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OS ACIDENTES DO TRABALHO NA NOVA NR-12

Acidentes Do Trabalho Na Nova Nr-12, Os

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Os acidentes dO trabalhO na nOva nr-12

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2ª ediçãorevista e atualizada

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Os acidentes dO trabalhO na nOva nr-12

Valmir inácio VieiraJuiz do Trabalho em Minas Gerais há mais de vinte anos.

Especialista em Ergonomia, Saúde e Segurança no Trabalho pela UFVJM — Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (MG).

2ª ediçãorevista e atualizada

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EDITORA LTDA.

© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.br

Agosto, 2014

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vieira, Valmir Inácio

Os acidentes do trabalho na nova NR-12 / Valmir Inácio Vieira. — 2. ed. rev. e atual. — São Paulo : LTr, 2014.

Bibliografia.

1. Acidentes do trabalho 2. Direito do trabalho — Brasil 3. Ergonomia 4. Máquinas e equipamentos 5. Norma Regulamentadora NR-12 6. Segurança do trabalho 7. Trabalhadores — Saúde — Leis e legislação I. Título.

14-07448 CDU-34:331 (81)

Índices para catálogo sistemático:

1. Acidentes do trabalho e o relacionamento homens-maquinas na nova Norma Regulamentadora NR-12 : Brasil : Direito do trabalho 34:331.4(81)

Versão impressa - LTr 5044.5 - ISBN 978-85-361-3046-0Versão digital - LTr 8192.5 - ISBN 978-85-361-3094-1

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Dedico este livro:a minha esposa Daniela, cujo amor me remete à beleza da vida;

aos meus filhos, Amanda, Eduardo, Murilo e Enzo, tesouros que me inspiram carinhosamente;

a minha mãe, Ignês, pelo incentivo e exemplo constantes; ao meu pai (in memoriam), homem admirável, de coração amoroso,

que soube magistralmente trilhar seus caminhos com retidão e leveza.

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“Entre todas as alternativas de prevenção de acidentes, sem dúvida alguma aquelas propostas pela Ergonomia sobressaem-se e se constituem naquelas

com maior probabilidade de conseguir resultados significativos.” (José Augusto Dela Coleta. Acidentes de trabalho: fator humano, contribuições

da psicologia do trabalho, atividades de prevenção. São Paulo: Atlas, 1989. p. 129)

“Os conhecimentos científicos e a metodologia da ergonomia (análise do trabalho) renovaram o estudo dos acidentes e outros aspectos das condições

de trabalho... Instrumentos práticos e possantes foram construídos por ergonomistas (J. LEPLAT, X. CUNY, INRS) para a elaboração do gráfico em

árvore das origens múltiplas de um acidente...” (Alain Wisner, Por dentro do trabalho: ergonomia: método & técnica. Trad. de:

Flora Maria Gomide Vezzá. Texto final e apresentação: Leda Leal Ferreira. São Paulo: FTD, Oboré, 1987. p. 14 e 35)

“... importantes causas básicas dos acidentes com máquinas, claramente identificáveis quando se utiliza corretamente a metodologia de árvore

de causas, em que se destacam a combinação perversa entre o aumento da produção; a introdução de gambiarras para burlar sistemas e dispositivos de

segurança; manutenção deficiente (muito importante); processos operatórios inadequados e treinamento insuficiente...”

(René Mendes, Máquinas e acidentes de trabalho. Brasília: MTE/SIT; MPAS, 2001, Coleção Previdência Social, v. 13, p. 82)

Fica registrado o especial agradecimento a Dorival Ferreira de Paula, da LTr.

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sumário

INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................... 11

1. A PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO NOS SISTEMAS HOMENS-MÁQUINAS .................... 15

1.1 As nomenclaturas ............................................................................................................................................. 151.2 A propósito dos conceitos ............................................................................................................................. 181.3 A preocupação com os riscos ocupacionais ........................................................................................... 21

2. A NECESSIDADE DA ANÁLISE GLOBAL DE CADA SITUAÇÃO DE TRABALHO CONCRETAMENTE CONSIDERADA .............................................................................................................................................................. 23

2.1 Interface física: objeto de estudo da primeira geração/dimensão da ergonomia .................... 242.2 Interface cognitiva: objeto de estudo da segunda geração/dimensão da ergonomia ........... 26

2.2.1 A ergonomia cognitiva e o aprofundamento das análises sobre o denominado erro humano ................................................................................................................................................. 30

2.3 Interface organizacional: objeto de estudo da terceira geração/dimensão da ergonomia .. 452.4 A simultaneidade da presença das interfaces ........................................................................................ 49

3. A SUPERAÇÃO DO PARADIGMA MONOCAUSAL DOS ACIDENTES DO TRABALHO .......................... 53

3.1 A contribuição destacada da ergonomia ................................................................................................. 543.2 A crescente incorporação, no Brasil, do novo paradigma .................................................................. 603.3 A pluricausalidade na nova NR-12 .............................................................................................................. 68

3.3.1 O princípio da falha segura ............................................................................................................ 693.4 Reflexos no tema responsabilidade civil .................................................................................................. 76

3.4.1 A redução do risco ocupacional como opção, via de regra, ao alcance do gestor de cada interface ...................................................................................................................................... 80

3.4.2 A gestão das interfaces prevalentemente pelo empregador ............................................ 853.4.2.1 As especificidades nas terceirizações trabalhistas .............................................. 87

4. A NOVA NR-12: OS ACIDENTES DO TRABALHO E O RELACIONAMENTO HOMENS-MÁQUINAS ABORDADOS DE MANEIRA GLOBAL ..................................................................................................................... 93

4.1 Os subitens da NR-12 sob o prisma das interfaces física, cognitiva e organizacional ............. 95 — Princípios gerais ..................................................................................................................................... 96— Arranjo físico e instalações ................................................................................................................. 96— Instalações e dispositivos elétricos ................................................................................................. 96— Dispositivos de partida, acionamento e parada ......................................................................... 97— Sistemas de segurança ........................................................................................................................ 99— Dispositivos de parada de emergência ......................................................................................... 100— Meios de acesso permanentes.......................................................................................................... 101

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— Componentes pressurizados ............................................................................................................. 103— Transportadores de materiais ........................................................................................................... 103— Aspectos ergonômicos ........................................................................................................................ 104— Riscos adicionais .................................................................................................................................... 105— Manutenção, inspeção, preparação, ajustes e reparos ............................................................ 105— Sinalização ................................................................................................................................................ 106— Manuais ..................................................................................................................................................... 107— Procedimentos de trabalho e segurança ...................................................................................... 108— Projeto, fabricação, importação, venda, locação, leilão, cessão a qualquer título,

exposição e utilização .......................................................................................................................... 108— Capacitação ............................................................................................................................................. 109— Outros requisitos específicos de segurança ................................................................................. 110— Disposições finais .................................................................................................................................. 110

4.2 À guisa de conclusão ....................................................................................................................................... 111

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................................... 115

APêNDICE 1

— Artigo “Máquina e acidente: culpa exclusiva da vítima versus princípio da ‘falha segura’” ........... 119

APêNDICE 2

A) Sentença judicial relativa a terceirização trabalhista tida como lícita, com a determinação no sentido de ser feita diretamente pelo tomador de serviços a gestão de diversas interfaces como tais estudadas na ergonomia ................................................................................................................................... 125

A.1) Decisão de embargos de declaração relativos à sentença judicial supramencionada ... 142

B) Sentença judicial trabalhista relativa a acidente do trabalho que vitimou trabalhador informal, na qual foi dada relevância à dimensão cognitiva existente no meio ambiente laboral .................... 145

C) Sentença judicial trabalhista relativa a acidente do trabalho, na qual foi dada relevância à dimensão organizacional existente no meio ambiente laboral ................................................................... 155

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introdução

Os arts. 6º e 196, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil(1), asseguram a todos o direito à saúde, garantido mediante políticas sociais e econômicas que tenham por objetivo a redução do risco de doenças e de outros agravos, sendo que, segundo o entendimento expresso na Portaria n. 777/GM, de 28.4.2004, do Ministério da Saúde, os acidentes do trabalho e as doenças ocupacionais estão compreendidos no conceito de agravos à saúde do trabalhador.

Na mesma linha prevencionista, ainda, a Carta Magna estabelece tanto o direito à redução de riscos inerentes ao trabalho(2) “a patamares em que a saúde do trabalhador não sofra agravos”(3), como o direito ao meio ambiente laboral equilibrado(4).

Infere-se que há um inexorável entrelaçamento entre o direito à saúde e o direito à saúde ocupacional.

Nessa perspectiva, diz Germano André Deoderlein Schwartz:

“Com base na doutrina e na legislação atual, podemos afirmar que os direitos afins ao direito à saúde são (sem excluir novos direitos que porventura surjam e sem querer ser taxativo): direito à proteção do meio ambiente[...]; direito ao trabalho e à saúde no trabalho[...]; direito à saúde física e psíquica[...]”(5).

(1) Dispõem esses artigos:

“DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

[...]

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

[...]

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.(2) Nesse sentido, o art. 7º, XXII, reza o seguinte:

“São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:... XXII — redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”.(3) Conforme Laura Martins Maia de Andrade (In: Meio ambiente do trabalho e ação civil pública trabalhista. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p. 55) (4) Sidnei Machado, a propósito, pontua: “A inclusão do meio ambiente de trabalho se deve à significativa ampliação do conceito de saúde contemplado na Constituição” (In: O direito à proteção ao meio ambiente de trabalho no Brasil: os desafios para a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 90) (5) Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 41.

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Nas palavras de Ana Paola Santos Machado Diniz:

“O vocábulo saúde é mais expressivo da proteção que a nova ordem pretende dar ao traba-lhador, não se limitando a medidas técnicas de prevenção de acidentes abruptos (Segurança do Trabalho) ou alteração de condições que contribuam para as doenças ocupacionais (Hi-giene do Trabalho). Vislumbra a promoção do bem-estar físico, mental e social dos traba-lhadores; a prevenção dos danos que o abalo à saúde gerado pelas condições de trabalho poderá trazer; a adaptação do trabalho às aptidões fisiológicas e psicológicas do homem trabalhador...”(6).

O termo “saúde ocupacional”, aliás, surge no mundo caracterizado pela multi e interdiscipli-naridade, retratando a influência das escolas de saúde pública, onde as questões de saúde e tra-balho eram estudadas há algum tempo, de modo a adotar-se a racionalidade científica na atuação multiprofissional e a estratégia de intervir nos locais de trabalho com a finalidade de controlar os riscos ambientais, sendo que no Brasil teve adoção e desenvolvimento tardios, expressando-se, na legislação, também por meio de várias Normas Regulamentadoras (NRs) editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (7).

A efetividade dos referidos dispositivos constitucionais desafia, ademais, a completa análise das dimensões física, cognitiva e organizacional simultaneamente presentes nas situações de traba-lho concretamente consideradas e nas quais se inserirá o empregado.

A Norma Regulamentadora n. 12, atualizada por meio da Portaria n. 197, de 17 de dezembro de 2010 (publicada no DOU de 24.12.2010, com retificação publicada no DOU de 10.01.2011), segundo a metodologia que Washington Luiz da Trindade denominou “sistema de normas aditivas”(8), de conformidade com o art. 186 da CLT(9), tem o grande mérito de acolher se-melhante abordagem ao desvendar as citadas dimensões que levam a uma profunda análise de causas de acidentes do trabalho, de modo a confirmar uma mudança da concepção dicotômica (ocorrência ou de ato inseguro ou de condição insegura) para a visão pluricausal de tais agravos à saúde do trabalhador. Essa abordagem atualizada implicará, à evidência, no que se refere às situa-ções de trabalho que envolvam máquinas e equipamentos, resultados significativos no respeito ao mínimo existencial dos empregados no tocante à saúde e à segurança ocupacional.

Nesse sentido, o atual texto adota medidas prevencionistas já consagradas na Ergonomia ao determinar que “as máquinas e equipamentos devem ser projetados, construídos e operados levando em consideração a necessidade de adaptação das condições de trabalho às característi-cas psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza dos trabalhos a executar, oferecendo condi-ções de conforto e segurança no trabalho, observado o disposto na NR-17” (subitem 12.96).

Além disso, a referida Norma dá cumprimento especialmente às políticas sociais e econô-micas que, no particular, estão previstas no Pacto Internacional dos Direito Econômicos, Sociais e Culturais e, bem assim, nas Convenções Internacionais ns. 155 e 161, ambas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

(6) Saúde no Trabalho. São Paulo: LTr, 2003. p. 45.(7) MENDES, René; DIAS, Elizabeth Costa. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 25, n. 5, 1991. p. 341-349.(8) Corresponde à atualização contínua das regras contra acidentes do trabalho (Riscos do trabalho: normas, comentários, jurispru-dência. São Paulo: LTr, 1998. p. 84).(9) Dispõe o referido artigo:

“O Ministério do Trabalho estabelecerá normas adicionais sobre proteção e medidas de segurança na operação de máquinas e equipamentos, especialmente quanto à proteção das partes móveis, distância entre estas, vias de acesso às máquinas e equipamentos de grandes dimensões, emprego de ferramentas, sua adequação e medidas de proteção exigidas, quando motorizadas ou elétricas”.

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Com efeito, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, aplicável no território brasileiro(10), estabelece, em seu art. 7º, b, que os Estados Signatários reconhecem o direito de toda pessoa ao gozo de condições de trabalho equitativas e satisfatórias que lhe assegurem em especial a segurança e a higiene no trabalho.

Já a Convenção n. 155 da OIT, ao tratar dos temas segurança e saúde dos trabalhadores e o meio ambiente do trabalho(11), prevê, dentre as esferas de ação a serem observadas, as seguintes: projeto, substituição, instalação, arranjo, utilização e manutenção dos componentes materiais do trabalho (locais de trabalho, meio ambiente de trabalho, ferramentas, maquinário e equipamen-tos; operações e processos); relações existentes ente os componentes materiais do trabalho e as pessoas que o executam ou supervisionam, e adaptação do maquinário, dos equipamentos, do tempo de trabalho, da organização do trabalho e das operações e processos às capacidades físicas e mentais dos trabalhadores (Art. 5º, a e b).

A Convenção n. 161 da OIT(12), por sua vez, ao indicar as funções dos serviços de saúde do tra-balho, aponta, no seu art. 5º, as seguintes ações, dentre outras, que sejam adequadas e ajustadas aos riscos da empresa com relação à saúde no trabalho: “a) identificar e avaliar os riscos para a saú-de, presentes nos locais de trabalho...; e) prestar assessoria nas áreas da saúde, da segurança e da higiene no trabalho, da ergonomia e, também, no que concerne aos equipamentos de proteção individual e coletiva...; g) promover a adaptação do trabalho aos trabalhadores...; i) colaborar na difusão da informação, na formação e na educação nas áreas da saúde e da higiene no trabalho, bem como na da ergonomia [...]”.

Este livro se atém às citadas perspectivas, com o fito de demonstrar, ainda que de forma sin-tética, a existência de importantíssimos pontos de convergência entre o atual texto da NR-12, apli-cável, de regra, a todas as atividades econômicas(13) e a leitura que é feita na Ergonomia no tocante à prevenção de acidentes do trabalho, dentre os quais a compreensão do trabalho real (distinto do trabalho prescrito), a abordagem global das situações de trabalho (interfaces física, cognitiva e organizacional) e a visão pluricausal dos referidos agravos à saúde do trabalhador.

(10) O Congresso Nacional aprovou o texto respectivo por meio do Decreto Legislativo n. 226, de 12 de dezembro de 1991, com promulgação por meio do Decreto n. 591, de 6.7.1992 (DOU de 7.7.1992).(11) O Congresso Nacional ratificou o texto respectivo por meio de aprovação via Decreto Legislativo n. 2, de 17.3.1992, e promulgação pelo Decreto n. 1.254, de 29.9.1994 (DOU de 30.9.94).(12) O Congresso Nacional ratificou o texto respectivo por meio de aprovação via Decreto Legislativo n. 86, de 14.12.1989, e promul-gação pelo Decreto n. 127, de 22.5.1991 (DOU de 23.5.1991).(13) O seu subitem 12.1 dispõe, a propósito: “Esta Norma Regulamentadora e seus anexos definem referências técnicas, princípios fundamentais e medidas de proteção para garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores e estabelece requisitos mínimos para a prevenção de acidentes e doenças do trabalho nas fases de projeto e de utilização de máquinas e equipamentos de todos os tipos, e ainda à sua fabricação, importação, comercialização, exposição e cessão a qualquer título, em todas as atividades econômicas, sem prejuízo da observância do disposto nas demais Normas Regulamentadoras — NR aprovadas pela Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978, nas normas técnicas oficiais e, na ausência ou omissão destas, nas normas internacionais aplicáveis” (grifos meus). A obser-vação que se faz, aqui, refere-se à significação da expressão “máquina e equipamento” constante no Anexo IV (Glossário): “para fins de aplicação desta Norma, o conceito inclui somente máquina e equipamento de uso não doméstico e movido por força não humana”.

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capítulo 1

a prevenção de acidentes do trabalho nos sistemas homens-máquinas

A ampla área do relacionamento homens-máquinas inclui, como é cediço, um campo de in-vestigação relativo aos acidentes do trabalho e ao denominado “erro humano” nas situações de trabalho concretamente consideradas. Trata-se de investigação com reflexos nas medidas preven-tivas que deverão ser necessariamente adotadas no meio ambiente do trabalho, especialmente porque, como acentua Alphonse Chapanis, “todo mundo é desatento num ou noutro instante, e dizer que o acidente foi causado por desatenção não fornece em absoluto a chave de como preveni-lo”(1).

1.1 ASNOMENCLATURAS

Diferentes nomenclaturas são utilizadas para designar o estudo do relacionamento homens-máquinas (o referido campo de investigação inclusive). Alphonse Chapanis explica:

“Como frequentemente sucede às novas coisas, as pessoas ainda não sabem muito bem como chamar esta nova tecnologia. Nos Estados Unidos, os nomes Engenharia Humana e Engenharia Especializada em Fatores Humanos — que, para todos os efeitos práticos, são perfeitos sinônimos — merecem a preferência. Ambos se referem à ampla área dos rela-cionamentos homem-máquina, como os apresentados aqui. Na Inglaterra e no resto da Europa, contudo, o termo Ergonomia é geralmente aceito, como equivalente à expressão Engenharia Especializada em Fatores Humanos. Outros termos que de vez em quando apa-recem são Biotecnologia, Biomecânica e Engenharia Especializada em Aspectos Relacionados à Vida. Esses três termos são essencialmente equivalentes a Engenharia Especializada em Fatores Humanos, mas são muito menos usados que os demais”(2).

No Brasil, a denominação usualmente adotada é a Ergonomia, especialmente assim referida nas Normas Regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e, portanto, assim designada neste livro.

(1) A engenharia e o relacionamento homem-máquina. Trad. de Márcio Cotrim. São Paulo: Atlas, 1972. p. 27.(2) Ibidem, p. 30-31.

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Outrossim, embora se saiba que existam distinções entre os estudos ergonômicos norte- -americanos e aqueles levados a efeito pelos europeus, em especial os autores franceses, tem-se que os focos relativamente diversos entre essas duas linhas de pensamento se complementam, como, aliás, bem ensina Lia Buarque de Macedo Guimarães:

“Atualmente, nota-se uma acentuação de duas tendências em relação aos métodos em-pregados e objeto de estudo em Ergonomia. Uma Ergonomia tradicional, mais norte-ame-ricana, centrada na adaptação da ‘máquina ao homem’, e uma Ergonomia europeia, que privilegia a dinâmica da atividade humana no trabalho.

...

A segunda corrente da Ergonomia, mais recente e mais francesa, considera a ergonomia como o estudo específico do trabalho humano com o objetivo de melhorá-lo... esta ergo-nomia se preocupa menos com a cadeira e a tela, tomadas isoladamente, e mais com o conjunto da situação do trabalhador em questão. Nesta perspectiva, suas fadigas e seus erros não podem ser realmente explicados e diminuídos, a não ser que se analise detalha-damente sua tarefa particular e a maneira particular como ele se realiza, considerando as especificidades locais. Pode-se descobrir, assim, para citar apenas um exemplo simples, que se a cadeira é penosa, o é porque as informações que aparecem na tela se apresen-tam de tal forma que impedem o operador de tirar os olhos da tela mesmo por pequenos períodos, o que implica uma postura rígida. O ergonomista desta linha orienta-se essen-cialmente em direção à organização do trabalho: quem faz o que e (sobretudo) como se faz, e se poderia fazê-lo melhor. Isto implica menos frequentemente uma modificação do dispositivo técnico do que dos procedimentos de trabalho, da atividade e das competên-cias dos trabalhadores”(3).

Segundo a mesma autora, os ergonomistas da linha europeia

“privilegiam a dinâmica da atividade humana do trabalho, mais do que a constância de características físicas e fisiológicas. O trabalho é analisado como processo onde interagem o operador, ator capaz de iniciativas e de reações, e seu ambiente técnico, também evolutivo e influenciável. A dimensão temporal é, portanto, essencial. Sem ela, o ergonomista euro-peu não poderia considerar: as estratégias do operador para se adaptar e para adaptar; os diagnósticos que ele elabora progressivamente e os problemas que ele resolve; os inciden-tes dos quais ele participa e a história de suas ‘recuperações’. Uma tal ergonomia, muito mais psicológica do que antropométrica ou filosófica, não resolve, cumpre repetir, os mesmos problemas que a ergonomia tradicional. Ela visa menos diretamente a concepção de má-quinas pelos projetistas, do que a intervenção sobre os próprios locais da produção. É na oficina, na sala de comando, no escritório e no serviço que intervém este ergonomista, a fim de melhorar localmente o trabalho, quer dizer, a interação entre o operador e sua tarefa”(4).

Após esclarecer acerca da grave fraqueza da Ergonomia europeia, ou seja, a de não permitir estabelecer catálogos de dados gerais utilizáveis diretamente para a concepção de dispositivos técnicos, a autora dá sequência à lição ao trazer a lume uma carência de utilidade da Ergonomia tradicional:

“Por outro lado, pode-se retrucar que a Ergonomia Clássica deixa de ser útil onde os res-ponsáveis pela produção necessitam atualmente de maior número de conselhos: nas

(3) Introdução à Ergonomia. In: Ergonomia de processo, editado pela autora. 5. ed. Porto Alegre: FEENG/UFRGS, 2004, vol. I (Série Monográfica Ergonomia), p. 2-8 e 2-11.(4) Ob. cit., p. 2-11 e 2-12.

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situações críticas onde as competências dos operadores (e não somente seu conforto e sua visão) permitem evitar as catástrofes. A Ergonomia Contemporânea não pode mais se contentar em propor mostradores legíveis, ela deve também forjar ferramentas que per-mitam — mais localizadamente, mais singularmente, e portanto, mais lentamente e mais custosamente, analisar os processos de interação entre os operadores e as máquinas a fim de modificar os próprios processos, atuando sobre as competências do operador, sobre a organização do trabalho ou sobre as características das máquinas”(5).

A referida autora explica, ainda, que, não obstante seja improvável a síntese entre a Ergono-mia tradicional e a Ergonomia europeia pelos autores que as defendem, uma articulação entre ambas é possível, porque complementares entre si, sendo que, no Brasil, há mesmo uma probabi-lidade de síntese dessas duas correntes:

“Esta oposição entre uma Ergonomia de ‘componentes humanos’ (a melhor tradução da americana human factors) e uma Ergonomia da atividade humana não é uma oposição estéril. Se uma síntese é improvável, uma articulação é possível. Não há contradição entre conceber uma cadeira confortável e uma tela bem contrastada, para o operador diante de seu terminal de computador e, por outro lado, buscar saber como este operador compre-ende as mensagens que aparecem sobre a tela e os tratamentos aos quais ele a submete. Não é contraditório propor um desenho de um mostrador que permita a percepção exata de uma medida, e saber porque num determinado momento da execução das operações o operador olha para um ou para outro mostrador.

As duas Ergonomias não são contraditórias, mas complementares.

(...)

Desse modo, a probabilidade de síntese das duas correntes da Ergonomia, entre nós, é uma realidade. Faz-se a análise da tarefa, estuda-se a situação real de trabalho, definem-se recomendações para os componentes da máquina do sistema humanos-máquinas, a partir do conhecimento das exigências da tarefa e dos limiares e limites dos componentes humanos. Fazem-se, paralelamente, análises do trabalho, das interações entre dois tipos de processos, o do operador e o da ‘máquina’, estudos sobre organização do trabalho, qualifi-cação da mão de obra, estudos do erro e de incidentes e avaliações sobre o gerenciamento e a organização global do sistema.

De alguma forma nosso subdesenvolvimento, que nos impede de produzir pesquisas mais profundas, acarretou a necessidade de se referenciar na literatura estrangeira. Desse modo, fazemos a complementaridade das Ergonomias e a síntese dos métodos na nossa prática diária”(6).

Ao termo, é importante salientar que, como revelam Anamaria de Moraes e Marcelo M. Soares, dentre os autores que definem a ergonomia ligando-a à ampla área do relacionamento homens-máquinas está Jean-Claude Sperandio (L’ergonomie du travali mental. Paris, Masson, 1983), segun-do quem dentre os vários critérios para a melhoria das condições de trabalho está o aumento da segurança ocupacional:

“...A ergonomia é uma disciplina científica um pouco particular. Ela se constitui de várias disciplinas, mais exatamente por partes de disciplinas, que contribuem para o conhecimento científico do homem no trabalho, sob os diversos aspectos fisiológicos,

(5) Ob. cit., p. 2-12 e 2-13.(6) Ob. cit., p. 2-13 e 2-14.

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psicológicos, sociológicos e médicos do trabalho humano. Este conhecimento científico visa um objetivo prático que condiciona e justifica a própria existência da ergonomia: a adaptação do trabalho ao homem. Não é suficiente estudar o trabalho humano para que o estudo possa ser qualificado de “ergonômico”. É preciso que o objetivo do estudo seja explicitamente a adaptação do trabalho às diversas características dos homens em ques-tão, quer dizer, o arranjo concreto dos utensílios, dos postos de trabalho e dos sistemas homens-máquinas, do ambiente e da organização do trabalho, do mesmo modo que de todos os recursos técnicos utilizados. Por esta razão, a ergonomia é tema para engenheiros e tecnólogos, do mesmo modo que para os pesquisadores científicos; ela coloca direta-mente o conteúdo e as condições de todos os trabalhadores, qualquer que seja o trabalho, prioritariamente físico ou intelectual.

Os critérios desta adaptação são importantes de considerar. É escusado dizer que a ética da ergonomia exige que ao final as condições de trabalho, ou por extensão, a atividade consi-derada pela intervenção ergonômica sejam melhoradas e não pioradas. Mas pode-se me-lhorar segundo critérios diferentes: aumento de desempenho, em termos de rendimento ou eficácia, eliminação da carga de trabalho, diminuição ou supressão dos constrangimentos, aumento da segurança, aumento do interesse intrínseco da tarefa, aumento da satisfação, etc. Não existe um critério ergonômico privilegiado. Em geral, há uma pluralidade de critérios que são frequentemente concorrentes. Não há em geral razão científica para hierarquizar os critérios a considerar: sob este aspecto, a busca participativa se impõe. Consequente-mente, apesar da ergonomia se desenvolver mais e mais como uma ciência significativa pode-se dizer que as intervenções ergonômicas em campo podem ser muito diferentes uma das outras porque segundo as situações, em função dos problemas encontrados, em função dos critérios determinados, os aspectos do trabalho considerados pelos ergono-mistas são muito diversos, como são igualmente diversas as especialidades científicas di-retamente implicadas. Com efeito, a pluridisciplinaridade não exclui de modo algum uma divisão necessária em especialidades, mesmo se, quando em campo, frequentemente as fronteiras se perpassem, as variáveis se interpenetrem e os problemas concretos se apre-sentem simultaneamente conforme várias especialidades, apesar dos recortes universitá-rios tradicionais.

(...) Em resumo, objetivar uma melhor adaptação do trabalho ao homem, é considerar tanto quanto possível todos os aspectos do trabalho, fisiológicos, psicológicos, incluindo os fatores sociais; os fatores objetivos e os fatores subjetivos. Os critérios de otimização serão a satisfação dos operários, seu conforto, sua saúde, mas também a eficácia dos seus comandos operatórios. Este último critério ganha maior importância nas tarefas onde se requer um alto nível de fiabilidade humana”(7).

1.2 APROPÓSITODOSCONCEITOS

A Ergonomia, como assinala Alain Wisner, nasceu em decorrência da necessidade de responder a questões importantes levantadas por situações de trabalho insatisfatórias(8).

(7) Ergonomia no Brasil e no mundo: um quadro, uma fotografia. Rio de Janeiro: Univerta/ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia, 1989. p. 17-18.(8) A inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. Trad. de Roberto Leal Ferreira, São Paulo: Fundacentro, 1994. p. 87.