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HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA
Introdução
Depois da morte dos apóstolos a Igreja se encontrava na obrigação de continuar com as doutrinas e práticas
aprovadas e ordenadas por eles, certos de que estas eram inspiradas pelo Espírito de Cristo, o Senhor da Igreja. Contudo,
devido ao grande adversário do homem aqui na terra - sua natureza ainda corrompida – a Igreja aos poucos se desviou de
seu caminho original. Neste período vamos observar o que aconteceu com a Igreja em seus primeiros séculos de vida.
Extensão da Igreja
Após os apóstolos morrerem a Igreja já tinha crescido bastante, se formos analisar a quantidade de discípulos
que existiam no tempo da sua inauguração (At 1:15 - em torno de 120 pessoas), veremos que a Igreja cresceu muito
desde a época apostólica, como fica claro no registro de Lucas (At 2:41; 4:4; 5:14; 6:7; 8:6, 14; 9:31, 35; 13:48; 16:5).
Contudo, e semente que um dia fora tão pequena, se tornou cada vez maior em sua influência e abrangência. Em seus
primeiros anos ela continuou a crescer, mesmo após a morte do último apostolo perto do fim do primeiro século (João,
96-98 d.C.):
Entre o ano 100 d.C. e o reinado de Constantino, o Cristianismo alcançou maravilhoso progresso. Em 313,
era a religião dominante na Ásia Menor, região muito importante do mundo de então, como na Trácia e na
longínqua Armênia. A Igreja se constituíra numa influência civilizadora muito poderosa na Antioquia, na
Síria, nas costas da Grécia e Macedônia, nas ilhas gregas, no norte do Egito, a província da África, na
Itália, no sul da Gália e na Espanha. Era menos forte em outras partes do império, inclusive e Britânia. Era
fraca, naturalmente, nas regiões mais remotas, como a Gália central e do norte. Em todas essas regiões a
Igreja alcançou povos das mais variadas línguas, que não faziam parte da civilização greco-romana... O
Cristianismo não tinha alcançado somente os limites do império; mesmo o leste da Síria e a Mesopotâmia
receberam influência poderosa.1
Mas por que a Igreja alcançou tão grande número de convertidos em tão pouco tempo? Qual havia sido a base de
tamanho progresso? Alguns fatores certamente colaboraram para este crescimento, os quais passaremos a conhecer. Para
tanto, utilizaremos da explicação de um escritor de história da Igreja chamado, Robert Nichols, o qual afirma que
diversos meios contribuíram para este crescimento da Igreja nos seus primeiros anos de existência2, a saber:
a) Missionários itinerantes;
b) Os apologistas ou defensores intelectuais do Cristianismo realizaram uma grande obra missionária;
c) Os homens que realizaram o trabalho de mestres nas igrejas foram de utilidade extraordinária no
desenvolvimento do Cristianismo daqueles dias;
d) Todavia, a maior parte da obra que contribuiu poderosa e decisivamente para espalhar a causa da cruz, foi
realizada pelos cristãos em geral. Por suas vidas, especialmente pelo seu grande amor fraternal e também pelo
amor aos descrentes, pela fidelidade e coragem sob as perseguições e pelo testemunho oral da história do
Evangelho, estes desconhecidos servos de Cristo trouxeram aos pés do Salvador a quase totalidade dos que
foram ganhos para a Causa do Evangelho naquele tempo.
Perseguição ao Cristianismo
Simultaneamente ao seu crescimento, a Igreja presenciou também a dura perseguição. A vida dos cristãos
naqueles primeiros anos de vida da Igreja não foi fácil. Os cristãos eram vítimas de perseguições terríveis por parte tanto
do povo, quanto por parte do Império Romano. Evidentemente que estes dois perseguiram de formas diferentes.
Vejamos como era a perseguição naquela época da Igreja:
1. Perseguição por parte do Império
A partir de Nero (54-68), o governo romano hostilizou tenazmente o Cristianismo. Qual a causa dessa
atitude? O governo permitia a livre prática de muitas religiões. Mas o Cristianismo era diferente das outras
religiões. Os crentes prestavam obediência e lealdade supremas ao seu Salvador. E para os romanos, o
Estado era a suprema força, e a religião era uma forma de patriotismo. Os deuses reconhecidos pelo
Estado eram cultuados com o objetivo de beneficiar o governo e a nação... Mas o Cristianismo era
exclusivista. Não condescendia em prestar culto a outra divindade. Os cristãos sustentavam a inutilidade
1 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 34.
2 Ibid., p 35, 36.
dos deuses, exceto o que eles adoravam. De modo algum prestariam culto aos deuses romanos, por ordem
do Estado. Jamais colocariam César acima de Cristo. Podemos entender por que, aos olhos dos governos
romanos, o Cristianismo parecia um ensino desleal e perigoso para o Estado e para a sociedade. Assim os
cristãos foram acusados de anarquistas, sacrílegos, ateus e traidores. O governo, então, hostilizava o
Cristianismo porque o considerava uma ameaça ao Estado Supremo.3
E ainda:
Não houve uma perseguição contínua, de Nero a Constantino. O tratamento dado aos cristãos variava de
acordo com as atitudes dos imperadores ou dos governos regionais. Houve muitas épocas de trégua em
certas regiões ou no império todo. Mas durante todo o tempo o Cristianismo esteve fora da lei, e em
qualquer ocasião os cristãos podiam ser presos e acusados diante de um magistrado. A recusa de
participação no culto oficial significava tortura e, para os obstinados, a morte. Nenhum cristão, nestes
séculos, pôde viver sem sofrer perseguição, de um modo ou de outro.4
2. Por parte do povo
Até ao 3º século, quando os cristãos se tornaram mais bem conhecidos, o Cristianismo era odiado pelo
povo. O repúdio dos cristãos ao culto do Estado, símbolo de patriotismo, tornava-os traidores aos olhos do
povo.5
Fim das perseguições
Todavia, esta perseguição não durou por muitos séculos, a Igreja teria o alívio destas dores o mais rápido
possível. E no 4º século ela se viu livre destes males sociais. Primeiramente veio a liberdade de ser cristão sem sofrer
pelas mãos do império, o qual deu licença para aos cristãos viverem a fé que professavam. O imperador responsável por
isto foi Constantino. Alguns intérpretes da história diz que Constantino se converteu. Já outros dizem que apoiar os
cristãos era uma questão de procurar apoio deles, já que não podia vencê-los, deveria juntar-se a eles. Qual destas duas
ocasiões será a mais condizente com os fatos? Vejamos uma explicação melhor deste acontecimento:
Muito já foi escrito e discutido sobre a conversão de Constantino. Pouco depois de ela ter acontecido
houve escritores cristãos, como veremos no próximo capítulo, que quiseram mostrar que esta conversão
era o ponto culminante de toda a história da igreja. Outros têm dito que Constantino não passava de um
político hábil que percebeu que vantagens poderia obter com uma “conversão”, e que por isto decidiu
atrelar seu carro à causa do cristianismo. As duas interpretações são exageradas... O mais certo parece ser
que Constantino cria mesmo no poder de Jesus Cristo. Mas esta afirmação não implica em que o
imperador entendesse sua nova fé como os muitos cristãos que tinham entregue sua vida por ela a
entendiam. Para Constantino o Deus dos cristãos era um ser extremamente poderoso, que estava disposto a
ajudá-lo sempre e quando ele favorecesse os seus fiéis. Quando Constantino, portanto, começou a
construir igrejas e a proclamar leis favoráveis ao cristianismo, ele não estava tanto buscando o favor dos
cristãos, mas o do seu Deus... Constantino interpretava a fé em Jesus Cristo de uma maneira que não o
impedia de adorar a outros deuses. Seu pai já tinha sido devoto do Sol Invicto. Este era um culto ao Deus
Supremo, cujo símbolo era o sol, mesmo não negando a existência de outros deuses. Parece que
Constantino, durante boa parte da sua carreira política, pensou que o Sol Invicto e o Deus dos cristãos
eram o mesmo ser, e que os outros deuses também eram reais e relativamente poderosos, apesar de serem
divindades subalternas.6
E ainda:
[...] nunca demonstrou em sua conduta qualquer influência da moral cristã... não recebeu batismo até
pouco tempo antes de morrer.7
Bom, independente de sua falsa conversão, o fato é que a liberdade de religião dos cristãos veio a existir neste
período. E eles puderam finalmente respirar aliviado depois de séculos de sofrimento e ameaças constantes:
Em 331, apareceu um Édito de Tolerância, publicado por Galério, imperador no oriente, no qual se
reconhecia a insânia da perseguição aos cristãos. Dois anos mais tarde, o Édito de Milão, de Constantino e
3 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 36, 37.
4 Ibid., p 37, 38.
5 Ibid., p 37.
6 GONZALEZ, Justo L. E até aos confins da terra: Uma história ilustrada do cristianismo. A Era dos Gigantes. Volume 2. São
Paulo, Vida Nova, 1980, p 29, 30-33. 7 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 48, 49.
Licínio, imperadores do ocidente e do oriente, estabelecia a liberdade religiosa para todos. Tal Édito foi
destinado a pôr fim à perseguição ao Cristianismo.8
Com toda certeza, mesmo trazendo consigo muito sofrimento, a perseguição trouxe um grande benefício ao
cristianismo em seus primeiros anos de existência: Uma vida moral elevada. Os cristãos daquela época realmente eram
provados duramente em sua fé. Os que continuavam em sua fé apesar dos sofrimentos terríveis, davam provas de que
verdadeiramente criam em Cristo e O serviam em quaisquer circunstâncias. A perseguição era como que um purificador
da fé dos crentes:
Essas grandes perseguições tiveram como resultado moldar em grande parte o caráter moral da Igreja. Só
uma pessoa zelosa e fiel professaria a fé em Cristo quando tal ato constituía hostilidade ao governo. A
vida cristã foi mantida num alto nível moral... No 2º e 3º séculos o caráter geral dos cristãos permaneceu
como desde o princípio, bastante elevado, o que os tornava distintos do resto do mundo. Não obstante
haver algumas exceções, os cristãos, em geral, eram conhecidos por sua moralidade superior.9
O Cristianismo como Religião oficial do Império
As mudanças drásticas com relação ao cristianismo não pararam quando os cristãos obtiveram sua almejada
liberdade de culto e religião. Com mais um pouco de tempo e os cristãos testemunharam um acontecimento talvez jamais
esperado por eles – o cristianismo tornar-se a religião oficial do Império Romano. Foi o que sucedeu nos anos do
imperador Teodósio:
Poucos anos depois (380), Teodósio, imperador cristão do oriente, baixou um decreto pelo qual todos os
súditos do império deveriam aceitar a fé cristã como estabelecida pelo Concílio de Nicéia... Assim o
Cristianismo veio a ser uma parte da lei imperial. Esse ato deu, naturalmente, o golpe de morte no
paganismo dentro do império. Muitos templos pagãos e ídolos foram destruídos, e pelo ano 400 o culto
pagão havia desaparecido.10
Contudo, mesmo parecendo contraditório, a perseguição aos cristãos trouxeram mais benefícios do que a
elevação do cristianismo à religião oficial do Império Romano. Enquanto era uma religião perseguida o cristianismo
estava livre da força do paganismo em seu seio, apesar de ter seus filhos presos ao sofrimento. Entretanto, ao ver seus
filhos livres de perseguições, o cristianismo viu o paganismo começar a influenciar desastrosamente sua pureza
doutrinária e moral:
A nova posição da Igreja, aliada ao século, de modo algum foi benéfica à sua vida. A entrada de multidões
nas igrejas impediam-na de manter aquela vigilância e aquele escrúpulo necessário ao preparo e exame
cuidadosos dos candidatos, como sempre o fizera. A maioria dos que entravam para a Igreja era realmente
pagã, gente de vida reprovável. Era natural que aparecesse uma queda no nível moral do caráter cristão.11
Surgimento do Monasticismo
Com o passar do tempo, o cristianismo já havia sofrido tanto com a entrava paulatina de ímpios falsamente
convertidos à fé, que muitos cristãos não suportavam mais a presente situação. “Muitíssimos cristãos sinceros tornaram-
se ansiosos por uma vida mais elevada, mais piedosa do que a que existia ao redor deles.”12
Assim, mesmo entendendo
que outros fatores também trouxeram sua contribuição para a existência da atitude monástica, podemos resumir as
motivações da seguinte forma:
O número cada vez maior de bárbaros a abarrotar a Igreja trouxe muitas práticas semi-pagãs para dentro
da Igreja, contra o que as almas puritanas se revoltaram. A crescente deterioração moral, especialmente
entre as classes altas da sociedade romana, levou muitos a descrerem da reforma social. O monasticismo
tornou-se um refúgio para os que se revoltavam contra a galopante decadência dos tempos.13
Quem aderiu ao modo monástico de viver, mais tarde foiçou conhecido como “monge”. “A própria palavra
“monge” vem do grego monachós, que quer dizer “solitário”. Uma das principais motivações dos primeiros monges foi
8 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 38.
9 Ibid., p 38, 39.
10 Ibid., p 50.
11 Ibid., p 51, 52.
12 Ibid., p 52.
13 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma história da Igreja cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 123.
viver sozinho, longe da sociedade, da sua inquietação e das suas tentações. O termo “anacoreta, com o qual eles logo
foram chamados, quer dizer “retirado” ou “fugitivo”.”14
Os monges que geralmente conhecemos em nossos dias vivem em grandes mosteiros bem organizados. Todavia,
não era assim que os adeptos da vida monástica viviam desde o seu início. O movimento monástico teve alguns estágios
antes de chegar à forma que conhecemos hoje:
O monasticismo passou por quatro estágios antes de seu aparecimento na civilização ocidental. De início,
as práticas ascéticas eram vividas por muitos dentro da Igreja. Muitos depois deixaram a sociedade para
viver como anacoretas ou eremitas. A santidade dos eremitas atraía a outros, que passavam a morar em
cavernas próximas a eles e sob sua liderança. Pôde-se construir, então, um claustro para exercícios
coletivos. No estágio final, surgiu a vida comunal organizada dentro do mosteiro. Este processo teve seus
primórdios no Oriente, no século IV, de onde se espalhou para a Igreja no Ocidente.15
A partir de seu surgimento houve depois várias ordens monásticas: Agostinianos, Beneditinos, Dominicanos,
Carmelitas, Franciscanos, Capuchinhos e Jesuítas.
Surgimento da Igreja Católica
Neste período da Igreja Antiga é que nós vemos surgir a denominação “Igreja Católica”, que nós conhecemos
em nossos dias. “Por volta de 170, a Igreja chamava-se a “católica” ou universal, um termo usado pela primeira vez por
Inácio em sua epístola a Esmirna.”16
Há tempos que a Igreja vinha progressivamente construindo sua organização
estrutural, ainda que não fosse tão formal, oficial, e institucional como se tornou mais tarde. Sua organização não surgiu
“da noite para o dia”. Isto se deu num processo de vários anos até chegar à sua forma final com o a conhecemos
atualmente. Porém, como percebemos, seu nome designativo apareceu cedo na história:
Diante da existência de grupos dissidentes como docetistas, gnósticos, marcionitas, montanistas e outros,
logo surgiu a questão: Onde está a igreja verdadeira e como identificá-la? A resposta foi o que se
convencionou chamar de “igreja católica”, expressão essa que surge pela primeira vez na literatura
conhecida numa carta do bispo Inácio de Antioquia datada aproximadamente do ano 110. A “igreja
católica” passou a ser uma designação da igreja majoritária, do cristianismo normativo e ortodoxo, fiel aos
ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, em contraste com os movimentos alternativos, considerados
falsos ou heréticos. Essa “igreja católica” do segundo século caracterizava-se por três elementos essenciais
de unidade e estabilidade: a aceitação de um conjunto de livros tidos como divinamente inspirados (as
Escrituras Hebraicas e o cânon do Novo Testamento), a declaração formal dos pontos centrais da fé cristã
(o credo, geralmente em forma trinitária) e especialmente a concentração da autoridade nas mãos de um
único líder em cada igreja local (o bispo monárquico). Associado a isso, surgiu o conceito de sucessão
apostólica.17
O Surgimento do Papa
Estando a se organizar cada vez mais a Igreja foi vagarosamente fundamentando a idéia de um “bispo universal”.
Ou seja, um papa. O aparecimento da idéia de um bispo superior a outros estava presente desde cedo na Igreja. E pouco
a pouco esta idéia tomou espaço até se tornar no que conhecemos como a sucessão de Pedro. Vejamos abaixo o seu
desenvolvimento:
Neste período apareceu um governo geral da Igreja Católica nos concílios gerais ou ecumênicos. A
autoridade desses concílios era exercida pela publicação dos credos que decidiam quanto à doutrina
aprovada pela Igreja Católica. Tais concílios eram, em teoria, compostos de todos os bispos, embora nem
todos estivessem presentes aos concílios do 4º e do 5º séculos... Temos visto na Igreja Católica um
processo de centralização de autoridade com o aparecimento do bispo com caráter monárquico, isto é, do
bispo que a princípio é dirigente de uma igreja e depois aparece como governador de uma diocese. Por
essa época a idéia de diocese tomou grande desenvolvimento, tornando cada vez maior o poder dos bispos.
Mais adiante, os bispos das capitais das províncias romanas tornaram-se, naturalmente, mais importantes
que os demais. Foram chamados os bispos metropolitanos, e cada um exercia superintendência sobre os
demais bispos e suas dioceses. Com um passo mais adiante na centralização, cinco bispos se levantaram
acima dos demais, e foram considerados patriarcas, e que eram: o bispo de Roma, o de Constantinopla, o
14
GONZALEZ, Justo L. E até aos confins da terra: Uma história ilustrada do cristianismo. A Era dos Gigantes. Volume 2. São
Paulo, Vida Nova, 1980, p 61. 15
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma história da Igreja cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 123. 16
Ibid., p 93. 17
MATOS, Alderi Souza de. Vós sois corpo de Cristo: Reflexões histórico-teológicas sobre a igreja cristã. Centro Presbiteriano de
Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 16 de julho de 2007.
de Alexandria, o de Antioquia e o de Jerusalém... Ainda um novo passo foi dado para a centralização do
governo da Igreja. Entre os cinco patriarcas, os dois mais importantes eram: o de Roma e o de
Constantinopla, as duas principais cidades do império. Muitas foram as causas que contribuíram para o
engrandecimento do bispo de Roma. A principal é que ele era o bispo da antiga capital do mundo. Por
muitos séculos Roma impôs sua autoridade sobre o mundo inteiro. Inevitavelmente, seu bispo dispunha de
um poder que nenhum outro poderia conseguir. Outra causa foi o costume mais e mais acentuado de se
apelar para o bispo de Roma nas disputas eclesiásticas. Tal hábito não deixava de ter seu apoio na
influência e prestígio com que os imperadores cercavam esses bispos. A partir do século 5º, a conhecida
pretensão petrina, ou papal, veio a ser geralmente aceita... A geral aceitação dessa doutrina criou
condições tais no mundo, como se a mesma fosse verdadeira. Além de tudo, os bispos romanos
prosseguiram numa política persistente de manter toda a autoridade que pudessem alcançar, aproveitando
cada oportunidade por exercerem, em toda a plenitude, a autoridade e o poder de que dispunham. Um
exemplo notável desse proceder foi o de Leão I (440-461), chamado por muitos “o primeiro papa”.18
Como podemos observar o ofício de bispo foi se tornando cada vez mais hierárquico de acordo com a
abrangência de seu poder. Até que o último a possuir mais poder foi chamado papa num sentido exclusivo. Digo isto
porque nem sempre o termo papa foi utilizado somente ao bispo principal de Roma:
Originalmente, a palavra grega papas ou a latina papa foi aplicada a altos oficiais eclesiásticos de todos os
tipos, especialmente aos bispos. A partir de meados do quinto século passou a ser aplicada quase que
exclusivamente aos bispos de Roma.19
E também:
O termo “papa”, que atualmente é empregado no Ocidente exclusivamente para o bispo de Roma, nem
sempre teve este sentido. A palavra em si significa simplesmente “papai”, sendo, portanto, um termo de
carinho e respeito. Na época antiga ele era usado para qualquer bispo distinto, sem importar se ele era ou
não o bispo de Roma.20
Como podemos concluir claramente, a utilização do termo progrediu ainda mais em exclusividade. Atualmente,
quando alguém fala do “papa”, está se referindo única e exclusivamente ao bispo que possui o mais alto poder
hierárquico da Igreja Católica. Porém, este é o sentido final a que se chegou a utilização do termo pelos católicos.
Naquela época, o poder do papa chegou ao ponto de ser considerado superior ao poder do próprio rei. Mas como
se chegou a esta conclusão? É simples, “porque o papa tinha de prestar contas a Deus no dia do julgamento, pelo rei, o
poder papal era mais importante que o poder real. Assim, os governadores deveriam se submeter ao papa.”21
18
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 57-59. 19
MATOS, Alderi Souza de. O papado: Sua origem, evolução histórica e significado atual. Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper. Acessado em 16.07.2007. 20
GONZALEZ, Justo L. E até aos confins da terra: Uma história ilustrada do cristianismo. A Era das Trevas. Volume 3. São
Paulo, Vida Nova, 1980, p 61. 21
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma história da Igreja cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 129.