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Material de seminário durante o Simpósio internacional da FAJE e PUC Minas sobre "Secularização, Religião e Sociedade"
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A fé na sociedade plural e secularizada
no pensamento de J.L.Segundo
Afonso Muradwww.afonsomurad.blogspot.com
Simpósio Internacional de Filosofia, Teologia e Ciências da Religião – FAJE e PUC Minas
Fé antropológica• Estrutura da liberdade: impossível
testar previamente as possibilidade da existência
• Opção de vida em vista da felicidade é aposta irreversível.
• Recorre-se a Dados Transcendentes e testemunhas referenciais -> confiança em pessoas.
• Lentamente se configuram valores, que norteiam escolhas
• Os valores tem diferentes graus de importância e se estruturam em torno de um “valor absoluto”.
Mecanismos de eficácia (ideologia)
• A fé antropológica necessita se realizar na história.• O problema: usar métodos e mecanismos que tem autonomia
própria e não se submetem à estrutura significativa.• Trata-se de uma dimensão antropológica básica.• Sistema de meios constituídos em vista de um fim.• Os mecanismos de eficácia tem lógica própria, resistem ao
valor e tendem a se erigir como absolutos.
Duas dimensões antropológicas básicas e interdependentes
Fé: Estrutura
significativa
Ideologia: sistemas de
eficácia
Duas grandes questões
Para que?
Como funcionar?
Tensão
Fé sem eficácia: idealista,
inoperante. Degenera em má ideologia.
Sistema de eficácia sem
valores: instrumentali
dade se absolutiza -> unidimension
al.
DADOS TRANSCENTES
• Zona de convergência de estrutura significativa e sistema de eficácia.
• Até que ponto a realidade permite a realização de determinados valores
• É uma aposta, que não pode ser verificada empiricamente e sim existencialmente.
• Os DT mobilizam o ser humano para a transformação (utopia + esperança).
• Premissas epistemológicas e ontológicas parcialmente autovalidantes (G. Bateson)
Fé antropológica e Revelação
• Deus só pode se revelar para quem tem já alguma abertura e sintonia com sua proposta.
• Assim, a fé antropológica faz parte do processo da revelação, que é processo educativo de aprender a aprender.
Fé antropológica e religiosa: Elementos comuns
• Arrisca, aposta• Confia em Testemunhas referenciais, que
criam uma tradição viva• Fundamenta estrutura de valores em dados
transcendentes• Tem um escala de valores• Necessita de mecanismos de eficácia.• Organiza-se em torno de um Valor Absoluto
(onde estiver o teu tesouro...)• É processo de aprender a aprender
A questão decisiva
Referir-se a dados transcendentes a partir dos quais e sobre as bases das quais se aposta seus valores diante de toda a realidade
O salto de qualidade
• F.R. é a F.A transformada mediante a revelação, que estrutura o mundo dos valores.
• A F.R. confirma a F.A e convida à conversão.• FR: Crer naquilo que Deus comunica, acolher suas
testemunhas e a Tradiçao, entrar no processo educativo conduzido por Ele
Fé antropológica <-> fé religiosa
• Em culturas cristãs, a estrutura de valores é configurada a partir da fé religiosa.
• Mas a religiosidade pode esconder uma estrutura de valores questionável ou impedir as pessoas de alcançarem valores significativos.
• Colaboração e conflito: a fé religiosa configura a estrutura de significado. E a estrutura de significado questiona e purifica a fé religiosa.
• (Alguns exemplos: a postura em situação de crise)• A resposta de Jesus na parábola do Samaritano que
socorre o homem assaltado e ferido.
Diferentes linguagens
Sistemas de eficácia: linguagem digital,
objetiva, objetivante, precisa.
Fé: linguagem icônica, aberta a múltiplos sentido, no qual o sujeito se coloca
Intelecto e fé• Intelecto: faculdade de compreender o que realiza, função
pela qual o ser humano compreende e estrutura mentalmente sua própria vida.
• «Compreender» inclui sempre: tarefa interpretativa, e influxo sobre a vida.
• No âmbito da fé: perguntar qual é o impacto da verdade da fé sobre a existência real e as tarefas históricas e sociais.
• Anulação da função intelectual da fé: preferência à verdade formulada, em detrimento da verdade pensada, para facilitar a salvação para o maior número de pessoas.
• Simultaneamente, a fé que tem conteúdo irrenunciável e está sujeita à interpretação.
Dimensão intelectual da fé e compromisso histórico
• Quem só recebeu a fé como como imperativo externo tende a ficar desorientado ante a complexidade do histórico. Aplica a fé sem traduzi-la.
• A aceitação acrítica se estende para a prática social -> conformidade com o status quo.
• A função do intelecto e a introdução da mensagem cristã em realidades relativas e ambíguas da história serão vistas como perigosas.
• Consequência: dualismo entre duas histórias, entre a eficácia da salvação e a da história humana.
• Pensar a fé possibilita também julgar as tarefas históricas postas por ela, na relação com demais homens e mulheres.
Intelecto e fé
• A fé necessita de compreensão, de pensar ativamente a verdade revelada. «Dar razão» àquilo que se acredita, de maneira inteligente e criadora.
• A função intelectual da fé não consiste somente em compreender a doutrina cristã.
• Qual seria? Interpretar a história sempre em mudança à luz de fé. Formulação dinâmica, em diálogo, que responde às profundas questões colocadas pela humanidade.
Pensar a fé e a ação humana transformadora
• A fé exige adesão pessoal ativa e deve ser pensada.• O discurso sobre o conteúdo da fé requer:- Expressar e interpretar o diálogo Deus – ser humano, - Compreender-se em relação a tarefas humanas atuais.
Do amor à fé• O amor solidário pergunta pela esperança: Vale a
pena amar, diante das possibilidades de frustação? A fé responde -> afirma a vitória final do amor de Deus, em meio a (aparentes) reveses da história.
• O amor que progride pergunta pela sua amplidão: Vale a pena amar aos que estão fora do seu círculo restrito. A fé cristã sustenta a universalidade do amor que passa necessariamente pelo amor ao mais fraco (Mt 25,40).
• Grandes experiências humanas são pré-catequese da fé. Perguntam sobre o sentido da existência. Acontece no mundo, na sociedade.
O diálogo com o mundo purifica a fé• O diálogo obriga a Igreja a repensar elementos que
são fruto de deformações e que estão «travestidos» de fé.
• A fé corre o risco de se transformar em verbalismo. O Credo ser «verificado» também no nível da existência.
• Rever o conteúdo da fé, em confronto com os questionamentos que a evolução da humanidade suscita, não é um gesto desesperado para não perder o trem da história, e sim uma exigência da sua dimensão encarnatória.
Metamensagem da fé tem 2 dimensões
Absoluta: parte de Deus e do horizonte dos
valores que ele suscita na
humanidade.
Relativa: acompanha o
ritmo de interpretações na história em
mudança
Fé encarnada
• A tarefa de encarnar a fé no mundo é simultaneamente definitiva e provisória.
• A verdade revelada não é uma verdade final, por mais absoluta que seja, mas elemento fundamental para a busca da verdade.
• A revelação e a fé são imprescindíveis, numa situação de relação com o mundo e a história.
Assumir o relativo• A fé não é receita contra o relativismo na
história.• Com a fé o homem vive o relativo, sem cair no
caos ou na oscilação entre valores contraditórios.
• Conotação positiva: não é capricho, pragmatismo ou instrumentalização.
• Fé religiosa absoluta depende de condicionamentos essencialmente relativos.
Dois exemplos:
Amor e egoísmo
Amor e violência
Fé cristã e ética, na sociedade secularizada
A ética cristã, a partir de Paulo
Criadora Progressiva
Social Significativa
Relação entre meios e fins
Os fins justificam os
meios
Os meios devem ser coerentes
com os fins
Exercita-se flexibilidade
histórica
Fonte:
Afonso Murad: professor na FAJE, teólogo, escritor e ambientalista. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.Blog: afonsomurad.blogspot.comRedes sociais: Afonso Murad