revelar. As grandes e agradáveis surpresas estão

reservadas, mas somente com o gesto da aceitação é que poderemos

encontrá-las.

Ter Coragem

“A vida se contrai e se expande, proporcionalmente à coragem do indivíduo. ”

Anaïs Nin

A coragem é uma emoção que podemos expressá-la por meios de

atitudes ou palavras. Normalmente, a vinculamos ao ato heroico de um

guerreiro, mas não nos esqueçamos que é necessário ter coragem para

dizer não, quando convém; que é necessário ter coragem para dizer

adeus, quando chegou à hora de partir; que é necessário ter coragem

para dizer basta, no momento oportuno. Enfim, ter coragem não é ser

herói ou heroína, é ter a liberdade de ser, sem se importar com o que

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outros vão pensar ou dizer. Ter coragem, é ter a força para provocar as

mudanças que queremos implementar em nossas vidas.

Eu considero que a autoestima é o núcleo da nossa coragem, porque

a autoestima gera segurança e dela nasce a coragem que necessitamos

para agirmos. É uma espécie de espada, com a qual enfrentamos os

nossos desafios, sem desprezar o sentimento de medo que nos faz agir

com precaução e estratégia. A coragem e o medo são sentimentos que

nos equilibram em nossas ações, pois que um é o atuar em si e o outro,

é o que nos faz pensar como agir. Ter coragem, não é ser displicente e

fazer por fazer para provar algo a alguém, não é ato de exibicionismo

nem de autoadmiração. Lembre-se de que não devemos provar nada a

ninguém.

É necessário ter coragem para as coisas bem simples e cotidianas,

como pedir um favor a alguém, se oferecer ou prometer algo a alguém,

e por falar em pedir, oferecer e promessa, faça uma pausa de reflexão e

vá direto ao próximo capítulo.

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Capítulo 10

Pedir, oferecer e prometer “É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho. ”

Epicuro

Pedir não deve ser um vício, somente uma necessidade.

Quem quiser conquistar alguma coisa, tem que ter coragem para pedir,

oferecer e prometer. Não pense que é qualquer um que domina esses

três atributos da relação, interpessoal, com facilidade. Parece simples,

mas não é, requer coragem. Mas quem quer construir um mundo

melhor não há outro jeito.

Não há como pedir, oferecer ou prometer, se não for por meio da

comunicação, e para quem sofre de timidez, por exemplo, comunicar-

se, verbalmente, não é algo fácil, embora para muitos é algo comum que

não requer maior esforço.

Muitos pensam que pedir é simplesmente dizer o que se quer e está

tudo certo. Vou te mostrar que não é simples assim nos exemplos,

incorretos, abaixo.

- “Alguém pode apagar a luz?”

- “Você pode me trazer um refrigerante do supermercado?”

- “Alguém pode me trazer uma faca?”

- “Por favor, abaixe da internet uma lista dos melhores filmes do

ano.”

Onde estão os erros nos exemplos acima? Você foi capaz de

identificá-los em cada pedido?

Se você não foi capaz de vê-los, é porque você pode estar cometendo

erros semelhantes como estes e, agora, chegou a hora de corrigi-los.

No primeiro pedido, é importante citar o nome de quem deve

apagar a luz e em que momento se deve apagá-la.

No segundo pedido, se deve dizer o nome do refrigerante, o

tamanho do envase e a temperatura dele - quente ou gelado - sem se

esquecer de dizer para quando o quer.

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Manual para ser alguém

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No terceiro pedido, é importante citar o nome da pessoa, o momento

que se quer a faca e o tipo de faca que se necessita; grande ou pequena,

com ponta ou sem ponta, para cortar carne ou pão.

No quarto pedido, faltou mencionar que tipo de arquivo, se em

Word em Excel, o ano dos filmes e para quando se quer o arquivo e por

que meio o deseja receber, e-mail, pendrive etc.

Pode ser que você esteja pensando, agora mesmo, que eu sou bem

detalhista e que os pedidos acima são tão óbvios e, portanto, não há

como existir mal-entendidos. Tente relembrar algum problema que

você tenha vivido por falta de detalhes no seu pedido.

Quem pede algo a alguém, tem uma necessidade para se satisfazer,

do contrário, não há motivo para se pedir. Por outro lado, a pessoa que

atenderá o seu pedido deve saber claramente o que, como e quando

atender o pedido, afinal, é um compromisso que se assume.

Imagine que nos dias de hoje, de crise econômica mundial, várias

empresas quebrando, tendo uma pandemia abatendo o mundo, sua

chefe passa por detrás de você, no seu posto de trabalho, e te diz:

“Pegue todas as suas coisas e me acompanhe por favor!” O que você

pensará neste momento? Que emoções fluíram na sua mente?

Entretanto, quem te disse que é para te demitir e não, para te mostrar o

seu novo local de trabalho, já que acabas de receber uma promoção? A

interpretação sempre estará presente, já que crescemos com o preceito

de interpretar e julgar sempre, seja a alguém ou a um fato.

Guarde isto, se pedir é uma necessidade a se satisfazer, não faz

sentido que um pedido seja feito de qualquer maneira. É necessário

escolher a quem pedir, como pedir e para quando quer que o seu

pedido seja atendido. Lembre-se que todos julgamos, todos

interpretamos o que alguém nos diz e, portanto, se não somos claros

nos nossos pedidos, não podemos reclamar que a outra pessoa não nos

atendeu como esperávamos.

Outro detalhe importante para quem quer seu pedido atendido, é

entender que a resposta que virá poderá ou não cumprir com as nossas

expectativas. Da mesma forma que a resposta sim, é para o nosso

pedido, o não, também será para ele e não para nós, o que normalmente

achamos que é, e o que nos faz sentir raiva da pessoa ou outras emoções

que nos atormentam.

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Márcio Barreto

69

Quando recebemos o não para o nosso pedido, muitas vezes caímos

na tentação de nos queixarmos, porque deixamos de lado o velho

conselho do aceitar em vez esperar. A queixa é um círculo vicioso,

sobretudo, para aqueles que gostam de ter razão em tudo e de controlar

as pessoas, as coisas e o mundo. Normalmente, este tipo de pessoa atua

como um eixo, tendo tudo e a todos girando ao redor da sua queixa.

Raramente, não observa às suas responsabilidades e as causas,

impedindo, dessa forma, que a sua necessidade seja atendida.

É importante saber separarmos a queixa da reclamação. A queixa, é

uma forma de descarregar a frustração pelo esperado que não

aconteceu. A reclamação, é a manifestação da insatisfação por uma

promessa não cumprida, a quem não nos atendeu de acordo ao

comprometido. A queixa provém do ego, a reclamação provém do

direito.

Para se transformar uma queixa em pedido, é importante, em

primeiro lugar, saber o que se quer realmente. É necessidade ou

capricho? Uma vez que se detecte a real necessidade, é importante

deixar de lado o eu e as insatisfações que se sente no momento, para

incluir a quem se pede na busca, a fim de se obter o que se quer, criando,

com humildade e inteligência, as variáveis que podem ajudar na

resolução do pedido. A flexibilidade não dever somente para quem se

compromete em nos atender, mas para quem pede também.

A fim de alcançarmos nossa meta, ao pedirmos alguma coisa, é

muito importante conhecer a nossa real necessidade. Abusar das

pessoas, pedindo mais do que se necessita, não é justo. Outra dica

importante é gerar um contexto apropriado para se fazer o pedido. Por

exemplo, fazer um pedido a alguém que acaba de receber a notícia da

morte de um ente querido, não é o momento correto. O ideal é fazê-lo

de tal forma que ele seja adequado às habilidades ou competências da

outra pessoa. Por exemplo, não devemos pedir a quem tenha idade

avançada e movimentos restringidos, tomar conta do nosso filho de

quatros anos, hiperativo, que corre pela casa toda e se coloca em risco

o tempo inteiro, subindo nos móveis. Outro ponto importante a

considerar é que, junto com o nosso pedido, também se deve abrir uma

possiblidade de oferta. Já dizia o velho ditado que “uma mão lava a

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Manual para ser alguém

70

outra.” Estar disponível para atender às necessidades de alguém é

fundamental, pois que é uma forma de se manifestar a gratidão.

“Muitas vezes uma pequena oferta produz grandes efeitos. ”

Sêneca

Oferecer é a mão contraria do pedido, ou seja, é estar na posição

daquele que irá atender o pedido de alguém. É o momento que uma

mão lavada, lavará a outra. Algo que desagrada a muita gente,

principalmente, àquelas pessoas que nasceram para serem servidas.

Estar disponível para atender às necessidades dos demais, requer

assumir compromisso. Portanto, da mesma forma que desejamos ter o

nosso pedido atendido, alguém irá esperar ter o seu atendido também,

entretanto, nem sempre levamos isso a sério.

Não é raro que, nas empresas, exista muita gente pouco

comprometida, porque ali estão somente para receber o seu salário no

fim do mês. Este tipo pessoa, normalmente, é boa para pedir, mas

bastante egoísta no momento de oferecer.

Existe um ciclo poderoso que nos conduz para a prosperidade, que

é o do dar e receber. Se olharmos como funciona a natureza, podemos

notar claramente o seu funcionamento. Basta pegar uma semente de

uma árvore frutífera, plantá-la na terra, e todo os dias jogar um pouco

de água, dando o que ela necessita para sobreviver. Num determinado

espaço de tempo, a semente terá se transformado numa árvore, que te

retribuirá com frutas, sombra e pássaros, que pousaram nela para

alegrar o ambiente.

Na vida, tudo funciona de forma semelhante, porém, nós não

escolhemos o que vamos receber de volta, existe uma inteligência

cósmica que nos dará o que necessitamos, no momento certo. Surgirá

alguém, no momento mais inesperado, que terá como nos ajudar para

resolver o nosso problema. O grande segredo é oferecer, cumprir e

deixar de querer algo em troca, porque a vida não faz barganhas, ela

apenas corresponde da mesma forma que, ao plantarmos uma árvore

frutífera, não escolhemos quando os frutos devem nascer e quantos

frutos a árvore deve nos dar.

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Márcio Barreto

71

Desenvolver o ato da oferta, não deve ser um ato para se ter

aceitação ou avaliação positiva de quem quer que seja; é desenvolver o

amor por meio de ações altruístas, simples, porém bastante eficazes;

não é fazer mais do que nos solicitam para impressionar; é atender ao

pedido de acordo como ele nos foi solicitado e em caso de algo mais,

não exigir em troca por isso. A cota extra que podemos dar a alguém,

não nos dá o direito de esperar a cota extras dos outros também.

“Não prometas mais do que podes oferecer. ”

Públio Siro

Quando nos colocamos à disposição de alguém, quando oferecemos

as nossas competências para atender a uma necessidade,

automaticamente, nos comprometemos com quem está contando

conosco. Um compromisso, é uma declaração e por isso mesmo, é ela

dada a quem irá receber nossa ajuda e também a nós mesmos. Falhar

num compromisso assumido é falhar, em primeiro lugar, com nós

mesmos. Para assumirmos um compromisso, basta falarmos explicita

ou implicitamente a palavra sim; pode ser um “Ok!” “Está bem!”

“Estamos juntos!” “Fechado!”, o que for; qualquer expressão que

significa um sim declarado é, portanto, um compromisso assumido, e

não deve haver justificativas para dizer que não houve confirmação da

nossa parte.

Da mesma forma que geramos expectativas em relação aos nossos

pedidos, quem nos pede algo, também, terá suas expectativas geradas,

o que lhes dá o direito de reclamarem conosco se falharmos no nosso

compromisso. Normalmente, exigimos muito de alguém, mas não

toleramos ser exigidos no momento que corresponde; temos a péssima

mania de menosprezar o pedido dos outros dizendo, “Ficou chateada

comigo por uma coisinha à toa!” Da mesma forma que julgamos,

seremos julgados, portanto, o que não há valor para a gente, não

significa que não exista para os demais. “Uma coisinha à toa” para nós,

pode ser de imenso valor para alguém. Quando temos litros de água

em casa, não entendemos o valor de um copo de água para quem tem

sede e nada encontrar para beber.

Page 72: Marcio Barreto

Manual para ser alguém

72

Seja na empresa, na família ou na sociedade em geral, sempre

haverá alguém com o qual iremos assumir um compromisso, seja

espontâneo ou obrigatório - se não podemos dizer não ou se não

sabemos dizê-lo por falta de coragem. Portanto, é importante estarmos

preparados para executarmos a tarefa e entregá-la no momento que

corresponde. E se quem nos pede não nos sabe pedir, tampouco

devemos ser desatentos e aceitarmos o compromisso sem saber o que

realmente devemos fazer. Rejeite um pedido como “Me traga um

sorvete da rua!”, porque se não for assim, agimos por julgamento; e o

que é um julgamento senão uma interpretação, também? Eliminar o

hábito da suposição de nossas vidas, é algo que devemos fazer de forma

urgente. No mundo das redes sociais de hoje, há uma enorme

quantidade de pessoas julgando e condenando as outras, baseadas,

meramente, em suposições. Já sabemos de caso de pessoas que foram

linchadas, nas ruas, por falsas acusações contra ela na internet. Veja a

gravidade deste ato!

O hábito de nos comunicarmos, constantemente, pelas redes sociais

e nos aplicativos de chat, diminuiu bastante a nossa capacidade de

escutar e aumenta a de intepretar nas relações humanas; saber escutar

é primordial para que atendamos os pedidos alheios e possamos ser

atendidos nos nossos. E é por este motivo, que você dever virar a página

e aprender algo bem legal sobre o ato de escutar.

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Márcio Barreto

73

Capítulo 11

A Escuta “Eu gosto de escutar. Eu aprendi muito escutando, cuidadosamente. A maioria das

pessoas nunca escuta. ”

Ernest Hemingway

Pode ser que você ainda não saiba a diferença entre o ouvir

e o escutar. Caso não saiba, te explicarei, com a prática, qual é a

diferença entre ambos.

Você está lendo este livro, adorando-o, e se ao seu redor pode haver

uma televisão ligada, um rádio tocando uma música, várias pessoas

falando e barulho de trânsito. A sua concentração nesta leitura, apenas

te permite ouvir que há ruídos à sua volta. Mas se você mudar o seu

foco, neste momento, e prestar a atenção aos sons, você irá escutar

quem está falando, qual é o programa na TV, identificará qual música

está tocando no rádio e se na rua está passando um caminhão, um carro

ou uma motocicleta etc. Expliquei claramente?

Ouvir é um atributo do corpo no seu perfeito estado de

funcionamento, porém, escutar, é um atributo da interpretação, já que

utilizamos vários filtros que possuímos, tais como as referências ou

experiências. Saber distinguir entre o motor de uma motocicleta e de

um carro pode ser fácil para muitas pessoas, mas saber se a motocicleta

é uma Harley Davidson, por exemplo, somente alguns são capazes de

distinguí-lo, porque é necessário ter o filtro da referência. É preciso

saber que o fabricante usa determinado recurso padrão, para produzir

um som especifico no cano de descarga da moto, a fim de diferenciar o

ruído dela das demais.

Existem outras influencias que atuam no momento em que o ser

humano escuta como, por exemplo, o local de origem do nascimento, a

cultura onde viveu ou vive, as emoções, os valores, os princípios, os

julgamentos, as crenças, o intelecto, a sabedoria e os interesses próprios.

Por exemplo, um indígena sabe distinguir perfeitamente os sons dos

animais na floresta, seus estados de ânimo etc., enquanto que nós,

Page 74: Marcio Barreto

Manual para ser alguém

74

ouvimos apenas ruídos estranhos. Podemos saber que é um pássaro,

mas o indígena sabe qual é o pássaro e até o seu sexo, se bobear!

A interpretação, também é um fator que possui uma forte influência

na arte de escutar. Você conhece a célebre frase que diz “Cada um

escuta o quer?” Pois bem, serei mais claro contando um caso real.

Conheci uma pessoa que sempre se enfurecia, quando o sindico do

edifício batia à sua porta para pedir o comprovante de pagamento da

taxa do condomínio. A interpretação dela, ao ouvir o pedido do sindico,

era “Você está me chamando de caloteira?” Quando, na realidade, o

que ele queria era comprovar ao banco que a quota mensal do

condomínio dela estava em dia, e que o banco não havia repassado o

valor dela para a conta corrente do edifício.

Agora ficou mais fácil de entender por que há tanta confusão na

comunicação humana? Talvez você tenha vivenciado uma experiência

na qual você ou a outra pessoa disse, “Não foi isso que eu quis dizer!”

O problema não foi no dizer, foi no escutar.

Eu vou colocar ênfase somente no ato de escutar já que, não saber

escutar, nos faz julgar e concluir que o problema está do outro lado e

não, conosco. Quando falamos, “Eu não te ouço!”, significa que não

somos capazes de decifrar o que a outra pessoa diz. Porém, quando

falamos, “Eu não te escuto!”, queremos dizer que não prestamos a

atenção no que alguém está nos dizendo.

Quantas vezes escutamos a nós mesmos? Quantas vezes escutamos

os conselhos que damos aos outros e não os utilizamos em nossas

vidas?

O grande estadista britânico, Winston Churchill, disse com a sua

sabedoria, que devemos ter coragem para nos levantarmos e falar o que

pensamos, mas que devemos ter muito mais coragem para nos

sentarmos e escutar o que os outros têm para nos dizer.

No ato da escuta é onde colocamos muito do que há em nós; nossas

crenças, nossas vivências e, portanto, nosso mundo interior. Nossos

canais sensoriais se ativam, já que escutar também inclui a visão,

porque captamos muito mais do que a voz de quem nos fala. Olhamos

os olhos, o corpo, as mãos e os gestos que nos comunicam nas conversas

presenciais.

Page 75: Marcio Barreto

Márcio Barreto

75

As influencias da ansiedade e do ego, nos fazem pensar no que

vamos dizer depois que a outra pessoa terminar de falar, é a nossa

vontade de mostrar que estamos certos, que sabemos muito e, assim,

não percebemos as sutilezas das mensagens que nos chegam, não

somente com a voz; também não escutamos com os demais sentidos e,

devido a isso, muitas vezes geramos conflitos desnecessários, por

estarmos dando valor ao nosso eu. A razão é muito importante neste

momento, pois que é ela quem freia as emoções, combate as

interpretações e julgamentos na hora de escutarmos. Graças a ela,

podemos escutar o que não foi dito.

Quando ouvimos Gilberto Gil cantar Estrela, onde ele diz, ”...Deus

fará absurdos com tanto que a vida seja assim. Sim, um altar, onde a gente

celebre tudo o que Ele consentir. ”, o que escutamos realmente? São meras

palavras ou uma mensagem profunda que nos diz, sejamos gratos na

vida, com a vida e pela vida? Porque Deus trabalha para atender às

nossas necessidades morais, intelectuais, materiais e espirituais, não os

nossos caprichos. Sejamos humildes e digamos graças sempre!

Muitas vezes escutamos poucas palavras, porém com elas, chegam

ensinamentos profundos que nos pedem momentos de meditação para

entendê-los. Uma referência são os filósofos que, com frases curtas, nos

dão pauta para longas dissertações. “Conheça-te a ti mesmo”, por

exemplo, atribuída erroneamente a Sócrates, é um manancial de

informação mesmo sendo tão breve.

O ato de escutar deve ser apurado, porque na comunicação existe

algo muito importante que é a captação daquilo que não foi dito

diretamente e, inclusive, omitido; lembrando que a sinceridade nos

falta em muitos momentos. O sentimento de vergonha nos faz, muitas

vezes, encontrar meios de dizer sem falar, de revelar sem a

transparência da narração.

Escutar, é mais que decodificar mensagens por meio de qualquer

sentido, é também uma postura na vida, já que a nossa crença é um

importante agente, que converte a comunicação num ato de agressão

sem que ela exista. Quando levamos tudo para o pessoal, por sermos

sempre as vítimas, os excluídos, os atacados, os estagnados, os

questionados, por exemplo, a nossa escuta sempre buscará o meio de

detectar alguma agressão, acusação ou crítica onde elas não existem.

Page 76: Marcio Barreto

Manual para ser alguém

76

Você se lembra do caso narrado, anteriormente, entre o sindico

acusador e a moradora caloteira?

Estamos vivendo uma era de bastante deturpação no ato de escutar,

devido aos pontos de vista extremistas que há na sociedade, onde há

muita intepretação perante aos fatos, isto porque, uma parte da

população anda sempre com as suas armaduras postas, pronta para a

batalha. Portanto, muita gente espera detectar algo que as motivem a

lutar pelas suas “causas”. De forma comparativa, da mesma forma que

há quem olhe para um jardim de rosas e veja somente os espinhos,

também há quem escute agressões onde exista a pureza de intenções.

Muitas vezes, escutamos para discordar, perceber as ameaças,

detectar as debilidades da outra pessoa, a fim de percebermos que

vantagem podemos tirar da situação, a fim de explorarmos as fraquezas

alheias. Isto prova que o carácter, também, é um filtro que converte um

ato comunicativo num conflito. Assim nasce o “Não foi isso o que eu

quis dizer!” na outra parte.

O ato de escutar, também, está relacionado ao compromisso que

assumimos numa comunicação. Por exemplo, uma agradável palestra

pode ser um sermão para quem não tem comprometimento com o

assunto abordado.

A partir do exposto acima, e que não é tudo em relação a esta parte

importante da comunicação, faça as seguintes perguntas a ti, diante de

um espelho e as responda: O que eu escuto quando escuto? Somente

palavras? O tipo de linguagem? As emoções? Os gestos? O que me

exalta? O que me fere?

A minha intenção é que todos nós melhoremos a nossa capacidade

de escutar, já que as palavras, por meio da linguagem, são profundas

geradoras de oportunidades, portanto, quanto mais nos conhecemos,

melhor escutamos e ao sabermos escutar, melhor podemos atuar na

vida em diferentes situações.

Detalho abaixo, três modalidades básicas de escuta existentes, que

nos auxiliam ou nos prejudicam, dependendo de cada situação dentro

de um contexto.

A primeira modalidade de escuta é a prévia, aquela onde sempre

nos antecipamos, sem sequer respeitar o término da fala alheia. É

quando colocamos nossos julgamentos, provenientes de nossas crenças

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Márcio Barreto

77

explicadas anteriormente. É nesse momento, que nos precipitamos e

falamos “Ah, entendi!” “Já sei o que você quer dizer!” “Você está

duvidando de mim?” “Mas eu não te disse isso! ”

Quando duas ou mais pessoas estão em escuta prévia, a discussão é

inevitável, o conflito surge de imediato e o “Não foi isso o que eu quis

dizer!, é o que mais se fala de ambas partes.

A segunda modalidade de escuta é a recreativa, aquela que usamos

quando estamos na posição passiva de ouvintes, tratando de tirar o

máximo de informação possível do que é dito. Neste tipo de escuta, não

interpretamos e emitimos julgamentos, ao contrário, fazemos

perguntas que despertam o interesse em quem nos fala, já que há uma

clara percepção de que existe uma atenção sendo dada, muito embora

não damos conselhos. Neste tipo de escuta, a pessoa que nos narra, põe

para fora o que nela precisa ser dito, seja qual for o motivo. O nosso

papel é desfazer o nó, fazendo perguntas iniciadas com quem, como,

quando, o que, quanto, onde, ou seja, abrindo possibilidades para que

entendamos melhor o contexto narrado.

A terceira modalidade de escuta é a comprometida, aquela que se

assemelha à anterior, onde também não damos conselhos, mas

colocamos em desafio as crenças e os julgamentos da outra pessoa em

evidência, para que ela possa identificar a trava que a impede de ser,

de fazer e ter o que ela busca. Neste caso, a colocamos dentro do

labirinto de espelhos com intenção de mostrá-la o seu mundo interior,

o que precisa ser conhecido. Esta modalidade é bastante usada nas

sessões de coaching antológico.

Por meio da escuta podemos ser duros, decisivos, intolerantes com

os problemas, porém, sendo amáveis, criteriosos, objetivos com as

pessoas, ajudando-as a enxergar as soluções, permitindo-as crescer

constantemente.

Somente por meio da escuta recreativa, é que podemos atingir um

nível de comprometimento eficaz, fazendo desse sublime exercício,

uma forma caridosa de auxílio ao próximo, ajudando-o a encontrar as

soluções que busca, e abrindo-lhe as portas para o passo importante na

sua vida. Ou seja, a nossa principal meta é deixar de lado as crenças e

os julgamentos que desviam a escuta para o caminho que nos favorece.

A escuta comprometida que usamos para beneficiar o próximo, deve

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Manual para ser alguém

78

ser a mesma que devemos usar nas conversas que temos com nós

mesmos.

Quero te lembrar que, o comprometimento conosco ou com alguém

é, sobretudo, um ato de confiança, onde colocamos a nossa real imagem

à prova, onde mostramos quem realmente somos e não, quem fingimos

ser. Não podemos sustentar, durante muito tempo, um personagem

criado para estarmos em dia com a sociedade. E por falar em confiança,

o próximo capítulo eu o dedico a ela, portanto, não desanime e vire a

página já!

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Márcio Barreto

79

Capítulo 12

A Confiança “A confiança em si mesmo é o primeiro segredo do sucesso. ”

Ralph Waldo Emerson

Somente podemos conquistar a confiança dos outros,

quando confiamos em nós mesmos. Confiar, é um ato que nem

sempre nasce do racional. Se assim fosse, seria impossível confiar em

alguém sem nenhuma prova para tal; assim se conclui que confiar

também trafega pelo sentimento.

Sentir confiança e ter confiança nascem em duas nascentes

diferentes na mente humana: uma pela sensibilidade e a outra pela

convivência. Para ambas situações, confiar, algumas vezes, poderá ser

um risco e até uma decepção.

A autoconfiança é um dos maiores atributos que podemos

desenvolver em nós, se quisermos realizar os nossos sonhos. Os

grandes nomes da história mundial, confiaram em si para que tivessem

seus nomes registrados no livro dos transformadores do mundo.

Infelizmente, nem todos fizeram boas obras. Será que os Steves (Jobs e

Wozniak)6 imaginaram, um dia, a que nível chegaria a empresa que eles

fundaram, apenas por confiar nas suas capacidades de criar, melhorar

ou inventar?

Quando partimos da certeza que somos ou podemos, não tememos

o porvir, os compromissos que assumimos na vida, seja qual for a nossa

empreitada. Pode ser algo simples, como iniciar um relacionamento ou

um complexo, como uma empresa. Quantos relacionamentos

terminam, nos primeiros meses, por falta de confiança? Quantas

empresas não quebram por falta de confiança do dono, ante a sua

capacidade de contornar as situações difíceis?

Um dos grandes mestres do coaching, Tony Robbins, narra no seu

livro, Desperte o Seu Gigante Interior, a traição que ele sofreu de um sócio

no qual ele confiou. De repente, ele se viu com uma dívida de duzentos

6 Foram os fundadores da Apple.

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Manual para ser alguém

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e cinquenta mil dólares para pagar, e enquanto muita gente o sugeriu

decretar falência, ele foi na mão contraria, confiou em si e não só pagou

a dívida, como se tornou um milionário.

Confiar em nós mesmos, é olhar para futuro com curiosidade e não

com temor; é esperar do desconhecido o que ele tem para nos mostrar;

é saber aceitar o risco como oportunidade de aprendizado, algo que o

Tony Robbins fez quando se viu endividado. Perguntou a si mesmo em

que ponto ele tinha falhado, e foi quando se deu conta que lhe faltou

mais averiguação antes de aceitar o homem que o trapaceou como seu

sócio. Para quem confia, o futuro é uma caixa mágica cheia de ótimas

oportunidades de crescimento, enquanto que, para o desconfiado, o

futuro é um museu de grandes novidades, já que significa ver os

mesmos resultados do passado.

Ao final, o que realmente é a confiança? Uns dirão que é crer; outros

afirmarão que é algo que se sente; alguns têm a certeza de que é algo

que uma ou mais pessoas constroem numa relação. Há quem diga que

é uma fé cega ou um estado emocional sobre alguém, quando existe

uma boa relação.

Você se lembra do julgamento? Podemos considerar a confiança

como aquilo que julgamos ser? Em algum momento, depois de haver

contado a alguém sobre a sua decepção com determinada pessoa, você

escutou isto? “Como você foi capaz de confiar nessa pessoa? Eu jamais

teria confiado nela! ”

Se já te disseram isso alguma vez, posso afirmar que ela se julgou

como certa e que você errou ao confiar em tal pessoa. Não existe certo

ou errado, quando existe uma interpretação e logo um julgamento.

Lembremos que, quando duas pessoas olham para uma rosa, a mesma

flor é vista de uma forma diferente, sendo a mesma rosa. Alguém está

certo por viu os espinhos? Alguém está certo porque viu as pétalas? O

que nos faz olhar para as pétalas ou os espinhos, está relacionado

diretamente com o que somos no momento. Talvez, uma pessoa

negativa considere os espinhos como uma parte negativa da flor; talvez,

uma pessoa positiva considere as pétalas como uma parte positiva da

flor. Nossos filtros interiores determinam o que nos interessa observar

do mundo externo.

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Márcio Barreto

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A partir do momento em que chegamos à conclusão de que a

confiança é um julgamento baseado em interpretações, acerca de

alguém ou algo, podemos usar determinados recursos para melhorar a

nossa capacidade de escolha e entregar a quem corresponde, a nossa

confiança. Isto não significa que o risco deixará de existir, já que não

podemos controlar as emoções, pensamentos e ações dos outros.

A primeira observação que devemos fazer é a confiabilidade, ou

seja, saber se realmente há algum relato que denigra a reputação da

pessoa ou coisa na qual devemos confiar. Devemos buscar algum

histórico sobre a falta de compromisso, por exemplo. Obviamente, nem

sempre isto será possível!

A segunda observação deve ter foco na sinceridade; de alguma

forma saber se houve atos de desonestidade por parte de quem

queremos confiar. Não falo aqui de interpretação e julgamentos, senão

de fatos.

A terceira observação deve está centrada na competência de quem

desejamos confiar. Não devemos deixar o nosso jardim nas mãos de

quem não entende de jardinagem.

A quarta observação dever ser no comprometimento. Como

podemos saber, se aquilo o que foi prometido fazer a alguém, o fez

realmente? O boca-boca é um meio pelo qual sabemos de muitas coisas

boas ou ruins que uma empresa, uma pessoa faz ou fez. As redes e

mídias sociais são ótimos veículos para se obter muita informação. Mas

lembre-se de observar somente os fatos e não os julgamentos.

Quero te lembrar como se separa o fato do julgamento. Quando

dizemos que o carro é azul, do ano 92, isto é um fato. Quando dizemos

que ele é feio, nada confortável, brega, etc., isto é um julgamento.

Aquilo que não pode ser mudado ou dito ao contrário, é um fato. Há

um registro que o comprova.

É muito importante saber que, tudo aquilo o que observamos nos

outros, devemos, também, observar em nós mesmos, ao momento de

assumirmos um compromisso. O nosso grau de confiabilidade,

também, será interpretado e julgado. Dado ao julgamento alheio,

poderemos não cumprir com as expectativas dos outros, mas o nosso

grau de confiança, em nós mesmos, não deve ser abalado por isso.

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Manual para ser alguém

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Separar o fato dos julgamentos é algo difícil para todos nós.

Naturalmente, somos seres interpretativos.

Espero que agora, possamos entender melhor o quanto é importante

ter confiança em nós mesmos, sabendo que ela pode sofrer abalos com

as opiniões alheias. O nosso maior problema está em querer provar,

constantemente, quem somos, que podemos, que possuímos, a fim de

agradarmos aos gregos e troianos do mundo, o que é bastante difícil, a

partir do momento que uma mesma rosa é uma flor cheia de espinhos

para uns, e ao mesmo tempo, possui pétalas coloridas que exalam um

perfume maravilhoso, para outros.

Nossa competência sempre será posta em prova, portanto, se

confiamos em nós mesmos, nos guiaremos, faremos o que viemos fazer

neste mundo e por mais que nos chamem de loucos, seremos

determinados até o instante da nossa partida desta vida carnal.

O nosso principal desafio é gerar confiança em nós e em quem

deseja confiar em nós. Para isso, ser honestos com nós mesmos é ser

diretamente honestos com os demais. Como posso querer receber

julgamentos positivos, se eu assumo um compromisso que não sou

capaz de realizar? Logo, a confiança gera confiança. A honestidade gera

honestidade. A segurança gera segurança. Quando definitivamente

entendermos que tudo começa em nós, deixaremos de observar os

outros e cuidaremos do nosso mundo interior. Nos preocuparemos em

preservar a nossa imagem perante a nós mesmos, antes de querermos

provar, frequentemente, aquilo que não somos para os outros. Este é o

maior desastre que causamos em nossas vidas, já que esquecemos o ser

muito importante e de imenso valor no mundo: NÓS!

Como o ato de confiar nasce das emoções e dos fatos, podemos

utilizar uma ferramenta que também nos apoia para escolher confiar

ou não em alguém. O exercício é explicar o motivo que facilita ou

dificulta confiar em alguém, fundamentando um ou outro por meio de

fatos ou julgamentos. Exemplo: “Me facilita confiar na Fernanda,

porque sempre que ela se comprometeu comigo, ela cumpriu com a sua

promessa e jamais falhou.” “Me dificulta confiar no Renato porque,

pela terceira vez, ele não me trouxe o livro que ele me prometeu

emprestar.” Dessa maneira, olhamos para os fatos e não para as

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pessoas com as quais temos um certo grau de relação, o que nos faz,

muitas vezes, fecharmos os olhos para a verdade.

Creio que agora fica mais fácil enxergarmos os motivos que nos

levou a confiar em A ou B, e chegarmos à triste constatação de que

confiamos em quem não deveríamos. As emoções, muitas vezes, nos

fecham os olhos, nos abrem a boca, nos tapam os ouvidos e acabam por

anular a nossa capacidade de perceber e atuar com equilíbrio de forma

racional.

E por falar em emoções, dedico o próximo capítulo a este atributo

da alma. Siga em frente na sua leitura, não desista, para conhecer

melhor as suas emoções!

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Capítulo 13

As Emoções “Se o tempo envelhecer o seu corpo, mas não envelhecer a sua emoção, você será

sempre feliz. ”

Augusto Cury

O que é uma emoção? Muitas vezes confundidas com

sentimentos, elas nascem a partir de um estimulo do mundo

exterior ou interior. Elas, muitas vezes, comandam as nossas ações e

nos fazem ver as coisas e as pessoas pela ótica da nossa interpretação.

A partir delas, nascem os julgamentos.

Quando exposto a alguma emoção, o nosso cérebro libera

hormônios que alteram no nosso estado emocional e provocam reações

físicas como tremores, choro, enjoos, suor, aumento ou queda de

pressão e até dores pelo corpo.

As emoções são pessoais ou melhor dizendo, um mesmo fato pode

gerar emoções diferentes em várias pessoas. Um salto de paraquedas,

não gera as mesmas emoções em todas as pessoas. Tudo dependerá do

sistema de crença que cada um carrega em si. Uma pessoa medrosa e

pessimista verá a sua morte na certa e nem subirá no avião. Uma pessoa

medrosa, porém, curiosa, pelo menos se arriscará subir no avião, sem a

certeza de que irá saltar. Uma pessoa precavida, mas otimista e

aventureira, superará as emoções contrárias e saltará em busca do

prazer. Pode ser que, quem não subiu no avião, por medo da morte,

morra atropelada na calçada; e quem saltou a vida inteira, morra

dormindo. Como saber quando chegará a nossa hora? Por qual meio?

Para muitos, é bem frustrante ter dinheiro e não conhecer o mundo

inteiro, por medo de viajar de avião.

Como identificar uma emoção de um sentimento? O sentimento

nasce a partir de um estimulo emocional. Os sentimentos, muitas vezes,

geram as nossas emoções também. Vamos ao caso do salto de

paraquedas acima. Para quem vive de aventura excitante, o sentimento

de bem-estar nasce a partir dele. Para quem evita subir no avião, por

pânico, o sentimento de insegurança é quem o domina. Se o sentimento

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de insegurança existe, ele poder gerar o estado emocional de medo, em

muitas ocasiões, na pessoa. Ao contrário da emoção, é possível omitir

os sentimentos e estes podem durar muito tempo, enquanto que a

emoção, surge a partir de um estimulo externo ou interno e desaparece

pouco tempo depois. As emoções podem ser primárias, secundarias ou

de fundo.

As primárias, são aquelas mais perceptíveis por quem está nossa

volta, são elas que nos fazem perder o controle nas ações e palavras.

As secundárias, são aquelas que podemos disfarçar com certo

esforço, como o nervosismo, vergonha ou a culpa. Vale lembrar que as

emoções também são subjetivas, ou seja, podem ser primarias para uns

ou podem ser secundarias para outro, vice e versa.

As emoções de fundo, são aquelas quase que invisíveis até para nós

mesmos. Nos provocam um sentimento bom ou de mal-estar, sem que

possamos identificar a emoção de imediato. A angústia e a calma fazem

parte desta categoria.

A emoção, sendo instantânea, nos torna difícil a tarefa de saber o

que a desencadeia; simplesmente, sentimos os reflexos dela em nós

mesmos, considerando que alguém ou algo os sinta também. Coisas

como xingamentos, insultos, ou atitudes de agressão em geral, como a

violência física e a destruição de objetos. Portanto, é muito importante

saber o que fazer com elas, já que as impedí-las é impossível. Seria tão

insano, quanto tentar impedir a propagação das ondas no mar. As

emoções são as necessidades da alma, assim como a sede e a fome são

as necessidades do corpo.

Tony Robbins, no livro Desperte seu Gigante Interior, defende a tese

de que todos nós possuímos algumas regras, e quando essas regras são

violadas, desencadeiam as emoções em nós. Essas regras são formadas

pelo nosso sistema de crenças, coisas tolas ou que estão diretamente

relacionados à cultura de uma sociedade. Para melhor entendermos o

conceito, vamos aos exemplos: vá no Japão e tente abraçar uma pessoa,

japonesa, para que se conheça a regra dela. Certamente, a pessoa irá

reagir com desagrado já que não há essa “intimidade” entre as pessoas

por lá, como há em alguns países ocidentais, sobretudo, no Brasil, onde

não há quebra de regra por este tipo de ação entre pessoas. Pode ser

que daqui há algumas décadas, os japoneses adotem este tipo de

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Manual para ser alguém

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cumprimento entre eles e será possível ver as pessoas segurando

cartazes escritos, abraços grátis, nas ruas. Por enquanto, continuará

sendo o cumprimento com a curvatura do tronco para frente e nada

mais. Outro tipo de regra mais simples pode ser “Não tolero quem

grita comigo.” Ou seja, sempre e quando alguém levantar a voz para

uma pessoa que possua esta regra, desencadeará uma emoção de raiva

nela, o que pode gerar consequências imprevisíveis. Com isso, o autor

diz que o desencadeamento das emoções não está relacionado ao que

fazemos com a pessoa, senão, com a violação das regras que ela possui.

Quais são as suas regras?

A Dra. Bárbara DeAngelis, no livro, Como fazer amor o tempo todo7,

menciona que há quatros estágios, identificáveis, que podem ajudar na

prevenção de um fim de relacionamento afetivo. São os “4R”

emocionais de um conflito amoroso.

1° Resistência - é quando já não aceitamos o que a outra pessoa diz

ou faz; frequentemente, há reprovações ou recusas em relação ao outro.

Nos gera raiva e sentimentos desagradáveis.

2° Ressentimento - a partir de tanta resitência, a irritabilidade passa

ser frequente e a fúria se intensifica cada vez mais. Dai nasce uma

barreira emocional e o distanciamento se inicia.

3° Rejeição - é quando uma carga intensa de ressentimento se

acumula e buscamos diversas formas de atacar a outra pessoa, seja por

palavras ou atitudes. Tudo o que a outra pessoa faz é desapropriado ou

irritante. A separação começa a ser física.

4° Repressão - quando o cansaço ao lidar com a raiva, proveniente

da rejeição, nos faz criar uma barreira de proteção para evitar mais dor

e também qualquer forma de paixão. O relacionamento está quase no

fim.

Se não conhecermos as nossas regras e as regras das pessoas com as

quais nos relacionamos, muitos problemas nos esperam. É necessário

deixa-las claramente visíveis e mais, saber se realmente elas são

permanentes ou podem ser descartadas para termos melhores

momentos dentro da sociedade.

7 Tradução livre do tiulo original How to Make Love All The Time

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Márcio Barreto

87

A partir dessas informações, constatamos que nós, realmente, somos

corpo, emoções e linguagem. Estes são os pilares básicos sobre os quais

estamos estruturados, e não há como viver sem estes três pilares

interagindo, constantemente. Que nos agrade ou não, assim é, e sempre

será, até que conheçamos outra forma de vida.

É frequente, alguém classificar as emoções como negativas ou

positivas. Nada mais é que uma interpretação este tipo de afirmação.

Negativo ou positivo é a nossa atitude a partir do surgimento delas em

nós. Posso sentir raiva, sem que, obrigatoriamente, eu quebre algo,

agrida alguém ou fale um monte de bobagens. Isto é o que quase nunca

ocorre, o que nos faz definir que a raiva é negativa. Volto a lembrar que

não existe um comportamento padrão para as emoções, é pura

subjetividade. Uns choram de alegria, outros de tristeza; uns riem com

medo, outros gritam e se urinam. Se queremos saber quem somos, não

podemos reprimir as nossas emoções, somente as ações provenientes

delas, as que não são bem vistas na sociedade, seja por lei ou por uma

questão ética.

O psicólogo, Paul Eckman, depois de muito pesquisar, constatou

que os seres humanos possuem sete emoções básicas,

independentemente das suas culturas: a alegria, a tristeza, o medo, o

nojo, a surpresa, a raiva e o desprezo, sendo este último para afirmar

status, prioridade e autoridade sobre os demais. Porém, alguns outros

pesquisadores incluíram a ternura, o erotismo e a gratidão, como

emoções frequentes em nós.

Segundo o psiquiatra americano, David Burns, para sairmos de um

bloqueio emocional, que consideramos como negativo, é fundamental

que retornemos à origem dessa emoção que nos casou o bloqueio. Por

exemplo, um acidente carro pode ser a origem do trauma de uma

pessoa por não querer começar ou voltar a dirigir. É necessário

voltarmos no momento do acidente, pela perspectiva da razão, olhando

para o momento, como quem assiste um filme, a fim de entendermos o

que sentimos e por que a emoção nos bloqueou. Um profissional

capacitado pode nos auxiliar a encontrar essa trava emocional,

libertando-nos dela para começarmos ou voltarmos a dirigir. O medo,

é uma emoção que pode durar muito tempo em nós, portanto, sendo

confundido com um sentimento.

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Manual para ser alguém

88

A partir das emoções, nascem os estados de ânimo e são eles que

nos estimulam a realizar as nossas ações. Eles surgem a partir de

estímulos internos ou externos, sobretudo, da natureza ou do ambiente

no qual estamos. Estar na natureza, pode ser relaxante para uma

pessoa, mas para outra, pode ser motivo de tensão, dependendo de

suas referências neste mesmo ambiente. Se ela foi picada por um inseto,

se acidentou ou escutou relatos de sofrimento causado a alguma

pessoa, possivelmente, estas referências a acompanharão neste

ambiente, colocando-a em estado de alerta, ou seja, o estado de ânimo

de tensão provirá da emoção do medo.

Menciono alguns fatores que influenciam nossos estados de ânimo

diariamente: O clima, as horas, as estações do ano, o ambiente de

trabalho, a situação econômica do país, uma notícia, ambientes muito

fechados e cheios, os dias da semana etc. Isto significa que sempre

estamos sob a influência de algum estado de ânimo em todo momento.

Se não nos sentimos bem como estamos, podemos identificar qual é o

fator que nos coloca em determinado estado de ânimo e que emoção

nos guia. Nosso corpo e a nossa linguagem, sempre correspondem ao

estado de ânimo em que nos encontramos. Uma pessoa deprimida não

gesticula ou caminha e, tampouco, se expressa como uma pessoa no

estado de euforia, cheia de alegria. Lembre-se que somos corpo, emoção

e linguagem.

Quando detectamos uma mudança no nosso estado emocional, o

primeiro a perceber a mudança é o nosso corpo, antes mesmo da

linguagem falada. Se no seu trabalho, o seu chefe te chama pelo telefone

e diz “Venha urgente na minha sala!” O que diz o seu corpo? Ele

também pode mudar o nosso estado emocional, o que significa que, se

um estado emocional não nos agrada, sabemos que o corpo é uma

grande arma para modificá-lo. Que estado emocional te toca quando

você dança ou faz um exercício físico? E quando você brinca com uma

criança ou anda de bicicleta, o que acontece? Essa tríade corpo, emoção

e linguagem se interagem de tal forma que um modifica o outro, basta

experimentar. Um exemplo: a minha enteada, que é enfermeira, repete

“Eu sou boa!” , várias vezes, quando um paciente, exigente, a chama a

cada cinco minutos para lhe pedir algo. Dessa forma, ela muda o seu

estado emocional de desagrado para o de altruísmo, afinal, quem está

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hospitalizado pode estar em estado de ânimo bem desconfortável e se

tornar alguém bem carente de atenção, ainda mais estando sem um

acompanhante.

No mundo em que vivemos, existe aquilo que é factível ou possível,

ou seja, existem coisas que, dificilmente, poderão mudar e existem

outras que são totalmente possíveis. Você pode estar numa relação com

uma pessoa tóxica, que dificilmente irá mudar (factível), ou seja, algo

que não está sob o seu controle. O que fazer? Você pode terminar a

relação (possível) e esperar que a vida te apresente outra pessoa que se

adeque ao seu estilo de vida. Ou seja, há diversos fatores que impedem

as mudanças: podem ser biológicos, políticos, econômicos, ambientais,

sociais, temporais, caráter, personalidade, culturais etc., porém,

existem tantas possibilidades que nos abrem portas quando, por

motivos factíveis, elas se fecham.

Como nos relacionamos com o que é factível e possível? Muitos

podem ser os estados de ânimo que podemos sentir, entretanto, eu

citarei quatro que, normalmente, podemos perceber facilmente.

O primeiro é o ressentimento, o estado que nos estagna já que

ficamos parados num determinado momento do passado e julgamos

que nada podemos fazer para modificá-lo. Quando estamos em estado

de ressentimento, deixamos nas mãos de outras pessoas, ambiente ou

situações a responsabilidade que nos compete para sair de onde

estamos. A mágoa, a culpa, a falta de perdão, a inconformação, por

exemplo, muitas vezes nos fazem ressentir momentos de anos atrás.

Podemos passar uma vida inteira culpando os políticos pela vida difícil

que temos, porém, muita gente, diante dessa mesma circunstância ou

em situação pior que a nossa, pode ser capaz de prosperar, somente por

entender que é possível ter sucesso sem a ajuda de um político. Basta

mudarmos o foco, e em vez de olharmos para o factível, olhamos para

o possível e fazemos as coisas acontecerem. Se aceitamos as coisas e as

pessoas como elas são, deixamos de querer controlar o mundo e

passamos a controlar a nós mesmos, o que ,às vezes, não é nada fácil.

O segundo estado de ânimo é a resignação. O sentimos depois de

chegarmos à conclusão que nada pode ser mudado (interpretação).

Entramos neste estado acreditando que nada pode ser feito, porém,

quem está de fora, vê claramente que há muitas opções para modificar

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Manual para ser alguém

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a situação. Estar em estado de resignação, não significa estar em paz;

normalmente, é estar em estado de ressentimento, buscando a quem

culpar. Nos esquecemos que somos co-criadores na nossa trajetória,

temos sonhos, desejos e vontades que nos movem, contudo, se não

usamos o poder de declarar o que queremos e fizermos o sacrifício que

nos compete, seremos os eternos resignados.

O terceiro estado de ânimo é a aceitação, ou seja, é um passo que

damos para sairmos do ressentimento e aceitarmos como somos e

aonde estamos. É poder admitir as nossas debilidades, medos,

inseguranças, virtudes e fortalezas, e termos a certeza de que existem

muitas possibilidades à nossa espera, basta que as busquemos.

Lembrando que, para sairmos do ressentimento, o perdão é o melhor

caminho e perdoar, significa tirar a corrente do próprio pescoço para

entrar em estado de paz.

O quarto estado de alma é a serena ambição. Muitos veem a

ambição como um pecado e que não devemos permitir sua existência

em nós. No entanto, a serena ambição é ir em busca do que queremos,

sem atropelar a ninguém, nem o tempo e às circunstâncias. É ter a

certeza que tudo nos chegará à medida que vamos investindo tempo,

inteligência e esforço, sem deixarmos que a ansiedade nos domine e nos

estimulem a querer buscar atalhos para alcançarmos nossas metas

muito mais rápido.

Se soubermos usar cada estado de alma, acima citados, ao nosso

favor, onde tudo antes era factibilidade, muitas possibilidades se

abrem. Nada pode ser pior do que não admitir quem somos, onde

estamos e por que estamos.

Buscar culpados no mundo exterior, viver o personagem da vítima

da vida, da sociedade, da família, do que for, só nos faz sentir raiva de

tudo e Deus, inclusive. E por falar em raiva, dedico o próximo capitulo

exclusivamente a esta emoção.

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Márcio Barreto

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Capítulo 14

A Raiva “Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em

alguém; é você quem se queima. ”

Buda

Quando sentimos raiva, temos o direito de senti-la, mas isto

não nos dá o direito de sermos cruéis. Este sentimento pode

nascer de uma expectativa não alcançada, de uma interferência que

atrapalhou a nossa conquista, de uma falta de respeito etc. É uma

energia que muitas vezes a acumulamos, por crermos que a raiva é uma

emoção ruim, quando na verdade, o ruim é como atuamos sob o efeito

dela. Por certo, que a sua carga emocional não é agradável e nos

convém mais entendê-la do que agirmos motivados por ela. Muitas

vezes, despertamos a raiva em nós pela certeza que nunca somos

responsáveis pelos fatos que nos acontecem, e que os outros são os

protagonistas do seu despertar.

Mencionei, anteriormente, que todos nós possuímos as nossas

regras e quando elas são violadas, a raiva também é uma emoção que

surge em nós. Por isso, é importante entender que uma regra poder ser

eliminada, a raiva não. Querer que o mundo e as pessoas mudem para

que não sintamos raiva, é um equívoco a ser corregido.

A maioria de nós descarrega sua raiva com ações agressivas ou com

palavras ofensivas, não somente nos outros como em nós mesmos.

Quem nunca se xingou ou se chamou de besta por ter cometido uma

falha? A raiva também provém do orgulho, da baixa autoestima e das

inseguranças que levamos internamente. Sendo assim, é fundamental

conhecer a origem da raiva, porque ela é uma mensageira que está para

nos ajudar e não para nos entorpecer de energia desarmônica. Para isto,

é necessária a honestidade ao olharmos para ela, o que só podemos

fazer estando dentro de um “labirinto de espelhos”. Da mesma forma

que não podemos responsabilizar alguém pela nossa sede, a raiva,

também, tem origem dentro de nós, ainda que os fatores pelo seu

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Manual para ser alguém

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surgimento sejam externos. Podemos responsabilizar alguém que nos

negou um copo de água, mas não pela sede que sentimos.

O que você faz para descarregar a sua raiva? Como se expressa para

que alguém saiba que você está se enraivecendo? O que você quer que

aconteça com a pessoa pela qual você sente raiva? E o que você faz para

que passe a sua raiva? O que fazer para que a raiva se torne produtiva?

Vamos imaginar que a raiva é um gás e toda vez que a sentimos,

deixamos este gás retido em nós. Qual será a consequência, ao

armazenarmos este gás, cada vez que ele tem vontade de sair? Ele

começa a nos intoxicar por dentro e provoca um efeito chamado de

implosão8, o que nos causa enfermidades físicas e mentais. Ao

contrário, se permitimos que este gás saia com toda pressão, o efeito é

de uma explosão e o intoxicado passar ser outra pessoa, ainda que ela

não seja a responsável por isso. Lembre-se que sempre buscamos a

quem responsabilizar!

Concluindo, se retemos o gás ele nos intoxica e se o deixamos sair

intoxicamos os outros. O que fazer então? Parece não haver uma saída,

certo? Mas há uma saída e ela é deixar o gás sair, contudo, sabendo o

momento exato e como o deixamos sair.

Imagine que guardamos o gás em diversas oportunidades que era

necessário deixá-lo sair, até que um dia a pressão interna é tamanha que

já não o suportamos mais. De repente, uma criança inocente derrama

um copo de água em nós... Buuum! Pobre criança! Será gravemente

intoxicada, sem entender o motivo da nossa reação, algo que ficará

marcada na memória dela para o resto da vida. Você já protagonizou

algo similar ou recebeu o gás tóxico de alguém?

Diz a lenda, que uma jovem criança adora cantar, seu sonho era ser

uma cantora. Num determinado dia, a criança cantarolava feliz porque

que a sua mãe estava por chegar, depois de um largo turno de trabalho

no hospital. Entretanto, sua mãe ao chegar em casa, estressada e

carregada de raiva por tudo que enfrentou no trabalho, o que ela mais

queria era silêncio e cama. Mas ao perceber que a criança não parava

8 Rebentação de explosivos que provoca uma demolição centrada para dentro.

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de cantar feliz, a mãe, enraivecida, com tremenda energia lhe disse:

“Pare de cantar porque a sua voz é horrosa!” Conclusão, naquele dia o

sonho de ser uma cantora foi destruído.

A raiva nos desperta para que saibamos limitar o nosso espaço, para

que saibamos que temos deveres e direitos, e por isso mesmo, devemos

reclamá-los. Ela também serve como um alerta sincero, a fim de

olharmos para dentro de nós e vermos se o orgulho nos domina, se não

queremos controlar as coisas, os fatos e as pessoas. Serve para dizermos

não e sim quando nos convém. Serve para assumirmos o controle de

nossas vidas, deixando de ser brinquedo nas mãos dos exploradores e

manipuladores.

Muitas vezes, nos convém sentir a raiva, mas sem agirmos

agressivamente, porque muita gente já perdeu a vida por permitir que

o gás tóxico a fizesse perder a razão, essa bendita válvula que controla

o escapamento do gás. O célebre Francisco Cândido Xavier nos ensinou

que, no momento da raiva, o melhor que podemos fazer é enchermos a

boca de água, como forma de disciplinarmos o autocontrole verbal. Isto

é, não é reter o gás e tampouco permitir que ele saia de forma

improdutiva, o que pode nos causar danos e nos outros também.

A raiva, ou qualquer outra emoção, não é boa nem ruim, pois que

uma emoção é uma necessidade da alma; e com o passar do tempo, ela

tende a adormecer à medida que vamos nos conhecendo e a

conhecendo também. Buda dizia que qualquer tipo de insulto, agressão

verbal ou outro tipo de falta de respeito proveniente de alguém, deve

ser um presente recusado e quando o recusamos, ele continua nas mãos

de quem nos queria presentear.

De acordo ao pensamento de muita gente, a raiva é vista como uma

emoção inimiga da nossa felicidade, devido à forma racional que é

usada para entendê-la, sem observar os benefícios que ela nos traz.

Graças a ela, que preservamos a nossa dignidade, estabelecemos os

limites para quem desconhece até aonde dever ir dentro do

relacionamento interpessoal. Também nos avisa que não conseguimos

provocar determinada mudança na vida, que falhamos aos

alcançarmos determinada meta. Quem já viu um jogador socar a grama

depois de perder um gol? O mais importante dessa emoção, assim

como todas as demais, é entendermos que, à medida que vamos

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crescendo espiritualmente, moralmente, nos autoconhecendo, ela entra

em estado de hibernação, já que a nossa capacidade de lidar com

determinadas situações da vida se sustenta sobre a razão. Passamos a

entender que a dor, por exemplo, é um belíssimo instrumento para o

despertar humano; que o sofrimento é uma grande motivação para a

nossa mudança de rumo; que ninguém neste mundo colhe aquilo que

não plantou. Portanto, quanto mais observamos o que sentimos, por

que o sentimos e o que fazer com o que sentimentos, melhor

entendemos que as nossas emoções são todas amigas e mensageiras

divinas, cujo o maior convite que nos fazem é para que entremos no

labirinto de espelhos, apurando a nossa capacidade de encontrarmos

uma saída para os nossos dramas existenciais, dentro de nós mesmos,

sem exigirmos dos outros que o façam por nós. E por falar em exigência,

o quanto você exige de si e dos outros? Esse é o tema do próximo

capítulo, portanto, continue aprendendo um pouco mais sobre você.

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Capítulo 15

A Exigência “Ao confundirmos a exigência com a excelência, não vemos a baixa autoestima em

manifestação. ”

Márcio Barreto

A exigência, nem sempre provém do poder hierárquico que

alguém possui sobre os seus subordinados, algo aprovável dentro

de determinadas relações humanas, quando é necessário estabelecer a

ordem e o respeito na sociedade, nas empresas ou na família.

Para se exigir algo de alguém ou de si mesmo, convém ponderar

para que a exigência não deixe de considerar as limitações que todos

temos. Tendemos a confundir a exigência com a excelência em muitas

situações. Na verdade, por meio da persistência, podemos alcançar o

nível da excelência, já que só por meio de uma prática frequente, uma

disciplina constante e uma motivação exigente, é que podemos atingir

um nível de excelência nos resultados que buscamos.

O ato de exigir é, em muitos casos, a busca pela perfeição que

esperamos dos outros e de nós mesmos, proveniente do nível de

cobrança que há em nós, como consequência da autoestima abalada,

muitas vezes, lá na infância, quando a falta de elogios ou excesso de

críticas enfraquecedoras, nos transformaram em seres incapazes,

segundo a nossa visão em relação aos outros. Tais críticas, fazem parte

do nosso sistema de crenças, hoje. Muito frequentemente, o ser exigente

tem um típico comportamento que oscila entre “Tudo o que eu faço é

excelente!” e “Nada do que faço me agrada!”, ou “Não consigo

encontrar alguém que me satisfaça!” Se todos percebessemos o nosso

nível de exigência para com a humanidade e a vida em geral, seríamos

muito mais gratos e felizes. O que impede a nossa felicidade, é a falta

de satisfação que sempre nos assombra e que nos faz querer sempre

mais, esperar sempre mais, ser sempre mais, ter sempre mais. Ou seja,

o que é demais nunca é o bastante!

Vivemos em busca de metas bastante desnecessárias e, devido a

isso, os relacionamentos amorosos, na atualidade, se tornaram

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insuportáveis porque uns exigem dos outros de forma desmedida. E

para completar, o grau de competição existente entre as pessoas, que

por meio das redes sociais observam a vida alheia, as faz querer aquilo

que não lhes pertence, de querer o que não podem ou não devem,

gerando, assim, alto nível de frustração e depressão. Diversas pessoas

estão em frequentes busca pelo par perfeito que caiba nos seus sonhos,

sem perceberem que procuram pela perfeição que não existe nelas

mesmas. Justamente por isso, encontrar o “amor da minha vida” se

tornou uma missão quase impossível. Só existirá amor, se houver uma

série de benefícios agregados. Confundem seres humanos com

produtos manufaturados.

A exigência é fruto, também, do querer controlar, que por sua vez é

fruto da convicção de que tudo sairá diferente daquilo do que se espera.

Quem gosta de controlar, gosta de exigir dos outros, sem considerar se

o exigido possui as competências para atender seus pedidos. O

descuidado ser exigente, costuma transformar a vida dos exigidos num

grande pesadelo; peca por não colocar limites, não só na exigência que

faz aos outros, como a si mesmo. Acredita, que por ser cobrar demais,

lhe dá o direito fazer o mesmo com as outras pessoas. A exigência é

uma forma ignorante de cumprir com os nossos objetivos, já que nos

faz atuar como máquinas, nos fazendo crer que devemos fazer algo

perfeito sim ou sim, mesmo que nos doa a cabeça ou não, sem

desculpas.

O perfil psicológico do exigente, é a do cavaleiro que monta no

cavalo e o comanda. É aquele que pensa que ninguém mais possui a

capacidade de emitir uma opinião. Muitas vezes, ignora os outros nos

seus direitos, já que a eles somente cabem os deveres. Não admite os

erros alheios e, muitas vezes, se pune por cometer os seus. Confunde a

exigência com a liderança.

O ser exigido, assume o papel do cavalo; faz o que a ele foi mandado

fazer. Se comporta como uma máquina, aceita o comando que lhe

deram sem contestação. Costuma aceitar tudo o que lhe exigem,

entretanto, com o passar o tempo, se esgota já que fez questão de

agradar a todos, sem se autoquestionar em relação ao seu

comportamento de exigido. O que foi a escravidão, senão um período

de exigência sobre aqueles que não tinham o direito de dizer não?

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Quem tende a exigir, geralmente, tem um grande problema no ato da

escuta, já que na postura do cavaleiro, lhe custa escutar a reclamação

do cavalo, que já não aguenta mais caminhar com alguém encima o

tempo inteiro.

Quem exige, gosta de manipular as pessoas, já que nem sempre é

possível controlar tudo e a todos, e por meio da manipulação e a

chantagem emocional, vai movendo as peças no tabuleiro das suas

relações pessoais, na intenção de conseguir o que se quer. São seres

providos de muito cinismo e de uma alta capacidade de dissimulação,

ou seja, são interpretes por natureza, que atuam no teatro da vida com

uma grande capacidade de persuasão e convencimento.

O grande problema, nas relações humanas, nasce quando alguém

crê que é um cavaleiro ou amazonas, enquanto os outros são os seus

cavalos ou éguas. E quanto mais egoísta uma pessoa é, mais exigente

ela se torna porque, afinal, ela pensa que vive no sol e tudo gira ao seu

redor, e todos estão para lhe servir.

Você já deve ter escutado que “querer é poder”. O exigente, carrega

em si esta frase, de forma distorcida, como um lema. Acredita que,

simplesmente por querer, alguém deve executar, ou seja, têm a

convicção que possui o poder de cobrar do exigido o que lhe interessa.

Procedendo assim, tira do outro o direito de dizer “Agora não.” “Eu

não posso.” “Eu não quero.” Enfim, compromete a sua dignidade.

Quem está na posição do exigido e há a oportunidade de sair dessa

condição, normalmente, vive como uma vítima ressentida,

comprometendo cada vez mais a sua autoestima. Entretanto, quando

resolver tomar as rédeas das suas próprias vontades, deverá se

preparar para conhecer o monstro que reside na personalidade de

quem lhe exige. Para um exigente, a palavra derrota lhe dói mais que

uma hérnia de disco lombar.

O ser exigente é um sofredor crônico, porém, tem a certeza que a sua

vida cercada de súditos é uma maravilha. Não percebe o quantum de

energia emocional que gasta nas suas articulações, para conseguir o que

se quer. Não percebe que, quem lhe obedece, não lhe ama; que quem

lhe segue, não o quer bem; que quem lhe sorri, o detesta na intimidade.

Quando lhe surge o cansaço emocional, a fadiga crônica, o estresse, as

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ulceras e a depressão, normalmente, responsabiliza os exigidos e não a

si mesmo.

Para quem confunde exigência com excelência, eu menciono

algumas diferencias básicas que existem nelas, em relação ao que uma

e outra aporta para nossa vida: A exigência quer a perfeição, a

excelência quer a melhora; exigência dá grande importância para o

fracasso, a excelência valoriza o aprendizado; a exigência gera a

ansiedade, a excelência gera possibilidades; a exigência quer o controle,

a exigência quer a fluidez; a exigência olha a inutilidade, a excelência

olha a possibilidade de crescimento; a exigência colhe o sofrimento, a

excelência colhe as bênçãos; a exigência é a dúvida, a excelência é a

segurança; a exigência busca a culpabilidade, a excelência busca a

responsabilidade; a exigência quer o castigo, a excelência quer a

solução; a exigência sofre com o dever, a excelência sente prazer com o

compromisso.

Agora que você já sabe distinguir a exigência e da excelência,

pergunte-se o que acontece, internamente, quando o fracasso chega,

quando as coisas não saem do seu jeito, quando a previsão do tempo

não é precisa, quando a comida queima, quando alguém não te

responde no chat na hora que você quer, quando você não encontra

alguém que caiba nos seus sonhos. O medo, é um fator emocional que

aumenta o nível de exigência no ser humano. Por temer o futuro em

relação a tudo, uma pessoa passa a exigir de Deus e das pessoas, aquilo

o que considera ser o melhor para ela. Já que mencionei o medo, que tal

dar uma virada na página para ver o que ele significa no próximo

capítulo?

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Capítulo 16

O Medo “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da

vida é, quando os homens têm medo da luz. ”

Platão

Aqui está outra emoção considerada como negativa por

muita gente. Há quem ensine a uma criança que quem sente medo é

covarde, fazendo com que este ser, ainda em formação, viva de

disfarces na fase adulta, inibindo uma emoção primordial para

preservar a sua integridade física, moral e espiritual. Por ignorar o

medo, muita gente morre no mundo, vítimas dos acidentes de trabalho,

de aventuras em lugares perigosos ou por, simplesmente, tirarem uma

“selfie” para a rede social onde havia risco de queda. Atualmente, é

comum lermos notícias sobre pessoas que caíram em precipícios, por

ignorarem esta emoção tão preciosa.

Diante do medo, o ser humano costuma ter três reações básicas que

são: congelar, fugir ou encarar. Cada manifestação dessa, provém dos

filtros internos que todos nós possuimos. O que é medo para alguns, é

prazer para outros. Nada nos impede de fazermos algo sentindo medo;

inclusive, é recomendado tê-lo presente, sempre que houver risco de

morte ou lesão corporal. Desprezar o medo, é ignorar um excelente

recurso que nos ajuda a tomar as decisões corretas em muitos

momentos.

Ele é uma das emoções básicas, presentes em todos os seres

humanos e nos animais, sendo nestes, de forma mais instintiva, já que

os animais não raciocinam. Ele possui a mesma finalidade em todos os

seres, que é a de alertar-nos perante ao que se interpreta como perigo.

Este é o medo funcional.

Por que o medo é acionado por meio da interpretação? A crença é

um poderoso agente que pode nos fazer sentir medo ou não em

determinada circunstância, de um ser ou objetos. Muita gente deixa de

conhecer outros países por crer que um avião é menos seguro que um

ônibus, entretanto, racionalmente analizando, um avião é menos

seguro que um ônibus?

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As estatísticas dizem que há muito mais mortes nas estradas, em

acidentes envolvendo ônibus e veículos em geral, do que em acidente

aéreo, anualmente. A imprudência dos motoristas causa,

aproximadamente, 90% dos acidentes em todo o mundo, e o Brasil não

é estranho às estatísticas9.

O medo da morte nos faz perder a razão e, consequentemente, reduz

a nossa liberdade e o prazer que podemos sentir aproveitando as coisas

boas da vida.

Quando se define, de forma racional, que não há riscos envolvidos,

é normal que o medo diminua ou desapareça totalmente. Se fugir da

morte é inevitável, então, por que muitos vivem pensando nela o tempo

inteiro? Este é o medo disfuncional.

A disfuncionalidade do medo pode ter bases tão profundas, que

mesmo uma averiguação no passado, não será capaz identifica-la. Há

casos, como o medo de pombos, que não está relacionado a nenhum

fato pessoal do passado ou às experiências vividas por outras pessoas.

Simplesmente, alguém vê esta ave como uma ameaça e pronto. Para um

caso como este, é importante identificar as crenças irracionais, que

nascem a partir dos pensamentos automáticos e surgem no momento

em que um pombo se aproxima. Outro recurso, é induzir a pessoa ao

enfrentamento, já que fugir de um pombo pode reforçar, agravar e

perpetuar o medo. Este recurso, consiste em expor a pessoa, de forma

controlada e prolongada, ao estimulo que provoca o medo, até que se

diminua a ativação. Hoje em dia, existem recursos tecnológicos,

dispositivos de realidade virtual, capazes de gerar os estímulos que

provocam os sintomas corpóreos, que aumentam ainda mais o medo,

como, por exemplo, o medo de enfartar por sentir medo.

O medo disfuncional poder estar conectado com o sistema de

crenças, que desenvolvemos durante o nosso período da infância,

adolescência e até na fase adulta, quando a nossa autoestima foi ou

ainda é afetada por diversas frases enfraquecedoras que escutamos.

Também pode estar relacionado às nossas próprias experiências

fracassadas ou até às referencias que temos de experiências alheias. Eu

conheci uma senhora que morreu de câncer, devido ao medo de

9 portaldotransito.com.br

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descobrir que tinha alguma enfermidade grave. Ela deu tanta

importância às referencias alheias, que preferiu não ir ao médico para

não ter nenhuma notícia ruim, já que temia a morte. Essa crença

irracional foi muito importante na precipitação da sua morte.

Muita gente deixa de prosperar, financeiramente, por medo de um

cargo de responsabilidade no trabalho; tantas outras, deixam de

praticar esportes por medo de se machucarem; devido ao medo da

exposição, muitas pessoas fogem dos deveres ou responsabilidades,

seja no trabalho, na escola, na faculdade, nos círculos religiosos etc. A

principal causa deste medo não é o risco de morte e nem ao processo

em si, mas à opinião alheia em relação à performance.

Se um dia, nos fizeram passar por um vexame nos chamando de sem

graça, sem talento ou de um palhaço, muito provavelmente nos deixou

uma marca negativa, se a opinião alheia prevaleceu sobre a certeza de

quem somos.

Estou bastante convencido que a nossa autoestima, estando em alta

ou em baixa, é o que nos torna capazes ou incapazes, de sermos seguros

e felizes em todos os campos de ação de nossas vidas. Ser aceitos pelos

outros é uma das grandes preocupações que temos e, justamente por

isso, não conseguimos encontrar o “ser” estável que reside em nós.

Enquanto existir o medo de não sermos bem avaliados, seremos sempre

aquilo que os outros querem que sejamos. E o que podemos ser para

agradar a todos?

O medo também é usado para provocar dúvidas nas pessoas, é uma

forma de manipular as suas mentes. Em diversas religiões, muitos

obedecem aos seus líderes por medo de irem para o inferno. O que é o

pecado, senão um recurso para controlar as mentes por meio do medo?

Por medo de sofrer no futuro, muitos sofrem no presente, carregando

uma imensa luta contra a própria sombra que jamais os deixam em paz.

Se queremos agradar a Deus, devemos nos conhecer, em primeiro

lugar, para melhor serví-Lo. Ele já nos conhece, portanto, quando nos

conheceremos?

Onde houver um pessimista, existirá também um ser medroso,

cheio de convicções negativas, estimando um futuro cheio de dor e

sofrimento. Para este, avançar significa um risco que não compensa

correr, já que suas previsões nunca são as melhores. Por querer evitar o

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fracasso, fracassa sem perceber. Vive espiando, pela janela, a vitória

alheia, atribuindo aos vitoriosos uma sorte que ele não possui. Agindo

assim, inveja, cobiça e se frustra, culpando a Deus e aos outros pela vida

sem sucesso que vive.

Uma mesma pessoa que é capaz de pular de um avião, com

paraquedas, a dois mil metros de altitude, pode permanecer dentro de

uma relação tóxica por muitos anos com medo de não conseguir

encontrar um outro amor.

É possível que alguém possa surfar as ondas gigantes de Nazareth,

em Portugal, mas se paralisar ao falar em público. Esses dois exemplos,

nos mostram claramente que podemos ser valentes em várias situações

e medrosos em outras, tudo depende da importância que a gente dá

para a opinião alheia. Se autoestima estiver em alta, pouco importa o

que os outros irão pensar.

O medo, como estado de ânimo, pode perdurar por muitos anos e

ser comparado com uma névoa, que não nos permite ver claramente as

coisas como realmente são; e como esta emoção crônica não se vai, a

razão nos falta como um farol a iluminar a estrada da vida por onde

caminhamos.

Esta emoção, pode ficar enraizada em nós a partir de uma situação

traumática vivida no passado, fazendo com que o medo perdure no

tempo e se manifeste ainda que a ameaça já não exista. O que fica, é

apenas a lembrança dela, porém, já é suficiente para acionar o

“antivírus” da nossa memória emocional. Tudo o que queremos é

evitar a mesma experiência desagradável de novo.

Depois que fui atacado por um enxame de abelhas, meu olfato se

aguçou de tal forma que eu era capaz de sentir o cheiro de uma colmeia

à distância, porque quando eu fiquei coberto por ele, senti o aroma do

hormônio que esses insetos liberam quando são ameaçados, ele é quem

chama as guardiãs da colmeia para a batalha. Se eu fosse alérgico a

picada de abelhas, eu não teria escrito este livro.

O medo é um excelente amigo que possuímos. Ele sempre deve ser

visto dessa maneira, do contrário, recusaremos diversas oportunidades

de sermos felizes, de usufruirmos nos momentos épicos em nossas

vidas, porque, sendo uma emoção, ele é um chamado para a

preservação da nossa integridade física e um agente regulador na

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execução das tarefas que nos exigem precaução. Ele só será um

bloqueador de caminho se as nossas convicções forem

enfraquecedoras, se insistirmos andar pintado quadros de calamidades

para o nosso futuro e se sofrermos com as derrotas ou as opiniões

alheias. Dificilmente, controlamos a nossas ações, pensamentos e

palavras, portanto, é uma pretensão, irracional, querermos controlar os

fatos e as pessoas.

Como qualquer emoção, nãos devemos nos centrar em sentí-lo com

os julgamentos internos que fazemos, senão, saber o que fazer com ele

quando o medo provém do imaginário (fobia), ou seja, dos panoramas

caóticos que criamos, da preocupação em relação ao julgamento das

pessoas, da insegurança estabelecida por experiências fracassadas,

traumáticas ou das referências vividas por alguém. Rejeitar o nosso

medo, tentar escondê-lo, é tão inapropriado quanto permitir que ele nos

impeça de conhecer o futuro quando ele chegar, sem que ele já tenha

sido, tragicamente, criado em nossa mente. Portanto, deixe seu medo

de lado e, tampouco, se culpe por ele aparecer quando não convém.

Apenas o analize, de forma racional, porque a defesa da nossa imagem,

perante à sociedade, nos gera muita insegurança e, consequentemente,

nos gera medo.

Em função da frustração que nos causa, por sentirmos medo do

imaginário, carregamos um sentimento de culpa, interminável, porque,

no fundo, temos a certeza que não existe perigo, mas uma tremenda

importância que damos para o que os outros irão pensar. Convém

seguir sua leitura, porque a culpa é algo que todos sentimos e o

próximo capítulo é dedicado a ela.

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Capítulo 17

A Culpa “O início da salvação é o conhecimento da culpa. ”

Sêneca

Este belíssimo instrumento de autojulgamento, é bastante

precioso em nós. Infelizmente, foi deturpada por muitos séculos, mas

esta emoção é quem nos diz que os nossos princípios e valores foram

violados por nós mesmos. É quando, na nossa conversa interior, a gente

se diz: “Você deu uma vacilada com a sua atitude, você fez o inverso

daquilo que você crê e diz ser o correto!”

Nem sempre, na vida, podemos ser e agir de acordo às nossas

crenças e valores. De vez em quando, por uma questão de necessidade

ou conveniência, somos obrigados a violar às nossas regras de condutas

morais. Mentir não é bacana, entretanto, devemos saber em que

momento e a quem podemos dizer a verdade. Às vezes, fica

complicado revelarmos algo por força da própria circunstância.

Imagine que a sua amiga está traindo o namorado dela que é bem

rude e agressivo. Estando numa festa, este sujeito se aproxima de você

e te pergunta por ela. Você sabendo que ela está com o outro em

determinado lugar, você lhe diria a verdade ou diria que não a viu?

Muitas pessoas se sentem culpadas por não poderem agir como

pretendem ou ser o que querem ser; vivem em conflito por não

gostarem de desrespeitarem seus princípios morais e religiosos. Levam

dentro de si um nível de autoexigência bastante elevado, e se culpam

por não poderem agradar a todos.

Inumeros pais se culpam por não poderem dar uma vida melhor aos

seus filhos e por isso se julgam medíocres ou incapazes. Quantos filhos

se culpam por não ligarem para os pais diariamente e por isso se julgam

maus filhos? Quantos fieis não se acham dignos do amor Deus por

sentirem raiva de alguém, e se julgam pecadores sem perdão?

Por desconhecermos a real função da culpa, entramos em batalha

interior quando a sentimos nos momentos em que ela não deveria estar.

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Manual para ser alguém

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A nossa autoestima e a segurança interior, se relacionam diretamente

com ela.

Para muitas pessoas, dizer o não, as fazem se sentir culpadas,

porque a sua norma é agradar a todos. Este exemplo, nos serve para

entender que a nossa segurança interior nos ajuda a evitar a culpa na

nossa mente.

O medo é outra importante emoção que desperta a culpa em nós.

Rejeitar uma oportunidade na vida, por medo, não só nos faz sentir

culpados, como se torna num estado emocional que pode perdurar por

muitos anos. Quantos não se sentem culpados por haverem deixado

escapar aquela oferta de promoção no trabalho, e que hoje os fazem

sentir o peso da dificuldade financeira que carregam?

Afinal, como devemos nos relacionar com a culpa?

Ela afeta a nossa identidade privada, ou seja, ficamos mal perante a

nós mesmos. Ela é o contrário da vergonha, que afeta a nossa imagem

pública. Sempre que trairmos os nossos valores, crenças e princípios

mais profundos, ela surgirá para nos alertar em relação à falta que

cometemos conosco e com as pessoas, também. Ela é resultado de uma

falta cometida voluntariamente, ou seja, não é algo que fizemos sem

querer. Não há culpa se não existe valores, princípios ou crenças; onde

não há um código de conduta social, moral ou religiosa. Um canibal,

por exemplo, que ignora a religião, os códigos penais ou as normas

sociais, mata um ser humano sem que a consciência lhe cobre por isso.

Existem situações cotidianas, sejam familiares, profissionais,

afetivas e religiosas, em que muita gente joga sobre as outras uma carga

energética imensa de culpa, por meio de frases como: “Por tua culpa,

eu tomei uma má decisão!” “Seu irmão me trata bem, você não!” “Isto

é um pecado aos olhos de Deus!” “Fulana é muito mais eficaz que você

trabalhando!” “Você irá sair usando esta roupa?”

A culpa, é uma emoção muito usada por pessoas tóxicas,

manipuladoras, que gostam de crescer perante as outras para

conquistar o que querem. Ao tornarem as pessoas frágeis, por meio da

culpa, abrem tremenda brecha no emocional delas, com o interesse de

as transformarem em marionetes obedientes, carregadas de desejos de

repararem “os erros” que elas assumiram ter cometido. Com este tipo

de estratégia manipuladora, nascem o culpador e o culpado, ou o

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castigador e o castigado; sendo que ambos podem estar na mesma

pessoa, já que ao escutar de alguém que somos culpados pelo seu

sofrimento, podemos admitir essa culpa e nos julgarmos, duramente,

sempre e quando, de nossa parte, não houver a segurança, a autoestima

e o filtro da razão em estado de alerta.

Muitas vezes, sofremos anos carregando a culpa embutida pelos

outros, principalmente, provenientes de familiares, professores e

religiosos que nos impregnaram dessa carga emocional, simplesmente

por que não lhes seguimos as “orientações” que nos fariam “felizes” no

futuro. Utilizam frases do tipo: “A nossa família é de advogados

conceituados, por que você que ser designer de moda? Você é a única

transviada da família! Não te pesa a consciência não?” “Você é um

péssimo aluno em matemática, serás um fracassado profissional no

futuro!” “Só pode haver amor carnal entre um homem e uma mulher,

você contraria as leis de Deus!”

Tais frases, muitas vezes, vem de pessoas reprimidas que preferiram

se esconder, em vez de darem o grito de liberdade e ser o que queriam

ser; mas preferiram seguir a cartilha da obediência e se frustraram.

Receberam e insistem passar adiante esta mesma fórmula, frustrante,

como crença hereditária. Quantas vezes eu não escutei de pessoas “Eu

não terminei com o meu casamento por causa dos meus filhos!“ Ou seja,

a falta de coragem foi transformada em culpa alheia, pelo fracasso

matrimonial que já existia antes mesmo dos filhos nascerem!

A melhor forma de evitar a culpa, é a responsabilidade sobre os

nossos atos perante a vida. Olhar para as consequências é fundamental

para saber se o que fazemos, agora, nos trará sofrimento futuro. Nem

sempre sentir uma dor hoje, resultará em culpa mais à frente; ao

contrário, o prazer que sentimos hoje poderá ser muito prejudicial

tempo depois, quando detectarmos que já é impossível voltarmos ao

passado para começarmos outra vez. Muitos processos cancerígenos

começam no prazer! Muita dor com os vícios começa no prazer! Muita

gravidez indesejada começa no prazer!

O mais apropriado é conduzirmos a nossa vida com segurança,

sendo firmes como somos e queremos ser, a fim de evitar as culpas

futuras quando percebermos que seguimos os desejos alheios e não os

nossos. Sempre seremos convidados a seguir os “conselhos” dos

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Manual para ser alguém

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manipuladores e, cabe a nós, detectar quem realmente nos ajuda e quer

a nossa felicidade, e quem finge ser os “gurus” cheios de boa vontade,

com as melhores intenções de transformarem a vida das pessoas num

paraíso. O homem de coração mais puro que passou por este planeta,

nos recomendou que fossemos mansos como um cordeiro e atentos

como uma serpente, porque haveriam muitos lobos em peles de

ovelhas.

Devemos prestar a atenção para não cairmos na tentação de sermos

os “rebeldes sem causa” por isso, e tampouco pensar que não se deve

escutar os conselhos dos mais experientes. Nossos pais erram; nossos

professores erram; nossos orientadores religiosos erram; nossos chefes

erram; nossos amigos erram. O que tem em comum entre eles e nós, é

que todos somos seres humanos imperfeitos; todos recebemos

determinadas crenças que se perpetuam por séculos, como o pecado. A

maior dificuldade em aceitar a opção sexual do próximo, por exemplo,

está enraizada numa crença pecadora de muitos séculos e muito

provavelmente estará por outros mais, até que a mentalidade,

resistente e ignorante, desapareça deste planeta.

Para concluir, a culpa é uma emoção que se evita, mas quando ela

surge, já sabemos que ela é um mensageiro interno que nos chama para

o despertar, para uma mudança interna e externa, abrindo espaço para

a criatividade e a renovação, sempre visando reparar os danos

causados a nós mesmos e a terceiros, sem que a autopenitência seja

necessária.

Devemos apenas reconhecer o atributo da imperfeição que há em

nós, e seguirmos em frente buscando a prosperidade em todos os

setores da nossa vida. É muito importante saber dizer a nós mesmos

“Basta! Quero uma nova vida para mim!” E por falar em basta, é um

assunto que vem explicado no próximo capítulo.

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Capítulo 18

O Basta “Mude o modo que você olha para as coisas, e as coisas que você olha mudarão. ”

Wayne Dyer

Nada na nossa vida é estático, nem mesmo o que possuímos

de material, pois que a propría natureza se encarrega de transformá-lo

com o passar do tempo. Quando não disposmos a mudar nossa vida, a

própria dinâmica que há no mundo, se encarrega de fazer o trabalho

por nós.

De acordo a um conto Zen, um mestre e um discípulo caminhavam

por um bosque, quando avistaram uma casa distante de aparência

precária. Como de costume, o mestre lembrou ao discípulo que a

missão deles era visitar as residências no caminho para prestar-lhes

auxilio em caso de necessidade, e também colher o aprendizado dessas

visitas.

Chegando ao local, puderam ver que a família vivia em estado

muito difícil. Eram o casal e seus três filhos, todos em estado

lamentável, vestindo roupas velhas, sujas e rasgadas; tinham os pés

descalços e estavam sem banho por muitos dias. A casa estava em

estado de ruinas.

Ao se aproximarem do pobre homem, lhe perguntaram como

faziam para sobreviverem, já que onde estavam era longe de tudo. Lhe

pergutaram também como conseguiam algum dinheiro para o sustento

deles.

O homem lhes comentou que eles tinham uma vaca que lhes dava

vários litros de leite, diariamente, e parte do que tiravam dela, trocavam

por alimentos, numa cidade vizinha, e da outra parte, produziam

queijo para o próprio consumo. Ou seja, vivam bem e não necessitam

de ajuda dos dois monges.

Ambos se despediram da família e seguiram sua caminhada rumo

ao monastério. Mas antes que se afastassem do local, o mestre pediu ao

discípulo que levasse a vaca até o abismo mais próximo e a tirasse

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montanha abaixo, algo que causou ao discípulo constrangimento e

culpa, afinal, era dela que tiravam o sustento diário para sobreviverem.

Contrariado, o discípulo fez o que o seu mestre mandou e sofreu

muito por ter provocado a morte não só da vaca, mas de toda uma

família.

Os anos se passaram e o discípulo sofreu de culpa e remorso pelo

que fez e não aguentando mais, retornou ao local para ver o que tinha

restado daquela família de gente sofrida.

Ao se aproximar do local, viu uma enorme casa que expelia fumaça

pela lareira, cercada por um lindo jardim e árvores frutíferas que

enriquecia a paisagem. Do lado de fora, as crianças brincavam felizes e

dava para ver dois carros de luxo na garagem. Foi então que a dor do

discípulo aumentou ainda mais, sua consciência lhe dizia que ele tinha

arruinado a família e aquela outra que lá estava, tirou proveito da

anterior e comprou aquele sitio a preço de banana.

Chegando no local, porém, encontrou um homem de aparência

nobre que cuidava do jardim, e a ele lhe preguntou para onde teria ido

a família que, anteriormente, ali vivia. Foi quando percebeu que eram

as mesmas pessoas de antes, sendo que em situação de abundância

total. Muito curioso, o discípulo perguntou ao homem como eles

puderam mudar de vida tão radicalmente. Foi quando o homem lhe

explicou que a partir da morte da vaca que tinham, tiveram que

desenvolver outras habilidades que não sabiam que tinham, e que os

fez prosperarem em todos os sentidos.

Se refletimos sobre este conto Zen, podemos detectar que existe em

nós uma vaca esperando para cair no abismo. É por meio deste “único”

meio de sobrevivência que deixamos de explorar algo em nós, criamos

diversos limites que nos impedem de avançar e prosperar.

Esta vaca pode estar disfarçada de apego, medo, negatividade,

pessimismo e todo tipo de fobia que levamos, que nos impedem de

descobrirmos o não sei o que sei, que existe em todos nós.

Qual é a sua vaca? O que aconteceria se ele fosse para o abismo? O

que te impede de jogá-la ribanceira abaixo? Você vai esperar que

alguém se encarregue de matá-la ou você assumirá essa

responsabilidade?

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O ato de jogar a vaca pelo abismo eu o chamo de basta. Esta vaca

representa tudo aquilo que nos trava, tudo aquilo que nos causa

sofrimento, o que nos paralisa e assusta, tudo o que nos impede de ser

quem queremos ser. A dor (a morte da vaca) é o que queremos evitar,

mas quem disse que ela será eterna? Quem disse que ela nos trará

sofrimento? Era assim que aquela família vivia e somente depois da

morte da vaca que ela despertou. Foi necessário um homem sábio na

vida dela, que contribuiu de forma anônima e precisa, a fim de conduzi-

la para a prosperidade. Quem é o seu discípulo? Ele é um livro, uma

pessoa ou uma emoção?

Diariamente, vivemos dentro da normalidade até que algo nos tira

dela. Só podemos sair dessa condição, normal, a partir de uma situação

de dor, insatisfação ou sofrimento e, normalmente, quem nos tira da

normalidade se chama problema. Se o chamamos assim, certamente

fluirá em nós as emoções de raiva, de queixa, de ansiedade ou qualquer

outra que nos impede de ver alguma vaca que precisa despencar do

abismo.

Se somos obrigados a sair da normalidade, é fundamental saber se

é a hora de dizermos basta! O que isso significa propriamente? Pense

naquele “jeitinho brasileiro” que você fez para consertar o seu carro;

naquela escapadinha que você dá para não escutar um familiar tóxico

enchendo a sua paciência; naquela colinha que você faz para se dar bem

na prova; naquela comida venenosa que você come, por preguiça de

preparar um prato decente e nutritivo. Enfim, podemos ver que existem

diversas vacas dentro da nossa vida, e que mesmo jogando diversas

delas ribanceira abaixo, ainda nos sobrará muitas na “fazenda” que

mantemos, há muito tempo, e que não havíamos percebido a sua

existência.

Cada vez que detectamos um basta, jogamos uma vaca montanha

abaixo e o que isso provoca? Este gesto nos faz sair da zona de conforto

– que de conforto não há nada – para entrarmos numa zona de desafio,

que nos abre muitas possibilidades de crescimento, sobretudo, nos

fazendo ver o que não sabíamos que sabíamos, já que nunca houve um

agente que nos guiasse para este local de aprendizagem. Agora,

podemos ver que uma vaca é muito mais que uma provedora de várias

matérias primas. Sua morte, simbólica, nos gera estado de felicidade.

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Quando dizemos basta, liberamos as energias chamadas de

determinação, abertura e flexibilidade. Cada uma delas é necessária,

quando uma vaca (estabilidade) nos trava à caminhada. O basta deve

ser o remédio para combater o cansaço, a dor, a fadiga, o sofrimento, o

estresse, a depressão, a baixo autoestima e outros estados do corpo e da

alma, sem desprezar os tratamentos médicos necessários; o basta é a

declaração que fazemos a nós mesmos que não podemos seguir de

improvisos e jeitinhos, fazendo o que não queremos fazer, sendo quem

não queremos ser, tendo o que não queremos ter e estando com quem

não queremos estar.

Cada uma dessas energias deve ser liberada de forma, equilibrada,

a fim de evitar uma “matança de vacas” sem necessidade, porém, a vaca

está vinculada a energia da estabilidade, sem dúvida. O estado de

ansiedade é um grande inimigo das vacas, assim como a impaciência.

É fundamental saber qual e por quanto tempo cada vaca deve

sobreviver em nossa vida.

O que nos impede de ver uma vaca corretamente, é quando olhamos

para o problema e fazemos a pergunta por quê, quando deveria ser

para quê. A primeira nos faz sofrer, a segunda nos faz agir, serve de

bussola e nos encoraja a matar uma vaquinha em excesso, que a

alimentamos diariamente.

Pensando na teoria da dor e prazer, uma vaca tanto poder ser a dor

como o prazer, dependerá da interpretação que cada pessoa dá para

situação em que se encontra. Para uns, sessenta cigarrinhos por dia

pode ser um prazer imenso, enquanto que para outros, correr um

quilometro diariamente é uma dor terrível, mas se olharmos para as

consequências de cada ação, qual vaca deve ser jogada abismo abaixo?

O segredo está em olhar para o resultado e não para o processo em si.

Se você só diz sim, diga basta!

Se você só diz não, diga basta!

Se você só você trevas, diga basta!

Se você só vê luz, diga basta!

O basta é a busca pelo equilíbrio, é saber o momento de perceber a

estagnação onde ela estiver, porque o “dançar conforme a música” nos

convém em muitos momentos, e necessitamos saber em que momento

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escolhemos a música e em que momentos os outros a escolhem, aí está

a nossa capacidade de agirmos na flexibilidade.

Quem vive sem planejamento e objetivos, quem recusa os desafios

e os convites da vida para as mudanças interiores e exteriores, nada

mais faz além de encher a sua fazenda mental de vacas. É necessário

ativar as quatros energias mencionadas acima e é sobre elas que dedico

o próximo capítulo, portanto, siga na leitura.

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Capítulo 19

As Quatro Disposições “O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda! ”

Clarice Lispector

Imaginemos a vida como um circuito de Fórmula 1,

sendo que nossa mente é o piloto e o nosso corpo é o carro.

Neste circuito existem curvas, retas, subidas e descidas que exigem do

piloto, estratégia para conduzir o carro de forma inteligente e segura.

Em determinados momentos, este carro necessitará de paradas

periódicas para a troca de pneus e de abastecimento de combustível, a

fim de proseguir na corrida. Para cada circuito, há uma tática adequada

e para cada condição climática, também se deve usar um procedimento

diferente. Ou seja, uma corrida nunca será igual a outra, ainda que seja

no mesmo circuito já conhecido. A dinâmica da vida em si que envolve,

pessoas, natureza e circunstâncias, convida ao piloto e sua equipe, a

adotar disposições especificas para estar na prova até o fim e se possível

vencê-la.

Para atuarmos na vida, não é diferente de um circuito de Fórmula 1.

Nós, os cidadãos do mundo, que possuímos rotinas diárias, estamos

sujeitos a diversos fatores influenciadores conhecidos como pessoas,

natureza e circunstâncias, com as quais devemos atuar motivados pelas

quatros disposições energéticas, como estratégia para a corrida do dia-

a-dia. São elas: a flexibilidade, a estabilidade, a determinação e a

abertura.

O que aconteceria se um piloto só acelerasse seu carro? O que

aconteceria se o piloto não acelerasse o carro? O que aconteceria se o

piloto conduzisse o carro, em dia de chuva, da mesma forma que ele

conduz em dia de sol? O que aconteceria se um piloto não parasse para

a troca de pneus? O que aconteceria se o piloto não parasse para

abastecer o seu carro?

Quando imaginamos este cenário, podemos detectar como é

fundamental para o piloto fazer o uso dessas quatros disposições, sem

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estar estagnado somente em uma. É necessário que ele esteja com cada

uma delas, na mente, no momento que lhe convém, buscando sempre

voltar para o centro, a fim de entender que estar somente numa delas

poderá lhe causar problemas.

Viver, é ser piloto de Fórmula 1 dentro de diferentes circuitos, em

diferentes dias, em diferentes circunstancias, sendo que para cada

piloto a meta é vencer em determinado campo especifico da vida, tendo

como ente motivador, comum, um desafio.

Há em nós, uma disposição energética, predominante, que nos

conduz para as demais; esta é a determinação. Um piloto pode estar

determinado a não correr, a só acelerar, a só freiar, a não adotar

estratégia para diferentes climas ou a criar novas estratégias, à medida

que novas circunstâncias surjam na corrida. É importante considerar

que cada piloto, dentro de uma corrida, possui uma estratégia e dado

isso, cada piloto se vê obrigado a mudar ou não a sua, se quiser vencer

a corrida. Muitas vezes, o sol se vai e a chuva chega de forma

inesperada, um pneu estoura, o carro apresenta falha mecânica, o que

requer de um piloto muita flexibilidade e abertura para seguir na

corrida.

Por outro lado, o piloto deve ser sábio o suficiente para perceber que

viver mudando de estratégia, frequentemente, o conduz para estratégia

dos demais, sendo que o importante é fazer com que os outros se

ajustem à sua, gerando instabilidade para eles também. Portanto,

podemos concluir que, em determinado momento, a estabilidade é uma

disposição energética como parte de uma estratégia para se alcançar

um resultado dentro da corrida. Pode ser que chegar em primeiro lugar

não seja possível, mas pelo menos estar no pódio, sim. O mais

importante é que o piloto perceba que a derrota é apenas uma

intepretação e não estar no pódio, sempre significa estar aberto para

seguir aprendendo sempre.

Agora que abri a porta da sua mente por esta analogia, vamos

entender como funcionada cada uma dessas disposições,

separadamente, entendendo como elas funcionam e os resultados que

podem gerar estando em excesso, em equilíbrio ou em déficit.

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A Determinação

Quando estamos sob o efeito da determinação, mantemos em nós o

desejo, a vontade para alcançarmos os nossos objetivos pessoais, a ter

uma relação ativa com os demais, sendo donos de nós mesmos,

estabelecendo os limites de atuação dos outros, dizendo sim ou não

quando nos convém. Também serve para fazer negócios, romper

crenças limitantes, subir a autoestima, começar novos projetos, liderar

equipes, enfim, é com ela que começamos tudo na vida.

Estando determinados a realizar transformações na vida,

experimentamos emoções vinculadas a esta disposição como a raiva, a

contrariedade, a frustração, o entusiasmo, a ambição, a sedução, a

inveja, a competitividade, a convicção, o otimismo, o estresse, a paixão

e outras mais; tudo dependerá do quanto representa para cada pessoa,

as suas realizações e como cada um saiba lidar com os imprevistos do

caminho.

Se estamos muito determinados, tendemos a querer controlar as

coisas, a pessoas e o mundo, adotamos estratégias de manipulação,

fazemos uso das influências profissionais e pessoais, queremos o poder,

brigamos, discutimos e nos enraivecemos bastante. Portanto, é

necessário estarmos atentos para essas tendências, pois que elas serão

os resultados das nossas ações, sob o efeito dessa disposição.

Por outro lado, quando nos falta a determinação, criamos os

fantasmas dos obstáculos, vemos barreiras onde não existe, inventamos

desculpas para não avançarmos, nos sentimos em estado de fadiga e,

não raramente, nos deprimimos.

CentroCentro

Flexibilidade

Abertura

Estabilidade

Determinação

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Manual para ser alguém

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Animados por esta disposição, nosso corpo se torna ágil, fica ereto

e os nossos movimentos são decididos e seguros. A nossa respiração é

ansiosa e o nosso tom de voz é firme e forte. Olhamos fixamente,

intensamente e irradiamos luz pelos olhos. Nosso discurso é “Eu

posso!” “Eu quero!” “Eu consigo!” “Sou capaz!” etc. Sob o efeito dessa

disposição, olhamos para o futuro.

Sempre que houver excesso dessa disposição em nós, muito

provavelmente, seremos exigentes com outros e com nós mesmos;

sempre que houver déficit dela, estaremos vulneráveis para que os

outros nos exija e nos controle. Se ela está em equilíbrio, nos faz

tolerantes e compreensíveis com as fraquezas, limitações e

incompetências alheias.

Esta disposição se vincula ao elemento fogo, por suas características

análogas, já que se associa à paixão, à força, ao poder de construir e

destruir, à irradiação, à iniciativa, ao entusiasmo e à impaciência. É o

elemento que reage rapidamente e que sempre enxerga a possibilidade

e rompe as barreiras invadindo os espaços, seduzindo todos os demais.

Quando você necessitar dessa disposição, basta pensar no fogo dentro

de ti, considerando que ele também pode causar danos. Existe um

ditado que diz: “Quem brinca com o fogo, se queima!”

A Estabilidade

Agindo sob a disposição da estabilidade, podemos manter os olhos

voltados para a nossa meta, para os projetos que queremos

implementar, para colocarmos limites em nós mesmos e nos outros;

também serve para escolhermos um local e nele permanecermos; para

construir um patrimônio, para mantermos uma relação duradoura com

as pessoas que nos cercam.

Estando estabilizados, nos encontramos com os estados emocionais

da serenidade, a resignação, a permanência, a paciência, a

perseverança, a disciplina, a calma, a cautela, a tristeza, o pessimismo,

a rigidez, a arrogância, a preguiça, a resistência etc. Tudo dependerá da

forma como se atua, com quem se atua e por que se atua.

Se esta disposição está sobrando em nós, tendemos a sofrer de

apego pelas coisas materiais, a fecharmos as portas para o aprendizado

e novos desafios, a vivermos dentro de relações tóxicas, de vermos

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problemas onde existem oportunidades; recusamos o imprevisto e nos

tornamos resistentes. Ou seja, o pessimismo nos domina.

Por outro lado, se esta disposição está em falta, nos sentimos frágeis,

inseguros, amedrontados, sem coragem para vencer os desafios diários.

Buscamos as coisas fáceis, metas superficiais e agimos sob a “lei do

menor esforço”.

Animados, frequentemente, por esta disposição, nosso corpo

apresenta cansaço, fadiga constante, agimos lentamente, evitando o

esforço excessivo para realizarmos atividades. Nossa respiração fica

lenta e o nosso tom de voz abaixa. Nosso olhar pouco expressa. O

discurso que usamos é: “Estou bem aqui.” “Estou acostumado!” “Para

que mudar, faço isso a tanto tempo!” “Me sinto melhor onde estou, me

sinto mais segura assim!”.

Estando estáveis, olhamos muito mais para o passado e falamos

muito menos do futuro. Dado as características dessa disposição ela

está associada ao elemento terra, devido à sua firmeza material, à sua

própria natureza estável, à sua segurança como um elemento para se

construir, à sua praticidade para criar novos objetos a partir dela.

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A Flexibilidade

Esta disposição é a que nos permite mudar, a soltar aquilo ao qual

nos apegamos. Também nos ajuda a deixar para atrás as crenças

limitantes e justificativas que não nos permitem crescer, seja qual for o

campo na vida. É muito importante nos momentos em que nos

equivocamos, excelente para buscar novos conhecimentos. Ou seja, nos

tira da casinha, literalmente, e nos leva para o desconhecido, que nada

tem a ver com o ruim ou assustador, mas com a curiosidade e o desafio.

Quando nos tornamos flexíveis, percebemos os estados emocionais

da criatividade, do otimismo, do prazer, da ternura, do devaneio, da

leviandade, da trivialidade, da gratidão, da culpa, da empatia, da

vergonha, do gozo etc. É fundamental entender que cada estado

emocional será sempre resultado do que cada um faz ao ser flexível,

quando sê-lo e com quem sê-lo.

Sempre que está disposição estiver em excesso, nos renderemos

facilmente diante de qualquer dificuldade, abandonaremos nossos

projetos quando enfrentarmos os erros, buscaremos novos desafios e

metas, e não nos especializaremos em nada. Não nos permitiremos ir

mais profundamente nos assuntos; nos tornaremos especialistas na

habilidade da fuga, o que poderá prejudicar a nossa imagem sendo

considerados como pessoas sem comprometimento.

Se ela estiver em déficit, nos custará muito a aceitar as mudanças, a

aprender novas coisas; nos fechará para novas aventuras e nos tornará

excessivamente racionais, vendo dificuldades e barreiras onde elas não

existem.

Estando, frequentemente, na flexibilidade nos sentimos perdidos,

nos movemos de um lado a outro, inseguros e sem saber onde

queremos chegar. Nosso olhar é inquieto, nossa concentração é baixa e

a instabilidade emocional é alta. Nosso discurso é: “Me enjoei disso, isto

é muito difícil!” “Está complicado, que tal algo mais fácil?” “Adoro algo

novo, me motivo com novos desafios!”.

Estando flexíveis, sempre olhamos para o presente, às vezes

ausentes, mudando, frequentemente, do passado para futuro. O

elemento que mais se associa a esta disposição é o ar, dado às

características da liberdade, das mudanças frequentes, do desapego, da

fluidez e da instabilidade.

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A Abertura

O que aconteceria se um piloto de Fórmula 1 não estivesse aberto

para escutar os conselhos, as ordens do chefe da equipe ou dos

engenheiros que construíram o carro?

A disposição da abertura serve para que escutemos o outro, para

que compreendamos o mundo pessoal e o que nos rodeia; nos ajuda a

explorar novos meios, quando uma vaca cai abismo abaixo; ela nos

ajuda a refletir para criar novos sonhos, buscar novas metas; gerar

inovações e começar novos projetos, ou seja, criamos a liberdade para

nós mesmos.

Se estamos abertos para a vida, podemos perceber os estados

emocionais de paz, de empatia, de curiosidade, aceitação, de

conformação, de excitação etc.; mas também, podemos sentir a

insegurança, a dependência, a leviandade, o medo, a influência de

terceiros em nós. Obviamente, que sempre será uma consequência do

que estimamos fazer com a abertura que nos concedemos e aos outros

também.

O que acontece se estamos excessivamente abertos? Podemos ser

facilmente manipulados, influenciados, controlados, explorados, nos

tornamos dependentes da opinião alheia, queremos ser reconhecidos,

perdemos a noção do nosso valor. Também podemos nos bloquear para

receber carinho e a ajuda dos outros, porque queremos apenas dar e

não receber.

A falta dessa disposição nos dificulta trabalhar em equipe, a manter

uma relação saudável e de confiança com as pessoas; pode nos causar

apatia e também desinteresse pelas coisas. Viver contrariado é um dos

sintomas da falta de abertura, já que a vida é como é e não como

gostaríamos que ela fosse.

Quando estamos abertos para novas situações, o estado de paz é o

que nos provoca relaxamento, nos ajuda a eliminar a tensão e a

ansiedade. Desenvolvemos crenças poderosas, olhamos para o passado

e para o presente. Entendemos que essa disposição nos permitiu

avançar muitas vezes. Se não estamos preocupados, o futuro sempre

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será o resultado do hoje e não da nossa imaginação carregada de

negatividade.

Se queremos associar essa disposição com algum elemento natural,

este elemento deve ser a água. Este elemento se adapta facilmente ao

ambiente; para ele não há barreira, não há resistência, flui com

facilidade pelos caminhos mais difíceis. É um elemento que muda com

a condição climática, com a temperatura ambiente. Pode ser gelo, pode

ser vapor. Pode ser límpida, pode ser turva. É um elemento que cede,

que retrocede se necessário e que aceita as condições externas, é onde a

vida se desenvolve para muitas espécies.

Diante dessas disposições energéticas apresentadas, qual é a melhor

dela para o nosso dia-a-dia? Muito provavelmente você já fez essa

pergunta. Não existe nenhuma que seja a melhor ou a pior, senão a mais

adequada para cada momento. A minha visão pessoal diz que eu

preciso estar determinado para decidir o que fazer, seja me estabilizar,

me abrir ou me flexibilizar, à medida que o cenário se desdobra à minha

frente. Por isso, creio que esta é a disposição mais presente no ser

humano e a mais constante.

Equilibrando As Disposições

O mais importante é sabermos identificar quando cada uma delas

está em falta ou em excesso, já que existem desvantagens para esses

dois extremos. Não foi à toa, que usei a analogia da Fórmula 1 como

um suporte para quem não consegue visualizar as consequências da

nossa atuação, sob o efeito dessas disposições. Muitos dos “acidentes”

que causamos em nossas vidas, são resultados do excesso ou da falta

de uma ou mais dessas disposições que nos movem diariamente. Se a

vida em si é dinâmica, nosso dever é perceber que vivermos na

resistência não nos favorece. Resistir, é não aceitar estar no centro

dessas disposições. A própria natureza se encarrega de nos tirar da

estagnação, em qualquer disposição, por meio do sofrimento. A dor

pode ser o resultado de anos vivendo motivados por uma mesma

disposição energética. O próprio Albert Einstein nos ensinou, que se

quiséssemos resultados diferentes, não devéssemos fazer as mesmas

coisas todos os dias.

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Somos seres de hábito, de costume, de rotina, de tradição, atributos

que podem nos conduzir para o sofrimento, se não estivermos atentos

a essas perguntas: “O que faço?” “Por que faço?” “Para que faço?”

“Para quem faço?” “Que resultado espero ter?”

Por que essas perguntam nos ajudam? Para medir o nível de

liberdade de escolha que temos. Muitas vezes, fazemos o que outros

querem que façamos, seja por hábito, costume, rotina, tradição etc.

Nossos orientadores “implantam” seus desejos em nós e é por isso

mesmo que convivemos com a frustração, em diversos campos de

nossas vidas, simplesmente porque fomos, literalmente, obrigados ou

sugestionados a fazer por quem nos criou.

Obviamente, que nem sempre poderemos fazer o que quisermos,

mas podemos SER quem queremos ser e isto, ninguém pode nos

impedir. Cada um de nós chega neste mundo com um propósito e por

ele devemos buscar. Podemos até não aceitar o que viemos fazer, mas

ninguém chega na vida com o propósito de não fazer nada. Sempre nos

cabe fazer alguma coisa, seja ela simples ou complexa, já que a vida

sempre exige uma transformação. Quando não nos transformamos, a

própria transformação da vida nos impulsiona para isso. Portanto, o

que você ainda não fez para se transformar?

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Capítulo 20

Começando a Transformação “Que haja transformação e que comece comigo.”

Marilyn Ferguson

Depois de ler todas essas linhas, você deve estar se

perguntando como colocar tudo isso em prática, por onde

começar, como começar etc. Esta parte é muito importante para o inicio

do processo.

Imagine que alguém te presenteou algo que você gosta muito de

comer; mas a quantidade é tamanha, que você não poderá comer tudo

de uma vez, terá que ser por parte. Da mesma forma, tudo que você

pretender modificar em você, também deverá ser por parte, até porque

nem tudo dependerá somente de ti. O que depende da participação de

alguém, fica para um segundo plano e há uma razão para isso.

Quando nós nos transformamos, a nossa visão em relação a tudo e

a todos, que estão ao nosso redor se transforma; passamos a ver outra

realidade. Se quisermos dar um basta em nossa vida, sabendo que

vamos assustar a muita gente, devemos estar muito determinados para

enfrentar os comentários e as atitudes que poderão surgir. Uns nos

dirão parabéns, mas outros nos dirão que perdemos o juízo. Portanto,

transformemo-nos, em primeiro lugar, porque tudo irá, aos poucos, se

ajustando por si só, naturalmente.

Se subimos a autoestima, se nos sentimos seguros para sermos quem

quisermos ser, deixamos de andar sob as normas dos controladores e

também deixamos de controlar; deixamos de exigir e de sermos

exigidos; deixamos de possuir e sermos possuídos. Renascer, é o

primeiro passo para aceitar a vida como ela é e não como gostaríamos

que ela fosse; aceitando as pessoas como elas são e não como

gostaríamos que elas fossem. Deixamos de criar as ilusões que,

normalmente, atribuímos a terceiros. Não existe uma fórmula mágica

para o renascimento, não há como provocar mudança em nós mesmos,

se não for pelo autoconhecimento e os exercícios diários, sabendo que

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somos seres naturais, ou seja, da natureza e, portanto, não há

transformação que se faça da noite para o dia. Quando alguém diz que

“Fulana mudou de repente!”, pode ter a certeza que a fulana apenas

mostrou a mudança na qual ela já vinha trabalhando a algum tempo.

Primeiro vem o autoconhecimento; em seguida, vem a etapa da

transformação e logo, chega o resultado.

Aprendi, que crescer em busca somente da riqueza financeira nos

causa muita frustração, porque deixamos de lado outras riquezas

importantes e de muito valor na vida. Nós nascemos para amar e

sermos amados e com o passar dos anos, me observando e também as

pessoas à minha volta, entendi que busquemos o que busquemos,

desejemos o que desejemos, no fundo, o que todos nós queremos é o

amor, pois só ele nunca é demais, só ele nos satisfaz e nos faz ver que,

tendo uma vida plena de patrimônios e conquistas financeiras, sem

uma pessoa para amarmos, sem uma pessoa que nos ame, existirá

sempre um vazio que nada poderá preencher. Não nascemos para

vivermos isolados, e não há outra forma de crescermos,

espiritualmente, se não for por meio do amor.

Sinceramente, do fundo meu coração, espero ter colocando em ti

alguma motivação para que a sua vida ganhe sentido. Aqui, coloquei o

que eu aprendi por conta própria, pela dor ou pelo amor, e por meio de

quem se dispôs a me ensinar.

Se tudo o que aqui está faz sentido para você, também poderá fazer

para outras pessoas. Portanto, pense nelas, não em mim, e divulgue este

livro como forma de propagar esses ensinamentos pelo mundo.

Que Deus abençoe a todos nós.

Se este livro virar um Best Seller será graças a você.