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A conexão entre a santidade presente e a felicidade futura livro

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Davies, Samuel – 1723 -1761 A conexão entre a santidade presente e a felicidade futura / Samuel Davies Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 32p.; 14 x 21cm Título original: The Connection Between Present Holiness and Future Felicity 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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"Segui a santidade, sem a qual ninguém verá o

Senhor." (Hebreus 12:14)

"Muitos estão perguntando: quem pode nos

mostrar algum bem?" (Salmos 4: 6)

Como a alma humana foi originalmente

projetada para o gozo de não menos uma

porção do que o sempre bendito Deus - foi

formada com uma forte tendência inata para a

felicidade. Não tem apenas um gosto ansioso

pela existência, mas por algum bem maior que

torne sua existência feliz. E a privação do

próprio ser, não é mais terrível do que a

privação de todas as suas bênçãos. É verdade

que, na degeneração presente da natureza

humana, esse desejo veemente é

miseravelmente pervertido e mal colocado; o

homem procura a sua suprema felicidade no

pecado, ou, na melhor das hipóteses, nos

prazeres criados; esquecido da fonte incriada da

bem-aventurança.

Mas, ainda assim ele busca a felicidade; esse

ímpeto inato é ainda predominante, e embora

ele confunda os meios; ainda assim ele mantém

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um objetivo geral no final. Daí ele vasculha este

mundo inferior em busca de felicidade! Ele sobe

em busca dela na ascensão escorregadia da

honra! Ou procura-a nos tesouros de ouro e

prata; ou mergulha para buscá-la nos fluxos

sujos de prazeres sensuais. Mas, uma vez que

toda a satisfação sórdida resultante dessas

coisas não é adequada aos desejos ilimitados da

mente, e uma vez que a satisfação é transitória

e perece, ou podemos ser arrancados dela pela

mão inexorável da morte, a mente atravessa os

limites dos prazeres presentes e até mesmo da

criação inferior, e percorre as cenas

desconhecidas do futuro, em busca de algum

bem não experimentado. A esperança faz

excursões na incerteza entre o presente e o

túmulo, e forma para si imagens agradáveis de

bênçãos que se aproximam, que muitas vezes

desaparecem no abraço, como fantasmas

ilusórios! Mais que isso, ele se lança no vasto

mundo desconhecido que se encontra além da

tumba, e percorre as regiões da imensidão em

busca de alguma felicidade completa para suprir

os defeitos dos prazeres sublunares.

Por isso, embora os homens, até que seus

corações e mentes sejam refinados pela graça

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regeneradora, não têm prazer em alegrias

celestiais, mas brincam com os pobres prazeres

do tempo e do sentido; embora não possam

evitar a consciência não desejada da morte. Por

estes prazeres sórdidos e momentâneos, são

constrangidos a satisfazer a esperança de bem-

aventurança em um estado futuro; e eles

prometem-se felicidade em outro mundo

quando eles já não podem desfrutar de

qualquer neste mundo fugaz.

E como a razão e a revelação bíblica lhes

asseguram unicamente que esta felicidade não

pode consistir em indulgências sensuais, eles

geralmente esperam que ela seja de uma

natureza mais refinada e espiritual, e flua mais

imediatamente do grande Deus. Deve, de fato,

ser miserável, quem abandona toda esperança

dessa bem-aventurança. No entanto, sem a

santidade, a religião cristã não lhe oferece outra

perspectiva senão a da miséria eterna e

intolerável, nas regiões de trevas e desespero! E

se ele voa para a incredulidade como um

refúgio, ela não pode lhe dar nenhum conforto,

senão a perspectiva chocante de aniquilação.

Agora, se os homens fossem transportados para

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o céu por uma forma inevitável, e se a promessa

da felicidade fosse dada promiscuamente a

todos eles sem distinção de caracteres, então

eles poderiam se entregar a uma esperança

cega e nunca se examinarem ou ficarem

perplexos com perguntas ansiosas sobre o

assunto. E poderia justamente ser considerado

um perturbador maligno do repouso da

humanidade aquele que tentasse chocar sua

esperança e assustá-los com escrúpulos sem

causa.

Mas, se a luz da natureza intima, e a voz da

Escritura proclama em voz alta, que esta

felicidade eterna é reservada apenas para

pessoas de caracteres particulares; e que as

multidões que entretinham esperanças

agradáveis dela, são confundidas com um

desapontamento eterno, e sofrerão uma das

mais terríveis misérias numa duração sem fim,

então devemos, cada um de nós, acatar o

alarme e examinar os fundamentos de nossa

esperança, que, se parecerem suficientes,

podemos nos permitir uma satisfação racional

neles; e se forem achados ilusórios, podemos

abandoná-los e buscar uma esperança que

suportará o teste enquanto puder ser obtida.

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E, por mais desagradável que seja a tarefa de

dar a nossos companheiros uma inquietação

ainda proveitosa, ela deve ser ministrada de

forma imparcial visando aos melhores

interesses da humanidade, apontando as

evidências e fundamentos de uma esperança

racional e bíblica, e expondo os vários erros a

que estamos sujeitos em tão importante caso.

E se, quando olhamos ao nosso redor,

encontramos pessoas cheias das esperanças do

céu, que não podem dar evidências bíblicas

delas para si mesmas ou para os outros; se

achamos que muitos se entregam a este delírio

agradável, cujas práticas são mencionadas pelo

próprio Deus como as marcas certas de

pecadores que perecem; e se as pessoas forem

tão tenazes nessas esperanças, que as

manterão para sua ruína eterna, a menos que os

métodos mais convincentes sejam tomados

para desvendá-los; então é tempo para aqueles

a quem o cuidado das almas (uma carga mais

pesada do que a dos reinos) é confiada, usarem

a maior simplicidade para este propósito. Este é

o meu principal desígnio no momento, e para

isso o meu texto naturalmente me leva. Ele

contém estas doutrinas:

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Primeiro, que sem santidade aqui embaixo, é

impossível para nós desfrutarmos a felicidade

celestial no mundo futuro.

"Segui a santidade, sem a qual ninguém verá o

Senhor". (Hebreus 12:14). Ver o Senhor, é aqui

colocado no sentido de apreciá-lo. E a metáfora

significa a felicidade do futuro estado em geral;

e mais particularmente intima que o

conhecimento de Deus será um ingrediente

especial nele. Veja uma expressão paralela:

"Bem-aventurados os puros de coração, porque

verão a Deus." (Mateus 5: 8).

Em segundo lugar, esta consideração deve

induzir-nos a usar os esforços mais sérios para

obter a felicidade celestial. Prossiga na

santidade, porque sem ela nenhum homem

pode ver o Senhor. Daí eu sou naturalmente

conduzido a...

I. Explicar a natureza dessa santidade, sem a

qual ninguém verá o Senhor.

II. Mostrar que esforços devem ser usados para

obtê-la. E,

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III. Exortá-los a usá-los pela consideração da

necessidade absoluta da santidade.

I. Eu vou explicar a NATUREZA da santidade.

Vou dar-lhe uma breve definição, e depois

mencionar algumas das disposições e práticas

que naturalmente fluem a partir dela.

A descrição mais inteligível da santidade pode

ser esta: "A santidade é uma conformidade em

coração e prática à vontade revelada de Deus".

Como o Ser Supremo é o padrão de toda a

perfeição, sua santidade em particular, é o

nosso padrão. Somos santos quando a sua

imagem está gravada em nossos corações, e

refletida em nossas vidas. O apóstolo define-o

como "revestir-se do novo homem, o qual,

segundo Deus, foi criado em justiça e

verdadeira santidade". (Efésios 4:24). "Aquele

que ele criou, o predestinou para ser

conformado à imagem de seu Filho". (Romanos

8:29). Daí a santidade pode ser definida como

"a conformidade com Deus em suas perfeições

morais." Mas, como não podemos ter um

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conhecimento distinto dessas perfeições, senão

como elas são manifestadas pela vontade

revelada de Deus, eu escolho definir a

santidade, como acima, "a conformidade com

sua vontade revelada".

Agora, sua vontade revelada compreende tanto

a lei quanto o evangelho. A LEI nos informa o

dever que, como criaturas, devemos a Deus

como um ser de suprema excelência, como

nosso Criador e Benfeitor, e aos homens como

nossos semelhantes; e o EVANGELHO nos

informa do dever que, como pecadores,

devemos a Deus por nos reconciliarmos a ele

através de um Mediador. Nossa obediência ao

primeiro implica toda a moralidade, e a este

último toda a graça evangélica; tal como a fé no

Mediador, o arrependimento, etc.

Dessa definição de santidade, parece, por um

lado, que é absolutamente necessário ver o

Senhor; porque, a menos que nossas

disposições sejam conformadas a ele, não

podemos ser felizes no gozo dele. E, por outro

lado, que somente aqueles que são feitos assim

santos, estão preparados para a visão e fruição

do Seu rosto, pois somente eles podem

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saborear o prazer divino. Mas, como uma

definição concisa de santidade pode dar ideias

muito imperfeitas sobre ela, discorrerei sobre as

DISPOSIÇÕES e PRÁTICAS em que ela consiste,

ou que naturalmente resultam dela; e elas são

como a seguir:

1. Um deleite em DEUS por sua santidade. O

amor próprio pode nos levar a amar a Deus por

sua bondade para conosco; e assim, muitos

homens não regenerados podem ter um amor

egoísta a Deus por isso. Mas, amar a Deus

porque ele é infinitamente santo, porque ele

carrega um ódio infinito a todo o pecado, e não

permite que suas criaturas negligenciem o

menor exemplo de santidade – mas, ordena que

sejam progressivamente santas - isto é uma

disposição natural apenas para uma alma

renovada, e argumenta uma conformidade com

Sua imagem.

Toda natureza é mais agradável a si mesma, e

uma natureza santa é mais agradável a uma

natureza santa. Aqui eu faria uma observação,

que Deus pode imprimir profundamente em

seus corações, e que, para esse propósito,

acrescento a cada particularidade, que a

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santidade no homem caído é sobrenatural, quer

dizer, não nascemos com ela, não temos

descobertas dela, até que tenhamos

experimentado a verdadeira conversão. Assim o

encontramos no presente caso; não temos

nenhum amor natural a Deus por causa de sua

pureza infinita e ódio a todo pecado; não, nós o

amaríamos mais nos dando maiores

indulgências; e receio que o amor de algumas

pessoas se baseie num erro; porque elas o

amam porque imaginam que ele não odeia o

pecado, nem elas por pecarem - tanto quanto

ele realmente faz; porque elas não pensam que

ele é tão inexoravelmente justo em suas

relações com o pecador.

(Nota do tradutor: Muito deste tipo de

pensamento é decorrente de uma noção falsa do

que seja o amor assim como ele está realmente

em Deus, pois, o confundem com bondade que

tolera todo tipo de deformidade moral e

espiritual, e que aceita a todos de forma

indiscriminada para terem comunhão com Ele,

independentemente de algum possível estado

mau e pervertido de suas almas, sem se levar

em conta a necessidade de qualquer

arrependimento ou transformação.)

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Não é de admirar que eles amem um ser tão

suave, fácil e passivo - como essa deidade

imaginária! Mas eles viram o brilho dessa

santidade de Deus que deslumbra as hostes

celestiais; mas se eles conhecessem os terrores

de Sua justiça e Sua indignação implacável

contra o pecado – e a inimizade deles inata ao

verdadeiro Deus, isto mostraria seu veneno, e

seus corações se ergueriam contra Deus em

horríveis blasfêmias. Tal amor como este, está

tão longe de ser aceitável, que é a maior afronta

ao Ser Supremo; como se um profano lhe

amasse na suposição equivocada de que você

era um miserável como ele próprio – e isto

serviria apenas para inflamar a sua indignação

do que para obter o seu respeito.

Mas, para uma mente regenerada quão fortes

são os encantos da santidade! Tal espírito se

junta ao hino dos serafins com o deleite divino,

(Apocalipse 4: 8) e antecipa o cântico de santos

glorificados: "Quem não te temerá, ó Senhor, e

glorificará o teu nome, porque só tu és santo?"

(Apocalipse 15: 4). As perfeições de Deus

perdem seu brilho, ou afundam em objetos de

terror ou desprezo, se este atributo glorioso é

abstraído. Sem santidade, o poder torna-se

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tirania, a onisciência torna-se curiosidade, a

justiça se torna vingança e crueldade, e até

mesmo o atributo amável da bondade perde

seus encantos e degenera em prodigalidade

promíscua e cega, ou sentimentalismo tolo e

sem discernimento!

Mas, quando estas perfeições estão vestidas nas

belezas da santidade, como elas se encontram

em Deus, quão majestosas, quão belas e

atrativas elas aparecem!

Pode parecer agradável mesmo a um pecador

profano que os esforços do poder todo-

poderoso sejam regulados pela sabedoria mais

consumada; que a justiça não deve, sem

distinção, punir o culpado e o inocente; ou que

uma alma santa possa se alegrar de que a

bondade divina não comunicará felicidade à

falta de santidade; e que deveria transbordar de

um modo cego e promíscuo – toda a raça

humana deveria ser eternamente miserável!

Um pecador egoísta não tem nada em vista

senão sua própria felicidade; e se isso for

obtido, ele não se preocupa com a ilustração da

pureza divina. Mas, a santidade recomenda a

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própria felicidade a uma alma santificada,

porque não pode ser comunicada de forma

inconsistente com as belezas da santidade.

2. A santidade consiste em um prazer sincero

na LEI de Deus, por causa de sua pureza. A lei é

a transcrição das perfeições morais de Deus; e

se amamos o original - vamos amar a cópia. Por

conseguinte, é natural para uma mente

renovada amar a lei divina, porque é

perfeitamente santa, porque não permite o

menor pecado, e exige todos os deveres que ela

nos leva a realizar em relação a Deus. (Salmo

119: 140, e 19: 7-10, Romanos 7:12, 22). Mas,

esta é a nossa disposição natural? É esta a

disposição da generalidade das pessoas? Por

acaso, eles não acham secretamente culpa na

lei, porque ela é tão estrita? E sua objeção

comum contra a santidade de vida que ela

ordena é que eles não podem suportar que seja

tão precisa.

Por isso, estão sempre diminuindo o rigor da lei,

para levá-la a um padrão imaginário de sua

própria cabeça, para a sua capacidade presente,

aos pecados praticados, sem levar em conta as

disposições pecaminosas e prevalecentes do

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coração; e as primeiras operações de

concupiscências - esses embriões de iniquidade.

E se eles amam a lei, como eles professam, é

sob a suposição de que não é tão rigorosa como

realmente é - mas concede-lhes grandes

indulgências. (Romanos 7: 7).

Por isso, parece que, se somos santos em tudo

- deve ser por uma mudança sobrenatural; e

quando isso é efetuado, que alteração estranha

e feliz o pecador percebe! Com que prazer ele

resigna-se como um sujeito voluntário àquela lei

à qual ele já foi tão avesso! E quando ele falhar,

(como, infelizmente, ele faz em muitas coisas)

como ele se sente humilhado! Ele não coloca a

culpa sobre a lei como exigindo

impossibilidades - mas coloca toda a culpa

sobre si mesmo como um corrupto pecador!

3. A santidade consiste em um prazer sincero

no MÉTODO DE SALVAÇÃO do Evangelho,

porque tende a ilustrar as perfeições morais da

Divindade e a revelar as belezas da santidade. O

evangelho nos informa dois grandes pré-

requisitos para a salvação dos caídos, a saber:

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1. A satisfação da justiça divina pela obediência

e paixão de Cristo, para que Deus possa ser

reconciliado com eles de acordo com suas

perfeições; e,

2. a santificação dos pecadores pela eficácia do

Espírito Santo, a fim de que eles sejam capazes

de desfrutar Deus, e que possa manter íntima

comunhão com eles sem mancha alguma à sua

santidade.

Esses dois grandes artigos contêm a substância

do evangelho; e nossa aquiescência neles é a

substância da obediência evangélica que se

exige de nós, e que é essencial para a santidade

em uma criatura caída.

Ora, é evidente que, sem qualquer um destes,

as perfeições morais da Divindade,

particularmente a sua santidade, não poderiam

ser ilustradas, nem mesmo garantidas na

salvação de um pecador. Se Deus tivesse

recebido uma raça apóstata em favor, que havia

conspirado na maior rebelião contra ele, sem

nenhum pagamento por seus pecados - sua

santidade teria sido eclipsada; não teria

parecido que ele tivesse tão invencível

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aborrecimento pelo pecado, que fosse tão

zeloso quanto à vindicação de sua própria lei

santa; ou à sua veracidade, que tinha ameaçado

merecida punição para os infratores. Mas, pela

satisfação expiatória de Cristo, sua santidade é

ilustrada da maneira mais distinta: agora parece

que Deus não iria justificar o pecador, senão por

meio de uma satisfação adequada, e que

nenhum outro seria suficiente senão o

sofrimento de seu Filho, caso contrário ele não

o teria nomeado para sustentar o caráter de um

Mediador; e agora parece que seu ódio pelo

pecado é tal que ele não o deixaria passar

impune mesmo em seu próprio Filho, quando

somente lhe fosse imputado!

Do mesmo modo, se os pecadores, embora

impuros, fossem admitidos em comunhão com

Deus no céu, obscureceria a glória de sua

santidade, e não pareceria que tal fosse a

pureza de sua natureza se ele pudesse ter

comunhão com o pecado . Mas agora é evidente

que mesmo sangue de Emanuel não pode

comprar o céu para ser desfrutado por um

pecador enquanto permanece profano - mas

que todo aquele que chega ao Céu deve

primeiro ser santificado. Um pecador profano

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não pode mais ser salvo, enquanto tal, pelo

evangelho - do que pela lei; mas aqui reside a

diferença de que o evangelho prevê sua

santificação, que é gradualmente realizada aqui,

e aperfeiçoada na morte, antes de sua admissão

na glória celestial. Agora, é o gênio da

verdadeira santidade, concordar com estes dois

artigos.

Uma alma santificada coloca toda a sua

dependência na justiça de Cristo para aceitação.

Seria desagradável para ela ter a menor

concordância em sua própria justificação. Ela

não está apenas disposta, mas se alegra em

renunciar a toda a sua própria justiça e

glorificar-se somente em Cristo. (Filipenses 3:

3). A graça gratuita para tais almas é um tema

encantador, e a salvação é mais aceitável,

porque é transmitida desta maneira. Tornaria o

próprio céu desagradável, e murcharia todas as

suas alegrias, se fossem trazidos de uma

maneira que degradasse ou não ilustrasse a

glória da santidade de Deus; mas quão

agradável é o pensamento de que aquele que se

gloriar se glorie no Senhor e que a soberba de

toda a carne seja abatida!

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Assim, uma pessoa santa se alegra de que o

caminho da santidade seja o caminho indicado

para o céu. Ele não é forçado a ser santo

meramente pela consideração servil de que ele

deve ser assim ou perecer, e submete-se, por

sua vontade, à necessidade que ele não pode

evitar; quando, entretanto, se pusesse à sua

escolha, escolheria reservar alguns pecados e

negligenciar alguns deveres dolorosos. Tão

longe disto, ele se deleita com a constituição do

evangelho, porque requer santidade universal, e

o céu seria menos agradável, se fosse levado até

o menor pecado para lá. Ele não acha nenhuma

dificuldade que ele deve negar-se em seus

prazeres pecaminosos, e habituar-se a tanto

rigor na religião! Ele bendiz o Senhor por obrigá-

lo a isso. Esta é a sólida religião racional, apta a

ser dependida, em oposição à licenciosidade

antinomiana, por um lado; e em oposição a uma

religião formal, ou meramente moral da

natureza, por outro.

E não é evidente que estamos destituídos desta

natureza? Os homens naturalmente são avessos

a este método evangélico de salvação; eles não

se submeterão à justiça de Deus - mas fixarão

sua dependência, em parte pelo menos, em seu

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próprio mérito. Seus corações orgulhosos não

podem suportar o pensamento de que todas as

suas performances devem ser contadas como

nada em sua justificação. Eles também são

avessos ao caminho da santidade; daí, ou

abandonarão a expectativa do céu, e como não

podem obtê-la em seus caminhos pecaminosos,

desesperadamente concluem que continuam

em pecado, venha o que quiser; ou, com todo o

pequeno sofisma de que são capazes, esforçar-

se-ão pelo caminho para o céu, e persuadir-se-

ão a alcançá-lo, apesar de sua continuidade em

alguma iniquidade conhecida, e embora seus

corações nunca tenham sido completamente

santificados.

Infelizmente! Quão evidente é isso tudo em

torno de nós! Quantos abandonam suas

esperanças do céu - em vez de se separarem do

pecado! E não devem essas criaturas

degeneradas ser renovadas antes que possam

ser santas, ou ver o Senhor?

4. A santidade consiste em um deleite habitual

em todos os deveres de santidade para com

Deus e com o homem, e um sincero desejo de

comunhão com Deus. Este é o resultado natural

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de todos os detalhes precedentes. Se amarmos

a Deus por sua santidade, deleitar-nos-emos no

serviço em que se constitui nossa conformidade

com ele; se amarmos a sua lei - nos

deleitaremos na obediência que ela nos ordena;

e, se nos deleitarmos com o método evangélico

de salvação, teremos prazer naquela santidade,

sem a qual não poderemos desfrutar Deus. O

serviço de Deus é o elemento, e o prazer de uma

alma santa. Enquanto outros se deleitam com as

riquezas, as honras ou os prazeres deste mundo

- a alma santa deseja somente uma coisa do

Senhor - que ela possa contemplar sua beleza

no seu templo. (Salmos 27: 4). Tal pessoa se

deleita em conversar em retiro com o céu, em

meditação e oração. (Salmo 139: 17 e 73: 5, 6,

28). Ele também tem prazer na justiça,

benevolência e amor para com os homens,

(Salmo 112: 5, 9), e na mais estrita temperança

e sobriedade em relação a si mesmo. (1

Coríntios 9:27).

Além disso, a mera formalidade de cumprir os

deveres religiosos não satisfaz o verdadeiro

santo, a menos que ele desfrute de uma

amizade divina nisto, receba comunicações da

graça do céu, e ache suas graças vivificadas.

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(Salmo 42: 1, 2). Esta consideração também nos

mostra que a santidade em nós deve ser

sobrenatural; pois, naturalmente, nos

deleitamos assim no serviço de Deus? Ou vocês

todos agora se deleitam com isso? Não é mais

um cansaço para você, e você não encontra mais

prazeres em outras coisas? Certamente você

deve ser transformado, ou você pode não ter

nenhum prazer na felicidade celestial.

5. Para constituir-nos santos de fato, deve haver

santidade universal na PRÁTICA, pois, como o

corpo obedece às volições mais fortes da

vontade, então, quando o coração está disposto

ao serviço de Deus, o homem a praticará

habitualmente. Isso é geralmente mencionado

nas Escrituras como a grande característica da

religião real, sem a qual todas as nossas

pretensões são vãs. (1 João 3: 2-10, e 5: 3; João

15:15). Os verdadeiros cristãos estão longe de

serem perfeitos na prática - contudo eles são

permanentemente santos na vida; eles não

vivem habitualmente em nenhum pecado

conhecido, ou negligenciam voluntariamente

qualquer dever conhecido. (Salmos 119: 6). Sem

esta santidade prática ninguém verá o Senhor; e

se assim for, quão grande mudança deve ser

24

feita antes de poderem vê-lo, pois quantos são

assim adornadas com uma vida de santidade

universal! Muitos professam o nome de Cristo -

mas quantos deles se afastam da iniquidade?

Mas, para que fim o chamam Mestre e Senhor,

enquanto não fazem as coisas que ele lhes

ordena?

Assim, com toda a clareza, descrevi a natureza

e as propriedades daquela santidade, sem a

qual ninguém verá o Senhor. Aqueles que a

possuem podem elevar as suas cabeças com

alegria, assegurando que Deus começou uma

boa obra neles, e que ele a completará. E, por

outro lado, aqueles que estão destituídos dela

podem ter certeza de que, a menos que sejam

feitos novas criaturas - eles não podem ver o

Senhor. Eu vou agora,

II. Mostrar-lhe os esforços que devemos fazer

para obter esta santidade. E eles são como

estes:

1. Esforce-se para saber se você é santo ou não

- por exame atento. É difícil para alguns saber

positivamente que eles são santos, como eles

estão perplexos com as aparências das

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realidades, e os medos de falsificações; mas é

fácil para muitos concluir negativamente que

eles não são santos - como eles não têm a

semelhança dela! Determinar este ponto é de

grande utilidade para nossa busca bem

sucedida de santidade.

Que um pecador não regenerado deve participar

nos meios da graça com outros objetivos do que

aquele que tem razão para acreditar que é

santificado, é evidente. As ansiedades, as dores,

os desejos e os esforços de um devem correm

em um canal muito diferente dos de um outro.

Uma pessoa deve olhar para si mesma como um

culpado, condenado pecador; uma outra deve

permitir-se os prazeres de um estado

justificado. Uma pessoa deve prosseguir para a

implantação; uma outra pela aumento da

santidade. Uma pessoa deve entrar em uma

preocupação sobre sua condição perdida; uma

outra repousa uma humilde confiança em Deus

como reconciliada com ele. Uma pessoa deve

considerar as ameaças de Deus como sua

condenação; uma outro abraça as promessas

como sua porção.

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Daqui segue-se que, enquanto estamos

equivocados sobre o nosso estado, não

podemos usar os esforços para a santidade de

forma adequada. Agimos como um médico que

aplica medicamentos de forma aleatória, sem

conhecer a doença!

É uma conclusão certa que a mais generosa

caridade, sob as limitações bíblicas, não pode

evitar, que as multidões são destituídas de

santidade; e não devemos indagar com

preocupação se pertencemos a esse número?

Vamos ser imparciais, e proceder de acordo com

a evidência. Se encontrarmos aquelas marcas de

santidade no coração e na vida que foram

mencionadas, não deixe que um excesso de

escrúpulos nos espante de tirar a feliz

conclusão. E, se não as acharmos, exerçamos

tanta severidade saudável contra nós mesmos,

para honestamente concluirmos que somos

pecadores profanos, e devemos ser renovados

antes que possamos ver o Senhor. A conclusão,

sem dúvida, lhe dará uma ansiedade dolorosa;

mas se você fosse meu amigo mais querido, eu

não poderia formar um desejo mais amável para

você do que você possa estar incessantemente

angustiado com ele até que você nasça de novo.

27

Esta conclusão não será sempre evitável; a luz

da eternidade vai forçá-lo sobre ela; e é muito

melhor ceder agora, quando pode ser para sua

vantagem, do que ser forçado a admiti-lo então,

quando será apenas um tormento!

2. Despertai, levantai-vos e tomai a sério todos

os meios da graça. Sua vida, sua vida eterna está

preocupada, e, portanto, exige todo o ardor e

seriedade que você seja capaz de exercer.

Acostumem-se à meditação, conversem com

vocês mesmos no retiro de seus quartos. Leiam

a Palavra de Deus e outros bons livros, com

diligência, atenção e autoaplicação. Participe

das administrações públicas do evangelho, não

como um curioso - mas como um que vê todos

os seus interesses eternos. Evite as tendas do

pecado, a roda dos pecadores; e se associe com

aqueles que experimentaram a mudança que

você quer, e podem dar-lhe as direções

apropriadas. Prostre-se perante o Deus do céu,

confesse o seu pecado, implore a sua

misericórdia, clame a ele noite e dia, e não lhe

dê descanso, até que pela importunidade, tome

o reino dos céus pela violência!

28

Mas, afinal de contas, reconheça que é Deus que

deve trabalhar em você tanto o querer quanto o

fazer; e que, quando tiver feito todas estas

coisas, ainda é um servo inútil. Eu não prescrevo

estas instruções como se estes meios poderiam

efetuar a santidade em você; não, eles não

podem fazer mais do que uma caneta pode

escrever sem uma mão! Somente a operação do

Espírito Santo pode santificar um pecador

degenerado - mas está acostumado a fazê-lo

enquanto o esperamos no uso desses meios,

embora os nossos melhores esforços não nos

deem título à sua graça. Mas ele pode nos

deixar, afinal de contas, naquele estado de

condenação e corrupção, em que

voluntariamente nos trouxemos. Eu continuo,

III. E, finalmente, exorto-lhe ao uso desses

meios, a partir da consideração mencionada no

texto, a necessidade absoluta de santidade para

o gozo da felicidade celestial. Aqui eu mostraria

que a santidade é absolutamente necessária, e

que a consideração de sua necessidade, pode

fortemente reforçar a busca dela. A necessidade

da santidade surge da indissolúvel nomeação de

Deus e da natureza das coisas.

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1. A nomeação imutável de Deus exclui todos os

ímpios do reino dos céus; ver 2 Coríntios 9: 6;

Apo 21:27; Salmo 5: 4, I Coríntios 5:17; Gálatas

6:15. É muito surpreendente que muitos que

professam acreditar na autoridade divina das

Escrituras, ainda assim se entregam a vãs

esperanças do céu em oposição às declarações

mais simples da verdade eterna. Mas, embora

não existisse uma constituição positiva,

excluindo os ímpios do céu - ainda,

2. A própria natureza das coisas exclui os

pecadores do céu; a saber, é impossível, na

natureza das coisas, que enquanto elas são

impuras, elas poderiam receber a felicidade dos

empregos e entretenimentos do mundo

celestial. Se o céu consistisse na abundância das

coisas que os pecadores se deleitam aqui neste

mundo presente; se seus prazeres fossem

riquezas terrenas, prazeres e honras; se seus

empregos fossem os divertimentos da vida

presente - então eles poderiam ser felizes lá, na

medida em que suas naturezas sórdidas são

capazes de felicidade. Mas, essas bagatelas não

têm lugar no céu. A felicidade desse estado

celestial consiste na contemplação das

perfeições divinas e nas suas manifestações nas

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obras da criação, da providência e da redenção;

por isso é descrito por ver o Senhor, Mt. 5: 8,

como um estado de conhecimento, 1 Coríntios

13: 10-12, na satisfação resultante daí, Salmo

17:15, e um prazer em Deus como uma porção,

Salmos 73:25, 26, e é perpetuamente servir e

louvar ao Senhor; e, portanto, adoração é

geralmente mencionado como o emprego de

todas as hostes do céu. Estes são os

entretenimentos do céu, e aqueles que não

podem encontrar felicidade suprema nestes,

não podem encontrar deleite no céu. Mas é

evidente que estas coisas celestiais não

poderiam dar satisfação a uma pessoa profana.

Deixaria de lado a festa celestial, por falta de

apetite para o entretenimento; um Deus santo

seria um objeto de horror, em vez de deleitar-se

com ele, e seu serviço seria um cansaço, como

é agora.

Por isso, parece que se não colocarmos nosso

prazer supremo nestas coisas aqui - que não

podemos ser felizes daqui em diante; pois não

haverá mudança de disposições em um estado

futuro, mas apenas a perfeição dessas

disposições predominantes em nós aqui

embaixo, sejam boas ou más. Ou o céu deve ser

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mudado; ou o pecador, antes que ele possa ser

feliz lá. Por isso também parece que Deus,

excluindo-os do céu, não é mais por um ato de

crueldade, do que o fato de não admitir um

doente a um banquete, que não tem prazer nos

entretenimentos; ou para não trazer um cego à

luz do sol, ou para ver uma bela perspectiva.

Vemos então que a santidade é absolutamente

necessária; e que deve haver grande empenho

em segui-la, conforme a ordenança bíblica;

porque se não, não vemos o Senhor, e nunca

veremos a felicidade. Nós somos cortados na

morte de todos os prazeres terrenos, e não

podemos mais fazer experimentos para

satisfazer nossos desejos ilimitados com eles; e

não temos Deus para suprir o seu lugar. Somos

banidos de todas as alegrias do céu, e quão

vasta, tão inconcebivelmente vasta é a perda!

Estamos condenados às regiões da escuridão

para sempre, para suportar a vingança do fogo

eterno, sentir os golpes de uma consciência

culpada e passar uma eternidade numa horrível

intimidade com demônios infernais! E não

preferiríamos então seguir a santidade, do que

sofrer um desastre tão terrível? Pelo terrores do

Senhor, então, seja persuadido a quebrar seus

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pecados pela justiça, e seguir a santidade; sem

a qual ninguém verá o Senhor!