Click here to load reader

História da Igreja I: Aula 11: Cruzadas, Reformas Monásticas e Escolástica

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Curso desenvolvido para a ministração de aulas de História Eclesiástica I no Seminário Teológico Shalom. O curso envolve a exposição da história da igreja cristã, dos tempos de Jesus aos tempos atuais, passando pelo seu surgimento e desenvolvimento, domínio com a conversão de Constantino, ascensão papal, movimentos reformadores e avivalistas da era moderna, até os movimentos ecumenista e pentecostal do séc. XX. Esta aula apresenta o período das cruzadas, citando seu impacto na sociedade medieval, e trabalha as novas reformas monásticas e a formação da Teologia Escolástica.

Citation preview

  • 1. Cruzadas, Reformas e Teologia Mudanas na Igreja medieval Histria Eclesistica I Pr. Andr dos Santos Falco Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminrio Teolgico Shalom

2. As Cruzadas - causas Turcos Seljcidas, que sucederam os rabes no controle da Terra Santa, eram mais fanticos e violentos, perseguindo os peregrinos europeus. Aleixo, imperador de Constantinopla, pede ajuda aos cristos da Europa ocidental contra tal grupo invasor. Inteno do Ocidente de controlar o Imprio Oriental, unificando-o. Interesse particular de vencer condies difceis de vida por parte de camponeses (fome, peste, servido). Interesse veneziano de estimular o aumento do comrcio com o Oriente Prximo. Interesse normando de saquear e estabelecer feudos quando libertavam os lugares sagrados dos muulmanos. Paixo pela aventura militar, fuga da rotina da vida ou fuga de penas de crimes foram outros motivos particulares que levaram nobres e cavaleiros a empreenderem-se nas jornadas cruzadas. 3. As Cruzadas Houveram vrios movimentos cruzados ao longo da Idade Mdia, porm os mais conhecidos foram: Cruzada Popular (1096) Primeira Cruzada (1095-1099) Segunda Cruzada (1147-1149) Terceira Cruzada (1187-1192) Quarta Cruzada (1202-1204) Cruzada Infantil (1212) Quinta Cruzada (1217-1221) Sexta Cruzada (1228-1229) Stima Cruzada (1248-1254) Oitava Cruzada (1270) Nona Cruzada (1271-1272) 4. Cruzada Popular O movimento cruzado surgiu com a pregao de Urbano II no snodo de Clermont, em novembro de 1095, conclamando uma Cruzada contra os muulmanos. Sua ideia era libertar os lugares sagrados do domnio do isl, mais do que ajudar o Imprio do Oriente. Motivados pela pregao de Pedro, o Eremita, e Walter, o-sem-dinheiro, massas de camponeses comearam a marchar atravs da Germnia, Hungria e Blcs em direo da Palestina. Sem organizao e disciplina, foram levados pelo Imperador de Constantinopla at a sia Menor, onde foram massacrados pelos turcos ou encarcerados e vendidos como escravos. 5. Primeira e Segunda Cruzadas O primeiro esforo organizado foi dirigido pelos nobres da Frana, Blgica e Itlia normanda. Os exrcitos chegaram a Constantinopla em 1097. Inicialmente tomaram Niceia e, no outono seguinte, partiram para Antioquia, conquistando-a na primeira de 1098. Por fim, em 15/06/1099, os exrcitos capturaram Jerusalm, levando os exrcitos a dividirem a terra em feudos. Jerusalm e as regies prximas foram organizadas no Reino de Jerusalm, governado por Balduno. Em 1147, uma segunda cruzada foi convocada, instigada pela pregao de Bernardo de Claraval, para segurar a ameaa muulmana ao flanco nordeste do Reino de Jerusalm. O rei da Frana e o Imperador do Sacro Imprio seguiram para a batalha, mas esta resultou em fracasso. 6. Terceira Cruzada Com a queda de Jerusalm em 1187 sob as foras de Saladino, foi convocada nova cruzada, conhecida como a Cruzada dos Reis, por ser liderada por Filipe Augusto da Frana, Ricardo Corao de Leo, da Inglaterra, e pelo Imperador Frederico. A empreitada sofreu com problemas na liderana: Frederico morreu afogado acidentalmente durante a jornada, enquanto que Filipe abandonou o grupo aps uma briga com Ricardo. Apesar de conquistar importantes cidades da regio, como Acre e Jaffa e reverter a maioria das conquistas de Saladino, Ricardo no conseguiu conquistar Jerusalm, tendo que se contentar com um acordo com Saladino permitindo a entrada de peregrinos cristos em Jerusalm. Com o acordo, Ricardo foi obrigado a retornar para casa, sendo preso na jornada e sofrendo com o domnio do Imperador no processo. 7. Cruzadas de Inocncio III Durante seu governo, o papa Inocncio III instigou a gerao de mais duas cruzadas com o objetivo de reconquista da Terra Santa: A quarta, em 1202, e a quinta, em 1213. A Quarta Cruzada tinha a inteno de dominar Jerusalm atravs do controle e formao de um entreposto no Egito. A cruzada fracassou por falta de controle e pelo desvio do alvo para Constantinopla, que foi dominada em 1204. Com isso, um reino latino foi fundado na regio, durando at 1261, e durante o perodo os dois Imprios ficaram sob o comando do papa. A Quinta Cruzada teve mais sucesso. Liderada pelo rei Andrew II da Hungria e pelo Imperador Frederick II, o grupo chegou a conquistar Betsaida e cruzar o rio Jordo, porm foi parado por tropas seljcidas nos fortes do Lbano e Monte Tabor porque as catapultas e armas pesadas demoraram a chegar. As muralhas de Jerusalm chegaram a ser derrubadas para impedir que os cristos conseguissem se defender, aps uma possvel conquista, e o povo da cidade fugiu, com medo de novo massacre como o de 1099. Sem conseguir a conquista da Terra Santa, o grupo tentou conquistar o porto egpcio de Damietta, mas foram aniquilados pela doena e pelas foras do Sulto Al-Kamil, que empreenderam um devastador ataque noturno. 8. Cruzadas Derradeiras Sexta Cruzada: O Imperador Frederick II, aps excomungado pelo papa Gregrio IX em 1228 por no conseguir montar a cruzada que jurava que comandaria, viajou ao Egito em setembro, firmando um acordo com Al-Kamil que permitia aos cristos controlarem boa parte de Jerusalm e uma faixa de terra de Acre a Jerusalm, enquanto os muulmanos ganharam controle sobre suas reas na cidade. Em troca, o Imperador jurou defender Al-Kamil de seus inimigos, mesmo cristos. Stima Cruzada: No vero de 1244, o filho de Al-Kamil atacou e conquistou Jerusalm. Os francos se aliaram com o irmo de Al-Kamil, Ismail, e o emir de Horns para reconquistar a cidade, mas foram derrotados em 48 horas. Luis IX, da Frana, ento, empreendeu uma cruzada contra a Terra Santa, aps 4 anos de pregao e recrutamento. Chegando em Damietta em junho de 1249, as foras aguardaram a baixa do Nilo para marchar em direo Terra Santa. Porm, foram aniquiladas perto de El Manusra. O rei foi capturado e obrigado a pagar um resgate de 800 mil bezantes (peas de ouro do Imprio Bizantino), passando os prximos 5 anos buscando reforar as posies do Reino de Jerusalm. 9. Cruzadas Derradeiras Oitava Cruzada: Indo contra seus conselheiros, Luis IX novamente tomou a cruz em 1270, atacando os rabes na Tunsia. Tal movimento foi motivado pela notcia de que o sulto Mameluco Baibars estava atacando o restante dos estados cruzados fundados na regio do Oriente Prximo. Buscando usar Tunis como base para atacar o Egito e depois o Oriente Prximo, a cruzada foi aniquilada pela falta de gua potvel, causando a morte do rei em 25/08. Seu irmo, Charles de Anjou, tomou a frente e abandonou o cerco a Tunis em 30/10, fechando acordo com o Sulto. Nona Cruzada: Em geral agrupada com a anterior, devido chegada do prncipe Eduardo da Inglaterra para ajudar no esforo de Luis IX. Seu exrcito conquistou diversas vitrias sobre Baibars, causando um tratado de paz que foi rapidamente ignorado. Sofrendo com a tentativa de assassinato e com a notcia de que seu pai havia morrido, e percebendo que s conquistaria Jerusalm se houvesse um esforo de unio entre os estados cruzados, Eduardo abandonou a batalha cruzada e retornou Inglaterra, onde foi coroado Rei da Inglaterra em 19/08/1274. Os Estados Cruzados deixaram de existir quando Acre foi dominada em 1291 e a Ilha Ruad, ltimo forte cruzado, em 1303. 10. Consequncias das Cruzadas Enfraquecimento do feudalismo, com as perdas de inmeros cavaleiros, que saam para as cruzadas e nunca voltavam. Venda de terras a camponeses e classe mdia citadina para gerar recursos para as cruzadas gerou diviso das terras e quebra do sistema. Cidades controladas por senhores feudais compraram cartas que lhes garantiam autogesto. Reis solidificaram seu domnio com apoio da classe mdia. Aumento do prestgio papal durante as Cruzadas. Enfraquecimento do Imprio Oriental com a criao do Reino Latino de Constantinopla. Criao de escolas missionrias como Miramir, na Espanha (1276) para conquista dos muulmanos pela persuaso. Comrcio de Veneza e outras cidades italianas com o Oriente Prximo para trazer os produtos de luxo orientais para satisfazer os anseios da nobreza que regressara das cruzadas e teve contato com tais produtos durante suas jornadas. Introduo da filosofia, cincia e literatura rabe e grega no Ocidente, gerando a base cultural para o Renascimento e religioso para o Escolasticismo. 11. Reforma Monstica A reforma de Cluny j havia cado em decadncia por volta do sculo XI. Com a vida monstica novamente caindo nos problemas de sempre, novas ordens foram criadas em busca de uma renovao do estilo de vida dos claustros. As ordens criadas neste perodo foram: Ordem Cisterciense Franciscanos Dominicanos Cavaleiros Hospitalrios Cavaleiros Templrios Cavaleiros Teutnicos 12. Ordem Cluniacense Fundada por um monge beneditino de nome Roberto na cidade de Citeaux, Frana, em 1098. Tinha grande nfase na autonegao asctica, simplicidade arquitetnica de suas construes e organizao centralizada. Os abades se reuniam com o abade de Citeaux numa assembleia anual, onde discutiam os problemas do grupo. O abade de Citeaux no tinha o poder supremo do abade de Cluny, mas presidia a assembleia. Formao majoritariamente camponesa. Davam mais ateno agricultura do que ocupaes escolsticas. Grande fama devido a Bernardo de Claraval (1090-1153), fundador do mosteiro mais famoso da Ordem. Humilde e mstico, prtico e corajoso, agradava papas e soberanos com seus conselhos. Sua pregao foi responsvel pela Segunda Cruzada e combateu a doutrina quase-pantesta de Abelardo. 13. Ordens Militares Ordem dos Cavaleiros de So Joo (Hospitalrios): Fundada no comeo do sculo XII para defender os peregrinos e cuidar dos doentes. Equivalente medieval Cruz Vermelha dos dias atuais. Posteriormente tornou-se uma organizao estritamente militar para defender dos pagos a Terra Santa. Cavaleiros Templrios: Nome originado de seu centro operacional perto do templo de Jerusalm, organizados em ordem em 1118 e reconhecidos oficialmente dez anos depois. Adotaram o modelo cisterciense de vida monstica em 1130. Era primariamente destinada a defender a Terra Santa dos assaltos muulmanos, porm foi extinta em 1312 porque estaria se intrometendo na pltica francesa. Cavaleiros Teutnicos: Ordem fundada aps a Terceira Cruzada, foi para a Prssia para salv-la dos eslavos. Ali acabou assentando razes, tornando- se os ancestrais das famlias da nobreza da Prssia. 14. Ordens Mendicantes Prestavam votos de pobreza, vivendo entre o povo das cidades para servi-lo e pregar ao povo na sua lngua. Os mosteiros tinham propriedades e os monges se autossustentavam pelo trabalho. Os membros destas novas ordens, chamados de frades (do latim frater, irmo), se mantinham graas s doaes e esmolas recebidas do povo. Estavam mais diretamente ligados ao papa do que qualquer outra ordem. Entre as ordens mendicantes, estavam as ordens franciscana, dominicana, agostiniana e carmelita. 15. Ordem Franciscana Fundada por Francisco de Assis (1182-1226), devasso filho de um rico comerciante. Converteu-se por uma enfermidade, deixou a casa e consagrou-se pobreza e servio de Deus. Reuniu vrios jovens com os mesmos interesses e elaborou uma regra para dirigir suas vidas, exigindo pobreza, castidade e obedincia ao papado. Aprovada por Inocncio III em 1210, a ordem tornou-se to popular que gerou dois novos grupos: As Clarissas Pobres, organizada por uma jovem de 18 anos, e a Ordem Terceira, formada por leigos que viviam segundo as regras mas no podiam deixar sua vida secular por vnculos de famlia ou negcios. 16. Ordem Franciscana Sinnimo de servio, foi um dos braos missionrios da Igreja Romana. Francisco pregou na Espanha e no Egito. Joo de Monte Corvino pregou na China, chegando antes de 1300 e batizando seis mil pessoas e convertendo ao todo 30.000. A igreja foi totalmente destruda, porm, pela dinastia Ming em 1368. Os frades franciscanos seguiram as conquistas da Espanha e da Frana no Novo Mundo, criando inmeros mosteiros em seu caminho. Com o crescimento da ordem, passou a ser mais centralizada, com um geral nomeado pelo papa. Teve muitos eruditos, como Roger Bacon, Boaventura, Duns Scotus e Guilherme de Occam. As ideias de Occam sobre a natureza da realidade influenciariam a evoluo espiritual de Lutero e fortaleceram o modo de vida experimental renascentista. 17. Ordem Dominicana Fundada por Domingos (1170-1221), sacerdote espanhol de bero nobre, decidiu combater a heresia na igreja com as armas da austeridade de vida, simplicidade e argumento. Sua motivao era enfrentar a heresia albigense que surgira no sul da Frana. Por conta disso, os ces do Senhor primaram pela educao. A Ordem Dominicana foi aprovada em 1216 e tornou-se altamente centralizada. Cada grupo tinha um prior que estava sujeito ao prior encarregado de uma provncia. Na assembleia geral da ordem postava-se o mestre-geral, que respondia diretamente ao papa. O grupo empenhou-se na obra missionria e na educao. Toms de Aquino, desenvolvedor da teologia reinante da Igreja Catlica, era dominicano. 18. Movimentos leigos de Reforma Albigenses: Tambm chamados de Ctaros, usavam o NT como base de suas doutrinas. Possuam doutrinas dualistas e ascticas que lembravam as doutrinas gnsticas e maniquestas da Igreja Primitiva. Criam na existncia de um dualismo absoluto entre o Deus bom, que fez a alma dos homens, e o deus mau, que recebeu um corpo material aps ter sido expulso dos cus. Ao ser expulso, este deus teria formado o mundo visvel. Por crerem que a matria m, opunham-se reproduo da espcie, rejeitavam os sacramentos (especialmente a missa com sua nfase na presena fsica de Jesus nos elementos) e refutavam a doutrina do inferno e do purgatrio e de uma ressurreio fsica. A salvao envolvia o arrependimento, o rito de consolamentum (imposio de mos e do Evangelho de Joo sobre a cabea do fiel) e absteno asctica do casamento, juramentos e guerra. No comiam carne, leite, queijo e ovos. Condenavam o uso de coisas materiais na adorao. Foram aniquilados por Simo de Montfort, que organizou uma Cruzada Albigense em 1209, a mando de Inocncio III. 19. Movimentos leigos de Reforma Valdenses: Fundado em cerca de 1170 por Pedro Valdo, rico comerciante de Lion, que leu uma traduo do NT e ficou impressionado com os ensinamentos de Cristo ao ponto de abandonar todos os seus bens, exceto os necessrios para o sustento de sua famlia. Organizou um grupo, os Pobres de Esprito para pregar como leigos, mas foram proibidos de faz-lo. Ao se recusarem, foram excomungados. Criam que todos os homens deviam possuir a Bblia, devendo esta ser a autoridade final para a f e para a vida. Saam em dois e se vestiam com simplicidade para pregar aos pobres em sua lngua. Aceitavam as confisses ecumnicas modelares, a Ceia e o batismo, alm da ordenao leiga para pregao e ministrao dos sacramentos. Possuam clero prprio, com bispos, sacerdotes e diconos. Valdo foi seu lder at sua morte, em 1217. Aps sua morte, o grupo permaneceu, constituindo hoje um grupo de cerca de 35 mil crentes no norte da Itlia. 20. Movimentos leigos de Reforma A reao da Igreja Catlica a estes movimentos foi diverso: Ctaros: Frades dominicanos tentaram traz-los de volta f catlica atravs da pregao. Posteriormente, uma cruzada de 1209 a 1218 praticamente exterminou o grupo no sul da Frana. Snodo de Toulouse (1229): Proibio aos leigos de usarem as tradues da Bblia nos idiomas do povo, de forma a evitar a comparao entre a Igreja Primitiva e a Igreja Catlica pudessem ser evitadas. Criao da Inquisio, corte eclesistica secreta que usava tortura e mantinha em segredo os nomes dos acusadores para punir os hereges. As penas variavam do confisco de bens fogueira. Inicialmente a Inquisio esteve em mos episcopais, mas em 1233 o papa Gregrio IX passou o comando aos dominicanos. Medo de castigo por divergir do pensamento dominante da Igreja Romana levou estagnao cultural. 21. Escolasticismo Modelo de teologia adotado a partir do sc. XI na Igreja Romana, que possuiria em Toms de Aquino sua figura principal, buscava racionalizar a teologia para que se sustente a f com a razo, partindo de pressupostos filosficos, mais do que bblicos. Para chegar a tal, os dados da revelao deveriam ser organizados sistematicamente atravs do uso da lgica dedutiva de Aristteles e harmonizados com sua filosofia recm descoberta. O sentido do nome escolstico vem da palavra grega schol, que significa o lugar onde se aprende. O termo foi aplicado aos professores na corte ou na escola palaciana de Carlos Magno e tambm aos eruditos medievais que se serviam da filosofia no estudo da religio. Esses estudiosos procuraram provar a verdade vigente atravs de processos racionais, em vez de buscar uma nova verdade. 22. Escolasticismo - causas do surgimento A principal causa do escolasticismo foi o surgimento na Europa da filosofia de Aristteles, atravs de tradues de William de Moerbeke de fontes judaicas e rabes e das tradues de Averres, grande filsofo rabe, introduzidas na Europa atravs da Espanha por volta de 1200. Tradues de Moiss Maimnides, famoso rabino e filsofo judeu, tambm afloraram nesta poca. Outra causa foi o interesse das novas ordens mendicantes pelo uso da filosofia no estudo da revelao. Toms de Aquino era dominicano, enquanto Guilherme de Occam e So Boaventura eram franciscanos. A expanso do movimento universitrio a partir do sc. XII proveu um lar para o movimento. As universidades centralizaram seus currculos em torno do estudo da teologia pela ajuda da lgica e da razo. No tempo de Abelardo, a Universidade de Paris foi o centro principal do escolasticismo. 23. Escolasticismo contedo e mtodo O contedo da Teologia Escolstica a organizao racional do corpo de verdades aceitas para que, atravs da f revelada ou da filosofia raciocinada, pudesse constituir um corpo harmnico. A mente medieval buscava uma unidade intelectual, poltica e eclesistica, e o ressurgimento da filosofia aristotlica forou os homens a buscar novamente a integrao de tais conhecimentos. Seus estudos partiam da Bblia, dos credos e dos escritos dos Pais da Igreja, e buscavam resolver se a f era ou no razovel. A metodologia estava sujeita autoridade da dialtica ou lgica aristotlica. Esta lgica parte de uma verdade ou lei geral que no prova, mas pressupe. Relacionando a lei geral a um fato particular, busca-se uma concluso que, por sua vez, torna-se uma nova lei ou verdade geral para ser relacionada a novos fatos. As verdades gerais da filosofia eram tomadas da teologia revelada. Desta forma, passagens da Bblia, dos Pais, dos cnones e credos e decretos papais foram concatenados numa ordem lgica. 24. Escolasticismo tendncias O pensamento sobre a harmonizao entre f e razo no foi uniforme no perodo escolstico. Ao longo dos anos, pensadores surgiram buscando harmonizar ambos de formas diferentes. A compreenso destas tendncias nos permitem analisar os estudiosos de forma mais atenta. As tendncias que surgiram no movimento escolstico foram: Realismo: Creio para que possa obedecer. Seu representante mximo foi Anselmo de Canturia. Realismo Moderado: Conheo para que possa crer. Entre seus representantes, temos Abelardo, Alfredo Magno e Toms de Aquino. Nominalismo: Eu creio Algo separado do que conheo. Guilherme de Occam e Roscelino foram seus grandes expoentes. 25. Realismo Esta tendncia caracterizada pela viso platnica de que os universais, como o homem e a Igreja, tm uma existncia objetiva anterior s coisas criadas. Universais como verdade, beleza e bondade existem fora dos atos individuais praticados pelo homem. Plato cria, portanto, que os homens devem olhar para a realidade ltima alm dessa vida. Anselmo de Canturia (1033-1109), bispo da cidade em 1093, apesar de enfrentar a questo das investiduras leigas praticadas pelos reis ingleses, deve sua fama s atividades intelectuais. Para Anselmo, a f deveria ser primria e ser um fundamento para o conhecimento. 26. Realismo Desenvolveu seu pensamento em duas grandes obras para aplicar a razo para confirmao da f. O Monologium um argumento indutivo do efeito para a causa, da existncia de Deus. O homem desfruta de muitos bens na vida, que so reflexos de um bem supremo atravs de quem tudo existe. Como o regresso infinito impondervel, a causa de tudo deve ser Deus. O Proslogium, por outro lado, um argumento dedutivo da existncia de Deus. O argumento, conhecido como ontolgico, baseia-se na doutrina da correspondncia. Todos tm uma ideia de um ser supremo em sua conscincia. Ela deve corresponder a uma realidade que tem uma existncia objetiva, pois de outro modo um ser ainda maior teria que ser concebido. Como no h como ser concebida ideia maior que essa de Deus como ser supremo, ele deve existir. 27. Realismo Anselmo tambm trabalhou a teoria da Expiao na obra Cur Deus Homo. Segundo ele, o homem devia obedincia absoluta a Deus, mas esta foi recusada pelo homem natural desde Ado. Assim, o homem est em dbito com um Deus que exige pagamento atravs de sacrifcio. Ao morrer na cruz, o Deus-homem, Cristo, paga a dvida que o homem deveria pagar. Esta ideia, contrapondo a ideia medieval do pagamento a Sat, prevaleceu na Igreja at Toms de Aquino. Outra obra realista importante foi os Quatro Livros de Sentenas de Pedro Lombardo (c. 1095-c.1159). Este livro, escrito por um brilhante professor da Universidade de Paris, tratava da Trindade da Encarnao, dos sacramentos e da escatologia. Lombardo salientou a necessidade dos sete sacramentos, os quais foram finalmente aceitos como definitivos em 1439 e reafirmados no Conclio de Trento. 28. Realismo Moderado Ao contrrio de Plato, Aristteles tinha uma viso mais moderada da natureza da realidade. Cria que as coisas particulares so as mais reais para ns, mas os universais so os mais reais em si mesmos. Ou seja, acreditava que os universais existiam com as coisas criadas. Os escolsticos medievais que aceitaram tal ensino foram conhecidos como realistas moderados. O primeiro a trabalhar a Teologia por este vis foi Abelardo (1079-1142), natural da Bretanha. Dava aulas em Paris que eram to famosas que suas classes chegaram a ter milhares de alunos. Enfrentou uma grande tragdia em sua vida quando se apaixonou por uma de suas alunas particulares, Helosa, sobrinha de um colega chamado Fulberto. Quando o caso de amor e casamento se tornaram pblicos, Fulberto vingou-se dele, emasculando-o com alguns rufies. Abelardo ento convenceu Helosa a entrar para um convento e ele mesmo foi viver em um mosteiro at a morte, aps ter seus ensinamentos condenados por Bernardo de Claraval. 29. Realismo Moderado A posio teolgica de Abelardo era moderada. Cria que a realidade existia primeiro na mente de Deus, depois aqui e agora, em indivduos em coisas, no acima e alm desta vida, e finalmente na mente do homem. Defendia, contrariamente a Anselmo, a ideia do Conheo para que possa crer. Apelava razo constantemente como autoridade. Cria que a dvida deveria levar pesquisa e esta, verdade. A morte de Cristo, para ele, no era para satisfazer a Deus, mas para gravar no corao do homem o amor de Deus, influenciando o homem moralmente a entregar sua vida a Deus. A principal obra de Abelardo Sic et Non. Contm 158 proposies ordenadas para demonstrar as posies dos Pais favorveis e contrrias a determinadas ideias. Mostrou, com isso, as contradies existentes entre os Pais, tentando solucion-las. No rejeitou a teologia autorizada da igreja, mas foi mal visto por seus mtodos. 30. Realismo Moderado Toms de Aquino (1225-1274): O Doutor Anglico, de bero nobre, pois sua me era irm de Frederico Barba- Roxa. Educado em Monte Cassino e na Universidade de Npoles, fez-se monge dominicano contra a vontade de seus pais e dedicou-se a estudar. Por seu jeito desengonado, foi apelidado de boi quieto. Cria que, no campo da filosofia natural, o homem podia alcanar verdades como a existncia e a providncia de Deus e a imortalidade, atravs da razo e lgica aristotlica. Alm dessas ideias sobre Encarnao, Trindade, criao no tempo, pecado e purgatrio, o homem pode alcanar a verdade pela f na Bblia, conforme interpretao dos Pais e conclios. 31. Realismo Moderado Sobre a realidade, cria que ela havia surgido na mente de Deus antes de existir nas coisas ou na mente humana. Entendia que, como a f e a razo vinham de Deus, no poderia haver contradio entre elas. Entre suas obras, a Summa contra Gentiles era um manual de argumentos de revelao natural para treinamento de missionrios aos muulmanos. Sua principal obra foi a Summa Theologiae, com 3000 artigos e mais de 600 questes em trs grandes sees. Pretendia sistematizar toda a teologia, tornando- se assim a exposio clssica do sistema da ICAR. Dividida em 3 partes. A primeira discute a existncia e natureza de Deus, a Trindade e sua obra na criao. A segunda trata do avano do homem a Deus, falando sobre a natureza da moralidade e das virtudes. Rompe com Agostinho ao afirmar que a vontade do homem limitada pelo pecado, mas no completamente determinada pelo mal. A terceira fala sobre Cristo como o Caminho para Deus, e da encarnao, vida, morte e ressurreio, alm dos sacramentos como meios de graa. 32. Realismo Moderado A influncia de Toms de Aquino foi enorme. Sua doutrina foi expressa poeticamente por Dante em A Divina Comdia e reafirmada por Leo XIII. Entre seus ensinos mais controversos, est a racionalizao da ideia por trs das indulgncias, fator que levou diretamente Lutero a iniciar a Reforma Protestante. Segundo Toms, Cristo e os santos possuam mritos extraordinrios, adquiridos em vida e no usados. Tais mritos poderiam, ento ser sacados pela Igreja para o penitente. Estes mritos, adquiridos com a compra ou conquista das indulgncias, permitia a iseno da satisfao necessria do sacramento da penitncia. Toms tambm entendeu a igreja como uma instituio corporativa, em detrimento da liberdade do indivduo. 33. Nominalismo Opositores dos realistas, os escolsticos nominalistas entendiam que verdades ou ideias gerais no tm existncia objetiva fora da mente, mas sim so apenas ideias subjetivas formadas pela mente como resultado da observao. Os universais so apenas nomes de classe. Por exemplo, a justia apenas a ideia decorrente do homem observar a justia em ao. Cuidavam mais do indivduo, ao contrrio da viso organizacional e grupal dos realistas. Foram os precursores dos empiristas dos scs. XVII e XVIII e dos positivistas e pragmticos contemporneos. No negavam a revelao, mas afirmavam que ela deve ser aceita com base na autoridade independentemente da razo, uma vez que muito do que a Igreja afirmava ser absoluto no pode ser demonstrado pela razo. 34. Nominalismo - expoentes Os franciscanos rapidamente criticaram a obra de Toms, membro da ordem dominicana rival. A crtica originou a posio nominalista dominante no sc. XIV, com o escolasticismo j em declnio. Guilherme de Occam (c. 1280-c. 1349) foi quem desenvolveu o sistema nominalista completo. Dizia que os dogmas teolgicos no eram demonstrveis racionalmente e deveriam ser aceitos pela autoridade da igreja. Esta viso separou f e razo e negou a sntese tomista dos campos da razo e revelao. Occam tambm negava a existncia de universais objetivos e que eram apenas nomes para os conceitos mentais que o homem forma em mente. A crtica de Occam autoridade da Igreja, dando mais valor ao indivduo que instituio, suscitou o interesse de Lutero em suas obras. Roger Bacon (c. 1214-1292) tambm era franciscano, mas se dedicou aos experimentos cientficos. Foi quem colocou os fundamentos da cincia experimental, mtodo desenvolvido por Francis Bacon no sc. XVII. 35. Resultados do escolasticismo Sustentao do sistema sacramental e hierrquico da Igreja Romana com sua crena nos universais que levava subordinao do indivduo ao grupo. Importncia dada por Toms de Aquino aos sacramentos como meios de graa fortalecem o domnio da Igreja Catlica Romana sobre o indivduo, pois no havia salvao fora dos sacramentos ministrados pela hierarquia. A doutrina de que a razo precede a revelao como instrumento de conhecimento levou ao perigo de que a verdade conhecida pelos dois mtodos poderia se separar em duas esferas, a secular e a sagrada. Tal separao se evidencia na viso nominalista. Novo interesse no homem por parte do nominalismo, o que fomentou muito do materialismo da Renascena. Outros encaminharam-se para o misticismo como forma pela qual o indivduo poderia ir diretamente presena de Deus. A Summa Theologiae deu ICAR medieval e moderna uma sntese definitiva e integrada que harmonizava filosofia e religioso. 36. Universidades As universidades foram instituies visando ensino e pesquisa que surgiram por volta de 1200 na Europa. Em 1400, j havia mais de 75 universidades na Europa. Nessas escolas, os estudos escolsticos tomavam parte considervel do currculo. O ensino superior precedeu a criao das universidades, mas aps seu surgimento, a maior parte da educao superior passou a ser ministrada nas salas de aula, em vez das escolas monsticas e catedrais. Existem vrias razes para seu surgimento por volta de 1200: 425: Marciano Capella adapta o trvio (gramtica, retrica e lgica) e o quatrvio (geometria, aritmtica, astronomia e msica) romanos para o estudo da religio. Uso de tais estudos por Carlos Magno em sua escola palaciana, baseando-se no modelo das escolas monsticas de ensino, a partir de 550. Presena de grandes mestres em escolas, como Irnrio em Bolonha e Abelardo em Paris. Revoltas ou migraes de estudantes, como Oxford, por fuga de alunos ingleses maltratados em Paris, ou Cambridge aps revolta de estudantes em Oxford. 37. Universidades A organizao universitria medieval era uma guilda de estudantes ou professores formada com o propsito de defender os interesses comuns dos grupos empenhados no estudo. As universidades do sul da Europa seguiram o costume de Bolonha, onde a corporao era formada de estudantes organizados para proteo mtua contra os abusos das cidades e falhas por parte dos protetores. J as universidades do norte da Europa seguiram o modelo parisiense de uma corporao de professores. A universidade recebia de um rei ou senhor da regio uma licena que estabelecia seus direitos, privilgios e deveres. Em geral cada universidade tinha quatro faculdades. As artes constituam o curso bsico a todos. Teologia, Direito e Medicina eram os estudos mais avanados. O estudante do currculo geral em artes estudava o trvio e ganhava o ttulo de bacharel. O estudo posterior do quadrvio lhe dava o grau de mestre, necessrio para quem queria ser professor. A continuao dos estudos em outras faculdades podia lhe conferir um doutorado nas trs reas especficas. 38. Universidades Os estudantes da universidade medieval iniciavam seus estudos aos 14 anos, embora s entrassem para a universidade entre 16 e 18 anos. Tinham os privilgios de clrigos. As provas eram orais, abrangentes e pblicas, o que lhes obrigava a defender uma tese diante de professores ou estudantes. O ensino se dava em latim. Como os livros-textos eram s para os professores, o estudante tinha de memorizar contedos extensos, o que dava extremo valor memria e uso da logica, assim como a leitura e a pesquisa nos dias de hoje. O saber se aprendia atravs das aulas e dos debates. Muito do que vemos na universidade de hoje foi gerado nessa poca. Os graus, provas, becas capelos e outros elementos bsicos do currculo foram gerados nos tempos medievais. As universidades foram grandes focos de teologia na idade mdia, com muitos telogos sendo tambm professores universitrios. 39. Vida e culto na idade mdia Arquitetura gtica, descrita como Bblia de Pedra, demonstrou a natureza espiritual do sculo assim como os arranha-cus demonstram o esprito materialista do sc. XX. Demoraram geralmente um sculo em construo. Arquitetura precedida por modelo bizantino de grandes abbadas sobre pendentes e mosaicos, usados em Santa Sofia e So Marcos. Dogma da transubstanciao aceito plenamente no Quarto Conclio de Latro, em 1215. Criao da msica polifnica, cantada por coros treinados, acabou com a prtica do cntico congregacional em unssono. Desenvolvimento dos sete sacramentos (missa, batismo, confirmao, penitncia, matrimnio, ordenao e extrema uno) como necessrios salvao, como meios de graa. 40. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: uma histria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo: Vida Nova, 1983