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O infinito não tem pressa

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O INFINITO NÃO TEM PRESSAp.a.marangoni

copyright © 2000 pedro marangoni

tragicomédia em muitos atos representadapelos humanoides no teatro Planeta Terra

(pretensa propriedade de um suposto Deus)com direção do ausente Estado

ADVERTÊNCIAEste livro, de convicta lavra ateísta, contém conceitos que embora frutos de coerente raciocíniopodem, por força da hipocrisia social e ambiguidade das leis serem tomados por apologia aoanarquismo, violência e racismo. Não é um manual, tampouco autoajuda, devendo ser entendidocomo um contrapor racional às discussões sobre os citados assuntos, usando o direito da livremanifestação do pensamento. Leitura, portanto não recomendada a indivíduos sugestionáveis,abrangidos aí os adolescentes.

SumárioEXÓRDIO ..............................................................................................................................................A ANGÚSTIA DE DEUS .......................................................................................................................SEMEANDO DÚVIDAS... .................................................................................................................... FILHOS DO NADA ..............................................................................................................................A DOUTRINA DA VIOLÊNCIA ...........................................................................................................A DOUTRINA FRANCA .......................................................................................................................A DOUTRINA RACIONAL ..................................................................................................................O REGREDIR PARA EVOLUIR ...........................................................................................................A GRANDE MANADA .........................................................................................................................EPÍLOGO ...............................................................................................................................................

EXÓRDIO

Este não é um livro politicamente correto. Os conceitos nele contidos não sofrem a influênciaridícula e ficcional das religiões, não acata as imposições ditas científicas incompreensíveis eaceitas sem contestação, nem as inconsequentes, teóricas e irreais prosopopeias acadêmicas, não securvando às pressões de grupamentos raciais, políticos ou sociais que em nome do chamado“politicamente correto” querem impor sua incapacidade e incompetência como direito às benessesconseguidas pelo esforço dos demais. A primeira parte, A angústia de Deus,é uma teoria maisplausível, mais digerível, do surgimento do Universo, sem dogmas e deuses barbados fabricandocriaturas pouco funcionais, com intestino grosso e delgado, pâncreas, amígdalas e outroscomplementos estranhos -por quê não uma que se alimentasse de ar, por exemplo- e, na segundaparte, Os filhos do Nada, uma vez deixado claro que somos fruto do acaso, sem prêmios ou castigosde hipotéticos céus ou infernos, tento fazer um balanço do caos que é a vida inteligente no planeta,nossos muitos erros e poucos acertos em busca de um rumo, tentando fugir da Grande Manada, aterceira e simbolicamente derradeira parte... o autor

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“Se Ele é perfeito e completo, comoEle pode ter o desejo de criar algo?”Jinasena(900 DC)

A ANGÚSTIA DE DEUS

O Nada é a ausência de tudo. Mas para se caracterizar uma ausência material, necessário se fazhaver um espaço físico. E este espaço estará preenchido pelo Nada. Tudo que existe não permaneceimutável num tempo infinito, algo acaba ocorrendo, independente do que afirmem nossosincipientes cientistas. Incontáveis vezes menor que um átomo pode existir uma ínfima partícula, umNada mais adensado após bilhões e bilhões (número aleatório) de anos. E um Nada adensado é maisplausível que um Ser superior que não teve começo nem fim ou um Big Bang espontâneo... Maisoutro espaço de tempo igual – afinal tempo não falta e o infinito não tem pressa – e eis que estapartícula se junta à outra. Mais um infinito se passa e outra e outra... Incontáveis processosaleatórios para se chegar a um simples átomo, só para citar algo que conhecemos. E a evoluçãocaminha, a passos curtos e lentos, completamente sem rumos definidos. O nada começa setransformar. Em matéria bruta, inerte, sem vida, mas também em algo que começa a se localizar noespaço. Com capacidade crescente de se definir, sentir, agregar mais partículas e crescer. Algototalmente imperfeito, sem planejamento que, num espaço de tempo impossível para nósdimensionarmos, se constituirá num ser capaz de crescer através da aglutinação do nada que secondensa ao seu redor. E podem ter então surgidos corpos de energia pensante que hoje insistimosem chamarmos de Deus, Diabo, anjos e outras criaturas deturpadas pela nossa imaginação temerosa,ávidos por proteção, por garantia de vida eterna que evite o desespero da certeza de nosso fim.Criaturas superiores que nada têm a ver conosco a não ser como captadores de energia paracrescerem e nós, animais inferiores formados de matéria bruta compactada, pouco temos deinteresse, a não ser nosso produto mais sofisticado, as ondas mentais, que seriam o mesmo materialque os formam, matéria refinada, espaçada e portanto pouco vulnerável, quase indestrutível. Nadade sobrenatural, místico ou quaisquer outras fantasiosas interpretações; apenas a criação ao acaso,dando surgimento a seres e coisas inferiores ou superiores a nós, produtos do mesmo meio.As mesmas partículas que formaram os corpos etéreos pensantes, forma mais avançada de vida, damesma maneira desordenada deram origem a uma série de outras unidades, pensantes ou não, brutasou diáfanas, imóveis ou se deslocando através do nada ao redor, se chocando, se unindo, criandonovas formas ou se destruindo. Quanto maior o espaço deixado na união destas partículas, maismobilidade, mais chance de crescer, alterar-se, aperfeiçoar-se e menos risco de ser destruída, maisforça e poder. Exemplificando: para dominar uma área, quatro homens formam um quadrado demãos dadas para se comunicarem entre eles através de palavras;é a matéria bruta, condensada. Osmesmos quatro homens, com o tempo acabam deduzindo que podem ampliar seus domínios,distanciando-se e mantendo a comunicação aos gritos;é a evolução da matéria, expandindo-se eaumentando seu domínio e conhecimento. Território maior, mais chance de adquirir saber e poder.Munem-se de rádios comunicadores e ampliam por quilômetros os lados do quadrado. O que erasólido, se tocando, agora está distanciado, aumentaram seu espaço, mas continuam sendo osmesmos elementos, com mais propriedade. E a expansão continua, até chegar a se comunicarem porondas mentais, alcançando a infinitude de espaço, mantendo a propriedade do ser...Intocável, masmatéria, como tudo no Universo. Planetas, estrelas, tipos vários de vida ou matéria foram surgindo.Ações incontroláveis apareceram, aperfeiçoando, aglutinando ou destruindo as matérias e os seres,por se tratar de uma evolução aleatória. Seres pensantes podem ter se transformados em universospróprios, cada qual com detalhes, engrenagens imperceptíveis a eles próprios e que não seencaixariam com os demais. Surgiriam então as tendências e diferenças, todas elas sem significadopara o Universo, diferenças que o homem ignaro, desde os princípios, começou a catalogar comoBem, Mal, anjos ou demônios, quando, sentindo alguma interferência de ondas captadas por seus

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cérebros incipientes tentou descobrir quem era e qual sua função no mundo. O homem não é nadaprogramado, somos filhos do acaso e sem função como qualquer pedra, que por evolução acabamospossuindo um emissor de energia que ainda não sabemos controlar e que poderá nos conduzir para avida fora da massa vulnerável do corpo ou transformá-lo por expansão das partículas em um veículomais apropriado e eficaz. Podemos ser “Deus” também...Mas num infinito só é viável exercer nossa influência e poder num pequeno espaço perdido noTodo. Ninguém consegue ser onipotente ou onipresente. Mesmo que sejamos um Deus. Só omecanismo do acaso existe, soberano e existem sempre limites, um crescente Nada nunca serámaior que o grande Todo. Infinitos são os deuses, imperfeitos os seres etéreos, mas sem necessidadeprática de interferir de forma física nos habitantes desta partícula bruta chamada Terra,extremamente inferiores que se digladiam perdidos em suas incompatíveis engrenagens, em buscade compreender sua hipotética função. Nossas partículas formadoras servirão para se aglutinaremou se separarem após nosso apodrecimento em vida e se transformarão novamente. O ser humano,por mau uso de seu cérebro, é apenas um produto que só consegue se aperfeiçoar externamente,através de máquinas por ele criadas, mas o corpo animal parou de evoluir. O universo continua aproduzir incessantemente coisas brutas ou pensantes, melhores ou piores que nós. O homemcaminha para a extinção física, acelerado pelo aprimoramento da medicina, que vai contra a seleçãonatural que permitia que só os mais fortes sobrevivessem e o resultado é a crescente debilidade dosnovos habitantes da Terra.Pela pouca produção pensante, os humanos não conseguem criar mecanismos que distanciem suaspartículas formadoras, diminuindo sua vulnerabilidade, aumentando seus domínios até conseguir selivrar da palpável massa corporal, transformando-se num ser superior. E separar as partículasformadoras de um corpo sem destruí-lo não é ficção: neste início de século, cientistas australianos echineses, trabalhando em conjunto anunciaram ao mundo(junho de 2002)que conseguiram oteletransporte de um raio laser, que, desintegrado, foi composto novamente cerca de um metro àfrente, isso em fração de segundo. Um pequeno passo que provou a viabilidade da separação departículas, mantendo-se o ser. Apenas o caminho não deve ser através de máquinas e sim pelaprópria mente, em busca do controle superior.Mas existem seres superiores? Por que acreditar em animais inferiores e não em superiorestambém? O homem é capaz de acreditar em nebulosos deuses de barbas brancas ou anjos alados,mas sorri com desdém se se menciona a possibilidade de vida inteligente em estruturas palpáveis ounão, desconhecidas por nós...Em nossa empáfia, só acreditamos em apenas um ser superior a nós emesmo assim ele seria o Deus, superior de todo o Universo. Em outras palavras, nos consideramosos mais altos representantes da vida nas galáxias! Continuamos com a mentalidade da Idade Média!É apenas o mau emprego de nossos cérebros, usado para o dia a dia, onde apenas o instinto serianecessário e deixado em repouso quando deveria ser acionado para se desenvolver e dominar ocorpo.A falta de domínio do pensamento,único produto mais avançado do homem produz fenômenosincompreensíveis para ele, principalmente quando usado por grandes grupos orientados para umacausa comum, as religiões por exemplo. Produz-se então um corpo etéreo semelhantes aoschamados deuses ou demônios, um agrupamento de matéria intocável fisicamente capaz de criaruma torrente, similar a um rio, arrastando a todos que estão na mesma frequência e isolando emesmo atingindo quem estiver às suas margens. Nos primórdios do animal homem, ainda com aciência incipiente, o medo comum do desconhecido criou estas torrentes de pensamento que foramdistorcidas após pela ignorância, gerando as religiões e os esteriótipos que hoje conhecemos deDeus, anjos, demônios, céu, inferno...Apenas por temor ou interesses escusos, atos concretosocorridos no planeta passaram a ser atribuídos ao invisível, muitos dos quais inexplicáveis porqueresultantes do efeito devastador da grande torrente sobre àqueles que estavam às suas margens esofriam consequências em sua organização de partículas, imprevisíveis e incontroláveis por quemquer que seja. Apenas uma questão de engrenagens muito diferentes se tocando e estilhaçando...Deixando claro que nem Deus nem o Diabo existem e seres evoluídos próximos ao nosso espaçonão representam o bem ou o mal, que são conceitos errôneos e que não fazem parte da evolução doUniverso, as deturpações destes conceitos que são representadas pelas religiões e seus instrumentosde ligação, as orações e ritos são até válidas para a criação e orientação de um caudal de

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pensamento, capazes de causar o bem comum de seus membros, podendo levar, mesmo em umahipótese pouco provável pela crescente degeneração humana, a um estágio próximo à libertação damassa corpórea e uma consequente evolução no espaço. Um ser humano com o intelecto superiorpoderá conseguir se comunicar ou se expandir com a força de sua mente científica melhor que ummilhão de ignorantes rezando individualmente a Deus ou ao Diabo. E esta é a única saída para umhumano, libertar-se de sua massa através da expansão mental, transformando sua energia em umaligação de partículas mais abertas, mais distantes umas das outras, tornando-se invulnerável afatores externos mais perigosos ao corpo sólido. Céu ou Inferno não existem, o ser terráqueo aomorrer se desfaz, volta a ser matéria prima sem nenhuma relação consigo mesmo, apenas a energiadas ondas produzidas pelos pensamentos dos indivíduos mais fortes- e ainda não chegamos a esteestágio- permanecem no espaço por algum tempo, desfazendo-se por absoluta falta deconhecimento em mantê-la unida para posterior expansão conservando-se a personalidade..Ser oque entendemos por “bom” ou “mau” em vida nada altera esta situação, mas ser inteligente,controlador de seu corpo e da mente sim, para produzir força suficiente para se manter emconsciência após a morte da massa corpórea, os impulsos emitidos sem dispersão, organizando-se eposteriormente e teoricamente, poder formar um novo ser. Os seres mais ignorantes que sóconseguem formar a torrente poderosa do pensamento em grandes grupamentos religiosos, místicos,simplesmente perdem esta força, pois morrem sós, sem o domínio apropriado e se desfazem juntocom o corpo. Numa ação audaciosa, homens com mente superior que se tornam líderes de seitas,tentam a imortalidade através da tentativa de “roubar” energia dos discípulos através dos suicídiosem massa, conseguindo uma grande força mental agrupada e dirigida, e se conseguir sucesso emmantê-la coesa após a morte dos corpos, todos se transformariam em um único ser, perdendo-se aindividualidade fraca e incorporando-se ao mais forte, o líder. É plausível. Digo seita e não religião;religiões normais atraem seguidores normais, com vida terrena razoável, com responsabilidades namente, sem maior concentração nos cultos, sentidos mais como uma reunião social. Já as seitas maisextremas atraem indivíduos radicais, sem ocupação mental importante, um cérebro esponja prontopara absorver a mesma vibração, a mesma orientação de pensamento dos demais. E a torrentepoderosa está formada.Deduz-se então que tanto o homem com mente superior, inteligente, científico, quanto a ralé ignarapodem cruzar para o lado etéreo e alcançar a vida após a morte do corpo. Apenas os caminhos sãodiferentes e o resultado produzirá um ser individual e outro coletivo, que dependendo de seutamanho e força poderá ser mais avançado que do individual. Conceitos terrenos são simplesmentedesprezados pelo Universo em constante formação e um grande grupo de fanáticos suicidas pode setransformar em um “Deus”...Mas se quase nada dos conceitos criados e assimilados durante séculos sobre Deus e nossa missãono mundo são válidos, quem somos nós afinal e qual a definição correta de Deus e o Diabo? Nadamais simples de definir quando abandonamos as velhas historinhas e as surradas hipótesescientíficas que sempre partiam da premissa errada de um Criador e uma missão para nós,humanoides...Então, junto de nosso espaço – que é imensurável pelos nossos padrões masminúsculo se comparado ao infinito – podem existir seres que mais se desenvolveram e podemexercer algum tipo de influência sobre nós em termos de interceptação de ondas, energia, mas nuncacomo senhores determinantes de nossos destinos! Além deles, outros mais limitados que ainda nãose desenvolveram o suficiente, permanecem como satélites, capturando energia solta no espaço ouemanada de nossas ondas mentais, a matéria prima mais refinada que não sabemos usar. Estariam aíentão descritos os “fantásticos” deuses, demônios e anjos, captando essa matéria impalpável queaumenta a dimensão dos seres numa expansão em busca do conhecimento progressivo e a junçãocom outras forças do Universo, de maneira incontrolável por ser um fenômeno físicoincompreendido em sua totalidade até pelos seres mais evoluídos. Nosso “Deus” tão exaltado etemido pode simplesmente ser absorvido por outro maior. Um ser não ameaça o outro, todos os queconseguem adquirir mais energia o fazem e se ela for de outro ser vulnerável à atração da massa domaior, essa junção ocorre sem que isso seja uma destruição ou prejuízo do outro, que passa a fazerparte de um ser maior e mais poderoso. Alerto que as minhas ideias partem de um raciocíniohipotético-dedutivo, pinçando aqui e ali dados concretos e tentando extrapolar um gráfico universaldentro de um credo racionalista, o que de maneira nenhuma lhes confere veracidade num mundo

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criado ao acaso. Existem as amebas, inferiores a mim, provavelmente devo ser uma ameba emrelação a outros tipos de seres. E seres superiores não visíveis ou palpáveis não têm preocupaçõesou ambições inferiores, humanas. O único poder real é a compreensão do Universo, uma buscainfinita como o próprio...Nada superior buscaria qualquer poder sobre outro ou sobre nós ou qualquer criatura bruta, seres deenergia pura permanecem em busca continua de mais energia compatível para crescer emconhecimento, não criaram o homem nem a terra nem são donos de nenhum destino nem mesmodos próprios. Tudo o que aqui acontece é obra do acaso, do comportamento do planeta ou por açãodos homens e animais. Nunca existiu a “mão divina” em nada de bom, nem a influência“demoníaca” em qualquer catástrofe.Temos apenas seres superiores próximos de nós e se nossas ondas de pensar se encaixarem nosmodelos que eles emitem, quando nos libertarmos do corpo sólido de matéria bruta, sem utilidadesofisticada no Universo, o pouco ou muito que desprenderemos de energia se unirá à de um deles efaremos então parte dos “deuses”.Que não têm barbas longas e brancas ou chifres, nem cajados,nem garfos. Apenas saber em forma de energia.Se um homem for mais animal que pensante, provavelmente irá se extinguir pura e simplesmente,fornecendo pouca energia aproveitável. Mas se o indivíduo desenvolver sua mente, torná-la forte econtrolável em qualquer situação, também a controlará quando de sua morte física e a manterácoesa e com ela sua personalidade, que dificilmente resistirá a incorporação a um ser maior peloque isso representa de aquisição de poder e conhecimento. É apenas uma união de forças na qualtodos ganham. O desenvolvimento mental pleno pelo indivíduo que consegue se libertar de todas asamarras artificiais criadas pela sociedade, impossível nos dias de hoje, levará o emissor a sair de suamassa corpórea mesmo a mantendo viva e obviamente assistirá, quando chegar a hora, sua mortefísica sem maiores problemas escolhendo seu rumo, que nestes casos de profunda sabedoria se uniráa um ser maior. Isso é teoria, física, nada de metafísica ou sobrenatural. No estágio atual do cérebrohumano -que regrediu- nada conseguiríamos e só as gerações vindouras, se mudarmos de rumo naevolução, teria este controle mental. Por mais que muitos tentem, ninguém até hoje saiu do corpo eaté os tão admirados monges tibetanos quando da invasão chinesa, se defenderam com nada etéreosprojéteis de chumbo de suas velhas armas e depois se entregaram rapidamente, sem fugir de seuscorpos sólidos e vulneráveis...Posso descrever a morte com certeza: iremos simplesmente se esvaindo e com a falta de oxigenaçãono cérebro iremos “apagando”,já com o corpo material sem vida, dando-nos uma tênue ideia decomo é estar fora da matéria sólida; poderemos até visualizar a cena durante poucos instantes, antesque esta pouca emissão se desfaça no infinito. E é só. Alguns poucos que retornam de situações demorte clínica, relatam fabulosos túneis que levam a uma “linda luz”,onde já por conta de visõesproduzidas por medicamentos ou imaginação fértil, conseguem ver “monges” ou o próprio Deus empessoa! O túnel nada mais é que a falta de oxigenação no cérebro devido à parada cardíaca, que fazcom que percamos nossa visão periférica aos poucos, criando uma escuridão nas extremidades ecom a luz permanecendo ao centro, fato comum observado entre pilotos que ultrapassam uma certaforça da gravidade, a força” G”,e desfalecem nas saídas de mergulhos de suas aeronaves...Apenas as grandes massas ignaras que morrerem juntas constituiriam provavelmente corpos etéreosmais fortes mas indecisos, minúsculos deuses sem rumo em busca de algo que ainda não entendemperfeitamente, tendo passado para a eternidade apenas pelo conjunto de emissões na mesmafrequência, não individualmente. Dir-se-ia, em contraposição a um “Deus”,a formação de“demônios”...Nestes casos a identidade pessoal desaparece e o ser formado pode progredirpaulatinamente ou ser absorvido por outros mais fortes de sistemas parecidos.Pela mentalidade humana, a imortalidade seria um prêmio, o “Paraíso”...Vamos extrapolar aomáximo nosso gráfico de expansão de poder e conhecimento, passando pelos deuses e indo além:alcançamos poder e sabedoria infinitos...e agora? O que fazer com eles? Não há mais finalidade,utilidade, missão, aquisições! Um ser, um deus inútil! O acaso criou o Universo, seu surgimento foium incidente; a vida não é uma benesse,é um fardo pesado que carregaremos ao infinito em buscade um só objetivo, incompreendido pelos homens mas que é a meta dos deuses, dos seres maisavançados: o não ser, conseguir todo saber e poder com o fito de dissolver-se. Não é a expansãocontínua do Universo um caminho inverso ao de sua formação, a aglutinação de partículas? Logo, o

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caminho, o destino, é retornar à dissolução completa, o Nada.Aos homens medíocres, aos minerais, vegetais e animais, resta uma benesse transitória, dissolver-se, não pensar. Uma pedra é triste? Uma pedra tem decepções? Mas transitória é esta“felicidade”,pois o ciclo da matéria é continuo e somente quando a última partícula surgida noUniverso tornada “Deus” conseguir se extinguir, retornar ao Nada, a angustia terminará.Quão longe está o homem ou a pedra deste verdadeiro paraíso, o não ser...Resta a nós procurarmos acelerar este caminho, aumentando nossa distância dos seres inertes emedíocres, enfrentando o fardo da consciência e pegarmos uma “carona” com os deuses após amorte. Angustiados como eles, ao pensar: tudo voltará finalmente ao Nada... mas nada que existepermanece imutável num tempo infinito...uma ínfima partícula adensada...e outra, mais outra...Nunca escaparemos deste ciclo?Não pergunte a “Deus”. Ele também busca a resposta.

SEMEANDO DÚVIDAS...

(sobre um mineral arrogante...)No absurdo da obviedade, onde óbvio é sinônimo de dogma, aceitamos sem mais pensar a divisãohierárquica entre seres vivos, inanimados, animais, minerais, vegetais.... E os vivos, em racionais eirracionais baseados em pura especulação. Não temos nenhuma diferença dos minerais quando setrata de viver ou morrer. Vida, pelo conceito que a define, só pode existir se houver morte, esta éque especifica a outra, algo com final. Mas a morte dos vivos é apenas uma transformação igual àde qualquer mineral no decorrer do tempo, de sua vida também. Uma transformação química, quetorna a pedra, areia, a água em vapor, que oxida o ferro, que nos torna uma massa de mineraisdissolvidos no solo, dando origem às outras composições. Os ditos seres brutos, como um mineral,tem uma vida superior, mais uniforme, menos vulnerável que nós, humanoides, simples estágioefêmero, aleatório, que não consegue se manter nesta fase senão por uma parcela ínfima de tempo,retornando ao estágio mineral. Somos um incidente num mundo uniforme. Acreditamos que nossodesgovernado cérebro é um complemento que nos distingue em superioridade, quando em verdadenos condena à constante angústia de nos situarmos no Universo, em meio a outras formas jáestabilizadas e tranquilas. Necessitamos compreender para fazer,mesmo que seja para tomar umgole d'água:temos que escolher um receptáculo,considerar nossa sede para dosar o conteúdo,realizarcálculos e extrapolações inúteis acerca de fatos que provavelmente não acontecerão,como se olíquido não vai escorrer pela boca,cair na camisa e se cair como faremos para secá-la,senaturalmente,se com o ferro de passar ou se trocaremos de traje,e se trocarmos qual será e por aívamos,apenas devido a um copo de água. Trabalho inútil, realizado por um complemento malorganizado, o cérebro humano. O cachorro tem sede, simplesmente bebe a água e se satisfaz, semmais cálculos supérfluos. Quem é superior? A mistura que nos forma têm como componentes oselementos presentes em qualquer dos outros seres, viventes ou não, gases, líquidos, sólidos,pastosos, pensantes ou não. A matéria por nós chamada bruta é uniforme, constante, duradoura,sofrendo apenas mínimas transformações superficiais que dão origem aos seres viventes, que nãoconseguem manter uma uniformidade constante nem possuem a durabilidade de seu material deorigem. Através de fenômenos também presentes em manifestações brutas, como a eletricidade, osanimais produzem formas de energia encadeadas, chamadas de pensamento, que torna asobrevivência penosa, por contrariar acontecimentos naturais simples como a complementação oudesagregação material. Uma rocha de quartzo simplesmente se transforma em areia, continuandosua presença no Universo; um homem, ao começar se desfazer, cria, através de seu cérebro, umacadeia de reações contrárias, tentando deter o elementar caminho da natureza. Decidido ao domíniode tudo e todos, considera que somente ele possui a chamada inteligência superior, uma série defenômenos físico-químicos que conduzem a atos inúteis, ignorando que o restante dos animaistambém a possuem de forma mais refinada, mais coerente, precisa. Um cavalo desce por umaribanceira realizando cálculos exatos a cada instante ou despencaria; um homem, racional, como nocaso citado anteriormente, do copo d'água, realiza uma sequência maior, menos precisa e repleta decálculos inúteis.

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Não podemos penetrar no cérebro alheio, nada confirma que seja totalmente igual ao nosso,uniformes no sentir e captar...O seu verde pode não ser igual ao meu. Pode até ser completamente diferente, tipo quadradinhoscor laranja, ou melhor se expressando, quadradinhos cor laranja no receber e interpretar do MEUcérebro. No seu, simplesmente é o verde. Não podemos penetrar no cérebro alheio em termos devisualização processada e o mundo pode – e é – completamente diferente para cada animal,provavelmente não só entre as Espécies mas também entre os espécimes...O meu triângulo pode serredondo para você. Explicando de uma maneira simples, nota-se que geralmente os pais nãoconseguem enxergar a feiura de seus horríveis rebentos, ou seja, o que é feio para um, pode não serpara outro, pois a visão não é um sentido soberano e assim como a dor, o tato, etc, nosso mundo é oque um computador -o cérebro- interpreta e nos diz. Um computador falho, variável, intermitente ediferenciado até mesmo entre os humanos, dados como os que melhor interpretam o mundo a suavolta. E o mundo existe? E se você for o único ser real, sendo o restante produto de seu cérebrolouco? Seria você o Deus ou um deus colhido em seu próprio turbilhão de emissões mentais,sozinho no Universo, mergulhado no nada? Se dúvidas temos ao visualizar uma cena insólita,muitas das vezes não aceitando o que os olhos nos mostram, dúvidas também podemos ter emrelação a dor, por exemplo e não aceitá-la, pois tudo que sentimos ou percebemos nada mais é queuma transmissão ao cérebro, que por ele é processada. Tal qual um computador, podemos tambémprogramar nossa mente para trabalhar, aceitar ou excluir eventos não desejados. E eventos, a vida, oplaneta Terra realmente existem? Este livro existe? Você,leitor, existe? Prove... Você pode ser oúnico indivíduo do Universo, um Deus louco dominado pelos seus pensamentosdesordenados...Tudo que o cerca pode ser produto de seu cérebro borbulhante. Eu não sou umescritor, este não é um livro, nós somos frutos de você. Não? Prove... Olhe ao redor. São as coisas,objetos, pessoas, móveis, imóveis, mas são outras, impenetráveis, estranhas, isoladas de seu corpopor mais próximas que estejam. Pegue uma folha deste suposto livro, entre o indicador e opolegar...esfregue os dedos nela...feche os olhos...está sentindo? Mentira,é o seu cérebro que estálhe ordenando que acredite, verifique com cuidado: em verdade, mesmo com os olhos fechadosvocê está visualizando o material, formato, cor, está usando dados do computador cerebral paraacreditar. Em sua cabeça de Deus louco, em sua suposta consciência, incontáveis recipientes dedados se misturam, num quadro psicodélico, surrealista, nem um pouco diferente dos sonhos epesadelos. Um caleidoscópio fantástico de informações solto no nada, solidão total, rodando emtorno de um tortuoso eixo, alternando realidade falsa e sonhos concretos. Você pode existir mas éindiferente existir ou não, sua presença torna-se irreal porque só por si percebida; auto devorando-senada sobrará para perceber sua ausência, comprovando-se sua anterior inexistência...Os outros? Queoutros, criatura? Nós somos você,projeções animadas mas impalpáveis de sua loucura. Sentimentode loucura? Meros conceitos, se não há parâmetros, um ser único não pode ser louco ou normal,seria o normal ser louco... Nos pode sentir? Sua mão sente ou seu cérebro diz que sentiu? E por quetudo isso agora? Porque Nós/você/universo podemos ser apenas uma ideia em circuito inútil, quecorre atrás de si mesma. E se você não existir, habitando apenas no pensamento de alguém, daí osimprevistos, as surpresas, os fatos inexplicáveis? Este livro em suas supostas mãos existe ou é umadistração da mente, sendo escrito, fabricado à medida que a pretensa leitura avança? Faça isso:largue o livro, vá até a sala vizinha e fique parado, estático, por um minuto. Uma vez na salavizinha, a leitura, o livro já se tornaram passado, impalpáveis e nesta sala será impossível provarque realmente estava lendo ou que a sala onde estava existiu. Ao voltar ao local da leitura, sentar-see reiniciar a leitura, prove a você mesmo que saiu por instantes e ficou estático em outra sala… Nãoterá sido apenas um vaguear da mente enquanto lia, repousando o livro no colo num leve cochilo?Relembre o seu passado. Totalmente impalpável... A sala onde esteve há pouco continua lá,estática,vazia, silenciosa e sem você,ou seja, lá sua existência não é comprovada. Ou se invertendo oraciocínio, existirá a sala apenas quando lá estiver?-Mas posso colocar lá uma câmera de televisão edaqui visualizar o local... Interpretação apenas, de um monitor, que poderia passar um filme deficção, por exemplo, tal qual o cérebro. Por que ruínas, artefatos, escritos, provam a existência deuma civilização passada? E se as ruínas, artefatos, escritos existirem apenas como exatamente o quesão, ou seja o caco de cerâmica não é um vaso e sim um caco de cerâmica que nasceu caco decerâmica, ou a ruína que sempre foi ruína...toda existência, trabalho,é inútil porque é imediatamente

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engolfado pelo tempo que acompanha qualquer presença.Existindo ou não, fugazes ou imortais, humanos ou deuses, diamante ou carvão, nada pode sersuperior ao Nada, que não requer esforço, premente utilidade ou valor, busca, conhecimento,espaço, manutenção...O Nada é a perfeição, limpo, sem defeitos, estático, sem tempo. Até mesmo"Deus”, invenção humana que pretendia ser o modelo da perfeição, caso existisse, teria que ser,estar, de um modo ou de outro e portanto inferior ao Nada que simplesmente não é,não precisa ser,não precisa estar. Esta pequena mancha de bolor surgida fora do Nada, a que denominamosUniverso,é um amontoado de inutilidades surgidas ao acaso e que atingem o auge de impacto noschamados animais racionais, que carregam além da inutilidade da existência, o incrível fardo damente, que os faz ter noção de si mesmo e do espaço à sua volta..Este conjunto químico, instável,de curta duração e exigente manutenção, passa felizmente por uma transformação, chamada morte,onde os diversos elementos se desagregam novamente, perdendo a capacidade de atividade mental,mas continuando a formar novas agrupações, quer animal, quer mineral, numa existência maissuportável porém igualmente inútil.A massa gordurosa que agora se dissolve na terra sob o ataúde é superior ao conjunto químicopensante que ali foi colocado após a transformação chamada morte, tal qual a areia está um passo àfrente do bloco de quartzo, rumo ao quase Nada.

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Fim da primeira parte. As seguintes se referem à Sociedade e Política.:http://www.amazon.com.br/O-Infinito-n%C3%A3o-tem-pressa-ebook/dp/B00G97D5MS