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PERIÓDICO www.missaocristaintegral.org | Missão Cristã Integral MISSÃO CRISTÃ INTEGRAL O conhecimento de Deus e sua relação pessoal com o homem Uma abordagem bíblico-teológico sobre um Deus pessoal. Por Wolney Garcia Abril de 2011 Este artigo procura mostrar o estudo do pensamento teológico sobre a Revelação de Deus ao homem, bem como suas formas de manifestações no decorrer da história do Antigo Testamento. Com esse objetivo poderemos perceber a natureza da relação entre o homem e Deus após receber sua revelação.

O conhecimento de deus e sua relação pessoal com o homem

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PERIÓDICO

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MISSÃO CRISTÃ INTEGRAL

O conhecimento de Deus e sua relação pessoal

com o homem Uma abordagem bíblico-teológico sobre um Deus pessoal.

Por Wolney Garcia

Abril de 2011

Este artigo procura mostrar o estudo do pensamento teológico sobre a Revelação de Deus ao homem, bem como suas formas de manifestações no decorrer da história do Antigo Testamento. Com esse objetivo poderemos perceber a natureza da relação entre o homem e Deus após receber sua revelação.

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PALAVRAS-CHAVE

O Conhecimento de Deus, Meios de

Revelação, Lei, tradição histórica, Graça,

Deus (absconditus e revelatus).

INTRODUÇÃO

O estudo e o entendimento sobre a

“Revelação” é de suma importância e

fundamental para a fé cristã. Nenhuma

sistematização bíblica pode ser feita sem

que haja a revelação. Para Calvino, a

revelação é o momento no qual Deus se

dá a conhecer ao ser humano por

intermédio de sua Palavra (Ver. CALVINO,

João. Institutas da Religião Cristã. Vol. 1.

São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 68).

Para ele, a revelação não tem um caráter

subjetivo e experiencial, pois a Palavra foi

dada aos patriarcas e redigida como

documento, tornando-se objetiva. Ele diz:

Pois bem, quando pareceu bem ao Senhor

edificar uma igreja mais segregada ainda,

ele publicou mais solenemente aquela

mesma Palavra, e foi da sua vontade que

ela fosse redigida como documento

escrito. Por isso, desde quando os

oráculos ou as revelações da Palavra de

Deus começaram a ser reduzidas à

escrita, ela tem sido mantida entre os fiéis

e tem sido transmitida entre eles, uns aos

outros.

A Revelação no Sinai

“Sinai” é a tradução para o português da

palavra hebraica ynyo, “rochedo,

espinhoso”, 1monte, também chamado de

Horebe (Êx 17.6), situado entre os golfos

de Suez e de Ácaba. Nesse monte foi

dada a Moisés a Lei (Êx 19.20-20.26). A

1 Cf. STRONG, James. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego

de Strong. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

montanha onde Moisés recebeu a lei de

Deus; localizada no extremo sul da

península do Sinai, entre as pontas do mar

Vermelho e cuja localização exata é

desconhecida. O evento descrito no Livro

de Êxodo 19.20, relata sobre esse singular

encontro ocorrido no Monte Sinai e diz: “E

desceu o Eterno sobre o monte Sinai” –

segundo a tradição judaica, 2este encontro

entre céu e terra realiza-se em função da

outorga da Torá (Gr. Pentateuco), o qual

simboliza sua missão histórica. Deus

desce aos homens e Moisés sobe até

Deus.

As sete semanas que transcorreram desde

o êxodo do Egito são um lapso de tempo

mínimo de preparação para este

gigantesco e singular evento da história,

não somente bíblica, como também um

fato histórico da humanidade, a saber, a

Revelação, ou como os judeus até nos

dias de hoje denominam: Maamad Har

Sinai (a Entrega da Torá). 3Podemos dizer

que toda a história espiritual da

humanidade nada mais é senão um

interlúdio entre a Revelação do Sinai e o

cumprimento Messiânico em Jesus Cristo,

quando toda língua confessará que Ele é o

Senhor (Is 45.23; Rm 14.11). Período esse

o qual trouxe “redenção” a todo aquele que

Nele crer, para a “restauração” no sentido

do retorno ao padrão original de

intimidade, diálogo, Revelação no sentido

de Deus em relação ao homem, e na

proximidade íntima na consciência de

filiação do homem para com Deus. Tudo

isso, devido aos méritos conquistados na

2 Cf. TORÁ – A Lei de Moisés – Editora Sêfer; Sidur

Matzliah (rab. Menahem Mendel Diesendruck)

3 Cf. STRASSFELD, Michael. The Jewish Holidays: A Guide

and Commentary. New York: Harper & Row, 1985

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cruz por Cristo, o qual fomos resgatados e

feitos filhos de Deus segundo sua

presciência (1 Pe 1.2).

O USO DA LEI COMO FATOR

RELACIONAL

Para que entendamos bem o uso da Lei

precisamos entender antes, o que são o

pacto (aliança) das obras. Assim sendo, é

importante começarmos por esclarecer a

que se referem esses pactos “Lei e Graça”,

e qual é o conceito de lei que está

envolvida nessa questão.

Pacto das Obras e Pacto da Graça4 é a

terminologia usada pela Confissão de Fé

de Westminster5 para explicar a forma de

relacionamento adotada por Deus para

com os seres humanos desde Adão, onde

diz:

“O primeiro pacto feito com o homem era

um pacto de obras; nesse pacto foi à vida

prometida a Adão e nele à sua

posteridade, sob a condição de perfeita

obediência pessoal.”

“Deus deu a Adão uma lei como um pacto

de obras”. Por este pacto Deus o obrigou,

bem como toda sua posteridade, a uma

obediência pessoal, inteira, exata e

perpétua; prometeu-lhe a vida sob a

condição dele cumprir com a lei e o

ameaçou com a morte no caso dele violá-

4 Cf. CALVINO, João. Comentário à Sagrada Escritura:

Romanos (São Paulo: Parácletos, 1997), Calvino usa com

certa frequência a expressão pacto da graça.

5 A Confissão de Fé de Westminster é uma confissão de

fé reformada, de orientação calvinista. Adotada por

muitas igrejas presbiterianas e reformadas ao redor do

mundo, esta Confissão de Fé foi produzida pela

Assembleia de Westminster e aprovada pelo parlamento

inglês em 1643.

la; e dotou-o com o poder e capacidade de

guardá-la.

Gen. 1.26, e 2.17; Ef. 4.24; Rom. 2.14-15,

e 10.5, e 5.12, 19.

Essa lei, depois da queda do homem,

continuou a ser uma perfeita regra de

justiça. Como tal, foi por Deus entregue no

monte Sinai em dez mandamentos e

escrita em duas tábuas; os primeiros

quatro mandamentos ensinam os nossos

deveres para com Deus e os outros seis os

nossos deveres para com o homem.

Tiago 1.25 e 2.8, 10; Deut. 5.32, e 10.4;

Mat. 22.37-40.”

De forma bem reduzida, podemos dizer

que o pacto das obras é o pacto operante

antes da queda e do pecado. Adão e Eva

viveram originalmente depois desse pacto

e sua vida dependia da sua obediência à

lei dada por Deus de forma direta em Gn

2.17, não comer da árvore do

conhecimento do bem e do mal. Adão e

Eva descumpriram sua obrigação,

desobedeceram a lei o qual incorreu na

maldição do pacto das obras, a saber, a

morte e a desconexão no sentido

relacional com o Criador.

O pacto da graça é a manifestação da

graça e misericórdia de Deus, aplicando a

maldição do pacto das obras pelo

descumprimento de Adão, à pessoa de

Jesus Cristo, fazendo com que parte da

sua criação, primeiramente representada

no próprio Adão, o qual agora está

representado em Cristo. Porém, a lei antes

da queda não se restringe somente em

não comer da árvore do conhecimento do

bem e do mal. Não podemos analisar a lei

em um só aspecto. Existem outras leis as

quais se encontram implícitas e explicitas

no texto bíblico. Como por exemplo, a

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descrição das bênçãos em Gênesis 1.28, o

qual diz: “sede fecundos, multiplicai-vos,

enchei a terra e dominai”. São imperativos,

e contem ordens claras do Criador a Adão

e sua esposa, e, por conseguinte, eram

leis. 6O relacionamento de Adão com o

Criador estava inteiramente vinculado à

obediência.

O uso da lei como fator relacional,

implicaria num caráter ou estado de

obediência. Uma condição sine-qua-non,

condição esta, o qual não somente dava a

inteira liberdade em desfrutar do Jardim,

como também da presença e da Glória

propriamente dita de Deus [Shakan] do

qual se deriva a palavra [Shekhinah], por

que Deus fazia-se presente no Jardim do

Éden (Gn 3.8b).

O CONHECIMENTO DE DEUS

Um tema de suma importância sobre o na

história da teologia do Antigo Testamento,

é o do “conhecimento de Deus”. A teologia

reformada apresenta-nos de forma clara

que o pecado torna a revelação natural

totalmente insuficiente para o correto

conhecimento de Deus. 7Para Calvino o 8verdadeiro conhecimento de Deus é um

6 Cf. MEISTER, Mauro Fernando – FIDES REFORMATA –

Lei e Graça: Uma Visão Reformada (Mackenzie – CPAJ).

7 João Calvino foi um importante professor e teólogo

cristão de nacionalidade francesa. Nasceu na cidade de

Noyon em 10 de julho de 1509 e faleceu na cidade de

Genebra (Suíça) em 27 de maio de 1564. Calvino teve

um papel histórico fundamental no processo da

Reforma Protestante. Foi o iniciador do movimento

religioso protestante conhecido por Calvinismo.

8 CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição

especial com notas par estudo e pesquisa. Tradução

Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

conhecimento sobre Deus que é aplicado

na piedade ou devoção, isto é, em

reverência, fé, amor, adoração, obediência

e serviço a Deus. A teologia – o estudo de

Deus, a busca de conhecimento acerca de

Deus – deve evocar uma resposta de

piedade em nós se queremos

verdadeiramente conhecer a Deus.

No Sinai, Deus não somente entrega suas

leis a Moisés, como também mostra que

através da lei Deus se revelaria com a sua

misericórdia e provisão por meio da

obediência de Israel. Não somente por

meio desse fato histórico do Sinai, que nos

mostra um pressuposto de que Deus pode

ser conhecido, como também toda a

história do Antigo Testamento atesta essa

verdade de que Deus se revela ao homem,

e também afirma claramente que Ele se

faz conhecer9:

“Manifestou os seus caminhos a Moisés e

os seus feitos aos filhos de Israel.” (Sl

103.7)

“Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como

Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu

nome, O SENHOR, não lhes fui

conhecido.” (Êx 6.3).

“Então, disse: Ouvi, agora, as minhas

palavras; se entre vós há profeta, eu, o

SENHOR, em visão a ele, me faço

conhecer ou falo com ele em sonhos. Não

é assim com o meu servo Moisés, que é

fiel em toda a minha casa. Boca a boca

falo com ele, claramente e não por

enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR;

como, pois, não temestes falar contra o

meu servo, contra Moisés?” (Nm 12.6-8).

9 SMITH, Ralph L. – Teologia do Antigo Testamento –

História, método e mensagem – Editora: Vida Nova.

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“No dia em que escolhi a Israel, levantando

a mão, jurei à descendência da casa de

Jacó e me dei a conhecer a eles na terra

do Egito; levantei-lhes a mão e jurei: Eu

sou o SENHOR, vosso Deus.” (Ez 20.5).

A Revelação de Deus ao homem é uma

oportunidade de proximidade e relação

entre o homem e Deus.

Dentro ainda do vocabulário da

“revelação”, 10essas passagens usam a

forma passiva ou reflexiva do verbo har

ra’ah “conhecer, aparecer”, bem como por

exemplo em Êx 3.2 “Apareceu-lhe”, e

outros verbos ligados, assim como: na

forma (Qal) ver, examinar, inspecionar,

perceber, considerar, dar atenção a,

discernir, distinguir, na forma (Nifal)

aparecer, apresentar-se, na forma (pual)

ser visto, estar visível, fazer olhar

intencionalmente para, contemplar, fazer

observar, e na forma (Hitpael) olhar um

para o outro, estar de fronte. Todos esses

verbos são palavras cognitivas no sentido

de percepção e conhecimento daquela

revelação pessoal de Deus. O hebraico

não possui um substantivo que signifique

“revelação”; possui o verbo “revelar” ocorre

cerca de 180 vezes no Antigo Testamento.

Vriezen disse que o conhecimento de

Deus é mais que um mero conhecimento

intelectual; diz respeito à vida humana

como um todo11.

É essencialmente uma comunhão com

Deus e é também fé; é um conhecimento

do coração que exige o amor do homem

(Dt 4); sua exigência vital é que o homem

10

Cf. HANS – Jürgen Zobel, galah em TDOT, 478.

11

Cf. VRIEZEN, Th. C. “Die Erwahlung Israels.” Zurich:

Zwingli Verlag, 1953.

aja de acordo com a vontade de Deus e

ande humildemente nos caminhos do

Senhor (Mq 6.8). É o reconhecimento de

Deus como Deus, a rendição total a Deus

como Senhor12.

O “conhecimento de Deus” ou a “relação

entre Deus e o homem” significa13

compromisso, confiança e obediência à

vontade divina.

O não “conhecimento de Deus”, bem como

o “não relacionamento” do homem com o

seu Criador no Antigo Testamento de um

modo geral, não significa necessariamente

ignorância acerca de Deus; às vezes

significa uma falta de disposição em

obedecê-lo. O fato ocorrido no Sinai exigiu

de Moisés esses pré-requisitos básicos ao

ir encontrar-se com Deus, onde a ação de

subir ao monte requereu acima de tudo

obediência ao chamado do Próprio Deus.

No Sinai foi então, legislado e decretado a

lei como condição irrevogável,

inquestionável e sem propostas. Assim

sendo, “conhecer a Deus” sempre

resultava numa condição ética.

O DEUS ABSCONDITUS (O Deus que se

oculta)

O profeta do exílio disse:

“Verdadeiramente, tu és o Deus que te

ocultas, o Deus de Israel, o Salvador.” (Is

45.15, ARC)

12

Cf. VRIEZEN, Th. C. “Outline of Old Testament

Theology”, 154.

13

GERHARD, Von Rad – A Teologia do Antigo

Testamento – Editora ASTE.

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Existem várias citações sobre um “Deus

que está oculto” 14, ou que se oculta, mas

a verdade é que no Antigo Testamento,

Deus jamais é totalmente visível ou

totalmente conhecido.

Se Deus fosse completamente conhecido,

seria limitado pela capacidade humana de

compreensão e não seria, de modo algum,

Deus. Só um punhado de ancestrais,

profetas e poetas que de fato perceberam

a proximidade de Deus; e, então, mediou-

se o desvendar de Deus15.

B.W. Anderson disse: a pressuposição da

Revelação é que Deus está oculto à vista

do Homem. A Revelação, portanto, é Deus

desvendando ou descobrindo a si mesmo

e a seus propósitos 16.

O antigo Testamento fala com frequência

sobre um Deus “oculto”. Afirma-se 26

vezes que Deus esconde o rosto aos

homens, o qual se segue: (Dt 31.17, 18;

32.20; Jó 13.24; 34.29; Sl 10.11; 13.1;

22.24; 27.9; 30.7; 44.24; 51.19; 69.17;

88.14; 102.2; 104.29; 143.7; Is 8.17; 54.8;

59.2; 64.5; Jr 33.5; Ez 39.23, 24, 29; Mq

3.4). Encontramos também os versículos

que diz que: Deus esconde os olhos (Is

14

O DEUS OCULTO (Deus Absconditus), corrente

teológica definida por Lutero que fala sobre um Deus

oculto, ou seja, que se esconde, e que mesmo através

da sua relação espiritual, não podemos conhecê-lo

plenamente. Para Calvino, Deus, nas profundezas do seu

ser é insondável, diz ele: “é incompreensível”; desse

modo, sua divindade escapa totalmente aos sentidos

humanos.

15

Cf. SMITH, Ralph L. – Teologia do Antigo Testamento –

História, método e mensagem, 99 - Editora: Vida Nova.

16

The Old Testament View of God, 419.

1.15) e os ouvidos (Lm 3.56). Deus se

oculta (Sl 10.1; 55.1; 89. 46; Is 45.15)17.

Teólogos como Vriezen, bem como outros

concordava que o propósito de Deus nem

sempre pode ser visto, até mesmo na

história da Salvação. Diz que se

compararmos essa história a uma linha, só

certos pontos dela estariam visíveis. E,

mais, diz ele que ninguém consegue copiar

a linha em si, no sentido de perceber os

planos e propósitos de Deus, pois isso é

um segredo de Deus. E por isso ele se

mantém oculto.

Os profetas jamais supuseram saber com

precisão o que Deus estava para fazer.

Vejamos alguns textos que nos expressam

bem essa realidade.

“Porque os meus pensamentos não são os

vossos pensamentos, nem os vossos

caminhos, os meus caminhos, diz o

SENHOR, porque, assim como os céus

são mais altos do que a terra, assim são

os meus caminhos mais altos do que os

vossos caminhos, e os meus

pensamentos, mais altos do que os vossos

pensamentos.” (Is 55.8,9)

“Aborrecei o mal, e amai o bem, e

estabelecei na porta o juízo; talvez o

SENHOR, o Deus dos Exércitos, se

compadeça do restante de José.” (Amós

5.15).

“Buscai o SENHOR, vós todos os mansos

da terra, que cumpris o seu juízo; buscai a

justiça, buscai a mansidão; porventura,

17

BALLENTINE, Samuel E. – “A Description of the Semantic Field of Hebrew Words for ‘Hide’,” VT 30 (1980) 137-153 – Estes dados foram retirados e adaptados, em sua maioria, do documento original que pode ser acessado através do endereço: http://www.jstor.org/discover/10.2307/1517520?uid=3737664&uid=2129&uid=2134&uid=2&uid=70&uid=4&sid=21101518889823

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lograreis esconder-vos no dia da ira do

SENHOR.” (Sf 2.3).

Nessa visão percebemos que não somente

a Substância de Deus é oculta no Antigo

Testamento, como também, seus

propósitos e caminhos somente podem ser

conhecidos de modo parcial.

“Eis que isto são apenas as orlas dos seus

caminhos! Que leve sussurro temos ouvido

dele! Mas o trovão do seu poder, quem o

entenderá?” (Jó 26. 14)

“Somente as orlas dos seus caminhos!” –

No Antigo Testamento o conhecimento de

Deus É o reconhecimento respeitoso e

obediente do poder de Deus, da graça de

Deus, das exigências de Deus. Conhecer a

Deus é honrá-lo e fazer o que é justo e

íntegro.

“Mas o trovão do seu poder, quem o

entenderá?”

A TEOLOGIA DA REVELAÇÃO COMO

PRESSUPOSTO RELACIONAL DO

HOMEM PARA COM DEUS

“Disse Deus ainda a Moisés: ‘Assim dirás

aos filhos de Israel: ‘O Senhor, o Deus de

vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de

Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós

outros’; este é o meu nome eternamente, e

assim serei lembrado de geração em

geração” (Êx 3.15).

DEUS REVELATUS (O Deus que se

Revela)

A Revelação de Deus18 no Antigo

Testamento, bem como o pressuposto

18

O DEUS QUE SE REVELA (Deus Revelatus) – Corrente

teológica defendida por Kuyper que nos fala sobre o

conhecimento de Deus e diz que: “Deus transmite

conhecimento de si próprio ao homem. Noutra, o

relacional do homem para com Deus

somente era possível por meio das

manifestações de Deus19 no decorrer da

História bíblica. A teologia descreve essas

manifestações como sendo “teofanias” e

ou “epifanias”. Como por exemplo, as

Escrituras dizem que Adão e Eva ouviram

o som de Deus andando no jardim do

Éden no frescor do dia (Gn 3.8). O Senhor

apareceu aos patriarcas Abraão, Isaque e

Jacó (Gn 15.1-21; 17.1-21; 18.33; 26.2-5,

24; 28.12-16; 32.24-32).

Alguns estudiosos dizem que todas as

aparições de Deus no Antigo Testamento

como teofanias. Outros fazem uma

distinção entre “teofanias e epifanias”, a

diferença está em que a “visitação

epifânica” em geral não são

homem só pode conhecer a Deus na medida em que Ele

se faz conhecido”.

19

BARKHOF, Louis em Teologia Sistemática publicada

pela Ed Cultura Cristã. P.20, diz sobre a Cognoscibilidade

de Deus e diz que Ele é Incompreensível, mas também,

por outro lado, que Ele pode ser conhecido e que

conhecê-lo é um requisito absoluto para a salvação. Ela

reconhece a força da questão levantada por Zofar,

“Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou

penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?” Jó 11.7.

E ela percebe que não tem resposta para a indagação de

Isaías. “Com quem comparareis a Deus? Ou que cousa

semelhante confrontareis com ele?” Isaías 40.18. Mas,

ao mesmo tempo, ela também está atenta à afirmação

de Jesus: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o

único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem

enviaste” João 17.3. Ela regozija no fato de que “o Filho

de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para

reconhecermos o verdadeiro, e estamos no verdadeiro,

em seu Filho Jesus Cristo” 1 João 5.20.

Na ótica Reformada é sustentado que hoje uma pessoa

só pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus por

meio da revelação especial, sob a influência iluminadora

do espírito Santo.

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acompanhadas de manifestações da

natureza bem como, terremoto, fogo,

vento, trovão ou fumaça, como por

exemplo, as aparições aos patriarcas.

As chamadas “visitações teofânicas”, entre

elas as mais notáveis são a sarça ardente

descrita em (Êx 3), o estremecimento do

Sinai (Êx 19. 24), os chamados de Isaías

(Is 6), o chamado de Ezequiel (Ez 1), e o

redemoinho relatado em (Jó 38).20

CONCLUSÃO

Apesar das inúmeras teorias a respeito da

Revelação de Deus, o fato é que desde o

princípio da humanidade, vemos por meio

das Escrituras, um Deus que

reiteradamente procura não somente

revelar-se ao homem, como também

relacionar-se com ele, seja por teofania ou

epifania. A Cognoscibilidade de Deus é um

fato bíblico na história do Antigo

Testamento, porque Ele se fez conhecer,

porém “Ele é Incompreensível” para o

homem. Mas também, por outro lado, Ele

pode ser conhecido e que conhecê-lo é um

requisito absoluto para a salvação.

“Porque os meus pensamentos não são os

vossos pensamentos, nem os vossos

caminhos, os meus caminhos, diz o

SENHOR, porque, assim como os céus

são mais altos do que a terra, assim são

os meus caminhos mais altos do que os

vossos caminhos, e os meus

pensamentos, mais altos do que os vossos

pensamentos.” (Is 55.8,9).

SOBRE O AUTOR

20

______________TERRIEN, Samuel – The Elusive

Presence: Toward a New Biblical Theology, San

Francisco: Harper, 1978.

[*] Wolney Garcia (1979*). Teólogo

Reformado e escritor. Dedica-se ao estudo

dos fundamentos bíblicos da missão da

igreja e nas contribuições das ciências

sociais para o desenvolvimento de

teologias locais e contextualizadas e na

comunicação intercultural.

Nasceu em Anápolis. Acredita que Deus

pode transformar o maior dos pecadores,

inclusive e principalmente ele. Também crê

que “Deus estava em Cristo reconciliando

consigo o mundo, não imputando aos

homens as suas transgressões, e nos

confiou a palavra da reconciliação” (2 Co

5.19).

Estudou teologia no IBA – Instituto Bíblico

de Anápolis, em Anápolis, no ano de 1999.

Em 2004 cursou Psicoterapia com ênfase

em Psicodrama e psicanálise pelo Recanto

Terapêutico em Goiás (RTG). Em 2008 foi

pastor local da (Assembleia de Deus de

Anápolis) em Aparecida de Goiânia. Em

(2011) foi para Florianópolis, Santa

Catarina, onde deu início no ministério de

ensino Missão Cristã Integral.

Atualmente estuda Psicanálise Clínica,

pela Academia Goiana de Psicanálise

(2014).

É casado com a Nataly Garcia e tem uma

filha: Thalyta Garcia.

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