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RECURSOS NO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO E SUA ADMISSIBILIDADE

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RECURSOS NO JUIZADO ESPECIALFEDERAL PREVIDENCIÁRIOE SUA ADMISSIBILIDADE

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RECURSOS NO JUIZADO ESPECIALFEDERAL PREVIDENCIÁRIOE SUA ADMISSIBILIDADE

DAVID DE MEDEIROS BEZERRA

Advogado. Mestre em Direito. Professor Universitário.

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Índice para catálogo sistemático:

EDITORA LTDA.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

R

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brJunho, 2013

Todos os direitos reservados

Bezerra, David de MedeirosRecursos no juizado especial federalprevidenciário e sua admissibilidade / David deMedeiros Bezerra. — São Paulo : LTr, 2013.Bibliografia

1. Acesso à justiça - Brasil 2. Juizadosespeciais 3. Juizados especiais federais — Brasil4. Recursos (Direito) I. Título.

13-03049 CDU-347.994(81)

1. Brasil : Recursos no Juizado EspecialFederal : Direito processual 347.994(81)

Versão impressa - LTr 4774.3 - ISBN 978-85-361-2576-3

Versão digital - LTr 7593.2 - ISBN 978-85-361-2637-1

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Dedico esta obra para a minha esposa Lucimar,minha redenção, meu agora, meu futuro, meu sempre.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível sem o auxílio diuturno da professoraFernanda Tartuce que com paciência e sabedoria soube me conduzir na

jornada de um tema novo e tortuoso para os técnicos do direito que sãoos seus recursos no microssistema dos Juizados Especiais Federais.

Ainda, os professores Luiz Dellore e Erik Frederico Ganstrupque muito contribuíram na expansão desta síntese, com sugestõesde revistas científicas, jurisprudências e o acréscimo de institutos

correlatos ao regular desenvolvimento desta obra.

Agradeço também aos colegas das turmas de mestrado,que muito me incentivaram no dia a dia nas aulas dos créditos,tornando o ambiente sempre dotado de alegria e descontração.

Também para minha amiga e sócia do escritório,Dra. Andréa Mottola, que durante muitos dos meus estudos deste

trabalho conduzia com propriedade os prazos dos processos.

Por derradeiro, aos meus pais, Jandyr e Domitila, bem como minha irmã Raquel, que condicionaram a este menino de incertezas,

a objetividade de um homem crédulo no espírito humano.

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ÍNDICE

Introdução ..................................................................................................................... 15

Capítulo 1. O acesso à justiça no direito nacional ................................................. 17

1.1. Concepção de acesso à justiça ............................................................................. 17

1.2. Acesso à justiça pela via dos juizados ............................................................... 22

Capítulo 2. Juizados Especiais .................................................................................. 26

2.1. Breve histórico dos juizados especiais .............................................................. 26

2.2. Princípios que informam os juizados especiais federais ................................ 29

2.2.1. Contraditório e ampla defesa ................................................................... 30

2.2.2. Oralidade ..................................................................................................... 33

2.2.3. Simplicidade ................................................................................................ 34

2.2.4. Informalidade ............................................................................................. 34

2.2.5. Celeridade .................................................................................................... 35

2.2.6. Economia processual ................................................................................. 35

2.2.7. Acessibilidade ............................................................................................. 36

2.2.7.1 Operosidade .................................................................................... 37

2.2.7.2. Utilidade ......................................................................................... 37

2.2.8. Igualdade das partes no processo ............................................................. 37

2.2.9. Motivação das decisões judiciais ............................................................. 38

2.2.10. Duplo grau de jurisdição ........................................................................ 39

2.3. Das medidas de urgência ..................................................................................... 40

2.4. Da decisão ............................................................................................................... 44

Capítulo 3. Recursos nos juizados especiais .......................................................... 47

3.1. Conceitos de recurso, sucedâneo recursal, incidente e papel dos requisitosde admissibilidade ............................................................................................... 47

3.2. Requisitos de admissibilidade dos recursos .................................................... 48

3.3. Requisitos genéricos de admissibilidade recursal ........................................... 50

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Capítulo 4. Recursos nos juizados especiais federais e sua admissibilidade .... 57

4.1. Requisitos específicos dos juizados especiais ................................................... 57

4.2. Da necessidade do advogado na 2ª instância ................................................... 58

4.3. Do reexame necessário ......................................................................................... 58

4.4. Da admissibilidade dos recursos ........................................................................ 59

4.5. Da especificidade dos recursos atinentes aos juizados especiais federaiscíveis ....................................................................................................................... 60

4.6. Do recurso inominado .......................................................................................... 60

4.7. Dos agravos ............................................................................................................ 72

4.8. Do agravo regimental e do agravo de despacho denegatório de recursoextraordinário ...................................................................................................... 75

4.9. Dos embargos de declaração ............................................................................... 77

4.10. Dos embargos infringentes ................................................................................ 83

4.11. Da uniformização de jurisprudência ............................................................... 85

4.11.1. Análise do tema no regime do CPC ..................................................... 85

4.11.2. Da natureza jurídica do pedido de uniformização de jurisprudên-cia no sistema dos juizados especiais ................................................ 88

4.11.3. Dos tipos de pedido de uniformização de jurisprudência .............. 90

4.11.4. Do pedido de uniformização regional de jurisprudência em direi-to material .............................................................................................. 93

4.11.5. Do pedido de uniformização nacional de jurisprudência em direi-to material .............................................................................................. 96

4.11.6. Da contrariedade à súmula ou jurisprudência dominante do Supe-rior Tribunal de Justiça ........................................................................ 98

4.11.7. Do pedido de uniformização de jurisprudência endereçado ao Supe-rior Tribunal de Justiça ........................................................................ 101

4.11.8. Da retenção dos pedidos de uniformização idênticos ...................... 102

4.11.9. Da possibilidade da interposição simultânea de pedidos de unifor-mização regional e nacional e recurso extraordinário ................... 103

4.11.10. Dos efeitos dos julgamentos dos pedidos de uniformização ........ 105

4.11.11. Da consulta de natureza processual ................................................. 106

4.11.12. Da impossibilidade de discussão da matéria processual nos pedi-dos de uniformização ......................................................................... 107

4.11.13. Da admissibilidade do pedido de uniformização de jurisprudên-cia ........................................................................................................... 108

4.12. Do pedido de submissão .................................................................................... 113

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4.13. Do recurso especial ............................................................................................. 115

4.14. Do recurso extraordinário ................................................................................. 116

4.14.1. Da repercussão geral da questão constitucional e da impossibili-dade de reapreciação de matéria fática ............................................. 117

4.14.2. Dos efeitos do recurso extraordinário no JEF e o agravo nos pró-prios autos .............................................................................................. 119

4.14.3. Dos recursos múltiplos ......................................................................... 120

4.15. Da reclamação constitucional ........................................................................... 121

4.15.1. Da utilização da reclamação como sucedâneo recursal no JuizadoEspecial Federal ..................................................................................... 123

Capítulo 5. Da admissibilidade dos recursos e o poder dos enunciados, ques-tões de ordem e resoluções no Juizado Especial Federal ............... 127

5.1. Do poder dos enunciados, questões de ordem e resoluções no Juizado Espe-pecial Federal ........................................................................................................ 127

5.2. Dos requisitos de admissibilidade comuns aos tribunais superiores e tur-mas recursais do Juizado Especial Federal ...................................................... 132

5.2.1. Do juízo responsável pela apreciação da admissibilidade ................. 132

5.2.2. Da causa decidida ....................................................................................... 133

5.2.3. Do prequestionamento .............................................................................. 134

5.2.4. Da vedação do reexame do contexto fático e probatório ..................... 135

5.2.5. Da repercussão geral ................................................................................. 136

5.3. Da criação do direito sumular no JEF ................................................................ 137

Conclusões .................................................................................................................... 141

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 145

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“Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.”

Isaac Newton

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INTRODUÇÃO

No dia 12 de julho de 2001, surgia a Lei n. 10.259/01 para regular ainstituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da JustiçaFederal.

A Lei, fruto do direito fundamental constitucional de todos ao acesso àjustiça, propunha um rápido arremate do processo, em especial com a suainformatização e o banimento dos autos físicos com seus carimbos e cordões.

No entanto, o que se viu, ultrapassados dez anos, é que a União comsuas autarquias e empresas públicas(1) são ainda detentoras do maior acervorecursal existente na sede destes juizados por duas fundamentais razões:porque seus bens são indisponíveis (e tal fato enseja a necessidade de serecorrer almejando alteração jurisprudencial) e porque é obrigatório aosprocuradores e advogados pertencentes a tais quadros da carreira pública ainterposição de todas as medidas recursais possíveis.

Estaremos, então, diante de um complexo de recursos com basesprocessuais próximas do que expõe o nosso Código de Processo Civil, porém,com nomenclatura, prazo, preparo e forma de julgamento completamentediferentes.

O objetivo deste trabalho é demonstrar não somente o sistema derecursos que hoje caracteriza os Juizados Especiais, com recursos aceitos nestemicrossistema e outros não, mas também como se procede à admissibilidadedeles, em confronto muitas vezes com que dispõe o Código de ProcessoCivil.

(1) Seminário “Os Cem Maiores Litigantes”, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em2.5.11.

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O ACESSO À JUSTIÇANO DIREITO NACIONAL

1.1. CONCEPÇÃO DE ACESSO À JUSTIÇA

O acesso à justiça, conquanto inicialmente possa ser identificado com asituação de alguém que busca o Poder Judiciário para ver dirimida querelasua, cuja resolução não foi viável em autocomposição, não detém significadode cunho meramente processualístico.

Tampouco, a expressão se refere à celeridade que todo o processo deveriaalmejar objetivando conceder a tutela jurisdicional ao requerente. Ainda, agarantia não se limita à técnica processual desenvolvida pelo operador dodireito, seja na proteção parcial do cliente (advogado), seja na proteção detoda a sociedade tanto como parte, como fiscal da lei (promotor de justiça),e seja, por derradeiro, como na proteção da Lei como prestador do serviçojurisdicional (juiz).

Então como pode ser entendido o acesso à justiça?

Na escola instrumentalista(2), vê-se que a natureza pública do processo,prévia e eminentemente concebida como relação entre sujeitos, busca anteo Estado-juiz a atuação da lei material e, por conseguinte, a pacificação pormeio da justiça.

Todavia, para se alcançar esta finalidade (paz social) pelo processo,inicialmente, devemos diferenciá-lo ante o procedimento; assim, o processoé gênero e o procedimento, espécie. Então surge o procedimento como ummeio que regulamenta o processo numa sequência lógica, e o processo porseu turno terá a finalidade instrumental de servir à jurisdição. Esta é a teoriado processo como relação jurídica de Oskar Von Bullow(3).

Capítulo 1

(2) Na Faculdade do Largo São Francisco, Liebman contribuiu e muito para a processualística brasileira,ao iniciar esta escola, também chamada de “Escola Processual de São Paulo”.(3) Em 1868, Oskar Von Bullow lançava sua obra, Teoria dos Pressupostos Processuais e das ExceçõesDilatórias, que concedia autonomia ao processo, não mais singela sucessão de atos processuais —

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E na ausência do contraditório, o que teríamos então: apenas meroprocedimento, e não processo?

Esta pergunta foi respondida pelo mestre italiano Elio Fazzalari:

“configurata l’azione come la sequenza delle posizioni processualispettanti alla parte, lungo il corso del processo, non à, poi,consentito ritenere che abbia azione soltanto la parte che promuoveil processo (...) La verità è, invece, che ha propria azione qualsiasialtra parte (così, ancora nel processo civile, il convenuto,l’inteveniente): infatti ciascuna para ha una serie di poteri, facoltá,doveri, assegnatile proprio per realizare, con una serie di atti, lasua partecipazione la processo, quindi il contraddittorio.”(4)(5)

Assim, o contraditório configura condição impositiva para a transfor-mação de singelo procedimento em processo.

Um ponto merece ser observado na Teoria de Fazzalari: na época daelaboração da obra, não houve maior preocupação no tocante à análise docontraditório como uma garantia constitucional em um processo judicial ouadministrativo; para tanto, confiram-se as palavras de Rosemiro Pereira Leal:

“O que seria de anotar na Teoria Fazzalariana do processo, pontofulgurante, neste século, do estudo do direito processual, é queFazzalari, ao distinguir processo e procedimento pelo atributo docontraditório, conferindo, portanto, ao procedimento realizado pelaoportunidade de contraditório a qualidade de processo, não fê-looriginariamente pela reflexão constitucional do direito-garantia.Sabe-se que hoje em face do discurso jurídico-constitucional dasdemocracias, o contraditório é instituto do Direito Constitucionale não mais uma qualidade que devesse ser incorporada porparâmetros doutrinais ou fenomênicos ao procedimento pelaatividade jurisdicional. É o contraditório conquista históricajuridicamente constitucionalizada em direito-garantia que se impõecomo instituto legitimador da atividade jurisdicional no processo.”(6)

procedimento —, mas sim uma força motriz que une os sujeitos processuais e justifica, aqui sim, aprática do procedimento (aspecto formal) visando sua função jurisdicional que é a eliminação dosconflitos e confecção da justiça mediante a atuação concreta da lei.(4) FAZZALARI, Elio. Istituzioni di diritto processuale. Padova: Cedam, 1992. p. 420.(5) Tradução Livre: “Configurada a ação como a sequência das posições processuais conferidas àspartes, ao longo do curso do processo, não tem, pois se permitir acreditar que havia ação somentepara a parte que promove o processo (...) A verdade é, no entanto existe própria ação a qualquer outraparte (assim, agora no processo civil, o réu, o interveniente): na verdade cada parâmetro tem série depoderes, faculdades, deveres, atribuído ao próprio para realizar, com uma série de atos, a sua participaçãoao processo, em seguida o contraditório.”(6) LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo — primeiros estudos. 2. ed. Belo Horizonte:Síntese, 1999. p. 81.

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Contudo, malgrado tenha havido por parte de Fazzalari despreocupaçãodo contraditório como garantia fundamental, para outros autores, isto restariatotalmente indiferente, pois Acesso à Justiça corresponderia à efetividade doprocesso. Dois consagrados autores, Mauro Cappelletti e Bryan Garth,desenvolveram em sua obra referencial o seguinte entendimento acerca dotema:

“A expressão ‘acesso à justiça’ é reconhecidamente de difícil defini-ção, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistemajurídico — o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seusdireitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Pri-meiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, eledeve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.

Os juristas precisam, agora, reconhecer que as técnicas processuaisservem para as funções sociais [...] O ‘acesso’ não é apenas umdireito social fundamental, crescentemente reconhecido; ele é,também, e necessariamente, o ponto central da modernaprocessualística.”(7)

Então, enquanto Cappelletti, busca por meio de um processo mais rápido,barato e com ampla acessibilidade aos jurisdicionados, a efetividade daprestação jurisdicional, por outro lado, Fazzalari enaltece o contraditório,ainda que, porventura, reste prejudicada a celeridade, porque o que interessaé que a decisão tenha tido participação dos contendores, pois em um EstadoDemocrático como o Brasil, o procedimento em contraditório é o únicoelemento detentor de capacidade para a garantia constitucional que as partespossuem em tal processo, sob pena de criação de verdadeiro Tribunal deExceção.

Assim, sob pena de inconstitucionalidade, deve-se garantir sempre ocontraditório, como bem destaca Rosemiro Pereira Leal:

“A prevalecer o entendimento de que nos Juizados Especiais évedada a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes(art. 5º, LV, CF/88) em toda a inteireza constitucional, transformam--se os tribunais superiores e o STF em Tribunais de Exceçãodestinados ao julgamento de causas de grande potencial econômico,a critério e arbítrio de seus juízes, com supressão do requisito dojuízo natural que é instrumento imprescindível da processualidadenas democracias.”(8)

(7) CAPPELLETTI Mauro; GARTH Bryan. Acesso à justiça. Porto Alegre-RS: Sergio Antonio FabrisEditor, 1988 (reimpresso em 2002). p. 8.(8) LEAL, Rosemiro Pereira. Comentário de Acórdão do STF. Boletim Técnico da Escola Superior deAdvocacia da OAB/MG, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 78, jan./jun. 2004.

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Encontramos, ainda, no cenário nacional, o autor Paulo Cezar Pinheiro,que expõe:

“A explosão da litigação deu uma maior visibilidade social e políticaaos tribunais e as dificuldades que a oferta da tutela judicial teve,em geral, para responder ao aumento da procura suscitaram comgrande acuidade a questão da capacidade às questões com elaconexas: as questões da eficácia, da eficiência e da acessibilidadedo sistema judicial.”(9)

E esta acessibilidade ao sistema judicial ganhou contorno constitucionalante o princípio da inafastabilidade da jurisdição que no seu art. 5º, XXXV,conclama que sempre que houver violação de direito, mediante lesão ouameaça, deverá o Poder Judiciário intervir e aplicar o direito ao caso concreto.

E a professora Fernanda Tartuce aclara como se deu o nascimento desteprincípio garantista do acesso à justiça:

“O princípio-garantia da inafastabilidade da jurisdição, tambémdenominado de direito de ação, princípio do livre acesso aoJudiciário, princípio da ubiguidade da justiça e princípio da proteçãojudiciária, teve reconhecimento constitucional a partir de 1946.Deve-se considerar o momento histórico de sua inclusão em nossosistema jurídico para perceber o real sentido de tal previsão. Alegislação até então existente, no regime legal de 1937, excluía aapreciação judicial de inquéritos parlamentares e policiais. Assim,justificou-se o expresso comando ao legislador com ‘status’ degarantia constitucional. A partir de então, tal norma consolidou-seem nosso sistema e passou a ser repetida nas Constituições seguintescom aperfeiçoamentos.”(10)

Vale aqui também ressaltar que o acesso à justiça surge como um direitohumano, entretanto não como ingresso de um processo junto a um órgãojurídico, mas, sim, consoante as palavras de Kazuo Watanabe, o acesso auma “ordem jurídica justa”(11), qual seja, justa no sentido de que ojurisdicionado teve acesso a um processo regular, no qual as garantias tidascomo constitucionais da ampla defesa, contraditório e da igualdade entre aspartes estejam asseguradas para todos, garantindo a efetividade do processo.

Contudo, a indagação é necessária: como se busca a efetividade numprocesso?

(9) CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à justiça, juizados especiais cíveis e a ação pública. Rio deJaneiro: Forense, 1999. p. 18.(10) TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. São Paulo: Método, 2008. p. 132.(11) Expressão utilizada por Kazuo Watanabe. Acesso à justiça e sociedade moderna. In: GRINOVER;DINAMARCO; WATANABE. Participação e processo. São Paulo: RT, 1988.

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Preliminarmente, com a utilização não somente no papel, mas na práticada Justiça Social. Assim, para que o acesso à justiça seja realmente produzidopara todos, deve-se afastar o positivismo jurídico de Kelsen, que se restringeà subsunção da norma ao fato concreto, para a busca de procedimentos quesejam conducentes à proteção dos direitos das pessoas comuns.

A priori pode soar estranho, em um sistema romano-germânico comoo nosso, colocar de lado a figura kelseniana, em troca da acessibilidade àjustiça, contudo, nos esclarecimentos de Alysson Leandro Mascaro, isso ficamais fácil:

“Em épocas de ditadura, o processo civil tinha a lógica da segurança.Quanto mais tempo demorasse o feito, quanto mais controle dofluxo do processo, assim mais condições de controle social haviapara o direito. Por conta disso, o Código de 1973, feito pelo ministrodos militares, Prof. Alfredo Buzaid, não via dificuldades na demorado processo nem no acúmulo de oportunidades recursais para aapreciação dos vários graus do Poder Judiciário, porque isto, nofundo, representava um controle contínuo das meras decisões. Agrande preocupação do Código de 73, bem como dos anteriores,nunca foi com a justiça processual, mas sim com a segurança. Nestepatamar é que se assentam os interesses com o processo civil emgrande parte do século XX no Brasil.

[...]

No entanto, o influxo democratizador da década de 80 sofre umrevés institucional dramático na década de 90. Se já a preocupaçãocom a mera segurança processual estava vencida — e, vale dizer,foi nesta etapa que se venceu a disputa contra a ideia de umprocesso civil arcaico, meramente formal, instalado no conflitoatomizado entre autor e réu —, a década de 90 representou para oprocesso civil a dilaceração das salvaguardas institucionais, somadaà desconstrução da lógica politizadora do conflito jurídico. Enquantoa preocupação processual na década de 80 era com a ‘molecurização’dos conflitos, rompendo a sua história de ‘atomização’ anterior, apreocupação atual do processo civil é em relação à rapidez proces-sual. O processo efetivo, muito mais do que o processo justo, é o elementode importância para as reformas processuais da década de 90.”(grifosnossos)(12)

(12) MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do direito e filosofia política (A justiça é possível). SãoPaulo: Atlas, 2003. p. 70-71.

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Daí decorre que um sistema como esse necessita ser rápido, com custosrelativamente baixos, e ser informal, requisitos que exigiriam de magistradosa especificidade na condução de um processo para um julgamento maisbreve e efetivo.

1.2. ACESSO À JUSTIÇA PELA VIA DOS JUIZADOS

Malgrado a informalidade e a especificidade dos magistrados no tratodos juizados, algumas vozes se opuseram ao formato desta “Nova Justiça”.

Para o autor Botelho de Mesquita, criou-se esta Nova Justiça (JuizadosEspeciais) não pela devida preocupação de dar vazão à litigiosidade latentedas chamadas pequenas causas, isto é, processos de pequena monta,concedendo a todos amplitude de acesso à justiça, mas, sim, para livraros juízes do jugo da lei e do processo regular e, em decorrência disso,poderiam julgar de maneira mais justa e equânime, em síntese, ao seubel-prazer, tornando a jurisdição contenciosa afinada com a Lei, eis quemolda a ordem jurídica, em jurisdição voluntária mais preocupada comum julgamento pautado na equidade daquele caso que competirá aomagistrado decidir.(13)

Vejam-se as candentes palavras do ilustre professor:

“Esta regra, na verdade, era um pastiche. Primeiro, porque se dejurisprudência contenciosa tratasse, não era necessário dizer que ojuiz decidirá com base na lei, pois isto já estava no CPC. Segundo,porque se o juiz tivesse que aplicar a lei, não era necessário dizerque deveria interpretá-la de acordo com os seus fins sociais e asexigências do bem comum, porque isso já estava no art. 5º da LICC.Por último, a cláusula final, de que deveria o juiz adotar ‘em cadacaso a solução que reputar mais justa e equânime’, contrabandeadada regra do art. 1.109 do CPC — ‘podendo o juiz adotar em cadacaso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna’ —desmentia todas as cláusulas anteriores e punha à mostra averdadeira intenção que animava o anteprojeto livrar o juiz dasrestrições inerentes ao dever de decidir com base na lei e medianteprocesso regular.”(14)

(13) MESQUITA, José Ignácio Botelho de. O Juizado Especial em face das garantias constitucionais.

Revista Jurídica, São Paulo:Notadez, v. 330, p. 9-13, abril/2005.

(14) MESQUITA, José Ignácio Botelho de. O Juizado Especial em face das garantias constitucionais.

Revista Jurídica, São Paulo:Notadez, v. 330, p. 13, abril/2005.