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O Pai das Luzes

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O Pai das Luzes - Série BereshitAuthor: Eliy Wellington Barbosa da SilvaAs questões quanto a existência de Deus ou a veracidade da Bíblia não são para serem discutidas como meras inquietações filosóficas. Pois o fim do homem não é crer em Deus, mas conhece-Lo. Nossa ligação com Deus não é uma economia de bens ou valores, mas de vida e morte. Não diz respeito à inteligência do homem, mas sim a sua existência: Se Deus não existe, por que estamos aqui?“Deixem de enganar-se a si mesmos. Se você pensa que tem sabedoria acima do normal, conforme avaliação pelos padrões deste mundo, faria melhor se pusesse tudo de lado e se tornasse um tolo, antes de permitir que isso o afastasse da verdadeira sabedoria do alto. A sabedoria deste mundo é loucura para Deus. Tal como o livro de Jó afirma, Deus usa a própria inteligência do homem para apanhá-lo; ele tropeça na sua própria ‘sabedoria’ e cai. E, de igual modo, no livro dos Salmos, nos é dito que o Senhor conhece muitíssimo bem como a mente humana raciocina e quão louca e fútil ela é” (I Co 3.18-20 – Versão Linguagem de Hoje).

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O PAI DAS

LUZES

SÉRIE BERESHIT

ELIY WELLINGTON BARBOSA DA SILVA

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Copyright © 2005 por Eliy Wellington Barbosa da Silva

Todos os direitos reservados.

Direitos exclusivos deste e-book para FONTE DE ÁGUAS VIVAS

Coorde n ação Ed i tor i a l • Eliy Barbosa

R e vi são • Fonte de Águas Vivas

P ro j e to e D i agram ação • Fonte de Águas Vivas

Aprov ação f i na l • Pastores Clenilson Barbosa da Silva & Marck Stefania

Martini

Ministério Fonte de Águas VivasRua São Paulo 241 • CentroJaguapitã • PR • 86.610-000

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SUMÁRIOSUMÁRIO!! O Único e Verdadeiro Deus 05

1ª PARTE

!! A Existência de Deus 07

!! Pertinentes e Convincentes 10 !! Histórico, Necessário e Verdadeiro 14

!! Espontaneidade do Ser 19

!! Derradeira Realidade 23

!! Consciência Lúcida 27

2ª PARTE

!! O Conhecimento de Deus 32 !! A Busca pela Verdade 37

!! A Revelação de Deus 43

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O ÚNICO E VERDADEIROO ÚNICO E VERDADEIRO DEUSDEUS

Vivemos na escuridão de nossa imaginação: QuemVivemos na escuridão de nossa imaginação: Quem é esse Deus que recusamos aceitar?é esse Deus que recusamos aceitar?

FOI O FÍSICO Albert Einstein quem escreveu que “a religiosidade do sábio consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, que revelam uma inteligência tão superior que o pensamento e o engenho humano não consegue desvendar”.

Como é fácil extasiar-se e perder-se diante da natureza e de suas leis perfeitas! Mas além das aparências que nos encantam e surpreendem existe um tesouro mais precioso, esperando por ser descoberto, a Sabedoria Superior que tudo criou.1

A natureza, a criação possui um valor e uma beleza que são inteiramente dignos de serem apreciados em si mesmo, pois conforme a definição de Emílio Conde (1901-1971) a natureza oculta “mistérios indevassáveis de indescritível beleza e de força não calculável”.2

1 “Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (II Coríntios 4.18 – NVI).

2 Conde, Emílio. Nos Domínios da Fé. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 28. 1ª Edição.

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O profeta Isaías revelou que nenhum dos planos de Deus podem ser frustrados e realiza tudo quanto deseja.3

Pois Deus é um Deus de propósitos, que vão além dos planos e das vontades humanas.4

Mesmo quando estudamos a criação, temos que considerar o propósito de Deus que é convergir em Cristo tudo que existe no céu e na terra (Efésios 1.9-10). Pois Ele é a raiz e a causa de todas as coisas. O maior mandamento continua sendo o amor incondicional à Deus (Mateus 22.37).

E o que mais justificaria nossa existência se não fosse uma profunda adoração a Deus e um amor por Suas Verdades?

3 “Eu faço conhecer o fim desde o princípio, e desde antigamente. O que ainda não aconteceu. Eu digo: Meu plano se realizará, eu farei toda minha vontade” (Isaías 46.10 – Alfalit).

4 “Muitos são os planos do coração do homem, mas é o propósito do Senhor que permanecerá” (Provérbios 19.21 – ECA).

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A EXISTÊNCIA DE DEUSA EXISTÊNCIA DE DEUS

1ª PARTE

““Deus é Deus, fosse desolada toda a Terra. Deus éDeus é Deus, fosse desolada toda a Terra. Deus é Deus, estivessem mortos todos os homens”.Deus, estivessem mortos todos os homens”. (Petter Dass, 1647-1707)

Deus existe? Quem é Deus? O que é Deus? Onde Ele está?

Afirmar que Deus existe pode ser verdadeiro, mas na filosofia essa declaração não é evidente em si mesma, pois não possui valor demonstrativo. Sozinha nenhuma pessoa consegue encontrar respostas para estas questões, pois Deus é uma realidade que não pode ser observada.

A existência ilimitada de Deus em si mesmo, independe de tempo, massa e espaço. Deus é “Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum homem viu nem pode ver” (I Timóteo 6.16).

Mesmo que essa pessoa busque respostas na ciência, ela ficará frustrada. A ciência não pode trabalhar diretamente com coisas comuns, como “a cor e o som. E vê-se obrigada a expressar tais qualidades mediante termos quantitativos. Mas qualidades não são quantidades. (...)

A ciência é incapaz de estudar elementos que não possam ser pesados ou medidos, como a alma humana. E nem pode tratar com ocorrências ímpares, como os milagres, pois estes são uma manifestação distinta e

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separada, da graça e do poder de Deus. Logo, o milagre não pode ser repetido para análise em laboratório” . 5

Se a ciência não consegue lidar totalmente com coisas que pertencem ao mundo “natural”, o que poderia se dizer dos milagres, que pertencem ao mundo “sobrenatural”. Pois o que são os milagres se não incríveis rupturas das leis naturais?

A existência de Deus se opõe a qualquer tese, verificação física, ambiente controlado ou situação cientificamente verificável. Então, qual a diferença entre um Deus transcendente e um inexistente ou imaginário?

A diferença está nos “olhos de quem vê” e isto depende da revelação proposicional (o que dizem a respeito de Deus) e da revelação existencial (a experiência individual de cada criatura com Deus). Aquele que está preso à escravidão do amor às coisas temporais considera Deus inexistente, pois Ele não corresponde àquilo que ele ama. Porém, aquele que se orienta pelo amor às coisas celestiais, vê em todas as coisas temporais, o Deus transcendente revelado nas Escrituras. Pois Deus vive e é Vivo no poder de nossa fé.

É impossível mensurar plenamente o valor ou a importância do mundo que nos é apresentado. Este valor está sempre condicionado ao uso ou mesmo a finalidade que se atribui à criação. E Cristo nos fez o audacioso desafio de acreditar, confiar e valorizar, aquilo que não se vê, mas que em sua excelência transcende em tudo o que se vê. E invisibilidade não é sinônimo de inexistência, pois até mesmo as criações de Deus que são mensuráveis, continuam em sua maioria absoluta irreproduzíveis e excedem o entendimento humano.

O homem não somente desconhece Deus, como também nega a Sua existência tentando disfarçar aquilo que é: um completo ignorante.

5 William W. Menzies & Stanley M. Horton. Doutrinas Bíblicas - Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 20. 2ª Edição. 1996

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3 Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida a Tua sabedoria, visto que sou tão ignorante. É que falei de coisas que eu não compreendia, coisas que eram maravilhosas demais para mim e que eu não podia entender. (Jó 42.3 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje)

Pode se ver o vento? Mas quando ele destruir sua casa você saberá que por ali ele passou.

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PERTINENTES EPERTINENTES E CONVINCENTESCONVINCENTES

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Será que é necessário acreditar que existam verdades reveladas e inacessíveis ao conhecimento natural?

Em geral existem cinco percepções diferentes de Deus, as quais não perturbam e nem inquietam a humanidade, como se fossem versões diferentes da mesma realidade:

:: monoteísta (um Deus);:: politeísta (vários deuses);:: ateísta (sem Deus);:: panteísta (Deus se identifica com a criação);:: deísmo (Deus existe, mas está totalmente separado da criação).

A palavra portuguesa “Deus” é derivada do latim Deo, Dii, e aplicada ao ser supremo de muitas religiões e de diferentes tradições. Mas desde a mais simples crença até aos mais sofisticados sistemas filosóficos, a concepção original de Deus sofreu muitas mudanças através dos séculos. Pois quando se fala de Deus, todos os conceitos sempre incluem algo material.

Mas “Deus” no aspecto bíblico não é um conceito comum, mas específico. O ideal é sempre usar a definição

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que melhor se harmonize com o sentido que é utilizado na Bíblia. Com isso podemos fugir a intermináveis disputas conceituais e terminológicas.

As diversas concepções de Deus estão baseadas nas percepções individuais e coletivas. Pois o conhecimento de Deus está fundamentado na intuição, dedução e mesmo indução. Este conhecimento é o resultado da concepção de mundo que cada um constitui.

Durante séculos discutiu-se a relação do homem com o mundo por meio da percepção. Estas visões se resumiam em idealismo (o pensamento forma o mundo, tudo não passaria de “noções do espírito pensante”) e o materialismo (a matéria é concedida para a percepção, às coisas realmente existem).

Para alguns tudo o que existe faz parte de uma única realidade, as coisas estão tão relacionadas que tudo ao redor faz parte do homem. Nicolau de Cusa (1401-1464) em “De docta ignorantia” afirmava que “quodlibet in quolibet”, ou seja, neste mundo tudo está em todos.

Para outros, o individualismo é a realidade, cada ser possui características ímpares e múltiplas que não se encontram em nenhum outro. Guilherme Ockham afirmou em “In Sentent” que cada coisa que existe é, de per si, uma coisa individual.

Platão, de forma similar aos hindus, acreditava que Deus não é perceptível ao mundo. Deus seria a única realidade e o mundo seria aparente, uma manifestação temporária, uma ilusão causada por uma percepção equivocada da realidade.

Além destas deficiências de percepção ou recepção de estímulos da presença de Deus, há ainda as dificuldades de atribuir o verdadeiro significado ao estímulo. O conhecimento dos efeitos e não da causa, sempre deixam a razão em dúvida ou terminam em erro. O homem se perde buscando, mesmo que se autodestrua. Homens presos em sua própria busca. Todas as evidências de Deus na natureza se manifestam como dúvidas para aquele que não conhece a Bíblia. Pois alcançamos Deus

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somente através das condições determinadas por Ele (Jeremias 29.12-13).

Apesar das inúmeras provas moralmente convincentes da existência de Deus, não existe evidência absoluta. Através dos séculos filósofos, teólogos e religiosos procuram mostrar como conhecer ou encontrar Deus. De uma forma geral, sempre baseados no fato de Deus não ser plenamente perceptível aos homens.

Uma busca que parte sempre do homem para Deus. Quando na verdade desde o princípio Deus está em busca do homem (Gênesis 3.9).

Nesta busca, muitos concluíram que Deus é apenas um simbolismo ou um bom e feliz pensamento humano. Vários O viram como uma força impessoal. Alguns ignoraram deliberadamente a Sua existência.

Outros precisaram utilizar das várias áreas do conhecimento para provar a existência de Deus. Todos ignoraram que apesar do conhecimento filosófico e científico da existência de Deus aparentar ser muito tênue e frágil, é absolutamente seguro.

Muitos conseguem ver, não somente na criação, mas em todos os fatos da vida, uma mensagem codificada da presença e da vontade de Deus. E a felicidade ou a aceitação dos fatos da vida passa a depender da decodificação destas mensagens. De certa forma isso também é alcançar a fé: aprender a apreciar o múltiplo divino, sabendo vê-Lo em tudo o que existe e acontece.

Mas é impossível conhecer Deus se não for através de Sua vontade graciosa de se revelar. A busca do homem por Deus termina sempre no homem. Pois em relação ao Verdadeiro e Único Deus, nada se pode pensar ou dizer que contrarie o que foi revelado por Sua exclusiva vontade através das Escrituras.

Não se pode conhecer, estudar e se relacionar com o desconhecido, o que não foi revelado. O Infinito não pode ser simplesmente descoberto pelo finito, se Ele não se revelar.

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A Teologia cristã não pode se limitar a reforçar os ensinamentos do senso comum que se faz sobre Deus, pois Deus não é aquilo que a maioria reconhece como tal. A Teologia estabelece doutrinas a partir do estudo bíblico, confronta-as com a realidade e com isso se torna um conhecimento científico. Pois qualquer consideração sobre Deus que não tenha sua origem na Bíblia, está condenada à mera especulação.

Essas doutrinas sistematizadas pela Teologia já não são tão singelas como as idéias populares acerca de Deus. Elas implicam conceitos, que por definição são representações através de palavras que caracterizam objetos reais. Ou seja, as doutrinas são compostas por conceitos que designam alguns aspectos da realidade bíblica.

Fato que implica no respeito incondicional a singularidade concreta de Deus, pois Ele é por Si mesmo aquilo que é.

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HISTÓRICO, NECESSÁRIOHISTÓRICO, NECESSÁRIO E VERDADEIROE VERDADEIRO

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

A filosofia pode convencer alguém da existência de Deus?

Deus é um Deus de revelação... O Salmo 19 apresenta três meios de se comprovar a existência de Deus, mostrando que os efeitos ou as manifestações de Deus no mundo são evidentes: através da natureza (1-6), de Sua palavra (7-10) e dos testemunhos dos seus servos (11-14).

Essas são provas claras, pois toda a criação é uma expressão da presença explícita de Deus no mundo. Mas para a fé é totalmente desnecessária prova física a partir de uma interação Deus-Universo. Pois ninguém precisa provar para outras pessoas que está vivo ou que de fato existe a partir das coisas que faz, como escrever, pintar, gritar.

Fora das Escrituras costuma-se apresentar seis argumentos em favor da existência de Deus. Não que estes argumentos tornam a existência de Deus necessária, pois Deus, como fato auto-evidente, torna estes argumentos válidos.

Esses argumentos que podem aduzir em apoio a existência de Deus, não teriam sentido se fossem aplicados a um ser imaginário.

A questão da existência de Deus não é um problema, pois com algumas exceções, a humanidade é

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unânime em reconhecer um Deus criador. O ateísmo é um lamentável erro nascido do desespero humano, pois cerca de 95% da população mundial acredita em um Ser superior.

Porém esta maioria é composta de agnósticos 6, ateístas passivos e cépticos, ou seja, pessoas que simplesmente não podem afirmar se Deus existe ou não. Por isso, vivem e organizam suas vidas sem tomar Deus em consideração.

:: Argumento Ontológico: O homem somente pode conceber um Ser absolutamente Perfeito, pois existe em sua mente o conhecimento da existência de tal Ser. Clemente de Alexandria, em sua obra “Stromata”, chama este saber de “antecipação” (προληψις). Para Boécio o conhecimento de Deus é inato ao homem. Este argumento foi exposto originalmente por Anselmo de Cantuária (Anselm de Cantebury, no século XI), por isso ficou conhecido por “ratio Anselmi”.

:: Argumento Cosmológico: Do grego “cosmos”, “mundo”. O Universo não existe por si mesmo, não é autocriador, mas tudo o que existe depende de uma Causa Primordial. Este argumento foi proposto no século XIII por São Thomas Aquinas (1225-1274).

:: Argumento Teleológico: Do grego “teleos”, “desígnio”. A espantosa ordem, inteligência e finalidade do Universo demonstram a existência de um Ser Sábio ou uma Mente Suprema. Este argumento também foi proposto por Orígenes, em “Contra Celsum”.

:: Argumento Moral: A consciência universal do certo e errado nos limites da crença pessoal, revelam um Supremo Legislador.

6 O termo “agnosticismo” foi empregado por T. H. Huxley em 1876, durante uma reunião da Sociedade Metafísica.

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:: Argumento Estético: O conceito universal de estética e beleza de formas, cores e sons, dentro dos vários padrões, revela um Arquiteto que criou o belo.

:: Argumento Histórico: Não existe raça, por mais primitiva que seja, desprovida de concepção religiosa. Como é possível que inumeráveis pessoas venham a concordar numa mesma idéia?

A simples possibilidade do conhecimento humano ou o fato de haver algo superior à razão, são provas da existência de Deus, que é considerado por teólogos como uma idéia inata. Porém o materialismo, em sua doutrina filosófica, reduz toda existência à matéria.

A própria consciência humana é reduzida a simples mudanças físico-químicas no sistema nervoso. A ciência “obriga” o homem a assumir o próprio destino.

Mas esses argumentos não ficaram sem críticas. Os argumentos cosmológico e da beleza foram criticados, principalmente, pelo filósofo inglês David Hume (1711-1776). Ele criticava uma origem divina diante de tantos defeitos na criação.

Seu argumento era que: se Deus criou tudo bom e belo, e o Mal corrompeu essa criação, então o poder de Deus é limitado frente ao Mal?

No século XIII, Tomás de Aquino havia tentado provar a existência de Deus, argumentado que:

:: A realidade da mudança requer um agente da mudança;:: A cadeia do acaso precisa basear-se numa causa primeira que não é causado;:: Os fatos contingentes do mundo pressupõem um ser necessário;:: Observa-se uma gradação nas coisas que apontam para uma realidade perfeita, no ponto mais alto da hierarquia;

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:: A ordem e o desenho da natureza solicitam, como fonte, um ser que possua a mais alta sabedoria.

Emmanuel Kant (1724-1804) rejeitou e refutou estes argumentos. Mesmo assim continua evidente que “a mesma impossibilidade do ateu em provar que Deus não existe é já uma prova da Sua existência”. 7

Mesmo a ciência jamais realizou uma descoberta que negue a existência de Deus. O oposto: a evidência da existência de Deus ultrapassa em muito à sua negação.

O mundo sensível jamais apresentou elementos para a ciência provar a inexistência de Deus, mas concede diariamente, uma base para a consciência de cada indivíduo, que Deus existe. Mas se a ciência não nos conduz à Deus, é porque suas pesquisas possuem fins em si mesmas.

A crença na “existência de Deus é algo tão fundamental ao pensamento humano que abandonar tal conceito significa embarcar no encapelado mar da irracionalidade, onde nada tem significado ou propósitos”. 8

Anselmo em “Proslogion, seu alloquium de Dei existentia” conclui que é incapaz de pensar na não-existência de Deus, pois simplesmente este pensamento não corresponde à realidade.

O filósofo Kierkegaard (1813-1855) via o uso da razão como uma desculpa para o homem se desviar da fé e fugir da obediência a Deus. Kierkegaard enfatizava que a experiência de Deus não pode ser provada por argumentos, mas deve ser aceita pela fé, pois Deus está muito além da razão humana.

7 A origem do homem segundo à Bíblia. Voz da Mocidade Pentecostal. Curitiba/PR. CPAD. Pág. 8. Ano IV. Num. 32. Dezembro de 1977 – Janeiro de 1978. Artigo de João Antonio Monroy.

8 William W. Menzies & Stanley M. Horton. Doutrinas Bíblicas - Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 45. 2ª Edição. 1996

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As questões quanto a existência de Deus ou a veracidade da Bíblia não são para serem discutidas como meras inquietações filosóficas. Pois o fim do homem não é crer em Deus, mas conhece-Lo.

Nossa ligação com Deus não é uma economia de bens ou valores, mas de vida e morte. Não diz respeito à inteligência do homem, mas sim a sua existência: Se Deus não existe, por que estamos aqui?

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ESPONTANEIDADE ESPONTANEIDADE DO SERDO SER

““É Deus quem fala no homem, é Deus quem falaÉ Deus quem fala no homem, é Deus quem fala pelo homem, é Deus que fala como homem, é Deus quepelo homem, é Deus que fala como homem, é Deus que fala a favor do homem”.fala a favor do homem”. (Myer Pearlman)

De onde Deus veio? Teria Deus se criado, tornando-se o Eu Sou quando ainda não possuía a Si mesmo?

A Bíblia não é fruto de especulações, e sim da divina inspiração (II Timóteo 3.16, 17). Por isso nenhum dos seus livros propõe argumentos de natureza filosófica ou racional quanto a existência de Deus como preliminar da fé.

Isso porque os escritores da Bíblia foram testemunhas da Verdade e apresentam Deus como um fato. Não é através da via comum do conhecimento que chegamos e nos aproximamos dos mistérios de Deus, “Porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe” (Hebreus 11.6).

A Bíblia simplesmente mostra que Deus é quem revela a Si mesmo de diferentes formas e meios. Ninguém jamais descobriu Deus por acidente. Esta noção de revelação ou de autodesvendamento, exclui a necessidade de direcionar o homem para o conhecimento de Deus.

Em “De Magistro” (389 d.C.), Agostinho afirma que não são as palavras que levam ao conhecimento, mas as experiências alcançadas através dos sentidos. Segundo Agostinho, as palavras servem apenas para trazer à lembrança alguma experiência prévia. O ensino das

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Verdades bíblicas não terá o efeito desejado se a pessoa não tiver uma experiência com o próprio Deus. Na verdade todos os ensinos bíblicos sempre requerem uma conversão de mentalidade e atitude.

Encontramos na Bíblia expressões como “Deus Todo-poderoso” (Gênesis 17.1). “Altíssimo” (Salmo 50.14), “Grandioso Criador” (Eclesiastes 12.1), “Grandioso Instrutor” (Isaías 30.20), “Soberano Senhor” (Atos 4.24), “Rei da eternidade” (I Tm 1.17). Essas e outras expressões revelam um Deus que em Sua Natureza Íntima é Vivo (Jr 10.10; Jo 5.26), Único (Deuteronômio 6.4; I Coríntios 8.6) e Eterno (Lamentações 5.19; I Timóteo 1.17).

Deus é um ser ímpar e particular, essencialmente distinto do homem e dotado de maravilhosos atributos e qualidades distintivas de Seu caráter, que o fazem o Deus que conhecemos. Ele já existia antes da criação (Is 41.4; Jo 17.5), por isso Eliú, o buzita expressou:

26 Quão grande é Deus, e nós não o compreendemos! O número dos seus anos não se pode calcular. (Jó 36.26 – Edição Contemporânea de Almeida)

Deus é infinito, independente e autoexistente. Ele não somente existia antes da criação, na verdade nunca houve um momento no qual Deus não existisse – o que exclui qualquer relação entre Deus e o começo temporal do mundo.

Deus não depende de ninguém fora de si mesmo para continuar existindo. Assim sendo, não é possível afirmar que Deus foi ou há de ser, mas apenas que Ele é. Deus é literalmente e plenamente atual, portanto eterno.

A infinitude de Deus em relação ao tempo é chamada na Teologia de eternidade, e em relação ao espaço de onipresença.

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Quem deseja saber o que Deus fazia antes de criar o mundo, não compreende a diferença entre tempo e eternidade. O tempo existe somente para as criaturas, e onde Deus habita não existe tempo e espaço. Conforme escreveu Moisés:

02 Antes que os montes nascessem, ou que tu formasse a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus. (Salmos 90.2)

Deus não foi criado por “algo”, pois isso exige a existência de outro “Ser” (Salmo 86.10); Deus não foi criado a partir do nada, pois isso exige a existência de um “Vazio absoluto” ou de um “Ser oposto” (Isaías 43.10; 44.8).

Por ser um Deus pessoal, que realmente se importa com a sua criação, Ele repudia a descarada mentira da existência de outros “deuses” (Isaías 40.12-28; 46.5-10).

Deus é Aquele que existe por Si, independente de tempo e espaço, de princípios ou limites (mas sendo o princípio e o limite de todas as coisas); Deus é Aquele que existe de forma absoluta, una e perfeita (nada falta ou sobra em Deus): DEUS, AQUELE QUE É (Deuteronômio 32.39, 40). Conforme está registrado no Êxodo:

14 E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. (Êxodo 3.14)

“Eu Sou o que Sou”: Nele encontra-se a imunidade, singularidade, pureza e superabundância do ser. Hugo de São Vítor, em “De Sacramentis christianae fidei”, argumentou que Deus não pode ser multiplicado, pois é imenso (infinito dimensional); Deus não pode ser

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diminuído, pois é uno; Deus não está sujeito a mudanças físicas, pois está em todos os lugares; Deus não está sujeito a mudanças temporais, pois é eterno.

Enquanto Deus é, a natureza vem a ser e deixa de ser. Mesmo assim os homens continuam errando quando definem que Aquilo que é (e sempre será) não é, e aquilo que não é (e nunca será) é!

Por isso a pergunta de Agostinho continua atual: quantos são capazes de ler no Eterno?

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DERRADEIRADERRADEIRAREALIDADEREALIDADE

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Como pode alguém conhecer e expor aquilo que é infinito, imensurável, indescritível, incontável e que não se pode pesar?

Jesus revelou a mulher de Samaria, junto à fonte de Jacó, que Deus é Espírito (João 4.24). Por isso todos os nossos conceitos e concepções devem reportá-lo a condição espiritual, sabendo que Ele é invisível e imperceptível aos sentidos (João 1.18).

Como Espírito, Deus não possui qualquer fator quantitativo suscetível de ser avaliado ou medido. Apesar disto, Deus é a medida de qualquer e toda perfeição. A medida e aquilo que é medido são distintos.

Em sua obra “Quomodo substantiae in eo quod sint, bonae sint, cum non sint substantialia bona”, Boécio conclui que Deus é o que é, enquanto as coisas criadas não são o que são. As criaturas podem até ser existencialmente boas, mas não são essencialmente boas.

Somente Deus, o Sumo Bem, é em existência e essência bom. Ou seja, Deus como agente moral livre e inteligente é o que é não porque deva ser, mas porque simplesmente é.

Como diria Orígenes, Deus é Espírito, mas está além do espírito; Deus é o Pai da Verdade, mas é mais que a verdade; Deus é o Pai da Sabedoria, mas é melhor

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que a sabedoria; Deus é a Vida, mas é maior que a vida; Deus é um ser, mas está além do ser.

Gregório de Nazianzo (330-390 d.C.) completaria dizendo que Deus é toda a beleza, mas transcende toda a beleza. Pode-se completar o pensamento de Gregório afirmando que Deus é a própria beleza de tudo o que é verdadeiramente belo. Em “De divisione naturae” (no volume I), Scoto prefere adicionar o prefixo “super” aos atributos de Deus, dando origem a “Teologia Superlativa”.

Deus cria coisas perfeitas, mas continua sendo mais perfeito que elas, devido a eminência do Seu ser. E Deus julga todas as coisas pois continua superior a tudo.

Deus é o único ser absoluto, logo os demais são relativos; Deus é o único ser imutável, logo os demais são mutáveis. Deus é o “non plus ultra” da realidade: algo que não se ultrapassa.

Só Deus existe verdadeiramente, pois em relação à Deus as coisas não tem uma existência verdadeira. Valores como bem, belo e verdadeiro tem sentido pleno somente quando ancorados em Deus.

Em geral existem extremas dificuldades na compreensão dos chamados “Atributos de Deus”. Infelizmente não existem analogias, comparações ou conceitos adequados para definir o que Deus é em si mesmo, sua essência é incognoscível. Ele tem a absoluta liberdade de ser, sem jamais ter que explicar porque Ele é o que é.

Se fosse possível comprovar a origem e a existência de Deus, Ele já não seria Deus, pois teríamos reduzido-O a cálculos humanos. Mesmo as expressões empregadas para denotar o caráter ilimitado do Ser de Deus, são em si mesmas frágeis e temporais.

É impossível descrever Sua Natureza superior com palavras cujos significados muitas vezes parecem vazios, oriundas de uma natureza inferior. Mas isto não significa que os conceitos sejam representações indeterminadas de Deus.

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Deve-se evidenciar o contraste entre o objeto conhecido e o conhecimento que se tem dele. Os conceitos utilizados são comuns a Deus e às demais coisas, podendo ser aplicados à sabedoria criada e Incriada. Mas é possível conhecer Deus num conceito comum e exclusivo a Ele.

Embora os termos aplicados à Deus não exprimam o que Deus é em si mesmo, eles nos ensinam o que Ele é em relação às criaturas. Por isso O conhecemos através da consciência, da natureza e, principalmente, da Bíblia.

Os atributos bíblicos para Deus são os mais dignos encontrados na linguagem humana. Eles superam as características humanas em qualidade, em perfeição e intensidade. Cada atributo revela um sinal característico, uma peculiaridade, uma propriedade de Deus.

Para Orígenes a visão de Deus é vedada a todos, inclusive ao Filho de Deus. A Bíblia ensina que Deus habita em uma luz inacessível, por isso transcende à todo conhecimento humano. Se Deus fosse inteiramente perceptível aos homens, não haveria nenhum mérito na fé; mas se Ele fosse totalmente oculto, a fé seria inútil para o conhecimento.

Mesmo que os termos ou expressões aplicados à Deus sejam primeiramente baseados nas coisas mutáveis, é lícito aplicá-los a Deus, pois a Escritura assim o faz. E desta forma consegue expressar plenamente o Inexpressível.

É difícil conceber Deus sem Seus atributos, pois através deles Deus se revelou nas Escrituras. Os atributos de Deus são co-extensivos com Sua natureza. Os atributos são todo-difundidos ao ser de Deus, pois formam uma unidade com Seu Ser, Seu Saber e Seu Querer.

Assim cada atributo por si só define Deus, evidenciando suas características essenciais, permanentes e distintivas.

O conhecimento finito e imanente não pode alcançar a Verdade por meio de analogias que visam a semelhança. Ou seja, por mais iguais que sem a medida e

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o objeto medido, serão diferentes para sempre. Em todos os conceitos de semelhança e contradição entre Deus e o homem, a Bíblia considera a desproporção e a distorção entre os seres.

Algumas vezes, em relação à Deus é preferível o silêncio do que a palavra. Como diria Agostinho (354-430), amamos o Desconhecido no conhecido.

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CONSCIÊNCIACONSCIÊNCIALÚCIDALÚCIDA

““Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga;Por causa de seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.todas as suas cogitações são: Não há Deus”. (Salmo 10.4)

Haverá algum lugar no Universo que Deus não esteja? Deus é Senhor somente enquanto existirem criaturas sujeitas ao Seu domínio?

Apesar de todos os avanços tecnológicos, a alma continua primitiva em sua busca por ícones sagrados. Por isso a Bíblia afirma que “o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem” (Deuteronômio 8.3). Porém, isso não justifica a burrice impertinente de tentar representar ou reduzir Deus a uma imagem (Salmo 115.4-8).

O homem para se conhecer procura no exterior informações para comparação e contraste. Mas Deus possui um conhecimento pleno de si, sem se referir a nenhum outro ser.

Em Sua Natureza Íntima, Ele é insondável, inescrutável e perfeito (Salmo 89.6-8; Isaías 40.18; Tiago 1.17). Sendo Espírito (Atos 17.24), Deus não possui uma forma que se possa visualizar, por isso nos proíbe de fabricar imagens (Deuteronômio 4.15-19).

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Não existe nenhum elemento material em Deus, o que o torna independente do tempo e espaço. Ninguém pergunta a forma, tamanho, peso ou cor de Deus; pois se fosse um ser material, tais propriedades deveriam ser verificadas. Se fosse evidente ao mais bruto olho material, não seria necessária a ação da Palavra de Deus e do Espírito Santo para comprovar Sua existência.

Na Bíblia, geralmente Deus se manifesta antropomorficamente, porque é a forma mais ideal de comunicar-se com o homem. Ou, como expressou Antônio N. Mesquita, “porque esta forma tenha algo de superior, que nós não podemos compreender”. 9

Em alguns relatos bíblicos, Ele se manifesta como um Rei radiante em Seu trono (Daniel 7.9; Apocalipse 4.2-3). Mas nunca é feita uma descrição de Sua fisionomia (Jô 1.18; Exôdo 33.20). O que nos resta são belas imagens poéticas, como as de Emílio Conde: “Aquele que é mais sutil que o ar, mais ligeiro que o relâmpago, e cujo olhar é mais belo que um alvorecer de primavera, e mais suave que a claridade das estrelas”. 10

Devido a infinita superioridade de Deus, mesmo sendo imaterial pode criar algo material, revelando-se Onipotente (Jó 42.2; Jeremias 32.17). Por isso “entendemos que os mundos foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hebreus 11.3).

Em Sua Onipotência (“omnis” e “potentia”, palavras latinas que juntas significam “todo poder”), Deus possui a eficiência de fazer as coisas acontecerem. Ele pode tudo o que é logicamente possível, desde que não seja absurdo, arbitrário ou contrário à Sua natureza.

Pois se realizasse algo que contrariasse Sua vontade positiva e racional, seria apenas impotência. Existe uma obrigatoriedade em Deus de fazer tudo

9 Mesquita, Antônio Neves de. Estudo no Livro de Gênesis. Ob. Cit. Pág. 88.

10 Revista Obreiro. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 17. Extraído do livro “Eles andaram com Deus” de Jefferson Magno Costa.

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conforme Seu caráter. O poder de Deus e seu caráter são totalmente idênticos ao próprio Deus.

E essa eterna Soberania revela um Ser transcendente (infinitamente superior e distinto de tudo quanto é temporal - tempo, espaço e conhecimento - II Crônicas 2.5, 6; Isaías 43.13; 55.8, 9; Daniel 4.35; Romanos 3.4) e imanente (presente e ativo em todos os seres orgânicos e inorgânicos). Esta transcendência divina pertence igualmente a todos seus atributos (Jeremias 31.3; Oséias 2.19). Deus é uma fonte substancial, sobrenatural e superabundante de virtudes.

Não se deve cair em um dogmatismo teísta (ensina que Deus é inseparável do mundo e da matéria), ou monista (prega que tudo é composto por uma única substância, Deus); pois Ele é Onipresente em Sua Natureza Ativa (Deuteronômio 26.15; Jó 22.12; Salmo 73.25; 139.7-10; Provérbios 15.3; Jeremias 23.23, 24).

Assim, em Sua Infinitude Espacial (I Reis 8.27), Deus pode estar presente em todos os espaços, de diversas maneiras (Jeremias 49.16; Amós 9.2-4; Obadias 4; Naum 1.3-5); porém, apesar de estar presente, Deus não faz de cada parte Sua habitação (II Reis 8.27; Isaías 57.15; Apocalipse 3.20).

Ele está de forma plena e simultânea em cada momento do tempo e em cada parte do espaço. Enquanto a Infinitude Espacial ou Imensidade diz respeito à presença de Deus em relação ao espaço, a Onipresença refere-se à Sua presença em relação às criaturas.

Deus opera na totalidade do indivíduo, agindo de forma simultânea em sua mente, em sua vontade e em suas emoções. Pois Deus “o alto e sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo”, é imanente para habitar “com o contrito e abatido de espírito”, operando no profundo das mais íntimas motivações “para vivificar o espírito dos abatidos”, agindo no interior de cada sentimento “para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).

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Deus não faz parte de um todo, pois conforme sintetizou Orígenes, Ele é uma Unidade Espiritual Absoluta. Scoto em sua obra “De divisione naturae” (volume II) negou enfaticamente que o universo se identifique com Deus, e que as criaturas sejam uma parte Dele.

Deus é uma unidade simples, não é composto por diversas coisas, nem por partes ou vários elementos simultâneos. Como definiu Hugo de São Vítor, em “De Sacramentis christianae fidei”, Deus é um ser em sumo grau, essencialmente, verdadeiramente e imutavelmente uno.

Spinoza, porém, via Deus em tudo o que existe e tudo que existe em Deus: igualando Deus à criação, pois para ele tudo que acontece são manifestações de Deus.

Para toda ação existe uma motivação. Mas a criação foi um ato livre de Deus e nunca pode ser visto como uma necessidade (Zacarias 12.1; Atos 17.25). Deus não precisa de coisa alguma (Jó 22.2, 3), mas tudo criou por Sua vontade (Apocalipse 4.11) e para Sua glória (Efésios 1.6).

Uma criação por livre vontade, pois como diria Clemente, Deus não é bondoso criador no mesmo sentido que o ferro é quente ou por necessidade de natureza. A “Confissão de Fé de Westminster” afirma que Deus criou o mundo “para a manifestação de Seu poder, sabedoria e bondade eternos” (Ec 3.11).

Não somente a criação, mas nenhum dos atributos de Deus teve origem na necessidade, mas unicamente em sua voluntária vontade. Deus é soberano mesmo em Suas escolhas: a liberdade de Deus não está baseada apenas em um arbítrio puro e simples.

Deus possui uma certa obrigação moral exclusivamente consigo mesmo. A maior prova da livre arbitrariedade de Deus foi a entrega voluntária de Jesus.

Diante de tantos mistérios o estudo da criação não deve ser visto como um desafio intelectual, mas como um desafio espiritual.

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A Bíblia nos diz que a “natureza” revela a existência de Deus (Gênesis 1.1; Marcos 13.19; Efésios 3.9), o poder (Isaías 40.28; 42.5; 45.18; Colossenses 1.16) e a sabedoria de Deus (Jó 9.4-10; 38.4-13; Provérbios 30.4; Isaías 40.12-14). Mas não acrescenta nada para nossa santidade e nenhuma revelação do futuro (Romanos 1.19-20).

O apóstolo Paulo escreveu que “desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua divindade, claramente se reconhecem sendo percebidos nas coisas criadas” (Romanos 1.20 – Versão Alfalit Brasil).

Com base nisto, o teólogo Myer Pearlman explicou que “a natureza é a revelação de Deus que se alcança pela razão. Mas quando o homem está algemado pelos seus pecados e sobrecarregada a alma, a natureza e a

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razão são impotentes para esclarecer e aliviar a situação”. 11

Quando perguntamos porque, por quem e para quem foi tudo criado, temos a resposta de que Deus é o sustentador de todas as coisas. Deus é o único bem que deve ser amado por si mesmo, mas aprendemos a amar Deus e tudo que vem de Deus (I João 5.1): em Deus e por Deus. Porque Nele, com Ele e por Ele a vida adquire sentido.

Mas ai daqueles que amam mais os sinais de Deus, como a natureza, do que ao próprio Deus:

33 Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!

34 Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?

35 Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?

36 Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória pois a ele eternamente. Amém. (Romanos 11.33-36)

O CONHECIMENTOO CONHECIMENTODE DEUSDE DEUS

2ª PARTE

11 Pearlman, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo/SP. Editora Vida. Pág. 19. 24ª Edição. 1996

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““Diante do espelho da majestade divina, o homemDiante do espelho da majestade divina, o homem vê melhor a imagem de sua própria pequenez”.vê melhor a imagem de sua própria pequenez”... (Raphael Zambrotti, 1972)

01 No princípio criou Deus os céus e a terra. (Gênesis 1.1)

Foi “no princípio” (Gênesis 1.1), quando Deus não era um deus (no sentido etimológico, pois não era definido por conceitos antropomórficos), que tudo começou.

Após a criação do homem, Deus passou a ser analisado sob a óptica material, como se Ele fosse um mero e pálido reflexo da criatura ou apenas a sombra gigantesca do homem, em vez de reconhecermos que nós somos Sua imagem e semelhança (Gênesis 1.26).

Através da história o homem tem se apresentado como o centro e a medida para todas as coisas. Ignorando que não existe nenhuma medida comum aplicável à Deus e as criaturas, o homem fez com que Deus deixasse de ser um ser real, para se tornar um simples conceito.

Os filósofos gregos tentaram provar que os mitos não eram confiáveis e que não passavam de invenções humanas. Xenófanes (570 a.C.) ensinava que todos os deuses das mitologias eram criados à imagem e semelhança dos homens. Para Xenófanes, qualquer ser superior não passa de uma invenção humana, pois se os cavalos pudessem criar seus próprios deuses, esses teriam feições eqüinas.

Na ânsia por sabedoria, “tateando nas trevas de sua cegueira espiritual, o filósofo pagão procurava Deus como o Grande Desconhecido e criava para si mesmo uma divindade que viesse satisfazer seus instintos morais e

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resolver os seus problemas relacionados com a criação e o governo do Universo.” 12

Todos somos capazes de conceber coisas que não existem. Mas Anselmo de Cantuária em “Proslogion” mostra que a Bíblia apresenta Deus como um ser em comparação ao qual é inconcebível um outro maior ou melhor.

Deus contém realizado todo o ser e toda possibilidade em forma infinita, possuindo em si tudo o que pode ser. Ele não pode ser maior e nem menor do que é. Deve-se considerar que os gregos criavam seus deuses conforme as paixões humanas, enquanto o livro de Salmos louva: “Sabei que o Senhor é Deus: foi Ele e não nós, que nos fez...” (Sl 100.3).

O homem com sua inteligência criada, é limitado por sua própria existência (tempo, espaço e matéria), não podendo superar a distância eterna que separa criatura do Criador. Por isso não pode entender Deus: devido a limitada percepção da realidade existente em si mesmo.

Ludwig Feuerbach (1804-1872) acreditava que afirmações a respeito de Deus não iam além de afirmações a respeito do homem. Como se Deus fosse composto, e criasse forma e vida a partir de um conjunto de conceitos.

Como conceito, Deus passou a ser restringido àquilo que cada homem é capaz de imaginar e compreender. Como ser Vivo que opera entre os homens, Deus é limitado à fé de cada um.

Por isso em 1925, Lettie Cowman disse muito bem: “O que a nossa fé disser que Deus é para nós, Ele será”. 13

Pois Deus se revela na proporção da fé que o busca. Em relação aos outros o termo Deus não possui necessariamente a mesma intensidade de significação.

Desde o nascimento, nosso conhecimento começa pela experiência sensível, sensorial. O mais evidente conhecimento fundamenta-se nos sentidos, sobressaindo às idéias consideradas inatas. Por isso o conhecimento

12 “A Fonte da Sabedoria”. Pontos Salientes. Rio de Janeiro/RJ. JUERP. Pág. 15-16. 09/01/1972. Comentários de Raphael Zambrotti.

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humano é essencialmente sensorial: para os “racionais”, não existe nada na inteligência que antes não tenha passado pelos sentidos (visão, audição, olfato, tacto e paladar).

O empirismo chega ao extremo de negar a possibilidade do surgimento de alguma idéia espontânea e baseia todo o conhecimento na experiência. Para Aristóteles (384-322 a.C.) não existe nada na razão que não tenha sido experimentado antes pelos sentidos. Epicuro colocava a percepção sensível como o limite de todo o conhecimento.

Percebe-se que as diversas crenças que surgiram na Grécia e em Roma, tinham em comum pelo menos dois pontos: a matéria é a única realidade e os sentidos constituem a fonte de conhecimento. Os gregos procuravam entender por si mesmos os processos naturais, dando início à separação da filosofia-ciência da religião.

Este existencialismo era tão radical que ressaltava a impossibilidade do homem alcançar a verdade absoluta, nem com teorias ou argumentos, pois não se pode ultrapassar os limites da realidade concreta. Semelhantemente, para Heidegger nenhum filósofo consegue escapar completamente das fronteiras da finitude radical e dos limites impostos pelos horizontes do indivíduo.

Epicuro pensava que a natureza das coisas é um produto do acaso. De forma similar a alguns pensadores modernos, Epicuro limitava o real à percepção dos sentidos; esquecendo que no mundo dos sentidos impera a subjetividade, enquanto que a objetividade possui pouco acesso. Geralmente recebemos opiniões incertas sobre tudo que “sentimos” ou “percebemos sensorialmente”. Mas Deus encontra-se acima do mundo sensorial.

Tudo o que é real, no imaginário ordinário, deve ser palpável. Mesmo a Psicologia Experimental já ter

13 Cowman, Lettie. Mananciais no Deserto. Venda Nova/MG. Editora Betânia. Pág. 44. 10ª Edição. 1986

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exaustivamente provado as falhas de nossa percepção, os homens duvidam da existência de Deus, pois Ele escapa aos olhos (Ele é Espírito!) e é imperceptível aos ouvidos. Deus é uma experiência extrasensorial (João 1.18), o que não implica em uma existência sombria e irreal (João 5.37; Filipenses 2.6). E a ciência somente não descobre Deus, pois se limita à matéria.

Assim nenhuma noção transcendental pode surgir de uma consciência intranscendental limitada por um conhecimento sensorial e uma visão baseada em aspectos opostos da multiforme realidade, como morte/vida, verdadeiro/falso, dia/noite, amigo/inimigo, frio/quente, natural/artificial, culpado/inocente, macho/fêmea...

O modo como pensamos e agimos está baseado nesta distinção de opostos. E é inegável que, sem esta distinção, os conceitos como bem/mal, certo/errado, luz/trevas não fariam sentido, pois coisas binárias caminham juntas e contrárias.

Por outro lado, qualquer pergunta que ultrapasse estes pares de opostos são condenadas ao campo do absurdo, por não possuírem uma lógica (dentro destes limites).

Mesmo pontos de equilíbrio entre opostos não estão totalmente claros: o equilíbrio entre as cores branca e preta é a cinza; entre a direita e a esquerda é o centro; entre o dia e a noite, é o anoitecer e o amanhecer.

Estes “equilíbrios” são vistos como formas distintas (independentes de seus extremos), e não como pontos que transcendem aos opostos (o meio que inclui os dois extremos). Heráclito (540 - 480 a.C.) acreditava que sem estes pares de opostos além de nada fazer sentido, o mundo não existiria.

É por isso que questões como um Deus sem começo e fim (em nossa visão tudo tem começo e fim), e que criou tudo a partir do nada (o que é o “nada”?) já estão condenadas, por nós mesmos, a receberem respostas que, aparentemente, nunca farão sentido.

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É considerado lógico somente aquilo que corresponde ao pensamento humano. A incompreensibilidade essencial de Deus está fundamentada no abismo que separa Criador e criatura: o real conhecimento de Deus transcende o nosso entendimento na mesma proporção que Ele transcende o nosso ser.

O conhecimento que temos de Deus, é bem ilustrado por Paulo, ao mostrar que ele limita-se ao reflexo no espelho e a sombra de um homem na entrada de uma caverna (I Corintios 13.12). Mas o Espírito Santo nos concede o antegozo de almejar o dia em que seremos semelhantes a Ele, como resultado de O vermos como Ele realmente é (I João 3.2).

Por esta razão deve-se evitar a tentação de adaptar Deus aos nossos conceitos limitados:

20 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? (Romanos 9.20)

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A BUSCA PELAA BUSCA PELAVERDADEVERDADE

““Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seuEu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho nem do homem que caminha o dirigir os seuscaminho nem do homem que caminha o dirigir os seus passos”.passos”. (Jeremias 10.23)

Para se encontrar a verdade é preciso se abstrair de todas as considerações humanas?

38 O que é a verdade? (João 18.38)

Esta foi a pergunta feita por Pilatos à Jesus, durante o seu julgamento. De alguma forma, esta mesma pergunta volta a aparecer na vida de cada ser humano. E muitas escolas filosóficas, seitas e descobertas do cientificismo já se declaram possuidores desta verdade final.

Para muitos, “verdade” seria uma explicação lógica (conseqüentemente limitada), apoiada por argumentos sólidos e por provas. Para outros, “verdade” é apenas a versão que se sobressai.

Para Agostinho a verdade é uma evidência necessária, sempre constante e indefectível; para Anselmo de Cantuária (em “Dialogus de Veritate”), “a verdade é uma retidão perceptível somente ao espírito”; para Hugo de São Vítor (em “Eruditionis Didascalicae”) a verdade é um saber verossímil, fidedigno e insuscetível de suspeita.

O filósofo francês René Descartes (1596 – 1650) utilizava-se do método de dúvida cartesiano na busca pela “verdade”: não aceitar como verdade nada que não seja claro e distinto; decompor os problemas em suas partes mínimas; deixar o pensamento ir do simples ao complexo;

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revisar o processo para ter certeza de que não ocorreu nenhum erro.

Existe uma Verdade por trás das “verdades convencionais”? Existe O Correto por trás das coisas corretas? Esta Verdade e Correto é Deus ou as instituições sociais-religiosas?

Como constatou o filósofo e psiquiatra Karl Jaspers, a verdade varia de indivíduo para indivíduo. Por isso a “verdade objetiva” refletiria apenas as crenças convencionais do momento.

A crença mais comum afirma que a sociedade como um todo não pode ir além dos valores e verdades que construiu. Nesta óptica a verdade seria apenas um meio da sociedade promover seus interesses.

Foi a partir do século XIX que a noção de verdade passou à ter que contar, essencialmente, com a aprovação da ciência. Mas para obter o “status” de ciência, é necessário que o objeto de estudo possa ser observável, mensurável e reproduzível.

Existe uma Verdade por trás destas “verdades convencionais”? Existe O Correto por trás das coisas corretas? Esta Verdade e Correto é Deus ou as instituições sociais-religiosas?

Este quadro racionalista piora se for considerado que uma “parcela ponderável de pensadores, ainda acredita que, em sua fantástica insuficiência, a razão e a ciência tudo explicariam e que a Humanidade, auto-suficiente e autogeradora, é, ao mesmo tempo, alfa e ômega da Criação”. 14

Existem verdades que vão além do indivíduo, além das experiências pessoais proclamadas como verdadeiras.

14 Cultura e fé. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo/SP. Agencia Estado. Pág. A2. Ano 121. Num. 38975. 03 de julho de 2000. Artigo de Ives Gandra da Silva Martins.

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Mesmo que alguém desconsidere Deus como real ou não participe de Sua realidade, isso não altera a Verdade. Mesmo que não saiba ou não admita, todas as criaturas do Universo já se beneficiaram do amor de Deus.

A humanidade sofre de uma ausência de motivação (para que serve isso?) que produz o absenteísmo. A pergunta principal na busca da Verdade torna-se relativa não à existência ou a veracidade de Deus, mas quanto a Sua utilidade. Para que serve Deus?

Mesmo não encontrando a Verdade na razão e na ciência, a fé em um Deus presente no mundo torna-se inútil para uma mentalidade voltada para o conhecimento naturalista. Também se torna desnecessário um Deus que opera, invariavelmente, em prol do bem supremo do homem, pois a ciência investiga e define os mecanismos conscientes e subconscientes humanos.

Com isso a máxima do Evangelho (que “Deus amou o mundo” – João 3.16) é derrubada: o mundo não precisa do amor de Deus, pois segundo a ciência, o mundo é auto-suficiente (desde sua origem) e pode fazer o homem feliz. O tema principal da vida inconsciente é a busca pela felicidade.

Assim o homem tenta, inutilmente, preencher o espaço vazio que pertence ao amor de Deus. Ninguém ama aquilo que não conhece, por isso os homens desprezam

Aquele que os quer retirar do lamaçal do pecado, esquecendo que Deus “é sobre todos, e por todos e em todos” (Efésios 4.6). Mas será possível conceber um engano e uma cegueira pior do que considerar-se auto-suficiente, quando nem mesmo pode-se garantir a vida?

Não são os pecados dos homens que limitam e anulam o amor de Deus, mas exclusivamente a soberba e a presunção. Ao homem natural pode parecer inconcebível que um Deus completo e satisfeito em si mesmo, seja capaz de amar um mundo imperfeito.

O Evangelho de São João afirma que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para

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que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (3.16).

O escritor Eugênio Joaquim de Oliveira observou que “Deus deu, isso denota um ato de humilhação, porque Ele nos procurou a nós, quando nós o deveríamos Ter procurado. Nisto está a prova do verdadeiro amor de Deus: de haver Ele se humilhado para oferecer-nos comunhão consigo. Não foi o homem pecador que procurou Deus, mas Deus que procurou o homem!” 15

10 Nisto consiste o amor: Não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou. (I João 4.10 – Versão Alfalit Brasil)

Como pode o homem compreender o amor de Deus? Como disse Sofar, o naamatita, “porventura alcançarão os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11.7).

O amor de Deus é mais alto do que os céus, mais profundo do que o inferno, mais comprido do que a terra e mais largo do que o mar (Efésios 3.17, 18; Jó 11.8, 9). Por isso Paulo declarou que Deus é “poderoso para fazer tudo muito além de toda medida do que pedimos ou entendemos” (Efésios 3.19, 20).

Devemos então adorar a Deus pelo que Ele é. Adorá-Lo em razão de Sua natureza, em função do Seu ser em Si mesmo. Muitos que amam a Deus, não o amam por Ele, mas em função de interesses próprios.

Se depender unicamente dos “racionalistas”, os homens perdem a esperança e ficam presos à um sistema que limita o conhecimento humano aos fatos materiais (I Coríntios 15.19). E se os ensinos de Cristo forem apenas palavras sábias de um homem para esta vida, então os que nelas acreditam serão o povo mais infeliz da terra.

15Oliveira, Eugênio Joaquim de. Orvalho de Sião. Rio de Janeiro/RJ. CPAD. Pág. 8. 1979

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Não há lugar para o Espírito, pois colocaram a própria razão como autoridade suprema.

Mas nem a razão ou a natureza pode revelar plenamente a Verdade alcançada pela fé: que Deus intervém no Universo em favor do homem (Hebreus 1.1). Deus está acima de todo espaço, todo o tempo e todo o conhecimento.

O homem não é autosuficiente e necessita de Deus, tanto quanto uma corça ofegante necessita de água no deserto (Salmo 42.1-2). Deus espera amorosamente que todos os homens se convertam de seus maus caminhos (Ezequiel 18.29-32).

A Bíblia não é um longo discurso filosófico, e nem sequer pretende propor uma filosofia, mas nos revela que não existe efeito sem causa (Gálatas 6.7). Em um processo de regressão em um debate científico sobre o “efeito que é a causa de outro efeito”, chega-se a diversas hipóteses que desenvolvem mais dúvidas do que respostas.

Um regresso “ad infinitum” é um absurdo que deve ser normalmente rejeitado. Este debate terminaria questionando, formulando e reformulando as mesmas dúvidas ou apenas transferindo o problema da origem da causa anterior.

Mas uma regressão à luz da Bíblia revelaria que a razão causal e finalista de tudo quanto não possui razão de ser é o próprio Deus (Atos 17.28), a única natureza incausada. A própria criação nos revela que não é nela que devemos buscar a razão de ser. Pois a criação é resultado da atividade criadora de um Deus Pessoal (Apocalipse 1.8) e não de um conjunto de forças cegas e destituídas de inteligência.

Hoje alguns homens que “divinizaram” o racionalismo e a tecnologia, não conseguem enxergar A VERDADE que está diante de seus olhos: DEUS É A ORIGEM DAS ORIGENS.

Os homens não compreendem suas limitações e recusam-se a dobrarem seus joelhos perante a sabedoria

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de Deus. Pois para aquilo que todo homem tem de melhor, Deus possuí “um caminho ainda mais excelente.” (I Coríntios 12.31)

“Deixem de enganar-se a si mesmos. Se você pensa que tem sabedoria acima do normal, conforme avaliação pelos padrões deste mundo, faria melhor se pusesse tudo de lado e se tornasse um tolo, antes de permitir que isso o afastasse da verdadeira sabedoria do alto. A sabedoria deste mundo é loucura para Deus. Tal como o livro de Jó afirma, Deus usa a própria inteligência do homem para apanhá-lo; ele tropeça na sua própria ‘sabedoria’ e cai. E, de igual modo, no livro dos Salmos, nos é dito que o Senhor conhece muitíssimo bem como a mente humana raciocina e quão louca e fútil ela é” (I Coríntios 3.18-20 – Versão Linguagem de Hoje).

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A REVELAÇÃO A REVELAÇÃO DE DEUSDE DEUS

““Estes mostram a norma da lei gravada no seuEstes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e oscoração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ouseus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se ”.defendendo-se ”. (Romanos 2.15)

Paulo em sua carta aos Romanos nos fala de uma “lei escrita no coração”. Esta lei são conceitos morais básicos, o que confirma e valida a revelação de Deus (Romanos 2.11-15).

Esta “revelação” do coração é como um “segundo conhecer”, do grego suneidêsis, que remete a idéia do “saber juntamente”, “consciência consciente”, “consciência espiritual”, “consciência moral”. E é justamente esta revelação divina na natureza humana que tem impedido a humanidade de se autodestruir.

Deus estabeleceu padrões absolutos do bem e do mal. Nossa consciência, que nos acusa ou exime de culpas, que nos adverte ou incentiva, é composta pelo testemunho conjunto da Palavra de Deus e de Sua lei em nosso coração.

A “revelação geral” de Deus, é uma revelação cósmica-antropológica, ou seja, é a revelação que Deus faz de si através da natureza e da humanidade. Apesar de ser uma revelação objetiva, válida e racional, após a queda da humanidade, nosso conhecimento sobre Deus foi afetado.

Deus passou a ser o “DEUS DESCONHECIDO” (Atos 17.23), que manifesta o Seu poder eterno e a sua

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natureza divina à uma humanidade obtusa (Romanos 1.18-21), cuja mente está presa na escuridão (II Coríntios 4.4).

A “revelação geral” de Deus foi de tal forma corrompida que deu origem a milhares de religiões e divindades. Todas as religiões possuem gravíssimas distorções da revelação de Deus, pois existe um fator demoníaco que opera nas religiões (I Coríntios 10.20).

A Bíblia valida esta “revelação geral”, porém nega a sua autoridade quando sancionada apenas pela razão. Pois esta revelação não possui poder de salvação, nem adiciona nada ao conhecimento que temos de Deus a partir da Bíblia. Ela serve como testemunha do que Deus é, e denuncia a pecabilidade da vida humana.

É impossível conhecer ou compreender o plano divino de redenção através da teologia natural da revelação geral. Mesmo que o homem percorra o melhor que puder com os sentidos e a razão o universo, só em Cristo encontrará a sua identidade com Deus.

Deus revelou dramaticamente o plano de salvação por meio de Jesus (Hebreus 1.1). Pois Jesus Cristo é a forma mais sublime da revelação de Deus.

Mesmo que o conhecimento cognitivo de Deus grite a todas as pessoas, a humanidade recusa-se a buscar um conhecimento existencial e experimental de Deus. A sociedade reprime e rejeita Deus, pois o pecado corrompeu a vontade humana.

O verdadeiro conhecimento de Deus envolve um relacionamento pessoal através da redenção em Cristo Jesus. Ter comunhão com Deus é conhecer a essência, a perfeição e as exigências morais de Deus. A Bíblia apresenta um princípio ético e moral de conduta agradável a Deus (Provérbios 1.3).

A Bíblia é mais que uma mera testemunha dos atos divinos, é a revelação especial de Deus (João 20.31). Os termos empregados na comunicação verbal de Deus na Bíblia devem ser compreendidos a partir da correspondência lingüística. Deus emprega pensamentos e

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atos humanos ao se expressar na Bíblia. Em Sua sabedoria, usa termos humanos que se aproximem ao máximo de Sua verdade.

Existem termos “unívoca”, que possuem um único significado como “caneta”. E existem termos “equívoca” que possuem significados diferentes como “livro” de ler ou o ato de livrar. As palavras empregadas na Bíblia são “analógicas”, pois são qualitativamente iguais. Se colocam entre a unívoca e a equívoca, como por exemplo a palavra “corrida”. Por isso os termos empregados por Deus tem o mesmo significado, pois são proposições verbalmente racionais. Elas são diferentes em grau e não em tipo ou gênero.

A compreensão e mesmo a aceitação destes termos não depende totalmente da razão, está mais ligado a fé. Pois a razão nos remete ao saber limitado ao medíocre conhecimento e experiência humanas.

Apesar das limitações em exprimir Deus através de palavras, o que está registrado na Bíblia é verdadeiro e suficiente. A revelação contida na Palavra de Deus é única e voluntária, seu conteúdo limita-se a vontade de Deus.

Toda experiência subjetiva é obscura e variável. E isto impregna a “revelação geral”. Todos carecem de uma compreensão da mensagem integral de Deus. Somente através da Bíblia temos a certeza da vontade de Deus (I Corintios 14.8; II Pedro 1.9).

A mensagem de Deus para hoje contém as mesmas Verdades dos dias em que foram escritas na Bíblia. Desprezar a vontade de Deus é frustrar os cuidados de Deus para nossas vidas.

A mensagem total de Deus se encontra somente na Bíblia. Não existe qualquer outra fonte que possa ser considerada. Não existe um “outro testemunho”. A Bíblia revela não somente os atos de Deus, mas também os Seus significados. Por isso Jesus nunca realizou nenhum milagre que não fosse acompanhado por uma palavra divina.

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É a Bíblia a Palavra de Deus? Ou ela apenas contém a Palavra de Deu? Onde termina a Palavra de Deus e começa o registro humano?

A mensagem de Deus para nós está na Bíblia. Todas as palavras da Bíblia são divinas e humanas. Ela contém um registro inspirado e revelado por Deus. A revelação de Deus pode ser ignorada, mas nunca destruída.

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