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A mãe terrena e o nascimento de Abdruschin Recebido por inspiração especial De todos os países da Terra a Alemanha foi escolhida como o país mais maduro daquela época, para receber a Vontade de Deus. Uma estrela brilhava bem acima dela, nas mais elevadas alturas. Esta estrela era de espécie espiritual e prometia um acontecimento grandioso, como os seres humanos ainda não haviam vivenciado. Mas os seres humanos não a viam. Apenas os espíritos que rodeavam e perpassavam a Terra sabiam da estrela e a aguardavam. Poderosamente o espírito do Filho do Homem aproximava-se cada vez mais do globo terrestre. Luz difundia-se sobre os locais da Terra, ao quais ele descia de encontro. A figura luminosa de Parsival perpassava camada após camada da densidade fino-material. Fortes guerreiros estavam a seu lado, e invólucro em torno de invólucro envolvia o núcleo luminoso, o qual, com isso, descia cada vez mais para perto da Terra. Um receptáculo terreno fora escolhido pela Luz: puro e límpido, simples e singelo, cheio de uma fidelidade e caráter alegre e correto, cheio de frescor e energia, de aplicação e boa vontade. A simplicidade fora dada a esta mulher terrena, a pureza e o juízo claro e imperturbável. Assim como outrora Maria de Nazaré viveu em círculos singelos e límpidos da boa burguesia, assim também viveu e cresceu Emma Bernhardt. Saudável e pura de corpo e alma. Distante estava a mulher, que era boa esposa e mãe fiel, de tudo o que era sobrenatural. Mas, bem no íntimo do seu espírito ela vivenciava muita coisa, que não vinha até a superfície. Muitos fios luminosos nutriam forças, que repousavam na mãe sem serem utilizadas e que, atraindo, criavam as condições para o desenvolvimento terreno da criança. Num trabalho continuo de manhã até a tarde, a futura mãe era a última em casa que ia descansar e a primeira que despertava. Pureza e ordem difundiam-se como uma força abençoante, onde ela reinava. Sua proximidade respirava prudência, paz e segurança. Como seu ser, clara e determinada eram sua fala e sua voz. Ela criou para o marido um belo lar, para o filho uma inesquecível casa paterna. Silenciosa e vivazmente ela servia a Deus, sem saber qual elevada graça lhe sucederia. Assim ela construía em si e em torno de si, com toda naturalidade, um templo para a Vontade de Deus. Ao seu redor

A mãe terrena e o nascimento de Abdruschin

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Page 1: A mãe terrena e o nascimento de Abdruschin

A mãe terrena e o nascimento de Abdruschin

Recebido por inspiração especial

De todos os países da Terra a Alemanha foi escolhida como o país

mais maduro daquela época, para receber a Vontade de Deus.

Uma estrela brilhava bem acima dela, nas mais elevadas alturas.

Esta estrela era de espécie espiritual e prometia um acontecimento

grandioso, como os seres humanos ainda não haviam vivenciado.

Mas os seres humanos não a viam. Apenas os espíritos que

rodeavam e perpassavam a Terra sabiam da estrela e a aguardavam.

Poderosamente o espírito do Filho do Homem aproximava-se cada

vez mais do globo terrestre. Luz difundia-se sobre os locais da Terra, ao quais ele descia de encontro.

A figura luminosa de Parsival perpassava camada após camada da

densidade fino-material. Fortes guerreiros estavam a seu lado, e invólucro em torno de invólucro envolvia o núcleo luminoso, o qual,

com isso, descia cada vez mais para perto da Terra.

Um receptáculo terreno fora escolhido pela Luz: puro e límpido, simples e singelo, cheio de uma fidelidade e caráter alegre e correto,

cheio de frescor e energia, de aplicação e boa vontade. A simplicidade

fora dada a esta mulher terrena, a pureza e o juízo claro e imperturbável.

Assim como outrora Maria de Nazaré viveu em círculos singelos e

límpidos da boa burguesia, assim também viveu e cresceu Emma Bernhardt. Saudável e pura de corpo e alma.

Distante estava a mulher, que era boa esposa e mãe fiel, de tudo o

que era sobrenatural. Mas, bem no íntimo do seu espírito ela vivenciava

muita coisa, que não vinha até a superfície.

Muitos fios luminosos nutriam forças, que repousavam na mãe sem

serem utilizadas e que, atraindo, criavam as condições para o

desenvolvimento terreno da criança.

Num trabalho continuo de manhã até a tarde, a futura mãe era a

última em casa que ia descansar e a primeira que despertava. Pureza e

ordem difundiam-se como uma força abençoante, onde ela reinava. Sua proximidade respirava prudência, paz e segurança.

Como seu ser, clara e determinada eram sua fala e sua voz. Ela

criou para o marido um belo lar, para o filho uma inesquecível casa paterna.

Silenciosa e vivazmente ela servia a Deus, sem saber qual elevada

graça lhe sucederia. Assim ela construía em si e em torno de si, com

toda naturalidade, um templo para a Vontade de Deus. Ao seu redor

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pairavam forças puras e elevadas, as quais só podiam se inclinar para

mães convocadas pela Luz, pois estas ofereciam a partir de si a ponte,

sobre a qual as puras irradiações chegavam até a Terra.

De forma irradiante ampliava-se dia após dia a estrada luminosa

que, saindo do céu, conduzia à Terra. Nela subiam e desciam

entealidades que já há muito tempo não tinham mais ligação com a matéria.

Ao redor da futura mãe formou-se um invólucro luminoso, que com

um cordão fino e resplandecente alcançava até a altura mais luminosa. Ela se sentia muito feliz. Tornara-se mais silenciosa e mais branda, e

muitas vezes ficava refletindo junto à janela.

No momento certo veio, um dia, um raio oriundo da deslumbrante

Luz que a assustou e a tornou feliz. Ao seu redor soava claro, como o canto de muitas vozes juvenis. Uma maravilhosa Luz estava como que

pegando fogo em seu íntimo, de modo a paralisar sua respiração.

Silenciosamente ela juntou as mãos em oração.

Então sussurrou como asas de anjo, e uma poderosa força

aproximou-se de cima. Como uma espada afiada e bem reluzente, uma

Luz penetrou o corpo da mulher em oração.

“Senhor, dai-me força, para que sempre possa cumprir minha

tarefa!” aflorou-se, suplicando, de sua alma.

Tão logo a corrente de Luz encheu o receptáculo terreno com sua força, iniciou-se uma forte vida espiritual ao redor da mãe.

Muitas vezes aproximavam-se dela elevados e luminosos

mensageiros que cuidavam com esmero da criança em desenvolvimento. Ismaniela não saía mais de seu lado. Ela influenciava fortemente a vida

da futura mãe, obrigava à calma, ao movimento, à ingestão da

alimentação correta. Uma felicidade bem-aventurada apossou-se dela

mesma, felicidade que retransmitia à mãe.

Um dia veio uma idosa vendedora ambulante até a casa. Ela

perguntou à jovem mãe se queria comprar alguma coisa. Depois da

resposta negativa, ampliaram-se, de repente, os olhos da estranha mulher e num tom quase como que cantando, ela exclamou:

“Tu és agraciada entre todas as mulheres, pois tu presentearás ao

mundo uma grande Luz!”

Admirada, Emma ouviu estas singulares palavras. A estranha,

porém, foi embora apressadamente. Era Elisabeth, a mãe de outrora de

João Batista, que havia falado através da desconhecida mulher.

Tempestuosamente ingressou a primavera no país, e na fúria fora do

comum dos elementos, o pequeno menino avistou o mundo. Ele recebeu

o nome de Oskar Ernst.

Pequenos anjos pairavam em torno Dele, e a Mãe Universal

Elisabeth encontrava-se em uma nuvem luminosa, sobre Seu leito. Às

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suas cabeças, porém, reluzia a estrela luminosa, que para Ele era a

saudação do Pai, oriunda da Pátria.

Ismaniela vivenciou o nascimento de seu Senhor na materialidade, e

para ela e todos os espíritos reconhecedores, contudo, especialmente

para Seus servos escolhidos, foi uma felicidade indescritível.

Ela via como o céu se abria, como as mãos branco-reluzentes do Pai

enviavam a bênção para baixo, ao Filho. Ela via como a corrente

luminosa saía e entrava no pequeno corpo terreno da criança, como o sangue se movia, como batia o pequeno coração e como os pulmões

realizaram as primeiras profundas respirações. Ela colocou sua mão

sobre a cabecinha da criança, que, com olhos sábios, olhava para o infinito.

O primeiro grito foi como um som de outros mundos. Não era um

choro infantil, mas o eco de uma lembrança dos coros jubilosos no

Reino do Pai.

Felicitante era o som dessa voz. Também os pais escutavam

atentamente. Foi um breve momento, um chamado que Ele, ainda de

Sua Pátria, fez à Terra, sobre a qual Ele começava agora Sua obra.

Já brilhavam as asas da Pomba Sagrada sobre Sua pequena cabeça,

já irradiava a Cruz de Seu delicado corpo e fluxos luminosos

desprendiam-se de Seu peito. Mas os seres humanos não viam isso. Apenas uma alegria interior apossou-se deles e uma espécie de devoção,

quando encontravam-se junto ao leito desta criança.

Rósea difundia-se a Luz da Mãe Universal Elisabeth em torno da criança. Ao longo de quarenta dias ainda permaneceu aberta a ligação

com o Reino Espiritual. Os guardiões desciam até Ele. Muitas vezes

cintilavam flores de maravilhosa beleza sobre a criança, e o aroma de

rosas e lírios perpassava toda a casa, que, na uniformidade da costumeira ordem, logo oferecia novamente o velho quadro da família e

da aplicação.

Os pais não sabiam que graça Deus lhes presenteara; pois a criança deveria tornar-se consciente através do sofrimento em conjunto entre os

seres humanos e, por isso, não podia ser reconhecido durante seu longo

e penoso tempo de instrução terrena.

Ele fora batizado. O velho e fiel Simeão encontrava-se ao seu lado,

quando a mão de um sacerdote terreno dava a bênção ao Filho de Deus,

como outrora ele havia abençoado Jesus. O sacerdote que batizava era um dos poucos que, sobre a Terra, já haviam percebido o chamado da

Luz e que, em rotas espirituais, encontrou-se com o menino. Assim já

começava aqui o caminho das realizações para o Filho do Homem.

João Batista encontrava-se por ocasião desse ato igualmente à frente do menino, e o olhar deste pareceu reconhecê-lo.

Os seres humanos, porém, intuíram apenas uma comoção especial.

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Anos passaram-se na uniformidade do dia a dia. O pequeno menino

desenvolvia um grande frescor e estava cheio de vida faiscante, contudo

tinha poucas crianças ao redor de si.

Seus amigos permaneciam invisíveis para todas as criaturas

humanas, eles brincavam freqüentemente com Ele. Quando Ismaniela

vinha, Ele se alegrava muito.

Mas Ele conhecia ainda uma mulher que era muito, muito mais

luminosa que Ismaniela. Ela portava uma coroa de estrelas e estava

envolta com Luz rósea: A Rainha primordial Elisabeth, sua Mãe! Muitas vezes Ele também via a grande Estrela, que sempre estava sobre Ele na

direção leste.

Uma noite o aposento irradiou na mais clara Luz. A Mãe Universal

Elisabeth encontrava-se junto à cama do menino e com luminosas mãos, abençoando, passava a mão sobre Ele. Irradiações fluíam das

alturas celestiais e suaves vozes cantavam doces melodias.

A Mãe Universal Elisabeth tinha nas mãos uma venda branca. Ela colocou-a sobre os olhos de Seu Filho e lágrimas corriam para baixo,

até Ele.

“Agora precisas trilhar Tua estrada sombria, meu Filho. O amor do Pai está junto de Ti. Aguarde até que nos reencontremos!”

Um profundo sono terreno envolveu a criança, num sono em que

deveria esquecer a Pátria.

E começou a peregrinação do Filho do Homem através do pesadume

terreno, para tornar-se consciente através do sofrimento, para Sua obra

de salvação.

Um suave traço de dor residia, às vezes, sobre o rosto do menino,

quando, observando silenciosamente, Ele captava em si as impressões

da vida terrena.

Era um procurar por algo extremamente maravilhoso, inesquecível, que ficara para trás: a saudade pela Pátria! —

Alegria e amor pelas plantas e animais preenchiam-No.

“São todas criaturas do Pai”, assim pensava Ele. Não dizia outra coisa senão: “Ó Pai!”

Nisso Ele sentia uma ligação e força, às quais Ele se apegava com

todo coração. Era Seu apoio diante do estranho, em que havia mergulhado. Tudo, na verdade, era estranho para Ele, pois não havia

um ser, uma espécie que na Terra ou em outras regiões fossem da

mesma espécie Dele. Ele não sabia o motivo, mas sentia que era solitário.

Assim Ele tornou-se um estranho entre os seres humanos, por eles

não poderem compreendê-Lo, já que Ele, sem mesmo saber, observava

tudo a partir das leis de Seu Pai. Com isso, porém, surgiram contrariedades com as leis humanas torcidas, cujos efeitos tinham que

se mostrar prejudiciais na vida em conjunto dos seres humanos.

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Nisso fundamenta-se para Parsival a transformação através do

sofrimento sobre a Terra.

Apesar disso Ele não se curvava aos erros humanos, pelo contrário, trilhava sempre o próprio caminho, mesmo quando este Lhe trazia

sofrimento. Com isso, irradiava Dele, sobre os seres humanos, uma

sempre crescente força de atração fora do comum, que, em Sua espécie inabitual aos seres humanos, incitava as torcidas criaturas humanas,

fazendo-as tornarem-se inimigas. —