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RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs): Uma alternativa ao desenvolvimento sustentável. Monografia de Bacharelado em Economia Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária PUC – São Paulo Novembro – 2007

Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

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RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs):

Uma alternativa ao desenvolvimento sustentável.

Monografia de Bacharelado em Economia

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária

PUC – São Paulo

Novembro – 2007

Page 2: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs):

Uma alternativa para o desenvolvimento sustentável.

Monografia submetida à

apreciação da banca

examinadora do Departamento

de Economia, como exigência

parcial para a obtenção do grau

de bacharel em ciências

econômicas, elaborada sobre a

orientação do Professor Zilton

Luiz Macedo.

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária

PUC – São Paulo

Novembro – 2007

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1) Página de aprovação

2) Autorização para consulta e reserva de direitos autorais

Esta monografia foi examinada pelos professores abaixo relacionados e aprovada com nota final ---,--- (--------------------------------------------------) Nomes legíveis dos examinadores (orientador e demais membros da banca ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________

Autorizo a disponibilização desta monografia na Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da PUC – São Paulo para consulta pública e utilização como referência bibliográfica, mas sua reprodução total ou parcial somente pode ser feita mediante autorização expressa do autor, nos termos da legislação vigente sobre direitos autorais. São Paulo, ____ de ____________ de ______ Assinatura: ______________________

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AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho ao exímio Sr. Agostinho Bocci, homem íntegro que agora

deixa saudade. Seu brilho estará sempre presente nas estrelas vô.

Queridos avós Hesel e Minde Hisgail, vovó Jacy y abuelita Betty que tornam

inesquecíveis os momentos em que estamos juntos. Amo vocês.

À Elinée Hisgail, minha mãe, mulher lutadora que sempre esteve ao meu lado.

Às queridas tias Fani e Alzira, que orientam o meu caminho nesta jornada.

À Iris, minha flor, que me acompanhou fielmente em muitos momentos.

Ao Ninho e ao Jorge Poulsen, meus tios, por todas as conversas do dia a dia;

Ao Marco Antônio e ao Negro Hector, meus pais.

Agradeço aos meus irmãos, Paloma, Gabi, Jojô e a nena, Isabella, pelos beijos,

abraços e cócegas. A Giovanna!

Aos ilustres Sr.s. economistas Rodolfo Matos, Thiago Trajano, Venicio Neto, e

Natalie Hanna pela amizade destes anos.

Agradeço ao Sr. Zilton Luiz Macedo, que orientou brilhantemente este trabalho.

Ao Osvado, Rose Mary e Júlio César, da Unidade de Desenvolvimento

Territorial do BNDES, pelo apoio e confiança.

Lindos foram os anos vividos nesta universidade. Muito conhecimento e saber aí

são criados. Grato à PUC-SP e a todos os meus professores.

Ao Fundo Jovem Tsedaká pelo apoio.

Ao totó que me faz sorrir e aos Mestres que me protegem.

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NOGUEIRA, Rodrigo Hisgail de Almeida. Arranjos Produtivos Locais

(APLs): Uma alternativa para o desenvolvimento sustentável. São Paulo - SP,

2006. [Monografia de Bacharelado – Faculdade de Economia, Administração,

Contabilidade e Atuária – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo].

RESUMO

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS trazem à tona um conceito que ressurgiu

com o advento da globalização, em meados do século XXI, quando o inchaço das

pequenas empresas no Brasil e à crescente degradação ambiental deram espaço ao

surgimento de pequenos núcleos industriais como alternativa às dificuldades

econômicas da época. Além de analisar os benefícios nestes aglomerados, enfatizam-

se as ações que corroboraram para o desenvolvimento sustentável em diversas

regiões do país. O objetivo desta pesquisa é promover o debate a respeito do

potencial socioeconômico das pequenas empresas por meio do dimensionamento dos

resultados alcançados no que tange a economia do Brasil.

Palavras-chave: APL, cluster, desenvolvimento sustentável.

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SUMÁRIO

Introdução...................................................................................................................01

1- Desfrutando das vantagens.....................................................................................06

1.1-Cooperação, competição e a importância da instituição em

aglomerados....................................................................................................06

1.2-Teoria dos jogos: uma aplicação à teoria das externalidades...................09

1.3-Desafios globais da sustentabilidade: da estratégia à cidadania...............12

1.4-APLs em números: a atuação do SEBRAE..............................................14

1.5-Tipo de APLs e a distribuição por atividades...........................................18

1.6-Casos de sucesso.......................................................................................22

1.7-Regras para a formação de um APL.........................................................25

1.8-Simulação da viabilidade econômica: identificando potenciais...............27

2- O crescimento das MPEs: um paradigma dos novos tempos ................................29

2.1-Mudanças no cenário e as conseqüências na estrutura ocupacional.........29

2.2-Linhas de crédito e financiamento: uma oportunidade para todos?..........36

2.3-Efeitos da carga tributária no Brasil.........................................................40

3- Estudo de caso........................................................................................................46

3.1-Arranjo Produtivo do Grande ABC: o cluster como alternativa para o

desenvolvimento regional.........................................................................46

3.2-Pólo de lavanderias de jeans no agreste pernambucano: inteligência

aplicada ao desenvolvimento sustentável.................................................50

Conclusão....................................................................................................................54

5- Referências bibliográficas......................................................................................57

Apêndice estatístico....................................................................................................64

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1

INTRODUÇÃO

Em meados do século XXI, a

partir do surgimento da chamada

globalização, a intensificação dos

regimes de comércio global fez com

que o poder dos governos nacionais

diminuísse. Outros grupos da

sociedade civil ocuparam a cena. As

empresas adquiriram força de

governo e o bem-estar tornou-se

ainda mais difícil de ser alcançado.

Como conseqüência deste novo momento, políticas de incentivo à formação de

arranjos produtivos locais (APLs) surgiram como meio para o desenvolvimento da

sociedade, principalmente, através da geração de renda seguida da redução da

informalidade. Acompanha o ressurgimento desse interesse, a esperança de que tais

arranjos possam contribuir para a competitividade e o desenvolvimento do país. “O

grande desafio que enfrentamos hoje é certificarmos-nos de que, em vez de deixar

para trás milhares de pessoas que vivem na miséria, a globalização se torne uma

força positiva para todos os povos do mundo” (HEGMANNS, 2007, p. 128, apud

Kofi A. Annan).

Os APLs são aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território –

rural ou urbano - que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo

de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores

locais, tais como o próprio governo, associações empresariais e instituições de

crédito, ensino e pesquisa.

O termo APL foi elaborado pela Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos

Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist1) e surgiu como alternativa ao foco

tradicional em setores econômicos e empresas individuais. Contudo, a origem do 1 Para mais informações ver http://www.redesist.ie.ufrj.br/.

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2

termo data desde os tempos da Revolução Industrial Inglesa (1780 - 1880), período

em que a cooperação tornou-se uma alternativa à problemática surgida com o regime

Capitalista.

“Já no final do século XIX, o economista Alfred Marshall2 havia observado que grupos de pequenas empresas aglomeradas da Grã-Bretanha vinham desfrutando de um significativo conjunto de vantagens quando comparadas às empresas não pertencentes às aglomerações. Em particular, elas tinham menor dificuldade de acesso a recursos, à mão-de-obra especializada, a fornecedores e a outras indústrias de suporte, assim como melhor capacidade de inovação e apropriação de conhecimentos. O economista deu a esses aglomerados o nome de distritos industriais (...) Embora muito usado na Europa, à nomenclatura de “distritos industriais” cedeu espaço aos termos clusters e, mais recentemente, Arranjos Produtivos Locais (APLs), especificamente ao cenário brasileiro.” (VASCONCELOS, 2005, p. 17).

O principal objetivo dos APLs é promover a competitividade e a sustentabilidade

dos micro e pequenos negócios, estimulando processos locais de desenvolvimento ao

longo do tempo. “A idéia de sustentabilidade vem sendo representada pela elevação

de expectativas em relação ao desempenho social e ambiental (...) [garantindo] que a

habilidade para satisfazer as necessidades do presente não comprometa a habilidade

das futuras gerações para satisfazerem suas necessidades” (BRUNTLAND, 1987, p.

8, apud HART & MILSTEIN, 2004, p. 66).

Assim, a existência de um aglomerado com posse dos próprios meios produtivos

deixa de lado o julgamento político-ideológico e cede espaço para a percepção de um

novo modelo de empreendimento sustentável, que “similarmente, é um processo para

se alcançar o desenvolvimento humano (...) de uma maneira inclusiva, interligada,

igualitária, prudente e segura” (GLADWIN, et alli, 1995, p. 878-907, apud HART &

MILSTEIN, 2004, p. 66). Por meio do alto potencial de produção, comercialização e

geração de renda associado aos APLs, deseja-se evidenciar “que empresas

sustentáveis são aquelas que, simultaneamente, geram benefícios econômicos, sociais

2Alfred Marshall (1842–1924) tornou-se um dos mais influentes economistas do seu tempo. Seu livro, Principles of Economics (1890), trouxe, dentre outras, a famosa “tesoura marshalliana”, em que analisa as curvas de oferta e demanda, e outros conceitos, como utilidade marginal e custos de produção.

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3

e ambientais – conhecidos como os três pilares do desenvolvimento sustentável”

(ELKINGTON, 1994, p. 90-100, apud HART & MILSTEIN, 2004, p. 66).

Neste sentido, o desafio desta pesquisa é verificar a atual contribuição

destes APLs, formados por Micro e Pequenas Empresas (MPEs) formais e

informais, como uma alternativa estratégica para promover o desenvolvimento

sustentável das diversas regiões do Brasil.

Os agentes econômicos envolvidos no processo são aqueles influenciados pelo

modelo. Enquanto as MPEs ganham maior poder de competição em mercados

competitivos, os trabalhadores beneficiam-se de melhores condições trabalhistas, os

fornecedores e as indústrias de suporte melhoram a organização da sua produção e

estoque, a sociedade estimula a circulação de moeda e o meio-ambiente é melhor

preservado. Há também aqueles que, apesar de não ter vínculo direto com a cadeia

produtiva, saem beneficiados. Entre eles estão: governo e associações empresariais

que aumentam suas arrecadações; instituições de crédito, que expandem suas linhas

de financiamento; instituições de ensino e pesquisa que trazem melhorias para a

educação e novas tecnologias; dentre outros. A elaboração do trabalho seguiu as linhas teóricas de “capital social como um

conjunto de recursos capazes de promover a melhor utilização dos ativos econômicos

pelos indivíduos e pelas empresas” e “a competitividade como um atributo do

ambiente, antes mesmo de ser um trunfo de cada firma” (SEBRAE, 2006-a, on line).

O capítulo inicial partiu da elaboração de uma série de abordagens, algumas

compreendendo a utilização de teorias ensinadas ao longo do curso de graduação–

como os conceitos de cooperação e competição – a fim de sintetizar,

fundamentalmente, os principais benefícios a elas conferidos na existência de

aglomerações produtivas. Para ilustrar, faz-se referência ao “dilema dos prisioneiros”

e à “caça ao cervo”, dois jogos estudados em Teoria dos Jogos, na qual as

possibilidades em se tomar uma decisão podem se tornar uma enorme vantagem

quando se está no meio de um ambiente competitivo. Segue a esta discussão, a

abordagem sobre os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) discutindo

sobre práticas ambientalmente sustentáveis adotadas em algumas regiões hospedeiras

de APLs. Junto aos materiais usados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE), foi feito um mapeamento dos APLs existentes no país,

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4

abordando alguns casos de destaque. Uma amostra de 111 aglomerados foi

segmentada para a composição das análises. Por último foi realizada uma simulação

acerca da viabilidade econômica destes agrupamentos, com a intenção de sugerir às

iniciativas pública e privada um novo modelo de negócio, possível de ser rentável e

economicamente sustentável.

O segundo capítulo estudou o crescimento das MPEs, um paradigma dos novos

tempos que surge justamente para explicar a necessidade da construção de laços e

alianças estratégicas diante da difícil realidade por que passam as empresas de

pequeno porte. Aborda-se aí o problema da informalidade, que agrega um

contingente cada vez maior da população economicamente ativa (PEA) do país.

Além de não receber qualquer tipo de assistência social ou financeira, as empresas

informais pouco contribuem para o crescimento do PIB do país. Para a elaboração

das análises, consideraram-se os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), e o já citado Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE).

Finalmente, o terceiro capítulo retrata o estudo de alguns cases que consistiram

em comprovações empíricas sobre todo o processo que envolve a cadeia produtiva:

contratos com fornecedores, customização, barateamento dos custos de produção,

melhoria nas condições trabalhistas, uso de novas tecnologias, campanhas de

marketing, desenvolvimento regional, decisões de compra, produção e venda das

mercadorias. Assim são mensuradas as melhorias quantitativas e qualitativas antes e

depois da inserção das MPEs neste tipo de arranjo, bem como problemas

institucionais que possam ameaçar empresários e trabalhadores envolvidos no

negócio.

O diagrama de blocos na página a seguir ilustra a concepção metodológica desta

pesquisa.

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5

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CAPÍTULO 1 - DESFRUTANDO DAS VANTAGENS

1.1 - Cooperação, competição e a importância da instituição em aglomerados

Aspectos de reciprocidade e interatividade comunitários, fundamentalmente os de

cooperação e competição, são as características essenciais à existência de um APL

eficiente. Eles representam as principais diferenças encontradas dentro de um

arranjo. A cooperação pode ocorrer de duas formas. A primeira – horizontal –

acontece entre as empresas pertencentes ao aglomerado, ou agentes do processo

produtivo, quando, por exemplo, passam a desenvolver métodos conjuntos para a

redução de custos, como esforços de compras, planejamento estratégico ou

marketing de produtos. Tais esforços “podem se traduzir em ganhos competitivos

importantes para as empresas, permitindo, coletivamente, superar obstáculos que

estas, isoladamente, teriam maiores dificuldades em transpor” (VASCONCELOS,

2005, p. 19). A outra – vertical – trata de englobar o restante da cadeia produtiva,

como organismos locais de suporte e o setor público que, por exemplo, poderiam

disponibilizar áreas para produção, como bens públicos, ou redução da carga

tributária. “Além disso, a competição dentro do cluster ou APL tem o potencial de

aumentar a produtividade e estimular a formação de novos negócios, o que provoca a

expansão e o fortalecimento do próprio aglomerado” (Op. cit., 2005, p. 19). É como

se as empresas se revezassem para dar fôlego ao desenvolvimento do negócio.

O fortalecimento das MPEs tem sido utilizado como uma estratégia para a

promoção do desenvolvimento em localidades que historicamente têm apresentado

traços de cooperação. Neste processo, as empresas ampliam seus conhecimentos,

otimizam seus procedimentos e refinam suas habilidades. “O desenvolvimento,

produção e comercialização dos bens e serviços garantem o aumento de sua

eficiência produtiva, o maior dinamismo da inovação e maior capacidade de

coordenação de suas decisões estratégicas” (ALBAGLI & BRITO, 2003, apud

FREIRE, 2007, on line). E a partir de determinado momento, tais esforços geram

uma ação conjunta em que é possível garantir a atração de fornecedores com

habilidades específicas às atividades locais, bem como o aumento no fluxo de

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informações, que consolidarão as economias de escala3. “Os APLs também podem

aumentar sua capacidade competitiva através de ações conjuntas deliberativas, tais

como a criação de consórcios de exportação e formação profissional, entre outros”

(FREIRE, 2007, on line).

Vale lembrar que o processo para transformar aglomerações industriais em

clusters ou APLs é de longo prazo. “Não se constroem redes de relacionamentos do

dia para a noite e tampouco se estabelecem essas formas de aglomeração

intencionalmente, apenas com base na iniciativa privada ou governamental”

(VASCONCELOS, 2005, p. 21). Em vez de tentar criá-los, deve-se oferecer apoio,

“seja político, econômico ou institucional, para conduzir as aglomerações a

patamares competitivos” (Op. cit., 2005, p. 21).

Entende-se que a forma de administrar a partir de instituições formais (regras e

leis) e informais (normas e costumes) permite aos aglomerados um processo de

tomada de decisões através das relações que ocorrem entre as empresas participantes

(organizações). Assim, por meio da estruturação das interações humanas dentro de

um espaço geográfico limitado, esta administração apresenta um papel crucial para a

redução das incertezas e custos de transação - ou burocracia (NORTH, 1992, p. 13 e

17). Além disso, permite maior facilidade e velocidade nos processos como, por

exemplo, a capacidade de rápida difusão de inovações ao longo do aglomerado,

gerando o crescimento da indústria. Enquanto a cooperação entre empresas ajuda a

minimizar as desvantagens advindas do pequeno porte, confere às pequenas

empresas a flexibilidade e o dinamismo ausentes nas grandes.

Contudo, a questão da cooperação tem suscitado algumas observações no

processo de condução dos arranjos implementados pelo SEBRAE-SP. Segundo o

informe fornecido pela Unidade Organizacional de Desenvolvimento Territorial da

entidade, a falta de estreitamento nas relações de parceria e de sinergia nos processos

de inovação (governança) e de aperfeiçoamento (reduzida cooperação inter-firmas)

3 “A operação em maior escala permite com que administradores e funcionários se especializem em suas tarefas e façam uso de instalações e equipamentos mais especializados e de grande escala” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 243). Com isso, o custo marginal para a fabricação de uma unidade adicional de produto torna-se menor, à medida que o custo variável diminui tornando mais atrativa a taxa de lucro do negócio.

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8

vem se apresentando como entrave ao processo de desenvolvimento desses

empreendimentos.

“O desentendimento, em maior ou menor grau, por mais indesejoso que seja, está presente em todos os lugares, particularmente em espaços onde se configuram interesses objetivos e distintos, como é o caso dos Arranjos Produtivos. Tal comportamento está associado não só aos laços culturais, mas também, e, sobretudo, a ausência ou poucas relações de confiança entre os indivíduos dessas comunidades, até porque a cultura do empresariado brasileiro se formou na competição aberta, na luta e na afirmação individual no mercado” (FREIRE, 2007, on line).

Desta maneira, trabalhar a questão da confiança dos agentes locais é um

pressuposto relevante e, talvez, o ponto de partida de qualquer trabalho em arranjos.

Tal dilema diz respeito aos baixos índices de satisfação apresentados até o momento.

Apesar de parcialmente integrados, estes conceitos têm dificultado a ampliação desta

iniciativa. A falta de comunicação entre estes APLs e o índice de confiança entre os

seus agentes são, ainda, demasiadamente baixos. Além do mais, “os protagonistas de

um APL (...) tendem a transferir, para o governo, o poder de tomar decisões

complexas sobre o futuro de suas empresas (paternalismo governamental)”

(HADDAD, 2006, p. 17). Para levar a sério tais iniciativas, que hoje parecem

travadas por barreiras criadas pelos próprios agentes do processo produtivo, deve-se

dar uma chance para a elaboração de ações conjuntas, coordenadas por iniciativas

público-privadas, que estejam dispostas a criar condições institucionais mais

competitivas e que possam apresentar resultados mais consistentes. Desta maneira,

“a organização de um APL é um jogo de soma positiva, na medida em que permite às

empresas resolverem problemas de interesse comum, com benefícios maiores ou

menores para todas elas” (Op. cit., 2006, p.19).

Page 15: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

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1.2 - Teoria dos jogos: uma aplicação à teoria das externalidades

Quando se define por uma ação lucrativa, os agentes econômicos geralmente

buscam atender a seus interesses e objetivos exclusivos desconsiderando os impactos

positivos ou negativos que incidem sobre os outros agentes econômicos ou à própria

sociedade. Na segunda parte de sua obra “Discurso sobre a Origem e os

Fundamentos da Desigualdade do Homem4” (1754-55), o filósofo franco-suíço Jean-

Jacques Rousseau (1712-1778) discute os primórdios do desenvolvimento da

cooperação entre os homens. De acordo com Rousseau, “ensinando-lhe a experiência

ser o amor ao bem-estar o único móvel das ações humanas” (ROUSSEAU, 1978, p.

261), o espírito humano “encontrou-se em situação de distinguir as situações raras

em que o interesse comum poderia fazê-lo contar com a assistência de seus

semelhantes e aquelas, mais raras ainda, em que a concorrência deveria fazer com

que desconfiasse deles” (Op. cit., 1978, p. 261). Caso houvesse a possibilidade de

ganhos pela cooperação mútua, os homens uniam-se em bandos, ou qualquer outro

tipo de associação. Os vínculos nessa situação, todavia, eram frágeis: a cooperação

durava apenas enquanto a oportunidade que lhe dera origem existia. O imediatismo

prevalecia sobre o planejamento em longo prazo e assim, “longe de se preocuparem

com o futuro distante, não pensavam nem mesmo no dia de amanhã” (Op. cit., 1978,

p. 261). Desse modo, acabavam tomando atitudes que sobrepunham o bem-estar

pessoal ao coletivo, de maneira que afetavam negativamente o bem-estar do outro.

Considerando tão somente os benefícios e os custos privados e não incorporando

integralmente os benefícios e os custos sociais das ações isoladas, tais agentes

passavam a incorrer no que se pode chamar de externalidades negativas5.

Se o objetivo fosse caçar um cervo, cada um sentia que para tanto devia ficar em

seu lugar a fim de garantir o bem-estar coletivo. Mas, se uma lebre passava ao

alcance de um deles, não há dúvida de que ele a perseguiria sem escrúpulos e, tendo

alcançado sua presa, e o bem-estar pessoal, “pouco se lhe dava faltar à presa dos

companheiros” (Op. cit., 1978, p. 261). Assim, o free-rider, ou “caroneiro” era

4 Do original em francês Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les homme. 5 Para mais detalhes ver ARVATE, cap. 2.

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recompensado pelo benefício, que a ele era estendido, sem que fosse preciso ajudar à

ação conjunta de um grupo que se manteve fiel ao contrato original.

Ilustrativamente, o “jogo da caça ao cervo” se tornou uma forma peculiar de

discussão entre cientistas sociais que estudam o contrato social6 por meio da teoria

dos jogos. Supondo que alguns caçadores se reúnam para caçar um cervo, animal de

grande porte, muito rápido e ágil, nenhum caçador teria qualquer chance de caçá-lo

sozinho, necessitando assim da ajuda dos outros. Para que a caçada tenha sucesso, é

preciso que cada caçador ocupe sua posição no bosque e mantenha sua atenção no

cervo. Ocorre que cada caçador também pode aproveitar seu tempo no bosque para

caçar uma lebre, caça mais fácil do que o cervo, pois pode ser capturada por um

jogador apenas. Porém, a lebre é também uma caça de valor muito inferior, pois

representa uma quantidade de carne muito menor do que a um terça de um cervo. Por

último, se algum dos caçadores optasse por perseguir a lebre, ele abandonaria seu

posto e o cervo escaparia. Mas o caçador que capturou a lebre não é obrigado a

dividi-la com seus companheiros, pois sendo pequena, ele é capaz de ocultá-la dos

outros com sucesso. E ainda que todos os caçadores optassem por realizar

individualmente a caça à lebre, mesmo que houvesse um número suficiente deste

animal para todos, o seu gosto não seria tão suculento com o gosto de um cervo.

Desta maneira, o “jogo da caça ao cervo” indica situações nas quais o melhor

resultado depende da cooperação de todos, ou seja, o melhor efeito para todos é

conseguido quando todos acreditam que todos irão se esforçar de acordo com o

compromisso original, em vez de buscar ganhos imediatos que podem prejudicar

aqueles que se mantiveram fiéis ao que foi acordado inicialmente.

Situação semelhante é empregada ao jogo intitulado “O dilema dos prisioneiros”,

em que o caráter não-cooperativo7 impede que os jogadores optem pelo resultado

mais positivo para todos.

Neste jogo, dois suspeitos que acabaram de ser presos pela polícia por razões

circunstanciais têm a chance de serem soltos mediante a confissão do seu delito. 6 “Contrato” que os indivíduos fariam implicitamente para tornar possível a vida em sociedade, nos quais definiriam seus direitos e deveres, sendo o Estado encarregado de garanti-lo. 7 “Um jogo é dito não-coopertaivo, quando os jogadores não podem estabelecer compromissos garantidos. Caso contrário, se os jogadores pudessem estabelecer compromissos, e esses compromissos possuíssem garantias efetivas, dir-se-ia que o jogo é cooperativo” (FIANI, 2006, p. 111).

Page 17: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

11

Separados um do outro por uma divisória acústica, a polícia estipulou que caso um

deles confesse o roubo e o outro não, o primeiro será livre, em razão da cooperação

com a polícia, enquanto o outro ficará quatro anos cumprindo a sua pena na prisão.

Por outro lado, se ambos confessarem, dois anos serão atribuídos a cada um na

penitenciária estadual, já que a cooperação de cada um perde o valor com a denúncia

do comparsa. Por último, embora não informados pela polícia, ambos os suspeitos

sabem que se nenhum dos dois confessar, eles serão soltos por vadiagem após um

ano de reclusão (Quadro nº. 1). Ao aplicar o equilíbrio de Nash8 ao “dilema dos

prisioneiros” para determinar o resultado do jogo percebe-se que a melhor ação para

ambos os jogadores é confessar os seus delitos, de maneira que aos suspeitos seria

atribuída a pena de dois anos de prisão.

Quadro nº. 1 – O dilema dos prisioneiros

Fonte: FIANI, 2006, p. 111

“É interessante perceber que o resultado obtido no dilema dos prisioneiros é

derivado da condição de que ambos não podem se comunicar” (FIANI, 2006, p.

111), pois se houvesse a possibilidade de interação entre os suspeitos, ou seja, da

determinação de um jogo cooperativo, certamente a melhor resposta resultaria da não

confissão dos comparsas, que cumpririam pena de apenas um ano.

Há várias situações na sociedade que podem ser descritas como um “jogo de caça

ao cervo” ou do “dilema dos prisioneiros”. Em uma sociedade comercial, como um

APL, o leitor muito provavelmente admite que somente valha a pena se esforçar pelo

sucesso da sociedade se os demais sócios também se esforçarem, ou se houver a

possibilidade de estabelecer compromissos que possam ser garantidos. Se a

expectativa for de que os demais sócios não se esforçarão muito ou de que os

8 “Diz-se que uma combinação de estratégias constitui um equilíbrio de Nash, quando cada estratégia é a melhor resposta possível às estratégias dos demais jogadores, e isso é verdade para todos os jogadores” (Op. cit, 2006, p. 93).

l lcc

Confessa Não ConfessaConfessa -2, -2 0, -4Não Confessa -4, 0 -1, -1

Ladrão 1Ladrão 2

l lcc

Confessa Não ConfessaConfessa -2, -2 0, -4Não Confessa -4, 0 -1, -1

Ladrão 1Ladrão 2

Page 18: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

12

contratos não sejam cumpridos, provavelmente não vale a pena se esforçar além do

mínimo necessário, ainda que isso signifique um menor ganho para ambos (Op. cit,

2006, p. 113-115). Assim, uma possível solução para este problema é internalizar a

externalidade; ou seja, fazer com que cada indivíduo, ou agente econômico, seja

integralmente responsável por seus atos. Neste sentido, a formação de uma

cooperativa que tome as suas decisões coletivamente buscaria eliminar essa

externalidade ao internalizar os impactos negativos de cada indivíduo atuando de

forma isolada.

“O APL tem reduzidas chances de se consolidar, se: entre as empresas que o compõem não se instalar um ambiente de competição cooperativa; não se eliminar o clima de desconfiança e; as empresas não abandonarem atitudes defensivas quando ocorrerem resultados adversos” (HADDAD, 2006, p. 19).

1.3 - Desafios globais da sustentabilidade: da estratégia à cidadania

Outro aspecto a ser abordado está associado aos desafios globais da

sustentabilidade, que não são irreconciliáveis com o crescimento econômico, mas, ao

contrário, são importantes fontes de vantagem competitiva, à medida que “ajudam a

identificar estratégias e práticas que contribuam para um mundo mais sustentável e,

simultaneamente, sejam direcionadas a gerar valor para empresários e à comunidade

em geral” (HART & MILSTEIN, 2004, p. 68). Como forma de combate à poluição,

as empresas passam a ser desafiadas a minimizar suas perdas correntes, ao mesmo

tempo em que programam seus portfolios a partir do uso de tecnologias mais

sustentáveis, como as de energia “limpa”, com as quais desenvolvem soluções

economicamente interessantes para os problemas sociais e ambientais do futuro

(visão de sustentabilidade). “Consideradas em conjunto, como em um portfolio, tais

estratégias e práticas têm o potencial de reduzir custo9 e risco, bem como elevar a

9 Neste caso, entende-se como o custo social de degradação ambiental.

Page 19: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

13

reputação e a legitimidade da empresa, acelerando a inovação e o reposicionamento

dos seus produtos” (Op. cit. p.75 e 77).

Mas como nem sempre o equilíbrio competitivo é eficiente, ainda que corrigidos

os altos custos de transação (burocracia) ou até mesmo o “efeito carona” do agente

free rider, existem falhas de mercado que só podem ser corrigidas pela intervenção

do Estado. A fim de estimular a produção e o consumo, os subsídios governamentais

têm o objetivo de corrigir os preços de mercado com que os agentes econômicos se

defrontam incitando o que se chama de externalidade positiva, ou seja, quando a

curva de benefício social marginal é maior do que a do benefício marginal privado.

(Figura nº. 1). “O governo pode fornecer subsídios para as empresas alterarem as

técnicas de produção. Ao receber este incentivo financeiro, elas ficam mais

inclinadas a adotar formas de produção menos poluidoras, que normalmente tendem

a ser métodos mais custosos” (ANDRADE, 2004, p. 29, in ARVATE &

BIDERMAN, 2004). Tais medidas tendem a ser menos nocivas à comunidade e ao

meio ambiente consolidando a prática do chamado desenvolvimento sustentável10.

10 Com a finalidade de promover aumento produtivo, geração de renda, acesso a tecnologias modernas de uso da biomassa e a inclusão de serviços de energia sustentável, o governo federal alocou fundos para energia e meio ambiente, através do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia (PROINFA), que incentiva iniciativas, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que “visam fortalecer a capacidade das instituições nacionais na formulação e regulação das políticas energéticas e no uso de fontes de energia locais renováveis” (PNUD, 2007, on line). Como iniciativa paralela ao Protocolo de Quioto (Japão), em 1997, que “consistiu de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerado como causa do aquecimento global” (WIKIPÉDIA, 2007, on line), o MDL é o único mecanismo existente para o combate a poluição em países em desenvolvimento e é baseado em projetos de redução de emissões e seqüestro de carbono. A iniciativa permite a geração de créditos de gases do efeito estufa e a possibilidade da venda destes créditos no mercado voluntário. O mercado voluntário se diferencia na medida em que os seus participantes não possuem cotas de emissões e a decisão em participar do mercado se configura uma iniciativa voluntária (ZARANDI JR. & LEAL, 2006, p.3). Exemplo disso se apresenta com a troca de combustível de fonte não renovável por combustíveis de fonte renovável, como na substituição de combustíveis fósseis por biomassa, ou seja, resíduos de atividades agrícolas tais como palha de arroz. A reserva de combustível em função do reaproveitamento dos gases resulta na redução do seu consumo para a geração do calor necessário ao processo.

Page 20: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

14

Figura nº. 1 - Efeito da Colocação de um subsídio quando existe externalidade positiva Nota: Sem o subsídio, a produção e o preço de equilíbrio são, respectivamente, iguais a ‘Qa’ e ‘Pa’. Com o subsídio, a produção total aumenta de ‘Qa’ para ‘Qb’ (1). Além disso, o preço que o produtor recebe pela venda do seu produto sobe e passa a ser igual a ‘Pp’ (2). Já o consumidor se defronta com um novo preço de mercado, inferior àquele que vigorava sem o subsídio. Ele passa a pagar um preço menor por cada unidade comprada, de ‘Pa’ para ‘Pc’ (3) Fonte: Elaboração do autor baseado em ANDRADE, 2004, p. 29, In ARVATE & BIDERMAN, 2004.

1.4 - APLs em números: a atuação do SEBRAE

Muito se debate sobre o número exato de APLs existentes no Brasil. “Em razão

da proximidade entre o seu conceito a outros aglomerados de empresas, ou

produtores organizados que esboçam o desenvolvimento intensivo de uma região,

este número ainda não pôde ser claramente definido” (ESTÁCIO, 2007, entrevista).

Segundo o estudo para Atualização dos Eixos Nacionais de Integração e

Desenvolvimento, realizado em 2002 pelo SEBRAE, “foram identificados oito

Quantidade

Pp

Preço

PA

Pc

subsídio

QA QB

Benefício Marginal Social

Demanda = Benefício Marginal Privado

Custo Marginal Privado = Custo Marginal Privado = 0

A

C

B

..

.1

2

3

Quantidade

Pp

Preço

PA

Pc

subsídio

QA QB

Benefício Marginal Social

Demanda = Benefício Marginal Privado

Custo Marginal Privado = Custo Marginal Privado = 0

A

C

B

..

.1

2

3

Page 21: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

15

arquétipos de aglomerações ou agrupamentos produtivos no Brasil11” (HADDAD,

2006, p. 14). Embora numerosos, a similaridade classificatória feita aos arranjos

produtivos sustentáveis existentes pelo país dificultam a elaboração de dados que

possam divulgar de maneira precisa o mapeamento dos APLs existentes no Brasil.

Inicialmente, procurou-se enfatizar para a análise todos os conglomerados

patrocinados pelo SEBRAE, de modo que estimulasse o leitor à extrapolação do

conceito e à percepção da sua verdadeira importância para o desenvolvimento

econômico de plano regional. A idéia inicial consistia em diagnosticar os

aglomerados brasileiros, rurais e urbanos, que desenvolvessem, segundo a concepção

do autor desta pesquisa, algum tipo de vínculo ou especialização produtiva de cunho

regional.

A fim de garantir maior clareza ao objeto estudado, definiu-se que para este

levantamento seria considerada uma amostra, para a qual seriam aceitos os APLs que

se adequassem aos critérios estabelecidos para a sua formação, tal qual o ramo de

atuação industrial ou número de empresas existentes no agregado produtivo, segundo

as informações encontradas no Sistema de Informação da Gestão Estratégica

Orientada para Resultados (SIGEOR12), mantido pelo SEBRAE (Tabela nº. 1) até a

data da pesquisa.

Interessante notar, no entanto, que as Regiões Sul e Sudeste - predominantemente

os estados de SP, SC e RS – além de apontarem para as mais altas taxas do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH13) registrados no Brasil, também são as que

justamente apresentam predominância no número de APLs registrados na amostra.

Este fato, aparentemente, confirma a teoria do “círculo virtuoso da riqueza” proposta

pelos analistas sociais do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, como o

11 Os agrupamentos, segundo o estudo, são divididos da seguinte maneira: Agrupamento de Sobrevivência Informal, Agrupamento de Vantagem Comparativa, Agrupamento do Modelo Tradicional de Crescimento, Agrupamento de Alavancagem Competitiva, Agrupamento Baseado em Empresa-âncora, Agrupamento Dependente de Logística Exportadora, Agrupamento de Base Tecnológica e Agrupamento de Alta Tecnologia. Para maiores informações ver HADDAD, 2006, p. 15. 12 Para maiores informações, ver em http://www.sigeor.sebrae.com.br/ 13 O IDH apresenta uma medida conjunta de três dimensões do desenvolvimento humano: viver uma vida longa e saudável (medida pela esperança de vida), ter estudos (medido pela alfabetização de adultos e pelas matrículas nos níveis primário, secundário e superior) e ter um padrão de vida decente (medido pelo rendimento de paridade do poder de compra, PPC) (UNDP, 2006, on line).

Page 22: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

16

Professor Myrdal14. Por outro lado, também são encontradas dificuldades na

aplicação destas iniciativas em certas regiões que continuam a ser as mais carentes

do país. Segundo Myrdal, “o processo acumulativo (da relação circular), quando não

controlado, promoverá desigualdades crescentes” (MYRDAL, 1960, p. 27). Assim,

continua ele: “um homem pobre talvez não tenha o bastante para comer; sendo

subnutrido, sua saúde será fraca; sendo fraco, sua capacidade de trabalho será baixa,

o que significa que será pobre, e então não terá o que comer; etc” (Op. cit, 1960, p.

27).

Tabela nº. 1 – Distribuição dos APLs por UF, em 2007

1 Não havia, no período analisado, APLs registrados nos estados de MG, RO, TO, PE, PI, MA e DF. Fonte: Elaboração do autor, baseado em SEBRAE (SIGEOR, 2007, on line e WIKIPÉDIA, 2007, on line)

14 O economista pré-Keynesiano Gunnar Myrdal (1898-1987) é considerado como um teórico do ciclo econômico ou das crises. Sua abordagem leva adiante o conceito da macroeconomia no campo do pensamento econômico, fato encontrado na sua teoria sobre o “princípio da causação circular e acumulativa”, do original em inglês Economic Theory and Under Developed Regions, de 1957, que trata a respeito do circulo vicioso da pobreza e do círculo virtuoso da riqueza.

UF1 Quantidade de APLs

Participação relativa IDH 2000

SP 23 21% 0,820SC 18 16% 0,822RS 17 15% 0,814RJ 8 7% 0,807PR 6 5% 0,787AL 5 5% 0,649MT 5 5% 0,773CE 4 4% 0,700GO 3 3% 0,776MS 3 3% 0,778RN 3 3% 0,705SE 3 3% 0,682AC 2 2% 0,697AM 2 2% 0,713BA 2 2% 0,688ES 2 2% 0,765RR 2 2% 0,746AP 1 1% 0,753PA 1 1% 0,723PB 1 1% 0,661

Total 111

Page 23: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

17

Ao considerar o “círculo vicioso da pobreza” de uma dada região como uma

variável auto-explicativa, ou seja, que tende a agir e a reagir interdependentemente,

vale reafirmar que as regiões que apresentam um reduzido número de APLs

apresentam um baixo IDH porque são pobres. Afinal, “um país é pobre porque é

pobre” (Op. cit, 1960, p. 27).

Neste ponto vale a pena indagar: as Regiões Sul e Sudeste concentram maior

proporção de APLs porque são as mais desenvolvidas do país, ou elas são as mais

desenvolvidas do país porque concentram mais APLs? Note que se o grau de

desenvolvimento destas regiões for o principal critério para a existência destes

arranjos, não faria sentido pensar o desenvolvimento de políticas públicas de

incentivo aos APLs como fomento para o desenvolvimento destas regiões, uma vez

que elas são as mais desenvolvidas e por isso concentram uma parcela maior do

número total de arranjos. Por outro lado, se for considerado que a política pública de

incentivo à formação de APLs é bastante recente (primeiros arranjos formados em

meados de 2002) se comparado à história de desenvolvimento destas regiões,

igualmente não faz sentido que nestes poucos anos de existência, estes arranjos

foram capazes de contribuir de forma tão significativa, a ponto de dizer que sua

existência é um fator preponderante para o desenvolvimento destas regiões. Desta

maneira, fica por certo esclarecer que as políticas públicas de incentivo à formação

de APLs fazem sentido quando pensadas em nível de estratégias locais, ou seja,

como mecanismo para potencializar a eficiência dos grupos de uma localidade.

Entretanto, esta hipótese não invalida o fato de que, em grande escala, tais políticas

de fomento poderiam apresentar impacto para o incremento regional, ou até mesmo,

para o desenvolvimento nacional. Tal fato pode ser ilustrado pela recente definição

do conceito de cidades-pólo15. Estas cidades receberão nos próximos quatro anos,

15 A ação envolvendo a definição das cidades-pólo faz parte do plano de expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica, lançado no mês de abril de 2007. “Um total de R$ 500 milhões serão investidos por ano para manutenção e implantação do quadro de pessoal das escolas e, aproximadamente, R$ 750 milhões destinados à construção das novas unidades” (MEC, 2007, on line). Um dos critérios para a definição destas cidades “foi atender prioritariamente às localidades no interior do país e periferias dos grandes centros urbanos (...) A ação pretende reduzir a saída dos alunos em direção aos centros urbanos e aproveitar parcerias e infra-estrutura existentes” (Op. cit., 2007, on line).

Page 24: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

18

segundo o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), investimentos para a

construção de 150 escolas técnicas e profissionalizantes, tirando proveito dos

“potenciais de desenvolvimento e a proximidade com os Arranjos Produtivos Locais

(APL)” (MEC, 2007, on line).

1.5 - Tipos de APLs e a distribuição por atividades

A partir de iniciativas próprias e políticas de cunho público e/ou privado é

possível diferenciar as abordagens de APLs em quatro grupos, cada qual sendo capaz

de aperfeiçoar as tarefas cotidianas a fim de que o aumento de riquezas potencialize

o desenvolvimento econômico da sua região. O primeiro, chamado de agrupamento

ou aglomerado maduro de empresas, apresenta interações entre os seus agentes e a

presença de instituições de pesquisa e desenvolvimento (P & D) que possibilitam a

criação de externalidades positivas. Contudo, tais externalidades tornam-se limitadas

em razão do baixo grau de coordenação, que surge a partir da existência de conflitos

de interesse ou até quando a oportunidade que lhe dera origem existia. O segundo

grupo, denominado cluster ou agrupamento avançado, se apresenta como um

agrupamento maduro com “alto nível de coesão e coordenação entre os agentes,

possibilitando ganhos de externalidades para as empresas através da cooperação e

aprendizado tecnológico e comercial” (HADDAD, 2006, p. 17). Os sistemas locais

de inovação, por sua vez, dão uma idéia da evolução do conceito de cluster, a partir

do “desenvolvimento da cooperação e do aprendizado coletivo para a inovação (...)

com forte ênfase no ambiente institucional local” (Op. cit., 2006, p. 17). Por fim, o

distrito industrial italiano aborda a idéia de um grupo de pequenas empresas

altamente concentradas do ponto de vista geográfico e que trabalham, direta ou

indiretamente, para o mesmo mercado final. Sem a existência de uma grande

empresa que atua como âncora da cadeia, este grupo se constitui a partir de uma

sólida relação de cooperação horizontal. “O objetivo final de muitos projetos de

promoção e desenvolvimento de APLs é transformá-los em distritos industriais de

Page 25: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

19

estilo italiano” (Op. cit., 2006, p. 17). Neste sentido, busca-se com este modelo:

intensa divisão de trabalho entre as empresas; flexibilidade de produção e de

organização; especialização da mão-de-obra qualificada; competição entre empresas

baseada em inovação estreita; colaboração entre as empresas e os demais agentes

(fluxo de informações, identidade sócio-cultural e relação de confiança entre os

agentes, complementaridades e sinergias); redução de custos de transação, etc.

Muitas vezes a matéria-prima encontrada nas proximidades de um pólo regional

não é processada, mas apenas comercializada em sua forma primária. Trata-se da

impossibilidade de agregar valor ao produto final desenvolvido pela cadeia

produtiva. Deve-se considerar que grande parte dos arranjos deste levantamento leva

junto a si os resquícios deixados pelo inconsistente modelo de colonização brasileira,

de maneira a desestimular o potencial para a formação de um número ainda maior de

APLs pelo país. Exemplo disso pode ser apresentado pelos métodos de cultivo que

geram a exaustão do solo e outros recursos naturais. O modelo agro-exportador,

expoente máximo da colonização brasileira, continua, nos dias de hoje, a apresentar

suas evidências.

“A visita de Bush [ao Brasil] é um marco, uma divisa e um ponto de reflexão na história do colonialismo na América Latina. Surge agora no horizonte o novo colonialismo energético de biomassa vegetal. De especiaria e sobremesa para adoçar o paladar europeu, a milagrosa cana-de-açúcar, com o álcool combustível dela extraído, tornar-se-á a energia vegetal, com imensas plantations agrícolas multinacionais, imprescindíveis à reprodução social e econômica dos países localizados nas zonas frias e temperados da Terra (...) Nessa diferença reside o traço específico do novo colonialismo do século 21 (...) Assim, o que motiva a sua visita é o latifúndio produtor da energia vegetal para exportação” (VASCONCELLOS, 2007, p. 35).

Ao mostrar grande interesse em exportar cana-de-açúcar para a produção de

biocombustíveis16, o chefe do executivo estimula a plantação de cana, que “depois da

16 Segundo um dos fundadores do Programa Proálcool, o físico J. W. Bautista Vidal, os biocombustíveis “são combustíveis vegetais, renováveis e limpos do ponto de vista ambiental, de natureza química, que substituem os combustíveis derivados do petróleo e podem ser obtidos a partir da energia solar por meio da fotossíntese das plantas” (VIDAL, 2007, p. 34). Por esta razão, “eles podem ser produzidos em grande escala nas regiões tropicais que disponham de água abundante” (Op. cit., 2007, p. 34), como no Brasil. “São combustíveis vegetais: a) o álcool etílico, obtido por

Page 26: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

20

soja, começa agora a invadir áreas de preservação ambiental e devastar o campo”

(G1, 2007, on line). Além dos sérios danos causados ao meio ambiente, muito do que

poderia ser gerado com a montagem de um pólo industrial é oferecido a um agente

externo ao pólo tornando efêmero o potencial de desenvolvimento regional17. “Há

quase 200 anos o Brasil é o maior produtor e exportador de café, mas as grandes

empresas exportadoras de café quase sempre foram estrangeiras (...) A mesma coisa

ocorre com a soja. A soja é produzida por brasileiros, mas quem exporta é a Cargill”

(RICUPERO, 2007, entrevista, apud AMARAL, 2007, p. 39).

Atualmente, quase 35% dos APLs da amostra, representados pelos Setores

Primário e Terciário, estão enquadrados neste contexto, já que não exercem

atividades de cunho produtivo, segundo a divisão realizada em Grandes Setores

(Figura nº. 2). Percebe-se que ao tratar deste critério, a maior parte dos arranjos

produtivos pertencentes à amostra está sujeita ao Setor Secundário, que por definição

é aquele que transforma produtos naturais oriundos do Setor Primário em produtos

de consumo, máquinas, ou insumos para outras atividades industriais. Trata-se, no

entanto, de um Setor, onde a matéria-prima é transformada em produto

manufaturado. O Setor Secundário, principal meio de atuação gerado por esta

iniciativa, geralmente apresenta percentual relevante nas sociedades desenvolvidas, o

que mostra o esforço estratégico em direção a este segmento. Pouco significativo, o

Setor Quaternário, que surgiu em função da Revolução Tecnocientífica em

andamento, envolve as atividades de pesquisa de ponta e está em estágio aceleredo

de crescimento. Nos dias de hoje, além dos APLs, muitos outros pólos tecnológicos,

como as incubadoras tecnológicas, passaram a receber incentivos para a produção de

softwares e demais tecnologias da informação (TI)

fermentação dos açúcares, ou amidos; b) os óleos vegetais e a celulose, e os seus inúmeros derivados” (Op. cit., 2007, p. 34). 17 O leitor deve considerar que ao tratar de desenvolvimento econômico regional faz-se referência ao conceito de bem-estar social, ou seja, o desfrute de melhores condições de vida – trabalho, lazer e cultura - a partir da especialização de um conglomerado produtivo.

Page 27: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

21

Figura nº. 2 - Divisão dos APLs em Grandes Setores – Brasil, 2007 Fonte: Elaboração do autor, baseado em SEBRAE (SIGEOR, 2007-a, on line)

Quanto ao Setor Primário - que em geral envolve atividades ligadas ao meio

rural, como, a agricultura, pecuária, extrativismo vegetal e a pesca - não deixa de

apresentar a importância fundamentada pela Fisiocracia18. Todavia, nos dias atuais,

após aproximadamente 250 anos da elaboração do Tableau Économique19, fica mais

do que comprovado que a incorporação da atividade industrial tornou-se um processo

importante tanto para agregar valor às mercadorias, como para o desenvolvimento

sustentável de uma região.

Ainda que uma grande corporação possa, em um primeiro instante, colaborar

como “âncora” à cadeia produtiva, o segundo passo deve ser dado em direção à

especialização produtiva dos aglomerados. Desta maneira, os APLs terão, senão

plenas, melhores condições de disputas, seja qual for o ramo de atividade ao qual

esteja inserido. Atualmente, quase metade dos APLs mapeados apresenta

concentração no ramo Têxtil e Confecções (21%), seguido pelos setores de Madeira

e Móveis (14%), Metal-Mecânica (7%) e Oleiro Cerâmico (7%) (Figura nº. 3).

18 O Pensamento Fisiocrático embasa-se na idéia de que toda a riqueza origina-se na agricultura e no solo. Considerada como a 1ª doutrina do pensamento econômico, a Fisiocracia perdurou na França, aproximadamente entre os anos de 1750 e 1780, como movimento em oposição ao Mercantilismo Comercial Inglês, onde imperava o comércio, a indústria e a navegação marítima. Sua curta duração deveu-se ao desprezo que esta corrente manifestava perante a indústria que recém surgia na Inglaterra e que logo em seguida dera origem a Revolução Industrial (1780 – 1880). 19 Tableau Économique (Quadro Econômico), elaborado por François Quesnay (1694 – 1774), é considerado o primeiro fluxograma de renda, que interpreta a interação das classes sociais: a classe produtora dos agricultores; os proprietários de terra, e a classe estéril, composta por negociantes, manufatureiros, empregados domésticos e profissionais liberais.

14%

63%

20%

3%PrimárioSecundárioTerciárioQuaternário

N = 111

14%

63%

20%

3%PrimárioSecundárioTerciárioQuaternário

N = 111

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22

Figura nº. 3 – Distribuição dos APLs por ramo de atividade – Brasil, 2007 Fonte: Elaboração do autor, baseado em informações do SEBRAE (SIGEOR, 2007, on line)

1.6 - Casos de sucesso

“Experiências nacionais e estrangeiras mostram que ao potencializar as vocações

de aglomerados regionais, é possível aumentar a produtividade e a competitividade

das indústrias, especialmente das micro e pequenas” (CUNHA, 2006, on line) que

passam a desfrutar dos benefícios desta política. A 360 Km da cidade de São Paulo,

Ibitinga é exemplo disso. Na primeira fase do projeto a cidade resgatou a marca do

principal produto, “Bordados de Ibitinga”. Após a segunda fase, que teve início em

2005, o pólo aumentou em 30,6% a sua produtividade e as empresas apresentaram

uma situação bem diferente daquela que se deparavam antes de participarem do

Arranjo. “Com o mesmo consumo de material usado para os bordados, consegue-se

vender um produto com valor 25% maior” (Op. cit., 2006, on line). Outro caso de

bastante sucesso é o APL de Jóias de São José do Rio Preto, “que nos primeiros

meses do Arranjo levou as empresas participantes do programa a um aumento

de 42,5% em sua produtividade” (Op. cit., 2006, on line).

21%14%

7%7%

6%6%

5%4%4%

3%3%

2%2%2%2%2%2%2%2%

1%1%1%1%1%1%

0% 5% 10% 15% 20%

Têxtil e ConfecçõesMadeira e Móveis

Metal-MecânicaOleiro CerâmicoCouro e calçado

TurismoPetróleo e Gás

ApiculturaGemas e Jóias

FruticulturaTecnologia da Informação

ArtesanatoCultura e Entretenimento

Derivados de cana-de-açúcarFloricultura

Indústria de Alimentos e Bebidas Mandiocultura

Pedras e Rochas OrnamentaisQuímica e PVC

Aquicultura e Pesca Carne

HorticulturaMédicoMóveis

Multisetorial/ Territorial

N = 111

21%14%

7%7%

6%6%

5%4%4%

3%3%

2%2%2%2%2%2%2%2%

1%1%1%1%1%1%

0% 5% 10% 15% 20%

Têxtil e ConfecçõesMadeira e Móveis

Metal-MecânicaOleiro CerâmicoCouro e calçado

TurismoPetróleo e Gás

ApiculturaGemas e Jóias

FruticulturaTecnologia da Informação

ArtesanatoCultura e Entretenimento

Derivados de cana-de-açúcarFloricultura

Indústria de Alimentos e Bebidas Mandiocultura

Pedras e Rochas OrnamentaisQuímica e PVC

Aquicultura e Pesca Carne

HorticulturaMédicoMóveis

Multisetorial/ Territorial

N = 111

Page 29: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

23

Com o programa de desenvolvimento regional vieram as parcerias com

universidades, capacitação de mão-de-obra, investimento e incentivo à inovação. “A

Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) ofereceu, em

2006, R$ 500 mil para empresas com até 100 funcionários, que apresentassem um

plano de P&D empresarial, para que elas pudessem adquirir conhecimento por meio

de pesquisas e inovação” (CARVALHO & ROCHA, 2005, on line).

O APL de desenvolvimento do Setor Oleiro-Ceramista do Oeste Paulista, que

surgiu para promover maior integração do setor e conquista de novos mercados,

reúne MPEs das cidades de Panorama, Paulicéia, Presidente Epitácio, Regente Feijó,

Ouro Verde e Teodoro Sampaio. Com o objetivo de tornar-se um pólo competitivo e

sustentável, o APL capacitou, na primeira fase do projeto, 106 empresários, a partir

da realização de cursos e palestras em gestão de projetos empresariais, nos temas de

finanças, vendas, gestão de pessoas e visão estratégica. Entre elas não faltou espaço

para a preocupação com a preservação do meio ambiente. No último dia do curso, o

Instituto Ecológica20-entidade que elabora projetos que atendem ao desenvolvimento

sustentável-- ministrou uma palestra sobre Crédito de Carbono, que tratou sobre

melhorias no processo produtivo através da substituição da queima da madeira nativa

pela palha de arroz, que além de gerar maior emissão do gás metano, usado para a

produção de gás natural, também evita a queima descontrolada da biomassa nativa.

Desta maneira, a união das empresas de pequeno porte em aglomerados possibilita a

geração de uma série de benefícios, como troca de informação e conhecimento

tecnológico, que possam empregar externalidades positivas ao longo de toda a

cadeia.

Impulsionada pelo desenvolvimento da informática e outras tecnologias da

Informação (TI), a década de 1990 consolidou a Terceira Revolução Industrial, esta

que foi abundante em iniciativas de integração na América Latina. Através dos

ganhos no comércio “estimulou-se o processo de modernização dos sistemas

produtivos e promoveram-se as especializações competitivas por meio da expansão

do mercado de empresas que podem usufruir de economias de escala, de escopo e de

aglomeração” (HADDAD, 2006, p. 14).

20 Para mais informações ver: http://www.ecologica.org.br/

Page 30: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

24

Com o objetivo de elevar a produção e a competitividade da cadeia produtiva,

micro e pequenos fabricantes de calçados e ateliês, no território de São João Batista

(SC), se reuniram e elevaram em 25% o volume da produção anual até dezembro de

2005. Para isso, além da implantação de um laboratório de design que possibilitou o

atendimento às empresas com pesquisas e desenvolvimento de coleções, as empresas

tiveram a oportunidade de participar de inúmeras feiras pelo país, como Couro

Modas, FIMEC e FRANCAL.

Os benefícios atrelados ao APL seguem por diversos ciclos de especialização,

contando-se a partir da base dos seus membros, que formam juntos um pool de

profissionais especializados. A partir da formação dos laços pessoais, fortalecidos

pela própria proximidade geográfica, cria-se um ambiente de confiabilidade, no qual

o acesso às informações é facilitado. “O relacionamento permanente com outras

entidades contribui para que as empresas saibam, com antecedência, como a

tecnologia está evoluindo e qual a disponibilidade de componentes e máquinas” (Op.

Cit, 2006, p. 14). Além de o APL facilitar o acesso a bens públicos fornecidos pelo

governo, dilui os investimentos privados com infra-estrutura e insumos

possibilitando o constante aumento da motivação e do desempenho dos agentes

envolvidos.

O APL de Turismo e Artesanato Bonito, localizado na região turística da Serra da

Bodoquena, composta pelos municípios de Bonito, Jardim e Bodoquena, no estado

do Mato Grosso do Sul, reúnem MPEs de atrativos turísticos, como hotéis, pousadas,

agências, transportes e núcleos produtivos de artesanato, com o objetivo de aumentar

a capacidade instalada e elevar as vendas de produtos do artesanato regional. Para

promover a consolidação do pólo foram implantadas ações de institucionalização da

gestão local, estruturação de novos roteiros turísticos, captação de eventos técnicos

científicos, culturais, coorporativos e de incentivo, dentre outros. Pelo fortalecimento

do associativismo e cooperativismo da região, o exuberante patrimônio natural de

Bonito foi apresentado, em 2006, a um grupo de japoneses formado por jornalistas e

operadores de turismo que inspecionaram os produtos a infra-estrutura local para

formatar seus roteiros voltados ao público japonês. De maneira prática, os resultados

aparecem a partir da conscientização de que “mudar instituições exige alterar as

Page 31: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

25

organizações existentes ou criar novas organizações cujos empresários vejam

vantagens em desempenhar atividades produtivas” (NORTH, 1992, p. 30).

1.7 - Regras para a formação de um APL

Para que um APL possa ser formado, algumas normas devem ser rigorosamente

seguidas. “Uma aglomeração produtiva comporta um conjunto de empresas com

capacidades relacionadas ou afins, de portes variados, mas com um conjunto

expressivo de micro, pequenas e médias empresas não-integradas verticalmente”

(FREIRES, 2007, on line). Segundo o relatório de Diretrizes para o Modelo de

Atuação do SEBRAE/SP, a organização da produção deve ser muito específica em

cada localidade, e uma série de variáveis precisam ser consideradas no modelo de

concepção e desenvolvimento de cada APL: potencialidades, vocações e

oportunidades, vantagens competitivas e comparativas, recursos naturais (renováveis

e não renováveis), a infra-estrutura existente na região, o capital humano local

(conhecimentos, habilidades e competências pessoais), a cultura empreendedora

(inclusive autoconfiança e capacidade de iniciativa), os recursos locais de capital

disponíveis e a capacidade de atrair novos investimentos (SEBRAE, 2004, p.2). Para

que o arranjo possa se desenvolver, é preciso que os atores locais rompam com a

exclusão imposta pelas políticas macro-econômicas dando espaço para a inclusão

efetiva das MPEs no mercado, otimizada pela especialização produtiva e pelos

ganhos de escala.

A formação de um APL é dividida em três etapas (Figura nº. 4). Na Fase

Preliminar, quando ocorre a identificação e a seleção dos APLs, as ações irão se

desencadear prioritariamente naqueles arranjos formados por MPEs que estejam

mapeadas em um mesmo setor, dentro de parâmetros geográficos/territoriais. Para

que o SEBRAE saiba aonde poderá atuar, esta identificação deverá demonstrar os

APLs pré-selecionados sob os quais outros critérios deverão ser aplicados. Os

critérios mínimos estabelecem que o APL deverá reunir ao menos 20 empresas

vinculadas a uma mesma especialização produtiva, empregar, no mínimo, 100

pessoas nessas empresas, e fazer com que o produto final produzido apresente

Page 32: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

26

características mínimas de homogeneidade. “Entre as características dos APLs que

ainda serão considerados está o potencial de aumento da capacidade exportadora, ou

uma diminuição significativa nas importações e ainda, o potencial de mercado e a

oportunidade de gerar trabalho e renda na região de atuação” (Op. cit., 2004, p.4).

Na segunda etapa, quando ocorre a preparação das ações, além do fortalecimento

da dinâmica do APL através de diversas ações de incentivo, coordenação e

cooperação, também são elaboradas análises setoriais para a região. Para o

conhecimento do ambiente também é feita a análise da tendência de investimentos

em APLs, realizados por entidades de classe, institutos de pesquisa e universidades.

Ainda nesta etapa é desenhado um plano de desenvolvimento cujas orientações são

feitas através de oficinas de planejamento participativo orientada para resultados,

contemplando ações de curto, médio e longo prazos, além da elaboração de um

projeto piloto. Por fim, a etapa de Gestão e Desenvolvimento define indicadores e

metas associadas aos APLs, para servir como referência na orientação de diversas

iniciativas. “O desenvolvimento da competência de liderança e gestão deve se dar de

forma contínua e permanente para garantir a atuação contínua no APL” (Op. cit.,

2004, p.8).

Figura nº. 4 – Etapas de seleção do SEBRAE para a escolha de um APL – Brasil, 2007 Fonte: SEBRAE, 2006-a, on line

1- Ao menos 20 estabelecimentos, 100 trabalhadores e produção com características mínimas de homogeneidade.1

2 3

4

5

6

6-Execução das ações previstas no plano de desenvolvimento, bem como a avaliação dos resultados alcançados.

2-Processo de aproximação entre os atores locais e a construção das políticas de relacionamento.

3-Coleta de dados para compor os Diagnósticos de Competitividade.

4-Ações de curto prazo para medir satisfação dos clienets, índices de produtividade das MPEs, rodada de negócios, prospecção.

5-Definir os principais elemenstos estratégicos para interação entre os atores do APL.

1- Ao menos 20 estabelecimentos, 100 trabalhadores e produção com características mínimas de homogeneidade.1

2 3

4

5

6

1

2 3

4

5

6

6-Execução das ações previstas no plano de desenvolvimento, bem como a avaliação dos resultados alcançados.

2-Processo de aproximação entre os atores locais e a construção das políticas de relacionamento.

3-Coleta de dados para compor os Diagnósticos de Competitividade.

4-Ações de curto prazo para medir satisfação dos clienets, índices de produtividade das MPEs, rodada de negócios, prospecção.

5-Definir os principais elemenstos estratégicos para interação entre os atores do APL.

Page 33: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

27

1.8 – Simulação da viabilidade econômica: identificando potenciais

Como proposta para o contínuo desenvolvimento da política de APLs em todo

país, o presente estudo teve como objetivo identificar o potencial regional para a

formação destes aglomerados ao longo de todos os 5.566 municípios existentes no

país (MTE, 2006), baseando-se em atividades industriais qualificadas pelo critério

“Classe” da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE21 – versão

1.0). Como proposta de quantificar as regiões que poderiam exercer tais iniciativas,

a análise compartilhou de muitos dos critérios usados na elaboração do estudo

intitulado “Subsídios para a identificação de clusters no Brasil: atividades da

indústria”, realizado em 2002 pelo SEBRAE.

Para identificar as regiões que potencialmente possam ser caracterizadas como

hospedeiras de um APL, partiu-se da utilização do Cadastro de Estabelecimentos

(RAISESTAB) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de setembro de 2006.

Este banco de dados resulta da composição e atualização de diversas outras bases de

dados do Governo Federal, mas não considera o número de estabelecimentos

informais.

Levando-se em consideração, ainda, que 99% dos estabelecimentos industriais

são formados por MPEs, como será visto no capítulo seguinte, pode-se então

entender que, salvo algumas exceções, os APLs de estabelecimentos industriais aqui

identificados correspondem também a APLs de MPEs da indústria brasileira.

Deste modo, a identificação do número de municípios com a presença de APLs

potenciais se baseou nos seguintes critérios:

• Seleção das atividades industriais que, no Brasil, possuem mais de 1.000

estabelecimentos (Classe CNAE – versão 1.0, a 4 dígitos) – (Tabela nº. 4

- Apêndice estatístico);

• Seleção dos municípios com mais de 30 estabelecimentos nas atividades

selecionadas, conforme regras para a formação de APLs, como discutido.

21 A CNAE 1.0 foi elaborada pelo IBGE e publicada no Diário Oficial da União em 26/12/1994 (SEBRAE, 2002, p.6). Atualmente, após revisão realizada em 2007, disponibilizou-se a versão CNAE 2.0 com uma classificação de atividades econômicas atualizada junto as mudanças na estrutura e composição da economia brasileira.

Page 34: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

28

De acordo com a RAISESTAB (set/2006), existiam cerca de 670 mil

estabelecimentos na indústria no Brasil em 2006. Dentre estes, pouco mais de 400

mil (59%) estariam capacitados a participar das iniciativas de APLs, uma vez que

apresentavam concentração igual ou maior ao mínimo de 20 estabelecimentos por

município (Figura nº. 5). A análise identificou que se eliminadas as 27 capitais dos

estados brasileiros – que apesar da grande concentração de empresas, também

apresentam grande descentralização regional – o número de agrupamentos com

potencial para a formação de APLs ainda continuava elevado, representando 57% do

resultado original, ou seja, 230 mil (34%) estabelecimentos capacitados.

Figura nº. 5 – Potencial de estabelecimentos com potencial para a formação de APLs nos municípios do país.

Fonte: Elaboração do autor, baseado em MTE (RAISESTAB, 2006)

Como conseqüência, tal resultado possibilitou a identificação de 4.824

agrupamentos com potencial para a formação de APLs a serem formados pelo país,

dentre os quais, a maior parte concentrada na indústria de edificações, com 711

municípios potencias. Segue-se a esta as indústrias de confecções de peças do

vestuário, com 434 municípios, e fabricação de móveis, com 271 municípios (Tabela

nº. 4 - Apêndice estatístico).

59%41% 34%66%

ESTABS COM POTENCIAL ESTABS SEM POTENCIAL

Todos os municípios Municípios sem as 27 capitais

N: 689.097

59%41% 59%41% 34%66% 34%66%

ESTABS COM POTENCIAL ESTABS SEM POTENCIAL

Todos os municípios Municípios sem as 27 capitais

N: 689.097

Page 35: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

29

CAPÍTULO 2 – O CRESCIMENTO DAS MPEs22: UM PARADIGMA DOS NOVOS TEMPOS

2.1 - Mudanças no cenário e as conseqüências na estrutura ocupacional

A década de 1990 foi marcada por acentuadas mudanças no plano

macroeconômico, que definiram, dentre outras, forte redução da presença do Estado

na economia brasileira, tanto através de processos de privatização, como da abertura

comercial e financeira iniciadas no governo Collor (1990-1992). A diminuição nas

barreiras tarifárias e os baixos índices na taxa de câmbio causaram forte aumento na

participação das importações de não duráveis e ocasionaram transformações no ritmo

e na estrutura da economia, que apresentou substituição da produção doméstica por

bens estrangeiros levando à redução dos postos de trabalho e aumento na taxa de

desemprego.

“Dados do comércio exterior brasileiro revelam um movimento

crescente de substituição de produção local por importação (...) Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), pela primeira vez, as importações brasileiras devem ultrapassar US$ 100 bilhões em 2007. É mais do que o dobro do valor registrado no primeiro ano do governo Lula (2003), quando as compras externas somaram US$ 48,3 bilhões (...) Não é à toa que o número de empresas importadoras vem se multiplicando no País. 1,5 mil a mais do que em igual período de 2006 contra apenas 119 empresas de exportações” (REHDER, 2007, p. E1).

As mudanças na estrutura produtiva causaram novos efeitos sobre o

funcionamento do mercado de trabalho brasileiro. A começar pela diminuição do

emprego no Setor Secundário ocasionada pela migração das corporações para o

interior do país e pela nova demanda por mão-de-obra especializada.

22 “Critério de classificação de porte da empresa, em relação à receita operacional bruta no ano: microempresa – até R$ 1.200 milhões; pequena – entre R$ 1.200 e R$ 10.500 milhões; média – entre R$ 10.500 e R$ 60 milhões; grande – acima de R$ 60 milhões” (BNDES, 2006-a, p. 1). Mas, de acordo com a classificação do SEBRAE, a divisão por porte ocorre da seguinte maneira: microempresa – até 9 empregados; pequena – de 10 a 99 empregados; médias – de 100 a 499 empregados; grande – acima de 500 funcionários.

Page 36: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

30

“Enquanto uma nova estrutura de prestação de serviços se fortalece nos grandes centros, muitas cidades, principalmente médias e pequenas, espalhadas pelas diferentes regiões do País, manifestam vocações industriais em diversos setores da economia” (GALUPPO, 02/10/2005, p. H1).

O processo de modernização causou o inchaço do Setor Terciário, que

posteriormente desencadeou no aumento do desemprego nas regiões metropolitanas

do país (Figura nº. 6). Os desempregados, que tentavam na sua maioria se deslocar

para outros segmentos do mercado de trabalho tornavam-se vítimas da crescente

parcela de trabalho informal, implicando em uma verdadeira barreira para o

crescimento da economia. Estes trabalhadores informais, classificados como “conta-

própria” ou “proprietários”, passaram a desenvolver atividades em condições

precárias e sem qualquer vínculo empregatício.

Figura nº. 6 - Evolução da estrutura setorial da ocupação no Brasil: Setor de serviços e indústria de transformação (1991 – 2001).

Fonte: Elaboração do autor baseado em RAMOS, 2002, p. 3, apud PME/IBGE e IPEA/MTE

Mas as conseqüências desta barreira vão além do descumprimento das obrigações

relacionadas à seguridade social. Além das empresas informais infringirem os

direitos autorais e ignorarem regulamentações sobre qualidade e segurança do meio-

15%

16%

17%

18%

19%

20%

21%

22%

23%

Jan-91 Jan-92 Jan-93 Jan-94 Jan-95 Jan-96 Jan-97 Jan-98 Jan-99 Jan-00 Jan-01

Indú

stria

35%

36%

37%

38%

39%

40%

41%

42%

43%

Ser

viço

s

Indústria de trasnformação Setor de Serviços

Page 37: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

31

ambiente, a sonegação fiscal lhes permite obter vantagens competitivas para

“concorrer de forma bem-sucedida com empresas mais eficientes e cumpridoras da

lei” (NASSER, 2007, p. 71). Assim, “empresas legais perdem lucros e market share

ficando desestimuladas a fazer novos investimentos em produtividade, expansão de

capacidade e instalação de novas tecnologias” (CAPP, ELSTRODT & JONES JR.,

2005, on line).

Como “a abertura de uma nova empresa no Brasil leva 150 dias – três vezes a

média mundial” (Op. cit;, 2007, p. 71), aos olhos dos desempregados, o incentivo

gerado pela economia informal toma um novo impulso e segue ainda mais fundo no

círculo vicioso proposto por Myrdal.

“Os milhões de micro e pequenas empresas brasileiras são reféns de uma espécie de círculo vicioso: o peso dos impostos é tão grande que elas não conseguem se formalizar e, como são informais, não assinam a carteira dos empregados” (JORNAL NACIONAL, 2007, on line).

O encerramento de uma firma é ainda mais oneroso e complicado, podendo

chegar a 10 anos. Com isso, os benefícios que poderiam ser configurados pelo

aumento da arrecadação do governo para gerar aumento do bem-estar social acabam

sendo perdidos, esquecidos ou até mesmo ignorados de maneira a aumentar ainda

mais a pobreza e provocar um grande desestímulo para toda a economia local.

“Embora seja uma defesa das pessoas, a informalidade é uma verdadeira disfunção

republicana” (LESSA, 2006).

Segundo a pesquisa da Economia Informal Urbana (Ecinf 2003), concluída em

2005 pelo IBGE com o apoio do SEBRAE, o principal motivo para o surgimento dos

mais de 10 milhões de empreendimentos informais mapeados no Brasil (SEBRAE,

2005-b, p. 40) é a falta de oportunidade de emprego (31,1%), seguido por

complementação da renda familiar (17,6%) (Tabela nº. 2).

Page 38: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

32

Tabela nº. 2 – Motivos que levaram os proprietários a iniciarem os seus negócios/ atividades no Brasil, em 2003.

Fonte: Elaboração do autor, baseado em SEBRAE, 2005-b, p. 54

Mas como a composição sobre a taxa de desemprego elaborada pelo IBGE

considera desempregada apenas “aquelas pessoas que na semana de referência da

pesquisa estiveram procurando trabalho no período de 30 dias em relação à

População Economicamente Ativa (PEA)” (IBGE, 2002, p. 36), cabe avaliar que

muito além dos 10%23 de trabalhadores considerados desempregados pelo IBGE, a

economia brasileira conta com um índice de informalidade representando por mais

da metade dos trabalhadores brasileiros, que “arregaçam as mangas e pegam no

batente todo dia sem ter nenhum direito trabalhista” (G1, 2007, on line) (Figura nº.

7). Dados recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam

que entre os trabalhadores ocupados no Brasil, apenas 46,6% estão contratados

dentro do conformes da lei. O restante, 53,4%, são trabalhadores informais24.

23 Os dados aqui utilizados, referentes ao mês de março de 2007, são aqueles fornecidos pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME), que é uma pesquisa domiciliar mensal levada a cabo pelo IBGE em seis das principais regiões metropolitanas brasileiras — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador —, representando cerca de 25% da força de trabalho. O índice, que compõem a taxa de desemprego do Brasil, não considera as pessoas que atuam no setor informal, que representam mais da metade dos trabalhadores brasileiros. Para mais detalhes, ver: http://www.ibge.org.br/# > Indicadores. 24 Consideram-se informais aqueles trabalhadores que não têm auxílio doença, aposentadoria, pensão por morte e nem têm garantidos os benefícios dos contratados em carteira: férias, gratificação de um

Motivos para início do negócio/ atividade

Empresas do setor informal

Divisão percentual

Não encontrou emprego 3.216.168 31,1%Complementação da renda familiar 1.820.160 17,6%Independência 1.702.477 16,5%Experiência na área 864.979 8,4%Tradição familiar 837.242 8,1%Negócio promissor 761.602 7,4%Outro motivo 597.351 5,8%Era um trabalho secundário 215.076 2,1%Horário flexível 195.410 1,9%Oportunidade de fazer sociedade 105.737 1,0%Sem declaração 19.760 0,2%

TOTAL 10.335.962 100%

Page 39: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

33

Figura nº. 7 - Evolução do grau de informalidade no mercado de trabalho

metropolitano brasileiro (1991-2001). Fonte: Elaboração do autor baseado em RAMOS, 2002, p. 2, apud PME/IBGE e IPEA/MTE

Para o economista e pesquisador Lauro Ramos, da Diretoria de Estudos Sociais

do IPEA, uma das causas mais difundidas para explicar o comportamento da

informalidade é a “postura no que tange à fiscalização trabalhista, que teria passado a

incentivar (salientar vantagens) a assinatura da carteira de trabalho ao invés de

simplesmente multar [aquelas empresas que não se utilizam desta política]”

(RAMOS, 2002, p. 2). Para José Pastore, sociólogo da Universidade de São Paulo

(USP) e especialista sobre a questão do emprego, o trabalhador informal está exposto

a uma grande selvageria.

“Quando uma pessoa adoece precisa ter uma licença remunerada

para tratar da saúde. A pessoa que envelhece precisa ter certeza que vai se aposentar para viver o restante dos seus anos e aquela que falece precisa ir em paz para deixar alguma coisa para os seus descendentes” (PASTORE, apud G1, 2007, on line).

terço do salário nas férias, descanso remunerado, décimo terceiro, pagamento de hora extra, licenças maternidade e paternidade, e, em caso de demissão, aviso prévio de 30 dias, permissão para sacar o FGTS e multa de 40% sobre o saldo do fundo, além do seguro desemprego.

38%

40%

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44%

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34

“O Brasil não tem mais tempo a perder”, diz o relatório “Cinco prioridades para

a economia do Brasil”, realizado em 2007 pela consultoria McKinsey, em São Paulo.

Ao analisar que a eliminação das fortes barreiras à produtividade poderia aumentar o

crescimento do PIB per capita no país – hoje de 1% ao ano - para um índice

sustentável de 7% ao ano. Segundo o estudo, “a causa fundamental do fraco

desempenho econômico é o lento aumento da produtividade da mão-de-obra, fator

determinante da riqueza de uma nação” (ELSTRODT, LABOISSIÉRE &

PIETRACCI, 2007, p. 69).

Ao mapear as barreiras ao crescimento da produtividade nos principais setores da

economia25, descobriu-se que as barreiras estruturais26 correspondem por cerca de

um terço da lacuna entre Brasil e Estados Unidos (Figura nº. 8). Os dois terços

restantes desta diferença de produtividade, correspondentes às barreiras não-

estruturais, ficaram a cargo: da economia informal (60%), que permanece no

caminho da concorrência ilegal; instabilidade macroeconômica (20%) causada pelo

alto volume de despesas do governo e considerada como fator importante para a

competitividade internacional da economia como um todo; serviços públicos

inadequados (12%), como: o sistema judicial, de saúde e de educação brasileiros e;

infra-estrutura deficitária (8%), “cujos investimentos estão muito aquém do nível

observado em outras economias em estágio de desenvolvimento” (ELSTRODT,

LABOISSIÉRE & PIETRACCI, 2007, p. 70).

25 O estudo analisou as barreiras ao aumento da produtividade em oito setores (agricultura, automotivo, varejo de alimentos, governo, construção civil, bancos de varejo, siderurgia e telecomunicações) que juntos representavam 46% dos empregos do Brasil. Para mais detalhes, ver o artigo “How Brazil can grow”, por Heinz-Peter Estrodt, Jorge A. Fergie e Martha A. Laboissière (The McKinsey Quarterly, 2006 nímero 2) 26 Restrições que deverão melhorar naturalmente à medida que o Brasil crescer (por exemplo, custo da mão-de-obra em relação ao custo de capital).

Page 41: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

35

Figura nº. 8 – Barreiras ao aumento da produtividade no Brasil, como lacuna em relação à produtividade dos EUA, 2006.

Fonte: elaboração do autor, baseado em McKinsey Global Institute, 2006.

Este estudo pressupõe que a separação dos obstáculos ao aumento da

produtividade no Brasil exigirá vontade política e persistência. Assim, sugere que

uma subunidade de combate à informalidade poderia apoiar, por exemplo, os

esforços dos diversos segmentos, ministérios e estados, bem como do legislativo e do

judiciário para “reduzir a economia informal pela metade – de 40% a 20% do PIB –

até 2018” (Op. cit., 2007, p. 70), que representa, hoje, a segunda maior economia

informal do planeta, atrás, somente, da Rússia (Figura nº. 9). E não seriam estes

APLs uma alternativa a estas subunidades?

Segundo o Departamento de Gestão do Conhecimento do SEBRAE, as vantagens

para uma empresa deixar de atuar no ambiente informal e passar a compor a

formalidade são diversas. Entre elas são levantadas possibilidades como a do negócio

prosperar e atingir novos mercados; divulgar a empresa; adquirir liberdade de

atuação sem que haja uma fiscalização rígida; haver maior facilidade em obter

créditos junto às instituições financeiras; aumentar a capacidade de solucionar crises

econômicas/financeiras pelo processo de recuperação judicial ou extrajudicial;

Informalidade eregulamentação

Instabilidademacroeconômica

Serviços públicosinadequados

Infra-estruturainadequada

60%

20%

12%

8%

35% 65%

Barreiras estruturaisBarreiras não-estruturais

Informalidade eregulamentação

Instabilidademacroeconômica

Serviços públicosinadequados

Infra-estruturainadequada

60%

20%

12%

8%

35% 65%

Barreiras estruturaisBarreiras não-estruturais

Page 42: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

36

manter a responsabilidade limitada aos sócios (se sociedade limitada); possibilitar

melhor relação com fornecedores e clientes; evitar passivo tributário e as

responsabilidades por sonegação fiscal; etc.

Figura nº. 9 - Tamanho da economia informal como % do PIB das maiores economias do mundo, em 2003

Fonte: Elaboração do autor baseado em CAPP, ELSTRODT & JONES JR., 2005, on line, apud, International Labor Organization, United Nations; World Bank

O estabelecimento de laços de cooperação entre as MPEs brasileiras para a

promoção de alianças estratégicas e formação de APLs pode ser um instrumento

importante para estimular o desenvolvimento de uma região. Segundo o olhar do

autor desta pesquisa, a coordenação de iniciativas entre os governos municipais,

estaduais e federal, segundo a facilidade de implementação e o impacto potencial

para cada região, poderiam surgir como políticas para o combate da informalidade.

2.2 - Linhas de crédito e financiamento: uma oportunidade para todos?

A maioria das MPEs ainda atua de forma isolada nas diversas regiões do Brasil.

Existem no país aproximadamente 6,5 milhões de empresas [formais] (Tabela nº. 3),

sendo que 99% delas ou faturam até R$ 10 milhões por ano ou apresentam não mais

RussiaBrasilColômbiaMéxicoCoréia do SulArgentinaÍndiaChileAustráliaChinaEUA

0% 10% 20% 30% 40% 50%

46,1%39,6%

39,1%30,1%

27,5%25,4%

23,1%19,8%

15,3%13,1%

8,8%

RussiaBrasilColômbiaMéxicoCoréia do SulArgentinaÍndiaChileAustráliaChinaEUA

0% 10% 20% 30% 40% 50%

46,1%39,6%

39,1%30,1%

27,5%25,4%

23,1%19,8%

15,3%13,1%

8,8%

Page 43: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

37

do que 99 funcionários. A elevada variação nos percentuais de micro (107,6%) e

pequenas (117,1%) empresas reforçaram o movimento de ascensão visto neste

segmento, no período de 1996 a 2005.

Tabela nº. 3 – Evolução absoluta das empresas por porte, segundo número de empregados, durante os anos de 1996 a 2005

Fonte: Elaboração do autor, baseado em SEBRAE, 2005-a, p. 12

As novas oportunidades deste nicho geraram grande interesse dos segmentos

financeiros em oferecer produtos que lhes possibilitassem obter uma nova fonte para

as suas receitas. “Devido a seu potencial de geração de emprego e renda as MPEs

vêm sendo há muito tempo alvo de atenção de analistas econômicos” (ROVERE,

2000, p. 1). As políticas de incentivo do SEBRAE, por exemplo, que têm como

objetivo auxiliar o às MPEs e amparar os potenciais centros de desenvolvimento

ganharam hoje posição de destaque na pauta de debate de empresários e governantes.

Para o economista Eduardo Giannetti, em entrevista concedida ao Jornal Nacional no

mês de abril de 2007, “este fato tem ocorrido porque a empresa que nasce pequena

está condenada a desaparecer rapidamente do ambiente de negócios caso não tenha

acesso a crédito” (GIANNETTI, apud JN, 2007, on line). Mais adiante, o também

economista Gabriel Ulyssea complementa: “apenas com fornecimento de crédito

essas empresas poderão desenvolver o seu potencial produtivo, para com isso, poder

atingir novos patamares de produção” (ULYSSEA, apud JN, 2007, on line).

Na visão dos bancos, a oportunidade é tão grande que estes passam agora a dar

atenção especial a essas empresas. “As instituições de crédito bancárias elevaram o

crédito para o chamado middle market, de 27,0% em 2004 para 31,3% em 2005,

como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e assim, os pequenos negócios

ganham destaque” (LUCA, 2006, p.1).

1996 Participação relativa 1996 2005 Participação

relativa 2005 ∆ 05/96 ∆ anualMicro 2.956.749 93,2% 6.137.037 93,4% 107,6% 8,5%Pequena 181.115 5,7% 393.203 6,0% 117,1% 9,0%Média 20.527 0,6% 31.071 0,5% 51,4% 4,7%Grande 13.472 0,4% 6.941 0,1% -48,5% -7,1%Total 3.171.863 100,0% 6.568.252 100,0% 107,1% 8,4%

Page 44: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

38

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que dá

preferência ao atendimento de pequenas empresas fornecedoras de grandes firmas

dispõe de linhas financeiras de apoio a alguns setores, dentre os quais, industrial,

infra-estrutura, comércio, serviço e agropecuário (BNDES, 2006-b, on line). Em

2005, os desembolsos do BNDES alcançaram R$ 47 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões

(17%) para Pessoa Física e MPEs (Figura nº. 10). No período, foram realizadas mais

de cem mil operações envolvendo Pessoa Física e MPEs, que correspondem a 85%

do total de operações do Banco.

Figura nº. 10 – Financiamentos registrados pelo BNDES no Brasil em 2006 Fonte: Elaboração do autor, baseado em BNDES, 2006-c, on line, e TEM, 2006.

As operações apresentadas por micros, pequenas e médias empresas (MPMEs)

são financiadas por meio das instituições financeiras credenciadas pelo BNDES,

responsáveis pela análise e aprovação do crédito e das suas garantias. Os principais

agentes emissores de crédito a estas empresas são: Bradesco, Banco do Brasil,

Volkswagen, Daimler Chrysler e ABN AMRO (BNDES, 2006-a, p. 3).

O Cartão BNDES, lançado em 2003, é um instrumento que fornece crédito de até

R$ 100 mil para que MPMEs - responsáveis por 97% das emissões - possam ter

acesso a uma linha de crédito pré-aprovada e de uso automático. As aprovações são

feitas, preferencialmente, para a aquisição de bens que possam aprimorar o

desempenho das empresas, como veículos leves, equipamentos de automação

comercial, computadores e periféricos, software, além de outros bens de produção,

como máquinas e equipamentos. Emitidos apenas pelo BNDES, Banco do Brasil,

Montante emprestado

Total: R$ 46,98 bi Total: 118.607

8% 9%8%

75%60%25%

7% 8%

Pessoa Física Micro e pequenas empresas Médias empresas Grandes empresas

Operações realizadasMontante emprestado

Total: R$ 46,98 bi Total: 118.607

8% 9%8%

75%

8% 9%8%

75%60%25%

7% 8%

60%25%

7% 8%

Pessoa Física Micro e pequenas empresas Médias empresas Grandes empresas

Operações realizadas

Page 45: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

39

Caixa Econômica Federal e Bradesco, apresenta prazo de 36 meses e juros de 1,22%

ao mês.

Para estimular e divulgar suas linhas de financiamento, algumas instituições

financeiras, a exemplo da Caixa Econômica Federal (CEF), desenvolvem

periodicamente campanhas de marketing para atrair MPEs às diversas ofertas que

disponibiliza. Com o slogan “Pense grande e tire a sua empresa do diminutivo”, o

propósito da CEF foi incentivar as MPEs a captarem recursos para os seus negócios

para desenvolver o potencial produtivo (figura nº. 11).

Figura nº 11 – Campanha publicitária da CAIXA, realizada em 2006, no Brasil Fonte: CEF, 2006, on line

Embora existam diversas linhas especiais de financiamento para MPEs, “a

heterogeneidade do universo destas empresas torna difícil a implementação de

políticas de inovação a elas destinadas” (ROVERE, 2000, p. 1). Apesar dos dados

demonstrarem que em 2006 aproximadamente cem mil MPEs foram contempladas

com linhas de crédito para o aumento da sua produtividade, a situação que se

configura no universo das mais de 15 milhões de empresas, entre formais e

informais, é muito diferente. À medida que a simples exigência de estar em dia com

as obrigações fiscais exclui a maioria das MPEs de obter tais linhas de crédito fica

subjugado que o benefício oferecido a estas empresas ainda está muito aquém do

esperado. “O uso de máquinas obsoletas é generalizado entre as MPEs devido às

dificuldades em obterem crédito” (Op. cit. p. 3). E ao limitar o seu desempenho

Page 46: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

40

competitivo, apenas “44% destas empresas sobrevivem por mais de cinco anos”

(ZAPAROLLI, 2006, on line). Assim, tais empresas ficam, mais uma vez, sujeitas ao

assustador universo representado pelo mercado informal, que apesar de prejudicar a

muitos, também pode refletir ótimas oportunidade para outros, que vislumbram neste

nicho um grande potencial para a geração de novas riquezas.

“Como as classes A e B já estão bem atendidas, bem como uma

parte do público C e D formal, o desafio será o atendimento ao público informal, que não tem como comprovar a sua renda. Esse público inclui também as pequenas empresas, principalmente da área de serviços, que compreende 32% do total (Figura nº12). (...). Quem acreditar, for criativo e focar também na classe informal, seja pessoa física ou empreendedor, tende a se destacar em sua carteira de cliente” (DUCHENE27, 25/05/2006, p. 4).

Figura nº. 12 - Distribuição das empresas do setor informal no Brasil, em 2003 Fonte: Elaboração do autor, baseado em SEBRAE, 2005-b, p. 40.

2.3 - Efeitos da carga tributária no Brasil

O efeito dos altos níveis da carga tributária, que se consolidaram no Brasil a

partir dos anos 90, tem se mostrado como um grande entrave para o fomento da

atividade econômica no país. Além dos cofres públicos, que perdem dinheiro pela

cultura da sonegação28 das empresas ilegais, a alta dos impostos também prejudica os

27 João Lucas Duchene é chefe do grupo de acompanhamento de bancos da IFC, holding do Banco Mundial (BIRD) para financiamento ao setor privado, que pretende se associar a três bancos de médio porte no Brasil. 28 Segundo pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), as formas mais comuns de sonegação são: importações subfaturadas, falta de registros de funcionários e notas frias.

32%

18%16%8%

8%7% 6% 5%

Comércio e Reparação

Construção Civil

Indústria de Trasnformação e Extrativa

Trasnporte, Armazenagem e Comunicação

Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais

Serviços de Alojamento e Alimentação

Atividades Imobiliárias, Aluguéis e Serviços

OutrosN: 10.335.962

32%

18%16%8%

8%7% 6% 5%

Comércio e Reparação

Construção Civil

Indústria de Trasnformação e Extrativa

Trasnporte, Armazenagem e Comunicação

Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais

Serviços de Alojamento e Alimentação

Atividades Imobiliárias, Aluguéis e Serviços

Outros

32%

18%16%8%

8%7% 6% 5%

Comércio e Reparação

Construção Civil

Indústria de Trasnformação e Extrativa

Trasnporte, Armazenagem e Comunicação

Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais

Serviços de Alojamento e Alimentação

Atividades Imobiliárias, Aluguéis e Serviços

OutrosN: 10.335.962

Page 47: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

41

trabalhadores informais que se vêem privados de melhores condições de renda e

ascensão profissional. Segundo a economista Eliana Cardoso, que participou do

quarto encontro da série Aliás Debate sobre crescimento econômico, publicado em

2006 pelo Jornal o Estado de São Paulo, “o entrave mais importante às inovações, ao

investimento produtivo e ao crescimento no Brasil de hoje é a carga tributária”

(CARDOSO, 01/09/2006, p. H6).

Ainda que o sistema tributário tenha passado por algumas reformulações ao

longo do século XX29, a carga tributária no Brasil tornou-se excessiva para o nível de

renda do país (Figura nº. 13). “Em 1947, ano em que se iniciou a apuração do

Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o total dos tributos arrecadados era de 13,8%.

Entre 1966 e 1970 a carga média foi de 23,1%” (SEBRAE, 2006-b, p. 4). A partir da

segunda metade do Milagre Econômico30 (1968 - 1973), período da história que se

tornou conhecido por suas elevadas taxas de crescimento, o montante de 25%

permaneceu em patamares constantes até 1982, quando a Grande Crise se instaurou

por definitivo.

Neste período, a socióloga e filósofa eslovena Ranata Salecl divagou sobre o

reflexo capitalista na sociedade como um sistema em que “a autoconstrução se

tornou um imperativo cultural do Ocidente, (...) O consumo sem limites provocou o

momento no qual o sujeito passou a ‘consumir a si mesmo’” (SALECL, 2005, p. 15 e

26). Mas foi a partir do confisco da poupança, no governo Collor (1990 -1992), que a

carga tributária no Brasil não mais parou de crescer. A carga alcançou sucessivos

29 A evolução do Sistema Tributário Brasileiro apresenta como datas importantes os anos de 1946, 1966 e 1988. 30 O Milagre Econômico (1967 – 1973), que ocorreu durante o período da Ditadura Militar, especialmente no governo Médice, ostentou no país um pensamento de "Brasil potência". Após a forte pressão inflacionária ocorrida pela substituição das importações e pelo fortalecimento da “industrialização pesada”, ocorrida no Governo Jucelino Kubitscheck (1956 – 1961) - quando ocorreu um processo de verticalização da indústria no Brasil - criou-se, em 1964, logo depois que os militares tomaram o poder, no início do governo Castello Branco, o primeiro Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) -através do diagnóstico econômico realizado no governo anterior, conhecido como Plano Trienal de João Goulart (1961 – 1964). Após o início recessivo, de 1964 a 1967, o PAEG - que apresentava o controle inflacionário e as reformas estruturais (fiscal, cambial, monetária, industrial e salarial) como principais objetivos - só apresentou recuperação da capacidade fiscal e maior estabilidade monetária do Estado em 1968, quando se deu início a um período de forte expansão econômica no Brasil. De 1968 a 1973, quando o PIB brasileiro cresceu a uma taxa média acima de 11% ao ano, a inflação oscilou entre 15% e 20% e a construção civil cresceu, em média, 15%. O responsável pelas políticas econômicas do país, na época, foi Antônio Delfim Netto, ou o "super-ministro", como era chamado.

Page 48: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

42

recordes durante os governos FHC (1994 – 2002) e Lula (2002 - presente). Estima-se

que para 2007 a carga poderá alcançar 40% do total do PIB (IBPT, 2007, p. 2). Tais

dados permitem perceber que passados 58 anos, a carga tributária de 2005 foi 2,7

vezes maior do que aquela de 1947, em proporções ao PIB do país. Em outras

palavras, “o contribuinte brasileiro trabalha até o dia 26 de maio somente para pagar

os tributos exigidos pelos governos federal, estadual e municipal (...) [o equivalente

a] 4 meses e 26 dias (...), [ou seja] o dobro do que se pagava na década de 70” (IBPT,

2007, on line).

Figura nº. 13 – Carga tributária como participação do PIB (Brasil, 1971 – 2005) Fonte: Elaboração do autor baseado em ETCO & FGV, 2005, p. 6; RECEITA FEDERAL, 2006, p. 1; e IBPT, 2007, on line.

“O setor informal poderia ser beneficiado, não fosse o elevado patamar da carga

tributária” (SOFIA, 2006, p. B4) - uma das mais altas do globo, antes de Suécia,

Noruega, França, Itália e Reino Unido. Diferente destes países, cuja elevada carga

tributária se remete à transferência de parte da arrecadação do governo a serviços de

seguridade social, o peso dos impostos no Brasil, além de oferecer escassos e

ineficientes benefícios ao trabalhador, desestimula a realização de investimentos e

faz com que empreendedores prefiram sonegar impostos a ingressar na formalidade.

E com isso, mais uma vez, a abrangência de questões envolvendo a concorrência

desleal “agrava as dificuldades de desenvolvimento das indústrias , que são

pressionadas por um ambiente de crescimento baixo e descontinuado, de carga

tributária elevada e alto custo de financiamento” (FIRJAN, 2004, p. 1).

22%

24%

26%

28%

30%

32%

34%

36%

38%

40%

1971

1972

1973

1974

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2000

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e

22%

24%

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1992

1993

1994

1995

1996

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1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

e

Page 49: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

43

Segundo um estudo realizado em parceria pelo Instituto Brasileiro de Ética

Concorrencial (ETCO) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre os impactos da

carga tributária no Brasil, “o maior aumento de carga se deu na arrecadação

originada por impostos ligados à produção e à importação de mercadorias (...)

recaindo sobre o setor produtivo, responsável por mais de dois terços da receita

tributária” (ETCO & FGV, 2005, p. 8).

Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, 59% dos consumidores

afirmaram que compram produtos no mercado informal. É o que relata outro

estudo31, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

(FIRJAN), contemplando que “o comércio informal tem grande penetração entre os

entrevistados” (FIRJAN, 2004, p. 1). Segundo eles, destacam-se como vantagens da

compra de produtos originários do comércio ilegal: o preço baixo (31,9%), a

flexibilidade de negociação de preço (11,4%), o acesso fácil (11,1%), o pagamento

com tíquetes refeição e vale-transporte (10,4%) e a oportunidade de comprar

produtos originais com preços menores (7,2%) (Figura nº 14).

Colocado em prática em 1997 pelo Governo Federal, o Sistema Integrado de

Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno

Porte (SIMPLES) foi uma política para tentar promover a melhoria do ambiente

econômico às MPEs, que foram desoneradas da cobrança de impostos sobre a folha

de pagamento e sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS). O programa impulsionou a criação de trabalhos no setor formal, embora não

em quantidade suficiente para conter a grande massa de informais que ainda cresce a

passos largos. Em substituição ao SIMPLES Federal, em 2007, o SIMPLES

Nacional, ou Super SIMPLES, como vem sendo chamado, tornou possível a

unificação da arrecadação de impostos e contribuições, a adesão de prestadoras de

serviço, além de ampliar os limites da receita bruta anual das empresas para

enquadramento no sistema. (SEBRAE, 2006-b, p. 5). Embora preveja redução da

carga tributária e do excesso de burocracia, o que poderia contribuir para a

regularização de muitas MPE, recentes estudos mostram que 38% das empresas do 31 O levantamento realizado no centro do Rio de Janeiro nos dias 18, 19 e 20 de maio de 2004 abrangeu uma amostra de 300 pessoas, distribuídas entre as classes A, B, C e D, dentre as quais 47%, 49%, 66% e 60% relataram comprar produtos no comércio informal, respectivamente.

Page 50: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

44

setor de serviços não terão vantagens com esta migração. Segundo o estudo do

Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), “280 mil dos 730 mil

prestadores de serviços enquadrados no antigo sistema deverão ter a carga de

impostos aumentada” (G1, 2007, on line, apud IBPT).

Figura nº. 14 – Vantagens da compra no mercado informal no RJ, 2004 Fonte: Elaboração do autor, baseado em FIRJAN, 2004, p. 2.

“Pesquisa do Banco Mundial, divulgada no início de setembro de

2005, mostra que o Brasil caiu 23 posições no ranking “Doing Business”, que analisa a facilidade para a realização de negócios em 155 países do mundo. O Brasil ficou em 119º lugar e está entre os piores países do mundo, perdendo para nações como Nigéria, Albânia e Sri Lanka. Na mesma pesquisa, o Brasil ficou em 140ª posição quando o assunto é carga tributária” (SEBRAE, 2006-b, p 6).

Uma vez que o excesso da carga apresenta ambos os efeitos, ou seja, tanto

aumenta a informalidade a partir da concorrência ilegal como diminui a arrecadação

do governo por causa da sonegação, isso afeta a competitividade e o potencial de

investimento das empresas, reduzindo a capacidade da economia. Segundo a

projeção do professor de finanças públicas da Universidade de São Paulo e

presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), André Franco

Montoro Filho, a sonegação de impostos no país, que é da ordem de 30%, tem quase

a mesma proporção da carga tributária32 (CHIARA, 2006, p. B1). Deste modo,

32 Considerou-se para esta análise informações dos setores de combustíveis, fumo, medicamentos, bebidas e tecnologia, que juntos integram a lista dos setores que são analisados pelo instituto.

31,9%

11,4%

11,1%10,4%

7,2%

28,0%

Preço

Flexibilidade preço

Acesso fácil

Pagamento com VT e ticket

Prod. originais com preços menores

Outros

31,9%

11,4%

11,1%10,4%

7,2%

28,0%

Preço

Flexibilidade preço

Acesso fácil

Pagamento com VT e ticket

Prod. originais com preços menores

Outros

Page 51: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

45

encontrar um equilíbrio para o valor dos impostos parece ser uma boa estratégia para

a geração de riqueza e renda na sociedade.

“O caminho da simplificação e da busca de maior eficiência na

arrecadação é o melhor meio de conciliar as metas mais desejáveis: a ampliação da receita do setor público, a diminuição da carga tributária sobre o setor produtivo e o estímulo ao crescimento econômico como decorrência de um processo mais racionalizado” (ETCO & FGV, 2005, p. 5).

Participante do APL de Confecções de Tietê, a empresária Marisa Sandei Martins

Colnago criticou a alta carga tributária. Segundo ela, “com uma nova legislação, os

empresários irão melhorar a vida do trabalhador e até, pagar mais impostos,

sonegando menos” (SEBRAE, 2006-b, p. 25). Desta mesma maneira, entende-se que

uma Lei Geral para MPEs, ao mesmo tempo que pode definir critérios para efeito da

concessão de tratamento jurídico e encargos diferenciados para a promoção da

atividade produtiva, pode, ainda, corroborar com iniciativas para a formação de

APLs através da redução dos encargos por meio das reformas do sistema fiscal e da

legislação trabalhista; melhoria na aplicação de leis e regulamentações; criação de

uma cultura de formalidade por meio da conscientização das pessoas de que o

mercado informal é prejudicial para o desenvolvimento econômico e;

redirecionamento de recursos para investimento em infra-estrutura nas regiões onde

existam APLs como alternativa para não ter que priorizar um único tipo de atividade

produtiva.

Page 52: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

46

CAPÍTULO 3 – ESTUDOS DE CASOS

3.1 - Arranjo Produtivo do Grande ABC: o cluster como alternativa para o

desenvolvimento regional33

“Participar do APL tem proporcionado aos empresários a integração entre aqueles que eram antes considerados concorrentes e agora trabalham juntos para a melhoria do conjunto” (AGENCIA ABC, 2007, on line”).

A Região do Grande ABC, formada por sete municípios da Região Metropolitana

de São Paulo34, integra um importante pólo das indústrias que formam a terceira

geração da cadeia petroquímica, ou seja, empresas transformadoras de resinas em

plásticos, ou fabricantes de produtos de materiais plásticos. No ano de 1997, o

cenário apresentava, segundo os dados da Associação Brasileira da Indústria do

Plástico (Abiplast), a concentração de “mais de 6.000 empresas deste setor

espalhadas pelo Brasil, dentre as quais aproximadamente 10% espalhadas na Região

do ABC” (SOUZA, 1997, p. 192, apud ABIPLAST, 1997).

Ainda que com um extenso leque de produtos que variavam de sacos plásticos e

artefatos calçadistas a sofisticados componentes para indústria automotiva, médica,

farmacêutica e eletroeletrônica, as empresas pertencentes do pólo de trasnformação

do ABC sentiram a chegada de restrições que possibilitassem o aumento da

rentabilidade dos seus negócios.

As indústrias de plástico da região poderiam ter seus negócios comprometidos se

não implantassem novos processos tecnológicos para diferenciação dos seus

produtos. “A ausência da diferenciação obriga a empresa a disputar espaços e

enfrentar os riscos de patinar no terreno escorregadio da perigosa rivalidade em

33 Re-leitura à análise feita pela Professora Maria Carolina de Souza, no ensaio intitulado “Setor de transformação na petroquímica: um potencial a explorar”, de 1997. 34 Santo André (A), São Bernardo do Campo (B), São Caetano do Sul (C), Diadema (D), Mauá ; Ribeirão Pires e, Rio Grande da Serra.

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preços35, e afastar-se das condições para formar estratégias que conduzam a opções

mais duradouras no mercado”. (Op. cit., 1997, p. 199). Elas perceberam que novos

investimentos em design, processos e distribuição poderiam proporcionar-lhes novos

mercados para conquistar margens de lucro mais saudáveis.

Em razão das assimetrias quanto ao poder de mercado das empresas pertencentes

a este pólo e da forte ameaça à entrada de novos competidores, o setor foi qualificado

como “um mercado com características oligopolísticas36” (Op. Cit., 1997, p. 196).

Segundo a Professora Maria Carolina Souza, que elaborou em 1997 um panorama

para o setor, as MPEs anônimas, e informais, disputavam espaços e posições,

freqüentemente em preço, rivalizando entre si e com as grande empresas, que

respondiam com predatórios processos de preços, os dumpings. A falta de bens

substitutos, por outro lado, consistia em vantagem competitiva, uma vez que a guerra

de preços permanecia internalizada entre as fabricantes de um dado produto. Além

disso, a elevação da demanda parecia impulsionar os negócios em razão do

“momento particularmente favorável, no qual o consumo de plástico estava sendo

ampliado pelo desenvolviemnto de novos usos e pela substituição a outros materias”

(Op. cit., 1997, p. 198). Quanto às negociações, as indústrias da terceira geração da

cadeia petroquímica permaneciam em situação duplamente desfavorável. Em

primeiro lugar, porque o segmento de segunda geração apresentava um grau de

concentração maior do que o setor de transformação. E em segundo, porque a falta

de cooperação e incentivos setoriais permitia à clientela obter um poder de barganha

ainda maior.

Diante destas dificuldades, a Agência de Desenvolvimento Econômico do

Grande ABC decidiu elaborar, em 2004, um projeto com o objetivo de gerar novos

35 “Para que haja a condução a lucros maiores, as empresas podem cooperar entre si através de um entendimento implícito, denominado conluio, ou cartel, por meio do qual todas concordem em manter os seus preços elevados. Entretanto, se uma empresa adotar uma política de preço menor que a dos seus concorrentes isto pode gerar medidas retaliatórias e batalhas de preços e o conluio implícito torna-se demasiadamente frágil” (NOGUEIRA, 2007, p. 29). Assim, “as empresas oligopolistas quase sempre apresentam uma forte tendência de manter a estabilidade, particularmente no que tange aos preços” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 585). 36 O oligopólio se apresenta como uma estrutura de mercado na qual apenas algumas empresas competem entre si, obstruindo ou dificultando a entrada de novas empresas (NOGUEIRA, 2007, p. 27).

Page 54: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

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empregos e aumentar o faturamento das empresas do setor de Plásticos do ABC,

mais de 90% formadas por MPEs. “Atualmente, o Grande ABC reúne mais de 500

fabricantes e responde por 6,3% do faturamento do setor no país – que registrou a

marca de R$ 37,5 bilhões em vendas em 2006” (SIRESP, 2007-a, on line). Ao

percebeber a existência do potencial ofensivo, a iniciativa privada trouxe à tona o

maior arranjo produtivo do país. Oficialmente em operação desde março de 2007,

após solenidade organizada pela FIESP, o APL de Plástico do Grande ABC recebeu

um investimento inédito de R$ 4 milhões vindos de todas as petroquímicas que

atuam na região, que representam o maior mercado consumidor de produtos

acabados no país. A principal “empresa âncora”, a Suzano Petroquímica, respondeu

por R$ 1 milhão deste investimento. O International Finance Corporation (IFC) -

braço privado do Banco Mundial - por mais R$ 1 milhão e o Sebrae por R$ 900 mil.

O restante foram recursos estatais em forma de infra-estrutura ou centros de

instrução (SIRESP, 2007-b, on line). Além de transformar o pessoal ocioso do ex-

pólo de produção automobilística em mão-de-obra especializada, o programa previu

ações de capacitação e consultoria que ensinarão técnicas de gestão e levarão as

empresas a agregar maior valor aos seus produtos. As consultorias teriam o papel de

operar em três frentes: gerenciamento e organização de produção; gestão financeira;

e planejamento de mercado. Uma das primeiras ações desenvolvidas, em parceria

com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e com a Faculdade de

Engenharia Industrial (FEI), foi um diagnóstico setorial para conhecer melhor

algumas das carências das empresas em termos de gestão e processos produtivos. Em

paralelo, reuniões semanais entre os empresários de cada grupo têm ocorrido com a

finalidade da troca de experiências. “Atualmente, já são 36 indústrias participantes e

a meta é chegar a 60” (SIRESP, 2007-a, on line). Dentre outras ações estão: sistema

de garantia da qualidade ISO 9000; treinamento em marketing e vendas; divulgação

do APL de Plásticos; e o lançamento do site do APL do ABC,

www.aplgrandeabc.com.br/apl/, que serviu como proposta inicial para fazer da

região um centro mundial de referência no segmento.

Ainda que pouco representativos, os resultados mostram que o “consumo de

resinas pelas trasformadoras da terceira geração de plástico do ABC cresceu 2,3%

acima dos 2% do estado de São Paulo, na comparação entre o ano de 2000 e o de

Page 55: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

49

2005” (SIRESP, 2007-b, on line). No entanto, o setor ainda não atingiu o

crescimento da ordem de 10% conforme esperava e continua abaixo dos resultados

atingidos pelos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que cresceram,

respectivamente, 10,4% e 2,9% no mesmo período. Ainda assim, evidencia-se que

enquanto “em 2003 as empresas empregavam 1.742 pessoas, em 2004 já

empregavam 2.100” (AGÊNCIA GRANDE ABC, 2007, on line). Segundo o

presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas, José Ricardo Roriz Coelho,

os resultados só não foram melhores porque o setor sentiu os efeitos da valorização

cambial e da falta de incentivos fiscais do governo, que vem impedindo,

principalmente, o aumento da sua competitividade internacional. “Em estados como

a Bahia e Rio de Janeiro o ICMS caiu para próximo de 10% e em São Paulo ainda é

de 18%” (Op. cit., 2007-b, on line).

Não há como negar a importância do APL do Grande ABC àquelas empresas que

integraram tal iniciativa. Mais do que um plano nacional, a estratégia para o mercado

de plásticos tem sido replicada em outros lugares do mundo. “A atividade de

transformação, ou terceira geração petroquímica, é hoje a área na qual China e Índia

mais investem em projetos de APLs como estes ou de cooperativismo” (SIRESP,

2007-b, on line). Este fato demonstra que apesar dos resultados ainda não terem sido

completamente alcançados, já há como notar que o projeto tem promovido o

aumento da riqueza e da renda na Região do Grande ABC consistindo, assim, no

aumento do bem-estar geral da sua comunidade.

Page 56: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

50

3.2 - Pólo de lavanderias de jeans no agreste pernambucano: inteligência

aplicada ao desenvolvimento sustentável37

Junto aos municípios de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Surubim, a cidade

de Toritama faz parte do pólo de confecções do estado de Pernambuco, um dos

maiores APLs de Confecções do Agreste do Brasil e que, segundo o Sindicato das

Indústrias do Vestuário do Estado (Sindivest/ PE), representava, em 2006, 70% da

produção de confecções de Pernambuco.

Os empresários de Toritama detinham forte presença na indústria calçadista até o

final dos anos 1980, quando enxergaram, inspirados pelo sucesso de vendas das

calças US Tops, na época, uma boa oportunidade para incrementar a sua

rentabilidade.

Localizado a 160 Km de Recife, capital do estado, e extendendo-se por uma área

de 31 Km2 de extensão, Toritama contava, em 2002, segundo o censo realizado pelo

IBGE, com uma população de 21,8 mil pessoas. A etimologia38 do seu nome, região

de pedra, já caracterizava esse município desprovido de recursos naturais e imerso

em uma região extremamente árida, onde a única fonte de água potável é oriunda do

Rio Capibaribe, que na maior parte do ano permanecia com o leito-seco.

Cada vez mais procurado por consumidores despojados, o jeans passou a ser uma

realidade nos ambientes de trabalho, tanto em empresas que aboliam o uso do terno e

gravata como naquelas que instituíam a sexta-feira como casual day. Para atender às

tendências do mercado, que passou a apresentar crescente demanda pelas calças do

tipo stone washed (lavadas a pedra), os empresários de Toritama foram obrigados a

introduzir a lavagem como uma etapa a mais nos processos produtivos. Desta

maneira, as empresas passaram a montar suas próprias lavanderias, ou a tercerizar tal

serviço, que não diferente da maioria das confecções existentes também nasciam

como atividades informais.

Ao clima quente e à escassêz de chuvas do agreste pernambucano fazia-se

necessário o uso de carros-pipa, que ao trazerem água dos açudes das redondezas 37 Do original “Pólo de lavanderias de jeans no agreste pernambucano”, de Mário César Rodrigues de Freitas Lins, analista do Sebrae/PE, e Edílson Tavares de Lima, empresário do setor. 38 O nome Toritama tem origem nas palavras indígenas tori (pedra) e tama (região), remetendo às pedras que ficam à margem do Rio Capibaribe.

Page 57: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

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oneravam o custo da operação das lavanderias. E apesar da poluição do Rio

Capibaribe sempre ter sido constante em razão do despejo indevido de dejetos

industriais, a situação se agravou por definitivo quando a Promotoria de Justiça de

Toritama, procurada em meados de 2001 pela população, que clamava por

providências contra a poluição provocada pelas lavanderias da cidade, instaurou

inquérito contra as lavanderias, que poderiam ter suas portas literalmente lacradas se

não implantassem processos tecnológicos para se enquadrarem na legislação vigente.

O problema era incontornável às lavanderias, uma vez que o Rio Capibaribe era uma

das fontes de abastacimento de água potável da cidade de Recife. Para Edílson

Tavares de Lima, empresário do ramo de lavanderias e de confecções, “encontrar

uma solução rápida era uma questão de ‘vida ou morte’” (SEBRAE, 2006-c, p. 57).

Em 1998, porém, o próprio Lima, dono da Lavanderia Mamute, percebeu um fato

interessanste, de que a própria natureza parecia limpar a água dos processos

industriais que eram lançadas no leito do Rio Capibaribe, por conta de uma formação

existente no leito do rio que fluía atrás das instalações de sua empresa. Por conta

disso, em 1999, Lima resolveu procurar o escritório local da Companhia

Pernambucana de Saneamento (Compesa) para saber se era possível reciclar a água.

Todas as respostas obtidas por ele diziam que era possível tratar, mas não reutilizar.

Mas com o agravamento da questão ambiental e a iminência do fechamento das

lavanderias, a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), em

parceria com o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), o Sindivest/PE e o

Sebrae/PE, decidiram firmar um convênio, em 2001, com o Centro de Formação

Profissional das Associações Empresariais da Baviera (BFZ), na qual um grupo de

técnicos alemães veio ao Brasil com o objetivo de analisar o projeto de instalação de

uma planta-piloto na Lavanderia Mamute para o tratamento de efluentes industriais,

resultantes dos processos de degradação ambiental.

Lima tornou-se pioneiro ao implementar a tecnologia desenvolvida pelos técnicos

do BFZ influenciado, no início, mais pela busca da redução de custos por meio da

reutilização da água, do que efetivamente pela questão ambiental. Porém, a

consciência ambiental de Lima e dos demais produtores viria a despertar com o

tempo. Diante do dilema de ter suas lavanderias fechadas, o empreendedorismo dos

Page 58: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

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empresários os levou a decidir pela adequação dos processos e procedimentos

atendendo à legislação vigente.

Com as obras do projeto-piloto praticamente concluídas, o Ministério Público

Estadual convocou os empresários das lavanderias de Toritama para a celebração dos

Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC), que além do

procedimento de formalização destas empresas consistia de quatro principais

projetos: tratamento dos afluentes líquidos, controle da poluição atmosférica,

tratamento e destino final dos efluentes sanitários e um plano de gerenciamento de

resíduos sólidos. Entre os anos de 2002 e 2006, verificou-se que as 56 empresas que

haviam sido enquadradas nas exigências do TAC apresentaram uma significativa

queda no consumo de água, apesar do crescimento do uso de água nos processos de

lavagem (Quadro nº. 2).

Quadro nº. 2 – Consumo de água pelas lavanderias de Toritama – comparativos dos

anos de 2002 e 2006

Fonte: SEBRAE, 2006-c, p. 70

Toritama influenciou a forma de agir de seus concorrentes em outros municípios.

Transbordando a este exemplo, os municípios vizinhos de Caruaru, Surubim e

Riacho das Almas também começaram a cumprir o que previa a legislação

ambiental.

A ação conjunta e compartilhada com todos os atores envolvidos, sendo eles da

esfera privada ou pública, focados na solução do um problema que extrapolava os

2002 2006Peças lavadas por lavanderia (média/dia) 1.500 1.800Litros de água por peça lavada (média) 50 60Litros de água por lavanderia/ dia 75.000 108.000Número de lavanderias da cidade 60 56Litros de água total consumidos pelas lavanderias/ dia 4.500.000 6.048.000Litros de água reutilizada do processo de lavagem 0 3.024.000Litros de água consumida (total e reutilização) 4.500.000 3.024.000Litros consumidos numa residência/ pessoa 120 120Consumo de água das lavanderias (em número de pessoas) 37.500 25.200População oficial do município 21.800* 27.000*** IBGE - Censo 2000** Brasil em foco - IPC Target 2006

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53

limites dos interesses empresariais, mostrou que usando tecnologia simples e eficaz,

foi possível contornar as limitações de uma região e manter o curso do

desenvolvimento.

Portanto, o exemplo de união dos órgãos públicos, empresários de lavanderias do

APL de Confecções do Agreste e a comunidade local evidenciam que as atividades

do pólo de lavanderias de jeans numa região semi-árida não apenas atendessem aos

requerimentos da legislação ambiental, mas, mais importante, aperfeiçoassem seus

processos produtivos, introduzindo tecnologias, reduzindo custos e aumentando a

produtividade.

Demonstra-se então que a receita para a comunidade solucionar um problema

complexo foi simples: uma boa dose de paciência, persistência, flexibilidade e

comprometimento de todos, além da manutenção dos interesses do desenvolvimento

sustentável sempre em foco.

Situado às portas do sertão, o empreendedorismo encontrado no município de

Toritama alcançou a maior renda per capita entre os municípios nordestinos de

mesmo porte e, dentre os 185 municípios pernambucanos, apresentava o sexto maior

IDH do estado.

Mas os desafios das lavanderias de Toritama, Caruaru e de outros municípios da

região agreste não se limitaram apenas às questões do uso e reuso correto da água.

Substituir a lenha por um combustível limpo e economicamente viável como, por

exemplo, a energia solar, passou a ser uma preocupação constante. Em 2006, Lima já

começava a estudar, com a ajuda de técnicos alemães, a possibilidade de implantação

de um programa de energia solar. Muito ainda está por vir.

Page 60: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

54

CONCLUSÃO

Os elevados níveis da carga tributária na economia brasileira, além de representar

um ônus expressivo sobre empresas e famílias, também apresenta um alto preço que

nem sempre é percebido pela sociedade: o crescimento da sonegação, do

contrabando, da informalidade e da pobreza. Como resultado, o Brasil, um dos

campeões em empreendedorismo no mundo, sofre com a burocracia. A análise da

composição da carga tributária e das alternativas de mudanças aqui elaboradas

comprovou que essa questão é uma das prioridades na agenda de reformas

econômicas a serem adotadas.

Contudo, não basta a resolução de problemas estruturais para que as MPEs

consigam criar um ambiente saudável para a sua atuação eliminando a ameaça de

mortalidade nos cinco primeiros anos. Nos últimos 25 anos, a informalidade

manteve-se num patamar muito alto apresentando variações significantemente

negativas e hoje já empata com a carga tributária. Seu crescimento ocorreu mais

aceleradamente na década de 90, como conseqüência da abertura da economia, do

aumento da concorrência entre as empresas e da migração dos grandes pólos

industriais para o interior do Brasil.

Para que as MPEs consigam competir em mercados dominados pelas grandes

firmas e expandir sua rentabilidade, foi proposto, conforme demonstração dos

resultados, inúmeras abordagens cujas políticas de aglutinação em APLs - ou seja,

estando as empresas fisicamente próximas e especializadas na produção de uma

mercadoria homogênea - criam concretas condições para gerar aumento da riqueza

em uma dada região.

Não é tarefa fácil prever o futuro destes agrupamentos ou arranjos produtivos.

Ainda que grande esforço venha sendo feito para modificar a legislação tributária e

simplificar a burocracia às MPEs do país – a exemplo da discutida política do Super

Simples, a acomodação ou conformismo de alguns APLs pode impedir a promoção

de uma agenda de transformação para a economia local. Em razão da ausência de

uma instituição consistente que estabeleça regras de fácil assimilação a todos os

participantes do arranjo, os principais problemas de promoção e desenvolvimento de

Page 61: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

55

um APL, estruturado em sua forma mais simples, ainda estão na ausência das

relações estreitas de parceria, sinergia nos processos de inovação e da reduzida

cooperação inter-firmas. Este fato mais permite a discordância de idéias entre as

empresas pertencentes ao arranjo do que o esforço para buscar ganhos e o

compromisso original daquilo que foi acordado inicialmente.

Embora existam ganhos no curto prazo, a interação a médio e longo depende da

persistência das empresas envolvidas no processo. Além de enfrentar as dificuldades

estruturais, a aliança entre o grupo ainda deverá resistir aos “gargalos” não

estruturais da economia, composto por atuais medidas adotadas pelo governo,

principalmente no que toca ao alto nível da taxa de juros, bem como da taxa cambial,

que dificultam o acesso à renda.

Estando em conformidade legal, as empresas aumentam sua competitividade e

credibilidade no âmbito do mercado global. A licença passou a ser requisito

obrigatório para obtenção de financiamentos e aprovação da empresa como

fornecedora na cadeia produtiva. Por isso, os executivos compreenderam que a

formação de um aglomerado nos moldes de um APL facilitou a relação de

interdependência entre todos os atores envolvidos nos processos de produção,

distribuição e consumo da mercadoria à sociedade.

Por conta dessa percepção, investir em sustentabilidade virou mais do que fazer

dinheiro em razão do aval dos consumidores, mas uma externalidade que garante a

redução dos gastos ao longo de toda a cadeia produtiva. A medida que os

consumidores passam a ver as empresas como agentes sociais e não apenas como

agentes de produção, eles as punem por atos de irresponsabilidade ambiental, seja

deixando de comprar seus produtos, seja fazendo uma campanha negativa para

amigos e familiares.

Por isso, a adoção de mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) passa a ser

cada vez mais necessária a todo e qualquer processo produtivo. Além da utilização

consciente dos recursos da natureza, o homem começa a perceber que não haverá

maneira de sustentar-se ao longo do tempo sem que haja a sua efetiva preservação.

O Brasil conta hoje com um potencial produtivo dos mais expressivos do globo,

porém a miséria ainda é, senão o maior, um dos mais graves problemas a serem

solucionados. Uma verdadeira contradição. Por isso, acredita-se que a elaboração de

Page 62: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

56

uma política de incentivo aos 4.826 agrupamentos que apresentam potencial para a

formação de APLs poderia ser uma alternativa bastante viável para a redução da

miséria, informalidade e, sobretudo, para o desenvolvimento sustentável de diversas

regiões que ainda carecem de muito apoio pelo país. E se ao menos uma pequena

porcentagem dos projetos e dos experimentos de negócio for bem-sucedida, já será

mais do que suficiente para justificar o investimento em termos de um novo

desenvolvimento de capacitações e de crescimento da renda, além dos benefícios do

“efeito-demonstração”.

Recomenda-se àqueles interessados em aprofundar o conhecimento sobre os

temas aqui debatidos, que o façam refletindo, sobretudo, que se pode viver em

sociedade pensando o bem-estar comum da sociedade, ou se pode viver em

sociedade pensando apenas o próprio bem-estar.

Page 63: Rodrigo Hisgail Nogueira - Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa ao desenvolvimento sustentável_2007

57

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APÊNDICE ESTATÍSTICO

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Tabela nº. 4 – Classes econômicas, segundo o critério CNAE 1.0, que em 2006

possuíam mais de 1.000 estabelecimento no Brasil, e quantidade de

municípios em condições de hospedar APLs por cada atividade.

CLASSE COD ATIVIDADE (CLASSE CNAE) # ESTABS

BRASIL # MUN

45217 Edificacoes (residenciais, industriais, comerciais e de s 106.704 71118120 Confecção de peças do vestuário - exceto roupas íntimas, b 67.072 43436110 Fabricaçao de moveis com predominancia de madeira 27.282 27115814 Fabricaçao de produtos de padaria, confeitaria e pastela 27.711 25145292 Obras de outros tipos 19.003 17552710 Reparacao e manutencao de maquinas e de aparelhos elet 23.943 17220109 Desdobramento de madeira 15.557 15418112 Confecção de roupas íntimas, blusas, camisas e semelhan 17.406 14026301 Fabricaçao de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, 14.325 13652795 Reparacao de outros objetos pessoais e domesticos 16.976 13445500 Obras de acabamento 15.432 13328126 Fabricaçao de esquadrias de metal 11.524 9925291 Fabricaçao de artefatos diversos de plastico 9.256 8572290 Desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras co 22.684 8428428 Fabricaçao de artigos de serralheria - exceto esquadrias 10.005 8326417 Fabricaçao de produtos ceramicos nao-refratarios para uso 1.772 8145225 Obras viárias 7.060 7928991 Fabricaçao de outros produtos elaborados de metal 9.010 7822195 Ediçao; ediçao e impressao de outros produtos gráficos 11.343 7219313 Fabricaçao de calcados de couro 14.777 6764203 Telecomunicaçoes 9.115 6536994 Fabricaçao de produtos diversos 8.368 6520222 Fabricaçao de esquadrias de madeira, de casas de madeira 8.535 6215890 Fabricaçao de outros produtos alimentícios 7.721 5328398 Têmpera, cementação e tratamento térmico do aço, serviço 5.461 5129297 Fabricaçao de outras maquinas e equipamentos de uso ger 5.196 4820290 Fabricaçao de artefatos diversos de madeira, palha, cortiça 6.136 3926913 Britamento, aparelhamento e outros trab. em pedras (nao a 5.380 3718210 Fabricaçao de acessorios do vestuario 5.211 3772214 Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso 5.624 3625224 Fabricaçao de embalagem de plastico 4.420 3618139 Confecçao de roupas profissionais 4.102 3029696 Fabricaçao de outras maquinas e equipamentos de uso esp 3.001 2645250 Obras de montagem 2.990 2615431 Fabricaçao de sorvetes 5.464 2517612 Fabricaçao de artefatos têxteis a partir de tecidos - exceto v 3.430 2417795 Fabricaçao de outros artigos do vestuário produzidos em m 4.116 2328118 Fabricaçao de estruturas metálicas para edifícios, pontes, t 3.273 2324996 Fabricaçao de outros produtos químicos não especificados 3.238 2319291 Fabricaçao de outros artefatos de couro 3.206 2219216 Fabricaçao de malas, bolsas, valises e outros artefatos para 2.655 2134495 Fabricaçao de peças e acessórios de metal para veículos a 2.123 2127510 Fabricaçao de pecas fundidas de ferro e aco 2.744 20

(continua)

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66

Tabela nº. 4 – Classes econômicas, segundo o critério CNAE 1.0, que em 2006

possuíam mais de 1.000 estabelecimento no Brasil, e quantidade de

municípios em condições de hospedar APLs por cada atividade.

(continuação)

15849 Fabricaçao de massas alimentícias 3.338 1919399 Fabricaçao de calcados de outros materiais 3.010 1936129 Fabricaçao de moveis com predominancia de metal 2.272 1928932 Fabricaçao de artigos de funilaria e de artigos de metal para 2.930 1817507 Acabamentos em fios, tecidos e artigos têxteis, por terceiro 2.169 1817710 Fabricaçao de tecidos de malha 1.702 1825194 Fabricaçao de artefatos diversos de borracha 2.336 1722152 Edição de livros, revistas e jornais 3.482 1617698 Fabricaçao de outros artigos têxteis - exceto vestuário 1.778 1615512 Beneficiamento de arroz e fabricaçao de produtos do arroz 3.557 1520214 Fabricaçao de madeira laminada e de chapas de madeira c 2.698 1536919 Lapidação de pedras preciosas e semi-preciosas, Fabricaça 2.134 1533103 Fabricaçao de aparelhos e instrumentos para usos médico- 2.152 1424732 Fabricaçao de artigos de perfumaria e cosmeticos 2.071 1437206 Reciclagem de sucatas nao-metalicas 2.722 1328339 Fabricaçao de artefatos estampados de metal 1.788 1336137 Fabricaçao de moveis de outros materiais 2.363 1228924 Fabricaçao de artefatos de trefilados 2.323 1217493 Fabricaçao de outros artefatos têxteis incluindo tecelage 1.591 1229408 Fabricaçao de maquinas-ferramenta 1.341 1215822 Fabricaçao de biscoitos e bolachas 2.106 1140118 Produção de energia elétrica 1.367 1124724 Fabricaçao de produtos de limpeza e polimento 2.514 1029319 Fabricaçao de máquinas e equipamentos para agricultura, a 1.988 1024295 Fabricaçao de outros produtos quimicos organicos 1.872 1034509 Recondicionamento ou recuperacao de motores para veicu 1.804 1032107 Fabricaçao de material eletronico basico 1.611 1045330 Obras para telecomunicações 1.514 1015423 Fabricaçao de produtos do laticínio 5.900 922179 Edição e impressão de jornais 3.009 926999 Fabricaçao de outros produtos de minerais nao-metalicos 2.253 924716 Fabricaçao de saboes, sabonetes e detergentes sinteticos 2.168 931992 Fabricaçao de outros aparelhos ou equipamentos eletricos 1.805 917418 Fabricaçao de artigos de tecido de uso domestico incluind 1.416 924813 Fabricaçao de tintas, vernizes, esmaltes e lacas 1.212 926492 Fabricaçao de produtos ceramicos nao-refratarios para uso 9.746 822160 Edição e impressão de livros 1.371 715920 Fabricaçao de vinho 1.046 715563 Fabricaçao de raçoes balanceadas para animais 2.038 621490 Fabricaçao de outros artefatos de pastas, papel, papelao, c 1.737 619100 Curtimento e outras preparacoes de couro 1.590 627529 Fabricaçao de pecas fundidas de metais nao-ferrosos e sua 1.489 627499 Metalurgia de outros metais nao-ferrosos e suas ligas 1.387 645314 Obras para geração e distribuição de energia elétrica 1.271 6

(continua)

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Tabela nº. 4 – Classes econômicas, segundo o critério CNAE 1.0, que em 2006

possuíam mais de 1.000 estabelecimento no Brasil, e quantidade de

municípios em condições de hospedar APLs por cada atividade.

(continuação)

15830 Produçao de derivados do cacau e elaboraçao de chocolate 1.226 652728 Reparacao de calcados 1.037 615911 Fabricaçao, retificaçao, homogeneizaçao e mistura de agua 2.842 515598 Beneficiamento, moagem e preparaçao de outros produtos 2.652 525127 Recondicionamento de pneumaticos 1.875 521318 Fabricaçao de embalagens de papel 1.241 522144 Ediçao de discos, fitas e outros materiais gravados 1.102 527413 Metalurgia do aluminio e suas ligas 1.282 415954 Fabricaçao de refrigerantes e refrescos 1.198 421326 Fabricaçao de embalagens de papelao - inclusive a fabricaç 1.154 420230 Fabricaçao de artefatos de tanoaria e embalagens de made 1.537 337109 Reciclagem de sucatas metalicas 1.110 315237 Produçao de sucos de frutas e de legumes 1.025 315717 Torrefaçao e moagem de café 2.359 215857 Preparaçao de especiarias, molhos, temperos e condiment 1.365 236978 Fabricaçao de escovas, pinceis e vassouras 1.099 215415 Preparaçao do leite 1.493 029548 Fabricaçao de máquinas e aparelhos de refrigeraçao e vent 1.178 0TOTAL 689.097 4.826 Fonte: Elaboração do autor, baseado em MTE (RAISESTAB, 2006)