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Movimentos Racionalistas Razão vs. Fé História Eclesiástica II Pr. André dos Santos Falcão Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminário Teológico Shalom

História da Igreja II: Aula 8: Movimentos Racionalistas

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Aula ministrada no curso de História Eclesiástica II no Seminário Teológico Shalom, em 2013. A presente aula visa apresentar os teóricos racionalistas, que buscaram vislumbrar a fé cristã de forma mais cética. A aula apresenta teóricos e filósofos como Descartes, Hume, Kant, Marx e Sartre, além de apresentar teorias como a da Crítica das Fontes e da Redação.

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  • 1. Movimentos RacionalistasRazo vs. FHistria Eclesistica IIPr. Andr dos Santos Falco NascimentoBlog: http://prfalcao.blogspot.comEmail: [email protected] Teolgico Shalom

2. Religiosidade ps-Guerra dos 30 anos (1648) Movimento Denominacionalista surge aps ser declarada paz etolerncia reliogiosa na maioria dos territrios europeus. Formulao de Confisses de F para estruturar o arcabouoteolgico de cada grupo. A Ortodoxia passou a ser a chave hermenutica de interpretaoe pregao da Bblia, levando a um descasamento entre plpitose membresias e a um formalismo religioso. Duas reaes surgiram a esta situao: Racionalismo: Desvalorizao do extraordinrio. Espiritualismo: Valorizao do extraordinrio. 3. Facetas do Movimento Racionalista Racionalismo Filosfico Desmo Alta crtica (Crtica Histrica ou Literria) Baixa crtica (Crtica Textual) Materialismo Evolucionismo Comunismo 4. Racionalismo Filosfico Mudanas no horizonte cientfico Heliocentrismo (Coprnico, Galileu) Gravidade (Isaac Newton) Grandes Navegaes Religies no-crists com moralidades semelhantes Criao de um Mtodo Cientfico Racionalismo (Ren Descartes) Empirismo (Francis Bacon, John Locke) 5. Racionalismo Ramo filosfico inaugurado por Rene Descartes(1596-1650), baseado na dvida de tudo que nopudesse ser comprovado de forma clara e indubitvelpela razo. Grande confiana na razo matemtica. Sua filosofia parte da certeza primria: Penso, logoexisto (cogito, ergo sum). Como ser pensante, surge na mente uma ideia de ser melhor, algoque seria impossvel razo se tal figura no existisse. Da vem a provada existncia de Deus. A partir da razo, ento, a mente consegue organizar o mundo que aenvolve, usando certos conceitos inerentes, como tempo e espao. 6. Empirismo Ramo filosfico trabalhado por Francis Bacon(1561-1626) e John Locke (1632-1704), quepublicaram obras em 1620 e 1690,respectivamente, afirmando que no existemideias inatas, e que todo conhecimento oriundoda experincia sensorial. Deus se prova pelaexistncia do homem e suas experincias. Segundo Bacon (Novum Organum, 1620), o conhecimento extrado apartir da experimentao repetida, sem ser baseado em autoridade. J Locke (Essay Concerning Human Understanding, 1690) afirma que ohomem no possui conhecimento inato, sendo uma tbula rasa quandonasce e criando conhecimento a partir da provocao dos sentidos suamente. Sobre a f, por ser baseada na revelao, e no na razo, estano segura, sendo menos provvel (tolerncia religiosa). 7. Desmo Religio sem revelao escrita Deus transcendente, conhecido como Causa Primeirade uma criao marcada pelas evidncias de um desgnio. Deus deixou sua criao reger-se por leis naturais. Negao de tudo que for extraordinrio: Milagres, a Bblia como arevelao de Deus, profecia, providncia ou Cristo como homem-Deus. Cristo era apenas um mestre e, por isso, somente Deus poderia sercultuado. A virtude e a piedade eram o culto mais importante que se podia prestara Deus. As leis ticas de Deus esto na Bblia e na natureza do homem,descobertas pela razo. O homem deveria se arrepender e viverconforme as leis ticas, pois a alma imortal e est sujeita recompensa ou castigo depois da morte. 8. Desmo Principais Expoentes Edward Herbert, Lorde de Cherbury(1583-1648) De Veritate (1624): A verdadeira religio nose baseia em revelaes particulares, nemem acontecimentos histricos, mas nosinstintos naturais de todo ser humano. Cinco doutrinas essenciais: Deus existe,obrigao de ador-Lo, requisitos ticosdesta adorao, necessidade dearrependimento, recompensa e castigonesta vida e na prxima. 9. Desmo Principais Expoentes John Toland (1670-1722) O cristianismo no misterioso ou um tratadoque mostra que nada existe no evangelhocontrrio razo ou acima dela, e quenenhuma doutrina crist recebe corretamenteo ttulo de mistrio (1694) Mateus Tindal O cristianismo to antigo como a criao,ou o evangelho uma nova edio da religionatural (1730) 10. Queda do Desmo David Hume (1711-1776) Embaixador otimista e alegre, Hume contestouos conceitos de causa/efeito e substncia,afirmando serem hbitos mentais de carterirracional, e no verdades absolutas. Com esta afirmao, Hume contesta a existnciade Deus como a causa primeira de todas ascoisas, notando tambm que Deus e a alma nopossuem substncias aparentes. Criticou tambm a noo de senso comum dahumanidade, os milagres e a religio, afirmandoque esta desvia o homem da realidade e estbaseada em algo que no tem fundamento, a f. 11. Desmo Legado Surgimento natural do Estado, em oposio a um legado divino Rousseau: O Estado se origina num contrato social entre o povo e o rei,soberanamente escolhido pelo povo. Se fracassarem em suas tarefas, os reispodem ser retirados do poder pelo povo. Conceito de bondade e perfeio essenciais leva crena em umaevoluo humana que produzisse uma ordem mais perfeita na Terra. Defesa da liberdade religiosa Cooperao com cristos ortodoxos em aes humanitrias. Uso da gramtica e da histria para correta exegese da Bblia. 12. Iluminismo Movimento continental paralelo ao desmo ingls e comnoes semelhantes, como cristianismo no-dogmtico,centralidade da experincia humana, leitura histrica daBblia e orientao para o futuro. Surgiu na Frana de meados do sc. XVIII e se espalhoupelo continente conforme a perseguio dos reis e da igrejafrancesas aumentou e os estudantes de universidadesfrancesas retornaram a suas ptrias. A riqueza das cidades mercantis e o desejo de aplicarcritrios racionais e no-religiosos em sua economiatambm ajudou na propagao dos valores iluministas. 13. Iluminismo Principais Expoentes Voltaire (1694-1778) Inimigo de todo fanatismo, por ter presenciado aperseguio dos protestantes por Lus XIV,defendeu a tolerncia religiosa e poltica ao travarcontato com os escritos de Locke. A histria da humanidade a histria do progresso que os sereshumanos iam alcanando em relao ao entendimento de si mesmos ede suas instituies. Deus um pressuposto importante para a preservao da moral, dosbons costumes e ajuda a prevenir a anarquia. Se Deus no existisse,seria necessrio invent-lo. Acreditava que a monarquia tinha valor, mas apenas se com opropsito de servir ao bem de seus governados. 14. Iluminismo Principais Expoentes Montesquieu (1689-1755) Aplicou os princpios da razo teoria do governo,propondo o governo republicano como superior monarquia e ao despotismo, pois se baseia na virtude doscidados. Como o poder corrompe, prope um modelo triplode poderes que se limitariam mutuamente: Executivo,Legislativo e Judicirio. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) A pessoa boa ao nascer, porm a sociedade, a cultura, areligio e o Estado a pervertem. Apresenta, no ContratoSocial, um ideal: o Estado, baseado na ordem natural de umademocracia para servir aos governados, dando-lhes agarantia de liberdade. A religio precisa voltar primitivanatural, consistindo na crena em Deus, imortalidade da almae ordem social. 15. Iluminismo Alemo Principais expoentes Gottfried Leibniz (1646-1716) Buscou comprovar a compatibilidade entre f e razo, razoe revelao, filosofia e teologia, corpo e alma. Existem verdades eternas (geometria, sabedoria, bondadee poder de Deus) nas quais revelao e razo no secontradizem, pois so necessrias razo. Pecado apenas o bem imperfeito, um simples erro. Gotthold Lessing (1729-1781) Publicou obra de Samuel Reimarus, partidrio do desmoingls, que levanta a tese de uma origem fraudulenta docristianismo, com a inveno da ressurreio para cobrir afalha do messianismo poltico de Jesus. Afirmou que os testemunhos histricos acerca da revelaono produzem certezas ou garantias e que no h comoidentificar a religio correta entre judeus, rabes e cristos. 16. Iluminismo Alemo Principais Expoentes Immanuel Kant (1724-1804) Estudou desde os 8 anos em uma escola pietista,onde foi confrontado pelo aspecto negativo dopietismo: legalismo e hipocrisia. Da veio suaaverso a emoo religiosa e distanciamento deorao, cultos religiosos e cnticos sacros. Para criticar racionalistas e empiristas, afirma na Crtica da Razo Pura(1781) que no h ideias inatas, e sim estruturas fundamentais damente, dentro das quais temos que colocar tudo o que os sentidos noscomunicam (tempo, espao em primeiro lugar; depois doze categorias:casualidade, existncia, substncia, dentre outras). Para pensar acerca de algo, devemos coloc-lo dentro desses moldes.Com a experincia, acontece o mesmo, pois os sentidos nos do umamultido catica de sensaes que so organizadas pela mente. 17. Iluminismo Alemo Principais Expoentes Immanuel Kant (1724-1804) Como, para Kant, a existncia era uma categoria damente, era impossvel provar a existncia de Deusou da alma atravs do argumento racional. Isso no uma negao de Deus, e sim da possibilidade deserem alcanados pela razo. Deus, desta forma, se compreende como o juiz da ao moral (Crticada Razo Prtica, 1788), premiando o bem e castigando o mal. Areligio, portanto, passa a ser um sistema moral, regido pela mximaEu devo, por isso posso. Com isso, Kant inverte o paradigma soteriolgico: Se para osreformadores, as boas obras nascem da graa, Kant parte das obras.Jesus no redentor, mas um arqutipo moral da vida divina, que deveser imitado pelas pessoas, livres em sua autonomia. 18. A Crtica Bblica Ramo da cincia que trata a Bblia como um livro literrioantigo como outro qualquer, sujeito a uma anlisecientfica de sua formatao e de seu contedo. A evoluo religiosa na histria deve substituir asexplicaes sobrenaturais do fenmeno bblico pornaturais. A Bblia deve ser encarada como um livro histrico, escrito por autoreshumanos, eliminando a funo do Esprito Santo na inspirao dosautores da Bblia. Pode ser dividida em Alta Crtica, que compreende a anlise literria dotexto bblico, em busca de composies redacionais e camadas histricasde redao textual, e Baixa Crtica, que busca chegar ao texto originalelaborado pelo autor atravs da anlise dos diversos manuscritos atrs dotexto mais fidedigno possvel. 19. Alta Crtica do AT Principais expoentes Jean Astruc (1684-1766) Dividiu o livro de Gnesis em duas partes, baseando-se nos trechos com onome de Deus como Iav e Elohim. Johann Eichhorn (1752-1827) Hexateuco (Gnesis a Josu) dividido em duas partes (Iav e Elohim) Hupfield (1853): Dois autores distintos para o Pentateuco. Karl Graf (1815-1869) e Julius Wellhausen (1844-1918) Quatro fontes de diferentes autorias para o Pentateuco, reunidasprovavelmente por Esdras (o Redator), com apoio de Ciro, imperador daPrsia: Javista (950 a.C., do reino do Sul), Elosta (850 a.C., do reino do Norte), Deuteronomista (600 a.C., em Jerusalm, em perodo de reformareligiosa), Sacerdotal (500 a.C., por sacerdotes judaicos no exlio babilnico). 20. Alta Crtica do NT Principais expoentes Hermann Reimarus (1694-1778): Negou a possibilidade dosmilagres histricos e afirmou que os livros do NT eramfraudes sagradas. Ferdinand Baur (1792-1860): Duas vises do Cristianismo:Petrina e Paulina, unidas pela Igreja Catlica no sc. II emlivros como Lucas e as Epstolas Pastorais. David Strauss (1808-1874): Negou os milagres e aintegridade do NT, bem como a divindade de Cristo, a quemconsiderava um homem que pensava ser o Messias. 21. Alta Crtica do NT Principais expoentes Albrecht Hitschl (1822-1889): Temas clssicos da dogmtica(pecado, juzo, ira de Deus, trindade, cristologia) e asexpresses dos credos e confisses so cascas queencobrem o cerne tico do evangelho. Adolf von Harnack (1851-1930): Cristianismo no-dogmtico,livre de acrscimos doutrinais feitas pelas geraesposteriores primeira, que transformaram uma religio deJesus, acerca do reino do amor de Deus, para uma religiosobre Jesus, envolta em lixo metafsico. Ernst Troeltsch (1865-1923): Tudo historicamentecondicionado, no h verdade eterna por trs das cascasdoutrinais. 22. Alta Crtica - Legado Crtica das Fontes: Diviso de Isaas em 2 ou 3 livros distintos. Datao de Daniel no perodo intertestamentrio. Formao dos Evangelhos em ordem especfica e com fontes emcomum (Teoria da Fonte Q). Crtica das Formas: Anlise das diversas formas literrias presentes nos textos bblicos. Crtica da Redao: Analisar a maneira e significado das diferenas entre os evangelistas. Datao das cartas paulinas (teoria das Deuteropaulinas). 23. Materialismo Ramo filosfico que ignora a razo como fonte do conhecimento,voltando-se ao mundo material e o que ele pode oferecer. Ludwig Feuerbach (1804-1872): O ser humano o que come. A religio uma forma de alienao que projeta osconceitos do ideal humano em um ser supremo. A essncia verdadeira da religio a antropolgica, eno a teolgica. A matria precede a ideia. Entende que Hegel deve serlido de ponta-cabea. 24. Comunismo (Materialismo Prtico) Karl Marx (1818-1883): A realidade somentematria em movimento. Aplicou a dialtica hegeliana para compreender ahistria como uma evoluo, afirmando que o futurodo capitalismo (tese) o regime do proletariado(anttese e nova sntese), a quem se devia os lucrosdo trabalho. A religio o pio do povo, pois o entorpece e impedede lutar. No h lugar para Deus, Bblia ou padresabsolutos no sistema comunista. Friedrich Engels (1820-1895) Wladimir Lenin (1870-1924) 25. Evolucionismo Teoria composta por Charles Darwin (1809-1882) queafirma que as espcies foram formadas pela evoluodas populaes, mediante adaptao ao ambiente aque se inserem. Afirmou em 1871 (A Descendncia do Homem) queo ser humano passou pelo mesmo processo, sendodescendente do macaco. A teoria, aplicada religio, levou as pessoas a crerem que Deus e aBblia foram produtos evolutivos da conscincia religiosa do homem. O pecado e a perfeio escatolgica d lugar a uma doutrina de melhoriacontnua do mundo atravs do esforo humano. Rejeio da conotao de pecado original e da necessidade de umSalvador. 26. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: umahistria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e ValdemarKroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo:Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo:Vida Nova, 1983