111

As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé
Page 2: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

2

A474 Alves, Silvio Dutra As obras que agradam a Deus ou as obras da fé./Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 111p.; 14,8x21cm 1. Ministério. 2. Serviço. 3. Devoção. 4. Fé. I.Título. CDD 230

Page 3: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

3

Sumário

Boas Obras................................................................. 4 O Requisito para as Boas Obras

Aprovadas..................................................................

8

A Principal Obra que Devemos Fazer para

Deus...............................................................................

10

Muito Importante mas Não Suficiente....... 12

A Necessidade das Boas Obras........................ 14

“A Cristo, o Senhor, servis” (Col 3.24)......... 30

O Que é Servir a Deus?........................................ 32 Não Há Serviço Aceitável Sem

Consagração.............................................................

35

Boas Obras, Serviço e Trabalho...................... 37 Vivendo de Modo Útil a Deus........................... 43

Não Pelo Nosso Poder, mas Pelo do

Espírito........................................................................ 67

A Capacitação para o Ministério.................... 71 O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus 76

Porque Amar é Servir........................................... 79

Salvação pela Graça e as Boas Obras............ 82

“Todos os vossos atos sejam feitos com amor.” (1 Cor 16.14)................................................

111

Page 4: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

4

Boas Obras

I. Boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, não as que, sem

autoridade dela, são aconselhadas pelos

homens movidos de um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção.

Ref. Miq. 6:8; Rom. 12:2; Heb. 13:21; Mat. I5:9; Isa. 29:13; I Ped. 1:18; João 16:2; Rom. 10:2;1 Sam. I5:22;

Deut. 10:12-13; Col. 2:16, 17, 20-23.

II. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas

os crentes manifestam a sua gratidão,

robustecem a sua confiança, edificam os seus

irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a

Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo

para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto

em santificação, tenham no fim a vida eterna.

Ref. Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim.

4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedro. 2:12, 15; Fil.

1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.

III. O poder de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém

inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que

sejam para isso habilitados, é necessário, além

Page 5: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

5

da graça que já receberam, uma influência

positiva do mesmo Espírito Santo para obrar

neles o querer e o perfazer segundo o seu

beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem

obrigados a cumprir qualquer dever senão

quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de

Deus que há neles.

Ref. João I5:4-6; Luc. 11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa. 64:7.

IV. Os que alcançam pela sua obediência a maior perfeição possível nesta vida estão tão longe de

exceder as suas obrigações e fazer mais do que Deus requer, que são deficientes em muitas

coisas que são obrigados a fazer.

Ref. Luc. 17: 10; Gal. 5: 17.

V. Não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer da mão de Deus perdão de pecado ou a

vida eterna, porque é grande a desproporção

que há entre eles e a glória porvir, e infinita a distância que vai de nós a Deus, a quem não

podemos ser úteis por meio delas, nem

satisfazer pela dívida dos nossos pecados

anteriores; e porque, como boas, procedem do Espírito e, como nossas, são impuras e

misturadas com tanta fraqueza e imperfeição,

que não podem suportar a severidade do juízo de

Page 6: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

6

Deus; assim, depois que tivermos feito tudo

quanto podemos, temos cumprido tão somente,

o nosso dever, e somos servos inúteis.

Ref. Rom. 3:20, e 4:2,4, 6; Ef. 2:8-9; Luc. 17:lO;Gal. 5:22,23; Isa. 64-6; Sal. 143, 2, e 130:3.

VI. Não obstante o que havemos dito, sendo aceitas por meio de Cristo as pessoas dos

crentes, também são aceitas nele as boas obras

deles, não como se fossem, nesta vida,

inteiramente puras e irrepreensíveis à vista de Deus, mas porque Deus considerando-as em seu

Filho, é servido aceitar e recompensar aquilo

que é sincero, embora seja acompanhado de

muitas fraquezas e imperfeições.

Ref. Ef. 1:6; I Ped. 2:5; Sal. 143:2; II Cor. 8:12; Heb. 6:10; Mat. 2,5:21, 23.

VII. As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que

Deus ordena, e úteis tanto a si mesmos como aos

outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas

devidamente - segundo a palavra; - nem para um

fim justo - a glória de Deus; são pecaminosas e

não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não

obstante, o negligenciá-las é ainda mais

pecaminoso e ofensivo a Deus.

Page 7: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

7

Ref. II Reis 10:30, 31; Fil. 1:15-16, 18; Heb. 11:4, 6; Mar. 10:20-21; I Cor. 13:3; Isa. 1:12; Mat. 6:2, 5, 16;

Ag. 2:14; Amós 5:21-22; Mar. 7:6-7; Sal. 14:4; e 36:3;

Mat. 2,5:41-45, e 23:23.

Page 8: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

8

O Requisito para as Boas Obras

Aprovadas

Todas as nossas obras devem ser feitas em

obediência a Deus, e não meramente para os

homens, mas como para o próprio Cristo, ou

seja, por amor a Ele que nos resgatou do pecado para que pudéssemos amar de fato a Deus e ao

nosso próximo.

Muitos são reprovados diante de Deus porque são descuidados com suas boas obras, uma vez que não as fazem por amor e obediência a Deus.

Por isso importa sabermos em primeiro lugar, qual é a boa, perfeita e agradável vontade de

Deus, pela renovação da nossa mente, como se afirma em Rom 12.2; de maneira que possamos

experimentar de modo real em nosso viver

aquilo que é aceitável ao Senhor, como se lê em

Efésios 5.10.

Portanto, um homem ignorante da vontade de Deus, será consequentemente um homem

rebelde. Porque não conhece qual seja a vontade

do seu Senhor. Como podemos obedecer aquilo

que não conhecemos?

Importa portanto, meditarmos sempre na Palavra de Deus, orarmos com devoção sincera

e reverente, para que recebamos sabedoria e

Page 9: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

9

poder da parte do Senhor, não somente para

entender qual seja a sua vontade, como também

para vivê-la.

Page 10: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

10

A Principal Obra que Devemos Fazer para

Deus

“Assim, pois, amados meus, como sempre

obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência,

desenvolvei a vossa salvação com temor e

tremor;” (Filipenses 2.12)

De nada nos aproveitará diante de Deus e sua

vontade eterna em relação a nós, se tudo

fizermos, mas se nos faltar isto, que é o

essencial, a saber, o nosso desenvolvimento

pessoal em santificação, a que o apóstolo chama aqui de desenvolver a salvação com temor e

tremor.

Quando falamos em serviço cristão ou trabalho cristão, costumamos pensar em muitas

atividades exteriores, mas pouco ou nada sobre este trabalho principal relativo ao nosso

aperfeiçoamento espiritual.

Daí nosso Senhor ter dito aos judeus nos dias do seu ministério terreno, quando lhe indagaram

qual era a obra de Deus que eles deveriam

realizar, a sua resposta foi que esta obra era que cressem nele, João 6.29, ou seja, que tivessem a

fé verdadeira em sua pessoa que nos convence

sobre esta vital necessidade de sermos

Page 11: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

11

transformados à Sua imagem e semelhança,

Rom 8.29.

Page 12: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

12

Muito Importante mas Não Suficiente

“1Co 13:1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que

retine.

1Co 13:2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência;

ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de

transportar montes, se não tiver amor, nada serei.

1Co 13:3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o

meu próprio corpo para ser queimado, se não

tiver amor, nada disso me aproveitará.”

Alta madrugada.

Não podia conciliar o sono, porque nestas palavras eu meditava.

Certamente não estaria o apóstolo dizendo não ser de qualquer importância tudo o que havia

aqui relacionado como sendo inferior ao amor com Cristo, que ele introduziu com estas

palavras antes de descrevê-lo no restante deste

capítulo.

Page 13: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

13

Ele se refere a feitos heroicos e extraordinários, e ainda assim afirma que com tudo isto ele nada

seria quanto ao propósito fixado por Deus para

ser por nós atingido.

Nenhum grande talento, nenhuma grande fé, nenhum grande sacrifício ou obra de caridade,

ainda que sejam feitos com o nosso próprio amor, poderá nos conduzir ao estado eterno de

graça e de glória, porque isto pode ser somente

achado pela fé exclusiva em Jesus Cristo.

É por se participar de sua vida que temos a vida.

É por se estar em comunhão amorosa com ele, que permanecemos na condição abençoada de

filhos de Deus.

Este amor espiritual e sobrenatural pode ser achado somente nAquele que é, ele próprio,

este amor.

Nossas boas obras e capacitações, fora de Cristo, aqui começam e aqui terminam e não podem adentrar a eternidade, porque nossa aceitação

por Deus não pode existir estando nós fora da

comunhão com o Senhor Jesus, porque é

somente por causa dele que somos recebidos por Deus.

Page 14: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

14

A Necessidade das Boas Obras

“Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a

estas coisas, faças afirmação, confiadamente,

para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas

são excelentes e proveitosas aos homens.” (Tito

3.8)

Com base nestas palavras do texto me propus a

abordá-las nestes dois pontos:

Primeiro, quanto à verdade ou credibilidade deste dito ou proposição, de que os que têm

crido em Deus tenham o cuidado de praticar as

boas obras, e em segundo lugar, quanto à

grande necessidade de inculcarmos frequentemente naqueles que se professam

cristãos, a indispensável prática das virtudes de

uma vida santa.

Vejamos então o primeiro ponto, que é muito necessário pelas seguintes razões:

I. Porque os homens são muito aptos a enganarem a si mesmos neste assunto, e assim, dificilmente se aplicam àquilo em que consiste

principalmente a verdadeira religião, a saber, a

prática real da bondade.

Page 15: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

15

II. Por causa da necessidade imprescindível das coisas que nos tornam capazes do favor e

aceitação divinos, e da recompensa da vida

eterna e felicidade.

I. Desta primeira parte acima citada podemos dizer que os homens são extremamente

desejoso de reconciliação (se isto for possível) com a esperança de felicidade eterna em outro

mundo, com uma liberdade de viver como eles

vivem no mundo presente: por isso repudiam

como um problema e algo muito trabalhoso o ter que mortificar as suas concupiscências, e

subjugar e governar suas paixões, e refrear a

língua, e ordenar toda a sua conversação de

forma correta e praticando todos os deveres que são compreendidos naqueles dois grandes

mandamentos do amor a Deus e ao próximo.

Eles de bom grado entram no favor de Deus, e

fazem a sua vocação e eleição, por algum caminho mais fácil, do que "empenhar toda a

diligência, para adicionar à sua fé, a virtude e

conhecimento, e domínio próprio, e paciência, e

bondade fraternal, e o amor."

A pura verdade nesta questão é que os homens tiveram sua religião baseada em qualquer coisa,

exceto naquilo que ela é de fato - a remoção e

mortificação de nossas inclinações viciosas, a cura de nossos maus afetos e corrupção; o

devido cuidado e governo de nossos apetites e

paixões, o sincero empenho e prática constante

Page 16: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

16

de toda a santidade e virtude em nossas vidas; e,

portanto, eles muito ao contrário, buscam

alguma coisa que possa agradavelmente aliviar

e desculpar suas más inclinações, do que extirpá-las e ao invés de reforma e

transformação de suas vidas viciosas, fazem

com Deus uma paz honrosa e compensação para eles de qualquer outra forma.

Este tem sido o caminho e loucura da humanidade em todas as gerações, para

derrotar a grande finalidade e desígnio da

religião, por a considerarem árida para se confiar, a substituem por alguma outra coisa em

seu lugar, o que eles esperam possa servir para

lhes transformar, bem como, que tenha a

aparência de tanta devoção e respeito, e talvez de mais custos e dores, do que aquilo que Deus

requer deles. Os homens sempre têm sido aptos

para impor isto a si mesmos, e para agradar a si

mesmos com uma presunção de que estão agradando a Deus plenamente e tão bem, ou

melhor, por alguma outra maneira, diferente

daquela que ele lhes tem designado, não tendo

em conta que Deus é um grande rei, e será observado e obedecido por suas criaturas em

seu próprio caminho, e pronto! obediência ao

que ele ordena é melhor e mais aceitável para

ele do que qualquer sacrifício que possamos oferecer, o que, a propósito, ele não tem

requerido de nossas mãos; porque é

infinitamente sábio e bom, e, portanto, as leis e

Page 17: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

17

as regras que Ele nos deu para vivermos por

elas, são meios mais apropriados e justos do que

nossas próprias invenções.

Assim, eu digo, que tem sido em todas as épocas. O velho mundo, depois do dilúvio que Deus

enviou para punir a maldade, a violência e a

impiedade dos homens, por varrer toda a humanidade da face da terra, com exceção de

uma única família, que foi salva para ser o

seminário de uma nova e melhor geração de

homens; eu digo, depois disso, o mundo em um curto espaço de tempo caiu do culto do

verdadeiro Deus para a horrenda adoração

idolátrica de falsos deuses; não estando

dispostos a trazerem a si mesmos à conformação e semelhança ao Deus verdadeiro,

eles escolheram falsos deuses como eles, que

poderiam não somente lhes desculpar, como

também lhes instigar ainda mais em suas práticas indecentes e viciosas.

E quando Deus fez uma nova revelação de si mesmo à nação dos israelitas, e lhes deu as

principais partes e substância da lei natural escrita mais uma vez com seu próprio dedo em

tábuas de pedra, e muitas outras leis relativas à

adoração religiosa, à sua conversação civilizada,

adequada e adaptada ao seu temperamento e condição atual, ainda assim, logo a sua religião

foi degenerada em meras observâncias

externas, purificações e lavagens cerimoniais, e

Page 18: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

18

uma multidão de sacrifícios, sem grande

relação com a substancia íntima da religião que

receberam para guardar, e sem a prática dos

seus deveres e das virtudes morais, que foram em primeiro lugar requeridos deles, e com tudo

o mais que lhes fora prescrito por Deus para

serem aceitos por Ele.

Disso resultaram as queixas mais frequentes nos profetas, que sua religião foi degenerada em

formalidade e cerimônia, em oferendas e

sacrifícios, e observância de jejuns, e sábados, e luas novas, mas não tinha poder e eficácia em

seus corações e vidas; era totalmente destituída

de pureza interior e santidade, de todas as

virtudes substanciais, e dos frutos da justiça em uma vida justa. Por isso Deus reclama pelo

profeta Isaías: (1.11-18):

“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? —diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de

animais cevados e não me agrado do sangue de

novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.

Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus

átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o

incenso é para mim abominação, e também as

Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar

iniquidade associada ao ajuntamento solene. As

vossas Festas da Lua Nova e as vossas

Page 19: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

19

solenidades, a minha alma as aborrece; já me

são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo

que, quando estendeis as mãos, escondo de vós

os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos

estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos,

tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a

fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao

opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a

causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam

como a escarlata, eles se tornarão brancos como

a neve; ainda que sejam vermelhos como o

carmesim, se tornarão como a lã.”

Após estes termos Deus se declara pronto para se reconciliar com eles, e ter misericórdia deles.

Mas todos os seus serviços externos e

sacrifícios, separados da bondade real e da justiça, estavam muito longe de apaziguar a ira

Deus, que eles haviam provocado, ao contrário,

a aumentavam ainda mais.

E, para o mesmo fim lemos em Isaías 66.2,3: "Porque a minha mão fez todas estas coisas, e

todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o

homem para quem olharei é este: o aflito e

abatido de espírito e que treme da minha palavra. O que imola um boi é como o que

comete homicídio; o que sacrifica um cordeiro,

como o que quebra o pescoço a um cão; o que

Page 20: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

20

oferece uma oblação, como o que oferece

sangue de porco; o que queima incenso, como o

que bendiz a um ídolo. Como estes escolheram

o seu próprio caminho e a sua alma se deleita nas suas abominações."

E também em Jer 6.19,20: "Ouve tu, ó terra! Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio

fruto dos seus pensamentos; porque não estão

atentos às minhas palavras e rejeitam a minha lei. Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a

melhor cana aromática de terras longínquas?

Os vossos holocaustos não me são aprazíveis, e

os vossos sacrifícios não me agradam.”

Eles pensaram que agradariam a Deus com incenso e sacrifícios, enquanto eles rejeitavam

sua lei.

E, também, Jeremias 7.4-6: "Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR,

templo do SENHOR, templo do SENHOR é este.

Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras

praticardes a justiça, cada um com o seu

próximo; se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue

inocente neste lugar, nem andardes após outros

deuses para vosso próprio mal,”

E, Jeremias 7.8-10: “Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam.

Page 21: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

21

Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério

e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e

andais após outros deuses que não conheceis, e

depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis:

Estamos salvos; sim, só para continuardes a

praticar estas abominações!”

Eles pensavam que a adoração de Deus, e do seu santo templo, seriam uma desculpa para esses

crimes e imoralidades que eles praticavam.

E Miqueias 6.6-8: “Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso?

Virei perante ele com holocaustos, com

bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR

de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha

transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado

da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que

pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e

andes humildemente com o teu Deus.”

E no tempo do nosso bendito Salvador, aqueles que fingiam serem os mais devotos entre os

judeus, ficaram totalmente ocupados com suas

tradições pretensiosas de lavagem das mãos, e

das partes externas de seus copos e pratos, e sobre as coisas externas e menores da lei, o

dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e

todos os tipos de ervas, omitindo o mais

Page 22: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

22

importante da lei, a justiça, a misericórdia e a fé,

e o amor de Deus, como o nosso Salvador

descreve em Mateus 23.23.

E após a revelação clara do evangelho, a melhor e mais perfeita instituição que sempre existiu,

no início do cristianismo, as doutrinas licenciosas que eram ensinadas por pessoas

insubordinadas, transformando a graça de Deus

em dissolução, e libertinagem de homens

quanto a todos os deveres morais e as virtudes de uma vida santa, razão pela qual o caminho da

verdade foi blasfemado, como afirmam Pedro e

Judas, em relação à seita dos gnósticos . E João,

sabiamente, descreve a mesma seita por sua arrogante pretensão de um conhecimento e

iluminação extraordinários, ao mesmo tempo

que "andava nas trevas", e permitia todo o tipo de

maldade na vida, pois eles fingiam perfeição e justiça, sem guardar os mandamentos de Deus.

E no período seguinte do cristianismo, como ele foi importunado com uma controvérsia banal sobre o tempo de observação de Páscoa, e com

intermináveis disputas e sutilezas sobre a

doutrina da trindade, e as duas naturezas e

vontades de Cristo! por causa disto a prática do cristianismo foi grandemente negligenciada, e

o principal fim e desígnio da verdadeira religião

foi quase completamente derrotado e perdido.

Page 23: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

23

Depois disso, quando o mistério da iniquidade começou a aumentar, com a degeneração da

Igreja Romana que abandonou a sua primitiva

santidade e pureza, e na afetação de um poder indevido e sem limites sobre outras igrejas, a

religião cristã começou a ser invadida

por superstição, e o primitivo fervor da piedade e devoção foi transformado num zelo feroz e

contendas sobre assuntos do momento sem

importância, dos quais temos um grande

exemplo notável aqui no nosso próprio país (Inglaterra), quando Agostinho, o monge

chegou aqui para converter a nação, e pregar o

evangelho entre nós, como a Igreja de Roma

presume, mas contra toda a fé e a verdade da história, que nos assegura, que o cristianismo

aqui plantado entre os britânicos, o havia sido há

vários séculos antes, e talvez mais cedo do que

até mesmo na própria Roma; e não somente isso, mas tinha alcançado um crescimento

considerável entre os saxões antes que

Agostinho, o monge já citado, estivesse entre

nós, eu digo: quando Agostinho chegou aqui, os dois grandes pontos de seu cristianismo

consistiram em levar os britânicos a um acordo

com a Igreja de Roma no tempo da Páscoa, e na

tonsura e raspa dos sacerdotes, segundo o suposto costume de Pedro, como eles

pretendiam, em cima da coroa da cabeça, e não

de Paulo, que havia cortado o cabelo de toda a

cabeça, a partir de alguma tradição vã e tola, que se pretendia que fosse aprendida: a de promover

Page 24: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

24

estes dois costumes era sua grande missão, e o

zelo de sua pregação foi gasto sobre estas duas

exigências principais, em razão das quais,

depois de muitas bárbaras e sangrentas ações, finalmente prevaleceu.

Desde então, tem-se visto por toda a parte onde o cristianismo é pregado, o distanciamento da prática daquela vida piedosa e santa ensinada

por Cristo e por seus apóstolos, por supostos

líderes que falam em nome de Cristo, mas que

no afã de estimular a obediência às práticas não ordenadas por Deus na Bíblia, mas criadas pela

superstição e invenção e artimanha dos

homens, isto serviu e tem servido de base para

todo sistema religioso que se afirme cristão, mas que não se fundamenta nas boas obras

assim como elas são declaradas na Palavra de

Deus revelada e escrita.

Então daí surgiu a a doutrina insolente do mérito das boas obras do homem para a

salvação da alma, como se Deus estivesse em

dívida com os homens para receber das mãos deles as suas ações para serem contadas como

justiça para eles.

Então aqui, o líder religioso avoca para si o pretenso direito e poder de perdoar pecados e conceder bênçãos no lugar de Deus, por um

também suposto poder e conhecimento que

alegam ter recebido dele para tal propósito.

Page 25: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

25

Com isso se tornam guias cegos de cegos, de contingentes imensos de pessoas que se tornam

dependentes deles, por acalentar a falsa ideia de

que são eles os agentes enviados por Deus para salvá-las e abençoá-las.

Isto pode ser visto inclusive no próprio meio chamado evangélico ou protestante, quando os

líderes se afastam da obediência a Deus e aos

mandamentos da Sua Palavra.

A verdadeira religião cristã é assim enfraquecida e deturpada, e esta é a razão de não

se ver tanto aquela virtude e justiça, os frutos de bondade real que se viam nos primeiros dias do

cristianismo.

É a estes que se refere o apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.5:

“tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder.”

II. A segunda razão , ou seja, por causa da necessidade imprescindível das coisas que nos

tornam capazes do favor e aceitação divinos, e

da recompensa da vida eterna e felicidade.

E esta, adicionada à anterior, faz com que a razão seja plena e forte. Porque, se os homens estão desta forma aptos a enganarem a si

mesmos neste assunto, e ser enganados num

assunto tão perigoso, consequentemente,

Page 26: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

26

então, é altamente necessário inculcar isso com

frequência nos cristãos, para que ninguém

possa ser confundido nesta questão de tanto

perigo, e da qual a sua felicidade eterna depende.

Agora, se a obediência às leis de Deus, e a prática da virtude e as boas obras, são necessárias, a nossa continuidade em um estado de graça e de

favor com Deus e nossa justificação final por

nosso absolvição no grande dia do juízo,

depende senão de santidade e obediência que podem nos qualificar para a visão abençoada de

Deus, e a gloriosa recompensa da felicidade

eterna; então esta é uma questão de

consequências infinitas para nós, e não podemos ser confundidos numa matéria de tão

grande importância; mas "desenvolver a nossa

salvação com temor e tremor”, para “com toda a

diligência confirmar cada vez mais a nossa chamada e eleição", acrescentando

a nossa fé e conhecimento das virtudes de uma

vida santa, perseverando em fazer o bem,

procurando glória, honra e incorruptibilidade; aguardando a bendita esperança e a aparição

gloriosa do grande Deus e nosso Salvador Jesus

Cristo, que se entregou por nós, para nos remir

de toda a iniquidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras.

Eu sei que tem sido o grande projeto do diabo e seus instrumentos, em todas as épocas, minar a

Page 27: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

27

religião, fazer uma separação infeliz e divórcio

entre a piedade e a moralidade, entre a fé e as

virtudes de uma vida santa, e por este meio, não

somente para enfraquecer e diminuir, mas mesmo para destruir inteiramente, a força e

eficácia da religião cristã, e para deixar os

homens, tanto sob o poder do diabo e de seus desejos, como se não houvesse tal coisa como

cristianismo no mundo.

Mas não nos enganemos a nós mesmos; nisto que sempre foi a religião e a condição de nossa

aceitação por Deus: esforçar-se para ser como

Deus em pureza e santidade, justiça e retidão, em misericórdia e bondade, cessar de fazer o

mal e aprender a fazer o bem, e isso, você vai

sempre encontrar na doutrina constante das

Sagradas Escrituras, desde o início da Bíblia até o fim.

Gên 4.7: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito?"

Salmo 15.1,2: “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo

monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade; o que não

difama com sua língua, não faz mal ao próximo,

nem lança injúria contra o seu vizinho;”

Miqueias 6.8: " Ele te declarou , ó homem, o que é bom e o que o Senhor pede de ti, senão que

Page 28: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

28

pratiques a justiça , e ames a misericórdia , e

andes humildemente com o teu Deus?"

Is 3.10,11: “Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas ações. Ai do

perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o

que as suas próprias mãos fizeram.”

E nosso bendito Salvador, em seu sermão da Montanha, nos diz claramente que tipo de

pessoas nós devemos ser, se esperamos ser bem-aventurados, para entrar no reino de Deus,

e onde a sua religião consiste, em justiça e

pureza, e mansidão, e paciência e pacificação, e

declara mais expressamente, que se esperamos felicidade em quaisquer outros termos

diferentes da prática dessas virtudes, podemos

construir sobre a areia.

Gál 6.7,8: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso

também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas

o que semeia para o Espírito do Espírito colherá

vida eterna.."

Ef 5.6: “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre

os filhos da desobediência.”.

Page 29: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

29

1 João 3.7: "Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é

justo, assim como ele é justo.”

Estas coisas são boas e proveitosas aos homens, e agradáveis a Deus, e honram a religião, e são a

única maneira e caminho para a vida eterna, por

meio da misericórdia e méritos de Jesus Cristo, nosso bendito Senhor e Salvador, porque temos

a justificação, a regeneração, a santificação e a

glorificação, simplesmente pela graça,

mediante a fé no Seu grande nome, para vivermos na prática das boas obras.

Tradução, redução de um sermão de JOHN TILLOTSON, e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra.

Page 30: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

30

“A Cristo, o Senhor, servis” (Col 3.24)

Para que classe de oficiais escolhidos essa

palavra foi falada? Para reis que orgulhosamente gloriam-se de um direito

divino? Ah, não! Demasiadas vezes eles servem

a si mesmos ou a Satanás, e esquecem do Deus

cujo sofrimento lhes permite usar a sua majestade imitadora por pouco tempo. Estaria o

apóstolo falando para os chamados

"reverendíssimos em Deus", os bispos, ou " os

veneráveis diáconos"? Não, na verdade, Paulo não sabia nada dessas meras invenções do

homem. Nem mesmo para pastores e mestres,

ou para os ricos e respeitados entre os crentes

esta palavra foi falada, mas para os servidores, sim, e para os escravos.

Entre as multidões dos que trabalham arduamente, os ambulantes, os diaristas, os servos domésticos, os empregados de cozinha, o

apóstolo encontrou, como ainda encontramos,

alguns dos escolhidos do Senhor, e lhes diz:

"Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens;

sabendo que recebereis do Senhor o galardão da

herança; pois ao Senhor Jesus Cristo, servis".

Esta palavra enobrece a rotina cansativa dos empregos terrestres, e envolve com um halo ao

redor das ocupações mais humildes . Lavar os

pés de alguém pode ser servil , mas lavar os pés

Page 31: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

31

dele, é um trabalho real. Desatar o sapato do

patrão é trabalho humilde, mas desatar as

sandálias do grande mestre é privilégio de

príncipes. A loja, o celeiro, a copa, e a forja tornam-se templos quando homens e mulheres

fazem tudo o que fazem para a glória de Deus!

Então, "serviço divino" não é uma coisa de poucas horas feita em alguns lugares, mas toda

uma vida transformada em santidade para o

Senhor, e cada lugar e cada coisa, tão

consagrada quanto o tabernáculo e seu castiçal de ouro.

"Ensina-me, meu Deus e Rei, em todas as coisas, ver-te;

E o que eu faço - qualquer coisa - que o faça como para ti.

Todos podem participar de ti, nada pode ser tão ruim. Quem com este matiz, por tua causa, não

tornar-se-á brilhante e limpo?

Um servo com esta disposição faz da labuta, divina; quem varre um cômodo, como por tuas

leis, faz dele por esta ação, uma coisa

boa".

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Silvio Dutra

Page 32: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

32

O Que é Servir a Deus?

Servir a Deus é servir a Cristo, notadamente no

que se refere às ordenanças do Evangelho.

“João 12:26 - Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E,

se alguém me servir, o Pai o honrará.”

“Col 3:24 - cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;”

Muito deste serviço está direcionado a tudo o que se refere à salvação dos homens (conversão,

santificação, edificação).

Daí a necessidade do preparo dos cristãos para o seu desempenho no corpo de Cristo, conforme

o caráter da vocação de cada uma deles por

Deus.

“Ef 4:12 - com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,”

A par do seu caráter espiritual este serviço é materializado especialmente nos assuntos

comuns da vida cotidiana, como a prática da

hospitalidade, da generosidade, do socorro aos

Page 33: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

33

necessitados e de tudo o que demonstre um

verdadeiro amor ao próximo.

“Tito 3:14 - Agora, quanto aos nossos, que

aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se

tornarem infrutíferos.”

Não basta servir, há também o modo de fazê-lo: como por exemplo, com humildade e fervor de

espírito:

“Mar 10:43 - Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;

Mar 10:44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.

Mar 10:45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua

vida em resgate por muitos.”

“Rom 12:11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor;”

Quanto ao tempo de duração deste serviço: durante toda a vida, a tempo e fora de tempo. O

serviço de Deus deve ser o primeiro em nossas

vidas e deve permear tudo o que fizermos. É uma verdadeira lástima que muitos que professam

crer em Cristo não reservem sequer míseros

dez minutos diários para a oração e para a

Page 34: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

34

meditação da Palavra de Deus, e para tudo o

mais que o Senhor requer deles, em prova

inconteste do amor que afirmam ter por Ele.

“Gál 6:9 - E não nos cansemos de fazer o bem,

porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.”

Gál 6:10 Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas

principalmente aos da família da fé.”

“QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR NÃO SERVE PARA VIVER”

Page 35: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

35

Não Há Serviço Aceitável Sem

Consagração

Marque isto:

“Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar

destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando

preparado para toda boa obra.” (2Tim 2.21)

Somos purificados, santificados pelo Senhor, nem tanto para o nosso próprio aprazimento

pessoal, mas para podermos ser usados por ele,

para nos dedicarmos a fazer a sua vontade e obra.

Para isto é fundamental que se esteja confirmado na Palavra do Senhor, por se obter e

manter um coração puro, manso, longânimo,

paciente, amoroso, alegre, sóbrio, com domínio

próprio, benigno, bondoso, e cheio de fé, segundo o crescimento na graça e no

conhecimento íntimo de nosso Senhor Jesus

Cristo.

Este foi o segredo do sucesso de John Wesley, Moody, Spurgeon, e tantos outros.

Eles levaram muito a sério esta questão da santificação de suas vidas, pela Palavra e poder

Page 36: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

36

do Espírito Santo, e se consagraram

inteiramente a Deus.

E isto nunca mudou através dos séculos, e jamais mudará, porque o Senhor é Santo e

demanda a santidade de todos os seus filhos.

Page 37: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

37

Boas Obras, Serviço e Trabalho

A vida cristã não consiste em mera

contemplação espiritual das belezas de Cristo,

mas também em servir a Deus e ao próximo.

É sobretudo no exercício do ministério que recebemos da parte de Deus para cumprir, que

crescemos na graça e no conhecimento de

Jesus.

O bom soldado cristão é feito no campo de batalha, e não meramente nas salas de

treinamento das igrejas e seminários.

O serviço deve ser segundo a esfera de atuação que nos foi demarcada pelo Senhor, tanto no

que se refere ao tipo de serviço que deve ser realizado, quanto à (s) área (s) geográfica (s)

demarcada (s) por Ele para a nossa atuação, de

modo que não labutemos em campo alheio;

cuidado este, que a propósito, sempre esteve bem presente no apóstolo Paulo.

“3 Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que

pense de si sobriamente, conforme a medida da

fé que Deus, repartiu a cada um.

Page 38: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

38

4 Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a

mesma função,

5 assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente membros uns dos outros.

6 De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela

segundo a medida da fé;

7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;

8 ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que

preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.” (Romanos 12.3-8)

Todos os crentes possuem portanto, pelo menos um ministério, ou seja, um serviço específico

para o qual recebeu dons e capacitações de Deus

para o seu exercício.

Mas, para o propósito de formar e edificar a Igreja, sobretudo para confirmar os crentes na fé e na sã doutrina, Deus levanta ministérios

especiais para tal propósito, dentre o corpo

geral de crentes:

Page 39: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

39

“11 E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros

como pastores e mestres,

12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do

corpo de Cristo;

13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do

pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da

plenitude de Cristo;

14 para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de

doutrina, pela fraudulência dos homens, pela

astúcia tendente à maquinação do erro;

15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,

16 do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa

operação de cada parte, efetua o seu

crescimento para edificação de si mesmo em

amor.” (Efésios 4.11-16).

Agora, Deus não somente define qual é o nosso ministério como também determina o modo como ele deve ser realizado, a saber, no Espírito

Santo, e com todo o fervor espiritual e amor;

devendo haver uma justa cooperação entre

Page 40: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

40

todos os membros do corpo de Cristo em cada

congregação local.

Mas o ministério do crente não está limitado ao ofício que exerce na igreja em que congrega,

pois a sua vida deve ser de serviço em todas as

áreas em que atue. Por exemplo, o primeiro e grande ministério de uma mulher casada é o de

servir seu marido e filhos, educando seus filhos

pelo exemplo e pela palavra para que venham a

se tornar homens e mulheres de Deus.

Os maridos têm sobretudo o dever de amarem e

proverem para suas respectivas esposas e filhos.

Os que servem em atividades remuneradas

devem em tudo dar bom testemunho de honestidade e boas obras.

E em todas as ocasiões em que formos chamados a servir ao próximo, devemos fazê-lo

não como para homens, mas como para o

próprio Senhor.

Na verdade, tudo o que fazemos deve ser como para o Senhor, porque com isto se evita que se

faça alguma coisa por motivo interesseiro, ou para bajulação e subserviência a homens.

Na verdade, todo o nosso trabalho e tudo o que somos ou fazemos deve ser para a glória de

Deus, e Ele será glorificado somente caso o que

façamos seja pelo poder da Sua própria graça,

Page 41: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

41

conforme testemunho do apóstolo Paulo acerca

do seu ministério:

“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei

muito mais do que todos eles; todavia não eu,

mas a graça de Deus que está comigo.” (I Corintos 15.10)

Devemos ter a mesma humildade do apóstolo, reconhecendo que nada podemos fazer sem o

Senhor, de modo que não somos salvos

(justificados, regenerados e santificados) por

causa de nossas boas obras, mas exclusivamente pela graça de nosso Senhor

Jesus Cristo, pela qual somos chamados agora a

praticar as boas obras de justiça do evangelho,

que foram preparadas de antemão por Deus para que andássemos nelas.

O propósito e o resultado da liberdade que recebemos em Cristo é para o serviço.

Nós vemos isto de modo muito claro na Parábola dos Talentos.

O Senhor afirma que aquele que tem receberá mais, e o que não tem até o que tem lhe será

tirado.

Ele ensina claramente que Deus é glorificado se dermos muitos frutos para Ele, pelas boas obras

que os homens virem sendo realizadas por nós

Page 42: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

42

em Seu nome, e com isso serão levados a

glorificá-lo.

Page 43: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

43

Vivendo de Modo Útil a Deus

Não há um só cristão autêntico que não deseje

ser usado por Deus e útil à causa do evangelho.

No entanto, tal como no compromisso matrimonial, se a noiva não deixar a influência

do lar paterno, não poderá constituir uma nova

família junto ao seu marido.

Rebeca não poderia ter atendido ao plano de Deus para que se casasse com Isaque, caso não se dispusesse a deixar a sua parentela.

De igual modo ninguém poderá ter um compromisso real com Cristo, sendo-Lhe útil e

fiel no casamento com Ele, caso não deixe de

lado as muitas influências e compromissos

deste mundo aos quais esteja apegado o seu coração.

“10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai.

11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem.” (Sl

45.10,11).

Se não for assim, Deus não lhe pedirá nada.

Page 44: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

44

Após Abraão ter cruzado o rio e chegado a Canaã, ele foi provado por Deus diversas vezes,

até, afinal, ser chamado à grande prova de

oferecer Isaque.

O Senhor queria comprovar que Abraão realmente O temia, e que a Sua vontade divina

era o que contava, e não a sua própria vontade.

Há muitos cristãos que contornam a cruz, mas isto só servirá para prolongar a trajetória deles.

Nosso caminho será bem mais curto se formos fiéis, mas será bem mais longo se não formos,

pois andaremos em círculo e sem um rumo

certo quanto ao conhecimento e à capacitação para fazermos aquilo que é da vontade de Deus

para nossas vidas.

É preciso realmente morrer para tudo o que há no mundo, inclusive para o próprio ego, se

pretendemos ser verdadeiros discípulos de

Cristo que sejam úteis em Suas mãos.

Os pensamentos de Deus são completamente diferentes dos pensamentos dos homens,

porque o homem pensa segundo a carne, e Deus

segundo o espírito.

Se nós não somos libertados do apego ao ego carnal, não poderemos esperar que as outras

pessoas sejam libertadas.

Page 45: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

45

Se nós não estamos efetivamente crucificados, como podemos pregar o evangelho da cruz?

Se não temos visão, como podemos esperar que outros vejam a maneira como Deus age?

Acaso não estaremos dando chicotadas no ar em tudo o que fizermos?

Se nós não andarmos no caminho estreito,

quem nos seguirá por ele?

Deus deseja portanto trabalhar primeiro conosco, e depois que Ele tiver ganho alguns de

nós, poderemos, então, ganhar outras pessoas

para Ele, conforme é o desejo de todo cristão

autêntico, porque o Espírito Santo, que nele habita, o impele a isto.

As riquezas da graça divina somente podem fluir para outros através de pessoas que Ele

possa usar.

E para sermos usados por Deus precisamos confiar nEle e obedecê-lo completamente.

A qualificação para fazer a obra de Deus não se

encontra no estudo teológico, na fé sólida, no entusiasmo e no amor pelas almas, mas no fato

de a pessoa estar totalmente tomada por Deus.

Não há um só cristão autêntico que não deseje ser usado por Deus e útil à causa do evangelho.

Page 46: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

46

No entanto, tal como no compromisso matrimonial, se a noiva não deixar a influência

do lar paterno, não poderá constituir uma nova

família junto ao seu marido.

Rebeca não poderia ter atendido ao plano de Deus para que se casasse com Isaque, caso não

se dispusesse a deixar a sua parentela.

De igual modo ninguém poderá ter um compromisso real com Cristo, sendo-Lhe útil e

fiel no casamento com Ele, caso não deixe de

lado as muitas influências e compromissos deste mundo aos quais esteja apegado o seu

coração.

“10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai.

11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem.” (Sl

45.10,11).

Se não for assim, Deus não lhe pedirá nada.

Após Abraão ter cruzado o rio e chegado a Canaã, ele foi provado por Deus diversas vezes,

até, afinal, ser chamado à grande prova de

oferecer Isaque.

O Senhor queria comprovar que Abraão realmente O temia, e que a Sua vontade divina

era o que contava, e não a sua própria vontade.

Page 47: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

47

Há muitos cristãos que contornam a cruz, mas isto só servirá para prolongar a trajetória deles.

Nosso caminho será bem mais curto se formos fiéis, mas será bem mais longo se não formos,

pois andaremos em círculo e sem um rumo

certo quanto ao conhecimento e à capacitação

para fazermos aquilo que é da vontade de Deus para nossas vidas.

É preciso realmente morrer para tudo o que há no mundo, inclusive para o próprio ego, se pretendemos ser verdadeiros discípulos de

Cristo que sejam úteis em Suas mãos.

Os pensamentos de Deus são completamente diferentes dos pensamentos dos homens,

porque o homem pensa segundo a carne, e Deus

segundo o espírito.

Se nós não somos libertados do apego ao ego carnal, não poderemos esperar que as outras

pessoas sejam libertadas.

Se nós não estamos efetivamente crucificados, como podemos pregar o evangelho da cruz?

Se não temos visão, como podemos esperar que

outros vejam a maneira como Deus age?

Acaso não estaremos dando chicotadas no ar em tudo o que fizermos?

Page 48: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

48

Se nós não andarmos no caminho estreito, quem nos seguirá por ele?

Deus deseja portanto trabalhar primeiro conosco, e depois que Ele tiver ganho alguns de

nós, poderemos, então, ganhar outras pessoas

para Ele, conforme é o desejo de todo cristão

autêntico, porque o Espírito Santo, que nele habita, o impele a isto.

As riquezas da graça divina somente podem fluir para outros através de pessoas que Ele possa usar.

E para sermos usados por Deus precisamos confiar nEle e obedecê-lO completamente.

A qualificação para fazer a obra de Deus não se encontra no estudo teológico, na fé sólida, no

entusiasmo e no amor pelas almas, mas no fato de a pessoa estar totalmente tomada por Deus.

Ele precisa de homens e mulheres que tenham sido, eles mesmos, crucificados, a fim de

pregarem aos outros a cruz de Jesus.

O problema com a grande maioria dos cristãos, quanto a serem achados incapazes de fazer uma

verdadeira obra para Deus, apesar de ser grande o desejo deles de fazê-la, reside no fato de não

terem sido ensinados e discipulados desde o

princípio, no verdadeiro evangelho da cruz.

Page 49: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

49

Eles são ensinados sobre várias passagens da Bíblia, de maneira generalizada, mas sem

nenhuma instrução quanto ao que Deus espera

objetivamente deles, pela identificação com a morte e ressurreição de Seu Filho.

Assim, a carne, o velho homem, são poupados, e

até mesmo em alguns casos, lisonjeados, em vez de serem crucificados.

E alguém que não passou pela morte do eu, não pode pregar e viver no poder da ressurreição que é operada pela cruz.

E se a obra não é feita com o poder de Deus, tudo o que realizarmos terá sido em vão.

Ao pregar o evangelho, Paulo não usou palavras persuasivas de sabedoria, mas o poder de Deus,

que se manifestava em sua própria vida (I Cor 2.1-5).

Deus deve fazer com que abramos mão da própria sabedoria, inteligência, habilidade antes de poder nos usar.

Ele está procurando pessoas que não confiem em si mesmas e não sejam voluntariosas.

Se o Senhor encontrar tais pessoas, Ele as usará de acordo com a medida em que não confiam

nas próprias capacidades.

Page 50: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

50

Muitos pensam que por terem fé ortodoxa, e entender a Bíblia, estão capacitados para servir

a Deus.

Mas não é do que sabemos e de nossas habilidades que depende o ser usado pelo

Senhor, mas o quanto fomos de fato quebrados

em nosso ego, para sermos submissos à Sua

vontade.

O Espírito Santo somente pode agir por meio daqueles que estão completamente entregues

nas mãos de Deus.

Os homens buscam sabedoria e poder, porém

Deus, procura os loucos e os fracos.

A sabedoria e o poder humanos só podem ser usados nas relações humanas, mas não para

conduzir pessoas a um relacionamento com

Deus, porque isto não é feito com sabedoria e poder humanos, mas com a sabedoria e poder

do Espírito Santo.

Por isso, os que andam segundo o homem, valendo-se da sabedoria e poder humanos, caso sejam usados na obra de Deus, eles a destruirão.

Deus usará tão somente o poder e a força do Espírito Santo para realizar a Sua obra. Esta força

e poder são manifestados pelos fracos e loucos.

Page 51: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

51

Se não estivermos dispostos a abrir mão da sabedoria e do poder que temos e passarmos a

ser fracos e loucos diante de Deus, Ele não

poderá nos usar, porque é o Seu poder e Palavra que devem fluir através de nós, e não nossa

própria capacidade e poder.

Por isso, antes de nos usar, Deus faz o mesmo que fez com Moisés. Ele nos coloca no deserto

para nos provar e ensinar.

Quando Ele nos coloca de lado, é possível que não compreendamos a Sua vontade, e, então, nos tornamos rebeldes.

Por isso vez, após vez, Deus nos coloca no deserto, num meio ambiente que não é propício

a nós, para que nos submetamos sob Sua mão poderosa.

Isso significa provar se você fará ou não a vontade dEle, pois nossa própria vontade

precisa ser tratada.

Trata-se de uma crise que devemos enfrentar.

Antes de ser tratado por Deus Moisés tentou libertar os filhos de Israel com suas próprias

mãos.

Mas, agora, no Horebe ao receber a comissão divina de libertá-los, ele confessou: “Quem sou

eu?”. De igual modo, enquanto não

Page 52: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

52

aprendermos que não somos suficientes para a

obra do evangelho, e somos como um João

Ninguém aos nossos próprios olhos, para fazê-

la, então é que estaremos em condições de começarmos a ser usados efetivamente pelo

Senhor.

Aquele que não reconheceu ainda a sua fragilidade e inaptidão, não serve para fazer a obra de Deus.

Quando pensamos que a obra do evangelho é uma coisa pequena e fácil, com a qual podemos

até mesmo brincar, nós estamos muito

distantes do ponto de podermos ser usados pelo Senhor, porque esta obra demandará o

enfrentamento de potestades e principados que

somente o próprio Deus pode vencer, tal como

se deu com Moisés em relação ao Egito e ao exército de faraó.

Mas o fato de alguém reconhecer apenas sua própria inutilidade ainda é insuficiente.

O importante é conhecer o poder de Deus, e conhecê-lo é a verdadeira ressurreição, que

revela o poder do Senhor que se manifesta através da nova criatura, e é isto que significa

ser fortalecido com poder no homem interior.

Devemos ter humildade mas não recuar. Devemos ser cuidadosos, mas não tímidos.

Page 53: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

53

Precisamos tomar cuidado para não deixar de

confiar em Deus e para não confiar em nós

mesmos. Deus nos humilha com o intuito de nos

elevar.

O propósito final da cruz não é a mera morte do velho homem, mas o recebimento do poder da vida ressurrecta de Cristo.

Assim, toda mortificação da carne, todo arrependimento, visam à vida abundante que

Jesus nos prometeu.

Visam gerar alegria espiritual e não tristeza.

Libertação e não opressão.

Viver vitorioso e não derrota.

Poder sobre as forças do Inimigo, manifestações do Espírito Santo e de poder, em sinais e

prodígios.

Mas, para tudo isto é preciso estar completamente submisso à vontade de Deus.

Deus não aprova as pessoas que trabalham na Sua obra sem terem sido enviadas por Ele, e

nem se agrada das obras presunçosas dos

homens.

O pecado da soberba é igual ao pecado da rebelião.

Page 54: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

54

Então o primeiro dever de todo cristão que deseje sinceramente ser usado por Deus, é o de

se humilhar debaixo da Sua potente mão,

permitindo o trabalho da disciplina do Espírito, para o despojamento das obras da carne.

A obra de Deus só pode ser realizada pelas pessoas que morreram com o Senhor, e nas

quais foi efetivamente aplicada a mortificação da carne pelos muitos desertos aos quais Ele

conduz aqueles que foram por Ele chamados.

Na óptica de Deus não há lugar para a carne, apenas para o espírito, e este não pode operar

através de nós se carne não for mortificada (Rom 8.6-13).

Como a obra de Deus requer a morte do velho homem, com suas disposições carnais

(pecaminosas), então todas as pessoas que

seguem o pendor da carne, estão marcadas para a morte por Ele, quanto a serem efetivamente

usadas.

Você já morreu para a carne e para o mundo? Você já abriu mão das habilidades naturais? Se

ainda não o fez, não está qualificado para realizar a obra de Deus.

Hoje em dia, muitos estão trabalhando, estão atraindo muitas pessoas para junto do seu

ministério, mas não estão fazendo a obra de

Page 55: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

55

Deus, pois não é Deus quem está operando, mas

o homem.

Não se trata do agir da nova criatura, mas do velho homem, e por isso o Espírito Santo não se

move de forma alguma.

Trabalhar no poder do Espírito Santo é trabalhar de espírito para espírito, isto é, com o seu

espírito você alcança o espírito de outras pessoas.

Mas trabalhando na carne, atinge apenas a

carne dos outros, porque é um trabalho feito pela alma que pode somente trabalhar nas

mentes, nas emoções, nos sentimentos, nos

desejos, mas jamais poderá tocar na profundidade do espírito.

Precisamos nos perguntar: o que nos qualifica a

pregar sobre a cruz?

Será que pregamos por estarmos profundamente familiarizados com as doutrinas bíblicas, por sermos capazes de

apresentá-las com eloquência, ou por fazermos

da pregação a nossa profissão? Seria muito

patético este último caso. Muitos se tornam líderes na Igreja, mas não em virtude da

experiência espiritual, da vida e poder do

Espírito Santo – na verdade, muitos dos que

Page 56: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

56

ouvem as pregações têm uma vida espiritual

melhor do que o próprio pregador.

Este é portanto um tempo de muitos guias

cegos.

Muitos pregadores sabem somente a forma de propagar o conhecimento, mas não são capazes

de suprir a vida divina e o Espírito Santo.

Eles não estão habilitados a formar Cristo nos seus ouvintes, mas somente lhes informar

acerca de Cristo, isto, se na verdade, estão

ensinando o genuíno evangelho bíblico.

E assim, o grão de trigo permanece solitário porque não morreu.

Mesmo que esteja rodeado de muitos discípulos, serão também como ele, grãos de trigo que não morreram, e que portanto, não

podem gerar vida.

Quem permanece assim não pode ser usado por Deus, porque nos assuntos espirituais, não são necessários sabedoria, inteligência ou

entendimento, mas interesse em ter

experiência e poder espiritual.

O melhor comentário bíblico existente é o de Mattew Henry, e isto foi possível porque o seu

pai percebeu que ele era alguém piedoso desde

menino, e para não estragar a sua piedade, não

Page 57: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

57

o enviou a uma faculdade teológica, mas a ser

preparado por um homem de Deus piedoso, que

o conduziu ao temor do Senhor, e ao modo

correto de servi-lo.

Que Deus nos ilumine para que percebamos como é errado fazer a obra com o conhecimento

e a habilidade naturais, e, assim, reconheçamos

que tudo o que provém da velha criação adâmica precisa morrer.

Rejeitaremos tudo isso da mesma forma como o fizemos no momento da nossa salvação.

Neguemos realmente, tudo o que pertence à

velha criação e recebamos a nova vida que pertence à nova criação de Cristo, que é

segundo a justiça e a verdade.

Esta vida ressurrecta à qual estamos nos referindo demanda consagração real ao Senhor e um carregar diário da cruz, de maneira que

estejamos permanentemente avivados na Sua

presença, independente das circunstâncias em

que estejamos vivendo.

Se forem desertos servirão apenas para aumentar ainda mais a nossa fé e graças.

Algumas pessoas são despertadas ou avivadas após cada culto que frequentam.

Page 58: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

58

Os pregadores não ousam desafiá-las a viverem de modo verdadeiramente santo e consagrado.

Então, quando o culto termina o despertamento e avivamento delas também acaba.

Esta forma de culto é como um tipo de estimulante, cuja dosagem deve ser aumentada

cada vez mais, para que possa continuar fazendo

efeito.

E se este modo de cultuar a Deus é apenas de entusiasmo e de emoções externas, essas pessoas exigirão cada vez mais eloquência e

incentivo para permanecerem animadas.

Isto explica porque se faz tanta inovação nos cultos para torná-los mais atraentes para as

pessoas, porque não se apoiam no poder do

Espírito Santo e nba genuína verdade evangélica, mas nas ações da carne que apelam

para os sentidos que são faculdades, da alma, e

não do espírito.

Isto conduz à mentalidade e à atitude de Laodiceia, em que as pessoas se acham ricas

espiritualmente, quando, na verdade, são muito pobres, miseráveis, cegas e nuas.

Muitos estão equivocados quanto ao significado de ser tratado pela cruz. Eles pensam que são

curados com uma única dose deste amargo

remédio. Eles não entendem o profundo

Page 59: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

59

significado das palavras de Jesus, que nos são

impostas cruzes em toda a nossa caminhada

cristã, diariamente, porque sem o tratamento da

cruz, o velho homem sempre se levanta com sua sabedoria e poder naturais e carnais.

A cruz quebra o orgulho espiritual, e este deve ser quebrado diariamente, caso contrário se

levanta e se apodera de nós.

O pobre de espírito, que sabe que depende inteiramente de receber iluminação e graça do

Espírito, é bem aventurado, porque será enriquecido com o poder de Deus. Mas o pobre

espiritual, é miserável porque não pode

enxergar as coisas do Espírito. Ele não é

verdadeiramente rico da graça. E as coisas se complicam quando é tomado por este espírito

de Laodiceia que o faz pensar ser rico por causa

do seu grande conhecimento intelectual e

habilidades, ou mesmo que se julgue sábio aos seus próprios olhos, quando na verdade é

totalmente ignorante dos caminhos de Deus, e

não tem experiências reais com o Espírito. Então

quando alguém é pobre, não de espírito, mas espiritualmente falando, e não percebe a sua

pobreza, isto faz com que a pessoa seja um

laodicense.

Riqueza espiritual se manifesta em vida abundante e madura em Cristo. E a pobreza

Page 60: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

60

espiritual em superficialidade, infantilidade,

imaturidade.

Não devemos nos iludir pensando ter o que nunca tivemos de fato. A vida com Deus consiste

em experiências reais, e não em falar sobre

experiências bíblicas ou de outros.

Devemos ter uma experiência real produzida pelo Espírito em nossos próprios seres, subjetivamente falando, de tudo aquilo que

Cristo tem revelado objetivamente na Sua

Palavra.

Se não buscarmos verdadeiras experiências com o Espírito na implantação da vida que Cristo

nos prometeu, nós viveremos no mundo do idealismo sem obter qualquer favor do céu para

um trabalho em que sejamos usados

efetivamente por Deus.

Se por um lado devemos confiar que Cristo fez todas as coisas e tem disponibilizado para nós as

riquezas da Sua graça, por outro lado devemos

obedecer o Espírito completamente para que faça a Sua obra através de nós.

Quando dizemos completamente, não significa grau de perfeição absoluta, ou mesmo um grau

igual para todos os cristãos (os que amam a

Cristo e a Sua Palavra), porque há medidas de fé

Page 61: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

61

repartidas pelo próprio Espírito Santo, a cada

um.

Importa contudo, que esta medida seja completada segundo a capacidade dada por

Deus, respectivamente, a cada cristão.

Todas as experiências espirituais começam quando cremos no que Cristo consumou e

terminam quando obedecemos ao que o Espírito

Santo nos ordena fazer.

Ninguém terá uma vida espiritual se não crer em Deus, e depender dEle.

A pessoa deve crer que é Deus quem opera nela

tanto o querer quanto o realizar, a fim de que consiga orar, meditar na Palavra, e

testemunhar.

Crer vem em primeiro lugar, e, depois, o realizar.

O Reino do Céu deve ser alcançado pelo esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mt 11.12).

Dia a dia, devemos desenvolver, com diligência,

nossa própria salvação, o que não é impossível, pois Deus já operou em nós.

Uma vez que alcançamos este desenvolvimento, estaremos certamente capacitados para sermos

usados pelo Senhor.

Page 62: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

62

Se não tomarmos o jugo do Senhor não podemos segui-lO.

Deus pretende que estejamos dispostos a tomar sobre nós o Seu jugo, tanto nas pequenas coisas do dia-a-dia quanto nas grandes coisas da vida.

Muitos se queixam das pessoas que têm que suportar em seus relacionamentos, mas não

conseguem enxergar que são jugos que o Senhor nos impõe para serem carregados.

É natural que se deseje abandonar estes fardos que Deus nos deu para carregarmos, mas se é a

porção que Ele designou para nós, devemos nos

submeter à circunstância, porque será o melhor para nós.

Alguns apresentam o pretexto que possuem um temperamento muito forte para poderem

suportar injustiças ou situações desconfortáveis.

Todavia, isto nada tem a ver com temperamento, mas sim, com sujeitar-se à

vontade do Senhor para obedecer a Sua Palavra.

Como isto demanda a negação do ego, então torna-se mais difícil para os que são de uma

disposição iracunda, se submeterem ao

mandamento.

Page 63: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

63

Tomar a cruz significa tomar o jugo em cada situação particular.

Se tentarmos nos livrar de tudo o que nos parece um fardo, nunca acharemos descanso e paz para

as nossas almas, porque estamos recusando o jugo do Senhor.

A razão pela qual os cristãos têm dificuldades em dar um bom testemunho é a resistência em

tomar o jugo de Deus.

Eles desejam uma mudança no meio em que vivem, mas não percebem que o caráter cristão deve ser manifesto em tal ambiente.

A vida mais elevada que podemos ter é receber, com prazer, tudo aquilo de que não gostamos

por natureza.

Deixei-me dizer que você terá pleno descanso se aceitar, com alegria, o jugo que Deus lhe der.

Este descanso depende da sua obediência, da sua atitude de negar-se a si próprio para carregar a cruz.

Por isso é preciso manter uma vida de permanente comunhão com Deus através da

oração.

Para isto é preciso orar em todo tempo no Espírito, e vigiar para poder perseverar nesta

Page 64: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

64

vida de oração e súplica em favor da Igreja;

porque Satanás tudo fará para que não

tenhamos momentos regulares de oração, ou

então para que não sejamos objetivos nos pedidos que fazemos a Deus.

“com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando

com toda a perseverança e súplica, por todos os

santos,” (Ef 6.18).

Evidentemente, o teor principal de nossas orações deve estar relacionado à nossa

necessidade de transformação de caráter e disposição pessoal, e não propriamente a

modificação do ambiente ao nosso redor,

incluídas aí, as pessoas e circunstâncias que se

opõem a nós.

O motivo pelo qual os cristãos de hoje não oram

do modo correto é devido ao fato de que nunca têm examinado este assunto e mantido

vigilância a fim de não permitir que o momento

da oração passe despercebido e seja

negligenciado.

Por isso os cristãos têm tempo para estudar a

Bíblia, mas não encontram tempo para orar.

E é aí que Satanás prevalece.

Ele sabe que, se os cristãos não tiverem tempo para orar, eles não vão orar, e assim, o diabo não

Page 65: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

65

é limitado de nenhuma maneira, porque os

cristãos não podem prevalecer com Deus, a não

ser através de uma vida intensa de oração, que

os mantenha permanentemente ligados ao céu.

Daí a ordem de que a oração seja perseverante e

sem cessar.

Se faltar isto, não podemos contar em sermos

usados por Deus, numa obra e ministério regulares que Ele tenha designado para serem

realizados por nós.

Ele precisa de homens e mulheres que tenham sido, eles mesmos, crucificados, a fim de

pregarem aos outros a cruz de Jesus.

O problema com a grande maioria dos cristãos, quanto a serem achados incapazes de fazer uma

verdadeira obra para Deus, apesar de ser grande o desejo deles de fazê-la, reside no fato de não

terem sido ensinados e discipulados desde o

princípio, no verdadeiro evangelho da cruz.

Eles são ensinados sobre várias passagens da Bíblia, de maneira generalizada, mas sem

nenhuma instrução quanto ao que Deus espera objetivamente deles, pela identificação com a

morte e ressurreição de Seu Filho.

Assim, a carne, o velho homem, são poupados, e até mesmo em alguns casos, lisonjeados, em vez

de serem crucificados.

Page 66: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

66

E alguém que não passou pela morte do eu, não pode pregar e viver no poder da ressurreição

que é operada pela cruz.

E se a obra não é feita com o poder de Deus, tudo

o que realizarmos terá sido em vão.

Ao pregar o evangelho, Paulo não usou palavras persuasivas de sabedoria, mas o poder de Deus,

que se manifestava em sua própria vida (I Cor

2.1-5).

Page 67: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

67

Não Pelo Nosso Poder, mas Pelo do

Espírito

Em várias passagens das Escrituras Sagradas,

Deus afirma expressamente que toda a obra

espiritual genuína relativa à vida eterna

celestial, em nós, é realizada pelo Espírito Santo,

mediante a nossa fé em Jesus Cristo.

E isto opera por meio da nossa oração e leitura e prática da Palavra de Deus.

Mesmo nossas orações e prática da Palavra dependem inteiramente da ajuda do Espírito.

Sem Ele, é simplesmente impossível nos levantarmos de nossas fraquezas latentes

referentes à nossa natureza pecaminosa, e aos

ataques que sofremos dos espíritos das trevas.

Precisamos, mesmo em meio às nossas aflições

e abatimentos, elevar nosso pensamento ao Senhor, em busca de socorro, clamando, ainda

que seja com o coração, caso não tenhamos

sequer força para expressá-lo com palavras com o abrir dos nossos lábios.

Das profundezas do nosso abismo espiritual, Deus nos ouvirá e nos fortalecerá para que

possamos triunfar sobre todos os inimigos

Page 68: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

68

espirituais que procuram afundar a nossa alma

no desespero e na incredulidade.

Se a bateria do nosso carro descarregar,

pediremos auxílio a alguém para que nos ajude a empurrá-lo, para que o motor pegue,

conforme se costuma dizer: “no tranco”.

De igual modo, se nossa bateria espiritual estiver descarregada ou descarregando muito

rapidamente, devemos correr sem qualquer

constrangimento em busca da ajuda de Jesus

Cristo.

Ele nos empurrará adiante para que continuemos nossa caminhada de fé.

As virtudes citadas em Gál 5.22, como sendo o fruto do Espírito Santo, são forjadas e produzidas em nós pelo Espírito porque elas são

o seu fruto, isto é, o que resultará em nós por

andarmos nEle.

Todo ato de fé, de amor, de longanimidade, e de tudo o que ali se nomeia, é por conseguinte do

Espírito e não de nós mesmos.

“Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade;” (Ef 5.9).

Toda a obediência e santidade que Deus requer de nós na Nova Aliança, todos os deveres e ações

da graça, é prometido que serão forjados em nós

Page 69: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

69

pelo Espírito, de modo que estejamos seguros

que de nós mesmos não poderemos fazer nada

em relação a isto (Ez 36.27; Jer 32.39,40).

Nós servimos e adoramos a Deus no Espírito (Fp 3.3); amamos os irmãos no Espírito (Col 1.8);

purificamos nossas almas obedecendo a

verdade pelo Espírito (I Pe 1.22). Veja também Ef 1.17; At 9.31; Rom 5.5; 8.15, 23, 26; 14.17; 15.13,16; I

Tes 1.6.

Estes, dentre muitos outros textos da Bíblia são suficientes para comprovar que o Espírito

Santo, como o autor da nossa santificação, opera

também em nós todos os atos piedosos de fé,

amor e obediência.

E nós vemos assim quão contrárias são consequentemente à revelação da Bíblia as

noções de alguns homens que afirmam que a santidade pode ser gerada pelos próprios

cristãos, pelo bom uso da razão deles para não

mentirem, não serem desonestos, não

adulterarem e em resumo não praticarem nenhum pecado que possa se tornar público e

visível.

Mas quem pensa assim está mentindo para si mesmo, sendo desonesto para com Deus e

adulterando a Sua Palavra, porque não é este o

caminho indicado por Ele para a santificação.

Page 70: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

70

Porque santificação é muito mais do que comportamento aprovado pela sociedade, pois

significa ter o coração guardado pela graça de

Jesus, de modo que tenhamos permanente comunhão com Ele, com alegria, paz e gratidão,

em toda e qualquer circunstância.

Page 71: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

71

A Capacitação para o Ministério

"4 E é por Cristo que temos tal confiança em

Deus;

5 Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a

nossa capacidade vem de Deus,

6 O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra,

mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica." (II Coríntios 3.4-6)

Toda a capacitação de qualquer cristão para o

cumprimento do seu ministério espiritual vem da parte de Deus.

Porque é Ele quem habilita seus ministros a serem capazes para a obra do ministério do

Novo Testamento, que não é uma mera

exposição da letra das Escrituras, ou mera transmissão de palavras, como ocorria no Velho

Testamento, mas a ministração do Espírito aos

espíritos, porque somente a letra sem o Espírito,

produz morte, porque não pode gerar a vida de Cristo nos corações.

Os sacerdotes do Antigo Testamento não foram capacitados e chamados a cumprir um tal

ministério em todas as nações, mas é

Page 72: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

72

exatamente este o ministério desde que Cristo

inaugurou um Novo Testamento (aliança), no

Seu sangue.

Não foi Paulo que inventou a doutrina de que é o espírito que vivifica, mas isto foi uma revelação

de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno:

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são

espírito e são vida.” (Jo 6.63)

Quando Jesus disse que as palavras que ele havia dito eram espírito e vida, isto significa que Suas

palavras foram inspiradas e proferidas pelo

Espírito, pois tudo quanto fazia e ensinava era mediante o Espírito Santo.

É fácil observarmos isto quando lemos os

discursos que Ele proferiu e que foram registrados nos evangelhos. Nós logo vemos que

há espírito e vida, por exemplo, nas palavras do

Sermão do Monte, nos discursos do evangelho

de João e em tudo mais que o Senhor fez e ensinou, não somente porque se trata da

verdade, mas também porque foram proferidas

pelo espírito e não pela carne.

Esta é a razão de muitos lerem a Bíblia no culto público, ou pregarem a verdade, e não

Page 73: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

73

transmitirem vida aos seus ouvintes, porque o

fazem na carne, e não no espírito.

O que podemos entender então é que sempre que as palavras que são proferidas forem

procedentes de um espírito liberado em comunhão com o Espírito Santo, o resultado

será que a palavra transmitirá vida espiritual

àqueles que as lerem ou ouvirem.

Por exemplo, os sermões de Spurgeon ainda falam com vida porque Ele andava no Espírito e

pregava no Espírito, e ainda hoje nós podemos

sentir o espírito e a vida que há nos seus

sermões, porque foram pregados com palavras ensinadas pelo Espírito e com a unção do

Espírito.

O mesmo pode ser dito dos escritos da quase totalidade dos puritanos, especialmente de John

Owen, Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas Manton, Thomas Watson, dentre outros.

Não há nada de influência ressecante nestes escritos, ao contrário, eles transmitem vida

espiritual porque foram produzidos em

espírito, pela inspiração do Espírito Santo, em pessoas cujos espíritos estavam santificados.

Então é um excelente critério para nortearmos a seleção dos louvores e dos sermões que

ouvimos, dos livros e das mensagens que lemos,

Page 74: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

74

procurar identificar se é a carne ou o espírito

que os produziram. Se foi a carne, gerará o que é

carnal, natural, desta criação, porque o que é

nascido da carne é carne. Mas se foi o espírito, gerará vida espiritual.

Por isso se diz que o ministério da Igreja é o ministério do espírito (veja que é usado espírito

com inicial minúscula no texto de II Cor 3.6,8):

“o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do

espírito; porque a letra mata, mas o espírito

vivifica.” (II Cor 3.6).

“Como não será de maior glória o ministério do espírito?” (II Cor 3.8).

Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não

reconheceram o ministério do Messias e O

rejeitaram, porque é possível estar totalmente

alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes

ocorrido em Jerusalém, neste período que

chamamos de dispensação da graça, que

podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.

Havia e ainda há um véu no Antigo Testamento, que impedia que se visse claramente o

significado das realidades espirituais relativas

Page 75: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

75

ao evangelho de Cristo, que está revelado no

Velho Testamento em sombra, mas claramente

revelado no Novo Testamento.

É somente quando o Espírito Santo remove este véu que podemos entender o mistério de Deus para o homem, que é Cristo, pela conversão de

suas almas a Ele.

Page 76: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

76

O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus

Deus constituiu apóstolos, profetas,

evangelistas, pastores e mestres e os deu à igreja

para que os santos fossem aperfeiçoados

espiritualmente para o desempenho dos seus respectivos ministérios, de maneira que a Igreja

seja edificada como o corpo de Cristo, como se

afirma em Ef 4.11,12.

Não foi portanto a Igreja que foi dada aos ministérios, mas estes que foram dados por

Cristo à igreja, para que a sirvam, de maneira que todos, estando vinculados em amor,

cheguem à unidade da fé e ao pleno

conhecimento do Filho de Deus, por atingirem o

amadurecimento espiritual, que é segundo a medida da estatura da plenitude de Cristo, ou

seja, que tem em Cristo o seu modelo e exemplo

até o ponto em que deve crescer, e não no

homem, como lemos em Ef 4.13.

É somente quando se atinge este amadurecimento espiritual que se deixa de ser menino na fé, bebê em Cristo, cristão carnal,

transformando-se em cristão espiritual, que

tudo discerne e de ninguém é discernido, senão

pelos que são também espirituais.

Quando se atinge a maturidade espiritual o cristão se torna uma coluna na casa de Deus,

Page 77: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

77

que é a Igreja (não nos referimos a templos, mas

ao corpo de crentes), porque já não poderá ser

desviado da sua firmeza de fé por qualquer

vento de falsa doutrina, engendrada pela astúcia e fraudulência dos homens, que maquinam o

erro; ao contrário eles crescem mais e mais em

tudo, seguindo a verdade em amor, nAquele que é a cabeça da Igreja, a saber, Cristo.

Fora de Cristo, da comunhão com Ele, não é possível haver tal crescimento harmonioso de

todos os membros da Igreja.

Por isso eles necessitam permanecer nEle para que seja operada esta justa cooperação de cada

membro do Seu corpo, para que seja efetuado este crescimento para a edificação da Igreja em

amor.

É isto que distingue congregações de congregações, porque ainda que sejam

formadas por verdadeiros filhos de Deus, há de

se ver crescimento espiritual naquelas em que os cristãos estejam perseverando na obediência

à doutrina dos apóstolos, e para tanto, se requer

que esta seja devidamente pregada e ensinada.

Onde não houver tal pregação e ensino, que devem ser segundo a sã doutrina, jamais se poderá esperar que em algum tempo a

congregação chegue a um amadurecimento por

parte da quase totalidade dos seus membros.

Page 78: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

78

Contudo, onde houver tal pregação e ensino, é razoável que se espere o referido

amadurecimento, e ainda que alguns membros

cheguem a ele tardiamente, terão implantadas neles as palavras de vida eterna que germinarão

no tempo próprio conforme a operação do

Espírito de Deus.

Mas como o Espírito fará germinar uma semente que não foi plantada pela pregação e

ensino da verdade?

Daí ser requerida paciência dos ministros do evangelho enquanto aguardam pelo fruto do

seu trabalho, que será certamente honrado pelo Senhor (Tg 5.7-11).

Page 79: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

79

Porque Amar é Servir

Não é possível ter uma vida de comunhão com

Deus e uns com os outros, enquanto se vive

debaixo do governo dos desejos e paixões da

alma, os quais são vencidos somente pela crucificação da carne por um andar no Espírito,

como se vê em Gál 5.24,25.

Sem a crucificação da carne para a supressão destes desejos e paixões não é possível um viver

e andar no Espírito, e por conseguinte ter paz na

alma e comunhão com Cristo e o amor que

suporta ofensas e tribulações.

E quando isto nos falta ficamos incapacitados de servir a Deus e ao próximo, porque a vida

piedosa tem muitos inimigos e sofre muitos ataques do poderes das trevas, e portanto, sem o

amor que tudo vence, não será possível

estarmos livres de mágoas e ressentimentos

quando somos ofendidos e afligidos.

Satanás a ninguém jamais serviu, ao contrário, sempre impõe ser servido por todos os que tem

escravizado com ódio cruel e tirânico.

Satanás é uma mera criatura caída, e ainda assim governa sobre muitos cujo caráter não é

tão baixo e sujo quanto o dele.

Page 80: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

80

Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário, sendo Deus, se fez homem por amor à humanidade, e

nos revelou qual é o caráter de amor de Deus,

sendo achado na forma de servo, e afirmando que não veio a este mundo para ser servido, mas

para servir, e dar a Sua vida para resgate de

muitos.

Quem ama como Cristo ama, terá então esta característica de não viver para ser servido, mas

para servir ao seu próximo, porque é assim que

é o verdadeiro amor - não busca o que seja do

seu interesse, mas o de muitos.

Tendo sido criados à imagem e semelhança de Deus, devemos ser assim como Ele é em Sua

natureza. Devemos amar com o mesmo amor

com o qual Ele nos ama.

Deus não precisa ser servido porque é completo em todas as perfeições eternas e infinitas. O serviço que Lhe prestamos é para o nosso

próprio bem e do nosso próximo.

Ele morreu na cruz como um sacrifício, não somente para que fôssemos justificados dos

nossos pecados, mas para que pudéssemos viver a vida eterna nos alimentando da Sua própria

vida.

Ele disse que a Sua carne é verdadeira comida, e que o Seu sangue é verdadeira bebida. Ele disse

Page 81: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

81

que é o Pão vivo que desceu do céu e dá vida a

todo aquele que dele se alimenta.

Por isso, havia em no Velho Testamento, um tipo desta verdade, porque era ordenado aos que

participavam dos sacrifícios de animais

oferecidos no templo, que consumissem

juntamente com os sacerdotes a carne daqueles animais que haviam morrido para que eles

tivessem seus pecados perdoados e a

manutenção de suas vidas, pela figura de se

alimentarem da carne do próprio sacrifício.

Tudo aquilo apontava para o único e eterno sacrifício pelo qual somos perdoados e somos

alimentados com a vida eterna de Jesus, que é o alimento do nosso espírito, e sem o qual Ele não

se pode ter e se expressar esta vida divina de

amor, paz, longanimidade, bondade, fé, perdão,

misericórdia, que se acham em Cristo e que são comunicadas a nós quando andamos em

comunhão com Ele.

Page 82: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

82

Salvação pela Graça e as Boas Obras

“Não de obras, para que ninguém se glorie. Pois

somos feituras dele, criados em Cristo Jesus,

para boas obras, as quais Deus de antemão ordenou para que andássemos nelas.” (Ef

2.9,10).

Eu chamarei sua atenção à vizinhança

próxima destas duas frases, "não de obras," e

"criados em Cristo Jesus para boas obras". O

texto soa com um som singular; porque isto parece estranho ao ouvido que as boas obras

sejam negadas como a causa da salvação, e

depois, se fale delas como sendo a grande

finalidade da salvação. Você pode enquadrar isto no que os Puritanos chamavam de

“Paradoxos Ortodoxos”, embora isto seja um

assunto muito difícil para merecer o nome.

Não muito tempo atrás, eu tentei lidar com o ponto da suposta diferença existente entre a

doutrina da fé – “crê e serás salvo” e a doutrina

do novo nascimento e de sua necessidade - "Vocês devem nascer de novo”. Meu método

estava baseado nisto: Eu não expliquei as

dificuldades que aparecem ao lógico e ao doutor

da metafísica; mas eu tentei demonstrar que, praticamente, não havia nenhuma dificuldade.

Se nós tratarmos somente das dificuldades que

obstruem o caminho da salvação, não há

Page 83: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

83

nenhuma. Para estes dois assuntos não há

qualquer obstáculo real, eu os deixei onde

devem estar. Uma pedra que não está no

caminho de ninguém deve permanecer onde está. Quem crê em Jesus é nascido de novo. Estas

duas coisas são igualmente verdadeiras: deve

haver um trabalho do Espírito no nosso interior, contudo todo o que creu no Senhor Jesus já

possui a vida eterna.

Agora, há uma contenda que sempre se apresenta sobre a doutrina das boas obras: e em vez de tratar de um lado ou de outro, nós

tentaremos ver se há realmente qualquer coisa

para ser discutida além do que encontramos nas

Escrituras. Nós insistimos nisto, com toda a nossa força, que a salvação é "não de obras, para

que ninguém se glorie.". Mas, por outro lado,

nós admitimos livremente, e sinceramente

ensinamos que "sem santidade ninguém verá o Senhor.".

Onde não há nenhuma boa obra, não há nenhuma habitação do Espírito de Deus. A fé

que não produz boas obras não é a fé que salva: não é a fé dos eleitos de Deus: não é fé em

sentido Escritural. Eu tenho tomado estes dois

pontos, para apresentá-los como ajuda e

conforto aos novos convertidos. Eu não estou procurando instruir você que já é bem instruído;

mas meu alvo neste momento é instruir os

novos neste assunto importante. A salvação não

Page 84: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

84

é por obras; mas, ao mesmo tempo, nós somos

os sujeitos da graça divina, "somos criados em

Cristo Jesus, para boas obras.". Isto é importante

para iluminar o crente; mas bebês na graça têm a visão fraca, e não podem observar tudo

imediatamente.

Antes, pela graciosa providência de Deus, Lutero tinha se levantado para pregar a doutrina da justificação pela fé, a noção comum entre as

pessoas religiosas era, que os homens devem

ser salvos por obras; e o resultado foi que, nada

sabendo da raiz da qual a virtude procede, muito poucas pessoas tiveram algumas boas obras

afinal. A religião estava tão declinada que se

transformou num mero assunto cerimonial

vazio, ou de inútil abstinência; e, além disso, de ocultamento supersticioso da verdade original

do evangelho, tanto que dificilmente poderia

ser achada em tudo que era ensinado. O reino da

justiça própria e do estratagema sacerdotal não conduziram a nenhum bom resultado

as massas de pessoas religiosas. As

indulgências e o perdão dos pecados foram

vendidos nas ruas, e eram vendidos publicamente. Os ecos de sua voz viril soaram

através dos séculos. Eu percebo que quase todos

os sermões Protestantes, muito tempo depois

de Lutero, trataram da justificação pela fé; e, seja o que for que os textos possam ser, eles de

alguma forma ou outra foram trazidos nesse

contexto de uma igreja caída ou que se encontra

Page 85: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

85

de pé. Eles raramente concluíam um sermão

sem declarar que a salvação não é por obras,

mas pela fé em Jesus Cristo. Eu não os censuro

nem por um momento; ao contrário, eu os elogio – é melhor ser exagerado do que

moderado quanto à doutrina central do

evangelho. Os tempos reclamam que esse ponto seja apresentado claramente a todas as pessoas;

e os pregadores da Reforma o fizeram

claramente. A justificação pela fé era o prego

que teria que ser levado para casa e pregado; e todos os seus martelos foram dirigidos para esse

prego. Não estavam nada interessados assim tão

especificamente quanto às demais doutrinas

quanto estavam em relação a esta; mas, então isto era um fundamento sobre a rocha, e eles

estavam ocupados em colocá-lo, e colocaram-

no, e a fundo, e para sempre.

Ainda, eles teriam completado mais perfeitamente o círculo da verdade revelada se a santificação tivesse também sido explicada tão

completa e claramente quanto a justificação.

Isto teria sido também se as pernas do

evangelho da Reforma tivessem sido iguais, porque uma estava um pouco mais longa e um

pouco mais forte do que a outra, e

consequentemente estava manco – parecido

com o vitorioso Israel, que tinha vindo ao Jaboque – mas estava manco. Nós temos passado

além do estágio da ênfase exagerada na doutrina

cardinal, e eu temo grandemente que nos

Page 86: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

86

nossos dias nós não estejamos pregando

o bastante sobre a justificação pela fé. Eu

poderia desejar que os tempos luteranos

voltassem outra vez, e que o velhos trovões de Wittenberg pudessem ser ouvidos uma vez

mais; no entanto eu estarei contente se tudo que

é prático no evangelho tiver também sua completa esfera distribuída com isto. A justiça

imputada, por todos os meios; mas deixe-nos

ouvir também da justiça transmitida e dada;

porque ambos são dons preciosos da graça. Os deveres – deixem-me dizer mais, os altos e

santos privilégios – que temos como filhos e

servos de Deus – estes deveriam ser mantidos e

totalmente pregados, como cada um dos lados da verdade abençoadora;

“Há vida em olhar somente para o Crucificado: há vida neste momento para você.”.

Eu discorrerei agora sobre o primeiro ponto do texto, que é este, "não de obras," ou o caminho da

salvação. "Não de obras" é a descrição negativa,

mas dentro do negativo encontra-se muito

claramente o positivo. O caminho da salvação é por algo diferente de nossos próprios trabalhos

(obras). Em segundo lugar, eu falarei sobre a

caminhada da salvação. Nós que fomos salvos

caminhamos em santidade; porque nós fomos “criados em Cristo Jesus, para boas obras, que

Deus de antemão ordenou para que andássemos

nelas.”. Isto é um decreto da soberania do

Page 87: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

87

Senhor que ele escolheu para ser caminhado

pelos que andariam em santidade.

I. Primeiramente, então, O CAMINHO DA SALVAÇÃO é negativamente descrito como

"não de obras". Para muitos isto é uma exceção;

mas nós não precisamos ajudá-los quanto a isto,

pois as Escrituras são suficientemente claras. Nos é dito que não devemos, em nenhuma

ocasião, permitir que as pessoas cantem:

"Pecador, nada faça, seja grande ou pequeno,

Jesus já o fez, fez tudo, há muito tempo atrás.”

A grande exceção tem sido tomada dessa expressão; mas eu creio que, se a mesma

verdade tivesse sido expressada com quaisquer

outras palavras, a mesma objeção teria sido

levantada, porque é a verdade que é objetada, mais do que as palavras em que é apresentada.

Meu próprio texto seria, para tais pessoas,

muito objectável -"Não de obras". Eles estão

prontos para cercar a Paulo por ter falado dessa forma evangélica. Odeiam toda a doutrina da

salvação como um dom (pela graça), e não no

menor grau a doutrina do mérito pessoal – a

doutrina que nós amamos. Nós pregamos a salvação "não de obras"; nós repetimos o ensino

repetidas vezes, e pretendemos repeti-lo

continuamente, até que morramos. A salvação é

Page 88: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

88

pela misericórdia do Senhor, e não pelas obras

da lei.

Se nós pregássemos que a salvação é por obras,

nós agradaríamos muitas pessoas refinadas; mas como nós não sabemos se seria afinal para

o seu benefício o que lhes agradasse, nós não

pentearemos um só fio de cabelo de nossa cabeça de modo diferente daquele em que

crescem, somente para agradá-los; muito

menos voltaremos atrás, ou faremos uma

explanação afastada da verdade fundamental do evangelho de Jesus Cristo; e isto por variadas

razões.

Se nós pregássemos aos pecadores, mortos em suas transgressões e pecados, que a salvação seria por seus próprios trabalhos, nós

deveríamos deixar de lado (abandonar) a

salvação pela graça. Não pode haver duas

maneiras de salvação para a mesma pessoa. Se nós admitimos uma, nós negamos praticamente

a outra. Isto não pode ser questionado, que um

homem culpado, é salvo de tudo, e deve ser

salvo através da misericórdia de Deus. Isto também não pode ser negado, que nosso

Salvador e seus apóstolos ensinaram que nós

somos salvos pela fé. O homem deve estar com

seus olhos fechados se ele não vê isto para ser o seu ensino. Se, então, eu ensinar aos homens

que eles podem ser salvos por suas obras, eu

tenho lhes dito praticamente que a salvação

Page 89: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

89

pela graça é um mito, um erro, um erro malígno.

Eu tenho deixado isto de lado; porque, como eu

disse antes, não pode haver dois caminhos para

o céu: não pode haver mais de um. Se eu apresentasse o caminho das obras, eu fecharia o

caminho da graça. Se a salvação é por mérito,

não é por misericórdia. Mas se não houver nenhuma salvação dos homens pela exclusiva

misericórdia de Deus, quão infelizes somos nós!

Negar a graça é realmente negar a esperança.

Onde, então, haveria algum evangelho, ou notícias alegres, ou boas novas? A maneira da

salvação por obras não é "boa nova". É a antiga

maneira do planejamento humano, que é o

geral e bem conhecido erro de todas as gerações. Além disso, não é " boa nova (notícia),"

ou notícia alegre; porque não há nada de bom

ou alegre nisto. Que nós seremos

recompensados pelos nossos trabalhos, não é nada mais do que o ensino pagão. A justificação

por desempenho religioso, e as ações

meritórias, não é melhor do que o antigo

farisaismo com o nome de cristianismo. Isto não é digno da revelação pelo Espírito de Deus,

porque isto é para ser visto pela luz da própria

vela do homem. Esta doutrina faz o Senhor Jesus

Cristo ser praticamente ninguém; porque se a salvação é pelas obras, então o caminho da

salvação através da fé num Salvador é supérfluo,

e mesmo malígno, porque estaria

fundamentado numa mentira.

Page 90: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

90

Pregar o caminho da salvação pelas obras é também propor aos homens um caminho no

qual eles já falharam. Se você deve ser salvo por

obras, você deve começar muito cedo: você deve começar antes de você pecar, desde que um

único pecado decide o assunto. Mas você já

começou a quebrar a lei de Deus. Eu não estou me dirigindo às pessoas que têm ainda

que começar a andar no caminho, porque já

começaram. Você está num bom caminho da

estrada, de um modo ou de outro; e desde que você começou no caminho das obras, quantas

falhas você já não tem cometido! Há qualquer

um aqui quem pode reivindicar que já está salvo

por suas obras, por mais longe que já tenha ido? Há qualquer um entre vocês que não tem

pecado? Observem suas vidas; examinem suas

consciências; observem suas palavras, seus

pensamentos, suas imaginações, suas motivações; porque tudo isto é levado em conta.

Há um homem aqui que somente faça o bem e

que não peque? A Escritura declara que “não há

quem faça o bem, nem um sequer”. "Todos nós somos como ovelhas que se extraviaram, cada

qual no seu próprio caminho”. O caminho da

salvação não pode, consequentemente, ser por

seguirmos numa estrada que nós já temos constantemente abandonado tão cheios de

pecados. Se você fosse perfeito como Adão era

antes do pecado, você poderia seguir o caminho

das obras, e ser salvo. Mas você não está nesta condição. Se eu pudesse ser enviado a Adão e a

Page 91: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

91

Eva juntamente antes da queda, eu poderia

propor-lhes o caminho da salvação pela

obediência à lei; mas você tem falhado, e sua

natureza está inclinada a abandonar o reto caminho.

As vestes que você traja revelam que você tem descoberto a sua vergonha. Os trabalhos quotidianos que o fatigam provam que você não

está no paraíso. A verdadeira pregação do

evangelho implica que você está num mundo

cheio de pecado. Você não está possuído de vontade incorruptível, ou inclinado ao que é

bom: você tem escolhido o mal, e ainda continua

a escolhê-lo; e consequentemente eu somente

posso lhe propor uma estrada na qual você já tropeçou, e eu estaria lhe dando uma tarefa que

você já tem estragado.

E, em seguida, eu penso que isto será admitido por todos, que o caminho da salvação pelas boas obras seria por si mesmo evidentemente

inadequado para um número considerável. Eu

exporei o fato. Eu estou sendo enviado para

atender uma emergência, ao cair da noite. Um homem está morrendo. Eu chego junto ao seu

leito de morte, como solicitado. Ele está

consciente, mas evidentemente em agonia

mortal. Ele tinha vivido uma vida ímpia, e ele está a ponto de morrer. Eu pedi à sua esposa e

amigos que lhe falassem uma palavra que lhe

pudesse abençoar. Eu lhe diria que ele pode ser

Page 92: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

92

salvo por boas obras? Onde está o tempo para

boas obras? Onde está a possibilidade de

praticá-las? Quando quase começo a lhe falar,

sua vida está lutando para abandoná-lo. Ele me olha na agonia da sua alma, e gagueja, “O que eu

devo fazer para ser salvo?”. Eu deveria lhe

apresentar a lei moral? Eu deveria lhe expor os dez mandamentos, e pedir-lhe que ele os

guardasse? Ele balançaria sua cabeça dizendo,

“eu os tenho quebrado, e eu sou condenado por

todos eles.”. Se a salvação é por obras, o que mais eu tenho a dizer? Isto não tem qualquer

utilidade aqui. Que posso eu dizer? O homem

está perdido totalmente. Não há nenhum

remédio para ele. Como posso eu lhe dizer o dogma cruel "do pensamento moderno" que seu

próprio caráter pessoal é tudo? Como posso eu

lhe dizer que não há nenhum valor na fé,

nenhuma ajuda para a alma em olhar para outro – mesmo para Jesus, o Substituto? Não há

nenhum sussurro da esperança para um

homem morrendo na dura doutrina da salvação

pelas obras.

Se a salvação tem sido pelas obras, nosso Senhor não deveria ter dito ao ladrão morrendo na cruz

ao seu lado, “Hoje estarás comigo no paraíso.”.

Aquele homem não poderia fazer qualquer

trabalho, suas mãos e seus pés estavam presos na cruz, e ele estava na agonia da morte. Não,

isto deve ser de graça, totalmente conquistado

pela graça; e o modus operandi deve ser pela fé,

Page 93: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

93

ou de outro modo o evangelho para os homens

que estão morrendo é uma gozação. O homem

deve olhar, e viver. O pecador expirando deve

confiar no Salvador que expirou. Como a vida declina, o penitente deve encontrar a vida na

morte de Jesus. Não está revelado que o

evangelho de obras é inadequado em situações como estas? Agora, o evangelho que é

inadequado para alguns não é o evangelho de

nosso Senhor Jesus Cristo. Sim, eu o explicarei

claramente. Um evangelho que não pode servir a todos não pode servir a ninguém; e se ele serve

a alguma classe e condição, real e

verdadeiramente, ele deve atender a todas as

classes. Eu penso que lhes tenho falado em certa ocasião, que eu recebi uma carta que intentava

irritar-me, de alguém particularmente

eminente, um cavalheiro da aristocracia, que

dizia que tinha lido alguns dos meus sermões quando estava fora na costa da África, e ele

descobriu que determinados negros haviam

muito se deleitado com eles. Ele escreveu para

informar-me que eu era um pregador muito competente para os negros. Eu recebi a

afirmação como um alto elogio. Eu sentia que se

eu podia pregar aos negros, eu poderia pregar a

qualquer um; e que, se o evangelho que eu pregava era apropriado para os nativos da costa

da África ele certamente serviria às pessoas de

Londres; se aqueles que estavam longe

puderam compreendê-lo, você, que está próximo, poderia também compreendê-lo. O

Page 94: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

94

evangelho não foi enviado ao mundo para ser

um remédio exclusivo que somente poderia ser

comprado pelos ricos, ou uma linguagem que

somente poderia ser expressada pelos estudantes de latim. Este é um evangelho para

todas as categorias e condições de homens; e eu

provo que se você chama o evangelho de inadequado para os que estão morrendo, ou que

é inadequado para os ignorantes, este não é o

evangelho de Jesus Cristo. O evangelho da

salvação pela graça, mediante a fé, é adequado para cada classe de pessoas que nós temos que

tratar.

O pecado tem atado com correntes de ferro muitas pessoas, e o evangelho pode libertá-los.

Seja do hábito da bebida, da profanação, ou do que seja, o hábito os prende seguramente; e o

profeta diz, relativamente ao hábito, "pode o

etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas

manchas? então podem vocês também fazer o que é bom, estando acostumados a fazer o mal.".

Para que propósito então, eu grito ao leopardo,

"mude suas manchas," ou ao etíope, "mude sua

pele"? Eu devo trazer uma força superior sobre o leopardo ou o etíope, antes disto poder ser

realizado; e não há nenhuma força na mera

exortação. Você pode exortar um homem cego a

ver, mas ele não verá. Você pode exortar um homem morto para retornar à vida; mas não

viverá somente com a sua exortação. Algo mais

é requerido. As forças do depravação natural, e

Page 95: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

95

os hábitos adquiridos do pecado em muitos

casos – e eu penso que você concordará com isto

– colocarão a doutrina da salvação pelas obras

fora da corte; e se é colocada fora para uns, será colocada fora para todos; porque só pode haver

um evangelho. Vá com suas convicções

assentadas; vá através de suas cadeias; e apenas veja o que você pode fazer com a doutrina da

salvação pelas boas obras. Você virá para casa

desapontado. Mas vá lá e fale da livre graça e da

morte de Jesus por amor, e o perdão que foi comprado pelo sangue, e os olhos se encherão

com lágrimas, confissões do pecado, e choros

pelo perdão, lhe mostrarão que você não tem

falado em vão.

Além disso, queridos amigos, se nós formos e pregarmos aos homens a salvação pelas obras,

nós estamos pregando a eles um caminho de

salvação de todo impossível por causa da

perfeição que é exigida pela lei. Quais são os bons trabalhos que podem merecer o céu?

Quais são os bons trabalhos que podem

assegurar a vida eterna? Estes não são as coisas

fáceis que alguns parecem imaginar. Devem ser perfeitamente puros, contínuos, e imaculados.

"A lei do senhor é perfeita.". Ela condena um

pensamento, e mesmo um olhar de relance,

como um ato de criminalidade. "Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura,

no coração já adulterou com ela.”. A lei de Deus

em dez mandamentos significa que muito mais

Page 96: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

96

do que as palavras reveladas implicaria: ela trata

com toda a extensão da escala moral, motivos e

pensamentos. Não pense que sua aplicação

inclui somente atos externos: inclui os externos, mas, também a intenção, os dez mandamentos

são espirituais, eles vão direto ao coração, e

procuram as partes internas do espírito. Quanto mais um homem compreende a lei, mais ele se

sente condenado por ela, e menos ele

acalentará o pensamento de que ele, como ele é,

será capaz de guardá-la intacta para sempre. Com mãos sujas como as nossas, como

podemos fazer o trabalho limpo? Com os

corações tão corrompidos, como podemos ser

"incorruptíveis no caminho"? A natureza não se levanta mais alto do que sua fonte, e aquilo que

sai do coração não será melhor do que o

coração, e aquilo que sai é "enganador mais do

que todas as coisas e desesperadamente corrupto.".

A lei de Deus é una; e se você a quebra em algum ponto, você a quebra completamente. Se, em

uma corrente de cem elos, noventa e nove

forem perfeitos; contudo se uma única ligação, em qualquer lugar na corrente, for demasiado

fraca para o peso que ela sustenta, a carga cairá

à terra completamente. Uma ruptura da lei

perfeita de Deus envolve transgressão contra toda ela. A salvação por obras deve ser

absolutamente perfeita, continuamente

perfeita obediência, no pensamento, na

Page 97: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

97

palavra, e na ação; e essa obediência deve ser

realizada alegremente, e vinda do fundo do

coração, porque este é o sentido do primeiro

mandamento – “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma, e com

toda a tua força.”. Você pode guardar isto

perfeitamente? Homem vanglorioso, você pode com sua força moral atender exigência tão

grande, e ser assim tão justo? Você tem provado

a si mesmo à altura da tarefa? Aqui está a

ordenança do segundo mandamento. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”. Você tem

sempre tentado fazer isto – amar seu vizinho

como ama a si mesmo? Você tem sido um pouco

gentil e algumas vezes generoso, mas o padrão aceitável é que você ame seus vizinhos como a si

mesmo – você tem sempre cumprido isto? Tem

sua caridade sido igual ao seu amor próprio? Eu

não creio que isto tenha sido sempre cumprido pela metade. Agora, "as coisas que a lei diz, ela o

diz para os que estão sob a lei” e se é dito tudo

isso a você, e você não pode responder a tais

exigências, como pode esperar que viverá por meio disto? Quando o homem falha em guardar

a lei, ela o condena; e o pune – em outra palavras,

o amaldiçoa – faz recair sobre ele justamente a

sua dívida. Quem está sob a lei está sob maldição. Tudo o que a lei tem a dizer a você é –

“tens me quebrado; e deves morrer por causa

disto”. Leia as maldições escritas no livro de

Deuteronômio, e lembre que todas estas estão pronunciadas sobre sua cabeça.

Page 98: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

98

"olhe as chamas que Moisés viu, e encolha-se, trema e se desespere."

Se nós pregamos a salvação pelas obras, nós levaremos as mentes dos homens para longe do

senso da sua grande necessidade. Aqui está uma pessoa que tem uma doença terrível.

Ele pode ser curado. O bisturi deve ser usado;

mas se, eu renunciar às regras da limpeza e da higiene geral, eu posso fazer-lhe alguma sorte

de bem; mas entrementes ele negligenciará o

mal principal, e sua doença se espalhará, e

tornar-se-á fatal. O que eu deveria fazer, se eu for um cirurgião? Não devo imprimir-lhe,

primeiro, a convicção de que uma operação

séria é requerida, e que deve ser submetido a

ela? Todo o restante será ajustado o suficiente, e mesmo necessário, no tempo devido; mas eu

não devo fazer nada que afaste sua mente do

grande mal que está destruindo sua vida. Ao

pecador deve ser dito que ele deve nascer de novo, que sua natureza é corrupta, que tal

natureza corrompida deve ser destruída, que a

nova natureza deve ser criada nele: para isto sua

mente deve ser renovada. Ele deve ser feito “uma nova criatura” em Cristo Jesus; e se eu o

mover à ação eterna, com vistas à sua salvação

por meio disto, eu estarei levando seus

pensamentos para longe do interior do mal do pecado, que é a real essência do assunto. Oh,

senhores, se vocês têm cometido uma ofensa

contra o governo do seu país, e se forem achados

Page 99: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

99

culpados, e condenados à morte, minha

primeira ação em seu favor seria pedir perdão

para vocês ao rei. Eu posso entrar na sua cela e

dizer que eu lhe vestiria com trajes finos; lhe recomendaria ler tais e tais livros, ou aprender

determinada ciência; e tudo isto pode ser muito

bom, mas a primeira coisa que você necessita é ter a sentença de morte anulada.

Eu exortarei vocês, meus caros ouvintes, a fazer tudo o que é honesto, e correto, e bom; mas há

algo mais necessário do que isto. Vocês necessitam ser limpos de seus pecados pelo

precioso sangue de Cristo. Vocês necessitam ser

renovados em seus corações pelo Espírito

Santo, e vocês devem voltar seus pensamentos para estas coisas. Vocês primeiramente

necessitam sobretudo do Senhor Jesus. Olhem

para Ele, eu lhes peço. Eu não ouso exortá-los

para este ou aquele trabalho, a fim de que eu não distraia suas mentes da necessidade que

vocês têm de Cristo.

A pregação da justificação legal não tem nenhum poder sobre os homens. As congregações assim instruídas são geralmente

descuidadas, mundanas, e devotadas às

diversões carnais. Aqueles que ouvem sobre

trabalhos sentem como se eles agora tivessem feito o bastante, e que não necessitariam

praticá-los. Não há nada em tal doutrina para

despertar a ansiedade, ou mover o desejo, ou

Page 100: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

100

agitar as profundezas da alma. Não tem nada

divino nela, nada sobrenatural, nada que possa

realmente levantar o caído, encorajar o fraco, ou

inspirar os santos. Sem unção, vida, ou fogo, um ministério legal é uma mera mísera canção de

lamento de homens, ou o assentamento de um

curso de ações vivas para encher túmulos com cadáveres.

Este ponto nós conhecemos de fato, e consequentemente não repetiremos a

experiência.

Eu estou receoso que, se nós começarmos a pregar a salvação pelas obras, nós

encorajaremos o orgulho em alguns, e

criaremos o desespero em outros. Muitos pensariam que eles tinham agido muito bem,

comparando-se com outras pessoas; e estariam,

por conseguinte, embalando a si mesmos numa esperança falsa. Mas, outros, sabendo que eles

não tinham agido bem, ao se compararem com

outras pessoas, pensariam que não haveria

esperança para eles, e assim entrariam em desespero. Para qual finalidade prática isto

poderia servir – para tornar alguns mais

orgulhosos, e outros mais enfraquecidos,

através da influência do desespero sobre eles?

Mas o fato verdadeiramente mau é, que isto os afastaria de Jesus. Nosso assunto, meus irmãos,

é o de manter Jesus elevado, como convém. Para

Page 101: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

101

que finalidade ele morreu, se os homens

poderiam ser salvos pelos seus próprios

trabalhos? Seria supérfluo que ele fosse

pregado na cruz se nossos próprios méritos podem abrir o caminho da salvação. Como

poderia o grande Deus permitir e mesmo

ordenar uma tal morte se nós poderíamos ser salvos pelos nossos próprios méritos? Por que

aquele derramar de sangue? Por que aqueles

pregos nas mãos e nos pés? Por que aquele, “Eli,

Eli, lama sabachthani?” se por vocês mesmos podem ser salvos? Mas não é assim. Você não

pode ser salvo por seus próprios esforços, e por

conseguinte nós temos que vir a você,

apontando-lhe somente esta única coisa – que você deve ser salvo pela fé nEle a quem Deus

tem proposto como propiciação pelo pecado.

Você necessita do amor de Deus; você necessita

do poder do Espírito Santo; você necessita ser ressuscitado em novidade de vida; você

necessita ser ajudado na sua corrida nos

caminhos da justiça: numa palavra, você

necessita de tudo até que você venha a Cristo, e tudo o que você deseja você achará nele, e nele

somente.

No interior de vocês mesmos nada há do que vocês precisam. Vocês podem procurar, e olhar,

e retornar ao estrume de suas naturezas de novo e de novo, mas vocês nunca acharão a joia da

salvação lá. Esta pérola de grande valor está no

Senhor Jesus que assumiu a natureza humana, e

Page 102: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

102

viveu, amou e morreu, e ressurgiu dos mortos,

somente ele pode redimir os homens da queda

e do pecado consequente disto. Oh, que vocês

venham a olhar para longe de si mesmos de uma vez para sempre! Deus proíbe que o pregador

sempre apresente algo a mais diante de vocês

exceto o Salvador crucificado, como Moisés levantou a serpente no deserto, convidando os

homens a olharem e viverem.

Falar aos incrédulos sobre a possibilidade da salvação pelas suas próprias obras os manteria

afastados da vida eterna. Tudo o que a vida natural pode fazer nunca será suficiente para

produzir a natureza mais elevada. Deixe o

natural esforçar-se o mais que possa, e isto

nunca o conduzirá ao que é espiritual. O melhor trabalho de um cavalo não pode transformá-lo

num homem: o melhor incrédulo não pode por

si mesmo transformar-se num regenerado.

Deve haver um novo nascimento; e que vem pela fé, e não por obras. Crer em Jesus é entrar

pela porta da nova vida, e não há outra porta. Se

nós, de alguma maneira, induzirmos você a

procurar por um outro caminho, nós faremos com que você perca a única entrada, e isto fará

com que você perca a sua alma eternamente.

Como nós tememos isto, mais e mais estamos

decididos a manter levantada a cruz, e a cruz somente, e repetidas vezes nós clamamos, “Crê

no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.”. Deus

proíbe que, por nossas explanações da virtude,

Page 103: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

103

ou “do entusiasmo da humanidade”, nós

venhamos a distrair você do Senhor Jesus, que

pode dar-lhe descanso, vida e santidade ! Nós

desejamos que você traga todos os seus pensamentos, todos eles, ao Calvário, à

maravilhosa Pessoa, cujas feridas na cruz curam

as feridas do pecado, e cuja morte é para os crentes a morte do grande poder do mal que

uma vez os manteve aprisionados no cativeiro.

II. Mas agora nós vamos à segunda parte também importante do assunto, a saber, A CAMINHADA DA SALVAÇÃO. Aqueles que têm

crido em Cristo, e têm sido os sujeitos do

trabalho do Espírito, são agora “criados em

Cristo Jesus, para boas obras, as quais Deus de antemão ordenou para que andássemos nelas.”.

Deus deseja que seu povo abunde em boas

obras. É seu grande objetivo produzir um povo

que tenha comunhão com Ele: um povo santo, com quem ele possa ter companhia agora e na

eternidade. Ele deseja que nós não somente

produzamos boas obras, mas que abundemos

nelas; e para abundar na mais alta espécie delas. Ele intenta transformar-nos em seus imitadores

como filhos amados, possuindo os mesmos

atributos morais como o Pai os possui no céu.

Isto não está escrito: “sede perfeitos assim como perfeito é o vosso Pai que está nos céus”?

Observe no texto, primeiro, que há uma nova criação. Um dos poetas disse “um homem

Page 104: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

104

honesto é o trabalho mais nobre de Deus.”. Isso

não é verdadeiro, a menos que nós possamos

colocar depois da palavra “honesto” um sentido

enfático espiritual. O crente, entretanto, é o trabalho mais nobre de Deus. É o produto da

segunda criação. Na primeira o homem caiu, e

estragou o trabalho do seu Criador; mas, na nova criação, Aquele que fez todas as coisas faz-

nos de novo. Agora, o objetivo da nova criação de

nossa raça é a santidade até a glória de Deus

Você não é feito nova criatura na imagem do caído Adão, mas na semelhança do segundo

Adão.

Você não é nova criatura para pecar - isto não pode ser imaginado. A nova criatura não vive

pecando porque é nascida de Deus. A nova vida é a viva e incorruptível semente, que vive e

obedece para sempre. A antiga natureza peca, e

sempre pecará; mas a nova vida é de Deus, e luta

diariamente contra o pecado da velha natureza, e persevera, e dirige-se para tudo o que é santo,

reto e perfeito. Ela busca instintivamente a

perfeita santidade. A antiga natureza não tem

prazer em orar; mas a nova natureza ora com prazer. A velha natureza murmura, mas a nova

natureza canta louvores a Deus com o impulso

que vem do seu interior. A velha natureza segue

após a carne, porque é carnal; mas a nova natureza procura as coisas do Espírito, porque é

espiritual. Se você tiver nascido de novo, você

terá nascido dentro da santidade. Se você foi

Page 105: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

105

feito nova criatura, você foi criado dentro das

boas obras. Se isto não ocorreu conosco nossa

religião é uma mera pretensão.

Esta nova criação é em ligação com Cristo, porque nós lemos no texto, "criados em Cristo

Jesus.". Nós somos os ramos; Ele é a Videira na

qual nós crescemos. Sua vida, e toda sua produção de frutos repousa na união a Cristo.

Você não é meramente nova criação, mas você é

criado em Cristo Jesus. Isto não é meramente

uma mudança de uma natureza mais baixa a uma mais elevada, mas da separação de Cristo à

união com ele. Que coisa maravilhosa que é -

que você e eu não sejamos somente criaturas no

mundo, mas novas criaturas em Cristo Jesus ! Nós formos criados no primeiro Adão, mas

nossa nova criação é no segundo Adão. Amados,

se vocês forem o que vocês professam ser, vocês

são um com Jesus por meio dessa união vital que não pode ser dissolvida; e as boas obras seguem

essa união. Unidos a Jesus pela fé nele, no amor

a ele, e na imitação dele, você anda em boas

obras. Sua criação em santidade é sua criação em Cristo Jesus. Como você veio a ser um com o

seu ungido Salvador, ele ordena unção sobre

você para o seu serviço, e sua salvação é

conduzida em obediência. Não pode haver frutos nos ramos que estão vitalmente ligados a

esse tronco frutífero, Jesus Cristo, que não

sejam sempre para a satisfação do Pai.

Page 106: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

106

Nossas boas obras devem derivar de nossa união com Cristo pela virtude da nossa fé nele. Nós

dependemos dele para fazer-nos santos. Nós

dependemos dele para guardar-nos na santidade. Nós superamos o pecado pelos

sangue do Cordeiro. Nós alcançamos a

santidade pelo amor de Jesus que nos constrange. O amor a Cristo é a causa

impelidora de lançar fora, primeiro um mal, e

depois outro, e a energia que nos capacita a

seguir após uma virtude, e depois outra. O amor a Cristo queima como fogo no peito que o tem

abrigado; e enquanto queima, faz o coração

arder, e vir a ser transformado em Sua própria

natureza. Você tem visto um pedaço de ferro no fogo, todo preto ou enferrujado, e no fogo ele vai

se tornando gradualmente vermelho com o

calor; e, enquanto vai ficando avermelhado, joga

fora a oxidação, até que ao final quando olhamos para ele parece uma massa de fogo. O efeito do

amor de Deus, derramado no coração pelo

Espírito Santo, é para queimar a ferrugem do

pecado e depravação, e nós ganhamos puro amor a Deus através da força do amor de

Deus, que toma posse do nosso ser.

Além disso, esse amor move-nos para a imitação paciente de Cristo. Você sabe o que isso

significa? "a imitação de Cristo" é um livro maravilhoso sobre o assunto, que cada cristão

deve ler. Tem suas falhas, mas suas excelências

são muitas. Nós podemos não somente ler o

Page 107: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

107

livro, mas escrevê-lo de novo em nossa própria

vida e caráter procurando em tudo ser como

Jesus! É uma coisa boa colocar em sua casa a

pergunta, "o que Jesus faria?". Isto responde a nove em cada dez das dificuldades do casuísmo

moral. Quando você não sabe o que fazer, e a lei

não parece muito explícita sobre o ponto em questão, faça isto – “O que faria Jesus?”. Aqui,

então, está o caso: por sua criação em Cristo

você vem exibir a fé nele, no amor, e na imitação

dele; e tudo isto são os meios pelos quais as boas obras são produzidas em você. Você é " criado

em Cristo Jesus, para as boas obras.".

Repare que esta criação para as boas obras é o objeto de um decreto divino: “as quais Deus de

antemão ordenou para que andássemos nelas”. Isto é um decreto de Deus. Eu sou ordenado à

vida eterna? Responda a outra pergunta: “Eu

sou ordenado a caminhar em boas obras?”. Se

eu estou ordenado a boas obras, então eu devo caminhar nelas, e o decreto de Deus é

manifestamente transmitido a mim. Mas se eu

fizer a profissão de ser um crente, estando

presente num local de adoração, e louvar a mim mesmo pela minha salvação, enquanto eu estou

vivendo em pecado, então evidentemente não

há decreto que eu andarei em boas obras,

porque eu estou vivendo de uma maneira diferente da que esse decreto faria com que eu

vivesse. Oh amados, é propósito eterno de Deus

fazer com que seu povo viva santamente !

Page 108: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

108

Concorde com este propósito, com a liberdade

da vontade renovada, e com a alegria do seu

coração regenerado ! Concorde com a vontade

de Deus. Deseje verdadeira, veementemente, com todo o coração, a perfeita santidade no

temor de Deus. Então você pode, no meio da

severa luta contra a tentação dentro e fora de você, voltar a recorrer ao decreto da

predestinação. Desde que isto é um decreto de

Deus, que, fôssemos novas criaturas em Cristo,

eu seria cheio de boas obras, apesar da minha velha natureza, apesar da minha fraqueza

espiritual. O decreto, da nova criatura de Deus,

será cumprido a despeito das minhas

circunstâncias, a despeito das tentações e da oposição do diabo. Deus tinha ordenado antes

que nós andaríamos em boas obras; e nós

andaremos nelas sustentados pelos Espírito

Santo.

Assim, então, caros amigos, estas boas obras devem estar nos crentes, mas devem ser em

Cristo. Elas não são a raiz, mas o fruto da sua

salvação. Elas não são o caminho da salvação dos

crentes; elas são sua caminhada no caminho da salvação. Onde há uma vida saudável em uma

árvore, a árvore dará frutos segundo a sua

espécie; assim, se Deus tem feito boa a nossa

natureza, o fruto será bom. Mas se o fruto for mal, isto é porque a árvore é o que sempre foi –

uma má árvore. O desejo dos homens criados de

novo em Cristo é o de serem livrados de cada

Page 109: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

109

pecado. Nós pecamos, mas nós não amamos o

pecado. O pecado algumas vezes ganha poder

sobre nós, para nossa tristeza, mas isto é uma

espécie de morte para nós por sentirmos que temos pecado; contudo não terá domínio sobre

nós, porque nós não estamos sob a lei, mas sob a

graça; e consequentemente nós conquistá-lo-emos, e alcançaremos a vitória.

O resultado de nossa união com Cristo deve ser santidade. "Qual a união de Cristo com

Belial?”; que união pode ele ter com homens

que amam o pecado? Como podem aqueles que são do mundo, que amam o mundo, dizerem-se

membros da Cabeça que está no céu, na

perfeição da sua glória? Irmãos, nós devemos,

no poder do texto, e especialmente no poder de nossa união com Cristo, buscar fazer progressos

diariamente em boas obras, que Deus de

antemão tem ordenado para que nós

andássemos nelas; porque caminhando deste modo não somente perseveraremos, mas

também avançaremos. Nós iremos de força em

força em santidade: nós deveríamos fazer mais,

e melhor. O que vocês estão fazendo para Jesus? Faça duas vezes mais. Se vocês estiverem

divulgando às nações o conhecimento do Seu

nome, trabalhem com ambas as mãos. Se você

estiver vivendo retamente, busque lançar fora alguns pecados antigos que estão ligados ao seu

caráter, para que você possa glorificar o nome

de Deus ao máximo.

Page 110: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

110

E, finalmente, isto deveria ser o nosso exercício diário: - "para que andássemos nelas.”. As boas

obras não são uma diversão, mas uma vocação.

Nós não devemos desejá-las ocasionalmente: elas devem ser a maneira e a inclinação de nossas vidas. “Oh,” alguém disse, “isto é uma

palavra dura”. Você diz isto? Bem, então, estes

indicadores, estão colocados claramente na

primeira parte do meu assunto. Você observa como é impossível que você seja salvo por essas

boas obras. Mas se você for salvo – se você tiver

obtido a salvação presentemente, se você é

agora um filho de Deus, se você está agora com a sua segurança garantida, eu o concito, pelo

amor que você alcançou em Deus, pela gratidão

que você tem a Cristo, dê-se totalmente a tudo o

que é correto, e bom, e puro, e justo. Ajude tudo o que tiver que fazer com temperança, justiça,

verdade e fidelidade; e “deixe sua luz brilhar

diante dos homens, para que eles possam ver

suas boas obras, e glorificarem ao seu Pai que está nos céus.”. Possa o Espírito de Deus selar

este sermão sobre os corações do seu povo, por

causa de Cristo ! Amém.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

Page 111: As obras que agradam a Deus, ou as boas obras da fé

“Todos os vossos atos sejam feitos com

amor.” (1 Cor 16.14)

Importa que todos os nossos deveres sejam

executados com amor, porque Deus assim o

exige, uma vez que Ele é amor e nos criou para o amor.

O cristão descuidado pensa que as obras que ele faz são o suficiente para agradar a Deus. Todavia,

caso nossas obras não sejam feitas por amor a

Deus, mediante nossas naturezas transformadas pelo Seu poder, elas serão de

nenhum valor para ele.

Deus requer de fato nossas boas obras, mas estas não podem ser assim chamadas se não

forem realizadas com o seu amor, que é derramado em nossos corações pelo Espírito

Santo.