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Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues

Comentario biblico broadman volume 12

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  1. 1. Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues
  2. 2. Volume 12 ComentrioBblicoBroadman Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues
  3. 3. Comentrio Bblico Broadman Volume 12 Hebreus -Apocalipse TRADUO DE ADIEL ALMEIDA DE OLIVEIRA 2? Edio
  4. 4. Todos os direitos reservados. Copyright (c) 1969 da Broadman Press. Copyright 0 1 9 8 3 da JUERP, para a lngua portuguesa, com permisso da Broadman Press. O texto bblico, nesta publicao, da Verso da Imprensa Bblica Brasileira, baseada na traduo em portugus de Joo Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em hebraico e grego. 220.7 Ail-Com Allen, .Clifton J., ed. ger. Comentrio Bblico Broadman: Novo Testamento. Editor Geral: Clifton J. Allen. Traduo de Adiei Almeida de Oliveira. 2. ed. Rio de Janeiro, Junta de Educao Religiosa e Publicaes, 1987. Vol. 12. Titulo original: The Broadman Bible Commentary 1. Bblia Novo Testamento Comentrios. 2. Novo Testamento Comentrios. I. Ttulo. 3.000/1987 Cdigo para Pedidos: 21.635 Junta de Educao Religiosa e Publicaes da Conveno Batista Brasileira Caixa Postal 320 CEP: 20001 Rua Silva Vale, 781 CEP: 21370 Rio de Janeiro, RJ, Brasil Impresso em grficas prprias
  5. 5. COMENTRIO BlBLICO BROADMAN Volume 12 Junta Editorial EDITOR GERAL Clifton I. Allen, Ex-Secretrio Editorial da Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. Editores Consultores do Velho Testamento John I. Durham, Professor Associado de Interpretao do Velho Testamen to e Administrador Adjunto do Presidente do Seminrio Batista do Sudoes te, Wake Forest, North Carolina, Estados Unidos. Roy L. Honeycutt Jr., Professor de Velho Testamento e Hebraico, Semin rio Batista do Centro-Oeste, Kansas City, Missouri, Estados Unidos. Editores Consultores do Novo Testamento J. W. MacGorman, Professor de Novo Testamento, Seminrio Batista do Sudoeste, Forth Worth, Texas, Estados Unidos. Frank Stagg, Professor de Novo Testamento da James Buchanan Harrison, Seminrio Batista do Sul, Louisville, Kentucky, Estados Unidos. CONSULTORES EDITORIAIS Howard P. Colson, Secretrio Editorial, Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. William J. Fallis, Editor Chefe de Publicaes Gerais da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. Joseph F. Green, Editor de Livros de Estudo Bblico da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
  6. 6. Prefcio O COMENTRIO BBLICO BROADMAN apresenta um estudo bblico atualizado, dentro do contexto de uma f robusta na autoridade, adequao e confiabilidade da Bblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e orientao para o crente que est disposto a empreender o estudo da Bblia como um alvo srio e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e propsito do COMENTRIO, para produzir uma obra adequada s necessidades do estudo bblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudio bblica so apresentadas de forma que os leitores sem instruo teolgica formal possam us-las em seu estudo da Bblia. As notas de rodap e palavras so limitadas s informaes essenciais. Os escritores foram cuidadosamente selecionados, tomando-se em considerao sua reverente f crist e seu conhecimento da verdade bblica. Tendo em mente as necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informaes especiais acerca da linguagem e da histria onde elas possam ajudar a esclarecer o significado do texto. Eles enfrentam os problemas bblicos no apenas quanto linguagem, mas quanto doutrina e tica porm evitam sutilezas que tenham pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bblia. Eles expressam os seus pontos de vista e convices pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opinies alternativas, quando estas so esposadas por outros srios e bem-informados estudantes da Bblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, no podem ser considerados como a posio oficial do editor. O COMENTRIO resultado de muitos anos de planejamento e preparao. A Broadman Press comeou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, lderes cristos especialmente pastores e professores de seminrios se reuniram, para considerar se um novo comentrio era necessrio e que forma deveria ter. Como resultado dessas deliberaes, em 1961, a junta de consultores que dirige a Editora autorizou a publicao de um comentrio em vrios volumes. Maiores planejamentos levaram, em 1966, escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de pastores, professores e lderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966, revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendaes, que foram cumpridas medida que o COMENTRIO se foi desenvolvendo. No comeo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direo do editor geral, esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar o COMENTRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos
  7. 7. escritores e na avaliao dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e esforos, fazendo por merecer a mais alta estima e gratido da parte dos funcionrios da Editora que trabalharam com eles. A escolha da Verso da Imprensa Bblica Brasileira de acordo com os melhores textos em hebraico e grego como a Bblia-texto para o COMENTRIO foi feita obviamente. Surgiu da considerao cuidadosa de possveis alternativas, que foram plenamente discutidas pelos responsveis pelo Departamento de Publica es Gerais da Junta de Educao Religiosa e Publicaes. Dada a fidelidade do texto aos originais bem assim traduo de Almeida, amplamente difundida e amada entre os evanglicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza assim o exigiu, foram mantidas as tradues alternativas sugeridas pelos prprios autores dos comentrios. Atravs de todo o COMENTRIO, o tratamento do texto bblico procura estabelecer uma combinao equilibrada de exegese e exposio, reconhecendo abertamente que a natureza dos vrios livros e o espao destinado a cada um deles modificar adequadamente a aplicao desta abordagem. Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 tm o objetivo de prover material subsidirio, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da Bblia. Focalizam-se nas implicaes do ensino bblico com as reas de adorao, dever tico e misses mundiais d igreja. O COMENTRIO evita padres teolgicos contemporneos e teorias mutveis. Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos ho mens, a sua revelao em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propsito para a redeno do mundo. Procura relacionar a palavra de Deus na Escritura e na Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no mundo de Deus. Mediante fiel interpretao da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o COMENTRIO procura refletir a inseparvel relao da verdade com a vida, do significado com a experincia. O seu objetivo respirar a atmosfera de relao com a vida. Procura expressar a relao dinmica entre a verdade redentora e pessoas vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouviro com maior clareza o que Deus Pai est-lhes dizendo.
  8. 8. Sumrio Hebreus Charles A. Trentham Introduo.................................................................................................. 11 Comentrio sobre o T exto........................................................................ 26 Tiago Harold S. Songer Introduo.................................................................................................. 121 Comentrio sobre o Texto ........................................................................ 128 I Pedro Ray Summers Introduo.............................................. '.................................................. 167 Comentrio sobre o Texto ........................................................................ 176 II Pedro Ray Summers Introduo...................................... ............................................................ 203 Comentrio sobre o Texto ........................................................................ 206 I-n-ni Joo Edward A. McDowell Introduo.................................................................................................. 223 Comentrio sobre I Joo............................................................................ 230 Comentrio sobre II Joo.......................................................................... 264 Comentrio sobre III Jo o .......... .............................................................. 268 JUDAS Ray Summers Introduo.................................................................................................. 273 Comentrio sobre o Texto ........................................................................ 276 Apocalipse Morris Ashcraft Introduo.......................................................................................... .. 283 Comentrio sobre o Texto ........................................................................ 302 Artigos Gerais Adorao na Bblia Charles A. Trentham tica na Bblia William M. Pinson, Jr. A Misso do Povo de Deus E. Luther Gopeland
  9. 9. Hebreus CHARLES A. TRENTHAM Introduo Se voc perguntar por que algum tentaria acrescentar algo ao j volumoso trabalho de pesquisa a respeito do livro de Hebreus, seria suficiente responder que a publicao, em 1965, do novo material a respeito de Melquisedeque, derivado dos Rolos do Mar Morto, rea vivou o interesse da comunidade crist em examinar novamente o livro de He breus. Propiciou tambm alguns ind cios para se identificar as pessoas a quem este documento foi originalmente dirigi do. James A. Sanders, Professor de Ve lho Testamento no Union Theological Seminary, em Auburn, agora cr que eram pessoas que tinham alguma afini dade com a seita dos essnios, que ha viam-se refugiado na comunidade de Qumran. Porm, os eruditos esto divi didos com respeito importncia do material proveniente de Qumran, em re lao a Hebreus. Feine-Behm-Kmmel assim resume a situao: Alm do mais, certos estudiosos, em anos recen tes, e de vrias maneiras, tm tentado estabelecer 0 fato de que o mundo intelectual de Qumran influenciou Hebreus (Schnackenburg, Betz), ou pelo menos que Hebreus um apelo para ex- membros da seita dos essnios residentes em Qumran, cujas tendncias eram similares s do autor (Kosmala, Yadin). Coppens, por outro lado, demonstrou, convincentemente, que no so apa rentes os paralelos entre Hebreus e o mundo intelec tual de Qumran; pelo contrrio, a linguagem carac terstica de Qumran no tem analogia em Hebreus. 1 No entanto, este documento assume uma nova e enorme vitalidade, quando 1 Feine-Behm-Kmmel: Introduction to the New Testa* ment(Nashville: Abingdon Press, 1966). pp. 278. considerado como sendo dirigido, pelo menos em parte, aos convertidos, dentre os essnios, nova comunidade crist, e que ainda estavam se apegando tenaz mente s doutrinas essnias, recusando- se a avanar para uma f crist madura. Logo que foram descobertos os Rolos do Mar Morto, o pulso de muitos erudi tos se acelerou, quando eles se defron taram com a possibilidade de abrir mo de muitos dos preciosos pressupostos que tm sido integrantes de nossa crena tradicional. A pessoa que ousasse entrar nas trevas agourentas das cavernas de Qumran, com sua vela tremeluzente mo, fazia-o com grande agitao. Sabia que os ventos da verdade podiam soprar a sua vela, fazendo com que reiniciasse o trabalho com dados que eram at ento desconhecidos pelos melhores eruditos, e por isso requeriam uma reinterpretao da f crist a partir de manuscritos mais antigos e mais dignos de confiana, e de materiais que fazem descries muito mais claras das circunstncias em que os primeiros arautos de Cristo fizeram soar a sua mensagem. Esta considerao particularmente pertinente ao estudo de Hebreus, visto que grande parte do que tem sido dito a respeito deste documento, no passado, to negativo e baseado em conjecturas que ele continua sendo o livro mais enig mtico do Novo Testamento. A sua longa batalha para obter um lugar no cnon do Novo Testamento , por si mesma, to intrigante quanto a recomendao do seu
  10. 10. estudo para o srio estudante das ori gens crists. Ao tratar dos assuntos introdutrios principais, estaremos perguntando que forma teve originalmente este manuscri to: Era uma carta, um sermo, ou am bos? Podemos dizer algo com certeza a respeito de quem o escreveu? Podemos atribuir uma data em que ele foi escrito? A quem foi dirigido, e por que motivo foi escrito? I. Carta ou Sermo? Aquilo que hoje chamamos de Epstola aos Hebreus pode ter sido o primeiro sermo cristo registrado em nosso Novo Testamento. Alguns eruditos fazem ob- jees a este ponto de vista, dizendo que nenhum sermo poderia apresentar uma teologia to envolvente nem poderia es perar-se que alguma congregao assimi lasse um pensamento to profundo e intrincado de uma s vez. verdade que este discurso tem pouca semelhana com as homlias breves, monotemticas e agu das dos nossos dias. No entanto, a prega o nos plpitos dos perodos da Refor ma e do movimento Puritano tem seme lhana com Hebreus, tanto na riqueza de contedo quanto na extenso da compo sio. Ao mesmo tempo, no pode ser negado que, como argumenta Dinkler, Hebreus pode ser uma combinao de vrios sermes coligidos e combinados pelo autor deste volume.2 A continuidade lindamente equilibra da desta discusso argumenta, entretan to, em favor da unidade da obra em questo. O autor chama a sua obra de palavra de exortao (13:22), e no prprio documento no h nada que indique que ele uma carta, at a sau dao pessoal deste versculo. A palavra carta no aparece no manuscrito. A traduo Vos escrevi uma carta (13: 22, KJV) fica melhor simplesmente como vos escrevi . 2 E. Dinkler: Letter to the Hebrews", IDB, Vol. E-J (Nashville: Abingdon Press, 1969), p. 572. Hebreus no comea como carta. Ini cia-se abruptamente, com dois advrbios retumbantes. possvel que o primeiro pargrafo tenha sido gasto, mediante o uso, no manuscrito original. Pode at ser que tenha sido removido deliberadamen te. Por exemplo, Harnack argumentava que bem provvel que, se uma mulher o escreveu, o primeiro pargrafo foi apa gado ou retirado, por causa do baixo conceito em que eram tidas as mulheres naquela poca. De qualquer forma, Hebreus soa como um sermo. Note como o escritor se refere repetidamente ao ato de falar: Porque no foi aos anjos que Deus su jeitou o mundo vindouro, de que fala mos (2:5). Mas de vs, amados, esperamos coisas melhores, e que acom panham a salvao, ainda que assim falamos (6:9). E que mais direi? (11:32). O longo debate a respeito de se a obra em questo uma carta ou um sermo pode ser resolvido com a concluso pos svel de que ela era, a princpio, um ser mo a uma congregao em particular, de cristos palestinos, tendo sido mais tarde enviada como carta para a igreja em Roma. Se a aceitarmos como sermo, teremos um opulento vislumbre do elevado mrito literrio de parte da pregao crist pri mitiva, pois trata-se de uma obra-prima de prosa crist do primeiro sculo. Con tm o grego mais puro e mais belo do Novo Testamento. As cadncias rtmicas e as maravilhosas erupes de pura elo qncia tm ganho, para o autor, o t tulo de O Isaas do Novo Testamento. Edmund Gosse, distinto literato in gls, escreveu a respeito do impacto que a leitura de Hebreus, feita por seu pai, causou em sua mente sensvel e jovem, quando ele era criana (citado por James Moffatt, p. xxx). A extraordinria beleza da linguagem por exemplo, as cadncias e as imagens incomparveis do primeiro captulo causaram uma impresso sobre minha imaginao, e foram (penso eu) a
  11. 11. minha primeira iniciao na mgica da literatura. Eu era incapaz de definir o que sentia, mas certa mente eu sentia um n na garganta, que era, em sua essncia, uma emoo puramente esttica, quando o meu pai lia, com sua voz pura, grandiosa, retumbante, passagens como Os cus so obra de tuas mos; eles perecero, mas tu permaneces; e todos eles, como roupa, envelhecero, e qual um manto os enrolars, e como roupa se mudaro; mas tu s o mesmo, e os teus anos no acabaro. II. Autoria A pergunta seguinte relaciona-se com quem escreveu Hebreus. Os mais antigos manuscritos no mencionam um autor. Os primeiros sinais da carta aparecem na igreja ocidental, quando, em 95 d.C., Clemente de Roma escreveu igreja em Corinto e citou a passagem em Hebreus referente superioridade de Cristo, em comparao com os anjos. Embora Cle mente esteja escrevendo de Roma para Corinto, no d nenhuma indicao de que ela foi escrita por Paulo. Nos pri meiro, segundo e terceiro sculos, a igre ja ocidental no declarou que ela foi escrita por Paulo. Mas Clemente e Her- mas de Roma, escrevendo pouco antes e depois do fim do primeiro sculo, conhe ciam o livro em questo, tinham-no em elevada estima e citaram-no; porm no lhe deram um ttulo nem um autor. So mente no quarto sculo, Hilrio tomou- se o primeiro Pai da igreja ocidental a dizer que Paulo era o seu autor. Se a con gregao de Roma foi a primeira a rece- b-lo como carta, parece que essa igreja ocidental foi a primeira a reconhec-lo como de autoria paulina. A primeira reivindicao de autoria paulina veio da igreja oriental, de Pan- taenus de Alexandria, em 180 d.C. Al guns comentaristas diminuem o valor do testemunho de Pantaenus, dizendo que ele era demasiadamente zeloso pela igre ja oriental. Os alexandrinos eram bons cristos. Eles desejavam que uma carta de Paulo tivesse sido dirigida pessoal mente a eles. Quando Pedro escreveu s igrejas da Disperso, na sia Menor, para encoraj-las na fidelidade, em vista do retomo do Senhor, disse: O nosso amado irmo Paulo vos escreveu (II Pe dro 3:15). Pantaenus disse que Hebreus essa carta. Se Hebreus no essa carta, ento ela perdeu-se. Sabemos que algu mas das cartas de Paulo se perderam. Clemente de Alexandria, aluno de Pantaenus, escrevendo no comeo do terceiro sculo, contendia que Paulo es crevera este livro em hebraico, e que Lucas o havia traduzido para o grego, pois ele podia facilmente perceber que o grego deste autor era diferente do de Paulo.3Para sustentar o seu argumento, ele indicava a semelhana entre o grego de Hebreus e o do Evangelho de Lucas e do livro de Atos. Clemente explica que Paulo no mencionou o seu nome, no comeo da epstola, porque no queria suscitar de novo o antagonismo dos ju deus contra ele, visto que ele era conhe cido como o Apstolo aos Gentios. Como um todo, a igreja oriental acei tava Paulo como o autor desta carta, e ela foi recebida no seu cnon como tal. Ainda assim, precisa ser lembrado que a comunidade de Alexandria tinha as suas dvidas concernentes autoria de He breus. Dentre os que duvidavam estava Orgenes, homem de considervel estatu ra, que viveu em Alexandria entre 186 e 253 d.C. Ele escreveu: No foi sem razo que os antigos a passaram a ns como sendo de Paulo. '*Mas notou que o estilo no paulino. Disse que o mais provvel que a carta fora escrita por um discpulo desconhecido de Paulo. Orge nes o autor da concluso mais citada, que freqentemente mal interpretada, por ser tirada fora do contexto. Aqui est o que ele realmente disse: Se for para eu dar a minha opinio, devo dizer que os pensamentos so do apstolo, mas a dico e a fraseologia so de algum que se lembrava dos ensinos apostlicos e escreveu a seu bei prazer o que havia sido dito por seu mestre. Portanto, se alguma igreja sustentar que esta epstola de Paulo, que ela seja elogiada por isto. No foi sem razo que 3 Eusbio, Church Hlstory, VI. 14. 2,3 (veja IB, XI, 581). 4 Ibld., 13,14, p. 582.
  12. 12. os antigos a passaram a ns como sendo de Paulo. Porm, quem realmente escreveu esta epstola, Deus o sabe... A declarao de alguns que se foram antes de ns de que Clemente, bispo dos romanos, escreveu esta epstola, e de outros, que Lucas, autor do Evangelho e de Atos, a escreveu.5 significativo lembrar que, na igreja ocidental, a autoria paulina no foi acei ta antes do quarto sculo. Hebreus no mencionada no Fragmento Muratoriano (coleo dos livros do Novo Testamento feita por Muratori uma das primeiras colees de Escrituras) nem nas listas cannicas do tempo de Eusbio, que fez a obra mais notvel de crtica do Novo Testamento do perodo patrstico. Este pai da histria eclesistica diz que o livro era questionado em Roma, porque no fora escrito por Paulo. Irineu (130-200 d.C.) e Hiplito (150-222 d.C.) conhe ciam a carta, mas negavam que Paulo a tivesse escrito. Tertuliano, primeiro grande pai latino, a atribua a Barnab. Da metade do quarto sculo em dian te, o cnon ocidental assimilou o cnon oriental, e Hebreus foi includa. No en tanto, Agostinho admitiu que aceitava Hebreus como concesso opinio orien tal, e s no comeo do quinto sculo foi que um snodo oficial da igreja ocidental teve a coragem de falar das quatorze cartas de Paulo (sendo Hebreus a dci- ma-quarta). O desconforto a respeito desta obra ir rompeu de novo durante a Reforma. Erasmo, um dos lderes da Reforma, du vidava da obra em termos literrios. Di zia que Clemente de Roma a escrevera. A sua declarao se baseava nas palavras de Clemente I para a igreja em Corinto, que so idnticas a declaraes de He breus. Lutero duvidava da autoria paulina de Hebreus por razes doutrinrias, e foi o primeiro a sugerir que Apoio o rival amigvel de Paulo, e o homem eloqen te que era poderoso nas Escrituras era o seu autor. Este ponto de vista , hoje em dia, esposado por um erudito moder 5 Ibld , 13,14, p. 581 e 582. no no menos importante do que T. W. Manson. Calvino sugeriu que Lucas era no meramente o tradutor, mas o escri tor de Hebreus. As discusses teolgicas contra a auto ria paulina so bastante convincentes. H algumas semelhanas superficiais na cristologia dos dois escritores, isto , o escritor de Hebreus, seja ele quem for, e Paulo. A preexistncia de Cristo, a in tercesso de Cristo e a expiao e reden o atravs da morte podem dar azo a uma derivao paulina. A escatologia do escritor tambm muito semelhante de Paulo. Contudo, a principal preo cupao do escritor com o sacerdcio de Cristo. Nenhuma meno deste assun to feita nas cartas de Paulo que nos so conhecidas. A maior nfase de Paulo o Cristo ressurrecto. Hebreus 13:20 a nica referncia especfica ressurrei o em todo o documento. A doutrina da salvao tambm ex posta de maneira bem diferente. Em Glatas, Paulo contende que, pela morte de Cristo, fomos redimidos da maldio da lei; e em Romanos, ele enfatiza a redeno do poder da carne. Nenhuma destas idias encontrada em Hebreus. A forte nfase de Paulo da justificao pela f no aparece em Hebreus. Nesta carta, o objetivo do sacrifcio que pos samos nos aproximar de Deus (10:22). O conceito de f difere de modo mar cante. Em Paulo, f uma auto-entrega a Cristo, aos ps da cruz, no poder da ressurreio. Em Hebreus, f vista como uma convico da realidade do mundo invisvel e como corolrio da leal dade ao mundo invisvel, que se nos toma conhecido em Cristo. A ausncia das passagens em Cris to, passagens msticas que compem o mago do evangelho paulino, levou Mar- tinho Lutero a concluir que Hebreus 2:2, 3 no podia ter sido escrito pelo mesmo homem que escrevera Glatas 1:1,12. Calvino concordava com Lutero quanto a este aspecto.
  13. 13. A cuidadosa sintaxe do autor de He breus difere radicalmente da espontanei dade explosiva de Paulo. Paulo era como um riacho que desce a montanha aos borbotes, precipitando-se sobre as ro chas, sem ter tempo para uma sintaxe impermevel, ritmo ou insinuaes poli das. O estilo de Paulo era de extrema li berdade, em matria de estilo. quase impossvel, psicologicamente, que Paulo tenha escrito Hebreus. muito mais fcil dizer-se quem no escreveu Hebreus do que dizer qualquer coisa de certo a respeito de quem o fez. No entanto, h certas coisas que sabemos a respeito deste autor. Primeiramente, sabemos que era hebreu. Ele tinha um conhecimento profundo do judasmo e da histria judaica. Era um mestre da Mi- drash, a exegese das Escrituras Judaicas. O referido escritor era mais judaico do que Paulo, por um lado, e mais grego do que Paulo, por outro. Isto nos leva segunda coisa que sabemos a respeito dele. Ele era um judeu helenista. A sua afinidade com Filo, que sintetizara a re velao de Deus a Moiss com a filosofia grega, deixa-se entrever freqentemente. A sua afinidade com a doutrina plat nica de dois mundos, que o leva a ver este mundo como um reflexo nebuloso do mundo superior, real, evidncia deste fato. Alm deste ponto, no podemos prosseguir. A sugesto de Apoio como o escritor tem seus pontos fortes. Contudo, muito difcil entender por que nin gum, antes de Lutero, parece ter suge rido esta possibilidade. Tertuliano escreveu: Pois ainda existe um livro escrito por Barnab, aos he breus. 6 E ento ele passa a citar He breus (cap. 6) a respeito da impossibili dade de um segundo arrependimento. Tertuliano diz que havia uma tradio unificada, concernente autoria deste livro por Barnab. Sabemos que este era um levita, o que se enquadraria bem com o profundo conhecimento do escri 6 Ibid., p. 582. tor acerca da adorao levtica. Barnab era de Chipre, ilha alexandrina quanto cultura. O prprio nome dele significa filho da consolao , que expressa os dons necessrios para escrever uma com posio notria, por seu consolo e enco rajamento. Barnab era amigo de Tim teo e companheiro de Paulo, o que pode explicar um sabor paulino em trechos do documento em pauta. Permanece o fato de que no temos nenhuma linha que seja reconhecidamente da autoria de Bar nab, pela qual possamos julgar o seu estilo ou pensamento. Harnack, G. H. Moulton e Randall Harris apegam-se autoria conjunta de qila e Priscila, mestres de Apoio. Se Priscila teve parte em escrever Hebreus, podemos atribuir a isso a omisso do seu nome, lembrando a averso de Paulo ao fato de mulheres serem lderes ou fala rem na igreja. O dito de Cludio, em 49 d.C., fez com que qila e Priscila se tomassem refugiados e fossem banidos de sua terra natal. Seja quem for que tenha escrito He breus, era um peregrino na terra. As passagens Porque no temos aqui cida de permanente (13:14) e E com instn cia vos exorto a que o faais, para que eu mais depressa vos seja restitudo (13: 19), mostram o complexo de pessoa deslo cada que o escritor possua (13:14,19). O uso de muitas metforas nuticas ainda maior evidncia de um tipo de vida nmade: ns, os que nos refugia mos (6:18). Para que em tempo algum nos desviemos (sejamos levados deriva, para fora do ancoradouro) (2:1). Re cuar um termo tcnico que significa recolher as velas (10:38). O fato de que no conseguimos identi ficar o autor no diminui o valor desta obra. Pelo contrrio, ela fala positiva mente a respeito da riqueza da comuni dade crist primitiva em termos de ta lento e de cultura. Fala-nos que Paulo no era o nico grande mestre da igreja primitiva. Havia um enorme talento ex presso atravs deste escritor, cujo prin
  14. 14. cipal interesse parecia encorajar as pes soas temerosas, pertencentes comuni dade crist, a reterem a sua f e esperan a em Cristo. ITT. poca em Que Foi Escrita No existe nenhuma evidncia hist rica clara, dentro da Epstola aos He breus, que nos ajude a estabelecer a data exata de sua composio. Todavia, po demos estabelecer os limites provveis, dizendo que no pode ter sido escrita depois de 95 d.C., pois a essa poca Clemente de Roma j a havia citado em sua epstola a Corinto. No caso de admi- tir-se que ela foi escrita por Paulo, deve ter sido composta antes de 64 d.C., quan do, provavelmente, teve lugar o martrio de Paulo. Timteo mencionado no de curso da obra; portanto, deve ter sido escrita antes de seu martrio, que, prova velmente, ocorreu durante a perseguio movida por Domiciano, na oitava ou nona dcada do primeiro sculo. H uma tradio, contudo, de que Timteo teve morte natural em feso. Tudo o que podemos dizer com cer teza que a carta foi escrita duran te um perodo de perseguio. Assim mesmo, no fcil determinar que perodo de perseguio. Vrias possibi lidades se abrem diante de ns. A perse guio movida por Nero, em Roma, em 64 d.C., uma delas. Se Hebreus foi escrita originalmente para os cristos de Roma, a perseguio sob Nero se enqua dra perfeitamente. Esta data no pos svel, entretanto, se, como sugerimos aci ma, a obra foi primeiramente um sermo para cristos palestinos, e mais tarde enviada como carta a Roma, porque a perseguio movida por Nero limitou-se a Roma. A dificuldade com a data du rante o reinado de Nero a palavra do escritor: Ainda no resististes at o san gue, combatendo contra o pecado (12:4). Na perseguio sob Nero, muitos foram mortos. Eram at cobertos de pixe e incendiados nos jardins de Nero. A poca durante o reinado desse dspota no muito satisfatria. Outra escolha pode ser a perseguio no reinado de Domiciano, de 81 d.C. at o fim da dcada de noventa. O problema com esta data que a suposta persegui o durante o reinado de Domiciano foi uma tentativa de obrigar o povo ado rao de Domiciano. No h meno de tal coisa em Hebreus. A perseguio daquelas pessoas parece ter tomado a forma de escrnio, por causa de sua crena na Parousia, como se encontra em II Pedro 3:4: Onde est a promessa da sua vinda? Um fator principal a ser considerado no estabelecimento de uma data a ausncia de uma referncia queda de Jerusalm e destruio do Templo he- rodiano, pelos romanos, em 70 d.C. Uma referncia a acontecimento como este teria fortalecido de tal forma os argu mentos do escritor, em relao reali dade do santurio celestial em contrapo sio natureza nebulosa, imaterial, do santurio terreno, que inconcebvel que tal calamidade tenha sido omitida de sua discusso. Grande parte da fora de seu argumento pode ter sido removida pelo fato de que o escritor de Hebreus no faz referncia ao Templo. A sua preocupa o o tabernculo, que era o centro da adorao de Israel antes da chegada a Cana. Conceda-se que o argumento do autor no temos aqui cidade permanente, mas buscamos a vindoura (13:14) bem pode ser uma referncia queda de Jerusalm. Pode tambm ser a descrio de um povo que est do lado de fora da religio estabelecida da Cidade Santa um povo peregrino, que est fora do arraial (v. 13). Ao mesmo tempo, pre cisamos admitir que o apelo da cidade celestial provavelmente seria muito maior para um povo que viva sendo saqueada, pelos romanos, a cidade que considerava outrora como inviolvel. Dizer No temos aqui cidade perma nente para pessoas que podiam ver ain
  15. 15. da intactas as muralhas sagradas de Sio, e que criam que o prprio Deus era o defensor da Cidade Santa, no podia ser um argumento convincente. Se o es critor se detivesse em explicar em maio res detalhes o que queria dizer, ao falar em cidade permanente s pessoas que haviam andado por entre as runas calci nadas de Jerusalm, seria laborar sobre o bvio, e reabrir as chagas que ainda estavam dolorosas demais para serem tocadas. Outra data significativa, que at aqui tem sido desconhecida ou ignorada, na busca de uma data em que Hebreus tenha sido escrita, junho de 68, quando a comunidade de Qumram foi destruda pelos romanos. Visto que alguns dos primeiros ouvintes deste sermo podem ter sido recm-convertidos da seita ess- nia na comunidade de Qumran, bem pode ser que eles tenham sofrido perse guio dupla. Primeiro, pode ter sido pela sua essnia, que contendia pela idia de que s os essnios eram o verda deiro Israel, a quem a promessa dav- dica de um Messias fora feita e a quem um sumo sacerdote, como Melquisede- que, haveria de vir. Depois, quando fo ram convertidos ao cristianismo, eles en frentaram no apenas a perseguio das foras militares romanas, que comeou por causa da revolta judaica de 66 d.C., mas tambm os sofrimentos a eles impos tos pelas mos dos prprios judeus, que estavam tentando desesperadamente re viver os fogos latentes do judasmo. Isto, combinado com a demora da Parousia, estava comeando a abater o seu moral de cristos. As suas mos estavam enfra quecendo. Os seus joelhos estavam come ando a tremer. Marcus Dods insiste, baseando-se na passagem Todo sacerdote apresenta-se dia aps dia, ministrando (10:11), que o Templo estava ainda de p, o que colo caria a data em que Hebreus foi escrita em poca posterior a 70 d.C. Westcott apega-se data da perseguio movida por Nero, entre 64 e 67, enquanto Har- nack e Holtzmann preferem o perodo da perseguio sob Domiciano, entre 90 e 96. Sem dvida, o enorme prestgio des tes eruditos no pode ser negado. Porm precisa ser lembrado que eles no tive ram acesso aos Rolos do Mar Morto, e luz que estes fizeram jorrar sobre o cris tianismo palestino do primeiro sculo. Para mim, parece mais satisfatrio es colher uma data entre 68 e 70 d.C., quando a comunidade de Qumran foi destruda e havia comeado o saque de Jerusalm. Uma presso macia era re querida para afogar o entusiasmo fer vente da comunidade crist primitiva, e estes acontecimentos teriam propiciado as presses que o documento que esta mos estudando descreve. IV. Destinatrios A nica indicao positiva a respeito dos destinatrios de Hebreus consta da declarao ambgua em 13:24: Os de Itlia vos sadam , que pode referir-se aos que residiam em Roma, ou romanos que estavam ento residindo em algum outro lugar. Os manuscritos Sinaiticus e Vaticanus fazem constar o ttulo desta carta simplesmente como Pros He- braious. claro que este foi escrito posteriormente. No entanto, ele nos diz que os cristos de poca bem primitiva a consideravam como dirigida a judeus em uma comunidade que estava ameaada de extino. O escritor insta com os des tinatrios para sarem completamente fora do arraial (13:13). A. S. Peake cria que isto s podia significar um rom pimento completo com ojudasmo. A. B. Davidson tambm esposava esta opinio. James Moffatt e E. F. Scott tm opi nio diversa, de que os destinatrios eram gentios. Eles insistem que o escritor no estava se referindo apostasia em relao ao judasmo, mas apostasia em relao ao Deus vivo. A freqncia de citaes do Velho Testamento no signi ficaria, necessariamente, que os ouvintes originais eram judeus, pois este escritor
  16. 16. cria que o Velho Testamento era para todos os cristos. Evidentemente, Paulo tambm cria assim, pois ele encheu as suas cartas a Corinto com citaes do Velho Testamento. Uma passagem de grande relevncia, a esta altura, 6:1,2: Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos at a perfeio, no lanan do de novo o fundamento de arrependi mento de obras mortas e de f em Deus, e o ensino sobre batismos e imposio de mos, e sobre ressurreio de mortos e juzo eterno. Esta passagem no , ne cessariamente, dirigida a judeus, mas, pelo contrrio, refere-se a doutrinas que haviam sido ensinadas a todos os cris tos, logo que se haviam convertido e entrado na comunidade crist. De fato, arrependimento, f, ressurreio de mor tos e juzo eterno j constavam no Velho Testamento, e os judeus conheciam estas doutrinas. Alm do mais, as falhas mencionadas em Hebreus eram mais provavelmente verdadeiras em relao aos gentios do que aos judeus. No vos deixeis levar por doutrinas vrias e estranhas; porque bom que o corao se fortifique com a graa, e no com alimentos, que no trouxeram proveito algum aos que com eles se preocuparam (13:9). O que se depreende, aqui, no um afastamento temeroso da ortodoxia judaica, mas um rompimento aberto com o gnosticismo. James Moffatt contende que esta passa gem no apresenta nenhum trao do judasmo como atrao competitiva. Tal vez ele esteja indo longe demais. Outros comentaristas combinam as opinies acima, sugerindo que Hebreus foi escrita para cristos, no tendo em vista judeus ou gentios, porm a tenta o, comum a todos os cristos, de es friar, perder o interesse e se tornarem andarilhos religiosos. Eles consideram o ttulo Hebraious como simblico. Esta palavra significa peregrinos ou viajores. Em Gnesis 14:13 (LXX), Abro, o he breu, significa o homem do outro lado do rio . Este ponto de vista concorda com o significado etimolgico da palavra hebreu; porm enfatizar demais este significado um pouco forado. Sabemos que os destinatrios eram uma segunda gerao de ouvintes. A mensagem original havia sido confir mada pelos que a ouviram (2:3). Eles no haviam surgido na aurora brilhante da f crist. Estavam perdendo parte do entusiasmo primitivo, e estavam ficando negligentes em sua f, talvez, por causa da demora da Parousia. As tenses es tavam comeando a fazer-se sentir. Ne cessitais de perseverana (10:36). Aque le impulso ou tendncia estava encon trando expresso na sua antipatia pela igreja. Portanto, o escritor os conclama para no deixarem de se reunir (10:25). William Manson, em suas conferncias de Baird, os considera como cristos judeus que se estavam esquecendo da ordem de evangelizar o mundo. O maior interesse do escritor conclamar os cris tos, que esto dispostos a continuar envolvidos indolentemente em suas ori gens judaicas, a avanar para uma liber dade maior em Cristo. Se, como foi sugerido anteriormente, os destinatrios so hebreus, na forma dupla de sermo e carta, ento precisa mos atentar ainda mais para identificar os ouvintes originais, que melhor teriam entendido o seu significado, e que po dem, desta forma, ajudar-nos a entend- la da maneira como ela foi emitida ori ginalmente. Comecemos do pressuposto de que, como carta, ela foi remetida para Roma. As evidncias para esta concluso encon tram-se na familiaridade com que tanto Clemente quanto Hermas de Roma tra tam esta carta, pouco antes e logo depois de 100 d.C. O trmino epistolar Os de Itlia vos sadam, tambm concorda com isto. Esta a nica evidncia subs tancial que podemos oferecer. Se ela foi entregue primeiramente co mo sermo, muito mais importante identificar os ouvintes originais se quiser-
  17. 17. mos dar uma importncia de monta aos argumentos teolgicos intrincados e ema ranhados. Muitas localizaes dessa con gregao original tm sido sugeridas, in clusive Jerusalm, Samria, Antioquia, Cesaria, Colossos, feso e Alexandria, bem como Roma. Os Rolos do Mar Morto nos compe liram a enfrentar as afinidades bvias entre a hermenutica e a cristologia de Hebreus e as formas de pensamento da seita dos essnios em Qumran. O ma terial de Qumran, recentemente publica do, a respeito da figura veterotestamen- tria de Melquisedeque, nos d indcios para uma compreenso mais completa da pessoa e obra de Cristo como o grande Sumo Sacerdote no santurio celestial. Este o mago da cristologia de He breus. Isto nos encoraja a crer que os ouvintes deste sermo podiam fazer parte de uma congregao crist em uma cida de da regio de Decpolis, talvez Gerasa, a moderna Jerasha. Da congregao, tal vez, faziam parte recm-convertidos den tre os essnios. Contra este ponto de vista, alguns co mentaristas tm mantido o forte tom helenista da argumentao do autor. Pa ra rebater esta idia, pode ser mencio nado que nada h, neste documento, to exclusivamente helnico que ele possa ser chamado no-palestino. De fato, a Pa lestina no estava isolada do mundo ao seu redor. Ela fazia parte da cultura da bacia do Mediterrneo tanto quanto qualquer outra regio geogrfica. H, em Hebreus, muita coisa que sugere formas de pensamento palestino, e nada conclu sivamente contra a Palestina como o local em que estava a congregao origi nal de ouvintes. Pode ser alegado que o fato de que o autor no se sente vontade na lngua hebraica possa militar contra este ponto de vista. Deixem-me replicar que havia muitos judeus na Palestina que no sa biam ler nem falar hebraico, da mesma forma como, no quinto sculo a.C., mui tosjudeus no entendiam hebraico quan do Esdras leu para eles a lei, como est registrado no captulo oito de Neemias. Sabemos que os ouvintes entendiam o Velho Testamento da maneira como ele era costumeiramente explicado nas sina gogas e nas seitas essnias. Estavam tam bm muito familiarizados com o sistema sacerdotal judaico. E no eram estranhos tambm s formas de pensamento e retrica grega. Pelo menos alguns deles estavam familiarizados com a ontologia platnica, gnstica e de Filo. Estavam suficientemente helenizados para no se sentirem antagonizados pela combinao de escatologia veterotestamentria com mais pontos de vista helnicos. Este fato tem levado muitas pessoas a serem do parecer de que Alexandria foi o local da congregao original, parecer que certa mente no pode ser descartado. Sabe-se, agora, que havia uma con gregao crist que, em grande parte, se convertera de essnios da Alexandria, e que era chamada os Therapeuti. Para mim, contudo, parece que mais prov vel que a congregao a que Hebreus foi dirigida era como aquele grupo citado em Atos 6 a 8, que tinha, como seus membros, cristos notveis como Estvo (primeiro mrtir cristo), Filipe, Prco- ro, Nicanor, Prmenas, Nicolau e Timo. H uma passagem em Eclesistico (44- 50) de que os essnios de Qumran gos tavam muito, e que descreve a histria dos infiis e dos fiis no antigo Israel. muito anloga ao contedo de Hebreus 3, 4 e 11. A passagem de Eclesistico e o material de Hebreus tm notvel seme lhana com o sermo de Estvo, o hele nista palestino e primeiro mrtir cristo. Este sermo est registrado em Atos 7. V. Objetivo O que o autor desejava comunicar aos seus leitores? Ele estava preocupado com o problema da defeco religiosa, de en tusiasmo desvanecente, e da perda de coragem e de zelo por parte dessa con gregao crist primitiva.
  18. 18. Nessa conjuntura, observemos este problema em profundidade. Podemos ns determinar as causas dessa defec o?7Verifiquemos, primeiramente, trs causas genricas: 1. A primeira era o formalismo reli gioso. O escritor de Hebreus descreve a verdadeira adorao como aproximao de Deus, mas aquelas pessoas haviam permitido que ela degenerasse e se tor nasse o cumprimento de certos atos, ritos e cerimnias. Assim, o autor os sacode, tirando-os de sua complacncia, de sua passividade, perguntando, de fato: Na verdade, vocs j viram a majestade do Deus de quem deveriam estar se aproxi mando? Realmente conhecem, vocs, o que significa falar com o Senhor dos exrcitos, o Rei da glria? Podem vocs fazer isto e consider-lo como coisa ca sual e rotineira? Quem j alguma vez teve a conscincia, embora limitada, da presena de Deus, e no clamou: E para estas coisas quem idneo? Toda adorao inadequada, a no ser que ajude as pessoas a se aproxima rem de Deus. A nica pergunta vlida, depois de um culto de adorao, : Tive um encontro com Deus? 2. A segunda causa de sua defeco foi demasiada familiaridade com a ver dade divina. Nada pode ser mais mort fero. Hebreus 5:12 nos diz que essas pessoas haviam estado a manejar a ver dade de Deus de maneira perfunctria, e por tanto tempo, que ela havia perdido a sua eficcia. Eles a conheciam to bem, a essa altura, que deviam ser mestres. Hebreus 6:1,12 nos diz que eles eram espiritual e intelectualmente preguio sos. A verdade de Deus, quando manu seada de maneira descuidada, torna-se o cheiro de morte para morte. O remdio de to mortal familiaridade encontra-se em reconhecer o esplendor inerente ao evangelho. O escritor magnifica o en 7 H anos, sentado em uma aula de teologia de Hebreus, no New College, em Edimburgo, ouvi James Stewart discutir este problema. Ele citou seis causas para esta defeco: trs gerais e trs especficas. A ele devo a lista que se segue. canto da primitiva ortodoxia religiosa e a emoo essencial f crist. Assim, ele pergunta aos seus ouvintes (parafraseando): Vocs j perceberam quem Cristo ? Voltem-se para o funda dor de sua f, e pensem nele at serem tomados pela realidade do que Deus est tentando nos dizer. Veja de novo o pr logo magnificente (1:2-4). Se voc come ar a se desviar, volte e pondere acerca da sublime cristologia da f crist. Pense tambm a respeito de sua sote- riologia. Voc j entendeu o que foi feito por Deus, em Cristo, para nossa salva o? Se voc voltar de sua defeco, lembre-se que cidado de dois mundos, e no de um apenas, e que voc est ancorado j no mundo por vir (6:5). Observe de novo, diz o escritor, o ver dadeiro significado da f crist como firme fundamento das coisas que se esperam (11:1). Se demasiada familiari dade religiosa remove o esplendor de nossa religio, ento convm atentar mos mais diligentemente para ela (2:1). Levante-se de seu estupor e despreocupa o. Acima de tudo, diz ele, considerai, pois, aquele (12:3). Para no perder de vista o esplendor do evangelho, volte a Belm, onde o Verbo se fez carne, para habitar entre ns (Joo 1:14), e Gali- lia, onde ele viveu por ns, e ao Calv rio, onde ele morreu por ns, e ao tmulo vazio, e ao Monte das Oliveiras, onde somos elevados com ele a lugares celes tiais (Ef. 1:20). Que no se passe nem um dia sem que nos coloquemos deliberada mente extasiados diante daquilo que se tomou to familiar que agora o consi deramos corriqueiro. 3. A terceira razo geral para essa defeco religiosa foi a complacncia, a passividade. Porque, devendo j ser mestres em razo do tempo, ainda neces sitais de que se vos tome a ensinar os princpios elementares dos orculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e no de alimento slido (5:12). Portanto, o pregador insiste com os seus ouvintes: Vocs esto se desviando. Pre
  19. 19. cisam avanar para uma mais plena ma turidade. Ele faz abundante uso do termo teleis, isto , telein (maduro ou plenamente crescido, 5:14); teleitta (maturidade ou pleno crescimento, (6:1); teleisa(tomar perfeito, 2:10). A Lei nunca foi capaz de produzir per feio. Tambm no existe um crente perfeito. Precisamos ter uma escatologia para a qual estamos nos movendo. O crente precisa viver nessa tenso dinmi ca entre o que ele e o que ele deve tomar-se. Vejamos, agora, as trs causas espec ficas dessa defeco religiosa, e como o escritor as encara. 1. Havia severa perseguio. Em 10: 32,33, a nossa ateno chamada para as grandes dificuldades e aflies que caracterizaram a era apostlica. Os cris tos no eram indiferentes, mas uma ter rvel tempestade havia feito estourar o seu ancoradouro, e eles estavam merc das vagas de perseguio. A princpio, Roma era amiga da igre ja, defendendo-a contra os judeus, po rm mais tarde esta poltica se inverteu. Em 49 d.C., houve um tumulto em Roma, e Cludio expediu um dito ex pulsando todos os cristos ejudeus. Alm disso, a comunidade crist havia chegado deciso de que os gentios no precisavam ser circuncidados para se tor narem cristos. Visto que no precisa vam circuncidar-se, eles no tinham ne nhuma conexo com a religio estabele cida dosjudeus. Portanto, estavam sujei tos ao julgamento de Roma, que proibia todas as religies que no estivessem es tabelecidas. A ira de Roma tambm se acendeu contra os cristos por aquilo que ela considerava supersties estranhas. Ro ma ficou confusa devido ao que se fazia por detrs de portas fechadas, onde a Ceia do Senhor era observada. A reli gio de Isis e de Cibele praticava imorali dade por detrs de portas fechadas. Se riam os cristos culpados da mesma coi sa? Os cristos falavam do fim do mundo pelo fogo. Significaria isto que eles pre tendiam acender esse fogo? Os cristos foram acusados de comear o incndio de Nero, de acordo com o dcimo-quinto livro dos Anais de Tcito. Em 64 d.C., quando a perseguio comeou, durante o reinado de Nero, milhares e milhares de cristos, cujo nome no sabemos, foram condenados morte. Sabemos o nome de dois deles, que morreram mais ou menos nessa po ca: Paulo e Pedro. E ento os cristos se defrontaram com outro perodo de per seguio. Em face de tal perseguio, o pregador os faz lembrar que precisam de pacincia(10:36-12:l). Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu opr brio (13:13). O pregador encoraja fortaleza em face da perseguio, avivando a memria de seus ouvintes. Ele os conclama a se lem brarem de trs coisas: (1) Lembrem-se de seu nobre passado (6:9,10). (2) Lem- brem-se de seus lderes, que j morre ram, e imitem a fortaleza deles (10:32; 13:7), e tambm os fiis heris de Israel (11:1 e ss.). (3) Acima de tudo, lem brem-se dos sofrimentos de Jesus o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a ignom nia, e est assentado direita do trono de Deus (12:2). Jesus, para santificar o povo pelo seu prprio sangue, sofreu fora da porta (13:12). Saiamos tambm fora do arraial. suficiente, para o discpulo, ser como o seu mestre, e, para o servo, ser como o seu Senhor. 2. A segunda causa especfica de sua defeco religiosa foi a demora da Parou- sia. No se via nenhum sinal do segundo advento. Os crentes estavam desanima dos. Ento perguntavam: Por que espe rar mais? Por isso, comearam a perder interesse e a se desviar da f. Como que o pregador trata desse problema? Ele comea com uma afirma o da certeza da segunda vinda. A sua demora no significa que ela no aconte cer. Cristo... aparecer segunda vez (9:28). Foi observado que esta a nica
  20. 20. vez, em o Novo Testamento, que as pala vras segunda vez so usadas para des crever a vinda final de Cristo. Seja qual for a idia que se tenha a esse respeito, o eschaton aparece em todo o pensamento neotestamentrio. O pregador diz: Aquele que h de vir vir (10:37). Por isso, ele conclama os seus ouvintes para que cada um mostre o mesmo zelo at o fim (6:11). Ele lhes assegura que mesmo ento eles podiam vi vernopoder de uma escatologia realizada. Esse o significado de a f o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que no se vem (11:1). Ele nos diz que os crentes, na verdade, j provaram os poderes do mundo vindouro (6:5). 3. A terceira causa especfica dessa defeco religiosa foi transigncia tica. Alguns membros da TOmundae crist estavam imaginando que podiam conti nuar a se identificar com Cristo e ao mesmo tempq^se^ronSmrem com o padro de uma sociedade pag. > A crtica e o desprezo de seus vizinhos estavam comeando a produzir efeito. Os77 cristos eram desprezados pelos seus pr- pros crculos familiares com tal menos-J cabo que ningum mais os recebia. Eles L-eram tambm expostos zombaria p blica (Kh33^_ como fescarmentof5> e spectaculum (Vulg.). Paulo escreveu: Somos feitos espetculo (tea tral) ao mundo (I Cor. 4:9). A seduo de doutrinas estranhas estava se apode rando deles (13:9). O pregador tambm fala de certas pessoas que eram profanas ou completamente secularizadas (12:16). O pregador tambm lhes avisa o que a sua transigncia estava causando. Ele faz ciisaes as mis abladors. .Eles estavam crucificando de novo o Filho de Deus. iTeram culpados de pisar o Tnlho deTJeus, e de ter por profano o sangue do pacto, com que foi santifica do (10:29). Ele os chama para fora de sua transigncia, para fazer uma decla rao ineludvel de auto-entrega. Eles precisavam romper com as convenes e sair fora do arraial. Toda a mensagem de Hebreus, como a veacoH ^iiM W e^rnQolsversculos: Jesus, para santificar o povo pelo seu prprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu oprbrio (13:12,13). Es-' tas passagens prticas no podem ser consideradas como digresso do argu mento do autor, como algumas pessoas as consideram. Pelo contrrio, estas pas sagens prticas so o centro. A teologia do pregador tem por objetivo reforar estas exigncias prticas. Na exignciasaiamos. pois, a ele fora do arraial,(James S. Stewrtjconsidera trs fatores: (T) o arraial de ferro, uma trtazareligiosa segura; (2) uma fora alheia, o mundo; e (3) um pugilo de almas hericas, intrpidas, saindo da fortaleza para o mundo estranho, e con tinuando com sua luta. O pregador v a igreja no contexto do ExodoTO p^co colcado entre Egi- to, terra da servido, e Cana, terra da promessa. Levtico nos diz que o arraial era o lugar sagrado, a nica habitao da luz em um deserto tenebroso. Exodo nos fala dos perigos que h fora do arraial. Sair era arriscar-se a no conseguir vol tar. Naqueles dias, o povo de Deus era uma caravana em movimento. Eles no ti nham cultura nem eram institucionaliza dos nem secularizados. Quando chega vam a um osis no deserto, a maioria sempre dizia: Habitemos aqui. Os l deres sempre tinham que incit-los avan te. Desde Abrao at Joo Batista,.estaioj a histria de Israel: o rraial de Deus mundo secular. Os profetas de Deus eram as almas intrpi das que se moviam alm do povo, fora do arraial. Por este motivo, eles foram ator mentados e afligidos. O pregador de Hebreus diz que esta situao correspondia da igreja de sua. poca. A igrjTstva stfca A fim de
  21. 21. levantar esse acampamento esttico, ele v uma fora expedicionria composta de uma pessoa nica, solitria. FoiQesusj) que saiu fora das portas do arraiaTe foi crucificado. Desta forma ele iniciou a jornada escatolgica. Ele tomou-se a conscincia de sua igreia. exigindo que os seus remidos o sigam. No pode haver Titom onem deieccorPrecisamos^^n^ tinuar essa jornada escatolgica. O cla mor : Avante, para a cidade de Deus! luz destas influncias que levam defeco, h, portanto, umaqudrupk^ convocao:(Primeiro^ *o'~apel auto- *emTOgara compIitTaedicao, sem ne- nfma tentativa de conciliar ou agradar queles que querem fazer a f mais com patvel com a sociedade. O smbolo do cristianismo uma cruz morte para o eu, morte para tudo o que impede essa jomada^^^ fsegundoNs o apelo para avanar. Isto soa como um smo atravs de todo o sermo. Nada mais devastador para a f crist "do aue_!:=p e n s m g fS 3 ^ ^ chegamos perfeio, e precisamos, por- tantoTgastaromShor de nossas energias defendendo as nossas doutrinas e glorifi cando a presente condio da igreja ins titucional. A igreja, no melhor de sua expresso, uma cabana ou tenda de deserto, que precisa ser desarmada a cada gerao e levada avante em direo cidade permanente. Ofterceiroj um apelo para a evance; lizaTFSzui muito tempo que os ouvin- Brdesre sermo deviam estar l fora, no mundo, ensinando a outros, procurando ganhar para Cristo um mundo que lhe era completamente alheio (5:12). Da ma neira como estavam, eles eram como crianas, arrastando-se infantilmente de volta ao jardim de infncia, preferindo o leite, que os conservasse tenros, em vez da carne, que os tornaria fortes para a batalha. Ofqurtcj um apelo final para uma f vieoroM^reaGBd^domundbm^svd: Porque no tem^"aqurCTa3eperma nente, mas buscamos a vindoura (13: 14). Grande parte de nossa energia consumida pelos nossos esforos para fortificar, o nosso acampamento de breve durao na came, com sade e seguran a financeira. Deliberadamente, Deus tomou esta jornada precria. Ele toma o caminho perigoso, para que possamos parar e lembrar que somos peregrinos aqui, e para nos lembrar que estamos no fim dos tempos. Portanto, precisamos continuar com o eschaton. O escritor de Hebreus se preocupa em fazer oposio ao sincretismo, que estava ameaando a comunidade crist, devido influncia das idias sacerdotais ess- nias. Portanto, ele se alonga em demons trar que tudo o que era verdadeiro, con forme o padro veterotestamentrio, foi completamente cumprido e superado em Jesus Cristo o Filho de Deus, o Servo real e o grande e eterno Sumo Sacerdote. Ele insiste que somente a comunidade crist o verdadeiro Israel, que entrar no sbado final, o descanso de Deus no san turio celestial. Toda a vida do crente precisa ser vivida como se, a qualquer momento, ele possa ser chamado para enfrentar a verdade final. A verdade final que a nica e dominadora realidade que somente Deus o juiz do homem, e que ele tambm o Deus de tudo. No h consolo nisto, pois o pregador vai alm, lembrando-nos que o nosso Deus um fogo consumidor (12:29). A igreja do primeiro sculo no era uma fortaleza de separao, nem ancoradouro de repouso. Ela fazia parte da ordem vigente. Era uma comunidade de banidos para fora do arraial (13:13), onde os seus comun- gantes so constantemente lembrados que no esto a salvo de todos os perigos. Eles esto avanando em direo a um lugar e um tempo quando todas as teo rias precisaro enfrentar o fogo consumi dor da verdade, que se fez conhecida no Filho de Deus. um fogo que no pode ser apagado por nenhuma reserva de boas obras, mas apenas pela graa de Deus, que se fez conhecida a ns nAque- le que o Onico em quem realmente
  22. 22. Deus e o homem se encontram. Ele quele que j est na posse do santurio celestial, intercedendo, advogando o seu sacrifcio, e que j est entronizado em majestade direita do Deus altssimo. A verdade final e sempre foi dele. Porque isto verdade, esforamo-nos para ter paz com todos os homens e por uma vida de amor fraternal com todos os homens, porque o nosso juiz o Deus deles. E, tambm por este motivo, h fora para as mos cansadas e para os joelhos trementes, nos tempos os mais perigosos. Esboo de Hebreus I. A Palavra Final de Deus Para a poca Final (l:l-3:6) 1. Introduo (1:1-4) 2. Acima de Todos os Anjos (1:5- 2:5) 1) Superior em Sua Natureza (1:5-14) 2) A Palavra de Jesus versas a Palavra dos Anjos (2:1-5) 3. Superior em Obra Redentora (2:6-18) 1) A Necessidade da Encarna o (2:6-9) 2) Jesus: Heri e Sacerdote (2:10-13) 3) O mago do Assunto (2: 14-18) 4. Maior do Que Moiss (3:1-6) II. Encontrando o Verdadeiro Des canso de Deus (3:7-4:13) 1. Perigo da Incredulidade e De sobedincia (3:7-19) 2. O Temor de Deus Criativo (4:1-3) 3. O Dia Marcado (4:4-8) 4. Nosso Descanso Final (4:9-11) 5. Palavra de Advertncia (4:12,13) III. Nosso Grande Sumo Sacerdote (4:14-5:10) 1. A Natureza do Sumo Sacerdote (4:14-16) 2. Qualificaes do Verdadeiro Sumo Sacerdote (5:1-10) 1) Qualificaes Humanas (5:1-6) 2) Qualificaes Morais (5:7-10) IV. Aplicao (5:11-6:20) 1. ContraaPreguia(5:ll-14) 2. Crucificam a Cristo Novamente (6:1-12) 3. Confirmao da Certeza (6:13-20) 1) A Promessa (6:13-17) 2) A ncora da Esperana (6:18,19) 3) Precursor e Sumo Sacerdote (6:20) V. O Ponto Central do Argumento (7:1-28) 1. Melquisedeque (7:1-3) 2. A Superioridade de Melquise deque (7:4-10) 3. Um Sacerdcio Divino (7:11-14) 4. Um Sacerdcio Eficiente (7:15-19) 5. Um Sacerdcio Eterno (7:20-22) 6. Um Sacerdcio Perptuo (7:23-25) 7. O Sacerdcio Perfeito (7:26-28) VI. O Novo Tabernculo (8:1-6) VII. A Nova Aliana (8:7-9:28) 1. Interior e Eficiente (8:7-13) 2. O Lugar da Velha Aliana (9:1-28) 1) A Arca da Aliana (9:1-5) 2) Um Sistema de Excluso (9:6-10) 3) Um Tabernculo Superior (9:11) 4) Um Sacrifcio Superior (9:12-23) 5) A Esperana Superior (9:24-28) VIII. A ltima Vontade de Deus (10:1-39) 1. O Fracasso da Lei (10:1-4) 2. O Sacrifcio Final (10:5-10) 3. O Perdo Final (10:11-18) 4. O Convite (10:19-25) 5. A Advertncia (10:26-31) 6. O Encorajamento (10:32-39)
  23. 23. IX. O Significado de F (11:1-40) 1. Substncia e Evidncia (11:1,2) 2. Crena no Criador (11:3) 3. Os Fiis do Velho Testamento (11:4-34) 4. Sumrio de Horrores (11:35-38) 5. Adiamento da Promessa (11:39,40) X. Palavras de Encorajamento e Dis ciplina (12:1-24) 1. Conclamao Para Completar aCarreira(12:l,2) 2. Necessidade de Disciplina (12:3-17) 3. AChegadaFinal(12:18-24) 4. A Advertncia Final (12:25-27) 5. Uma Conclamao Para Grati do e Adorao (12:28,29) XI. Uma Conclamao Para a Virtude e o Sacrifcio (13:1-16) 1. Aplicao das Virtudes Crists (13:1-8) 2. Os Sacrifcios Que Deus Apro- va(13:9-16) XII. Concluso (13:17-25) 1. Apelo (13:17-19) 2. Bno (13:20,21) 3. Orao (13:22-25) Bibliografia Selecionada BRUCE, A. B. The Epistle to the He brews. Edinburgh; T. & T. Clark, 1908. CALVIN, JOHN. Commentaries on He brews, Edinburgh: Calvin Transla tion Societies, 1853. DAVIDSON, A. B. The Epistle to the Hebrews (Bible-Class Handbook). Grand Rapids: Zondervan Publi shing House, 1950. DAVIES, J. H. A Letter to Hebrews (The Cambridge Bible Commenta ry). Cambridge: University Press, 1967. DODS, MARCUS. Epistle to the He brews (Expositors Greek Testa ment , IV). London: Hodder and Stoughton, Ltd., 1917. MANSON, WILLIAM. The Epistle to the Hebrews. London: Hodder and Stoughton, Ltd., 1951. MOFFATT, JAMES. A Critical and Exegetical Commentary on the Epis tle to the Hebrews (The Internatio nal Critical Commentary). Edin burgh: T. & T. Clark, 1924. MONTEFIORE, HUGH. A Commenta ry on the Epistle to the Hebrews (Harper New Testament Commen taries). New York: Harper & Row, 1964. NAIRNE, ALEXANDER. The Epistle to the Hebrews (Cambridge Bible). Cambridge: University Press, 1957. NEIL, WILLIAM. The Epistle to the Hebrews, Ritual and Reality Tor ch Bible Commentaries). London: Student Christian Movement Press, Ltd., 1955. PEAKE, A. S: Hebrews (The Century Bible). Edinburgh: T. C. andE. C. Jack, n.d. PURDY, ALEXANDER C. and J. HAR RY COTTON. The Epistle to the Hebrews , The Interpreters Bible, Vol. XI. Nashville: Abingdon Press, 1955. SAPHIR, ADOLPH. The Epistle to the Hebrews. New York: C. C. Cook Company, 1902. SCOTT, ERNEST F. The Epistle to the Hebrews. Edinburgh: T. & T. Clark, 1922. WESTCOTT, B. F. The Epistle to the Hebrews. 3a ed. London: Macmil lan and Company, 1920. YADIN, YIGAEL. The Dead Sea Scrolls and the Epistle to the He brews, Scripta Hierosolymitana, IV. Jerusalm: Hebrew University, 1957.
  24. 24. Comentrio sobre o Texto I. A Palavra Final de Deus Para a poca Final (1:1-3:6) 1. Introduo (1:1-4) 1 H avendo D eus antigam ente falado m ui tas vezes, e de m uitas m aneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes ltim os dias a ns nos falou pelo Filho, a quem constituiu h e r deiro de todas as coisas, e por quem fez tam bm o m undo; 3 sendo ele o resplendor da sua glria e a expressa im agem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela p ala v ra do seu poder, havendo ele m esm o feito a purificao dos pecados, assentou-se di reita da M ajestade nas altu ras, 4 feito tanto m ais excelente do que os anjos, quanto h e r dou m ais excelente nom e do que eles. Estas imponentes linhas de introduo constituem a mais bela passagem do Novo Testamento. As duas nfases prin cipais so: primeiro, que Deus falou; segundo, que Deus falou nestes ltimos tempos. A teologia deste escritor inteiramen te hebraica. Nenhum escritor hebraico se abalana a defender a existncia de Deus. At mesmo a assaz citada passa gem: Diz o nscio no seu corao: No h Deus (Sal. 14:1; 53:1) melhor tra duzida, afinal, como: Nenhum Deus est aqui . Esta uma negao da efeti va presena de Deus, mais do que de sua existncia. Jeremias fala dos que negaram ao Se nhor, e disseram: No ele; nenhum mal nos sobrevir (5:12). Desta forma, o profeta est falando da tentativa de um homem inquo de persuadir a si mesmo de que ele pode continuar com a sua ini qidade, e assim mesmo escapar do juzo divino. O atesmo terico no reconhecido na Bblia. Mesmo fora da Bblia, o termo ateu notm sidotanto um termo que os homens tm usado para descrever as suas prprias opinies, quanto um termo usa do contra eles pelos seus adversrios. Os dois pressupostos bsicos da teo logia hebraica so que Deus existe e que Deus falou. O escritor de Hebreus con siderava que a fonte de toda autoridade estava na voz de Deus. Todas as pessoas crem em alguma autoridade. Ou crem na autoridade de Deus, ou constroem uma autoridade com a sua fantasia. Tm uma autoridade que inabalvel, ou inventam uma autoridade que tem capri chos e fantasias passageiros. O cristia nismo comea com a afirmao: Deus falou. Para o escritor de Hebreus, Cristo era a voz de Deus. O que Deus disse parcialmente atravs dos profetas, ele disse plenamente em Jesus. Deus falou de uma verdade cen tral, atravs de cada profeta. Atravs de Ams, falou de justia; atravs de Isaas, falou de santidade; atravs de Osias, falou de amor perdoador. Porm, cada um desses assuntos era apenas um frag mento da verdade total a respeito do carter de Deus. Em Jesus, fez-se conhe cida a verdade global. Em o Velho Tes tamento, grandes e dramticos aconteci mentos da histria e da natureza mos traram a grandeza de Deus e a sua preo cupao pelo seu povo; mas Jesus revelou Deus pelo fato de se fazer carne. Hebreus interpretada melhor em ter mos de eschaton, o fim dos tempos. H uma redescoberta desta chave, h muito esquecida e insuficientemente enfatiza da, para a compreenso da teologia do Novo Testamento. Talvez a distoro do evangelho, por algum milenarista, que resultou em pregao ostentosa e espe culativa, fez com que muitas pessoas se afastassem amedrontadas do que era uma parte bsica e tremendamente pre ciosa do pensamento dos escritores do Novo Testamento. O fim das pocas aconteceu em Jesus Cristo: o tempo do fim comeou. Os essnios da comunidade de Qum- ran se preocupavam grandemente com o
  25. 25. tempo do fim. Quanto a este aspecto, eles eram como os primeiros cristos. A literatura da Midrash, que herdamos de Qumran, tem notvel semelhana com Hebreus. Esta semelhana consiste na maneira como as passagens do Velho Testamento so reunidas ao acaso, de muitas partes da Bblia hebraica, e usa das para reforar ou provar um ponto de vista do escritor. Alm disso, h tambm uma seme lhana na maneira como tanto Hebreus quanto a literatura de Qumran interpre tavam os textos do Velho Testamento, como se falassem imediatamente para o tempo em que viviam. Para ambos, Deus falou para a sua situao contempor nea atravs de passagens do Velho Testa mento. Isto no aconteceu com a litera tura rabnica posterior, do Midrash, que preferiu no localizar cronologicamente, isto , no aplicar um dado ponto do Velho Testamento a um evento poltico especfico em sua poca. Pelo contrrio, os rabis posteriores preferiram morali zar, em vez de cronolizar.Eles procura vam saber o que dizia uma determinada passagem do Velho Testamento a respei to de como Deus . Desse perfil de Deus, deduziam o que Deus esperava do seu povo naquela dada poca. Tanto os escri tores de Qumran quanto o escritor de Hebreus tinham um maior senso de ur gncia e da proximidade de Deus quando ele falava a respeito da situao em que estavam. No era por deduo de uma antiga analogia, mas uma palavra viva. O ponto em que divergiam os essnios de Qumran e os cristos, a quem He breus se dirige, era, em sua insistncia, que cada um deles achava que o seu, e no o outro grupo, era o verdadeiro Is rael que Deus iria usar no fim dos dias para trazer ao homem a nica salvao. Naqueles dias temveis, cada uma dessas comunidades insistia que o acesso a Deus se faria somente atravs delas. Estas duas comunidades insistiam que o judasmo do Velho Testamento havia- se cumprido nelas. Portanto, conceb vel que o autor tinha este conflito em mente, ao iniciar o seu tratado com uma discusso de como Deus havia falado no passado e como ele trouxera a sua pala vra sua expresso final. Muitas vezes, e de muitas maneiras mostra a riqueza e variedade da maneira de Deus abordar o homem. Os muitos modos e meios pelos quais Deus se diri giu ao homem no diminuem a revelao do Velho Testamento. Embora ela fosse fragmentria e temporal, era Deus quem havia falado. Ele falara de muitas for mas. Ele falou atravs de teofanias, como com Jac em Betei (Gn. 28:10-17); atra vs de vozes, como com Samuel (II Sam. 3:1-18); atravs de vises, como com Isaas (Is. 6); atravs de orculos e sinais. Ele falou atravs de voz mansa e delicada com Elias. Ele falou atravs da chorosa compaixo de Jeremias, e atravs das denncias em tom de trombeta, de Ams. Ele falou atravs de fome, inun dao, seca e pestilncia. Falou atravs de colheita abundante e atravs da liber tao do exlio. Falou atravs da suave luz das estrelas, dos mansos ventos de vero e dos sons estrepitosos de muitas guas. Deus falou em muitas partes. Ele falou atravs da lei, atravs dos juizes, e atravs dos poetas e profetas. Havendo Deus... falado. O cristianis mo uma religio de revelao. Deus, em sua graa, toma a iniciativa. O da do com que o evangelho se inicia a palavra de Deus. Deus no faz insinua es vagas, com que possamos especular acerca do que ele quer dizer. Ele fala a esta pessoa, acerca deste assunto, neste momento. Antigamente significa que os rabis di vidiam o tempo em perodos anteriores e posteriores ao Messias. Com as palavras aos pais, o escritor, aqui, comea a santa histria de Israel na primeira sentena do seu sermo. Israel no era igual a qualquer outra nao. Deus havia dado pessoalmente a sua palavra a Israel, e havia feito uma
  26. 26. aliana com o seu povo, como no havia feito com nenhuma outra nao. O escri tor, ao enfatizar, posteriormente, a su premacia de Cristo, no perde nem um pouco do seu enorme respeito pelas tra dies de seus pais. Ele um homem de razes, estabelecido em uma nao de razes. O seu interesse no destruir as razes, mas levar a videira de Israel a dar fruto de maneira plena. Pelos profetas significa que Deus fala a pessoas atravs de pessoas. O veculo de Deus um homem. Ele falou pelos profe tas. A era dos profetas no est chegando ao fim, diz o escritor. A palavra profetas no mencionada outra vez, a no ser em 11:32. Ali ela descreve a linhagem de grandes homens de Deus, incluindo al guns sacerdotes do Velho Testamento. Esta designao concorda com o signifi cado comum no primeiro sculo e o significado deste termo nesta passagem. A traduo inglesa NEB tem uma tra duo melhor para nestes ltimos dias. Ela diz: nesta era final. A ns nos falou. Esta forma do tempo aoristo do verbo descreve uma ao em seu todo. A despeito de sua durao, ela rene a ao em um todo. Isto resume toda a vida e obra de Jesus: seu nasci mento, seu ensino, sua morte e sua res surreio em uma s entidade. Atravs dele, Deus nos deu esta palavra final e plena. Carlyle Marney nos diz: Todos nos lembramos como preciosa a palavra de um ente querido, quando nos apercebemos que ela ioi a sua ltima palavra. As cartas finais so guardadas com carinho e decoradas. Palavras pronunciadas casualmente assumem significado incrvel. Repetidamente a igreja tem procurado agarrar alguma nova palavra, mas sempre somos levados ltima coisa que Deus disse, com certeza. isto que o Novo Testamento : as ltimas coisas que eles disseram que Deus disse. Olhando para trs, por cima dos seus ombros, para uma poca em que Deus estava vivo (na terra), eles se lembraram que ele fez um Testamento uma Aliana uma Declarao de ltimas Vontades uma Palavra a ltima coisa que Deus disse foi Jesus, que o Cristo. Voc tambm precisa admitir isto. Depois que Jesus aparece em cena, o assunto da Escritura Sagrada o Cristo. Isto o que significa cham-lo de a Palavra de Deus. Deus disse outras palavras, mas no ultima mente; o Talmude nada mais do que elaborao de uma palavra j falada. Da mesma forma, a histria crista apenas elaborao. A Histria da Igreja tem sido a expresso de nossa capacidade de ouvir, deixar de ouvir e recusarmo-nos a ouvir o Filho. E todas as nossas denominaes represen tam algum caso em que deixamos de ouvir a ltima palavra de Deus. At o nosso precioso inaudvel Esprito Santo, desde que, no quarto sculo, a clusula filoque foi acrescentada, ouvido a falar atravs do Filho, pois foi a respeito do Filho que o Esprito nos avisou, ensinou, repreendeu e fez lembrar. Cada registro distorcido uma distoro do Filho pois esta a ltima palavra de Deus que ouvimos.^ A unicidade desta revelao final que uma espcie de revelao do Filho. Jesus no est entre os profetas. A men sagem dos profetas esperava um cumpri mento no futuro. Cristo, o Filho, a mensagem do cumprimento das promes sas de Deus. Nenhum outro revelador o seguiu. Os profetas eram meros homens. Cristo era o Filho do Homem e Filho de Deus. Note-se como estas palavras cedem sob o peso destas declaraes extraordi nrias, feitas por este pregador cristo primitivo. Jesus o Filho de Deus. Ele no um ser temporal. Ele o portador da salvao eterna. Ele o Senhor da Histria, o herdeiro das eras. Tudo o que dito aqui est de pleno acordo com a doutrina crist mais primitiva e cardinal, como se v em Marcos 1:1. Como Filho de Deus, ele o nico veculo vlido por meio de que podemos nos aproximar de Deus. Sete sublimes declaraes so feitas a respeito do Filho de Deus, nos versos 3 e 4. Quatro coisas so ditas a respeito de sua natureza, e trs, a respeito do que ele fez. (1) A quem constituiu herdeiro de to das as coisas. Na histria crist primiti va, havia duas maneiras de interpretar o relacionamento de Jesus e Deus. Havia os adopcionistas, que diziam que Jesus se 8 Carlyle Marney, The Carpenter's Son (Nashville: Abing don Press, 1967), p. 9 e 10.
  27. 27. tomara, na histria, o Filho de Deus por nomeao do Pai. Havia outros, que criam que ele era o Filho preexistente e estava com Deus no princpio. Superfi cialmente, o escritor parece estar fundin do ambos os pontos de vista neste ver sculo. Mas isto no necessariamente verdadeiro. A nomeao pode ter sido feita na inteno etema de Deus, antes de ter comeado o tempo. Como tem in sistido certo estudioso, a criao foi lan ada nas linhas da redeno. isto o que Paulo quer dizer quando, na Epstola aos Colossenses, insiste que todas as coisas se resumiro em Cristo (3:11)? Ele o herdeiro das eras, no sentido de que Deus tem operado atravs de todo o pas sado, para levar ao cumprimento o seu reino de redeno no Filho, que agora est no santurio celestial, aplicando os seus sacrifcios, intercedendo por ns e nos ancorando com ele alm do vu. (2) Por quem fez tambm o mundo. Este aquele que Joo chama de Ver bo (1:1), aquele que se levantou na brilhante manh da criao com o Pai, para chamar existncia toda a ordem criada. Este aquele que sabia o que havia no homem (Joo 2:25), no por intuio oriental, mas como o artfice do homem, que entrou na nossa raa pela porta da carne. Este o artfice do ho mem, que condescendeu em ser feito homem em nosso favor. Ele no apenas o herdeiro, ele o criador. E todas as coisas pertencem a ele. (3) Sendo ele o resplendor da sua glria. Ele o brilho, o pleno resplen dor do fulgor do Pai. Ele aquele de quem foi dito: nele no h trevas ne nhumas (I Joo 1:5). Outra forma de dizer isto que ele a expressa imagem do seu ser. Ele a estampa da hips- tase de Deus, a exata imagem de sua essncia, uma emanao pura. Imagem significa a impresso clara feita com um selo, o prprio fac-smile do original. A palavra carter uma translitera- o da palavra grega traduzida como imagem. A combinao dessas duas pa lavras, resplendor e imagem, uma ten tativa dupla de expressar a mesma coisa, a exata semelhana do Filho com o Pai. (4) Sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder. Cristo o Logo* de Deus, a sabedoria de Deus, o agente de Deus na criao, por quem todas as coisas so sustentadas e reunidas (Joo 1:1-5). Paulo insiste nisto em Colossen ses: nele subsistem todas as coisas (1:17). Observe-se, agora, as coisas que o Filho fez: (1) Havendo ele mesmo feito a purifi cao dos pecados. Atravs de sua vida, morte e ressurreio, foi realizada a puri ficao dos pecados do homem. O per do se fez possvel, e, com ele, a recon ciliao do homem com Deus. Ele agora o nosso grande Sumo Sacerdote alm do vu, oferecendo o seu sangue para o nosso perdo e abrindo o caminho de acesso, pelo qual o homem pode aproxi mar-se de Deus. Se a verdadeira religio significa apro ximao de Deus, como contende este escritor primitivo, a grande interrogao se toma: Como que o homem pecador pode ter a esperana de aproximar-se de Deus? A sua resposta que o homem pode fazer isto porque o seu pecado j foi purgado. No sacrifcio que Cristo, fez uma vez por todas (7:27), ele propiciou purificao etema para todos os que a recebem pela f. Desta forma, pelo seu sacrifcio, o caminho de acesso a Deus foi aberto para sempre. Cristo, portanto, no apenas peculiar, em sua natureza, mas tambm peculiar em sua realizao. (2) Assentou-se direita da Mtyestade nas alturas. A peculiaridade da obra de Cristo reafirmada ainda mais pelo lu gar que ele agora ocupa no santurio ce lestial. Ele se assentou direita do Deus altssimo, em uma posio de majestade e poder sem par, como pessoa cuja obra terrena est consumada e como algum cuja posio na nova ordem jamais pode ser desafiada. (3) Feito tanto mais excelente do que
  28. 28. os aqjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. O seu nome Filho . O nome dos anjos mensageiros . Ns, modernos, que temos sido leva dos pelo turbilho louco de nosso mundo material, podemos no ter o equipamen to psicolgico para entender esta pas sagem em Hebreus. O mundo da Bblia um mundo habitado por anjos. Os estu dantes das origens da religio, que crem que a religio nada mais do que um passo da evoluo do homem, podem achar que os anjos pertencem exclusiva mente aos nebulosos princpios da reli gio, no passado impenetrvel, obscuro. Se isto fosse verdade, poder-se-ia esperar poucas referncias a anjos, medida que os quatro mil anos da peregrinao do homem na Bblia chegam ao fim.* *NOTA: A verdade que os anjos foram constantes companheiros do Filho do Homem e do povo da igreja primitiva. O escritor do Apocalipse diz que o tempo chegar ao fim, quando o anjo de Deus ficar com um p na terra e um p no mar, para proclamar o fim do tempo do homem na terra (Apoc. 10:1-6). Doze anjos esperam para dar as boas-vindas aos redimidos, em seu descanso na cidade santa, um em cada porta da cidade de Deus (Apoc.21:12). J6 ouve os anjos gritarem de alegria na criao: Quando juntas cantavam as estrelas da manh, e todos os filhos de Deus bradavam de jbilo (38:7). Quando Ado e Eva desobedeceram a Deus, foram expulsos do Jardim do den. Ao oriente do Jardim, Deus colocou querubins e uma espada flamejante, para guardar o caminho para a rvore da vida(Gn. 3:24). A histria de Abrao, o pai dos fiis, uma histria de um homem que era visitado por anjos. Foi o anjo de Deus que segurou a mo de Abrao quando ele levantou a faca acima do corao de Isaque (Gn. 22:11,12). Foi um anjo que lhe afir mou que Deus jamais se esqueceria da promessa que fizera a ele (22:17,18). O escritor de Hebreus admoesta-nos: No vos esqueais da hospitali dade, porque por ela alguns, sem o saberem, hos pedaram anjos (13:2). Anjos foram comissionados para destruir Sodo- ma (Gn. 19:1). O grande encontro de Jac com os anjos de Betei levou-o a dizer, maravilhado a ponto de perder o flego: Realmente o Senhor est neste lugar; e eu no o sabia... Este no outro lugar seno a casa de Deus; e esta a porta dos cus (Gn. 28:16,17). Na sara ardente, na encosta do deserto de Midi, um anjo falou com Moiss (x. 3:1,2; At. 7:30). Quando Israel foi libertado da escravatura, foi com a assistncia do anjo da morte, que feriu os primognitos de todas as famlias (x. 12:12,13). Quando Moiss recebeu a lei, por entre os troves do Sinai, ela lhe foi entregue por anjos (Heb. 2:2). Quando Israel foi oprimido pelos midianitas, foi um anjo que apareceu a Gideo, sob o carvalho de Ofra, e disse: O Senhor contigo, homem valoroso (Ju. 6:12). Foi um anjo do Senhor que se dirigiu a Elias, sob o zimbro, e lhe devolveu cora gem e fora (I Reis 19:5). Quando os exrcitos assrios de Senaqueribe rodearam a cidade de Jeru salm e Ezequias apresentou ao Senhor o seu problema em orao, naquela noite o anjo do Senhor feriu cento e oitenta e cinco mil assrios (II Reis 19:35). O salmista via Deus rodeado por vinte mil car ruagens e milhares de anjos (Sal. 68:17). No ano em que morreu o rei Uzias, o jovem Isaas foi ao Templo e viu Deus, altssimo e supremo. Acima do seu trono ficavam os serafins, clamando uns para os outros: Santo, santo, santo o Senhor dos exr citos; a terra toda est cheia da sua glria (Is. 6:1-3). O livro de Daniel transborda desses servos alados de Deus. Foi o anjo de Deus que libertou Sadraque, Mesaque e Abednego na fornalha (Dan. 3:28). Foi o anjo de Deus que anunciou a Maria e Jos a vinda do filho do cu (Luc. 1:26-35). Os anjos cantaram por ocasio do seu nascimento (Luc. 2:9-11). Anjos ministraram a nosso Senhor no deserto, depois dos quarenta dias e quarenta noites de tentao (Mat. 4:11). Jesus declarou: E digo- vos que todo aquele que me confessar diante dos homens, tambm o Filho do homem o confessar diante dos anjos de Deus (Luc. 12:8). Assim, digo-vos, h alegria na presena dos anjos de Deus por um s pecador que se arrepende (Luc. 15:10). Os anjos levaram o mendigo para o seio de Abrao (Luc. 16:22). Os pequeninos tm anjos guardies (Mat. 18:10). Jesus falou do Diabo e seus anjos (Mat. 25:41). Ele disse: Quando, pois, vier o Filho do homem na sua glria, e todos os anjos com ele, ento se assentar no trono da sua glria (Mat. 25:31). Na ocasio em que foi trado, Jesus disse que podia pedir ao Pai doze legies de anjos para o defenderem (Mat. 26:53). O anjo fortalecedor lhe veio no jardim do Getsmane (Luc. 22:43). Paulo disse que, na cruz, Jesus venceu os anjos das trevas (Col. 2:14,15). Um anjo rolou a pedra da porta do tmulo, e anunciou a ressurreio de Cristo (Mat. 28:2-6). Os anjos no foram apenas companheiros de Jesus, mas tambm do seu povo. S no livro de Atos os anjos fizeram muitas coisas: um anjo abriu as portas da priso para os apstolos (5:19); um anjo levou Filipe ao etope (8:26); um anjo matou Hero- des (12:23); um anjo levou Cornlio a mandar buscar Pedro (10:3-7); um anjo se colocou ao lado
  29. 29. de Paulo durante aquela terrvel tempestade no mar (27:23). O escritor de Hebreus nos assegura que os anjos de Deus so os servos de Deus e tambm servos daqueles que herdam a salvao. Como tais, eles fazem trs coisas: (1) adoram a Cristo (1:6); (2) oferecem-nos assistncia adequada para o servio de Deus (12:22); e(3) so os espritos ministradores enviados para nos ajudarem a entrar na plenitude da salvao. Em Jubileus 11:2, temos um relato interessante da criao dos anjos: No primeiro dia ele criou os cus que esto acima da terra, e as guas, e todos os espritos que o servem: os anjos da presena, os anjos da santifi cao, os anjos dos espritos dos ventos, e os anjos do esprito das nuvens, e das trevas, da neve, e do granizo, e da geada, e os anjos das vozes do trovo e do relmpago, e os anjos dos espritos do frio e do calor, e do inverno e da primavera, e do outono e do vero, e de todos os espritos das suas criaturas que esto nos cus, e sobre a terra, nos abismos e nas trevas, anoitecer e luz, alvorecer e dia, que ele preparou no conhecimento do seu corao. Os essnios da comunidade de Qumran atri buam uma posio elevada ao arcanjo Miguel e a Melquisedeque, a quem viam como redentor celes tial. Eles deviam desempenhar os principais papis no drama da redeno no fim dos tempos. Ray Summers, cuja erudio tem enriquecido sobremaneira o meu prprio pensamento, propi ciou material novo e convincente a respeito dos Rolos do Mar Morto e da Epstola aos Hebreus, provindo de Yigael Yadin, grande autoridade a respeito dos Rolos. Em seu artigo, Yadin enfatiza o papel decisivo do arcanjo da luz, Miguel, na era escatolgica. Ele cita os Rolos do Mar Morto:^ Hoje o seu tempo, indicado para subjugar e reduzir o Prncipe do Domnio da Iniqidade. E Ele enviar eterna assistncia, aos que sero redimidos por Ele, atravs do poder de um anjo: Ele magni ficou a autoridade de Miguel atravs de luz eterna para iluminar a (Casa) de Israel, paz e bno para o quinho de Deus, de forma a levantar-se, entre os anjos (lit.: deuses), a autoridade de Miguel, e o domnio de Israel sobre toda carne. E a justia se regozijar nos cus, e todos os filhos da Sua verdade se alegraro em conhecimento eterno. Esta NOTA mostra que era muito importante, para o escritor, expor cui dadosamente a sua idia de que Cristo superior a todos os intermedirios ang licos. Ele avana rapidamente e sem equvo cos, neste pargrafo introdutrio, para a 9 Yigael Yadin: The Dead Sea Scrolls and the Epistle to the Hebrews , Scripta Hieroiolymitana, IV (Jerusalm: Hebrew University, 1957), p. 46 e 47. sua plena identificao de Cristo com Deus. Ao invs de finalizar simplesmente a longa linhagem de profetas veterotes- tamentrios, Cristo considerado como exaltado acima de todos os anjos, porque ele est assentado direita do prprio Deus altssimo. O escritor dedica o resto do captulo 1 citao de sete passagens do Velho Testamento, que estabelecero, sua maneira, a superioridade de Cristo sobre os anjos. Ele deseja provar a abso luta superioridade de Cristo, a fim de que, no fim do captulo 2, possa voltar figura que usara no captulo 1 (v. 1), de Cristo permanecendo no fim da linhagem proftica, para que possa no apenas sofrer pelo homem, mas tambm vencer a morte atravs da morte, como indica em 2:9, 14. 2. Acima de Todos os Aijos (1:5-2:5) Os hebreus criam que Deus est ro deado pelas hostes celestiais, seus anjos (cf. Is. 6; I Reis 22:19). Milhes e mi lhes de anjos constituam o exrcito de Deus. Os hebreus criam que os anjos controlavam a antiguidade, antes da vin da do Messias. O escritor de Hebreus mostra que, no tempo do fim, Cristo est no controle, pois ele o Filho que se assenta ao lado de seu Pai, em majesta de, enquanto os anjos permanecem de p, esperando as ordens de Deus. Ele o Filho, enquanto eles so servos. Ele gerado de Deus, enquanto eles so cria turas de Deus. Ele o primognito, a quem os anjos adoram. Cristo senhor das foras da natureza, e superior aos anjos, que so obedientes sua vontade. Ele Senhor de toda vida. Ele Aquele sem quem o homem no pode viver. Neg-lo negar o ungido de Deus. 1) Superior em Sua Natureza (1:5-14) 5 Pois a qual dos anjos disse jam ais: Tu s m eu Filho, hoje te gerei? E o u tra v ez:
  30. 30. E u lhe serei P ai, e ele m e ser Filho? 6 E outra vez, ao introduzir no m undo o prim ognito, d iz: E todos os anjos de Deus o adorem . 7 O ra, quanto aos anjos diz: Quem de seus anjos faz ventos, e de seus m inistros labaredas de fogo. 8 M as do Filho diz: O teu trono, Deus, subsiste pelos s culos dos sculos, e cetro de eqidade o cetro do teu reino. 9 A m aste a ju stia e odiaste a iniqida de ; por isso Deus, o teu D eus, te ungiu com leo de alegria, m ais do que a teus com panheiros; 10 e: Tu, Senhor, no princpio fundaste a te rra , e os cus so obra de tu as m o s; 11 eles perecero, m as tu perm aneces; e todos eles, como roupa, envelhece ro, 12 e qual um m anto os enrolars, e como roupa se m u d aro ; m as tu s o m esm o, e os teus anos no acabaro. 13 M as a qual dos anjos disse jam ais: A ssenta-te m inha direita at que eu ponha os teus inim igos por escabelo de teus ps? 14 No so todos eles espritos m lnistra- dores, enviados p a ra serv ir a favor dos que ho de h erd ar a salvao? A superioridade de Cristo sobre os anjos enfatizada em cinco argumen tos: Primeiro, Cristo declarado Filho, honra nunca atribuda a um anjo (v. 5). James Moffatt (p. 10) indica que, con quanto filhos de Deus no seja desco nhecido como ttulo para os anjos, no Velho Testamento hebraico (Gn. 6:2,4), na Septuaginta nenhum anjo em parti cular jamais chamado de huios (filho). Segundo, os anjos recebem ordens de adorar o Filho (v. 6). Terceiro, os anjos so servos. Cristo o soberano do univer so (v. 7-9). Quarto, Cristo criador, os anjos so criaturas (v. 10-12). Quinto, os anjos so ministros, enquanto Cristo mediador (v. 13 e 14). Os anjos so subordinados, para a servido ou para o servio at dos remidos de Deus. Quatro vezes, no captulo 1, Cristo mencionado como Filho: uma vez no verso 2, duas no verso 5 e uma no verso 8. Quando smbolos humanos so aplicados a Deus, bom lembrar que s Deus sabe plenamente o que esses smbolos signifi cam. Ningum conhece quem o Filho seno o Pai (Luc. 10:22). Portanto, no precisamos nos maravilhar pelo fato de esse antigo pregador ter composto sete referncias do Velho Testamento para nos mostrar o que ele quer dizer ao referir-se a este termo. Tu s meu Filho, hoje te gerei. O ver sculo 5 menciona Salmos 2:7 e II Samuel 7:14, como evidncia da filiao divina de Cristo. So passagens messinicas, sendo que a primeira tem sua fonte na segunda. Elas explicam o que o escritor quer dizer ao falar em mais excelente nome no verso 4. Este mesmo versculo foi citado em Romanos 1:4 e aplicado ressurreio de Jesus. Lucas tambm faz a mesma interpretao a respeito dele em Atos 13:33 e ss. Gerei deve ser enten dido no como tendo um comeo, mas como sendo peculiar em termos de rela cionamento: o nico Filho. Em II Samuel o profeta Nat se dirigiu a Davi, quando este estava obsecado com o desejo de construir uma casa para Deus. Davi informado que no pode construir a casa de Deus, mas que a sua descendncia a construir. Em outras palavras, o que Davi no pode fazer para Deus, Deus promete fazer para Davi. A promessa de Deus a Davi dupla: Primeiro, A tua (de Davi) casa e o teu reino sero firmados para sempre (II Sam. 7:16). Segundo, para o que se as sentar sobre aquele trono, eu lhe serei pai, e ele me ser filho (v. 14). Pedro, em seu sermo no dia de Pentecostes, disse que isto foi cumprido na ressurreio de Jesus (At. 2:30,31). E todos os aqjos de Deus o adorem. Esta uma citao de Deuteronmio 32:43 e Salmos 97:7. Esta frase, em seu contexto original, trata da adorao que devida somente a Deus. Isto nos leva a perceber um dos princpios que o escritor usa para a interpretao do Velho Testa mento. Ele considera todas as passagens
  31. 31. que se referem a Deus como enunciaes profticas a respeito da vida preexistente do Filho com Deus. Primognito fala de superioridade. desta forma que esta palavra usada por Paulo em Colossenses 1:15, onde Cristo chamado de primognito de toda a cria o, e Paulo insiste que Cristo supe rior a todos os poderes anglicos e media dores espirituais. Quem de seus anjos faz ventos, e de seus ministros labaredas de fogo. No uni verso sobre o qual o Filho reina, os anjos so os espritos ministradores, enviados incessantemente para realizar a obra de Deus. Para os hebreus, os ventos e relm pagos e troves eram servos de Deus. Assim, a lei, dada no trovo do Sinai, a Moiss, considerada como ordenada pelos anjos. A. B. Davidson (p. 48) diz: Quando os seus anjos so enviados co mo mensageiros, eles se tornam ventos (Sal. 104:4); quando ministram diante do trono da sua glria, so labaredas de fogo (x. 3:2). Este escritor se harmo niza com II Esdras 8:21,22: Diante de quem a hoste de anjos permanece com tremor, e a cujas ordens eles so trans formados em vento e fogo. O teu trono, Deus, subsiste pelos sculos dos sculos. Esta uma citao do Salmo 45:6. Indica-se que em ne nhum outro lugar desta epstola o Filho mencionado como Deus, e que esta pas sagem pode ser lida da seguinte forma: Deus teu trono. Porm, luz de outras declaraes elevadas, feitas a res peito do Filho, no est fora de prop sito dirigir-se segunda pessoa da santa Trindade como Deus. E cetro de eqida