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1 Coleção: RITO ROMANO Vol. I

O santo sacrificio da missa na forma extraordinria do rito romano - reviso

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Coleção: RITO

ROMANO

Vol. I

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“O SACRIFÍCIO DE CRISTO

E O SACRIFÍCIO DA EUCARISTIA SÃO UM ÚNICO SACRIFÍCIO”

(Catecismo da Igreja Católica, n. 1367)

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O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA na Forma Extraordinária do Rito Romano

Coleção Rito Romano – Vol. I

A todos os irmãos de boa vontade que lerem estas letras peço caridosamente que me ajudem a melhorá-las informando erros (digitação, datas, conteúdos etc.), apontado dúvidas e as passagens aqui expostas que não ficaram claras.

Seminarista Jorge Luís

Seminário Maior de Filosofia Discipulado João Paulo II Associação Redemptionis Sacramentum

E-mail: [email protected]

Arquidiocese Nossa Senhora das Dores

Teresina-Piauí Março de 2009

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DEDICATÓRIA

Ofereço esta pequena exposição a todos os irmãos e irmãs que amam e desejam conhecer e ter acesso à Liturgia de Sempre, de modo muito

particular aos amigos e irmãos da Associação Redemptionis Sacramentum1,

e a todos os amigos que amam a Santa Igreja Católica e o Culto que ela presta ao único e verdadeiro Deus!

Em honra do Cordeiro de Deus

1 A Associação Redemptionis Sacramentvm é uma associação de fiéis católicos da Arquidiocese Nossa Senhora

das Dores, na capital Teresina-Piauí, fundada em 14 de Janeiro de 2009, constituída em Associação Privada de Fiéis para exercer um apostolado de índole católica, em colaboração com as demais agremiações de fiéis da Arquidiocese. A mesma Associação procura estudar, apoiar, promover e conservar tudo o que recupere ou salvaguarde a celebração reverente e consciente dos Mistérios cristãos, nos moldes tradicionais do Rito Romano, nas duas Formas litúrgicas atualmente em uso na Igreja Católica Apostólica Romana. Buscando, assim, um recíproco enriquecimento entre as duas Formas do Rito Romano.

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ADVERTÊNCIA AO LEITOR

Pax vobis!

A todos os que vierem a ler esta nossa exposição advertimos que não é aconselhável fazer comparações entre a Forma Ordinária do Rito Romano (de Paulo VI, rezada desde 1970) e a Forma Extraordinária (do Beato João XXIII, rezada até pouco depois do concílio Vaticano II), a fim de evitar equívoco e confusão.

Tudo o que diremos aqui é relacionado à Forma conhecida como tridentina ou de São Pio V, exceto o que indicarmos o contrário.

São muitos os casos em que grupos e fiéis, que desejam conhecer ou ter o seu direito de acesso à Forma Extraordinária, demonstram certa aversão a atual Forma Ordinária ou até mesmo rejeitarem o Magistério e Ordinário da Missa que a Santa Igreja nos deu após o último Concílio (eis uma chaga na Igreja, a qual não devemos fazer sangrar mais ainda!). Por isso, advertimos também que ao apresentarmos esse tímido trabalho não somos movidos por nenhum apego desordenado ao antigo nem por nenhum desprezo ao novo, pelo contrário. Nossa intenção é dar a conhecer, ao menos de modo geral, a beleza e história do Rito Romano, sobretudo no que diz respeito ao Santo Sacrifício da Missa; somos movidos por um desejo de ajudar aqueles irmãos que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer esta Forma do Rito Romano, oferecendo-lhes este pequeno subsídio; somos movidos pelo desejo de que, conhecendo o Rito codificado por São Pio V, amemos o Rito da Santa Igreja Romana. Nossa intenção é amar aquelas coisas sem, contudo, deixar essas!

Aqui não faremos exposições sobre a problemática gerada em torno da reforma litúrgica de 1970.

O que faremos aqui é apenas uma breve apresentação da história do Rito Romano e ao mesmo tempo uma introdução à Santa Missa na Forma Extraordinária.

Finalmente, foram estas letras unidas pelo amor e zelo de uma alma católica apostólica romana, fiel à Igreja, Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam, e que aceita e professa tudo o que crê e ensina a Esposa do Cordeiro, desde a sua fundação divina, por Nosso Senhor Jesus, até a última Letra do Romano Pontífice, Papa Bento XVI, Príncipe da Igreja.

S.J.L.

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INTRODUÇÃO

Desde as primeiras mudanças no Ordinário da Santa Missa a Igreja ouviu rumores sob seu teto e quando apareceu o novo Ordinário (novus ordus) da Missa houve, de Roma até a mais pobre das capelas, manifestações favoráveis e desfavoráveis.

No Brasil, desde a publicação da primeira edição do Missal de Paulo VI até hoje (na espera da terceira edição!), quase quarenta anos depois, é possível constatar os frutos da última reforma litúrgica. Porém, é bom tomarmos para nós as palavras do Santo Padre Bento XVI: “A alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao concílio deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não cortar as raízes de que vive a árvore.”2 Assim temos dois deveres importantíssimos na Igreja: o primeiro é aceitar o Magistério e autoridade do Santo Concílio Ecumênico Vaticano II, e sua reta interpretação na pessoa do Romano Pontífice e demais Padres; o segundo é aceitar com reverência todo o Magistério da Igreja anterior ao próprio Concílio (o qual deu continuidade ao mesmo Magistério).

Com a publicação do novo Missal em 1970, o Papa Paulo VI dá à Igreja uma reformada e renovada3 forma de celebrar a Santa Missa. Esta se tornou a Forma Ordinária e, rapidamente, ganhou a simpatia de muitos católicos, enquanto que outros preferiam a Forma antiga (Extraordinária) e uma minoria, ainda, aceitavam e queriam as duas Formas. Infelizmente percebeu-se um distanciamento, muitas vezes provocados e até mesmo obrigados, do Rito que, desde tempos imemoráveis e até mesmo durante o Vaticano II, era usado para a Santa Missa. Consequentemente a geração pós Vaticano II, quase que totalmente, só conheceu a Forma de 1970 e tudo o que ouvia falar da Liturgia anterior se resumia em “latim” e “padre de costas para o povo”! No entanto, “não poucos fiéis aderiram e seguem com muito amor e afeto as formas litúrgicas anteriores”4.

Em 2007 o Papa Bento XVI, como pai providente, ofereceu de motu proprio e como um presente, a todos os sacerdotes e fiéis o direito de celebrarem ou terem acesso à Liturgia anterior à reforma de 1970, declarando: “Portanto, é lícito celebrar o Santo Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgada pelo Bem-aventurado João XXIII em 1962, e nunca ab-rogada”5.

Por isso, muitas comunidades e grupos de fiéis querem ter a celebração da Santa Missa também segundo o Missal do Papa João XXIII. Eis que os fiéis tomam consciência de que é seu direito receber e “poder usar” o presente dado diretamente de nosso príncipe, Bento XVI.

Porém, com a publicação desta Carta Apostólica sob a Forma de Motu Proprio, o Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI houve novamente na Igreja rumores antigos e novos.

Diante de tudo isso, encontramos opiniões diversas e um cenário ainda não muito aberto para a realização do Summorum Pontificum. Para alguns esta realização seria um

2 BENTO XVI, Carta aos bispos da Igreja Católica, a propósito da remissão da excomunhão aos quatro bispos

consagrados pelo Arcebispo Lefebvre. 3 BENTO XVI, Motu Proprio Summorum Pontificum, p. 7. 4 Ibid, p. 8. 5 Ibid, p. 9.

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verdadeiro bem espiritual e catequético-doutrinal sobre a Santa Missa para nossa geração, por causa do grande tesouro em símbolos e significados do Rito Gregoriano; para outros, isso seria um retorno à idade média (o que nos parece um grande exagero!) e uma ameaça a tudo o que o Vaticano II pretendeu. Outros ainda perguntam: “Para quê voltar a coisas passadas, arcaicas, que não tem nada com nossa geração e nosso mundo?” “Para quê essas fórmulas e esse rito ultrapassados que, numa língua que ninguém entende, impedem o entendimento dos fiéis leigos?” “Por que voltar a este rito que é centrado no padre e exclui a participação dos leigos?”.

A essas perguntas (que demonstram tremenda ignorância litúrgica) não queremos dar respostas prontas, mas oferecer a oportunidade de que descubram por si mesmos as devidas respostas na leitura desta exposição.

Por enquanto, basta-nos saber que tudo o que buscamos fazer é em comunhão com a Santa Igreja6 e empenhando-nos a “levar uma vida santa”, promovendo o crescimento da própria Igreja7 naquilo que podemos. Basta-nos, ainda, ver a felicidade de tantos católicos que, engajados nas diversas pastorais e movimentos eclesiais, acolhem, desejam e buscam o acesso à Forma Extraordinária do Rito Romano. É impressionante ver o grande número de jovens que se interessam pelo silêncio, sobriedade, orientação, centralidade e profundidade das orações da Liturgia bimilenar da Igreja! Isto só pode ser um sinal de Deus confirmando a vontade do Santo Padre Bento XVI!

Tendo em vista toda a problemática, ou melhor, os desafios de toda essa história é que resolvemos fazer esta exposição a respeito do Rito Romano.

Na verdade, nosso desejo é fazer uma pequena introdução ao Rito Romano. Este livreto seria um ensaio para a primeira parte da história do Rito Romano (que compreenderia desde o princípio até as reformas sugeridas pelo Concílio Vaticano II). A segunda parte seria uma continuação com uma visão mais detalhada sobre o desenrolar da Constituição Sacrosanctum Concilium até aos nossos dias com a atual edição do Missal Romano.

Por isso, este livreto não é destinado só àqueles que desejam conhecer ou ter algum subsídio sobre o Rito Gregoriano, mas a todos os que se interessam pelo Rito da Igreja Latina. A todos estes oferecemos esta contribuição a fim de que tenhamos consciência da riqueza litúrgica da Igreja Católica, adquirida e guardada pelos séculos e herdada por nós.

Este é o meio possível que encontramos para ajudar na formação dos irmãos. É humilde, ignorante, mas de coração!

A todos nosso abraço e pedido de orações pela nossa perseverança no bom propósito de ser sacerdote do Altíssimo Deus, nosso Pai!

Pax et bonum!

Seminarista Jorge Luís

6 JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, n. 209. 7 Ibid, n. 210.

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PRIMEIRA PARTE:

RESUMO HISTÓRICO8

8 Para um estudo mais profundo é aconselhável sejam feitas pesquisas em livros sobre liturgia antes da última

reforma litúrgica. Como nem sempre se sabe a quais recorrer é bom, aos que tiverem acesso, aproveitar as indicações da referência no fim do livreto.

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Capítulo 1

A INSTITUIÇÃO DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

I. Os sacrifícios judaicos

Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos amou até o fim, veio ao mundo para reparar o pecado de Adão e salvar os tristes filhos de Eva, movido por amor ao Pai no Espírito Santo. Antes, porém, durante toda a História da salvação a vinda de Cristo foi profetizada, prefigurada e esperada com ardor por todos os santos e santas da Antiga Aliança. Mas Nosso Senhor só desceu a nós na plenitude dos tempos e foi reconhecido por João Batista, Seu precursor, como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”9.

No Antigo Testamento, enquanto o Messias esperado não vinha, o povo oferecia a Deus muitos sacrifícios com diversas intenções. Assim, encontramos na lei de Moisés (cf. Êxodo) os seguintes sacrifícios cruentos10 prescritos:

Holocausto – sacrifício de latria, ou seja, adoração a Deus; as vítimas eram oferecidas ao domínio de Deus. Queimava-se a vítima completamente, ninguém a comia, para prestar, por essa consumação, uma homenagem e um reconhecimento pleno, ao soberano domínio de Deus. Prestava-se, assim, o culto puro de adoração a Deus.

Hóstia pelo pecado - sacrifício propiciatório: O sacrifício propiciatório era oferecido para a expiação dos pecados, de modo a tornar Deus propício. Também chamado "hóstia pelo pecado”. A vítima era dividida em três partes uma parte consumida no fogo sobre altar, outra queimada fora do acampamento e uma terceira comida pelos sacerdotes.

Sacrifício eucarístico – sacrifício das hóstias pacíficas: O sacrifício eucarístico era oferecido para agradecer a Deus, qualquer graça recebida. Eram sacrifícios de ação de graças.

Sacrifício impetratório – sacrifício de impetração: Era feito para pedir a Deus qualquer graça importante. Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados de “pacíficos”, se distinguiam da “hóstia pelo pecado” pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam participar, consumindo uma parte da vítima.

Portanto, o povo oferecia estes sacrifícios para: adorar a Deus, reconciliar-se com Ele, pedir as graças necessárias e agradecer as graças recebidas.

O povo de Deus, desde o principio, foi marcado pelo sacrifício. Sacrifício da sua própria vida, seja na casa da escravidão seja na busca da terra prometida. Marcada, sobretudo, pelos sacrifícios de animais que ofereciam à divina Majestade, por Quem foi ordenado os mesmos sacrifícios. Os sacrifícios eram tantos que chegavam a ser uma verdadeira matança. “Na festa dos tabernáculos eram sacrificados 30 animais: 13 touros, 2 carneiros, 14 cordeiros, e 1 bode, e isto por seis dias.”11 O grande historiador Flavio Josefo diz que no seu tempo, por volta do ano 60 depois de Cristo, foi possível contar 265,000 cordeiros pascais.12

9 Jo 1,29b 10 Cruento diz respeito a sangue. Sacrifício cruento significa o derramamento de sangue da vítima. No Antigo

Testamento pouquíssimos sacrifícios eram incruentos. A Santa Missa é um Sacrifício, o Santo Sacrifício da Cruz, porém, é Sacrifício incruento, pois, embora bebamos do Sangue de Cristo, não há mais o derramamento do Sangue de Nosso Senhor. Dizer o contrário seria uma grande heresia.

11 J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226. 12 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226.

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II. A instituição do Sacrifício cristão

Foi neste contexto de sacrifícios que o Messias encontrou o povo de Deus. Na quinta-feira santa, no cenáculo, “Jesus sabia que tinha chegado sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”13 e, depois de encerrar a lei judaica, instituiu o Santo Sacrifício da Missa quando, antecipando Sua própria morte na Cruz, abençoou o pão, o partiu e o deu aos discípulos dizendo “isto é o meu Corpo” e fazendo o mesmo com o vinho dizendo “isto é o meu Sangue”14. Depois Jesus ordenou que os Apóstolos fizessem a mesma coisa que Ele acabara de fazer, dizendo: “Fazei isto em memória de mim”.15 Eis o rito16 instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme os relatos:

I Coríntios 11 Pelo ano 56

Marcos, 14 Pelo ano 65

Lucas, 22 Pelo ano 80

Mateus 26 Pelo ano 80

23 Na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão

24 e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de mim”. 25 Do mesmo modo,

depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em minha memória”.

22 Enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão,

pronunciou a bênção, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo”. 23 Depois, pegou o

cálice, deu graças, passou-o a eles, e todos beberam. 24 E disse-lhes: “Este é o meu sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos”.

14 Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos. 19 A seguir, tomou o

pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. 20 Depois da ceia, fez

o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós”.

20 Ao anoitecer, Jesus se pôs à mesa com os Doze. 26 Enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão e pronunciou a bênção, partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: “Tomai, comei, isto é o meu corpo”. 27 Em seguida, pegou um cálice, deu graças e passou-o a eles, dizendo: “Bebei dele todos, 28 pois este é o meu sangue da nova aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados”.

Quando Nosso Senhor parte o Pão e fala sobre o Sangue derramado ou dado para ser bebido Ele faz alusão aos sacrifícios do Antigo Testamento17, usando as mesmas

13 Jo 13,1. 14 Cf. Mt 26,20-28; Mc 14,22-24; Lc 22,14-20. 15 Ibid. 16 Rito (do latim ritus) é a forma exterior dos atos litúrgicos. Pode significar a Liturgia total de uma Igreja (como o

Rito Romano), uma celebração litúrgica (como as exéquias) ou uma ação litúrgica (como a incensação). (Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 27, p. 26).

17 Por exemplo, o capítulo primeiro do livro de Levítico: “3 Se a oferta for um holocausto de gado bovino, deverá oferecer um macho sem defeito, que levará até à entrada da Tenda do Encontro, para ser aceito pelo Senhor. 5 Depois matará o bezerro diante do Senhor. Os sacerdotes aaronitas oferecerão o sangue, derramando-o em torno do altar que está à entrada da Tenda do Encontro. 10 Se a oferta para o holocausto for de gado miúdo, das ovelhas ou cabras, deverá

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expressões (partir, derramar) para Se identificar como a única e verdadeira Vítima capaz de tirar os pecados dos homens e trazê-los à comunhão com Deus. Assim, se tornam evidentes as palavras do Bem-Aventurado João Batista que, tendo visto Jesus e reconhecendo-O, declarou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”18.

De início os Apóstolos não entenderam tudo o que Jesus fazia nesta cerimônia de instituição do Seu Sacrifício, só depois da vinda do Espírito Santo vieram a compreender plenamente o significado do rito com todos os seus detalhes. Nos primeiros dias e meses os Apóstolos celebravam o rito que Jesus havia instituído tal como viram o próprio Senhor Jesus fazê-lo. Com o passar do tempo eles foram introduzindo costumes próprios da comunidade como, por exemplo, o véu prescrito para as mulheres.19 Assim os Apóstolos passaram cerca de 12 anos celebrando o Santo Sacrifício, instituído por Jesus, só em Jerusalém, conforme testemunhos autênticos.20

Considerando que só os Apóstolos assistiram à cerimônia que Jesus instituiu e só eles celebravam, e isso por 12 anos, podemos afirmar que “na Liturgia há partes instituídas por eles”21, pois, conforme São Basílio (+ 379), “os ritos litúrgicos, usados por toda a parte e cujo autor é desconhecido, dimanam da autoridade dos apóstolos. Portanto, a leitura sagrada, o Sunsum corda e as outras saudações e respostas antes do prefácio, o cânon, foram introduzidos por eles.”22 Isto quer dizer que, na sua origem, a Santa Missa é substancialmente instituição divina de Jesus, cercada de ritos e cerimônias introduzidas pelos Apóstolos.

Capítulo 2

DESENVOLVIMENTO DA LITURGIA CRISTÃ

I. Culto cristão e culto judeu

Após a instituição do Sacrifício Eucarístico e a Ascensão de Nosso Senhor, os Apóstolos, em memória do Mestre, continuaram a fazer tudo o que Ele mesmo havia feito na última Ceia. Porém, a priori, as primeiras comunidades dos fiéis participavam da reunião e da Fração do Pão (= Santo Sacrifício, Eucaristia) sem se separarem do culto no Templo dos judeus. Assim, os primeiros cristãos, seguindo o exemplo do próprio Cristo, participavam do culto no Templo e do serviço nas sinagogas.

No entanto, com as perseguições e tensões com os judeus os cristãos foram cada vez mais se afastando do culto no Templo23, embora o respeitassem e reconhecessem sua validade. As reuniões dos cristãos eram, geralmente, unidas a uma refeição fraterna24.

oferecer um macho sem defeito. 11 Matará o animal ao lado norte do altar, na presença do Senhor, e os sacerdotes aaronitas derramarão o sangue em torno do altar.” (Cfr. ainda Lv 1,14 -15.17; 3,7-8.12-13;4,3.5-7.13.16-16.22-25a.27.30).

18 Jo 1, 29. 19 Cf. 1 Cor 11,5-11. 20 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 46, p. 31. 21 Ibid n. 47, p. 31. 22 Ibid. 23 A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 192. 24 São Paulo (I Cor 11,17-22) faz-nos crer nisto quando escreve repreendendo os cristãos por não serem fraternos,

não manterem a caridade nas refeições. Diz ele: “Já que estou dando recomendações, não vos posso louvar por vossas

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Com a destruição do Templo no ano 70 os cristãos conheceram um fortalecimento da Liturgia e os Apóstolos em suas comunidades usaram elementos próprios do culto judaico, como: as orações, muito praticadas por Nosso Senhor; a leitura de partes do Antigo Testamento (a Lei, os salmos e os profetas); e a pregação da Sagrada Escritura25.

Essa cristianização de elementos judaicos seria uma pratica da Igreja de então e que permaneceria por muito tempo em relação ao secular. Ela demonstra uma movimentação própria das comunidades em torno do culto a Deus e a tomada de consciência a respeito da nova Liturgia instituída por Jesus.

Sem o Templo dos judeus e fora da direção dos sacerdotes, os cristãos reúnem-se agora em torno do altar de Jesus, participando do Sacrifício que, a priori, foi chamado de Fractio Panis (Fração do Pão), denominando assim um Rito próprio do novo povo de Deus.

Levando em conta o “roteiro” dos judeus, os cristãos se reuniam e o que presidia a assembléia proferia algumas orações que eram encerradas pelo “amém” dos fiéis. Depois eram lidas duas leituras (Antigo Testamento) separadas por um canto26. Em seguida, conforme o costume dos judeus e a prática do Senhor Jesus, acontecia a pregação que consistia na explicação das leituras. Esta estrutura é praticamente a mesma que mais tarde seria chamada de Ante-Missa ou Missa dos Catecúmenos (equivalente a Liturgia da Palavra).

II. Os tempos apostólicos

Dos primeiros séculos cristãos temos na Sagrada Escritura exortações de São Paulo27 que deixam claro que a Igreja apostólica cria verdadeiramente que as Espécies do Pão e do Vinho, pela palavra do Senhor, eram o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, no ano 56, São Paulo, após relembrar o rito instituído por Jesus28, adverte os fiéis que se aproximam da Comunhão, dizendo:

Todo aquele que comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que comer e beber sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação.29

Também um documento antigo chamado de Doutrina dos doze Apóstolos (Didaquè) fala sobre a liturgia na era apostólica, dizendo:

reuniões, pois elas têm sido, não para o vosso maior bem, mas antes para o vosso dano. Primeiro, ouço dizer que, quando vos reunis como igreja, têm surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são comprovados! De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Acaso vos louvarei? Não, neste ponto não posso louvar-vos”.

25 A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 198. 26 A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 193. 27 Cf. 1 Cor 10,14-17. 28 Cf. 1 Cor 11,23-26. Este relato de São Paulo é o mais antigo testemunho sobre a Eucaristia, pois foi escrito dez

anos antes dos Evangelhos. 29 1 Cor 11,27-30.

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Reuni-vos no dia do Senhor para a Fração do Pão30 e agradecei (celebrai a eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.

Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. [...]

No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: Primeiro sobre o cálice, dizendo: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai,

pela santa vinha de Davi, teu servo, que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém.

Sobre o pão a ser quebrado: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém.

Da mesma maneira como este pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja (assembléia) em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos séculos! Amém.

Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: Não deis as coisas santas aos cães!31

Depois dos mencionados doze anos os Apóstolos se espalharam, levando consigo o que era comum ao colégio apostólico, e, conforme os lugares e a necessidade, foram introduzindo novos ritos e orações. Com a morte dos doze Apóstolos e a sucessão apostólica vão surgindo, ou se desenvolvendo, liturgias para a Santa Missa, que, embora tivessem certas diferenças, conservavam algumas semelhanças e o que era essencial no Sacrifício Eucarístico. Essas liturgias surgiram tanto no Oriente como no Ocidente.32

III. Os primeiros séculos da Liturgia cristã

O bispo e mártir Santo Inácio de Antioquia (+ 102), na sua Carta aos Efésios exortava os fiéis a serem freqüentes na celebração da Eucaristia. E o mártir São Justino (+ 165), nas suas Apologias, descreveu o rito comum em sua época para a Santa Missa, dizendo:

Terminadas as orações, damos mutuamente o osculo da paz. Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos pão e um vaso de vinho, e ele tomando-os dá louvores e gloria ao Pai do universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele nos vêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, o povo presente aclama dizendo: Amém [...].

Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo licito participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no banho [batismo] da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos ensinou.

Porque não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim também se nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento que, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossas carnes – é a Carne e o Sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E foi assim que os Apóstolos, nas Memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe sido ordenado fazer, quanto Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: ‘Fazei isto em memória de mim’. [...]

30 Este é um dos primeiros nomes dado à Santa Missa. Hoje o usamos para designar um rito do Santo Sacrifício.

Conferir quadro acima. 31 Cf. versão em: F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 79. 32 Por exemplo: a Liturgia de São Tiago.

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No dia que se chama do Sol [domingo] celebra-se a reunião33 [...]. Assim que o leitor terminar [de ler as memórias dos Apóstolos], o presidente

faz uma exortação e convite para imitarmos tais exemplos. [...] Segue-se a distribuição a cada um, dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio aos doentes, por meio dos diáconos.34

Também Santo Hipólito de Roma (+ 234) nos dá um belo relato do Cânon do Rito Romano, por ocasião da sagração episcopal, que se principia pelas invocações:

O Senhor esteja convosco. Respondam todos: E com o teu espírito. Corações ao alto! Já os oferecemos ao Senhor. Demos graças ao Senhor. É digno e justo. E prossiga a seguir: Graças te damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus

Cristo, que nos últimos tempos nos enviastes, Salvador Redentor, mensageiro da tua vontade...35

Nestes testemunhos temos um retrato fiel do que seria, e de certo modo já era, o Rito Romano que chegou até nós. Foi dos Apóstolos que a Igreja recebeu a forma com a qual deveria rezar, o Rito com o qual deveria fazer o que Jesus fez na última Ceia. Seja como for, Cristo e os Apóstolos estão na origem do Rito da Santa Igreja Romana.

Dos primeiros séculos da era cristã, porém, não temos nenhum livro litúrgico, a não ser alguns textos chamados de Tradição Apostólica registrados por Santo Hipólito de Roma (+ 235) durante o pontificado do Papa Calisto (217-222). É verdade que muitas orações e gestos eram feitos pelo que presidia como que de forma “espontânea”, mas obedecendo a tradição existente.

Nos primeiros três séculos, os das perseguições, mantêm-se a simplicidade dos ritos ensinados pelos Apóstolos. Ficando para sempre imutáveis os elementos essenciais, simplicíssimos, de instituição divina do Sacrifício e dos Sacramentos, no resto deixa-se, por um lado, margem à improvisação dos ministros do culto, e nota-se, por outro, tendência para uma disciplina de uniformidade.36

Capítulo 3

MAS O QUE É A SANTA MISSA INSTITUÍDA POR JESUS?

I. Doutrina da Igreja

A Santa Missa da Igreja Católica é “a essência de tudo o que há de bom e belo”37, ou seja, Jesus Cristo, morto e ressuscitado por amor dos homens.

A Instrução Geral do Missal Romano diz que a Missa é o centro da vida da Igreja, tanto universal como local e centro da vida de cada um dos fiéis38. O Catecismo da Igreja

33 Outro nome para designar a Santa Missa. 34 Santo. I. ANTIOQUIA, Apologias. Apud Aquino, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 81-82. 35 F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 83. 36 M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 43. 37 São L. PORTO-MAURICIO, As excelências da Santa Missa, p. 5. 38 Cf. PAULO VI, Instrução Geral do Missal Romano, n. 16, p.37.

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Católica afirma que “a Eucaristia [Missa] é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único Sacrifício na liturgia da Igreja, que é corpo dele”39. E ainda: “Fonte e ápice de toda a vida cristã”40, “o resumo e a suma de nossa fé”41.

A Santa Igreja, numa busca de expressar de modo claro e firme a realidade que a Santa Missa torna presente, encontrou um nome para ela capaz de expressar, sem erro e com satisfação, tudo o que ela é e contém: Santo Sacrifício.

Só o Sacrifício de nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um Sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de Deus.42

“A Paixão de Cristo é o próprio Sacrifício que oferecemos”43. “Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um Sacrifício”44, pois na Santa Missa Cristo nos dá o Corpo que “entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos para a remissão dos pecados’”45. A Santa Missa é, “portanto, um Sacrifício porque representa (torna presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica os seus frutos”46.

A doutrina da Igreja é clara: “O Sacrifício de Cristo e o Sacrifício da Eucaristia são um único Sacrifício” 47. Nos mesmos moldes ensina o Código de Direito Canônico:

Augustíssimo Sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da Cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo.48

II. Os Santos e a Santa Missa

São João Crisóstomo dizia que, na Santa Missa, Jesus “deu-se todo não reservando nada para si”49 e por isso “não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente ‘doente de amor’”50. E São Boaventura nos anima a aproximarmo-nos da Sagrada Comunhão, mesmo que friamente, confiando-nos à misericórdia de Deus51. Pois “duas espécies de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos para se conservarem perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”.52

Segundo o Papa São Pio X “a devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o

39 JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1362, p. 375. 40 Ibid, n. 1324, p. 365. 41 Ibid, n. 1327, p. 365. 42 São L. PORTO-MAURÍCIO, As excelências da Santa Missa, p. 6. 43 São CIPRIANO, Epist. Ad Caeciliam, apud M. COCHEM. 44 JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1365, p. 376. 45 Idem. 46 JOÃO PAULO II, Catecisco da Igreja Católica, n. 1366, p. 376. 47 Ibid, n. 1367, p. 376. 48 JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, cân. 897, p. 237. 49 São J. CRISÓSTOMO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88. 50 F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88. 51 Idem. 52 São F. SALES, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88.

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proprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor”53 e ainda “se os Anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar”54.

São Gregório afirma que “nosso corpo unido ao Corpo de Cristo, adquire um princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.55 Por isso, Santa Teresinha exortava: “Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do Céu, mas para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as suas delicias”.56 E Santa Teresinha explica que “quando o demônio não pode entrar com o pecado no santuário de nossa alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono e afastada da Comunhão.”57

Capítulo 4

OS RITOS DA SANTA IGREJA CATÓLICA58

I. As Famílias litúrgicas Católicas

Antes de prosseguirmos com nossa exposição, propriamente dita, sobre o Rito Romano, vamos passar de modo geral pelos outros ritos católicos, para entendermos melhor o Rito da Igreja de Roma.

Como já vimos (no Capítulo I), Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Sacrifício da Santa Missa. Os Apóstolos, então, cercaram esta cerimônia com outras seja em preparação (como as orações e leituras adotas do culto judaico) seja para manifestar a honra e o louvor devido a Deus (como as longas ações de graças usadas na Igreja primitiva e que, de certo modo, deram origem à prece eucarística).

Como os Apóstolos se espalharam, consequentemente, as cerimônias da Eucarística que eram comuns ao colégio apostólico ficaram sujeitas à influência das suas respectivas comunidades.

Estas comunidades que receberam, na sua maioria, a fé dos próprios Apóstolos ou de seus discípulos, cresceram e desenvolveram cada vez mais a Liturgia da Igreja. Mais tarde elas vieram a ser chamadas de familias litúrgicas, pois, delas ramificaram-se diversas formas da Liturgia católica.

Com o decorrer dos anos, porém, e obedecendo a influências locais, foram-se separando quanto a seus costumes e ritos, as grandes igrejas patriarcais e, deste modo, apareceram três famílias litúrgicas que, apesar de apresentarem influências mútuas, são nitidamente distintas: a antioquena (síria), a alexandrina (egípcia) e a romana (latina).59

Contribuíram para estas distinções o fato de as Igrejas Patriarcais terem grande centros, as vezes, políticos e linguísticos influenciando outras Igrejas menores, conforme a Tradição que lhes foi dada pelo Apóstolo fundador.

53 São PIO X, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 90. 54 Idem. 55 São GREGÓRIO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 91. 56 Ibid. 57 Ibid. 58 Para melhor compreensão deste assunto conferir: J.B. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 61-66; S. MARSILI,

Panorama histórico geral da Liturgia, p. 64-138; J.B. REUS, Curso de Liturgia, pp. 33-39. 59 A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 62.

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Teve também grande influência nestas distinções o fator lingüístico, pois, embora o latim fosse a língua do Império Romano e a língua da Igreja de Roma, outras línguas (como a grega, a sírica e a copta) foram tornando-se línguas de Igrejas particulares, que por sua vez cresceram a ponto de obterem grande número de fiéis.60

Estas três famílias litúrgicas são as responsáveis pelos três grandes Ritos da Igreja Católica: o Antioqueno, o Alexandrino e o Romano.

II. Os Ritos da Igreja Católica Oriental

Como vimos, as familias litúrgicas deram origem aos três grandes Ritos da Igreja. Porém, no Oriente a Igreja Católica desenvolveu-se usando diversas cerimônias que diferenciavam Igrejas no referente aos Ritos. Neste sentido, distinguem-se os seguintes: o Rito da Igreja de Antioquia, na Síria; o da Igreja de Cesaréia, na Capadócia e o da Igreja de Alexandria, no Egito.61

O Rito Antioqueno, no que diz respeito à Liturgia da Missa, está nos livros II e VIII das Constituições Apostólicas. Deste Rito surgem outros três Ritos: primeiro, o Rito de São Tiago ou Liturgia de São Tiago, usado na Igreja de Jerusalém, da qual o Apóstolo São Tiago foi o primeiro Bispo; segundo, o Rito dos Santos Adeo e Mari ou Liturgia dos Santos Adeo e Mari, conhecido também como Rito Sírio-Oriental; terceiro, o Rito Bizantino, que é semelhante à Liturgia de São Tiago.

Estes Ritos se organizaram, sobretudo, a partir do século IV (como o Caldeu e o Siríaco) até ao século VII (como o Maronita).

O Rito Alexandrino, é atribuída sua fundação a São Marcos, o Evangelista; era a Liturgia da Igreja de Alexandria, rezada em língua grega. Deste derivou-se o Rito Greco-Alexandrino e a Liturgia Abissínia ou dos XII Apóstolos, que é a Liturgia fixa mais antiga (século III).

Estes Ritos se organizaram no século IV (como o Copta) e V (como o Etíope).

O Rito “Cesareico”, da Igreja de Cesaréia fundada por São Gregório (século III)62. Dele provém o Rito Armênio que recebeu influências de Antioquia e Bizâncio.63

Estes dois Ritos são chamados na Igreja de Ritos Orientais por pertencerem à Igreja que está no Oriente. Eles, e outros Ritos menores, se desenvolveram paralelamente na Igreja, de modo que um não contradizia ao outro nem abolia o valor dos Ritos aprovados pela Tradição.

Esta parte da história da Liturgia e dos Ritos da Igreja é complexa e requer muita atenção aos detalhes, lingüísticos, místicos e históricos. Porém, como estamos apenas fazendo uma pequena passagem por ela, para melhor fixação apresentamos o seguinte quadro sobre os Ritos Orientais, que nos dá uma visão geral64:

60 Cf. S. MARSILI, Panorama histórico geral da Liturgia, pp. 56-64. 61 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 45. 62 Ibid, p. 137. 63 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 47. 64 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 65; P.. MANOEL, O valor teológico da Liturgia, p. 130.

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RITOS ORIENTAIS

Ritos principais

Divisões

Subdivisões

Ritos

Antioquenos

• Ritos Siríacos

- Ritos Sírios unidos - Ritos Malacarésios unidos - Rito Maronita

• Ritos Caldeus

- Ritos Caldeus unidos - Ritos Malabares unidos

Ritos Armênios

• Ritos Armênios unidos

Ritos Bizantinos

• Ritos Ítalo-gregos unidos • Ritos Melquitas unidos • Ritos Russos e rutenos unidos • Ritos Sérvios e Búlgaros unidos • Ritos Rumenos unidos

Ritos Alexandrinos

• Ritos Coptas unidos • Ritos Abissínios unidos

III. Os Ritos da Igreja Católica Ocidental

No Ocidente destacavam-se os Ritos usados nas Igrejas de Roma, da Península Ibérica, do norte da Itália e da Gália.

O Rito Romano é o terceiro grande Rito da Liturgia católica. É verdade incontestável que o príncipe dos Apóstolos, São Pedro, teve sua Sé em Roma. Por isso, já o grande Santo Irineu (+ 202) afirmava:

É com essa Igreja (a de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade e fundação, que deve necessariamente concordar toda Igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a Tradição que vem dos Apóstolos65.

No mesmo sentido São João Crisóstomo dizia: “No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”66 e Santo Agostinho, afirmando a superioridade do Papa e de Roma, dizia: “Roma locuta, causa finita”67.

Assim, sempre foi prática de todos os fiéis verem no Bispo de Roma o sucessor de São Pedro, e na Igreja Romana a Mãe de todas as Igrejas espalhadas pelo mundo inteiro. Por isso, o Rito usado na Igreja de Roma sempre teve muita importância para o mundo cristão.

O Papa São Damaso (+ 384), conforme alguns, teria realizado a primeira reforma significante na Liturgia68, no sentido de organizar as cerimônias existentes. Com esta

65 Santo IRINEU, apud F. Aquino, Escola da Fé: III O Sagrado Magistério, p. 46. 66 Ibid, p. 45. 67 “Roma falou, encerrada a questão!”. Ibid, p. 46. 68 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64.

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reforma surgiram diferenças na Liturgia existente, começando a existir distinções, que resultou numa Liturgia Romana (Rito Romano propriamente dito) e Liturgia Galicana (Rito Galicano).

O Rito Galicano recebeu este nome por causa do seu uso muito comum em toda a França, então designada de Gália. É semelhante aos Ritos Orientais, mas é de essência puramente romana. Foi formado entre os séculos IV e VIII e apresenta algumas semelhanças com o Rito Lionês e foi supresso pelo Rito Romano no século IX e abolido por Carlos Magno.69 Do Rito Galicano surgiram as Liturgias Celta, Africana, Moçárabe e Ambrosiana70.

Os Ritos Célticos são muito antigos e pouco conhecidos.71 O Rito Moçárabe foi formado na Península Ibérica e foi substituído pelo Rito Romano no século VI. Antes do Concílio de Trento ele foi restaurado e esta versão é usada pelo cabido do Corpus Christe, na Sé de Toledo.72 O Rito Ambrosiano foi formado entre os séculos IV e VIII, no norte da Itália, tendo recebido muita influência romana a partir do século IX. É usado na Arquidiocese de Milão e em algumas paróquias de Lugano, Bergamo e Novara.73

Entenderemos melhor essa primeira diversidade do Rito Romano com a seguinte representação:

RITOS OCIDENTAIS

Ritos principais Divisão

• Rito Romano

• Rito Galicano

- Ritos Célticos

- Rito Africano

- Rito Moçárabe

- Rito Ambrosiano

Porém, no Ocidente sempre predominou o Rito Romano, ou seja, o Rito usado na Igreja fundada por São Pedro em Roma. Ele foi sempre a Liturgia mais comum. A respeito disso o Papa Inocêncio I (+ 419) escreve:

É manifesto que ninguém em toda a Itália, Gália, Espanha, África e ilhas adjacentes fundou igrejas, senão as que o Apóstolo Pedro ou seus sucessores estabeleceram como bispos. Daí se segue que estes tem de guardar o que guarda a Igreja Romana, da qual, sem dúvida, tiram sua origem.74

Mas para chegar a ser o mais belo tesouro litúrgico da Igreja Católica o Rito Romano conheceu várias etapas de solidificação. Do ano 100 ao ano 400 ainda era comum

69 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49. 70 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64. 71 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 50 72 Idem. 73 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49 74 INOCENCIO I, Eisenhorfer, p. 31-39 e Gatterer. Ann. Lit. p. 31. apud J. B. REUS, Curso de Liturgia, n. 58, p.

35.

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a “improvisação”75, mas propriamente a inspiração, conforme os costumes provindos dos Apóstolos. Assim, como a priori não existiam livros litúrgicos, os sacerdotes tinham que decorar as orações principais da Santa Missa, sobretudo aquelas que dariam origem ao grande Cânon Romano, e os gestos comuns de cada cerimônia. Do ano 400 ao ano 700 surgem na Igreja os primeiros sacramentários, eles continham o Cânon da Santa Missa e outras orações mutáveis do oficio76. Nesse período o Rito Romano já se encontra todo fixo, ou seja, as principais funções litúrgicas, textos e orações já se encontram estabelecidos e solidificados. O primeiro dos sacramentários foi o leonino com 175 textos litúrgicos77. Depois veio o sacramentário gelasiano, por volta do século V, tendo por autor provavelmente o Papa Gelásio (+ 496)78. São Gregório Magno (+ 604) compôs o sacramentário que depois foi chamado gregoriano, no qual prescreveu uma única oração por dia, 10 prefácios e acrescentou alguns ofícios79. De São Gregório em diante os livros litúrgicos sofreram poucas modificações rituais significativas.

Depois dessa “consolidação” do Rito Romano a Igreja decidiu, do ano 700 ao ano 1500, unificar o Rito em todo o mundo católico (lembrando que, paralelamente ao Rito Romano aqueles outros Ritos litúrgicos foram se desenvolvendo em diversos lugares no mundo80). Este período foi a época da generalização da Liturgia da Igreja Católica. Para tanto, São Gregório iniciou uma grande campanha de difusão do Rito Romano no mundo. Assim ele enviou Santo Agostinho, monge beneditino, com 40 companheiros, no ano 597, para implantarem o Rito Romano na Inglaterra. Depois enviou São Vilibrordo e outros missionários ingleses para a Frísia. Santo Ansgário foi enviado para a Dinamarca e para a Suécia; depois o mesmo Santo Ansgário seguiu com São Bonifácio para a Alemanha e o país dos francos. Os monges beneditinos de Cluni propagaram o Rito Romano nos reinos da península ibérica.

Deste modo, nesses lugares o Rito recebido dos Apóstolos e guardado por Roma substituiu os Ritos Galicano e Moçárabe81. Houve, então, um período de estabilidade litúrgica romana.

Capítulo 5

O RITO ROMANO A PARTIR DO PAPA PIO V

Já sabemos, até aqui, mais ou menos o percurso geral do Rito Romano, assim como a importância de figuras, como São Gregório, que contribuíram fundamentalmente para o desenvolvimento da Liturgia romana. Na verdade São Gregório foi o responsável, de certo modo, pela Liturgia que a Igreja conhece hoje.

75 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 62, p. 37. Não se deve entender esta improvisação como a entendemos em

nosso tempo, mas como uma inspiração divina para dirigir a Deus orações que seguem uma tradição de gestos e sentidos.

76 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 63, p. 37. 77 Ibid n. 63.1, p. 37. 78 Ibid n. 63.2, p. 37. 79 Ibid n. 63.3, p. 37-38. 80 Conferir sobre os Ritos acima. 81 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 64, p. 38; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49.

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Agora vamos continuar essa pequena apresentação com outra figura muito importante para a perpetuidade dum Rito puro e venerável: São Pio V.

I. Pedido pela unificação litúrgica

Até aqui (pouco antes de 1500) os sacramentários traziam apenas textos para as Missas solenes. Porém, as Missas privadas tornavam-se costume. Por isso, começaram a existir muitas diferenças na Liturgia tanto nos países como nas Igrejas Particulares, o que fez surgir pedido de unificação litúrgica para toda a Igreja.

A estabilidade que o Rito Romano alcançou até o ano 1500 não significou a suplantação dos outros Ritos católicos, que eram muitos. Pelo ano 1517 o monge agostiniano Martinho Lutero se revoltou contra a Igreja em relação a vários pontos, sobretudo na doutrina e na Liturgia, tais como: a Transubstanciação, a Presença Real, as Indulgências, a realidade sacrifical da Missa etc.

Por isso, quando da convocação e realização do Sagrado e Dogmático Concílio Ecumênico de Trento, muitos bispos e cardeais se dirigiram ao Papa intensificando o pedido de que existisse um único Rito para toda a Igreja, ou seja, livros próprios e comuns a toda a Igreja.

Então, depois de longos anos de trabalhos de alguns Pontífices e dos Padres no Concilio de Trento, o Papa São Pio V decidiu unificar o Rito litúrgico em toda a Igreja Católica. Para isso ele codificou, ou seja, reorganizou o que já existia no Rito Romano, levando em conta a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério da Igreja, e fez do Rito da Igreja de Roma o Rito universal da Igreja Católica no mundo inteiro. Então, para consumar a unificação o Papa São Pio V publicou, em 1568, o novo Breviário82 e, em 1570, o novo Missal no qual codificava o Rito Romano de modo perpétuo83.

II. A bula Quo Primum Tempore do Papa São Pio V

Desta unificação litúrgica é interessante conhecermos o documento papal que promulgou o Missal codificado por São Pio V. A Bula Quo Primum Tempore tem suma importância, por isso apresentamos uma versão do texto na íntegra, com alguns grifos destacando partes essenciais da perpetuidade desta promulgação. Eis o texto:

PIO BISPO

Servo dos Servos de Deus Para perpétua memória

1 - Desde que fomos elevados ao ápice da Hierarquia Apostólica, de bom grado aplicamos nosso zelo e nossas forças e dirigimos todos os nossos pensamentos no sentido de conservar na sua pureza tudo o que diz respeito ao culto da Igreja; o que nos esforçamos por preparar e, com a ajuda de Deus, realizar com todo o cuidado possível.

2 - Ora, entre outros decretos do Santo Concílio de Trento cabia-nos estabelecer a edição e correção dos livros santos: Catecismo, Missal e Breviário .

82 Liturgia das Horas. 83 Perpetuidade aqui não quer dizer imutabilidade (ao menos não nos elementos humanos), mas permanente,

sempre em vigor. Prova disso é o Summorum Pontificum do Papa Bento XVI. Foram editados posteriormente outros livros litúrgicos como: martyrologicum romanum, em1584, Gregório XIII; pontificale romanum, 1596; caerimoniale episcoporum, em 1600; rituale romaum, em 1614; diversos livros de cantos sacros; instructio clementino, 1735 (Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 71-73, p. 40-42).

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3 - Com a graça de Deus, já foi publicado o Catecismo, destinado à instrução do povo, e corrigido o Breviário, para que se tributem a Deus os devidos louvores. Outrossim, para que ao Breviário correspondesse o Missal, como é justo e conveniente (já que é soberanamente oportuno que, na Igreja de Deus, haja uma só maneira de salmodiar e um só rito para celebrar a Missa), parecia-nos necessário providenciar, o mais cedo possível, o restante desta tarefa, ou seja, a edição do Missal.

4 - Para tanto, julgamos dever confiar este trabalho a uma comissão de homens eruditos. Estes começaram por cotejar cuidadosamente todos os textos com os antigos de nossa Biblioteca Vaticana e com outros, quer corrigidos, quer sem alteração, que foram requisitados de toda parte. Depois, tendo consultado os escritos dos antigos e de autores aprovados, que nos deixaram documentos relativos à organização destes mesmos ritos, eles restituíram o Missal propriamente dito à norma e ao rito dos Santos Padres.

5 - Este Missal assim revisto e corrigido, Nós, após madura reflexão, mandamos que seja impresso e publicado em Roma, a fim de que todos possam tirar os frutos desta disposição e do trabalho empreendido, de tal sorte que os padres saibam de que preces devem servir-se e quais os ritos, quais as cerimônias, que devem observar doravante na celebração das Missas.

6 - E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós, em todas as Igrejas: nas Igrejas Patriarcais, Catedrais, Colegiais, Paroquiais, quer seculares quer regulares, de qualquer Ordem ou Mosteiro que seja, de homens ou de mulheres, inclusive os das Ordens Militares, igualmente nas Igrejas ou Capelas sem encargo de almas nas quais a Missa conventual deve, segundo o direito ou por costume, ser celebrada em voz alta com coro, ou em voz baixa, segundo o rito da Igreja Romana, ainda quando estas mesmas Igrejas, de qualquer modo isentas, estejam munidas de um indulto da Sé Apostólica, de costume, de um privilégio, até de um juramento, de uma confirmação apostólica ou de quaisquer outras espécies de faculdades. A não ser que, ou por uma instituição aprovada desde a origem pela Sé Apostólica, ou então em virtude de um costume, a celebração destas Missas nessas mesmas Igrejas tenha um uso ininterrupto superior a 200 anos. A estas Igrejas Nós, de maneira nenhuma, suprimimos nem a referida instituição, nem seu costume de celebrar a Missa; mas, se este Missal que acabamos de editar lhes agrada mais, com o consentimento do Bispo ou do Prelado, junto com o de todo Capítulo, concedemos-lhes a permissão, não obstante quaisquer disposições em contrário, de poder celebrar a Missa segundo este Missal.

7 - Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que será válida para sempre, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado. Ordenamos a todos e a cada um dos Patriarcas, Administradores das referidas Igrejas, bem como a todas as outras pessoas revestidas de alguma dignidade eclesiástica, mesmo Cardeais da Santa Igreja Romana, ou dotados de qualquer outro grau ou preeminência, e em nome da santa obediência, rigorosamente prescrevemos que todas as outras práticas, todos os outros ritos, sem exceção, de outros missais, por mais antigos que sejam, observados por costume até o presente, sejam por eles absolutamente abandonados para o futuro e totalmente rejeitados; cantem ou rezem a Missa segundo o rito, o modo e a norma por Nós indicados no presente Missal, e na celebração da Missa, não tenha a audácia de acrescentar outras cerimônias nem de recitar outras orações senão as que estão contidas neste Missal.

8 - Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, e isto para sempre.

9 - Da mesma forma decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por Nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força.

10 - Não obstante todas as decisões e costumes contrários anteriores, de qualquer espécie: Constituições e Ordenações Apostólicas, ou Constituições e Ordenações, tanto gerais como especiais, publicadas em Concílios Provinciais e Sinodais; não obstante também o uso das Igrejas acima enumeradas,

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ainda que autorizado por uma prescrição bastante longa e imemorial, mas que não remonte a mais de 200 anos.

11 - Queremos e, pela mesma autoridade, decretamos que, depois da publicação de Nossa presente Constituição e deste Missal, todos os padres sejam obrigados a cantar ou celebrar a Missa de acordo com ele: os que estão na Cúria Romana, após um mês; os que habitam aquém dos Alpes, dentro de três meses; e os que habitam além das montanhas, após seis meses ou assim que encontrem este Missal à venda.

12 - E para que em todos os lugares da Terra este Missal seja conservado sem corrupção e isento de incorreções e erros, por nossa Autoridade Apostólica e em virtude das presentes, proibimos a todos os impressores domiciliados nos lugares submetidos, direta ou indiretamente, à Nossa autoridade e à Santa Igreja Romana, sob pena de confiscação dos livros e de uma multa de 200 ducados de ouro, pagáveis à Câmara Apostólica, bem como aos outros domiciliados em qualquer outro lugar do mundo, sob pena de excomunhão ipso facto e de outras penas a Nosso alvitre, se arroguem, por temerária audácia, o direito de imprimir, oferecer ou aceitar esta Missa, de qualquer maneira, sem nossa permissão, ou sem uma licença especial de um Comissário Apostólico por Nós estabelecido, para estes casos, nos países interessados, e sem que antes, este Comissário ateste plenamente que confrontou com o Missal impresso em Roma, segundo a impressão típica, um exemplar do Missal destinado ao mesmo impressor, que lhe sirva de modelo para imprimir os outros, e que este concorda com aquele e dele não difere absolutamente em nada.

13 - E como seria difícil transmitir a presente Bula a todos os lugares do mundo cristão e levá-la imediatamente ao conhecimento de todos, ordenamos que, segundo o costume, ela seja publicada e afixada às portas da Basílica do Príncipe dos Apóstolos e da Chancelaria Apostólica, bem como no Campo de Flora. Ordenamos igualmente que aos exemplares mesmo impressos desta Bula, subscritos pela mão de um tabelião público e munidos, outrossim, do Selo de uma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, seja dada, no mundo inteiro, a mesma fé inquebrantável que se daria à presente, caso mostrada ou exibida.

14 - Assim, portanto, que a ninguém absolutamente seja permitido infringir ou, por temerária audácia, se opor à presente disposição de nossa permissão, estatuto, ordenação, mandato, preceito, concessão, indulto, declaração, vontade, decreto e proibição.

Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma perto de São Pedro, no ano da Encarnação do Senhor mil quinhentos e setenta,

no dia 14 de Julho, quinto de Nosso Pontificado

III. Depois da unificação do Rito Romano

Com a Quo Primum Tempore o Missal que sempre fora usado em Roma e reformado tornou-se a regra para a celebração da Santa Missa. Toda a Igreja Católica passou então a usar os dois novos livros litúrgicos, como expressão da unificação litúrgica da Igreja de Jesus Cristo. Assim, o Rito, que já existia na Igreja Romana e foi codificado pelo Sumo Pontífice São Pio V84, tornou-se o Rito Ordinário da Igreja Católica (Ordinário não porque existisse outro Rito para toda a Igreja, mas porque tornou-se a regra). Ele substituiu todos os outros, com exceção dos que já estavam em “uso ininterrupto superior a 200 anos”.

Por causa desta exceção muitas instituições como dioceses e ordens religiosas tiveram seus ritos próprios salvos. Destas algumas preferiram aderir ao Missal Romano. O Cardeal Antônio Cañizares Llovera, em entrevista na qual falava sobre uma Missa celebrada por ele no Rito Moçarabe na Catedral de Toledo, disse:

84 Esta codificação valerá a São Pio V o fato de muitas vezes, sobretudo hoje, a Santa Missa neste Rito ser

chamada “Missa de São Pio V”. Porém, segundo o pensamento litúrgico de nossos dias, como as cerimônias mais antigas da Santa Missa foram introduzidas ou organizadas durante o Pontificado do Papa São Dâmaso (+ 384) e do Papa São Gregório Magno (+ 604), é melhor que se diga “Missa [ou liturgia ou Rito] dâmaso-gregoriana” ou ainda “Missa Gregoriana”, como também já é costume.

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Com efeito, todos os dias na Catedral de Toledo celebra-se a Missa e recitam-se as laudes, também segundo este antiquíssimo rito que sobreviveu à reforma tridentina. É preciso recordar, de fato – e isso não agrada a algumas pessoas – que o chamado Missal de São Pio V não aboliu todos os Ritos precedentes. Foram “salvos” os Ritos que podiam contar com ao menos dois séculos de história. E o Rito Moçárabe – junto com o, por exemplo, Rito próprio da ordem dominicana – estava entre estes. Assim depois do Concílio de Trento não houve uma absoluta uniformidade na liturgia da Igreja Latina.85

Dentre as instituições ou Ritos conservados pela exceção da Bula estão: o Rito Beneditino ou Monástico, rezado pela Ordem de São Bento e outras que seguem a Regra beneditina; o Rito Cisterciense, rezado pela Ordem Cisterciense; o Rito Carmelitano ou Hierosolimitano, rezado pela Ordem do Carmelo, os monges carmelitas observantes; o Rito Dominicano, semelhante ao Rito Carmelitano, rezado pela Ordem dos Pregadores, de São Domingos; o Rito Cartusiano, semelhante ao Rito Romano, rezado pela Ordem Cartuxa; o Rito Premonstratense, rezado pela Ordem Premonstratense, cônegos regulares; o Rito de Braga, rezado na Arquidiocese de Braga; o Rito de Lyon (ou Lião)86, próprio da Diocese de Lião, na França; o Rito Ambrosiano e o Rito Moçárabe.

Estes Ritos que foram conservados não são antagônicos ao Romano, mas um patrimônio das suas respectivas instituições. Não são uma oposição à regra universal, mas manifestação do único e mesmo Rito Romano, pois todos, uns mais outros menos, foram constituídos e formados na tradição romana. Por isso, são para a Igreja um verdadeiro tesouro espiritual e como tal devem ser tomados.

De acordo com tudo o que dissemos sobre a Quo Primum Tempore podemos fazer a seguinte demonstração sobre a situação dos Ritos da Igreja Latina:87

Estes Ritos particulares de Ordens e Dioceses são, de fato, particulares, ou seja, são usados somente por seus respectivos fiéis e religiosos. Hoje são pouco usados, mas resistem ao tempo e às reformas.

85 http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=20609 86 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 67; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor

teológico da Liturgia, p. 48-50. 87 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 48-50.

RITOS LATINOS Ocidentais

Rito principal

Ritos salvaguardados

• Rito Romano

- Rito Beneditino

- Rito Cisterciense

- Rito Camelitano

- Rito Dominicano

- Rito Cartusiano

- Rito Premonstratense

- Rito Bracarense

- Rito de Lionês

- Rito Moçárabe

- Rito Ambrosiano

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Em 1588 o Papa Sisto V instituiu a Congregação para os Ritos, que seria responsável pela fiscalização e desenvolvimento do Rito Romano88 e regulamentação dos outros ritos católicos. Esta Congregação teve grande e importante papel na Santa Igreja até a alguns anos atrás quando foi extinta, no pós Vaticano II.

Houve ainda algumas modificações no Breviário realizadas pelo Papa São Pio X, na edição de 1914 e no Missal, na edição de 1920, mas nada que modificasse o Rito Romano em si ou que incorresse na “indignação de Deus Todo-poderoso e de seus Bem-Aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo”.

Mas recentemente o Beato e Papa João XXIII fez uma revisão geral no Missal de São Pio V, com algumas correções e acréscimos, porém, sem nenhuma mudança substancial, e o reeditou com a Carta Apostólica dada Motu Próprio sobre as Novas Rubricas do Breviário e da Missal Romano, em 25 de julho de 1960. É este Missal Romano que é atualmente usado na Liturgia de Sempre. Esta reforma no Missal de Pio V valeu ao Santo Padre João XXIII ter o seu nome unido ao Missal de tal forma que, apesar de ainda se falar Missal de São Pio V, é costume dizer-se Missal de João XXIII ou Missal do Beato João XXIII.

Alertamos que o que dissemos (e ainda diremos) aqui é apenas um breve resumo de uma história multissecular, que deveria ser conhecida por todos os ditos católicos.

Terminando esta primeira parte é oportuno que fixemos melhor o desenvolvimento do Ordinário da Santa Missa no Rito Romano. Portanto, lembramos que os primeiros cristãos cristianizaram cerimônias judaicas89 e que nos primeiros séculos do cristianismo a Liturgia cristã foi gradativamente se desenvolvendo90 e depois o Papa São Pio V codificou o Rito Romano; podemos, então, fazer a seguinte sinopse sobre a Santa Missa no Rito Romano:91

RITO DA SINAGOGA

RITO ROMANO NO SÉCULO II

RITO ROMANO NO SÉCULO IV

RITO ROMANO NO SÉCULO VII

RITO ROMANO NA CODIFICAÇÃO

- Orações

- Judica - Confiteor

- Intróito - Kyrie - Glória - Collecta

- Intróito - Kyrie - Glória - Collecta

- 1ª Leitura: Torá Salmo

- 1ª Leitura (Antigo Testamento) Salmo

- 1ª Leitura (Antigo Testamento) Salmo

- 1ª Leitura (Epistola dos Apóstolos)

- Epistola (Lectio)

- 2ª Leitura (Novo Testamento: Epístola) Salmo

- Responsório - Aleluia

- Responsório - Aleluia

2ª Leitura: Profecia - 2ª Leitura (Novo Testamento)

- 3ª Leitura (Evangelho)

- 2ª Leitura (Evangelho)

- Evangelho

- Pregação - Sermão - Sermão - Sermão - Sermão

88 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 65, p. 38. 89 Conferir Capítulo 2, I acima. 90 Conferir capítulo 2, II-III, acima. 91 Conforme A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 199.

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- Oração dos fiéis

- Despedida dos catecúmenos - Oração dos fiéis

- Oremus

- Credo - Oremus

- Ósculo da paz - Oferenda do povo

- Ósculo da paz - Ablução das mãos - Oferenda do povo

- Ablução das mãos - Oferenda do povo - Segunda ablução das mãos

- Ablução das mãos - Oferenda do povo - Elevação dos dons

- Orações do ofertório - Incenso - Ablução das mãos

- Oração Eucarística

- Oração Eucarística - Litania (Ladainha)

- Secreta - Oração Eucarística - Pater noster - Ósculo da paz - Fração do Pão - Agnus Dei

- Secreta - Oração Eucarística - Pater noster - Fração do Pão - Agnus Dei - Ósculo da paz - Preparação para a Comunhão

- Comunhão - Comunhão - Salmo 33 - Ação de Graças - Benção

- Comunhão - Canto da Comunhão - Ação de Graças - Benção

- Comunhão - Canto da Comunhão - PostCommunio - Benção - Último Evangelho

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SEGUNDA PARTE:

A SANTA MISSA NO RITO ROMANO92

92 É bom que todos fiquem atentos para o fato de, até aqui e adiante, estarmos falando do Rito Gregoriano como

sendo o Rito Romano, o Rito Ordinário da Igreja Ocidental, porém, isto é apenas cronologicamente, ou seja, estamos nos referindo ao Rito Gregoriano na história da Igreja. Atualmente este Rito é na Igreja a Forma Extraordinária do Rito Romano (sobre isto ainda falaremos).

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Capítulo 6

VISÃO GERAL

I. Estrutura geral da Santa Missa

Para facilitar o entendimento da Missa no Rito Romano é bom termos uma visão geral do Rito. Então, de início, precisamos entender que a Santa Missa é dividida em duas grandes partes: a Ante-Missa (ou Missa dos Catecúmenos) e a Missa dos Fiéis. Vejamos o esquema geral:

1ª parte: - ANTES DO SACRIFÍCIO (Missa dos Catecúmenos) = do intróibo ao credo.

2ª parte: - O SACRIFÍCIO (Missa dos Fiéis) = composta pelo ofertório, cânon e comunhão.

- DEPOIS DO SACRIFÍCIO = acontece a despedida, benção e o último Evangelho.

Porém, existe ainda uma outra parte que não está incluída no Ordinário da Missa, mas que é facultativa: são as Orações Finais. Elas são geralmente rezadas no fim da Santa Missa rezada.

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II. Classificação das Missas93

O Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo perpetuado no altar é sempre o mesmo, independentemente da forma que seja celebrada a Santa Missa. Porém, tratando-se do Sacrifício de Cristo a Igreja conserva antigas formas de celebrar a Santa Missa. Em todas elas o que sempre deve acontecer é aquilo que prescreve a Santa Igreja nos livros litúrgicos e a reta intenção do celebrante. Dependendo do grau de solenidade a Missa pode ser classificada como: solene, cantada ou rezada.

A Missa solene, celebrada por um bispo, é a forma mais festiva e antiga da Santa Missa na Igreja. É chamada Missa Pontifical, por ser celebrada pelo bispo, sucessor dos Apóstolos. A Missa Pontifical tem sua origem no fato de o bispo celebrar rodeado de todo o seu clero (presbíteros, diáconos e subdiáconos), na época em que só existiam as catedrais94, onde residia o bispo e os presbíteros. Como não havia concelebração os presbíteros participavam da Missa do seu bispo. Na Missa Pontifical o bispo é assistido mais ou menos por trinta e seis ministros (desde presbíteros até os servos mais inferiores). Esta Missa é cantada e nela o coro e os fiéis participam mutuamente pelo canto. A Missa Pontifical é a mais solene forma do Santo Sacrifício.

Quando, porém, as dioceses cresceram juntamente com o número de fiéis, os presbíteros passaram a celebrar sozinhos, isto é, sem o bispo, em matrizes distantes da catedral, pois os fiéis não conseguiam mais, por conta da distância e carência de transporte, participar da Missa Pontifical. Esta Missa celebrada pelos presbíteros é que deu origem, de certo modo,95 à Missa solene e à Missa cantada (ou Missa Paroquial) celebrada pelo presbítero.

A Missa solene do presbítero é uma redução ou adaptação da Missa Pontifical. Cresceu rapidamente com a contribuição das congregações e ordens que, na celebração comunitária, contava com grande número de presbíteros e ministros. Nesta o coro e os fiéis tem grande papel no canto sagrado.

A Missa cantada ou paroquial é uma redução da Missa solene. Nela o sacerdote canta sem a assistência dos ministros, por isso ele desempenha todas as funções do diácono e subdiácano (seja pela própria função seja por um gesto ou sinal que os representem). O sacerdote é assistido apenas por dois acólitos e algumas cerimônias, como procissão do Evangelho e a incensação, são suprimidas.

Com o crescimento do número de sacerdotes (nos mosteiros, conventos e dioceses) e das confrarias de fiéis e outras circunstâncias começou-se a ter a necessidade de muitas Missas em vários lugares. Nem sempre se dispunha de coro e ministros suficientes para o serviço. Então os sacerdotes começaram a rezar a Santa Missa, sem o coro (consequentemente sem canto), com a assistência de um só ministro e até sem a assistência de fiéis. Assim, quando os sacerdotes celebravam a forma da Missa com a assistência dos fiéis ela era denominada Missa rezada e quando a celebrava sem a assistência dos fiéis era denominada Missa privada.

Esta forma de rezar a Santa Missa difundiu-se logo, tanto a rezada como a privada, e, como não tinha canto nem ministros para as funções realizadas na Missa solene e cantada, o sacerdote passou a rezar as partes que antes eram cantadas.

93 Cf. A. FRANÇOIS, Participação Ativa na Missa, p. 84-86; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 200-202. 94 É como se a diocese de um bispo fosse uma grande paróquia. Alias por essa época ainda não existiam as

paróquias. 95 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 201.

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Depois dessa Missa rezada se tornar costume os sacerdotes começaram na Missa solene e cantada, rezar as partes que eram executas pelos fiéis ou pelo coro, tal como ele faz na Missa rezada. Esta é a explicação, por exemplo, de o sacerdote rezar partes que estão sendo cantadas ou dele rezar sozinho o que será rezado pela assistência.

Capítulo 7

ORDINÁRIO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO96

Depois de termos visto a trajetória do Rito Romano e conhecido um pouco de sua formação, vamos agora continuar a conhecê-lo através do Ordinário da Santa Missa que foi codificado por São Pio V e reformado pelo Beato João XXIII. Alías, este é o Ordinário usado até hoje em nossa Santa Igreja.

No que se segue as letras em vermelho são as rubricas, os números vermelhos indicam uma posterior explicação e as partes em negrito (cor preta) são as partes próprias dos fiéis.

96 Este ordinário está corrigido conforme o Missal Romano Quotidiano: Latim-Português de Dom Gaspar Lefebvre

(para Portugal).

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I. PREPARAÇÃO

De pé, diante dos degraus do altar, o celebrante começa a Missa, fazendo o sinal da cruz:

In nomine Patris, + et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.1

Ant. Introibo ad altare Dei.

R. Ad Deum qui lætificat juventutem meam.

Em nome do + Pai e do Filho e do Espírito. Amém

Ant. Vou me aproximar do altar de Deus.

R. Do Deus que é a alegria da minha juventude.

______________

1 – Todos se persigam juntamente com o celebrante. Estas primeiras orações de preparação pública do sacerdote (e da assistência) são comumente chamadas de orações ao pé do altar, pelo fato de serem rezadas diante do altar.

Salmo 42 2

Judica me, Deus, et discerne causam meam de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me.

R. Quia tu es, Deus, fortitudo mea: quare me repulisti, et quare tristis incedo, dum affligit me inimicus?

Emitte lucem tuam et veritatem tuam: ipsa me deduxerunt et adduxerunt in montem sanctum tuum, et in tabernacula tua.

Fazei-me justiça, ó Deus, e tomai a defesa da minha causa contra a gente desapiedada; do homem iníquo livrai-me, Senhor.

R. Pois vós, ó Deus, sois a minha fortaleza, por que então me haveis repelido? Por que ando eu assim triste, oprimido pelo inimigo?

Enviai-me a vossa luz e a vossa verdade; que me guiem e me conduzam até à vossa montanha santa, até à vossa morada.

R. Et introibo ad altare Dei: ad Deum qui lætificat juventutem meam.

R. E eu vou me aproximar do altar de Deus, do Deus que é a alegria da minha juventude.

Confitebor tibi in cithara Deus, Deus meus: quare tristis es anima mea, et quare conturbas me?

R. Spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi: salutare vultus mei, et Deus meus

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.

Eu vos louvarei ao som da cítara, Senhor, meu Deus. E tu, minha alma, por hás-de estar triste e por que alvoroçar-te dentro de mim?

R. Espera em Deus, que uma vez mais quero enaltecer, a Ele, salvação minha e meu Deus.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo

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R. Sicut erat in principo, et nunc, et semper: et in sæcula sæculorum. Amen.

R. Assim como era no princípio e agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.

___________________________________

2 – Este salmo manifesta o desejo do sacerdote celebrante em unir-se a Jesus e lembra a espera do povo no Antigo Testamento que desejava a vinda do Servo de Deus (o Cristo). Foi introduzido no século XI. Por ser um canto de alegria é omitido nas Missas pelos defuntos, requie, e no tempo da Paixão do Senhor. Neste salmo o sacerdote é identificado com Davi que o compôs.

Repete a Antífona:

Introibo ad altare Dei.

R. Ad Deum qui lætificat juventutem meam.

Adjutorium + nostrum in nomine Domine.

R. Qui fecit caelum et terram.

Vou me aproximar do altar de Deus.

R. Do Deus que é alegria da minha juventude.

O nosso + auxílio está em nome do Senhor.

R. Que fez o Céu e a Terra.

Profundamente inclinado, o celebrante diz o Confiteor, e depois dele, os assistentes.

Confiteor Deo omnipotenti, etc. 3 Eu pecador me confesso, etc.

R. Misereatur tui omnipotens Deus, et dimissis peccatis tuis, perducat te ad vitam æternam. 4

Celebrante: R. Amen

R. Que o Deus onipotente se compadeça de ti, perdoe os teus pecados e te conduza à vida eterna.

Celebrante: R. Amém

Os assistentes dizem o Confiteor: 5a

Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michæli Archangelo, beato Joanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et tibi, pater: quia peccavi nimis cogitatione, verbo, et opere: [percutiunt sibi pectus ter, dicentes]: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.

Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michælem Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, et te, pater,

Eu, pecador, me confesso a Deus todo-poderoso, à Bem-Aventurada sempre Virgem Maria, ao Bem-Aventurado São Miguel Arcanjo, ao Bem-Aventurado São João Batista, aos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, a todos os Santos, e a vós, padre, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e obras, [bate três vezes no peito] por minha culpa, minha culpa, minha grande culpa.

Portanto, rogo à Bem-Aventurada Virgem Maria, ao Bem-Aventurado São Miguel Arcanjo, ao Bem-Aventurado São João Batista, aos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, a todos os

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orare pro me ad Dominum Deum nostrum.

Santos, e a vós, padre, que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor.

Celebrante:

Misereatur vestri omnipotens Deus, et dimissis peccatis vestris, perducat vos ad vitam æternam.

R. Amen.

Que o Deus onipotente se compadeça de vós, perdoe os vossos pecados e vos conduza à vida eterna.

R. Amém.

Fazendo o sinal da cruz, o celebrante diz:

Indulgentiam 5b + absolutionem, et remissionem peccatorum nostrorum, tribuat nobis omnipotens et misericors Dominus:

R. Amen.

Perdão +, absolvição e remissão dos nossos pecados, nos conceda o Senhor onipotente e misericordioso.

R. Amém.

_______________

3 – O sacerdote celebrante, demonstrando humildade e preparando-se convenientemente para conceder o perdão de Deus aos fiéis, pede, ele mesmo, antes o perdão de Deus rezando sozinho o confiteor. O confiteor é a parte mais antiga e mais essencial das Orações ao Pé do Altar. É uma oração de acusação geral dos próprios pecados; com ele pede-se perdão a Deus por ousar celebrar o tremendo Sacrifício do altar, visto que o homem já nasceu no pecado. Substancialmente o confiteor já era rezado no século XI.

4 – Os assistentes unem-se à oração do sacerdote suplicando a Deus para que os pecados de Seu ministro sejam perdoados. Esse é o primeiro grande fato que evidencia a participação dos fiéis na Santa Missa, entendida como “o fazer”, ou seja, os assistentes ou os fiéis não são passivos, como muitos pensam, eles (seja com esta e outras orações ou pela união com o sacerdote) participam do Santo Sacrifício de modo ativo, porém, diferentemente do sacerdote.

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5a – Depois os próprios assistentes, com ou sem os fiéis, rezam o confiteor e recebem do sacerdote a mesma “oração de intercessão”.

5b – É importante perceber que esta oração é totalmente diferente da misereatur, tendo também uma finalidade diferente: a misereatur é um pedido pelo outro, um tipo de “intercessão”, por isso é rezada por todos, fiéis e sacerdote; a indulgentiam é a oração pela qual se concede o perdão dos pecados, ou seja, o sacerdote concede o perdão dos pecados gerais (pensamentos, palavras, obras e omissões = pecados leves, veniais) do próprio sacerdote e dos presentes (por isso mesmo só o sacerdote reza).

O celebrante, inclinado, diz:

Deus, tu conversus vivificabis nos. 6

Ó Deus, volvei para nós o vosso rosto e daí-nos a vida.

R. Et plebs tua lætabitur in te. R. E o vosso povo alegrar-se-á em Vós.

Ostende nobis Domine, misericordiam tuam.

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia.

R. Et salutare tuum da nobis. R. E concedei-nos a vossa salvação.

Domine, exuadi orationem meam. Ouvi, Senhor, a minha oração.

R. Et clamor meus ad te veniat. R. E até Vós chegue o meu clamor.

Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco.

R. Et cum spiritu tuo. R. E também com o teu espírito.

_______________

6 – Estes versículos são uma introdução à oração seguinte, aufer a nobis.

O celebrante sobe ao altar, dizendo:

Oremus.

Aufer a nobis, quæsumus, Domine, iniquitates nostras: ut ad Sancta sanctorum puris mereamur mentibus introire.

Oremos.

Afastai de nós, Senhor, Vos pedimos, as nossas iniqüidades, a fim de mereçermos entrar de alma pura no Santo dos Santos.

O celebrante, inclinado, diz a seguinte oração:

Oramus te, Domine, per merita Sanctorum tuorum, quorum reliquiæ hic sunt, et omnium Sanctorum: ut indulgere digneris omnia peccata mea. Amen.

Nós vos suplicamos, Senhor, pelos merecimentos dos vossos Santos, cujas relíquias se encontram aqui (beijando o centro do altar) e de todos os Santos, Vos digneis perdoar-nos todos os nossos pecados. Amém.

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II. PRIMEIRA PARTE:

ANTE-MISSA

Nas Missas solenes, incensa-se o altar.7

O celebrante vai para o lado da Epístola, e lê o Introito. Canto solene de entrada, o Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia. Às primeiras palavras, todos se benzem, ao mesmo tempo que o celebrante.

INTRÓITO 8

[ver Missa do dia]

___________________

7 – Depois de oscular o altar, na Missa solene, o celebrante incensa-o. Este costume já existia em alguns lugares nos séculos IX-XI. Na Igreja de Roma foi introduzido no século XII.

8 – Nas Missas pelos defuntos o celebrante, durante o intróito, faz o sinal da Cruz sobre o livro, indicando que os frutos da Missa serão aplicados às almas do Purgatório. O intróito é, geralmente, tirado das Sagradas Escrituras. Sua introdução no ordinário da Missa é atribuída ao Papa Celestino (+ 432) e serve para introduzir os presentes na celebração do dia. Às primeiras palavras todos se benzem juntos com o sacerdote.

KYRIE ELEISON 9

O celebrante, no meio do altar, diz, alternadamente com os assistentes:

S. Kyrie eleison.

M. Kyrie eleison.

S. Kyrie eleison.

Senhor, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

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M. Christe eleison. Cristo, tende piedade de nós.

S. Christe eleison.

M. Christe eleison.

S. Kyrie eleison.

M. Kyrie eleison.

S. Kyrie eleison.

Cristo, tende piedade de nós

Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

_______________

9 – No kyrie pede-se novamente, e de modo insistente, a misericórdia de Deus. O kyrie é o fim de uma antiga ladainha da Liturgia oriental adotada em Roma no século IV. Porém, para abreviar o rito deixaram apenas as invocações Kyrie eleison que eram repetidas várias vezes. O diácono recitava esta antiga ladainha formulando as intenções dos fiéis que respondiam kyrie eleison. No Ocidente acrescentou-se o Christe eleison e o número de repetições foi fixado em nove: as três primeiras digidas ao Pai, os três Christe ao Filho e as três últimas ao Espírito Santo.

GLORIA IN EXCELSIS10

Canto de alegria, o Gloria in excelsis só se diz nas Missas de caráter festivo: Domingos (fora do Advento, Septuagésima e Quaresma), Tempos do Natal, Tempo Pascal, festas de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem, dos Anjos e dos Santos, e Missas votivas solenes. Omite-se em todas as outras Missas.

Gloria in excelsis Deo; et in terra pax hominibus bonæ voluntatis.

Laudamus te. Benedicimus te, adoramus te, glorificamus te, gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam: Domine Deus, Rex coelestis, Deus Pater omnipotens.

Domine Fili unigenite, Jesu Christe. Domine Deus, Agnus Dei, Filius Patris.

Qui tollis peccata mundi, miserere nobis. Qui tollis peccata mundi, suscipe deprecationem nostram. Qui sedes ad dexteram Patris, miserere nobis.

Quoniam tu solus Sanctus, tu solus Dominus. Tu solus Altissimus, Jesu Christe. Cum Sancto Spiritu + in gloria Dei Patris. Amen.

Glória a Deus nas alturas! E na terra paz aos homens de boa vontade.

Nós Vos louvamos, Vos bendizemos, Vos adoramos, Vos glorificamos, Vos damos graças, por amor da vossa imensa glória, Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai onipotente.

Senhor, Filho unigênito, Jesus Cristo! Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai!

Vós, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós! Vós, que tirais o pecado do mundo, recebei a nossa súplica. Vós, que estais sentado à direita do Pai, tende misericórdia de nós!

Porque só Vós sois Santo, só Vós sois o Senhor, só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo, + na glória de Deus Pai. Amém.

_______________

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10 – Este hino (doxologia maior) é de origem grega. Não sabemos o autor, mas foi escrito pelo ano 200 a 300. O texto apresentado no Missal é do século IX. Primeiramente era usado só pelos bispos, depois foi introduzido na Missa de ordenação e na vigília pascal. Somente no século XI foi liberado para todas as Missas, inclusive de presbíteros. É um hino de louvor e súplica a Deus Pai e ao Cordeiro, dividido em três momentos: louvor, agradecimento e envocação.

O celebrante beija o altar, volta-se ao povo e diz:

V. Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco.

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

Oremus. Oremos.

COLETA11

O celebrante, diante do missal, recita a COLETA. Breve oração que resume e apresenta a Deus os votos de toda a assembléia, votos estes sugeridos pelo mistério ou solenidade do dia.

[Ver Missa do dia]

Conclusão:

...per ómnia saéculua saeculorum.

R. Amen

...por todos os séculos dos séculos.

Amém.

_______________

11 – O nome oficial desta oração é simplesmente “oração”! Porém, tornou-se costume geral de chamá-la oração “coleta” (collectio, collecta) por reunir todas as orações e intenções dos fiéis e apresentá-las a Deus.

EPÍSTOLA 12

Nas Missas solenes, a Epístola é cantada pelo subdiácono. Nas outras é lida pelo celebrante, em voz alta.

[Ver Missa do dia]

No fim, os assistentes respondem:

R. Deo Grátias! Graças a Deus!

_______________ 12 – Quando é o próprio sacerdote celebrante que proclama a Epístola (leitura dos

Apóstolos ou trechos dos profetas) ele pôe a mão no livro para significar que está suprindo o subdiácono, que, quando está presente na Missa, segura o livro no ato da leitura da Epístola.

GRADUAL13, ALELUIA, TRACTO

No Tempo da Septuagésima, o Alleluia é substituído pelo Tracto. No Tempo Pascal, omite-se o Gradual, e dizem-se dois Alleluia. [Ver Missa do dia]

________________

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13 – O nome gradual é devido ao fato deste ser cantado num degrau (gradus). O gradual, o aleluia e o tracto são elementos independentes e separáveis.

EVANGELHO14

O celebrante, ao meio do altar, profundamente inclinado, diz:

Munda cor meum ac lábia mea, omnípotens Deus, qui lábia Isaíae prophétae cálculo mundásti igníto: ita me tua grata miserratióne dignáre mundáre, ut sanctum evangélium tuum digne váleam nuntiáre.

Jube, Dómine, bene, benedicere. Dominus sit in corde meo et in labiis meis: ut digne et competenter annuntiem evangelium suum. Amen.

Purificai-me, Deus Onipotente, o coração e os lábios, Vós que purificastes os lábios do profeta Isaías com um carvão em brasa; pela vossa misericordiosa bondade, dignai-Vos purificar-me, de modo a tornar-me capaz de proclamar o vosso santo Evangelho.

Dignai-Vos, Senhor, abençoar-me. - Esteja o Senhor no meu coração e nos meus lábios, para digna e competentemente proclamar o seu Evangelho. Amém.

Passa para o lado esquerdo do altar, e lê ou canta o Evangelho. Nas Missas solenes, o Evangelho é cantado pelo diácono, o qual, antes disso, diz, de joelhos: Munda cor meum, etc., e em seguida pede a benção ao celebrante:

Munda cor meum... Purificai-me...

V. Jube, domne, benedícere.

R. Dominus sit in corde tuo, et in lábiis tuis, ut digne et competénter annúnties evangélium suum: in nominee Patris, et Fílii, + et Spíritus Sanctis. Amen.

Dai-me, senhor, a vossa bênção.

Esteja o Senhor no teu coração e nos teus lábios, para digna e competentemente proclamares o seu Evangelho. Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Toda a assistência está de pé. Às primeiras palavras - Sequentia, etc. faz-se o sinal da cruz na testa, na boca e no peito. Proclamação solene da Palavra de Deus. Ponto culminante desta primeira parte da Missa, a leitura ou canto do Evangelho é revestida da maior solenidade. O respeito para com ele, exige seja escutado de pé. Nas Missas solenes, o livro é levado honorificamente em procissão. É incensado antes de começar a leitura; e, terminada ela, é reverentemente beijado pelo celebrante.

V. Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

Sequentia sancti Evangelii + secundum NN.

Segue-se (ou Começa) o santo + Evangelho segundo NN.

Os assistentes respondem:

R. Glória tibi, Domine Glória a Vós, Senhor.

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[Ver Evangelho do dia]

No fim, responde-se:

R. Laus tibi, Christe Louvor a vós ó Cristo.

_______________

14 – O fato de o Evangelho ser cantado totalmente voltado para o norte (símbolo do frio) é explicado ou tem sua causa na citação de Jeremias 1,14 que diz: “Do norte se derramará a desgraça sobre todos os habitantes do país”. Assim, o Evangelho é também tido como uma espécie de exorcismo que afugenta Satanás para longe, pois ele busca devorar as almas. Após o Evangelho segue-se a homilia.

O celebrante beija o sagrado texto, dizendo:

Per Evangelica dicta deleantur nostra delicta.

Por estas palavras do Evangelho, perdoados sejam os nossos pecados.

CREDO 15

O celebrante vai ao meio do altar e diz o Credo. Este só se diz aos domingos, nas festas de 1ª classe, nas festas de Nosso Senhor, de Nossa Senhora, nas festas natalícias (nascimento para o Céu) dos Apóstolos e Evangelistas, dos Doutores da Igreja e nas Missas votivas solenes.

CREDO in unum Deum, Patrem omnipotentem, factorem coeli et terræ, visibilium omnium et invisibilium. Et in unum Dominum Jesum Christum, Filium Dei unigenitum. Et ex Patre natum ante omnia sæcula. Deum de Deo, lumen de lumine, Deum verum de Deo vero. Genitum, non factum, consubstantialem Patri: per quem omnia facta sunt. Qui propter nos homines, et propter nostram salutem descendit de coelis.

CREIO em um só Deus, Pai todo poderoso, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Deus nascido de Deus, Luz nascida da Luz, Deus verdadeiro nascido do Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai, e por quem tudo foi criado. O qual, por amor de nós, os homens, e para nossa salvação, desceu dos Céus.

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ET (Hic genuflectitur) 16 INCARNATUS EST DE SPIRITU SANCTO EX MARIA VIRGINE: ET HOMO FACTUS EST.

Crucifixus etiam pro nobis; sub Pontio Pilato passus, et sepultus est. Et resurrexit tertia die, secundum Scripturas. Et ascendit in coelum: sedet ad desteram Patris. Et iterum venturus est cum gloria judicare vivos et mortuos: cujus regni non erit finis.

Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem: qui ex Patre, Filioque procedit. Qui cum Patre, et Filio simul adoratur et conglorificatur: qui locutus est per Prophetas.

E INCARNOU, (todos se ajoelham) OBRA DO ESPÍRITO SANTO, NO SEIO DE MARIA VIRGEM, E FEZ-SE HOMEM.

Também por amor de nós, foi crucificado, sob Pôncio Pilatos, padeceu a morte e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras. Subiu ao Céu, e está sentado à direita do Pai. De novo há-de vir, cercado de glória, julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai e do Filho; o qual é, com o Pai e o Filho, igualmente adorado e glorificado; e falou pela boca dos profetas.

Et unam, sanctam, catholicam et apostolicam Ecclesiam. Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum. Et exspecto resurrectionem mortuorum. Et vitam + 17 venturi sæculi. Amen.

Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Reconheço um só Batismo para a remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos e a vida + do século futuro. Amém

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15 – Nos primeiros séculos cristãos o credo era usado somente no batismo (para professar a fé). Porém, quando surgiram as primeiras heresias foi introduzido, por volta do século V, na Santa Missa, principalmente no Oriente. Porém, só foi introduzido na Liturgia de Roma em 1014 por intermédio do imperador Santo Henrique, pois “a Igreja Romana nunca tinha sido manchada pela heresia”.

16 – Todos se ajoelham em adoração de Jesus no mistério da Encarnação no seio da sempre Virgem Maria.

17 – Todos se benzem.

III. SEGUNDA PARTE:

SACRIFÍCIO

OFERTÓRIO18a

Preparação para o Sacrifício

Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito. O celebrante volta-se ao povo com esta saudação:

Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco.

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

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OREMUS18b

Nas Missas solenes, enquanto o coro canta a antífona do Ofertório, o subdiácono leva para o altar o cálix e a patena com a hóstia, que o diácono apresenta ao celebrante. O acólito leva as galhetas com o vinho e a água.

[Ver Missa do dia]

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18a – No ofertório é lida uma antífona, na verdade uns versículos de um antigo salmo que era cantado na antiguidade para acompanhar a “procissão das ofertas”. Os fiéis traziam pão e vinho para serem consagrados, além de outros matérias e objetos necessários para a manutenção do templo, do clero e dos pobres. A partir do século XII essas contribuições (exclusive pão e vinho) foram substituidas por ofertas em dinheiro.

18b – Outrora, após o convite oremus o povo fazia várias orações pelas necessidades da Igreja, que depois foram omitidas do ordinário da Missa. Porém, conservou-se o oremus em voz alta enquanto que o sacerdote segue com a oração secretamente. Com este convite os fiéis são chamados a unirem-se ao celebrante, a rezarem por si mesmos e a oferecem-se em holocausto a Deus.

Oferecimento do pão: 19

Suscipe, sancte Pater, omnipotens æterne Deus, hanc immaculatam hostiam, quam ego indignus famulus tuus offero tibi, Deo meo vivo et vero, pro innumerabilibus peccatis, et offensionibus, et negligentiis meis, et pro omnibus circumstantibus, sed et pro omnibus fidelibus Christianis vivis atque defunctis: ut mihi, et illis proficiat ad salutem in vitam æternam. Amen. 20

Recebei, Pai santo, Deus onipotente e eterno, esta hóstia imaculada, que eu, vosso indigno servo, Vos ofereço a Vós, meu Deus vivo e verdadeiro, pelos meus inumeráveis pecados, ofensas e negligências, por todos os que estão aqui presentes e por todos os fiéis, vivos e defuntos, para que tanto a mim como a eles aproveite para a salvação e vida eterna. Amém.

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19 – O pão oferecido (oblatas) nem sempre o foi como é hoje. Antes se oferecia pão comum, porém, de trigo e preparado de modo especial. O sínodo de Toledo (693) repreendeu os sacerdotes que usavam pão comum, mas sem afirmar sua invalidade. A partir do século VIII o pão para o Santo Sacrifício tornou-se ázimo, o que orignou as hóstias (deu ao pão a forma de hóstia) grandes (magna) e pequenas (partículas). Assim a fabricação das hóstias ficou reservada aos clérigos.

20 – Depois de oferecer o pão, e tendo feito um sinal da cruz sobre o corporal, o sacerdote coloca o pão diretamente sobre o corporal e esconde a patena na extremidade do mesmo corporal de modo que metade da patena fique coberta pelo corporal e a outra metade apareça. “Misticamente a patena escondida debaixo do corporal significa os discípulos que fugiram na Paixão de Cristo. A parte da patena não escondida significa a Virgem Santíssima que não fugiu” (Durandus IV c. 30 n. 29).

Ao lado direito do altar, o celebrante deita vinho no cálix, a que mistura umas gotas de água, dizendo a seguinte oração:

Deus, 21 + qui humanæ substantiæ dignitatem mirabiliter condidisti, et mirabilius reformasti: da nobis per hujus aquæ et vini mysterium, ejus divinitatis esse consortes, qui humanitatis nostræ fieri dignatus est particeps, Jesus Christus Filius tuus Dominus noster: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus: per omnia sæcula sæculorum. Amen.

Ó Deus, + que de modo maravilhoso criastes em sua dignidade a natureza humana e de modo mais maravilhoso ainda a reformastes, concedei-nos, pelo mistério desta água e vinho, sejamos participantes da divindade d’Aquele que se dignou partilhar de nossa humanidade, Jesus Cristo vosso Filho e Senhor Nosso, que, sendo Deus con'Vosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

No meio do altar, o celebrante faz o oferecimento do cálix:

Offerimus tibi 22, Domine, calicem salutaris, tuam deprecantes clementiam: ut in conspectu divinæ maiestatis tuæ, pro nostra et totius mundi salute, cum odore suavitatis ascendat. Amen.

Nós Vos oferecemos, Senhor, o cálice da salvação, e da vossa clemência imploramos que ele se eleve até à presença da vossa divina majestade, qual suave odor, para salvação nossa e de todo o mundo. Amém.

Depois, inclinando-se diz:

In spiritu humilitatis 23 et in animo contrito suscipiamur a te, Domine: et sic fiat sacrificum nostrum in conspectu tuo hodie, ut placeat tibi, Domine Deus.

Com o espírito de humilhado e coração contrito, sejamos por Vós acolhidos, Senhor; e que este nosso sacrifício se realize hoje na vossa presença por forma [de modo] a merecer o vosso agrado, Senhor Nosso Deus.

Invocação do Espírito Santo:

Veni, Sanctificator, omnipotens æterne Deus: et bene+dic hoc sacrificum, tuo sancto nomini præparatum.

Vinde, Santificador, Deus onipotente e eterno, e abençoai + este sacrifício preparado para o vosso santo nome.

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21 – Esta oração é da Liturgia do natal do século IV. A água misturada ao vinho significa a união e participação da Igreja, de modo particular os fiéis presentes à Santa Missa, na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A água antes de ser misturada ao vinho é benzida pelo celebrante porque, significando os fiéis, simboliza que o povo, por ser pecador, precisa de conversão. É por isso que na Santa Missa pelos defuntos não se benze a água, pois ela representa as almas que, estando livres do corpo, não podem mais pecar ou não precisam de conversão, mas necessitam de sufrágios.

22 – Na Missa solene, enquanto o celebrante oferece o cálice, o diácono sustenta o braço do sacerdote ou o pé do cálice, porque antigamente era o diácono que colocava o cálice no altar e, quando era oportuno, rezava esta oração.

23 – Esta oração e a seguinte estão estreitamente ligadas, pois na primeira o celebrante, representando também o povo, se associa, pela oração, aos três jovens que se consumiam na fornalha ardente em fogo e oferece a Deus o seu sacrifício. Por isso, logo em seguida, invoca o Espírito Santo Santificador, que no Cenáculo desceu em forma de fogo, para que prepare as oblatas para o Sacrifício de Cristo.

INCENSAÇÃO

Segue-se, nas Missas solenes, o rito da incensão. São incensadas primeiro as oblatas, depois a cruz, o altar, celebrante, ministros e fiéis.

Benção do incenso:

Per intercessionem beati Michaëlis archangeli, stantis a dextris altaris incensi, et omnium electorum suorum, incensum istud dignetur Dominus bene + dicere, et in odorem suavitatis accipere. Per Christum Dominum nostrum. Amen

Pela intercessão do bem-aventurado Arcanjo São Miguel, que está à direita do altar do incenso, e de todos os seus eleitos, digne-se o Senhor abençoar + este incenso, e recebê-lo qual suave perfume. Por Jesus Cristo Senhor nosso. Amém,

O celebrante incensa primeiro as oblatas:

Incensum istud, a te benedictum, ascendat ad te, Domine, et descendat super nos misericordia tua.

Que este incenso, por Vós abençoado, se eleve até Vós, Senhor, e sobre nós desça a vossa misericórdia.

Em seguida incensa a cruz e o altar, dizendo entretanto os seguintes versículos, tirados do Salmo 140:

Dirigatur, Domine, oratio mea, sicut incensum in conspectu tuo: elevatio manuum mearum sacrificium vespertinum. Pone, Domine, custodiam ori meo, et ostium circumstantiæ labiis meis: ut non declinet cor meum in verba malitiæ, ad excusandas excusationes in peccatis.

Suba até Vós, Senhor, qual fumo de incenso, a minha oração; e o meu erguer de mãos seja como o sacrifício vespertino. Colocai, Senhor, guarda à minha boca, e sentinela à porta dos meus lábios. Não se deixe meu coração arrastar a palavras de maldade, que lhe sirvam de pretextos para o pecado.

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O celebrante entrega o turíbulo ao diácono, dizendo:

R. Accendat in nobis Dominus ignem sui amoris, et flammam æterne caritatis. Amen.

Acenda o Senhor em nós o fogo do seu amor e as chamas da eterna caridade. Amém.

O diácono incensa o celebrante, e depois o clero. Nas Missas de defuntos, é incensado só o celebrante.

LAVABO 24

O celebrante vai à direita do altar e lava as mãos, dizendo entretanto os seguintes versículos do salmo 25:

Lavabo inter innocentes manus meas: et circumdabo altare tuum, Domine. Ut audiam vocem laudis: et enarrem universa mirabila tua.

Domine, dilexi decorem domus tuæ: et locum habitationis gloriæ tuæ.

Ne perdas cum impiis, Deus, animam meam: et cum viris sanguinum vitam meam.

Lavo na inocência as minhas mãos, e cerco-me, Senhor, do vosso altar, para fazer ouvir os vossos louvores, e apregoar todas as vossas maravilhas.

Amo, Senhor, a beleza da vossa casa, e o lugar em que repousa a vossa glória.

Não deixeis, ó Deus, que minha alma se perca com os pecadores, nem a minha vida com os homens sanguinários;

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In quorum manibus iniquitates sunt: dextera eorum repleta est muneribus.

Ego autem in innocentia mea ingressus sum: redime me, et miserere mei.

Pes meus stetit in directo: in ecclesiis benedicam te, Domine.

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.

Sicut erat in principio, et nunc, et semper: et in sæcula sæculorum. Amen.

Eles que têm as mãos manchadas de iniqüidades, e a dextra peitas repletas.

Eu, pelo contrário, conduzo-me pelas sendas da inocência; livrai-me, Senhor, e compadecei-Vos de mim.

Os meus pés andam pelo caminho da retidão; nas assembléias Vos bendirei, Senhor.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo

Assim como era no princípio e agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.

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24 – Na ablução das mãos é necessário que sejam lavadas aos menos as pontas dos dedos de cada mão que tocarão na Santíssima Eucaristia. Assim se indica que devemos evitar até mesmo as faltas mais insignificantes no serviço de Deus.

Nas Missas de defuntos e do Tempo da Paixão omite-se o Gloria Patri.

Oração à Santíssima Trindade

Inclinado, ao meio do altar, o celebrante diz:

Suscipe, sancta Trinitas 25, hanc oblationem, quam tibi offerimus ob memoriam passionis, resurrectionis, et ascensionis Jesu Christi, Domini nostri, et in honorem beatæ Mariæ semper Virginis, et beati Ioannis Baptistæ, et sanctorum apostolorum Petri et Pauli, et istorum, et omnium sanctorum: ut illis proficiat ad honorem, nobis autem ad salutem: et illi pro nobis intercedere dignentur in cælis, quorum memoriam agimus in terris. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.

Recebei, Trindade Santa, esta oblação, que Vos oferecemos em memória da Paixão, Ressurreição e Ascensão de Jesus Cristo nosso Senhor, e em honra da bem-aventurada sempre Virgem Maria, de São João Batista, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, destes (cujas relíquias aqui estão) e de todos os Santos; seja para a honra deles e salvação nossa, e por nós se dignem interceder no céu aqueles cuja memória celebramos na terra. Pelo mesmo Jesus Cristo, Senhor nosso. Amém.

________________

25 – “Ao recitar essa oração, o sacerdote tem as mãos unidas, postas sobre o altar e um pouco inclinado, para manifestar que reconhece a sua própria indignidade, em oferecer o Santo Sacrifício à majestade suprema de Deus, e ao mesmo tempo para ensinar aos fiéis a humildade que devem ter em oferecer com ele o Sacrifício da Missa.” (Cippulo, p. 85).

Voltando-se para a assistência, o celebrante convida-a a orar com ele:

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Orate fratres 26, ut meum ac vestrum sacrificium acceptabile fiat apud Deum Patrem omnipotentem.

Orai, irmãos, para que este sacrifício, meu e vosso, seja aceite de Deus Pai onipotente.

___________________

26 – Antes este convite era dirigido somente ao clero. Chamando os fiéis de irmãos (o que lembra Jesus que disse não ter maior prova de amor do que dar a vida pelos irmãos) convida-os a rezar por ele e com ele, a fim de que o Sacrifício preparado seja aceito por Deus Pai, assim como aceitou o único Sacrifício de Cristo na Cruz.

Resposta da assistência:

R. Suscipiat Dominus 27 sacrificium de manibus tuis (vel meis) ad laudem et gloriam nominis sui, ad utilitatem quoque nostram, totiusque Ecclesia suæ sanctæ.

Receba o Senhor das tuas mãos este sacrifício para louvor e glória do seu nome e para bem nosso e de toda a sua santa Igreja.

_______________

27 – A resposta dos fiéis ao convite do sacerdote demonstra que o Sacrifício que será oferecido é uma oferta de Jesus, em primeiro lugar, do sacerdote e da Igreja. De Jesus por ser o mesmo que Ele ofereceu na Cruz; do sacerdote porque é ele que oferece, mesmo que in persona Christ, o Sacrifício do Altar e da Igreja porque o sacerdote só é capaz de oferecer por causa da ordem de Jesus que é conferida pela Igreja. É no oferecimento da Igreja que se encontra esta resposta ou oração dos fiéis e assistentes.

Com esta oração os assistentes pedem que o Sacrifício do Altar seja recebido pelo Deus todo poderoso para “louvor e glória” do Padre Eterno, “para o nosso bem” (ou seja, dos fiéis presentes) e “para o bem de toda a Santa Igreja” (todos os fiéis católicos, inclusive os ausente). Esta oração é mais uma importante demonstração que os fiéis, embora não exerçam funções junto ao altar, exercem verdadeiro oficio de assistentes (auxilio, ajuda, acompanhar) do sacerdote que pede sua ajuda espiritual e pelo qual rezam. Os fiéis (seja a assembléia seja a assistência) são participantes da realidade invisível que está acontecendo na Santa Missa e que são significados pelos sinais visíveis realizados.

O celebrante responde, em voz baixa:

R. Amen. Amém.

SECRETA 28

Em seguida lê a Secreta. À Secreta principal, podem, em certas Missas, ajuntar-se outras, em número igual e segundo as mesmas regras da Colecta.

[Ver Missa do dia]

Per omnia sæcula sæculorum. Por todos os séculos dos séculos.

R. Amen. Amém.

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28 – Alguns (e estes são os mais felizes!) sustentam que secreta significa a forma como é rezada esta oração, ou seja, em voz baixa. Isto teria determinado o nome desta oração venerável.

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CÂNON 29

Oblação do Sacrifício

O Cânon constitui a parte central da Missa. Com o Prefácio, começa a grande “prece eucarística”, a solene oração sacerdotal da Igreja e oblação propriamente dita do Sacrifício. Curto diálogo introdutório entre o celebrante e a assembléia desperta nas almas os sentimentos de ação de graças que convêm à celebração dos santos mistérios.

______________

29 - O Cânon (chamado assim desde o século VI) é formado por várias orações. Até o século VII era todo cantado. Já no século IX era costume rezá-lo em voz baixa porque, como “oração própria dos sacerdotes”, dirigida a Deus somente, o sacerdote não tinha a necessidade, nem tem, da audição do povo, sobretudo porque havia grande risco de que as palavras sagradas fossem usadas pelos hereges para o uso profano. Foi então que o Concílio de Trento (Sess. 22, cân. 9) ordenou que o Cânon fosse rezado todo em voz baixa.

É de fé ainda que o Cânon em sua essência é apostólico (precisamente as orações quam oblationem; qui pridie quam pateretur; unde et memores; supra quae e súplices), conforme afirma o crítico Belarmino, falando sobre a lacuna entre o século III e o tempo dos Apóstolos, dizendo: “Se as orações mensionadas por Pseudo-Ambrósio tivessem sido compostas por um papa, com certeza um historiador o teria referido. Se não deixaram de mencionar quem acrescentou algumas partes insignificantes, muito menos teriam calado o nome de quem compôs quase todo o cânon. Resta portanto que o cânon é de antiguidade imemorável e chegou até nos como muitas outras coisas, pela tradição, de mão em mão. Os nomes dos Apóstolos e mártires pouco a pouco foram acrescentados.” (Reus, n. 500-01.508, p. 245.247-48).

Dominus vobiscum.30 O Senhor seja convosco.

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

Sursum corda. Para o alto os corações.

R. Habemus ad Dominum. Assim o temos, levantados para o Senhor.

Gratias agamus Domino Deo nostro

Demos graças ao Senhor nosso Deus.

R. Dignum et justum est. Digno e justo é.

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30 – Estes versículos introdutórios já eram usados na Santa Missa antes do ano 200!.

PREFÁCIO COMUM

Este prefácio diz-se sempre que a Missa o não tiver próprio. Ver a seguir, os Prefácios próprios:

Vere dignum et justum est, aequum et salutare, nos tibi semper, et ubique gratias agere: Domine sancte, Pater omniopetens, aeterne Deus. Per

É verdadeiramente digno e justo, necessário e salutar que sempre e em toda a parte Vos demos graças, Senhor, Pai santo, Deus onipotente e eterno, por Christum Dominum nostrum, per quem

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majestatem tuam laudant angeli, adorant dominationes, tremunt potestates; coeli coelorumque virtutes, ac beata seraphim, socia exsultatione concelebrant: cum quibus et nostras voces ut admitti jubeas deprecamur, supplici confessione dicentes:

Jesus Cristo Nosso Senhor, por quem louvam os Anjos a vossa Majestade, a adoram as Dominações, a reverenciam as Potestades, a celebram os Céus e as Forças celestes, com os bem-aventurados Serafins, unidos todos em comum exultação. Juntas com as deles, Vos pedimos aceiteis as nossas vozes, que em súplice louvor Vos adoram:

R. Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth. Pleni sunt cæli et terra gloria tua. Hosanna in excelsis. Benedictus qui venit in nomine Domini. Hosanna in excelsis.

Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus das milícias [exércitos] celestes. Cheios estão o céu e a terra da vossa glória. Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!

Continuação do Cânon

O celebrante, profundamente inclinado, beija o altar e continua a grande oração sacerdotal.

Te igitur, clementissime Pater 31, per Jesum Christum Filium tuum, Dominum nostrum, supplices rogamus ac petimus, uti accepta habeas, et benedicas, hæc + dona, hæc + munera, hæc sancta + sacrificia illibata;

A Vós, Pai clementíssimo, por Jesus Cristo vosso Filho e Senhor nosso, humildemente rogamos e pedimos aceiteis e abençoeis estes dons, estas dádivas, estas santas oferendas ilibadas.

Oração por toda a Igreja, em especial pela hierarquia:

In primis, quae tibi offérimus pro Ecclésia tua sancta cathólica: quam pacificáre, custódire, adunáre et régere dignéris toto orbe terrárum: una cum fámulo tuo Papa nostro N. et Antístite nostro N. et ómnibus orthodoxis, atque cathólicae et apostólicae fídei cultóribus.

Nós Vo-los oferecemos, em primeiro lugar, pela vossa santa Igreja católica, à qual Vos dignai conceder a paz, proteger, conservar na unidade e governar, através do mundo inteiro, e também pelo vosso servo o nosso Papa..., pelo nosso Bispo..., e por todos os (bispos) ortodoxos, aos quais incumbe a guarda da fé católica e apostólica.

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31 – Nesta oração é expresso o costume antigo de se rezar pelo papa (e no princípio pelos Apóstolos). Com esta oração pede-se a Deus que, aceitando e abençoando os dons que servirão para o Sacrifício, receba os dons por toda a Igreja de modo geral.

Memento dos vivos

Memento, Domine 32, famulorum, famularumque tuarum N. et N. et omnium circumstantium, quorum tibi

Lembrai-Vos, Senhor, de vossos servos e servas..., e de todos aqueles que aqui estão presentes, cuja fé Vos é fides

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cógnita est, et nota devotio, pro quibus tibi offerimus: vel qui tibi offerunt hoc sacrificium laudis pro se, suisque omnibus: pro redemptione animarum suarum, pro spe salutis, et incolumitatis suæ: tibique reddunt vota sua æterno Deo, vivo et vero.

conhecida manifesta a devotação. Por eles Vos oferecemos, ou eles próprios Vos oferecem, este sacrifício de louvor, por si e por todos os seus, para a redenção das suas almas, para terem a salvação e incoluminidade que esperam; para isso, a Vós dirigem suas preces, Deus eterno, vivo e verdadeiro.

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32 – Nesta oração pede-se a Deus, de modo particular, pelas pessoas presentes à Santa Missa, por quem “encomendou” o Santo Sacrifício e por quem ele é intencionado. Outrora os nomes destas pessoas eram lidos em voz alta. No século VIII já era costume ler estes nomes em voz baixa e somente para o sacerdote celebrante. Depois se passou a colocar os nomes sobre o altar. Porém, nos séculos XII-XIII este costume desapareceu.

Memória dos Santos

Communicantes 33, et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Maria 34, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

Unidos na mesma comunhão, honramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo,*

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No dia de Natal e durante a Oitava:

* Communicantes, et diem sacratissimum (noctem sacratissimam) celebrantes, quo (qua) beatæ Maria intemerata virginitas huic mundo edidit Salvatorem, sed et memoriam venerantes, in primis ejusdem gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

* Unidos na mesma comunhão e celebrando o dia sacratíssimo (na Missa da meia-noite: noite sacratíssima) em que a intemerata virgindade da bem-aventurada Maria deu à luz deste mundo o Salvador, veneramos a memória, em primeiro lugar, da mesma gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo *

Na festa da Epifania:

* Communicantes, et diem sacratissimum celebrantes, quo Unigenitus tuus, in tua tecum gloria coæternus, in veritate carnis nostræ visibiliter corporalis apparuit: sed et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis ejúsdem Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

* Unidos na mesma comunhão e celebrando o dia sacratíssimo em que o vosso Filho Unigênito, co-eterno convosco na vossa glória, apareceu de modo visível na realidade do nosso corpo de carne, veneramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo, *

Desde a Vigília pascal até ao Sábado “in albis”:

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* Communicantes, et diem sacratissimum (noctem sacratissimam) celebrantes, Resurrectionis Dominui nostri Jesu Christi secundum carnem: sed et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

* Unidos na mesma comunhão e celebrando o dia sacratíssimo (na Vigília pascal: noite sacratíssima) da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne, veneramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo, *

Na festa da Ascenção:

* Communicantes, et diem sacratissimum celebrantes, quo Dominus noster, unigenitus Filius tuus, unitam sibi fragilitatis nostræ substantiam in gloriæ tuæ dextera collocavit: sed et memoriam venerantes, in primis gloriosa semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

* Unidos na mesma comunhão e celebrando o dia sacratíssimo em que vosso Filho Unigênito colocou à vossa direita, na glória, a nossa frágil natureza humana unida à sua Divindade, veneramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo, *

Desde a Vigilia do Pentecostes até ao sábado seguinte:

* Communicantes, et diem sacratissimum Pentecostes celebrantes, quo Spiritus sanctus Apostolis innumeris linguis apparuit: sed et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: *

* Unidos na mesma comunhão e celebrando o dia sacratíssimo em que o Espírito Santo apareceu aos Apóstolos em inumeraveis línguas de fogo, veneramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo, *

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* sed et beati Joseph 35, ejusdem Virginis Sponsi, et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petri et Pauli 36, Andreæ, Jacobi, Joannis, Thomæ, Jacobi, Philippi, Bartholomæi, Matthæi, Simonis, et Thaddæi, Lini, Cleti, Clementis 37, + Xysti 38, Cornelii 39, Cypriani 40, Laurentii 41, Chrysógoni 42, Joannis et Pauli 43, Cosmæ et Damiani 44, et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis precibusque concedas, ut in omnibus protectionis tua muniamur auxilio. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen.

* e também de São José, o Esposo da mesma Virgem, e dos vossos bem-aventurados Apóstolos e Mártires: Pedro e Paulo, André, Tiago, João e Tomé, Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu, Lino, Cleto, Clemente, + Xisto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião, e a de todos os vossos santos. Por seus méritos e preces, concedei-nos, sejamos sempre fortalecidos com o socorro de vossa proteção. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.

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33 – A tradução mais próxima para communicantes é tomar parte na comunhão dos Santos. Por isso, nestas orações o sacerdote e o povo alegam a Deus que estão unidos entre si e com os Santos, a fim de que suas orações tenham mais eficácia no oferecimento insistente do Sacrifício de Cristo.

34 – Dentre os Santos mensionados a Virgem Santíssima Maria é primaz. Embora Ela não tenha derramado o sangue em martírio é, muito além de mártir, venerada como a Rainha dos Mártires. Desde tempos imemoráveis o santíssimo Nome da sempre Virgem Maria é pronunciado no Santo Sacrifício, a fim de que Ela nos alcance mais facilmente conseguirmos agradar a Deus e a Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

35 – São José é o único dos Santos aqui mensionados que não é mártir. Sua festa litúrgica foi celebrada em várias datas até que, no século XV, seu culto foi fixado no dia 19 de março. Em 1621 seu culto tornou-se festa de preceito para toda a Igreja. E em 1847 o Papa Pio IX o declarou patrono universal da Igreja Católica. Seu nome foi introduzido no cânon em 1962, sob o Papa João XXIII.

36 – São Pedro e São Paulo são os primeiros dentre os Apóstolos mensionados. São Paulo é mensionado juntamente com São Pedro por causa de sua missão apostólica na propagação da fé católica. São Pedro, porém, é o primeiro por ser o primeiro Papa da Santa Igreja Católica. Ele permaneceu cerca de 37 anos no pontificado, sendo que do ano 47 ao ano 67 ele governou a Igreja como bispo em Roma, que viria a ser a Sé da Igreja Católica Apostólica Romana. Depois são mensionados também os outros príncipes da Igreja.

37 – Os Papas São Lino (+ 79), São Cleto ou Anacleto (+ 92) e São Clemente (+ 101) são os três primeiros e respectivos papas na sucessão de São Pedro. Todos foram martirizados, dando grande exemplo de amor a Jesus e confirmando os irmãos na fé!

38 – O Papa São Xisto II ou Sisto, natural da Grécia, sofreu o martírio no ano 258, sendo uma das primeiras vítimas da perseguição de Valeriano. Ficou conhecido devido os comentários feitos pelo Papa São Damaso, que por sua vez teve grande zelo pelo serviço litúrgico da Igreja.

39 – O Papa São Cornélio, de origem romana, é o 21º na lista da sucessão papal. Sofreu o martírio em junho do ano 253, no exílio em Civitavecchia, após dois anos de um pontificado pertubado pela cisma de Novaciano. São Cornélio era amigo de São Cipriano e morreu cinco anos antes deste. Suas relíquias foram transladadas para Roma no dia 14 de setembro de 258.

40 – São Cirpiano era advogado e se converteu ao cristianismo. Foi bispo da importante Igreja de Cartago. Encorajou os fiéis durante a perseguição e foi martirizado no dia da transladação das relíquias de seu amigo São Cornélio para Roma. Mesmo tendo morrido cinco anos depois de São Cornélio a Igreja uniu suas festas no mesmo dia e incluiu seus nomes no Cânon.

41 – São Lourenço foi arcediácono do Papa São Xisto II e sofreu o martírio no dia 10 de agosto de 258, poucos dias depois do martírio do próprio Papa São Xisto II. Foram vítimas da perseguição do imperador Valeriano. Por causa de sua popularidade o imperador Constantino mandou construir uma basílica sobre o seu túmulo.

42 – São Crisógono foi mártir de Arquileia no ano 304. Seu culto cresceu rapidamente em Roma e em Ravena. Ele foi o responsável pela instrução religiosa de Santa Anastácia.

43 – São João e São Paulo foram martirizados pelo apóstata Juliano no ano 362. Provavelmente são os dois irmãos que se encorajaram mutuamente para o martírio e que, desde o século IV, tem uma basílica no monte Célio em Roma.

44 – São Cosme e São Damião começaram a ser venerados primeiramente na Igreja oriental por causa dos milagres e curas operados sobre seus túmulos. Em Roma seu culto foi introduzido no século VI. Eram dois médicos árabes e sofreram o martírio no ano 297.

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Estendendo as mãos sobre as oblatas, o celebrante diz:

Hanc igitur 45 oblationem servitutis nostræ, sed et cunctæ familiæ tuæ, quæsumus, Domine, ut placatus accipias: diesque nostros in tua pace disponas, atque ab æterna damnatione nos eripi, et in electorum tuorum jubeas grege numerari. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

Esta oblação, que nós, vossos servos, e toda a vossa família, Vos oferecemos, aceitai-a, Senhor, benignamente; firmai na paz os dias de nossa vida, livrai-nos da eterna condenação e ordenai sejamos contados na sociedade dos vossos eleitos. Por Jesus Cristo Senhor nosso. Amém.

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45 – Ao rezar esta oração o sacerdote impõe as mãos sobre as oblatas (hóstias oferecidas como matéria para o Sacrifício). Este gesto do sacerdote é próprio do sacrifício expiatório, como podemos comprova nos ritos do Antigo Testamento. Este gesto significa que o sacerdote oferece-se para adorar, implorar e agradecer a Deus; ao mesmo tempo que também significa que Jesus Se oferece para ser a Vítima do verdadeiro Sacrifício, pois outra vítima não seria aceita como não o foi o jovem Issac.

Da Vigília pascal ao sábado “in albis” e desde a Vigília do Pentecostes até ao sábado seguinte, diz-se:

Hanc igitur oblationem servitutis nostræ, sed et cunctæ familiæ tuæ, quam tibi offerimus pro his quoque, quos regenerare dignatus es ex aqua et Spiritu Sancto, tribuens eis remissionem omnium peccatorum:

Por esta oblação que vos oferecemos também por aqueles que dignastes regenerar pela água e pelo Espírito Santo, dando-lhes a remissão de todos os pecados.

O celebrante abençoa as oblatas dizendo:

Quam oblationem 46 tu, Deus, in omnibus, quæsumus, bene+dictam, adscri+ptam, ra+tam, rationabilem, acceptabilemque facere digneris: ut nobis Cor+pus, et San+guis fiat dilectissimi Filii tui Domini nostri Jesu Christi.

Dignai-Vos, Senhor, fazer que esta oblação seja em tudo aben+çoada, apro+vada, ratifi+cada, espiritual e digna da vossa aceitação, e se torne para nós Cor+po e o San+gue do vosso diletíssimo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo.

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46 – Esta belíssima oração da Igreja é misteriosamente uma resposta ou observância da profecia de Malaquias (cf. Ml 1,6-14). Nela o sacerdote faz insistente súplica a Deus para que o Sacrifício do altar seja-Lhe agradável. Pois na profecia de Malaquias Deus repudia os sacrifícios antigos oferecidos indignamente, com vítimas defeituosos ou roubadas.

Por isso, é que o sacerdote, antes de realizar o que Jesus fez na última Ceia, pede a Deus que: 1 – abençoe com Sua palavra as oblatas, as hóstias que serão transubstanciadas no Corpo e no Sangue de Jesus; 2 – aprove as espécies apresentadas ao altar e as recebas; 3 – ratifique o Sacrifício que ali será realizado sob aquelas espécies que são apresentadas; 4 – torne as oblatas sinal sensível e matéria física da realidade invisível que acontecerá no altar, ou seja, sejam verdadeiramente matéria para o Sacrifício; 5 – aceite as oblatas para serem a matéria do

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Sacrifício, pois, abençoadas, aprovadas e confirmadas por Ele mesmo, são dignas de serem aceitas e agradáveis.

CONSAGRAÇÃO

Inclina-se sobre o altar, e profere as palavras da consagração da Hóstia. Em seguida adora-a, e eleva-a aos olhos dos assistentes, para que todos a adorem em silêncio. O mesmo faz, depois, para a consagração do Cálice.

Qui pridie47a quam pateretur, accepit panem in sanctas ac venerabiles manus suas, et elevatis oculis in cælum ad te Deum Patrem suum omnipotentem, tibi gratias agens, bene+dixit, fregit, deditque discipulis suis, dicens:

Accipite, et manducate ex hoc omnes. HOC EST ENIM CORPUS MEUM

Na véspera da sua Paixão, tomou Ele o pão em suas santas e veneráveis mãos, e, erguendo os olhos ao Céu, para Vós, Deus, seu Pai onipotente, dando-Vos graças, aben+çoou-o, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo:

“Tomai e comei dele todos vós, pois ISTO É O MEU CORPO.”

Consagração do Cálice:

Simili modo postquam cænatum est, accipiens et hunc præclarum Calicem in sanctas ac venerabiles manus suas:

De igual modo, terminada a ceia, tomou este precioso Cálice em suas santas e veneráveis mãos, novamente

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item tibi gratias agens, bene + dixit, deditque discipulis suis, dicens: Accipite, et bibite ex eo omnes.

HIC EST ENIM CALIX SANGUINIS MEI 47b, novi et æterni Testamenti: (Mysterium Fidei) qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum.

Hæc quotiescumque fecérit, in mei memóriam faciétis.

Vos deu graças, aben+çoou-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo:

“TOMAI E BEBEI DELE TODOS VÓS, POIS ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE, do Sangue da nova e eterna Aliança: (Mistério da Fé!), o qual será derramado por amor de vós e de todos os homens para a remissão dos pecados.

Todas as vezes que isto fizerdes, fazei-o em memória de mim.”

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47a – Nas orações precedentes o sacerdote rezou em nome da Igreja e em nome de Cristo, agora, conforme Santo Ambrósio, é o próprio Jesus Cristo, Sumo e eterno Sacerdote, que fala no sacerdote e o sacerdote fala in persona Christ. O sacerdote se identifica com a Pessoa de Jesus

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fazendo o que Ele fez na última Ceia e pronunciando as palavras da Consagração em primeira pessoa (eu = meu Corpo, meu Sangue) e não em terceira (ele = o Corpo dEle, o Sangue dEle). Porém, ao mesmo tempo em que Cristo fala no sacerdote, este cerca as palavras do Senhor de reverência e honras (p. ex: “suas santas e veneráveis mãos”; “olhos ao Céu, a Vós, Deus, Seu Pai omipotente”).

47b – A Consagração das oblatas é o ponto alto da Santa Missa, nela renova-se a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de modo sempre novo e atual, mas incruento; nela atualiza-se a Paixão redentora do Cordeiro de Deus. Imediatamente após a Consagração o sacerdote é o primeiro a adorar Jesus presente no altar com genuflexão. Depois eleva-O para a adoração silenciosa dos presente. Estas elevações das Espécies Santíssimas foram introduzidas ao longo de séculos. Primeiramente só a Hóstia Santíssima era elevada, já pelo século XII, e adorada com uma inclinação de cabeça. No século XIII o Santíssimo Sacramento começou a ser incensado durante a elevação (o que se generalizou nos dois séculos seguintes) e, no século XIV o Santíssimo Sangue de Cristo passou a ser elevado igualmente para a adoração dos presentes. No século XVI o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor já eram adorados com a genuflexão.

O celebrante continua as orações do Cânon:

Unde et memores 48, Domine, nos servi tui sed et plebs tua sancta, eiusdem Christi Filii tui Domini nostri tam beatæ Passionis, nec non et ab inferis Resurrectionis, sed et in cælos gloriosæ Ascensionis: offerimus præclaræ maiestati tuæ de tuis donis ac datis, hostiam + puram, hostiam + sanctam, hostiam + immaculatam, Panem + sanctum vitæ æternæ, et Calicem + salutis perpetuæ.

Por este motivo, Senhor, nós, vossos servos, e o vosso povo santo, recordando a feliz Paixão do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, bem como a sua Ressurreição de entre os mortos e a sua gloriação Ascensão aos céus, oferecemos à vossa preclara Majestade, dos dons de que Vós próprio nos fixestes mercê, a Hóstia + pura, a Hóstia + santa, a Hóstia + imaculada, o Pão + santo da vida eterna e o Cálice + da eterna salvação.

Supra quæ 49 propitio ac sereno vultu respicere digneris; et accepta habere, sicuti accepta habere dignatus es munera pueri tui justi Abel, et sacrificium Patriarchæ nostri Abrahæ: et quod tibi obtulit summus sacerdos tuus Melchisedech, sanctum sacrificium, immaculatam hostiam.

Sobre estas ofertas, dignai-Vos lançar olhar propício e complacente; aceitai-as, assim como Vos dignastes aceitar os dons do justo Abel, vosso servo, o sacrifício de Abraão, nosso pai, e o que vos ofereceu o vosso sumo sacerdote Melquisedeque, sacrifício santo, hóstia imaculada.

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48 – Esta oração é uma resposta ou cumprimento da ordem do Senhor (Fazei isto em memória de Mim). Por isso, o sacerdote responde, com esta oração, à ordem do Senhor de três modos: 1 – recordando, com palavras, o Sacrifício cruento do Senhor e Sua glorificação (beatæ Passionis, nec non et ab inferis Resurrectionis, sed et in cælos gloriosæ Ascensionis); 2 – recordando, como memorial (de fato), o Sacrifício da Cruz e atualizando-o sobre o altar (que já aconteceu na Consagração!), ou seja, constituindo o Sacrifício do altar como o único e mesmo Sacrifício de Cristo realizado na Cruz; 3 – recordando, simbolicamente a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo com as cinco cruzes feitas sobre as Santas Espécies.

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49 – “De novo o celebrante pede a Deus que se digne aceitar este Sacrifício ‘com rosto propício e sereno’ como aceitou os sacrifícios prefigurativos antigos de Abel, que ofereceu um cordeiro, de Abraão, que ofereceu o seu filho, e de Melquisedeque, que ofereceu pão e vinho, é que se digne conceder aos suplicantes as virtudes da inocência, da fé firme e da santidade, com que estes três santos varões agradaram a Deus e se ofereceram em holocausto” (J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 523, p. 255).

Profundamente inclinado, o celebrante diz:

Supplices te rogamus 50, omnipotens Deus, jube hæc perferri per manus sancti Angeli tui in sublime altare tuum, in conspectu divinæ majestatis tuæ: ut quoquot ex hac altaris partecipatione sacrosanctum Filii tui Cor+pus, et San+guinem sumpserimus, omni benedictione cælesti et gratia repleamur. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.

Suplicantes Vos rogamos, Deus onipotente, façais que estas ofertas sejam levadas pelas mãos do vosso Santo Anjo para o vosso sublime Altar, à presença da vossa divina Majestade, a fim de que todos nós, que, comungando deste altar, recebermos o sacrossanto Cor+po e San+gue do vosso Filho, sejamos cumulados de todas as bênçãos e graças celestes. Por Jesus Cristo Senhor nosso. Amém.

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50 – O sacerdote suplica que o Santo Anjo de Deus leve a oferta do Santo Sacrifício à presença da divina Majestade no Céu. Este Anjo pode ser entendido como sendo um Anjo em particular, mas também como os coros dos Anjos. Esta apresentação a Deus no Céu tem por finalidade a concessão de todas as graças e bençãos aos presentes na Santa Missa.

Memento dos defuntos:

Memento etiam 51, Domine, famulorum famularumque tuarum N. et N. qui nos præcesserunt cum signo fidei, et dormiunt in somno pacis Ipsis,

Lembrai-Vos também, Senhor, dos vossos servos e servas..., que nos precederam, marcados com o sinal da fé, e agora dormem no sono da paz. A estes,

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Domine, et omnibus in Christo quiescentibus, locum refrigerii, lucis et pacis, ut indulgeas, deprecamur. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.

Senhor, e a todos aqueles que repousam em Cristo, Vos pedimos concedais misericordiosos o lugar do refrigério, da luz e da paz. Pelo mesmo Jesus Cristo Senhor nosso. Amém

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51 – O sacerdote reza agora pelas almas do Purgatório (Igreja Purgante ou Padecente). Ao dizer “Per eumdem Christum Dominum nostrum (pelo mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor)” o sacerdote inclina a cabeça. Esta inclinação tem muitos significados e muitos tentam explicá-la. Para nós, no entanto, parecer ser a mais católica e própria da Liturgia, a explicação que diz ser esta inclinação do sacerdote uma veneração à morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu Sua vida pela salvação das almas e, ainda, que significa a descida de Jesus aos infernos para, de lá, tirar as almas pelas quais Ele deu a vida e lá se encontravam esperando o dia da salvação.

O celebrante bate no peito, dizendo:

Nobis quoque peccatoribus 52, extensis manibus ut prius, secrete prosequitur: famulis tuis, de multitudine miserationum tuarum sperantibus, partem aliquam, et societatem donare digneris, tuis sanctis Apostolis et Martyribus: cum Joanne53, Stephano54, Matthia55, Barnaba56, Ignatio57, Alexandro58, Marcellino59, Petro60, Felicitate61, Perpetua62, Agatha63, Lucia64, Agnete65, Cæcilia66, Anastasia67, et omnibus Sanctis tuis: intra quorum nos consortium non æstimator meriti, sed veniæ, quæsumus, largitor admitte. Per Christum Dominum nostrum.

Per quem hæc omnia Domine, semper bona creas, sancti+ficas, vivi+ficas, bene+dicis, et præstas nobis.

A nós também, pecadores, vossos servos, confiados nas vossas infinitas misericórdias, dignai-Vos conceder entremos a fazer parte da sociedade dos vossos Santos Apóstolos e Mártires, João, Estevão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia e de todos os vossos Santos em cujo consórcio Vos pedimos nos admitais com vossa liberalidade, não já em consideração dos nossos méritos, mas sim pela vossa indulgência. Por Jesus Cristo Senhor nosso. Amém.

Por Ele, Senhor, criais sempre todos estes bens, os santi+ficais, vivi+ficais, aben+çoais, e no-lo concedeis.

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52 – Com esta oração o sacerdote pede que ele e os presentes participem da alegria dos Santos. A enumeração dos Santos que segue é como que uma continuação daquela feita na memória dos Santos (communicantes).

53 – Este é São João Batista, o precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

54 – Santo Estevão foi um dos sete diáconos escolhido pelos Apóstolos (cf. At 6,3-6;7,55-60). Foi ele o primeiro, depois de São João Batista e do próprio Jesus Cristo, a morrer pela nova e eterna religião (Igreja) de Deus.

55 – São Matias Apóstolo, foi escolhido pelos onze Apóstolos para substituir o lugar do infeliz Judas e tounou-se grande e zeloso no colégio apostólico (cf. At 1,21-26).

56 – São Barnabé, é venerado como Apóstolo por seu grande zelo apostólico. Ele apresentou São Paulo Apóstolo aos onze apóstolos três anos após a conversão do antigo Saulo. Depois separou-se de São Paulo e foi para Chipre (cf. At 11,21-26).

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57 – Santo Inácio foi bispo de Antioquia. Condenado às feras, foi enviado a Roma. Escreveu cartas cheias de emoção e fé demonstrando seu amor a Jesus. Sofreu o martírio por volta do ano 110 e desde cedo foi venerado na Igreja.

58 – Santo Alexandre I foi Papa do ano 107 ao ano 119, quando sofreu o martírio.

59 – São Marcelino foi sacerdote em Roma e sofreu o martírio durante a perseguição de Diocleciano pelos anos 303-304. Constantino mandou construir uma basílica em sua honra.

60 – São Pedro era exorcista romano. Sofreu o martírio durante a perseguição de Diocleciano por volta do ano 303. Constantino mandou construir uma basílica em sua honra por causa de sua luta pela paz da Igreja.

61-62 – Santa Perpétua e Santa Felicidade são duas mulheres de Cartago que sofreram o martírio na perseguição de Septímio Severo, no ano 203. A paixão dessas duas Santas são uma das mais belas e radicais da Igreja Católica. Suas festas já eram celebradas em Roma pelos anos 330-350.

63 – Santa Águeda ou Ágata, foi uma virgem siciliana que sofreu o martírio por volta do ano 251, provavelmente na perseguição de Décio, em Catania, na Sicília. Seu culto se propagou rapidamente em toda a Igreja.

64 – Santa Luzia foi uma virgem siciliana que sofreu o martírio no ano 304, na perseguição de Diocleciano. Seu culto se espalhou rapidamente pela Igreja. Só em Roma existem pelo menos 20 igrejas em sua honra.

65 – Santa Inês foi uma virgem romana de apenas 13 anos de idade, que sofreu o martírio no principio do século IV, ano 304. Santo Ambrósio e São Dâmaso a elogiaram por seu testemunho de amor a Jesus. A filha mais velha de Constantino mandou construir sobre seu túmulo um belo templo que se conserva até hoje. É na sua basílica que, todos os anos, o Santo Padre benze os dois cordeiros brancos dos quais sairão a lã para a fabricação dos pálios para os arcebispos.

66 – Santa Cecília, provavelmente casada com Valeriano (?), sofreu o martírio em data incerta, o mais provável é que tenha acontecido no ano 203, mas as fontes (não muito seguras) fazem crer que tudo aconteceu no pontificado do Papa Urbano I (222-230). O certo é que seu culto se espalhou rapidamente em Roma. Seu corpo foi descoberto no ano 822 e transladado para sua basílica titular no Transtevere.

67 – Santa Anastácia sofreu o martírio durante a perseguição de Diocleciano, no início do século IV. Ela foi queimada em Sirmium, na Iugoslávia, e foram os seus restos mortais para Roma.

DOXOLOGIA FINAL

PER IP+SUM68, ET CUM IP+SO, ET IN IP+SO, EST TIBI DEO PATRI + OMNIPOTENTI, IN UNITATE + SPIRITUS SANCTI, OMNIS HONOR ET GLÓRIA,

POR E+LE, COM E+LE E N+ELE, A VÓS, DEUS PAI + ONIPOTENTE, NA UNIDADE DO + ESPÍRITO SANTO, TODA A HONRA E TODA A GLÓRIA

O sacerdote celebrante termina em voz alta:

PER OMNIA SÆCULA SÆCULORUM.

POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS.

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68 – O Cânon da Santa Missa termina com esta doxologia, na qual Jesus é o centro (origem) de todas as coisas (“por Ele, com Ele e n’Ele”), e com a qual é louvado o Santíssimo Padre Eterno, em Cristo, no Espírito Santo. Com esta doxologia é dada a Deus a maior honra possível: Seu próprio Filho Jesus, o Cristo!

Durante este louvor final do Cânon o sacerdote faz três cruzes sobre o cálice, como que querendo unir e sujeitar tudo a Jesus por meio e virtude de Sua Cruz; faz ainda uma cruz fora do cálice em honra ao Padre Eterno que nos deu Seu Filho em Sacrifício, e uma outra cruz é feita fora do cálice em honra do divino Espírito Santo por ter realizado a gloriosa encarnação de Jesus Cristo no seio Virgem de Maria Santíssima e feito Ele descer do seio do Pai ao altar.

R. Amen. Amém.

COMUNHÃO

Participação no Sacrifício “Pater Noster”. Terminado o Cânon, o celebrante diz em voz alta:

OREMUS.

Præceptis salutaribus moniti, et divina institutione formati, audemus dicere:

OREMOS.

Advertidos pelos preceitos do Salvador e instruídos pelos divinos ensinamentos, ousamos dizer:

Pater noster 69a, qui es in cælis: sanctificetur nomen tuum: adveniat regnum tuum: fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra. Panem nostrum quotibianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in tentationem,

Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação,

R. sed libera nos a malo.

Amen.69b

______________

mas livrai-nos do mal

Amém.

69a – Conforme São Justino, no século II, o Pater Noster já era parte da Liturgia. São Cirilo de Jerusalém, São Jerônimo e Santo Agostinho seguem-no afirmando que o Pater é parte do rito da Sagrada Comunhão. A oração do Senhor é essencial no rito da Comunhão, pois serve como a oração por excelência da preparação para a Sagrada Comunhão Sacramental. No passado o Pai nosso era rezado logo após a Fração da Santíssima Hóstia. O Papa Gregório Magno o fixou logo após o Cânon.

69b – O sacerdote diz o amen sozinho e em voz baixa porque outrora somente ele rezava o Pai nosso, enquanto que a assembléia rezava apenas o “sed libera nos a malo (mas livrai-nos do mal)”. Assim o amen do celebrante confirmava o pedido dos fiéis (o “livrai-nos do mal”). Hoje é permitido aos fiéis rezarem, sobretudo na Santa Missa rezada, ou cantarem juntamente com o celebrante, mas a forma antiga (só o sacerdote rezar) ainda é um costume muito presente. Este amém foi introduzido na idade média.

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O celebrante diz Amen em voz baixa, e continua:

Libera nos 70, quæsumus, Domine, ab omnibus malis, præteritis, præsentibus, et futuris: et intercedente beata et gloriosa semper Virgine Dei Genitrice Maria, cum beatis Apostolis tuis Petro et Paulo, atque Andrea, et omnibus Sanctis, da propitius pacem in diebus nostris: ut ope misericordiæ tuæ adiuti, et a peccato simus semper liberi, et ab omni perturbatione securi. Per eumdem Dominum nostrum Jesum Christum, Filium tuum. Qui tecum vivit et regnat in unitate Spíritus Sanctis Deus, Per ómnia saecula saeculórum.

R. Amen

Livrai-nos, Senhor, de todos os males, passados, presentes e futuros, e, pela intercessão da bem-aventurada e gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e André, e todos os Santos, dai-nos propício a paz em nossos dias; de modo que, ajudados com os auxílios da vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e assegurados contra toda a perturbação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que, sendo Deus, convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, Por todos os séculos dos séculos.

Amém

______________

70 – Com esta oração o sacerdote, como intercessor do povo diante de Jesus Sumo Sacerdote, desenvolve o último pedido do Pater noster, fazendo assim um tipo de acréscimo (embolismo) ao “livrai-nos do mal”. Por isso, ele recorre à intercessão da sempre Virgem Maria e dos Apóstolos São Pedro, São Paulo e Santo André. Segundo alguns, o nome de Santo André foi acrescentado por devoção particular de São Gregório.

Fração da Hóstia71

O celebrante parte a Hóstia ao meio, de uma das partes tira um pequeno Fragmento que deita no preciosíssimo Sangue, traçando antes, com ele, sobre o Cálice, três vezes, o sinal da cruz, e dizendo:

Pax + Domini + sit semper vobis + cum.

A paz + do Senhor + seja sempre con+vosco.

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu Espírito.

Hæc commixtio 72 et consecratio Corporis et Sanguinis Domini nostri Jesu Christi fiat accipientibus nobis in vitam æternam. Amen.

Que esta mistura sagrada do Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo seja para nós, que os vamos receber, penhor da vida eterna. Amém.

______________

71 – A Fração da Hóstia Santíssima, que na Igreja apostólica denominava toda a celebração do Santo Sacrifício, era uma cerimônia muito demorada porque partiam-se o Pão para a Comunhão de todos os fiéis. A Fração da Hóstia magna trás em si significados e traços de três antigos ritos da Igreja: 1 – a Fração do Pão grande, visto que todos comiam de um único e mesmo Pão eucarístico; 2 – a mistura (intinção) duma Partícula (um Fragmento) do Corpo de Cristo ao preciosíssimo Sangue. Esta Partícula era guardada de uma Missa anterior para a Missa seguinte, indicando que todas as Santas Missas, todos os Santos Sacrifícios do altar são o único e mesmo Sacrifício de Cristo consumado na Cruz, e que a Vítima era uma única e a mesma, Jesus Cristo. Em Roma essa mistura era feita com uma Partícula consagrada pelo Romano Pontífice e

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enviada a todas as igrejas, para significar a unidade e comunhão de todas essas igrejas com a Sé Apostólica; 3 – o ósculo (beijo) da paz que era dado entre toda a assembléia. É por causa destes três antigos ritos e significados que ainda hoje o celebrante parte a Sagrada Hóstia ao meio e, de uma das partes, tira-lhe um Fragmento lançando-o no cálice onde está o Sangue de Cristo. No século VII começou-se o costume de, durante a Fração, cantar o Agnus De (Cordeiro de Deus).

72 – Este rito e oração misteriosa é uma súplica a Jesus para que a Ressurreição d’Ele, e para que Ele, vivo e glorioso, nos dê a vida eterna na glória do Céu. Desde o século V é ensinado que o Pão e o Vinho separados é sinal da frutuosa morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto que esta união (intinção) sacramental das duas Espécies (Corpo e Sangue do Senhor) manifestam, atualizam e representam Sua gloriosa Ressurreição. Jesus está vivo (no Céu e na terra sob as Espécies sacramentais) e Se dá a nós na Comunhão.

AGNUS DEI

O celebrante bate três vezes no peito, dizendo:

Agnus Dei73, qui tollis peccata mundi,

R. Miserere nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,

R. Miserere nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,

R. Dona nobis pacem.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,

Tende piedade de nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,

Tende piedade de nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,

Dai-nos a paz.

Na Quinta-feira Santa, diz-se das três vezes: miserere nobis. - Nas Missas de Defuntos diz-se: Dona eis requiem; à terceira vez: dona eis requiem sempiternam. Não se bate no peito.

______________

73 – “O Agnus Dei foi introduzido pelo Papa Sergio I (+ 701) que, oriundo de família síria, conheceu a Liturgia Oriental com o seu canto à Fração do Pão. Assim se explica porque na Missa do Sábado Santo falta o Agnus Dei. Esta invocação é repetida três vezes desde o século IX.” (J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 535, p. 260).

Inclinado, recita a oração seguinte, pela paz da Igreja, depois da qual se dá, nas Missas solenes, o ósculo da paz. O celebrante dá-o ao diácono, este ao subdiácono, o qual o transmite ao clero presente.

Domine Jesu Christe 74, qui dixisti Apostolis tuis: Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis: ne respicias peccata mea, sed fidem Ecclesiæ tuæ: eamque secundum voluntatem tuam pacificare et coadunare digneris: qui vivis et regnas Deus, per omnia sæcula sæculorum. Amen.

Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos vossos Apóstolos: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz", não olheis os meus pecados, mas para a fé da vossa Igreja; dignai-Vos, como é desejo vosso, dar-lhe a paz e a unidade, Vós que, sendo Deus, viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

______________

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74 – Esta oração é um pedido de paz para a Igreja (Igreja Militante = da terra). É interessante notar que a paz parte de Cristo, que agora está no altar. Por isso, quando chega o momento de dar a paz, o celebrante dá a paz ao diácono e este a transmite aos demais fiéis. Antigamente a paz era dada no principio da Santa Missa, depois foi transferida para antes da Comunhão como uma preparação fraterna antes de receber Jesus Cristo. Nas Missas pelos defuntos omite-se a paz, pois a “paz e a graça” serão aplicadas por Deus às santas almas do Purgatório.

Preparação para a Comunhão

Inclinado sobre o altar, o celebrante recita as duas orações seguintes, como preparação imediata para a Comunhão:

Domine Jesu Christe 75, Fili Dei vivi, qui ex voluntate Patris, cooperante Spiritu Sancto, per mortem tuam mundum vivificasti: libera me per hoc sacrosanctum Corpus et Sanguinem tuum ab omnibus iniquitatibus meis, et universis malis: et fac me tuis semper inhærere mandatis, et a te numquam separari permittas. Qui cum eodem Deo Patre et Spiritu Sancto vivis et regnas Deus in sæcula sæculorum. Amen.

Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que, por vontade do Pai e com a cooperação do Espírito Santo, destes com a vossa morte a vida ao mundo, livrai-me, por este vosso sacrossanto Corpo e Sangue, de todas as minhas iniqüidades e de todos os males; fazei que eu seja sempre fiel cumpridor dos vossos mandamentos e não permitais que jamais me afaste de Vós, que, com o mesmo Deus Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.

Perceptio Corporis tui75, Domine Jesu Christe, quod ego, indignus sumere præsumo, non mihi proveniat in judici-

Que a comunhão do vosso Corpo e Sangue, Senhor Jesus Cristo, que eu, embora indigno, ouso receber, não seja

et condemnationem; sed pro tua pietate prosit mihi ad tutamentum mentis et corporis, et ad medelam percipiendam. Qui vivis et regnas cum Deo Patre in

unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia sæcula sæculorum. Amen.

para juízo e condenação minha, mas antes, pela vossa misericórdia, me sirva de proteção e remédio para a alma e para o corpo. Vós, que sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

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75 – Estas duas orações são preparação pessoal do celebrante para a Sagrada Comunhão. Foram introduzidas no século IX. Na “Domine Jesu Christe” pede-se perdão para os pecados e perseverança até a morte; na “Perceptio Corporis tui” pede-se a graça de Deus para não fazer uma Comunhão sacrílega e para receber os frutos da Comunhão digna. Os fiéis podem se unir ao sacerdote rezando silenciosamente estas duas (ou uma) orações, preparando-se também para a Sagrada Comunhão.

Comunhão do celebrante

O celebrante genuflecte e pegando depois na sagrada Hóstia, diz:

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Panem cælestem accipiam, et nomen Domini invocabo.

Tomarei o Pão do céu, e invocarei o nome do Senhor:

Em seguida bate três vezes no peito, dizendo:

Domine, non sum dignus 76, ut intres sub tectum meum: sed tantum dic verbo, et sanabitur anima mea.

Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada; mas dizei uma só palavra, e a minha alma será salva.

______________

76 – Depois de preparar-se particularmente, o sacerdote se coloca diante do Senhor como o oficial romano que suplicou a misericórdia de Jesus, porém, não se atreveu a recebê-lO em casa porque sabia de sua indgnidade. Assim também, o sacerdote como o centurião diante do mesmo Senhor intercede por si e pelo povo presente, mas reconhece sua indignidade. Por isso, repete três vezes (pois é grande nossa indgnidade!) ao Senhor as mesmas palavras do centurião: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva”. Enquanto se humilha diante do Senhor o sacerdote bate três vezes no peito, reconhecendo seus pecados e suplicando a remissão a fim de que possa receber a Jesus-Hóstia na morada de sua alma.

Faz sobre si o sinal da cruz com a sagrada Hóstia, antes de a comungar:

Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat + animam meam in vitam æternam. Amen.

O Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo + guarde a minha alma para a vida eterna. Amém.

Recolhe-se por uns instantes, e depois recita os seguintes versículos:

Quid retribuam Domino pro omnibus quæ tribuit mihi? Calicem salutaris accipiam, et nomen Domini invocabo.Laudans invocabo Dominum, et ab inimicis méis salvus ero.

Que hei-de eu retribuir ao Senhor por tudo quanto Ele me concedeu? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Em louvores invocarei o Senhor, e livre serei dos meus inimigos.

Toma o preciosíssimo Sangue, fazendo antes sobre si o sinal da cruz, dizendo:

Sanguis Domini nostri Jesu Christi + custodiat animam meam in vitam æternam. Amen.

O Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo + guarde a minha alma para a vida eterna. Amém.

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Comunhão dos fiéis

O celebrante volta-se para o altar, genuflecte e voltando-se pra os assistentes ergue a Hóstia, dizendo:

Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccata mundi.

Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo!

E em seguida, três vezes:

Domine, non sum dignus, ut intres sub tectum meum: sed tantum dic verbo, et sanabitur anima mea.

Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada; mas dizei uma só palavra, e minha alma será salva.

Dirigindo-se à mesa de Comunhão diz a cada um dos comungantes:

Corpus Domini nostri Jesu Christi + custodiat animam tuam in vitam æternam. Amen.

O Corpo de nosso Senhor Jesus Cristo + guarde tua alma para a vida eterna. Amém.

ABLUÇÕES

O celebrante purifica primeiro o Cálice e depois os dedos, e toma as abluções. Entretanto vai dizendo:

Quod ore sumpsimus 77, Domine, pura mente capiamus, et de munere

Com pureza de alma recebamos, Senhor, o que em nossa boca tomamos.

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temporali fiat nobis remedium sempiternum.

Corpus tuum, Domine, quod sumpsi, et Sanguis, quem potavi, adhæreat visceribus meis: et præsta; ut in me non remaneat scelerum macula, quem pura et sancta refecerunt Sacramenta. Qui vivis et regnas in sæcula sæculorum. Amen.

Este dom, que nos foi concedido no tempo, remédio nos seja para a eternidade.

O vosso Corpo, Senhor, que eu comi e o vosso Sangue que eu bebi, se unam às minhas entranhas; refeito que fui com puros e santos sacramentos, fazei que em mim não fique mancha alguma de pecado, Vós, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

______________

77 – Após a Comunhão o sacerdote purifica o corporal, a patena e o cálice. Do corporal é recolhido todo e qualquer Fragmento com a patena; depois purifica-se a patena sobre o cálice, por fim purifica-se o cálice. O cálice é purificado com vinho, os dedos do celebrante com vinho e água. Enquanto faz as abluções o sacerdote reza as orações Quod ore sumpsimus e Corpus tuum pedindo os frutos da Comunhão que recebeu.

Limpa o cálice e deixa-o coberto no meio do altar. Nas Missas solenes, é o subdiácono quem limpa o cálice e o leva para a credência.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO

O celebrante passa para o lado direito do altar, e recita a antífona da Comunhão.

[Ver Missa do dia]

V. Dóminus vobíscum. O senhor seja convosco

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

PÓS-COMUNHÃO 78

À Pós-Comunhão principal da Missa podem, em certos casos, como para a Coleta, juntar-se outras.

[Ver Missa do dia]

... per ómnia sáecula saeculórum.

V. Amen

...por todos os séculos dos séculos.

Amém

______________

78 – Geralmente na oração pós-Comunhão pede-se que os frutos da Santa Missa e da Sagrada Comunhão sejam aplicados aos fiéis.

Despedida

O celebrante volta ao meio do altar, beija-o, e, voltando-se para os fiéis saúda-os:

V. Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco

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R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

V. Ite, Missa est. Em boa hora vos ide.

Ou, nas missas em que omite-se o Glória:

V. Benedicamus Domino. Bendigamos ao Senhor.

R. Deo gratias. Graças a Deus

Ou ainda, nas missas de Réquiem:

V. Requiescant in pace.

R. Amen.

Descansem em paz.

Amém.

Voltando-se para o altar, recita a seguinte oração.

Placeat tibi, sancta Trinitas, obsequium servitutis meæ: et præsta, ut sacrificium quod oculis tuæ maiestatis indignus obtuli, tibi sit acceptabile, mihique, et omnibus pro quibus illud obtuli, sit, te miserante, propitiabile.

Per Christum Dominum nostrum. Amen.

Aceitai com agrado, Trindade Santa, a homenagem deste vosso servo; este sacrifício, que eu, embora indigno, aos olhos da vossa Majestade acabo de oferecer, tornai-o digno de ser aceite e, pela vossa misericórdia, seja causa de propiciação para mim e para todos aqueles por quem ofereci.

[Por Cristo, Nosso Senhor.] Amém.

Beija o altar, volta-se para a assistência, e dá a bênção, dizendo:

Benedicat vos omnipotens Deus: Pater, et Filius, + et Spiritus Sanctus.

Abençoe-vos o Deus onipotente, Pai, Filho, + e Espírito Santo.

R. Amen. Amém

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IV. ÚLTIMO EVANGELHO

O celebrante passa para o lado esquerdo do altar e recita, como último Evangelho, o princípio do Evangelho de São João (que se omite na Quinta-feira Santa e na Vigília pascal).

V. Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco.

R. Et cum spiritu tuo. E também com o teu espírito.

Initium sancti + Evangelii secundum Joannem.

Princípio do santo + Evangelho segundo São João

R. Gloria tibi, Domine. Glória a Vós Senhor.

In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in principio apud Deum. Omnia per ipsum facta sunt, et sine ipso factum est nihil quod factum est; in ipso vita erat, et vita erat lux hominum; et lux in tenebris lucet, et tenebræ eam non comprehenderunt.

Fuit homo missus a Deo cui nomen erat Joannes. Hic venit in testimonium, ut testimonium perhiberet de lumine, ut omnes crederent per illum. Non erat ille lux, sed ut testimonium perhiberet de lumine. Erat lux vera quæ illuminat omnem hominem venientem in hunc mundum. In mundo erat, et mundus per ipsum factus est et mundus eum non cognovit. In propria venit, et sui eum non receperunt. Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri; his qui credunt in nomine ejus, qui non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis, neque ex voluntate viri, sed ex Deo nati sunt.

(ajoelhar):

ET VERBUM CARO FACTUM EST,

et surgens prosequitur: et habitavit in nobis: et vidimus gloriam ejus, gloriam quasi Unigeniti a Patre, plenum gratiæ et veritatis.

R. Deo gratias.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio em Deus. Tudo começou a existir por meio d’Ele, e sem Ele nada começou a existir do que existe. N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, e as trevas não a sufocaram.

Apareceu um homem enviado por Deus, cujo o nome era João. Veio como testemunho da Luz, a fim de todos acreditarem por seu intermédio. Ele não era a Luz, mas veio para dar testemunho do Luz. [O Verbo] é que era a Luz verdadeira, - aquela que, ao vir ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele; mas o mundo não O reconheceu! Veio ao que era seu, mas os seus não O acolheram! A todos, porém, quantos O receberam, deu Ele o poder de se tornarem filhos de Deus; quer dizer, àqueles que crêem no seu nome, que não nasceram, nem do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas só de Deus.

(ajoelhar):

ORA O VERBO SE FEZ CARNE

e veio habitar entre nós! E nós vimos a sua glória, - glória igual à que o Pai dá ao seu Filho único, cheio de graça e de verdade.

R. Graças a Deus

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V. ORAÇÕES NO FIM DA MISSA REZADA

De joelhos diante do altar, o celebrante diz com os fiéis as seguintes preces prescritas pelo Papa Leão XIII e por Pio XI enriquecidas de indulgências (10 anos). Este último Papa mandou se rezassem pela conversão da Rússia.

Ave Maria (3x)

Ave María, grátia plena, Dóminus técum, benedícta tu in muliéribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatóribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amém

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é Convosco, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

Salve Regina

Salve Regína, Mater Misericórdia, vita, dulcédo et spes nostra salve. Ad te clamámus, éxsules fílii Evæ. Ad te suspirámus gementes et flentes in hac lacrimárum valle. Eia ergo, advocate nostra, illos tuos misericórdes óculos ad nos converte. Et Jesum, benedíctum fructum ventris tui, nobis, post hoc exsílium, osténde. O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria!

V/.Ora pro nobis Sancta Dei Génitrix

R/. Ut digni efficiámur promissionibus Christi.

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei; e depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.

V/. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.

R/. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremus Oremos

Deus, refugium nostrum et virtus, populum ad te clamantem propitius respice; et intercedente gloriosa et imaculata Virgine Dei Genitrice Maria, cum beato Joseph, ejus sponso, ac beatis apostolis tuis Petro et Paulo, et omnibus sanctis, quas pro conversione peccatorum, pro libertate et exaltatione sanctæ Matris Ecclesiæ, preces effundimus, misericors et benignus exaudi. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen

Deus, nosso refúgio e fortaleza, olhai propício para o povo que a Vós clama; e, pela intercessão da gloriosa e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, de São José, seu Esposo, dos Vossos Bem-Aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e de todos os Santos, ouvi misericordioso e benigno as preces que Vos dirigimos para a conversão dos pecadores, para a liberdade e exaltação da Santa Madre Igreja. Por Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém.

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São Miguel arcanjo

Sancte Michael + Archangele, defende nos in prælio; contra nequitiam et insidias diaboli esto præsidium.

Imperet illi Deus, supplices deprecamur: Tuque, Princeps militiæ cælestis, Satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude. Amen.

São Miguel + Arcanjo, protegei-nos no combate, sede o nosso refúgiu contra as maldades e as ciladas do Demônio.

Ordene-Lhe Deus, instantemente Vos pedimos. E vós Príncipe da Milícia Celeste, pela Virtude divina, precipitai ao Inferno Satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perderem as almas. Assim seja.

São Pio X pediu que se ajuntasse três vezes a seguinte jaculatória:

V/. Cor Jesu sacratíssimum V/. Sacratíssimo Coração de Jesus.

R/. Miserere nobis R/. Tende piedade de nós.

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Capítulo 8

O RITO GREGORIANO A PARTIR DO SANTO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II

Como temos visto, o Rito Gregoriano foi durante séculos o Rito Ordinário da Santa Igreja Católica no Ocidente97. Mas com a reforma realizada em 1970 não podemos negar que, desde então, a Igreja celebra o Santo Sacrifício com outra forma de Rito. Esta situação, muitas vezes complicada e delicada, foi objeto de muitas reflexões no sentido de a Igreja entender o novo jeito de prestar o verdadeiro culto a Deus.

A reforma litúrgica trouxe à Igreja coisas antigas e novas, ou seja, deu à Igreja uma amplitude do tesouro litúrgico de forma atualizada, oferecendo a oportunidade de uma renovação interna (consciência litúrgica) e externa (o novo rito). Porém, “não faltam sombras”.98

I. Linhas gerais da Sacrossanctum Concilium

A Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, datada de 4 de dezembro de 1963, promulgada pelo Santo Padre Paulo VI foi o primeiro documento conciliar e, pelo que se sabe, teve a mais rápida aprovação daquele Concílio. Como sabemos, no Vaticano II não houve uma reforma litúrgica propriamente dita,99 mas nesta Constituição foram dados os princípios e linhas gerais para a posterior restauração e estímulo100 da Liturgia da Igreja. A reforma, tal como a temos hoje, se deu claramente em 1969-1970, com a promulgação do novo Missal Romano.

Conforme a Sacrossanctum Concilium, todos os ritos legitimamente reconhecidos são dignos do respeito e veneração, devendo assim ser promovidos101, tendo em vista que os ritos são formas da Liturgia da Igreja, na qual os fiéis devem se reunir para participarem do Sacrifício de Nosso Senhor102. Nesta “participação” querida pelo Concílio os fiéis devem, na retidão do espírito, unir a mente às palavras que pronunciam, isto é, que os fiéis participem da Liturgia “de maneira ativa e frutuosa, sabendo o que estão fazendo”103.

A Sacrossanctum Concílium, entre outras coisas, lembrou que regular a Sagrada Liturgia compete unicamente à autoridade da Igreja, ou seja, a Sé Apostólica e, segundo as normas do direito, ao Bispo diocesano e que ninguém mais, nem mesmo os sacerdotes podem, ousadamente, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria de liturgia.104 E que para a conservação da Sagrada Tradição deveria ser levado em conta as leis gerais da estrutura e do espírito da Liturgia, a experiência adquirida

97 Ordinário não porque existisse um outro Rito para toda a Igreja, mas levando em conta aqueles oito Ritos

particulares que já vimos. 98 Cong. CULTO DIVINO, Redemptionis Sacramentum, n. 4, p. 7. 99 É bom lembrarmos que durante todo o Concílio Vaticano II a Santa Missa era celebrada no Rito Gregoriano! 100 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 1.3, p. 5-6. 101 Ibid, n. 3, p. 7. 102 Ibid, cap. I, n. 11, p. 15. 103 Ibid, cap. I, n. 11, p. 15-16. 104 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 22, p. 21-22.

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nas recentes reformas litúrgicas e nos indultos concedidos, não se introduzindo inovações, a não ser para uma utilidade autêntica e certa da Igreja.105

Para a posterior reforma litúrgica o Concílio Vaticano II determinou:

1. A revisão dos livros litúrgicos, sob a competência de pessoas idôneas e dos Bispos.106

2. que a celebração comunitária tem preferência à celebração privada e que a celebração privada não pode ser contestada na sua natureza pública e social.107

3. que nas rubricas os livros litúrgicos devem prever as ações dos fiéis tais como as aclamações, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, gestos e atitudes corporais (que o Concílio identificou como participação ativa).108

4. que o rito não precisa de muitas explicações e deve-se evitar as repetições.109

5. a leitura da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas de modo mais abundante.110

6. a promoção da celebração da Palavra de Deus nas vigílias das grandes datas, sobretudo na ausência do presbítero.111

7. que a língua litúrgica da Igreja é o latim, devendo-se conserva o seu uso, respitanto o direito particular.112

8. conceder à língua vernácula lugar mais amplo, especialmente nas leituras e admoestações, em algumas orações e cantos.113

9. que o centro de unidade de vida na diocese é o bispo, sumo-sacerdote do seu rebanho, de quem deriva e depende, de algum modo, a vida de seus fiéis em Cristo.114

10. revisão no Ordinário da Missa; simplificação dos ritos; omissão de ritos menos importantes; restauração de normas antigas dos Santos Padres.115

11. maior freqüência da homilia na Santa Missa e que não deve omitir-se, sem motivo grave, nas Missas dos domingos e festas de preceito, participadas pelo povo.116

12. a restauração, especialmente nos domingos e festas de preceito, da oração dos fiéis, nas quais deve-se faazer preces pela Santa Igreja, pelos que nos

105 Ibid, n. 23, p. 22. 106 Ibid, n. 25, p. 23. 107 Ibid, n. 27, p. 24. 108 Ibid, n. 30, p. 25. 109 Ibid, n. 34, p. 26. 110 Ibid, n. 35, 1, p. 26. 111 Ibid, n. 35, 4, p. 27. 112 Ibid, n. 36, p. 27. 113 Ibid, n. 36, p. 28. 114 Ibid, n. 41, p. 30. 115 Ibid, n. 50, p. 34. 116 Ibid, n. 52, p. 35.

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governam, pelos necessitados, por todos os homens e pela salvação do mundo.117

13. que a língua vernácula pode, nas Missas com o povo, ser usada, sobretudo nas leituras e na oração dos fiéis e, segundo as diversas circunstâncias dos lugares, nas partes que pertencem ao povo. Porém, que seja providenciado que os fiéis possam rezar ou cantar, em latim, as partes do Ordinário da Missa que lhes competem.118

14. a Comunhão dos fiéis, depois da Comunhão do sacerdote, pode ser dada sob as duas Espécies em algumas datas definidas pela Santa Sé e pelo Ordinário local, respeitando-se, porém, os princípios dogmáticos estabelecidos pelo Concílio de Trento.119

15. a concelebração da Santa Missa, manifestando a unidade do sacerdócio. Esta faculdade de concelebrar é dada, por exemplo, em casos como: na quinta-feira da Ceia do Senhor, nas Missas dos Concílios, Conferências episcopais e Sínodos; em datas com licença do Ordinário, a quem compete julgar da oportunidade da concelebração: na Missa conventual e nas Missas celebradas por ocasião de qualquer espécie de reuniões de sacerdotes, tanto seculares como religiosos. Porém, na diocese, fora destas datas, é o Bispo quem deve regular a disciplina da concelebração. Contudo, mantem-se a faculdade de qualquer sacerdote celebrar individualmente.120

16. a restauração do catecumenado; do rito do Batismo de adultos; do rito do Batismo de crianças, dando maior realce à parte e deveres dos pais e padrinhos; do rito da Confirmação; do rito da Penitência; da Extrema Unção, que é melhor ser chamada de Unção dos Enfermos; do dos ritos da Ordem e do rito do Matrimónio.121

17. restauração dos ritos sacramentais, podendo-se usar o vernáculo de modo mais amplo. Assim como a reforma da profissão religiosa e dos funerais.122

18. que as Laudes e as Vésperas devem ser consideradas como as principais Horas canônicas; as Completas devem adaptar-se com o fim do dia; as Matinas (Oficio das Leituras) devem adaptar-se para ser recitadas a qualquer hora do dia; a Hora de Prima seja supressa; das Horas Tércia, Sexta e Noa (das Nove Horas, do Meio-dia e das Quinze Horas) pode-se escolher uma para a recitação individual que corresponda com a hora do dia.123

19. o Ofício completo é obrigatório para as Ordens de Cónegos, de Monges e Monjas e de outros Regulares que por direito ou constituições estão obrigados ao coro.124

117 Ibid, n. 53, p. 35. 118 Ibid, n. 54, p. 36. 119 Ibid, n. 55, p. 36. 120 Ibid, n. 57, p. 37-38. 121 Ibid, n. 64-68.71-78, p. 41-45. 122 Ibid, n. 62.79-82, p. 40.45-46. 123 Ibid, n. 89, p. 49. 124 Ibid, n. 95, p. 52.

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20. os clérigos não obrigados ao coro, se já receberam Ordens maiores, são obrigados a recitar diariamente, em comum ou individualmente, o Ofício.125

21. a língua, conforme a Tradição secular, a usar no Ofício Divino é o latim. Porém, o Ordinário poderá, conceder, em casos particulares, aos clérigos para quem o uso da língua latina for um impedimento grave, a faculdade de usarem uma tradução em vernáculo.126

22. que a ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto e a presença dos ministros sagrados e participação ativa do povo.127

23. promovam-se com empenho, sobretudo nas igrejas catedrais, as “Scholae cantorum”.128

24. o canto próprio da Liturgia romana é o canto gregoriano; por isso, na ação litúrgica, tem o primeiro lugar.129

25. tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimônias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus; podendo-se usar no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente, contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.130

26. os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas.131

Estes princípios foram a base da interpretação sobre o modo de proceder as reformas litúrgicas que culminaram com a promulgação do novo Missal Romano.

II. As reformas de 1970

Após o Vaticano II surgiram as mudanças, ou melhor, as aplicações da Constituição Sacrossanctum Concílium. Aqui não nos deteremos nas Instruções para a reta aplicação da Sacrossanctum, apenas lembraremos as mudanças.

As primeiras aplicações surgiram com novos missais (na verdade tipos experimentais de missais, pois foram em pouco tempo reformulados e reparados alguns “erros”) que traziam praticamente o mesmo Rito do Missal de 1962, porém nas línguas vernáculas, conservando apenas orações particulares do sacerdote em latim. Depois começaram com supressões de cerimônias como as orações ao pé do altar, o duplo confiteor no início. Em seguida vieram as grandes mudanças que resultaram no novo Missal

125 Ibid, n. 96, p. 52. 126 Ibid, n. 34, p. 26. 127 Ibid, n. 114, p. 62. 128 Ibid, n. 115, p. 62. 129 Ibid, n. 116, p. 63. 130 Ibid, n. 120, p. 64-65. 131 Ibid, n. 121, p. 65.

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Romano. Segundo este novo Missal Romano o novus ordus se apresentou do seguinte modo:

RITOS INICIAIS - Entrada - Saudação do altar e da assembléia - Ato penitencial - Kýrie, eleison - Glória in excelsis - Oração coleta

LITURGIA DA PALAVRA - Leituras bíblicas - Salmo responsorial - Aclamação antes da leitura do Evangelho - Evangelho - Homilia - Profissão de fé - Oração universal

LITURGIA EUCARÍSTICA - Prefácio - Oração Eucarística - Rito da Comunhão - Oração dominical - Rito da paz - Fração do pão - Comunhão RITO FINAL - Notícias breves - Saudação e bênção do Sacerdote - Despedida da assembléia - Beijo no altar por parte do Sacerdote e do diácono - Saída

No novo Missal não estava presente a obrigatoriedade do latim nem se explicitava a orientação do sacerdote. Talvez por isso os sacerdotes “tiveram preferência” pela língua vernácula e pela Missa versus populum (de frente para o povo). Mas isso não anula a realidade muitas vezes vistas na época e hoje comentada na qual o ritus modernus (rito moderno, novo) foi imposto (não raramente com severidade) a sacerdotes e fiéis que não queriam abandonar o Rito de Sempre.

Como declarou a Sagrada Congregação para o Culto Divino “não há dúvida de que a reforma litúrgica do Concílio trouxe grandes vantagens para uma participação mais consciente, ativa e frutuosa dos fiéis no Santo Sacrifício do altar”, porém, “não

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faltam sombras”132, ou seja, não basta a reforma em si mesma, é necessário uma reta leitura e aplicação. É isso que devemos buscar na Igreja hoje, uma reta aplicação da reforma litúrgica, conforme a Santa Sé e o Ordinário Local que são os únicos competentes para regulamentar a Liturgia.133

III. A quase extinção do Rito Gregoriano

Pelo que vimos na Sacrossanctum Concílium e se encontra em documentos posteriores, nunca se pretendeu criar um novo Rito Romano nem, depois da reforma, houve uma proibição para o Rito Gregoriano134. Porém, como já dissemos, houve grande aceitação do Missal pós Vaticano II.

O desejo de que todos os fiéis conhecessem o novus ordus e que ele não fosse ofuscado pelo ordus pré e conciliar 135 o Rito Gregoriano foi “colocado de lado”, pois, na euforia da renovação, procurava-se a modernização não só da Missa, mas da Igreja (clero e fiéis). Como já foi dito136 desde o início das reformas, não obstante a aceitação da maioria, comunidades e grupos de fiéis não aceitavam a nova forma de celebrar a Santa Missa137. Por isso, logo começou-se a identificar os que queriam a Missa Gregoriana como sendo anti-Vaticano ou anti-reforma litúrgica138. Por causa disso muitos se absteram do antigo Rito, consequentemente o Rito Gregoriano permaneceu praticamente só nas comunidades e grupos que logo foram chamadas de tradicionalistas.

Assim, embora a nova forma da Liturgia romana não tenha (nem possa) anulado a antiga, o Rito Gregoriano permaneceu num estado de “escondimento”, quase que um desconhecido da geração pós reforma. Era conhecido só por aqueles que por si mesmo o procuravam, sobretudo pelos meios de comunicação, e pelos que o guardavam. Quase 40 anos depois do último Missal, o Rito Gregoriano permaneceu só no sonho dos fiéis e sacerdotes. São quase quarenta anos de um “profundo sono” para o Rito bimilenar, enquanto o Rito promulgado pelo Papa Paulo VI se tornou o Rito Ordinário para toda a Igreja Latina!

Capítulo 9

O RITO GREGORIANO COMO FORMA EXTRAORDINÁRIA DO RITO ROMANO

Depois de longo “sono” o Rito Gregoriano, por causa da fidelidade de fiéis e bem espiritual dos mesmos, o Sumo Pontífice João Paulo II em 1984 aprovou um indulto

132 JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Vicesimus quintus annus, nn. 12-13; Carta Encíclica Ecclesia de

Eucharistia, n. 21 apud Cong. CULTO DIVINO, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 4, p. 7. 133 Cf. PAULO VI, Sacrossanctum Concílium, n. 22, p. 21. 134 BENTO XVI, Summorum Pontificum, art. 1, pp. 9.16 na Carta que acompanha o Motu Proprio dirigida aos

bispos. 135 Ou seja, usado antes e durante o Concílio. 136 Conferir introdução deste livreto. 137 Destes alguns não aceitavam de modo algum a “nova Missa”, outros aceitavam, respeitava, desejavam, mas

não queriam deixar de celebrar também no Rito Gregoriano. 138 O que não é verdade, pois um número não poucos de fiéis permaneceram aderidos com amor às formas

litúrgicas anteriores (cf. BENTO XVI, Motu Proprio Summorum Pontificum, p. 8) sem rejeitar a nova forma regulamentada pelo Concílio Vaticano II.

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especial (Quattuor abhinc annos) dando a faculdade de os sacerdotes usarem, quando solicitados, o Missal Romano publicado por João XXIII em 1962. Este foi o primeiro sinal de uma conciliação do Rito Romano. Em 1988 o mesmo João Paulo II, no Motu Proprio Ecclesia Dei, exortou aos Bispos para que fizessem uso mais amplo desta faculdade em favor dos fiéis que o solicitassem.

Este indulto e esta exortação do Papa João Paulo II são louváveis. Mas, se a Missa Gregoriana nunca foi proibida, por que precisar de um indulto, uma permissão, uma faculdade especial para celebrá-la? Esta foi a pergunta a que, então, entre os fiéis e interessados, procuravam uma resposta satisfatória. Mas no fim das contas foi um passo favorável dado para uma futura estabilização do Rito Romano.

I. Motu Proprio do Romano Pontífice Bento XVI

Desde o início do Pontificado do Papa Bento XVI tem-se notado uma preocupação no sentido de ordenar a vida litúrgica pós reforma, ou ainda, de esclarecer a Igreja sobre a initerrupta tradição litúrgica continuada na obra do Vaticano II e aplicada em 1970.

Para maior facilidade na compreensão desta ordenação do Rito Romano trascreveremos a versão do Motu Proprio Summorum Pontificum, de Bento XVI. Nele se encontra a atual disciplina para a celebração da Santa Missa no Rito Gregoriano e a autoridade a respeito do direito (dos sacerdotes e fiéis) de acesso a esta forma bimilenar da Liturgia da Igreja. Vejamos:

CARTA APOSTÓLICA SOB A FORMA DE MOTU PROPRIO

SUMMORUM PONTIFICUM

Sobre o uso da Liturgia Romana anterior à reforma realizada em 1970 Os Sumos Pontífices até nossos dias procuparam-se constantemente para que a Igreja de

Cristo oferecesse à Divina Majestade um culto digno de “louvor e glória a seu nome” e “do bem de toda sua Santa Igreja”.

Desde tempos imemoriais, como também para o futuro, é necessário manter o princípio segundo o qual “cada Igreja particular deve estar de acordo com a Igreja universal não só quanto à doutrina da fé e os sinais sacramentais, mas nos usos universalmente aceitos pela tradição apostólica e initerrupta, que devem ser observados não só para evitar os erros, mas também para transmitir a integridade da fé, de modo que a regra da oração da Igreja corresponde à sua regra de fé.”139

Entre os Pontífices que tiveram essa preocupação ressalta o nome de São Gregório Magno, que se esforçou por transmitir aos novos povos da Europa tanto a fé Católica como os tesouros do culto e a cultura acumulados pelos romanos nos séculos precedentes. Ordenou que fosse definida e conservada a forma da Sagrada Liturgia, relativa tanto ao Sacrifício da Missa como ao Ofício Divino, no modo em que se celebrava na Urbe.140 Promoveu com a máxima atenção a difusão dos monges e monjas, que, agindo segundo a Regra de São Bento, sempre junto com o anúncio do Evangelho, exemplificaram com sua vida a tão salutar máxima da Regra: “Nada se anteponha à obra de Deus” (cap. 43). Dessa forma a Sagrada Liturgia, celebrada segundo o uso romano, enriqueceu não só a fé e a piedade, mas também a cultura de

139 É evidente o chamado à obediência que o Santo Padre faz com esta citação. Verdadeiramente devemos

obedecer. Roma falou, acabou-se a questão! 140 Cidade (referente a Roma).

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muitas populações. Consta efetivamente que a liturgia latina da Igreja em suas várias formas, durante todos os séculos da era cristã, impulsionou na vida espiritual a numerosos Santos e fortaleceu a tantos povos na virtude da religião, e fecundou sua piedade.

Muitos outros Pontífices Romanos, no transcurso dos séculos, mostraram particular solicitude para que a Sagrada Liturgia manifestasse da forma mais eficaz essa tarefa; dentre eles se destaca São Pio V, que, com grande zelo pastoral, segundo a exortação do Concílio de Trento, renovou todo o culto da Igreja, revisou a edição dos livros litúrgicos emendados e “renovados segundo a norma dos Padres”, e os pôs em uso na Igreja Latina.

Entre os livros litúrgicos do Rito Romano, sobressai o Missal Romano, que se desenvolveu na cidade de Roma e que, pouco a pouco, com o transcurso dos séculos, tomou formas que têm grande semelhança com aquela vigente em gerações mais recentes.

“Este mesmo objetivo buscaram os Pontífices Romanos no curso dos séculos seguintes, assegurando a atualização ou definindo os ritos e livros litúrgicos, e empreendendo, a partir do início deste século, uma reforma mais geral”. Foi desta forma em que atuaram nossos predecessores Clemente VIII, Urbano VIII, São Pio X, Bento XV, Pio XII e o Bem-aventurado João XXIII.

Mais recentemente, porém, o Concílio Vaticano II expressou o desejo de que, com o devido respeito e reverência pelo culto divino, este fosse renovado e adaptado às necessidades de nossa época. Movido por este desejo, nosso Predecessor, o Sumo Pontífice Paulo VI, aprovou em 1970 para a Igreja Latina os livros litúrgicos reformados, e, em parte, renovados. Estes livros foram traduzidos em muitas línguas em muitas partes do mundo e foram acolhidos com muito agrado pelos Bispos, bem como pelos sacerdotes e os fiéis. João Paulo II revisou a terceira edição típica do Missal Romano. Assim os Pontífices Romanos atuaram “para que esse, por assim dizer, edifício litúrgico [...] aparecesse novamente esplêndido em sua dignidade e harmonia”.

Em algumas regiões, contudo, não poucos fiéis aderiram e seguem aderindo com muito amor e afeto às formas litúrgicas anteriores, que haviam embebido tão profundamente sua cultura e seu espírito, que o Sumo Pontífice João Paulo II, movido pela preocupação pastoral em relação a esses fiéis, no ano de 1984, com o indulto especial Quattuor Abhinc annos, emitido pela Congregação para o Culto Divino, concedeu a faculdade de usar o Missal Romano editado pelo Bem-aventurado João XXIII no ano de 1962; depois disso, no ano de 1988, com a Carta Apostólica Ecclesia Dei, dada sob a forma de Motu Proprio, João Paulo II exortou novamente os Bispos a utilizarem ampla e generosamente essa possibilidade em favor de todos os fiéis que a solicitassem.

Tendo ponderado amplamente os insistentes pedidos destes fiéis a nosso Predecessor João Paulo II, tendo escutado os Padres Cardeais no Consistório de 23 de março de 2006, após haver avaliado exaustivamente todos os elementos, invocado o Espírito Santo e pondo nossa confiança no auxílio de Deus, pela presente Carta Apostólica estabelecemos o seguinte:

Art. 1 - O Missal Romano promulgado por Paulo VI é a expressão ordinária da Lex orandi141 da Igreja Católica de rito latino. Contudo, o Missal Romano promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo Bem-aventurado João XXIII deve ser considerado como expressão extraordinária142 da mesma lex orandi e, em razão do seu venerável e antigo uso, goze da devida honra. Estas duas expressões da lex orandi da Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão da Lex credendi143 da Igreja: são, de fato, dois usos do único Rito Romano.

Portanto, é lícito celebrar o Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgada pelo Bem-aventurado João XXIII em 1962, e nunca ab-rogada, como forma extraordinária da Liturgia da Igreja. Contudo, as condições para o uso desse Missal,

141 Ou seja, “Lei da Oração”. Com estas palavras o Santo Padre define o rito de Paulo VI como sendo a Forma

Ordinária do Rito Romano. 142 Da mesma forma Bento XVI define o Rito Gregoriano como sendo a Forma Extraordinária do Rito Romano.

É neste artigo do Papa que usamos terminologias próprias para ajudar a não criar confusão em relação aos dois missais e ritos, designando o Rito antigo como Forma Extraordinária e o rito de Paulo VI como Forma Ordinária.

143 Ou seja, “Lei da Fé”.

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estabelecidas nos documentos anteriores Quattuor Abhinc annos e Ecclesia Dei, serão substituídas pelas seguintes:

Art. 2 – Nas Missas celebradas sem o povo, todo e qualquer sacerdote católico de rito latino, tanto secular como religioso, pode usar seja o Missal Romano editado pelo Bem-aventurado Papa João XXIII em 1962, seja o Missal Romano promulgado pelo Papa Paulo VI em 1970, em qualquer dia, exceto no Tríduo Sacro. Para a celebração segundo um ou outro Missal, o sacerdote não necessita de nenhuma permissão, nem da Sé Apostólica nem do seu Ordinário.

Art. 3 - Se as comunidades dos Institutos de Vida Consagrada ou as Sociedades de Vida Apostólica, de direito tanto pontifício como diocesano, desejam ter a celebração da Santa Missa, na celebração conventual ou “comunitária” em seus oratórios próprios, segundo a edição do Missal Romano promulgado em 1962, lhes é permitido. Se uma comunidade individual ou um Instituto inteiro ou Sociedade deseja ter tais celebrações freqüente, habitualmente ou permanentemente, o assunto deve ser decidido pelos Superiores Maiores, segundo as normas do direito e segundo as leis e os estatutos particulares.

Art. 4 – Às celebrações da Santa Missa a qual se refere o artigo 2, também podem ser admitidos – observadas as normas de direito - os fiéis que o peçam espontaneamente.

Art. 5, § 1º - Nas paróquias onde haja um grupo estável de fiéis aderentes, de maneira estável, à precedente tradição litúrgica, o pároco acolherá de bom grado seu pedido de celebrar a Santa Missa segundo o rito do Missal Romano editado em 1962. deve procurar que o bem desses fiéis se harmonize com a atenção pastoral ordinário da paróquia, sob a direção do Bispo, como estabelece o cânon 392, evitando discórdias e favorecendo a unidade de toda a Igreja.

§ 2 – A celebração segundo o Missal do Bem-aventurado João XXIII pode ocorrer em dia de semana; nos domingos e nas festividades pode haver também uma deste tipo.

§ 3 – O pároco permita também aos fiéis e sacerdotes que solicitem a celebração nessa forma extraordinária em circunstâncias particulares, como matrimônios, exéquias ou celebrações ocasionais, por exemplo, peregrinações.

§ 4 – Os sacerdotes que utilizaram o Missal do Bem-aventurado João XXIII devem ser idôneos e não ter nenhum impedimento jurídico.

§ 5 – Nas igrejas que não são paroquiais nem conventuais, é competência do Reitor conceder a licença anteriormente mencionada.

Art. 6 – Nas Missas celebradas com o povo segundo o Missal do Bem-aventurado João XXIII, as Leituras podem ser proclamadas também em língua vernácula, usando-se edições reconhecidas pela Sé Apostólica.

Art. 7 – Se um grupo de fiéis leigos, como os citados no art. 5 §1, não tiver obtido o que solicitou do pároco, informe ao Bispo diocesano sobre o fato. Pede-se vivamente ao Bispo que satisfaça o desejo deles. Se ele não puder prover tal celebração, o assunto seja referido à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei.

Art. 8 – O Bispo que deseja responder a essas petições dos fiéis leigos, mas que, por diferentes causas se vê impedido de fazê-lo, pode referir o assunto à Comissão Ecclesia Dei que oferecerá conselho e ajuda.

Art. 9, § 1 – Da mesma forma o pároco, após ter considerado bem todos os elementos, pode conceder a licença para usar o ritual mais antigo na administração dos sacramentos do Batismo, do Matrimônio, da Penitência e da Unção dos Enfermos, se o requer o bem das almas.

§ 2 – Aos Ordinários concede-se a faculdade de celebrar o sacramento da Confirmação utilizando o Pontifical Romano antigo, sempre que o requeira o bem das almas.

§ 3 – Aos clérigos constituídos in sacris é lícito usar o Breviário Romano promulgado pelo Bem-aventurado João XXIII em 1962.

Art. 10 – O Ordinário do lugar, se o considerar oportuno, pode erigir uma paróquia pessoal segundo a norma do Canon 518 para as celebrações segundo a forma mais antiga do Rito Romano, ou nomear um capelão, observadas as normas de direito.

Art. 11 – A Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, ereta por João Paulo II em 1988, segue exercendo sua função. Esta Comissão tenha a forma e cumpra as tarefas e as normas de ação que o Romano Pontífice queira atribuir-lhe.

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Art. 12 – A mesma Comissão, além das faculdades de que já goza, exercerá a autoridade da Santa Sé, vigiando sobre a observância e aplicação destas disposições.

Tudo quanto temos estabelecido com esta Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio ordenamos que se considere “estabelecido e decretado” e que se observe a partir de 14 de setembro deste ano, festa da Exaltação da Santa Cruz, não obstante o que possa haver em contrário.

Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia 7 de julho, no Ano do Senhor de 2007, terceiro de nosso Pontificado.

Bento XVI

II. Motu Proprio, nova legislação – recapitulação.

Este Motu Proprio é a nova lei universal para o uso do Missal Romano anterior à reforma litúrgica. Por ele é esclarecido, e estabelecido, que o Missal Romano do Papa Paulo VI é a Forma Ordinária do Rito Romano e o Missal Romano do Bem-Aventurado Papa João XXIII é a Forma Extraordinária do mesmo Rito Romano, por isso deve ter sua devida honra. Assim não é coerente falar de dois ritos romanos (talvez de dois ritos, o Gregoriano e o de Paulo VI que formam um único e mesmo Rito Romano) nem podemos falar do rito da reforma, de Paulo VI, como sendo “o Rito Romano”, mas devemos falar de duas Formas, dois usos do único Rito Romano.

Sendo essas duas as Formas do atual Rito para a Igreja Latina é lícito celebrar a Santa Missa tanto segundo um ou outro Missal Romano. Sendo que todos os sacerdotes católicos podem, na Missa privada, usar o Missal de 1962 sem precisar de nenhuma autorização do Ordinário Local nem da Santa Sé (porém, não faz mal conversar com o Bispo!). Nestas Missas privadas o sacerdote pode admitir todos os fiéis que o pedirem espontaneamente. Contudo, nas igrejas não paroquiais nem conventuais deve-se obter a licença do Reitor.

Juntamente com o uso do Missal anterior os clérigos podem livremente usar o Breviário Romano promulgado pelo Bem-aventurado Papa João XXIII em 1962.

Do mesmo modo para que as comunidades dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica tenham a Santa Missa segundo o Missal Romano de 1962 não é necessária nenhuma permissão144. Porém, se essas comunidades individuais ou um Instituto ou Sociedade inteiras desejarem ter estas celebrações de modo freqüente, habitualmente ou permanentemente deve-se ser decidido junto aos Superiores Maiores.

Quando no Art. 5, § 1º se diz “um grupo estável de fiéis aderentes” não significa:

1. afirmar um grande número de fiéis nem mesmo é uma limitação para que haja a Santa Missa;

2. dizer que esses fiéis devem pertencer à mesma paróquia, o que importa é que se reúnam numa mesma paróquia;

144 Neste sentido o Motu Proprio dá a entender que, como o sacerdote em relação ao bispo, as comunidades

individuais de religiosos e religiosas não precisam da permissão nem da Santa Sé nem dos Superiores Maiores. Se levarmos em conta esta liberdade dada às comunidades religiosas e a restrinção seguinte caso se queira a Forma Extraordinária freqüente, habitualmente ou permanentemente somos levados a pensar que a priori o art. 3 refere-se à uma Missa celebrada com grande espaço de tempo entre uma e outra.

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3. que estes fiéis já estivessem ligados à Forma antiga do Rito Romano (pois isto seria quase impossível devido a situação no Brasil onde, fora algumas exceções, quase não se guardou contato com o Rito Gregoriano);

4. que os fiéis devem dominar a língua latina (embora seja muito bom que tenham noção básica a fim de participarem melhor);

5. que a Missa Gregoriana só pode ser rezada pelo pedido destes fiéis.

O que importa é que tanto os fiéis como os sacerdotes estejam em plena comunhão com o Ordinário Local, e que o bem das almas esteja em acordo com o Cura, evitando a discórdia e promovendo a unidade. Por isso, este artigo deve ser entendido no sentido de que onde quer que um grupo de fiéis, indepentendentemente do número de pessoas, pedirem a Missa Gregoriana, levando em conta todo o necessário, seja atendido o pedido, pois esses fiéis e/ou outros que não o pediram tem o direito de conhecerem a Forma Extraordinária. Não se celebra somente para aqueles que pediram a Missa na Forma Extraordinária, mas também para os que não pediram, por motivos diversos, tenham a oportunidade de conhecer o que ainda não conhecem (afinal, se não conhecem como poderão, cientemente, dizer que não a querem? Como escolher entre o que se conhece e o desconhecido? Isso seria injusto com os fiéis e com a Forma Extraordinária!).

O Missal antigo pode ser usado nas celebrações semanais, domicais e também nas festivas. Igualmente pode ser usado, se os fiéis solicitarem ou se o pároco julgar útil à almas, para as celebrações particulares (matrimônio, exéquias, peregrinações). Nas Missas Gregorianas com o povo as Leituras podem ser proclamadas também em língua vernácula desde que sejam usadas traduções reconhecidas pela Santa Sé.

O Santo Padre também dá a faculdade, caso o Ordinário Local deseje, de erigir uma paróquia pessoal só para as celebrações segundo a Forma Extraordinária do Rito Romano ou, ainda, de nomear um capelão, isto é, um sacerdote, numa pequena igreja, para celebrar segundo o Missal de 1962.

Capítulo 10

VIGOR DO MOTU PROPRIO SUMMORUM PONTIFICUM

Praticamente dois anos após o Motu Proprio Summorum Pontificum, embora seja ainda pouco tempo, já é possível notar os seus resultados, seus efeitos e benefícios à Igreja de Deus.

I. Será um retrocesso?

Quando da sua entrada em vigor muitas conversas circulavam no sentido de que o Motu Proprio seria um perigo e um retrocesso diante da reforma litúrgica do Vaticano II. A este respeito a revista jesuíta italiana Civiltà Cattolica ressaltou que estes temores são “infundados”.145

145 Radio VATICANO, in: http://www.oecumene.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=154926

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O presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, e prefeito emérito da Congregação para o Clero, Cardeal Darío Castrillón Hoyos, em entrevista à Rádio Vaticano, falou a respeito do Papa Bento XVI e seu documento a toda a Igreja:

Bento XVI considera a Liturgia anterior à Reforma do Concílio um tesouro inestimável. O Papa não quer voltar atrás. É importante saber e ressaltar que o Concílio não proibiu a liturgia de São Pio V e, ademais, é preciso dizer que os Padres do Concílio celebraram a Missa de São Pio V. Não é um voltar atrás, como alguns defendem – porque não conhecem a realidade. Pelo contrário: o Concílio quis ser amplo nas liberdades boas dos fiéis. Uma dessas liberdades é justamente a de tomar esse tesouro, como diz o Papa – que é a Liturgia – para mantê-lo vivo.146

O Cardeal Hoyos também falou sobre a mudança com o Motu Proprio que, segundo ele, “não é tão grande” esclarecendo que agora os sacerdotes podem celebrar a Missa com o antiguíssimo Rito e que os párocos “devem abrir a porta” para os sacerdotes que quiserem celebrar conforme o Rito Gregoriano. O Cardeal Darío Castrillón Hoyos encerrava fazendo votos de que o Motu Proprio seja “um motivo de alegria para todos aqueles que amam a Tradição [...] com um rito que foi certamente o fator e o instrumento de santificação por mais de mil anos.”147

II. Acolhida por parte dos Bispos e Cardeais

O Motu Proprio, apesar de algumas “resistências” por alguns, encontrou uma boa receptividade por parte de Cardeais e Bispos como “um instrumento que pode favorecer a unidade na Igreja”.148 Os bispos da Inglaterra e da França foram favoráveis ao documento. Para o Cardeal-Arcebispo Cormac Murphy – presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales – já previa “algumas dificuldades, no receber e levar avante o ensino do Papa”.149 O Cardeal-Arcebispo Jean-Pierre Ricard, presidente do Episcopado francês, apresentando o Motu proprio, disse que “Bento XVI quer a unidade dos católicos, quer favorecer a reconciliação e, ao mesmo tempo, reconciliar a Igreja com o seu passado litúrgico” e ressaltou que “não se trata de um bi-ritualismo, mas de um só rito que pode ser celebrado em duas formas”.150

O Cardeal-Arcebispo Telesphore Placidus Toppo, presidente da Conferência Episcopal Indiana, disse que o Motu proprio não levaria problemas para a Índia e que, ao contrario, “poderia ajudar a resolver tensões no seio de algumas comunidades católicas” e declarou: “Considero que o Motu proprio seja obra do Espírito Santo, que move a Igreja, para levar unidade e harmonia entre os fiéis”.151

O Bispo Dom Kurt Koch, presidente da Conferência Episcopal Suíça, disse que é necessário que a consciência litúrgica seja renovada a fim de que possa perceber a unidade histórica litúrgica, na sua multiplicidade, que é feita a partir do Motu proprio. Os Bispos da Holanda vêem no Motu proprio “uma reflexão espiritual rica e profunda,

146 Idem. 147 Idem. 148 Rádio VATICANO, in: http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=144278 149 Idem. 150 Idem. 151 Idem.

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sobre a Tradição da Igreja celebrante que louva e agradece a Deus” de modo que “não se trata de nenhuma rejeição da Liturgia do Concílio Vaticano II”.152

O Cardeal Antônio Cañizares Llovera disse que

Mesmo sendo recebido por parte de alguns de modo não entusiasmado, foi um gesto de extraordinário bom senso eclesial. Com o qual reconheceu-se como plenamente válido um Rito que nutriu espiritualmente a Igreja latina por mais de quatro séculos. Acredito que este motu proprio seja uma graça que fortificará a fé de grupos tradicionalistas que já estão organicamente presentes na Igreja e que ajudará o retorno dos chamados lefebvrianos... Será também uma ajuda para todos.153

III. Comunhão da Igreja Católica

O presidente da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, Cardeal Darío Castrillón Hoyos, afirmou que por causa do Motu Proprio do Papa Bento XVI “muitos cristãos que haviam se afastado da Igreja por causa das reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II ‘estão retornando à plena comunhão com Roma’”.154 Explicou que a celebração da Santa Missa conforme o Missal de São Pio V está trazendo muitos cristãos à comunhão com Roma. E citou o exemplo de um mosteiro feminino de clausura com 30 monjas espanholas que foi reconhecido e regularizado, disse ainda que “grupos americanos, alemães e franceses estão ‘em vias de regularização’”.155

Para o Cardeal Hoyos não é certo falar de “retorno ao passado”, mas sim de “progresso”, pois com o Motu Proprio não temos somente a riqueza do Missal de Paulo VI, mas também a do Missal do Beato João XXIII. O Cardeal revelou também que a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei

está pensando em organizar uma forma de ajuda aos seminários, dioceses e conferências episcopais, para uma melhor aplicação da Summorum Pontificum. Também serão promovidos subsídios multimídias para a difusão e a aprendizagem da forma extraordinária, com toda a riqueza teológica, espiritual e artística ligada à antiga liturgia, envolvendo grupos de sacerdotes que já adotam esta forma.156

Capítulo 11

POR QUE ACOLHER O RITO GREGORIANO?

Além da acolhida do Motu Proprio e da Missa Gregoriana por parte dos Bispos e Cardeais exemplificados acima, é notável que muitos dos fiéis católicos no mundo inteiro estão acolhendo o documento papal e buscam o acesso a Missa de Sempre. Dentre estes fiéis destacam-se os jovens! Eles são os mais atraídos pela sobriedade e reverência do Rito Gregoriano!

152 Idem. 153 http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=20609 154 Rádio VATICANO, in: http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=196152 155 Idem. 156 Idem.

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Muitos falam sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum e sobre o Rito codificado por São Pio V. Diversos são os motivos para conservar este Rito multissecular. Porém, das gerações pós reforma que não conheceram a Liturgia anterior, muitos se perguntam por que retorna a um passado já superado? Por que não se contentar com o Rito atual da Igreja? E, como que para argumentar e sustentar insatisfação para com o Rito antigo, perguntam por que os jovens, que nunca conheceram a Missa de Pio V, querem o Missal antigo quando, ao contrário, os idosos, que cresceram e conviveram com a Missa tridentina, não querem voltar à Liturgia pré-conciliar?

Estas perguntas demonstram a inquietação dos que não entendem a reforma litúrgica como uma reforma, de fato, mas mais como uma revolução na qual a Igreja teria se livrado de um Rito caduco criando um outro atual; ou pelo menos demonstram que nem todos entendem que o Missal promulgado por Paulo VI é uma forma do Rito Romano, do qual o Missal de João XXIII é outra. Estas perguntas são feitas pelos católicos mais sensatos, pois quando não sequer aceitam o Magistério e Disciplina da Igreja quando esta ensina que os dois Missais são expressões ou usos do mesmo Rito Romano.157 Para estes católicos questionadores, é como se o Motu Proprio não fosse o restabelecimento do Rito Gregoriano, mas apenas uma concessão aos chamados

tradicionalistas. A admiração cresce ainda mais quando percebem que dos muitos que buscam a Missa Gregoriana um grande número são jovens!

Já temos demonstrado aqui de diversas formas que retornar à Liturgia anterior a reforma pós conciliar não significa retorno ao passado, e muitos autores idôneos e autoridades eclesiásticas tem provado isso com muita eloqüência e catolicidade. Mesmo que fosse esse “retorno ao passado” o que há de tão horrível nele para causar tanta aversão? Não, não é um retorno! Prova disso é que, mesmo depois de 1970, muitas comunidades continuaram com o Rito antigo e o guardam ainda hoje! Não é passado, muito menos superado!

No contexto histórico que envolveu o antes, o durante e agora o depois da reforma litúrgica, apesar dos exageros e liberalismos de alguns, devemos crer que houve uma verdadeira e lícita reforma e não uma revolução litúrgica! Do contrário só restará mesmo dizer que a Liturgia anterior é “passado superado” da Igreja. A deturpação da idéia de reforma equivale a afirma que houve uma ruptura. Isso explicaria, em parte, essa verdadeira admiração com o “retorno” e acolhida do Missal anterior.

A aceitação e busca da Missa na Forma Extraordinária não se trata de insatisfação com a Missa na Forma promulgada por Paulo VI, trata-se antes de aceitar o Magistério da Igreja e sua autêntica interpretação pelo Santo Padre; trata-se de aceitar e buscar o Rito Romano em sua totalidade, em suas duas Formas; trata-se de beber da fonte da

157 Cf. BENTO XVI, Summorum Pontificum, art. 1.

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graça também pelo mesmo canal que nossos antepassados; trata-se de participar da Santa Missa, Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Forma que se tornou uma verdadeira muralha contra toda heresia, apostasia e sacrilégios; trata-se, em fim, de fazer uso dum direito que nos é dado e garantido pelo Romano Pontífice, Bento XVI.

Se a questão for “contentar-se” com o Rito atual, então devemos recorda que o Rito Latino existe na Forma Ordinária (Missa nova) e na Forma Extraordinária (Missa antiga). Ou seja, é justamente por contentarmo-nos com o Rito atual que buscamos tê-lo nas suas duas Formas!

Não é verdade que os idosos não querem o Rito antigo. É verdade sim que muitos não o buscam, assim como muitos não gostam do Rito novo! Esta argumentação é pobre e maldosa, pois quer rejeitar algo só por causa do querer ou não de alguns, sem levar em conta a opinião dos desejosos e o Magistério da Igreja.

O que verificamos é que, em contraposição a alguns que não querem a Liturgia anterior, muitos homens e mulheres experimentados na vida querem e desejam a Forma Extraordinária. Prova disso são os próprios Cardeais da comissão formada pelo Papa João Paulo II que defenderam o Missal de João XXIIII e nenhuma proibição do Papa Paulo VI encontraram a este Missal; prova-o também muitos sacedotes que tem voltado a celebrar a Santa Missa Gregoriana, incentivando e catequisando os seus fiéis; prova-o, ainda, os fiéis, já idosos, que louvam e agradecem a Deus a oportunidade de reverem a Santa Missa também na Forma à qual foram habituados na juventude.

Há ainda o discurso segundo o qual a procura dos jovens ao Rito antigo significaria ou demonstraria certo “novidadismo”, ou seja, aquilo que era velho se torna novo porque o novo foi tão usado e simplificado que “perdeu o gosto”. Neste sentido a busca da Missa Tradicional não seria nada mais que uma busca por algo diferente, “estranho”, exclusivo e “novo”. Este “novidadismo” seria, então, apenas uma busca juvenil qualquer, assim como se busca um estilo diferente de roupa, de cabelo, de amigos, de moda...

No mundo em que vivemos, pertubado por tantos barulhos, subdivididos em tantas denominações que se dizem “igreja de Cristo” portadora da graça e da salvação; mundo ferido com tantas guerras e calaminades; no qual a Igreja Católica é sempre alvo de todas as acusações mais cruéis e posta em dúvida; mundo em que a Verdade é posta aquém das verdades do homem e do próprio mundo; onde a realidade do Mistério cristão é explicado apenas como uma reunião e não como uma verdadeira participação no único e verdadeiro Sacrifício de Cristo, consumado na Cruz e perpetuado em nossos altares; é neste mundo que se encontram os jovens que, quando se deparam com o silêncio sagrado, a sobriedade, os gestos, o canto, a reverência e a sacralidade do Rito Romano presente no Missal Gregoriano, se apaixonam ainda mais por Jesus Cristo e O confessam mais firme e naturalmente presente, real e substancialmente no Santo Sacrifício da Missa. Se há um “novidadismo” no que diz respeito aos jovens em relação à Missa de Sempre então é este: reafirma a fé católica, tão amplamente difundida em todo o mundo e tão frequentemente atacada, por meio daquilo que nos sustenta, nos faz participar dos tesouros do Céu, a Santa Missa! Se há “novidadismo” então ele é um retorno ao que é próprio da Santa Mãe Igreja!

Mas alguém poderia questionar: “Então quer dizer que no novo Missal não há o silêncio sagrado, a sobriedade, os gestos, o canto, a reverência e a sacralidade do Rito Romano?” Não se trata disso. No Missal de Paulo VI todos estes elementos são

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previstos e vivamente recomendados na Santa Missa, porém, frequentemente são postos de lado ou diminuídos ou tão carregados de símbolos estranhos da “criatividade” que fica impossível a estes jovens e outros fiéis terem o tão falado “encontro pessoal com Jesus”, não tendo consciência sobre as realidades invisíveis significadas nas coisas sensíveis, pois tem que acompanhar a “criatividade” de cada celebrante, de cada comunidade!

Poderíamos relembrar vários motivos para acolher o missal do Bem-Aventurado João XXIII, mas não vamos ficar repetindo o que já foi tão falado, basta-nos irmos para os “finalmente” dizendo que buscamos e acolhemos o Rito Gregoriano por amor. É o amor que nos move e Deus é Amor. É Ele que nos inspira a buscarmos as duas Formas do Rito Romano.

O amor à Missa de Sempre não significa uma aversão ou reserva à Missa de Paulo VI, mas sim uma oportunidade única de entender melhor e viver o que celebramos no altar, participando do Rito que, sendo restaurado pela Igreja, deu origem a atual Forma Ordinária da Missa na Igreja Católica. A final de contas, estamos falando de um único e mesmo Sacrifício de Jesus Cristo, independentemente da forma em que celebramos!

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TERCEIRA PARTE:

QUESTÕES FREQÜENTES

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Capítulo 12

SOBRE O LATIM

I – O que é o Latim?

O latim é a língua própria da Igreja Romana, é a língua oficial de nossa Santa Igreja Católica158 “capaz de promover, junto a qualquer povo, toda a forma de cultura; e como não suscita inveja e se apresenta imparcial para todos os povos, não é privilégio de ninguém, e, enfim, a todos aceita e reúne.”159

II – Donde veio a língua latina?

A língua latina teve origem em Roma, Lacio160, 753 anos antes de Cristo.161 Inclusive, o famoso código de direito romano, de Julio César, foi escrito uns 50 anos antes do nascimento de Nosso Senhor na língua latina.

Na época de Jesus Cristo estavam em uso as línguas aramaica, grega e latina,162 prova disso é que o letreiro163 posto sobre a cabeça de Nosso Senhor Crucificado estava escrito nestas três línguas. Jesus, provavelmente, celebrou o Santo Sacrifício no cenáculo em língua aramaica que era a comum, mais popular na época. Porém, nem Ele nem seus Apóstolos reprovaram as outras duas línguas.164

Quando a Igreja começou a anunciar o Evangelho aos pagãos usava já o latim e o grego por se tornarem as línguas mais faladas. Igualmente o latim e o grego eram usados para a Sagrada Liturgia. Depois de alguns séculos, quando os cristãos tiveram que se adaptar cada vez mais às grandes mudanças nos paises onde o Evangelho estava sendo pregado, nos quais nasceram várias línguas que eram usadas, a Igreja começou a ter dificuldades em anunciar sempre a mesma Palavra, Jesus Cristo, de um modo uniforme, fiel à Verdade e à Tradição apostólica. Além disso, nem todas as línguas (novas ou não) tinham palavras capazes de traduzir os significados da Palavra revelada à Igreja (o que acontece ainda hoje!).

Por isso, a Igreja continuou usando sempre o latim e o grego nos três primeiros séculos, sobretudo na Liturgia; o grego, num primeiro momento, predominou em Roma165, por isso, ainda hoje é usado em algumas celebrações na Cidade Eterna e se conservou na Liturgia da Igreja algumas palavras gregas. Na Igreja Romana o latim começou a se fixar, entre outros motivos, sobretudo pela tradução da Sagrada Escritura, feita no século II, que servia para as reuniões eclesiásticas. O latim escolhido para a tradução foi o dito vulgar e não o clássico,166 por isso esta tradução ficou conhecida como Vulgata.

158 Cf. G. LEFEBVRE, Liturgia, p. 284; JOÃO XXIII, Const. Apos. Veterum Sapientia, n. 3. 159 JOÃO XXIII, Const. Apos. Veterum Sapientia, n. 3. 160 Cf. JOÃO XXIII, Const. Apos. Veterum Sapientia, n. 3; J. COMBA, Programa de Latim, n. 50, p. 31. 161 Cf. R, LIBERALI, Horas de Combate, p. 43. 162 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 79, 2, p. 46. 163 Cf. Jo 19,19. 164 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 79, 1-2, p. 46. 165 Ibid, n. 80, p. 47. 166 Ibid, n. 81, p. 47.

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Assim o latim foi tornando-se referência não só na Sagrada Escritura, mas, também para a Sagrada Liturgia, sobretudo na Santa Missa. O uso desta língua anterior à própria Igreja tornou-se tão natural, e necessário, que todos os cristãos, praticamente, falavam-na, do século I até ao infeliz Lutero.167

O Papa São Gregório Magno (590-604) escreveu seu famoso Ofício em latim no ano 600,168 que ficou conhecido como Ofício Gregoriano. A língua latina tornou-se naturalmente católica; meio próprio de dirigir a Deus o culto verdadeiro da Igreja; seguro instrumento de conservação das fórmulas e preces primitivas da Tradição apostólica e dos Padres da Igreja; muralha e preservativo contra os heresiarcas e protestantes. Embora o latim tenha se tornado a língua natural da Santa Igreja de Cristo, somente no ano 666 o Papa São Vitaliano (657-672) ordenou, pela primeira vez, que a Santa Missa fosse celebrada em latim.169 É bom lembrarmos que o fato desta ordenação do latim ter acontecido somente em 666 não significa que só aí ele tenha sido introduzido na Igreja ou se tornado universal, pelo contrário, significa que seu uso já vinha de tempos imemoráveis na Sagrada Tradição e, por isso, nunca houvera necessidade de uma obrigação!

Assim a língua latina se tornou um sinal de unidade da Igreja Católica no mundo inteiro e de unidade das Igrejas particulares com a Igreja de Roma.

O Papa São Pio X, em carta ao Cardeal Dubois que trabalhava para que a pronúncia do latim fosse conforme a pronúncia romana, escreveu ter grande satisfação ao “que ele [Dubois] se aplicava com tão grande zelo, nas diversas dioceses da França, a conformar cada vez mais a pronúncia da língua latina com a [pronúncia] usada em Roma”.170 Do mesmo modo desejava o Papa Bento XV que

esta unidade da pronúncia do latim segundo o tipo da que é sempre viva no centro da catolicidade. Por esta unidade da pronúncia duma língua já tão largamente conhecida, os povos de hoje, como a cristandade de outrora, possuiriam enfim esta língua única e universal que tantas vezes e mais ou menos em vão se procurou fora da Igreja. Esta maior possibilidade de mútuas relações seria atrativo e um laço a mais para esta Sociedade das Nações pela qual nos levam a suspirar ardentemente o desejo e preocupações duma paz duradoura.171

E o monge Dom Gaspar Lefebvre, diante do antigo uso da venerável língua latina, exclama:

Que grandioso espetáculo o de todos os fiéis, dirigindo a Deus na Liturgia, em íntima união com os seus sacerdotes, o seu bispo e o papa, uma mesma oração cantada numa mesma língua e com a mesma pronúncia que a do Pontífice supremo, chefe da Igreja universal!172

III – Por que a Igreja continua usando o Latim?

167 Cf. D. LIBERALI, Horas de Combate, p. 134. 168 Idem. 169 Idem. É bom lembrarmos que o fato desta ordenação do latim ter acontecido somente em 666 não significa

que só aí ele tenha sido introduzido na Igreja ou se tornado universal, pelo contrário, significa que seu uso já vinha de tempos imemoráveis na Sagrada Tradição!

170 G. LEFEBVRE, Liturgia, p. 236. 171 Carta do Cardeal Gasparri ao P. Delporte, de Tour-Coing, apud G. LEFEBVRE, Liturgia, p. 235-36. 172 G. LEFEBVRE, Liturgia, p. 236.

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“O uso da língua latina, diz o Papa Pio XII, vigente em grande parte da Igreja, é um caro e nobre sinal de unidade e um eficaz remédio contra toda corruptela da pura doutrina.”173 “De fato a Igreja, como mantém unidos no seu conjunto todos os povos e durará até a consumação dos séculos... exige, pela sua natureza, uma linguagem universal, imutável, não vulgar”.174

Como já dissemos175, a Igreja sentiu a necessidade de ter uma língua própria, com a qual seria entendida por todos os fiéis em qualquer parte do mundo ou pelo menos pelos sacerdotes, e que fosse capaz de guardar o tesouro litúrgico-apostólico, formado através dos séculos. Isto foi motivo para a fixação do latim na Igreja Católica. Em seguida a língua latina ficou morta, ou seja, não evoluiu mais (o que favoreceu ainda mais a Igreja), tornando-se praticamente língua de uso sagrado no culto a Deus.

Só no pontificado do Papa Pio XII foi permitido, em circunstâncias especiais, celebrar a Santa Missa em língua vernácula (nacional), desde que houvesse expressa permissão da Santa Sé. No Concílio Vaticano II, no entanto, foi determinado que podia-se celebrar a Santa Missa sem esta autorização da Santa Sé, colocando a decissão do uso da língua vernácula nas hierarquias competentes.176 Porém, o atual Código de Direito Canônico diz que os seminaristas devem dominar a língua latina177 e que a Santa Missa, ordinariamente, deve fazer-se em língua latina178.

Depois vieram outros motivos (que ainda hoje permanecem) para o uso da língua latina.

IV – Quais as vantagens do uso do Latim na Missa?

A primeira de todas as vantagens é a continuação do venerável e multissecular uso da língua latina na Igreja Católica, sobretudo na Santa Missa.

Mas não é só isso. A língua latina não evolui (é “morta”), isso é bom porque permite e assegura que as palavras conservem sempre o mesmo sentido, desde os tempos apostólicos até a consumação dos tempos. Se a Igreja não tivesse o latim como sua língua teria que renovar constantemente os livros litúrgicos por causa do progresso das diversas línguas vernáculas. Com o latim, porém, o Magistério fica inalterado e a fé é sempre baseada na mesma doutrina, independentemente de tempo, lugar e idioma do povo.

O latim evita que as palavras santas usadas no culto a Deus sejam usadas no uso profano, sobretudo pelos hereges, pois estes não sabem o latim perfeitamente. Evita também que os fiéis dêem sentido diverso do sentido da Igreja às coisas santas. Assim, cada fiel que queira saber o significado real de algo do culto, mesmo que este tenha o conhecimento do latim, terá que aprendê-lo da Igreja e não da subjetividade de sua própria mente.

173 PIO XII, Mediator Dei: Col. Documentos da Igreja, n. 53, p. 313. 174 PIO XI, Epist. Ap. Officiorum omnium, 1-8-1922 apud JOÃO XXIII, Const.Apos. Veterum Sapientia, n. 4. 175 Conferir acima o n. II sobre o latim. 176 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, nn. 22.36.54, pp. 21-22.27-28.36. 177 Cf. JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, cân 249. 178 Ibid, cân 928.

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Como o latim não evolui as suas palavras não mudam mais de significados. São sempre os mesmos.179 E como não é língua usada por nenhum povo ou nação suas palavras não sofrem reformas, como aconteceu recentemente com a língua portuguesa.

Se a Igreja não guardasse o latim teria, por ocasião desta reforma da língua portuguesa, que renovar todos os livros litúrgicos imediatamente. Mas como todos os livros litúrgicos e demais documentos da Igreja saem todos em latim, e só depois as Conferências dos Bispos de cada país faz a tradução vernácula, os atuais livros litúrgicos só serão reeditados em nosso idioma quando se julgar necessário. Mesmo assim, o conteúdo, isto é, o sentido e a forma de cada Letra de Roma são sempre a mesma para todas as Igrejas, pois todas recebem a mesma e única fonte original em latim.

Por ter sido originada em Roma o latim tem uma perfeição de termos e precisão de sentido lógico incomparável. O que garante ainda a perpetuidade da Doutrina da Igreja através dos séculos.

Além disso, sempre foi convicção na Igreja que, para uma ação tão santa e sumamente maior do que qualquer outra neste mundo, era necessário uma língua diferente daquelas usadas no uso cotidiano.180 É notável que as grandes religiões, mesmo as mais diferentes do cristianismo e pagãs, nos seus atos de culto usam ou uma língua diferente do uso ordinário ou assumem palavras e orações misteriosas, particulares.

Se é verdade que os brasileiros, por exemplo, se unem por causa da língua comum a todos, muito mais verdade é que a Igreja se une na mesma língua (o latim), independentemente da nacionalidade181. Se é fato que nas ciências do mundo (por exemplo, na medicina, na biologia, na física, na filosofia etc.) a língua latina está presente, muito mais o deve ser na ciência sagrada. O latim é a língua ordinária da Igreja Católica.

V – Os fiéis não entendem nada do Latim

Será que, de fato, esta é a questão?

O que acontece é que há um desejo diabólico de que o latim seja esquecido na Igreja. Por isso não se ensina aos fiéis. A questão não é que os fiéis não entendem o latim, mas sim que o latim não é ensinado aos fiéis! É verdade que a Igreja pede que os fiéis participem e entendam o que se passa na Missa, mas isto não se refere ao latim, pois quem é que (estando presente e atento à Santa Missa) vendo o sacerdote no altar repetindo o que Jesus fez na última Ceia não sabe, ao menos imperfeitamente, o que ali se passa?

179 Por exemplo, em português a palavra mãe não possui um único sentido e, além dos que possui vai adquirindo

outros com o passar dos tempos. Foi o que aconteceu com a palavra rapariga, que significa moça, donzela. Em nossos dias ninguém ousa chamar uma moça de família de rapariga, pois está já não possui seu significado orignal! É embaraçoso quando, por exemplo, alguém lê numa das traduções portuguesas quando Jesus, no discurso do Pão da Vida, diz “quem me come terá a vida eterna”, pois dizer este me come é em nossos dias totalmente distorcido pelo emprego comum, tendo um significado pejorativo, obsceno!

180 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 82, p. 47. 181 É bom relembrarmos que dentre as diversas línguas originadas da língua latina se encontra a língua

portuguesa. Além disso, muitas palavras e expressões que usamos são próprias do latim.

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Quem, presente no calvário, estava explicando o que acontecia com Jesus na Cruz? Quem, por mais ignorante que seja, vendo o sacerdote subir com toda reverência e humildade ao altar e olhando para aquele grande crucifixo não saberá, ao menos minimamente, que Jesus se deu em sacrifício por nós?

Além do mais, quantos de nossos atuais católicos, mesmo vendo o padre repetir as mesmas palavras de Nosso Senhor no altar em português, entendem o que aquilo significa? Quantos dos fiéis, ouvindo em português a Sagrada Escritura, têm entendimento da Liturgia da Palavra? Quantos dos fiéis entendem mais as cerimônias e ritos da Igreja só pelo fato de serem realizados na língua vernácula?182

Acaso não é verdade que em nossas comunidades muitas vezes, mesmo rezando-se em nossa língua, é necessário (ou pelo menos se acha necessário) explicar aos fiéis os ritos e os diversos símbolos usados na liturgia? Ou ainda, quantas vezes em nossas comunidades, depois de se ter explicado um símbolo ou um rito, os fiéis nada terem entendido do que viram e ouviram?

As respostas a essas perguntas nos levam a pensar que o latim não é, nem nunca foi, um impedimento para a participação dos fiéis na Santa Missa. A questão é outra!

Antes do Concílio, todas as Missas de Rito Latino eram em latim. E, obviamente, em muitos lugares do mundo o povo não sabia falar em latim: a Missa era em latim tanto na China quanto no Japão, por exemplo. No Brasil, porém, era ensinado latim nos colégios, então o povo tinha noções da língua.

Aqueles que dizem que somente os fiéis sabedores da língua latina podem ter a “Missa em latim”, evidentemente cometem um grave erro. Afinal, as graças de Cristo são alcançadas pelos fiéis independente da língua em que se celebra a Missa. Caso vá um fiel brasileiro para o Japão, se ele não falar japonês então ele não pode assistir Missa? Ou, se assistir, não irá receber dos frutos dessa Missa? Esse argumento parte da idéia – de origem protestante – de que todos os fiéis devem participar da Missa, para que a Missa tenha efeito. Por causa do sacerdócio ministerial do padre, os fiéis não são obrigados nem a responder as orações, já que a participação dos fiéis se dá quando eles desejam se unir àquela Missa, para usufruir de seus efeitos. Os fiéis, portanto, rezam a Missa pelas mãos do padre, por meio do padre, mas não diretamente. Por isso, não são obrigados nem a saber a língua da Missa.183

Mesmo que o latim fosse esse impedimento que nos querem fazer crer, porque então não ensinar aos fiéis pelo menos o que diz respeito à Santa Missa? Estamos dispostos a aprender tantas coisas no mundo e por tantos motivos, muitas vezes superficiais, será que não somos capazes de aprender algo por causa de Deus? Muitas vezes nos vemos obrigados a aprender uma outra língua como o inglês, por exemplo, por causa da necessidade temporal; seja porque precisamos manusear programas de computadores ou porque isto é exigido pelo mercado de trabalho seja porque está é a norma da atualidade num mundo governado por grandes potências. O que custa aprender ao menos o necessário da língua da Igreja que nos governa e conduz à glória do Céu, por necessidade espiritual e para o bem das almas?

182 Com estas perguntas não quero colocar em questão o uso da língua vernácula, não me entendam assim, mas

quero levá-los a pensar que o entendimento dos fiéis não está só na língua, mas naquela união das palavras com a alma, da ação exterior com a ação interior tantas vezes pedida pela Igreja, inclusive no Vaticano II (Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 11, p. 15)

183 I.L. SANTOS, Principais Perguntas, Objeções e Questões sobre o Rito Tridentino, n. 13.

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Somos todos egoístas e, por isso, nos invaidecemos muito até das coisas devidas só a Deus. Assim, por exemplo, nos sentimos “valorizados” ao ver o padre falar conosco, dialogando com a assembléia durante a Santa Missa. Por exemplo, ao ouvirmos o padre falando na língua vernácula e vermos a posição versus populum do sacerdote na Santa Missa (português e de frente para o povo) poderíamos pensar que a Missa é celebrada para nós, ou que somos personagens principais da ação sagrada. Não é para nós a celebração da Santa Missa, pelo contrário, unidos ao sacerdote que celebra a Santa Missa, oferecemos o Santo Sacrifício a Deus, o único a quem é devido. Não somos personagens principais da ação sagrada, nem mesmo a Virgem Maria o foi porque nós seríamos? Na Santa Missa, embora tenhamos papel importante, somos figurantes, ou seja, estamos participando, sim, mas ao lado, sem ofuscar o lugar devido somente a Jesus Cristo.

Alguma contradição ou falta de catolicidade há no discurso antilatim, que é feito por alguns filhos da Igreja sem levar em consideração o Magistério e a voz initerrupta de grandes Papas, Bispos, Cardeais, Presbíteros e personagens sigulares de todos os tempos!

VI - O que a Igreja ensina a respeito da língua latina?

Além dos documentos e fontes que já citamos é admirável a doutrina apresentada e ensinada pelo Bem-Aventurado João XXIII, Papa que convocou o Concílio Vaticano II. Por mais que se busque nas fontes brasileiras a tradução deste belíssimo documento dificilmente a encontraremos, por isso, pensamos ser útil apresentá-lo na íntegra, a fim de que sirva como fonte para estudos posteriores. Eis o que ensina o Beato João XXIII:

CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA

VETERUM SAPIENTIA

DO ROMANO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII

Sobre o uso do Latim184

1. A antiga sabedoria, contida nas obras literárias romanas e gregas, bem como os memoráveis ensinamentos dos antigos povos, devem ser entendidos como a aurora anunciadora do Evangelho, que o Filho de Deus, “juiz e mestre da graça e da ciência, luz e guia do gênero humano” (1) anunciou nesta terra. De fato, os Padres e Doutores da Igreja reconheceram nestes antiqüíssimos e importantíssimos monumentos literários uma certa preparação dos ânimos para receber a celeste riqueza que Jesus Cristo “quando da plenitude dos tempos” (2), comunicou aos mortais; disto resulta claramente que, com o advento do Cristianismo, não se perdeu o quanto de verdade, de justo, de nobre e também de belo os séculos passados tinham produzido.

2. Por isso a Santa Igreja teve sempre em grande consideração os documentos daquela sabedoria e antes de tudo as línguas Latina e Grega, como vestimentas douradas da mesma sabedoria; aceitou ainda o uso de outras veneráveis línguas que floresceram nas regiões orientais, que muito contribuíram para o progresso do gênero humano e da civilização; as mesmas, usadas nas cerimônias religiosas ou na interpretação das Sagradas Escrituras, têm

184 Esta tradução da Constituição Apostólica Veterum Sapientia, promulgada pelo Papa João XXIII em fevereiro

de 1962, não é a tradução oficial da Igreja para o Brasil. Esta é uma tradução livre, pois parece impossível encontrar a tradução oficial desta raridade na Igreja no Brasil!

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muito vigor ainda hoje em algumas regiões, como contínuas vozes de um uso antigo ainda vigoroso.

3. Na variedade destas línguas certamente se distingue aquela que, nascida no Lacio, depois auxiliou admiravelmente a difusão do Cristianismo nas regiões ocidentais. E ainda, não sem disposição da Divina Providência acontece que a língua, que por muitíssimos séculos havia unido tantos povos sob o Império Romano, tornou-se a própria língua da Sé Apostólica (3) e, guardada pela posteridade, uniu num mesmo vínculo, uns com outros, os povos cristãos da Europa.

De fato, pela sua própria natureza, a língua latina é capaz de promover, junto a qualquer povo, toda a forma de cultura; e como não suscita inveja e se apresenta imparcial para todos os povos, não é privilégio de ninguém, e, enfim, a todos aceita e reúne. Não se deve esquecer que a língua latina tem uma nobreza de estrutura e de gramática, permitindo a possibilidade de “um estilo conciso, rico, harmonioso, cheio de majestade e de dignidade” (4), que singularmente contribui à clareza e à seriedade.

4. Por estes motivos a Santa Sé cuidou carinhosamente da conservação e do desenvolvimento da língua latina e a considera digna de usar-la “como magnífica veste da doutrina celeste e das santíssimas leis” (5), no exercício do seu magistério, e quer que também seus ministros a usem. De fato, estes homens da Igreja, onde quer que se encontrem, usando a língua de Roma, podem mais rapidamente vir a saber o que se refere à Santa Sé e ter com ela e entre eles uma comunicação mais ágil.

“O conhecimento pleno e o uso dessa língua, tão ligada à vida da Igreja, não importa tanto à cultura e às letras quanto à Religião” (6), como o nosso predecessor de imortal memória Pio XI nos ensinou; ele, ocupando-se cientificamente do tema, indicou claramente os três dons dessa língua, de um modo admirável, conforme a natureza da Igreja: “De fato a Igreja, como mantém unidos no seu conjunto todos os povos e durará até a consumação dos séculos... exige, pela sua natureza, uma linguagem universal, imutável, não vulgar” (7).

5. E como é preciso, na verdade, que “cada Igreja se una à Igreja Romana” (8) e, do momento em que os Sumos Pontífices têm “autoridade episcopal, ordinária e imediata sobre todas as Igrejas e sobre cada Igreja em particular, sobre todos os pastores e sobre cada pastor e seus fiéis” (9) de qualquer rito, de qualquer nação, de qualquer língua que sejam, parece ser conseqüência natural que o meio de comunicação seja universal e o mesmo para todos, especialmente entre a Sé Apostólica e as Igrejas que seguem o mesmo rito latino. Assim, tanto os Pontífices Romanos, quando querem comunicar algum ensinamento aos povos católicos, como os Dicastérios da Cúria Romana, quando tratam de assuntos, quando emitem decretos dirigidos a todos os fiéis, usem sempre a língua latina, que é recebida por incontáveis pessoas, como voz da mãe comum.

6. E é necessário que a Igreja use uma língua não só universal, mas também imutável. Se, de fato, as verdades da Igreja Católica fossem confiadas a algumas ou a muitas línguas modernas que estão sujeitas a contínua mudança, e ainda, as quais nenhuma tem sobre as outras maior autoridade e prestígio, resultaria, sem dúvida alguma que, devido às suas variações, não seria manifestado a muitos com suficiente precisão e clareza o sentido de tais verdades, nem, de outro lado, poderíamos dispor de alguma língua comum e estável, com que confrontar o significado das outras. Pelo contrário, a língua latina, há tempo imune àquelas variações que o uso diário do povo costuma introduzir nas palavras, deve ser considerada estável e imóvel, visto que o significado de algumas novas palavras que o progresso, a interpretação e a defesa das verdades cristãs exigem, já foram há tempo definitivamente adquirido e precisado.

7. Finalmente, como a Igreja Católica, tendo sido fundada por Cristo Nosso Senhor, excede significativamente em dignidade a todas as sociedades humanas, é sumamente conveniente que ela use uma língua não popular, mas rica de majestade e de nobreza.

8. Além disso, a língua latina, que “com todo o direito podemos chamar católica” (10), pois é própria da Sé Apostólica, mãe e mestra de todas as Igrejas, e consagrada pelo uso perene, deve ser mantida como “tesouro de incomparável valor” (11) e como porta através da qual se abre a

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todos o acesso às mesmas verdades cristãs, transmitidas dos antigos tempos, para interpretar o testemunho da doutrina da Igreja (12) e, enfim, o mais idôneo vínculo, mediante o qual a época atual da Igreja se mantém unida aos tempos passados e ao futuro de modo admirável.

9. Na verdade, ninguém pode duvidar que a língua latina e a cultura humanística sejam providas daquela força intrínseca, e mais capacitada, a instruir e formar as tenras mentes dos jovens. Através dela, de fato, formam-se, amadurecem, se aperfeiçoam as melhores capacidades da alma; a finura da mente e a capacidade de juízo se aguçam; além disso, a inteligência da criança é mais convenientemente preparada para compreender e julgar no justo senso cada coisa; enfim, aprende-se a pensar e a falar com suma ordem.

10. Refletindo sobre todos estes méritos, compreende-se porque os Pontífices Romanos tão freqüente e sumamente louvaram não só a importância e a excelência da língua latina, mas também prescreveram seu estudo e sua prática aos ministros sagrados de todo o clero, sem omitir em denunciar os perigos derivantes do seu abandono.

Também Nós, impelidos por esses gravíssimos motivos, como os nossos Predecessores e Sínodos Provinciais (13), com a firme vontade queremos nos empenhar para que o estudo e o uso desta língua, restituída à sua dignidade, faça sempre maiores progressos. E como neste nosso tempo começou-se a contestar em muitos lugares o uso da língua Romana e muitíssimos pedem o parecer da Sé Apostólica sobre tal assunto, decidimos, com oportunas normas enunciadas neste documento, proceder de tal modo que o antigo e jamais interrupto costume da língua latina seja conservado e, se de alguma forma ele foi colocado em desuso, seja completamente restabelecido.

Além disso, como é o nosso pensamento sobre tal tema, acreditamos tê-lo suficiente e claramente declarado quando dirigimos estas palavras a ilustres estudiosos do Latim: “Infelizmente há muitos que, seduzidos exageradamente pelo extraordinário progresso das ciências, têm a presunção de repelir ou de limitar o estudo do Latim e de outras disciplinas do gênero... Justamente movidos por esta necessidade, Nós julgamos que se deva tomar o caminho oposto. E como a alma se nutre e compenetra de tudo aquilo que mais honra a natureza e a dignidade do homem, com maior ardor se deve assimilar aquilo que enriquece e embeleza o espírito, para que os míseros mortais não sejam frios, áridos e privados de amor, como as máquinas que fabricam” (14).

11. Após ter examinado e considerado atentamente estas coisas, com a segura consciência do Nosso serviço, e no exercício da Nossa autoridade, definimos e ordenamos o quanto segue:

§ 1. Que os Bispos e os Superiores das Ordens religiosas se empenhem eficazmente para que nos seus Seminários e nas suas Escolas, nas quais os jovens são preparados para o sacerdócio, todos se voltem com empenho à vontade da Sé Apostólica e obedeçam com a maior diligência a estas Nossas prescrições.

§ 2. Os mesmos Bispos e Superiores Gerais das Ordens religiosas, movidos de paterna solicitude, deverão vigiar para que nenhum dos seus subordinados, ansioso de novidades, escreva contra o uso da língua latina no ensino das sagradas disciplinas e nos sagrados ritos da Liturgia e, com opiniões preconceituosas, se permita de diminuir a vontade da Sé Apostólica na matéria e de interpretá-la erroneamente.

§ 3. Como está estabelecido nas disposições quer do Código do Direto Canônico quer pelos Nossos Predecessores, os aspirantes ao Sacerdócio, antes de iniciar os estudos eclesiásticos verdadeiros e específicos, sejam instruídos na língua latina com sumo cuidado e com método racional, por mestres extremamente capazes, por um conveniente período de tempo, “também para que, atingindo disciplinas que exigem maior empenho...não aconteça que, ignorando a língua, não possam alcançar a completa compreensão das doutrinas e nem mesmo exercitar-se nas discussões escolásticas, por meio das quais a mente dos jovens se afinam na defesa da verdade” (15). E queremos que esta norma seja estendida também àqueles que, chamados pela vontade divina a receber as sagradas ordens em idade avançada, se aplicaram pouco ou nada nos estudos humanísticos. Ninguém, na verdade, deve ser introduzido no estudo das disciplinas

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filosóficas ou teológicas se não tenha sido plena e perfeitamente instruído nesta língua e saiba bem usá-la.

§ 4. Se, ainda, em algum país, por ter adotado um programa de estudo próprio de escolas públicas do Estado, o estudo da língua latina tenha sofrido diminuições prejudiciais a um ensinamento sólido e eficiente, decretamos que, em tal caso, seja completamente restabelecida a ordem tradicional do ensino de tal língua para a formação dos sacerdotes: porque todos devem persuadir-se que, também neste campo, o método de instrução dos futuros sacerdotes deve ser escrupulosamente defendido, não só quanto ao número e gênero das matérias, mas também relativamente aos períodos de tempo necessários para ensiná-las. E se, por exigências circunstanciais de tempo e de lugar, se devem acrescentar, por necessidade, disciplinas comuns, nesse caso ou se prolongue o curso dos estudos ou se resuma a matéria, ou, enfim, se adie o estudo para um outro momento.

§ 5. As mais importantes disciplinas sagradas, como foi freqüentemente ordenado, devem ser ensinadas na língua latina, a qual, como o demonstra a experiência de muitos séculos, “é reconhecida como a mais apta para explicar a íntima e a profunda natureza das noções e das formas com absoluta clareza e lucidez” (16); com mais razão ainda porque ela se enriqueceu com palavras apropriadas e precisas, para defender inequivocamente a integridade da fé católica, e não sujeita a dubiedades de qualquer vazia verbosidade. Por isso, aqueles que na Universidade ou nos Seminários ensinam tais disciplinas são obrigados a falar em Latim e usar textos escritos em Latim. Se alguns, por ignorar a língua latina, não podem obedecer estas prescrições da Santa Sé, devem ser gradativamente substituídos por docentes especificamente preparados para tal. Se, ainda, alunos e professores apresentem dificuldades, é preciso que estas sejam vencidas pela firmeza dos Bispos e dos Superiores religiosos e pela boa disposição dos docentes.

§ 6. Como a língua latina é língua viva da Igreja, que deve ser continuamente adequada às crescentes necessidades da linguagem e enriquecida com novos apropriados e convenientes vocábulos, segundo uma regra constante, universal e conforme o espírito da antiga língua latina – regra já seguida pelos Santos Padres e pelos melhores escritores “escolásticos” – confiamos a responsabilidade à Sagrada Congregação dos Seminários e das Universidades de Estudos de fundar uma Academia de Estudos latinos. Tal Academia, na qual é preciso que seja constituído um Colégio de Professores especializadíssimos em Latim e Grego, convocados de diversas partes do mundo, será, sobretudo, destinada a, não diferentemente do que acontece nas Academias nacionais constituídas para o incremento das línguas nacionais dos respectivos países, prover ao mesmo tempo um ordenado desenvolvimento do estudo da língua latina e acrescentar, se preciso, o léxico com palavras adequadas à sua natureza e ao seu caráter, e que tenha, paralelamente, cursos sobre o Latim para cada época, mas principalmente da época Cristã. Nessas escolas, todos os estudantes serão também instruídos para uma consciência mais profunda do latim, ao seu uso, a um modo de escrever apropriado e elegante, ou a ensiná-lo nos Seminários e nos Colégios eclesiásticos, ou a redigir decretos ou sentenças, ou a melhorar a correspondência das Congregações da Santa Sé, nas Cúrias, nas Dioceses, nos escritórios das Ordens religiosas.

§ 7. Como a língua latina está estreitamente ligada à grega, e pelo conjunto da sua estrutura e importância dos seus textos transmitidos de geração em geração, é necessário que também nesta sejam instruídos os futuros ministros das artes das escolas inferiores e médias, como muitas vezes os Nossos Predecessores ordenaram, para que, quando se aplicarem às disciplinas superiores, em especial os cursos acadêmicos sobre as Sagradas Escrituras e a Sagrada Teologia, eles tenham as condições necessárias para se aproximar e interpretar exatamente não só as fontes gregas da filosofia “escolástica”, mas também os textos originais das Sagradas Escrituras, da Liturgia e dos Padres gregos.

§ 8. Ordenamos ainda à mesma Sagrada Congregação de preparar um programa de estudos da língua latina, que todos devem observar com extremo cuidado, de modo que,

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todos que o seguirem adquiram o respectivo conhecimento e prática daquela língua. Se for necessário, as Comissões dos Ordinários poderão regular diversamente o programa, mas nunca alterar ou diminuir sua natureza e o seu fim. Entretanto, os Bispos não devem atuar conforme suas decisões sem a devida análise e aprovação da Sagrada Congregação. 12. Finalmente, em virtude da Nossa Autoridade Apostólica queremos e ordenamos que

quanto estabelecemos, decretamos, ordenamos nesta Nossa Constituição seja definitivamente fixado e sancionado, não obstante quaisquer prescrições em contrário, embora digna de especial menção.

Dado em Roma, junto a S. Pedro, no dia 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de S. Pedro Apóstolo,

no ano de 1962, quarto do Nosso Pontificado.

JOÃO, PAPA XXIII

1 - TERTULL., Apol., 21: Migne, P. L., 1, 394. 2 - S. PAOLO, Epist. agli Efesini, 1, 10. 3 - Epist. S. Congr. Stud. Vehementer sane ad Ep.

universos, 1-7-1908: Enchirid. Cler. n° 830. Cfr. anche Epist. Ap. Pio XI Unigenitus Dei Filius, 19-3-1924: A.A.S. 16 (1924), 141.

4 - Pio XI, Epist. Ap. Officiorum omnium, 1-8-1922: A.A.S. 14 (1922), 452-453.

5 - Pio XI, Motu Proprio Litterarum Latinarum, 20-10-24: A.A.S.

6 - Pio XI, Epist. Ap. Officiorum omnium, 1-8-1922: A.A.S. 14 (1922), 452.

7 - Ibidem. 8 - S. IRENEO, Adv. Hær, 3, 3, 2: Migne, P. G., 7, 848. 9 - Cfr. C.I.C., can. 218, par. 2. 10 - Cfr. Pio XI, Epist. Ap. Officiorum omnium, 1-8-

1922: A.A.S. 14 (1922), 453. 11 - Pio XII, Alloc. Magis quam, 23-11-1951: A.A.S. 43

(1951), 737. 12 - Leone XIII, Epist. Encicl. Depuis le Jour, 8-9-

1899: Acta Leonis XIII 19 (1899), 166.

13 - Cfr. Collectio Lacensis, soprattutto vol. III, 1018 s. (Conc. Prov. Wesmonasteriense, a. 1859); vol. IV, 29 (Conc. Prov. Parisiense, a. 1849); vol. IV, 149, 153 (Conc. Prov. Rhemense, a. 1849); vol. IV, 359, 361 (Conc. Prov. Amenionense, a. 1849); vol. IV, 394, 396 (Conc. Prov. Burdigalense, a. 1850); vol. V, 61 (Conc. Prov. Strigoniense, a. 1858); vol. V, 664 (Conc. Prov. Colocense, a. 1863); vol. VI, 619 (Synod. Vicariatus Sutchenensis, a. 1803).

14 - Al Congresso Internazionale Ciceronianis Studiis provehendis, 7-9-1959: in Discorsi, Messaggi, Colloqui del S. Padre Giovanni XXIII, I, pp. 334-335; cfr. anche Alloc. ad cives diocesis Placentinæ Roman peregrinantes habita, 15-4-1959: su L"Osservatore Romano, 16-4-1959; Epist. Pater misericordiarum, 22-8-1961: A.A.S. 53 (1961); Alloc. in solemni auspicatione Insularum Philippinarum de Urbe Habita, 7-10-1961: su L"Osservatore Romano, 9-10 ottobre 1961; Epist. Iucunda laudatio, 8-12-1961: A.A.S. 53 (1961), 812.

15 - Pio XI, Epist. Ap. Officiorum omnium, 1-8-1922: A.A.S. 14 (1922), 453.

16 - Epist. S. Congr. Stud. Vehementer sane ad Ep. universos, 1-7-1908: Enchirid. Cler. n° 821.

VII – Mas o que o Vaticano II diz sobre o Latim?

É incrível como as vezes nos referimos a um concílio como se estivéssemos nos referindo a “outra Igreja”, como se a Igreja de ontem não fosse a mesma de hoje ou como se o que a Igreja ensinou antes do Vaticano II tivesse tudo ido por terra ou contra a própria doutrina católica do pós Concílio185. Pois bem, diz o último Concílio do Vaticano: “Conserve-se o latim nos ritos latinos, salvo exceção de direito”.186

Por isso, afirmamos ser ainda o latim a língua oficial da Santa Igreja Romana, embora o mesmo Concílio tenha dado a faculdade de usar mais amplamente a língua vernácula187, desde que as traduções do latim sejam aprovadas pela autoridade competente.188

No que diz respeito propriamente à Missa, diz o sagrado Concílio: “As línguas vernáculas podem ser usadas nas Missas celebradas com o povo, especialmente nas leituras e na oração comum. Também nas partes que dizem respeito ao povo, de acordo

185 É bom relembrar que “o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja” (Cf. Carta aos bispos a proprósito da remissão da excomunhão aos quatro bispos).

186 PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 36 § 1, p. 27. 187 Ibid, § 2, p. 28. 188 Ibid, § 4, p. 28.

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com as circunstâncias locais [...]. Não se abandone, porém, completamente a recitação ou o canto em latim das partes do ordinário da Missa que competem aos fiéis.”189

Mais uma vez podemos constatar que não se exclui o latim, mas apenas é dada a faculdade de rezar em língua vernácula. Da mesma forma procede a Sacrossanctum em relação aos ritos sacramentais190. Sobre o Oficio Divino diz que os clérigos devem rezá-lo em latim, porém, os Ordinários locais podem, em caso de “obstáculo à recitação”, adotar o vernáculo para as Horas Canônicas.

VIII – Como se pronuncia o Latim?

O nosso português ainda guarda algumas semelhanças com o latim. Por sua vez o latim apresenta uma perfeição e imutabilidade de palavras e termos admiráveis. O latim pode ser pronunciado de três modos: do modo romano, modo tradicional ou modo reformado.

Nossa Igreja, é claro, guarda a pronuncia romana, ou seja, a pronuncia que sempre foi usada em Roma. Nesta devemos estar atentos para algumas particularidades. Em comparação com a pronúncia do nosso português a pronúncia romana requer que:

1. as letras A e E juntas (AE ou Æ) sejam pronunciadas com som de e (é). P. ex: rosae = as rosas, pronuncia-se róse;

2. a letra C seguida de e ou i sejam pronunciadas com som de tchê. P. ex: Cícero = Cícero, pronuncia-se Thcíthcero;

3. as letras CH sejam pronunciadas com som de k. p. ex: brachium = braço, pronuncia-se brákium;

4. a letra G seguida de e ou i seja pronunciada com som de dg. P.ex: genu = joelho, pronuncia-se dgénu;

5. a letra J seja pronunciada com som de i. P.ex: justicia = justiça, pronuncia-se iusticia;

6. as letras GN sejam pronunciadas com som de nh. P.ex: agnus = cordeiro, pronuncia-se ánhus;

7. as letras PH sejam pronunciadas com som de f. P. ex: fhilosofhus = filósofo, pronuncia-se filósofus;

8. as letras SC seguidas de e ou i sejam pronunciadas com som de ch. P. ex: descendit = desce, pronuncia-se dechéndit;

9. as letras TI, na maioria dos casos, seguidas de uma vogal sejam pronunciadas com som de tsi. P. ex: patientia = paciência, pronuncia-se patsiéntsia;

10. a letra U seja sempre pronunciada com som de u;

11. a letra E seja sempre pronunciada com som de e (é);

12. a letra O seja sempre pronunciada com som de o (ó);

13. as letras TH sejam pronunciadas com som de t. P. ex: thesaurus = tesouro, pronuncia-se tesáurus;

189 Ibid, n. 54, p. 36. 190 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 63, p. 40-46.

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14. a letra X, entre duas vogais sendo a primeira e, seja pronunciada com som de gz. P. ex: examen = exame, pronuncia-se egzámen;

15. a letra X, entre duas vogais sendo que a primeira não seja e, seja pronunciada com som de ks. P. ex: uxor = esposa, pronuncia-se úksor;

16. a letra Y seja pronunciada com som de i. P. ex: lyra = lira, pronuncia-se lira;

17. a letra Z seja pronunciada com som de dz. P. ex: zelus = zelo, pronuncia-se dzélus;

18. as letras CC juntas sejam pronunciadas com som de kc. P. ex: ecce = eis, pronuncia-se ekce;

19. as letras RR juntas sejam pronunciadas com som de r. P. ex: terra = terra, pronuncia-se téra (ra = rá);

20. letras repetidas, fora as acima citadas, sejam pronunciadas as duas. P. ex: alleluia = aleluia, pronuncia-se al-lelúia.

Capítulo 13

SOBRE A ORIENTAÇÃO DO SACERDOTE NA MISSA191

IX – Por que o padre celebra de costas para o povo?

Será que o povo é tão importante assim no Santo Sacrifício a tal ponto de se tornar a referência? Não foi justamente o povo que saiu e deixou Jesus agonizante na Cruz? Não é muito diferente hoje. Numa mentalidade errada, Jesus “diminui” para que o povo “apareça”!

Se é verdade que o padre celebra de costas para o povo mil vezes mais verdade é que ele celebra de frente para Deus!

Sobre a orientação (posição) do sacerdote vale lembrar que “não é uma questão de presidir a celebração com as costas voltadas para o povo, como muitas vezes é alegado, mas mais propriamente de guiar o povo na peregrinação rumo ao Reino, convocado para a oração até o retorno do Senhor”.192

Até as reformas proprostas pelo Vaticano II somente na Basílica de São Pedro rezava-se a Missa voltado para o Ocidente, e isso porque a sua construção foi diferente das outras igrejas católicas. Em todas as outras igrejas o padre rezava, desde o princípio da Igreja, voltado para o oriente (assim como ainda é costume entre os judeus!). Na Basílica de São se o padre queria celebrar voltado para o Oriente tinha de ficar de frente para o povo. Daí surgiu, com alguns modernistas, o costume do padre, mesmo em outras igrejas rezar de frente para o povo.

Nunca foi costume na Igreja, nem mesmo com os Apóstolos, de se rezar a Missa de frente para o povo. Isso pode ser provado pela tradição judaica de o anfitrião, pai de

191 Ou seja, a posição, direção, do sacerdote. 192 INSTRUÇÃO para a aplicação das prescrições liturgicas do Codigo de Cânones das Igreja Orientais, n.

107.

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família ou a pessoa mais importante presente, numa refeição (como na ceia) ficar do mesmo lado da mesa que os outros participantes. Assim o fez Nosso Senhor que celebrou a última páscoa, instituindo a Santa Missa, rezando do mesmo lado da mesa que os Apóstolos.

Por isso, mesmo na Basílica de São Pedro quando o sacerdote ia rezar de frente para o Oriente não só ele ficava de frente para lá, mas também todos os fiéis presentes, ou seja, os fiéis ficavam de costas para o celebrante!

Não podemos simplesmente dizer que o “de frente para Deus” é coisa do passado, pois mesmo hoje a Igreja nunca mudou ou proibiu a posição do sacerdote, o que aconteceu foi o acréscimo da posição “de frente para o povo” na Santa Missa. Embora Deus seja sempre o centro!

X – Donde vem essa orientação referente à Santa Missa?

Na verdade, esta orientação do sacerdote na Santa Missa parece ser o comprimento da profecia de Ezequiel que diz: “Depois me introduziu no pátio interno do templo do Senhor. Ali, à entrada da nave do templo do Senhor, entre o vestíbulo e o altar, estavam uns vinte e cinco homens, de costas para a nave do templo do Senhor e as faces voltadas para o Oriente. Eles se prostravam em direção ao oriente, diante do sol.”193

Desde a época do exílio babilônico os judeus adotaram certa maneira de rezar, voltados para o Oriente, o que foi fixado de uma vez por todas em Jerusalém, sobretudo na colina do Templo. “A oração judaica tinha Jerusalém como direção, qualquer que fosse o lugar geográfico onde se encontrassem os filhos de Israel.”194

Assim, encontramos no livro do profeta Daniel: “Daniel entrou em sua casa, a qual tinha no quarto de cima janelas que davam para o lado de Jerusalém. Três vezes ao dia, ajoelhado, como antes, continuou a orar e a louvar a Deus” (Dn 6,11). E no livro dos Reis ouvimos de Salomão: “Quando o vosso povo partir para a guerra contra os seus inimigos, seguindo o caminho que lhe indicardes, se vos invocarem com o rosto voltado para a cidade que escolhestes, para o templo que edifiquei ao vosso nome, ouvi do alto dos céus as suas preces e súplicas, e fazei-lhes justiça” (1Rs 8,44-45). E ainda: “Se orarem a vós com o rosto voltado para a terra que destes a seus pais, para esta cidade que escolhestes, para este templo que construí ao vosso nome, ouvi, do alto dos céus, do alto de vossa morada, as suas preces e súplicas, e fazei-lhes justiça. Perdoai ao vosso povo os seus pecados e as ofensas que cometeu contra vós” (1Rs 8,48-50a).195

Quando a Igreja de Cristo surgiu os convertidos judeus que rezavam voltados para o Oriente (ou para o Templo) continuaram a prática, porém com novo significado.

O oriente evocava a Ascensão de Jesus. Os olhos fixos no céu, ali onde Cristo os abandonou, os Apóstolos ouviram de dois mensageiros celestes que Ele voltaria “do mesmo modo” (At 1,9-11). Esta relação entre a partida de Cristo e seu retorno a expressaram os escultores da fachada de Chartres, na qual a Ascensão e o Cristo da visão de Ezequiel foram dois temas complementares, um ao norte e outro ao centro, enquanto ao sul se relata a história da primeira vinda de Jesus, de uma maneira muito mais teológica que episódica.

193 Ezequiel 8,16 apud J. FOURNÉE, A Missa voltada para Deus, Cap. 2, p. 9. 194 J. FOURNÉE, A Missa voltada para Deus, Cap. 2, p. 9. 195 Cf. J. FORNÉE, A Missa voltada para Deus, Cap. 2, p. 9.

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Em suma, o que os novos cristãos esperavam, antes de tudo, do oriente era o retorno em glória e majestade de Cristo vencedor e soberano juiz. Foram preparados para isso pela interpretação de alguns textos do Antigo Testamento, e sobretudo pelo ensinamento do próprio Jesus. O capítulo 24 de São Mateus justificava sua vigilante espera. Especialmente no versículo 27 se encontra a comparação com o relâmpago que sai do Oriente.196

Assim a posição do sacerdote no Santo Sacrifício da Missa vem desde os tempos

apostólicos numa tradição initerrupta, de tal modo que negá-la incorreria em “incatolicidade”.

XI – Há testemunhos cristãos a respeito da orientação?

Sim, há testemunhos! Dentre eles podemos citar:

No séc. II, São Justino (†185 aproximadamente) é sensível à comparação entre Cristo e o Oriente. Comentando o capítulo 21 dos Números, versículo 8, vê na serpente de bronze levantada por Moisés o símbolo da cruz do Salvador.

Santo Irineu (†202): ‘É ele que ilumina as alturas, ou seja, os céus. É ele que adorna a larga extensão do Oriente ao Ocidente’.197

Lê-se em Clemente de Alexandria (†215 aproximadamente):

‘O Oriente é a imagem do dia que nasce. É deste lado também que cresce a luz, a qual em primeiro lugar faz desaparecer as trevas onde se detém a ignorância e de onde se separou o dia do conhecimento da verdade da mesma maneira como se eleva o sol. Por isto, é normal que se dirijam as orações rumo ao nascimento da manhã’.198

Tertuliano (†240 aproximadamente) – constata e aprova o uso observado pelos cristãos de se voltarem para o oriente para rezar. Volta-se para isso em várias ocasiões: Ad orientis regionem conversi, Deum precabantu... Ad orientis partem facere nos precationem.199

São Cipriano (†258) se expressa assim: Cristo é o verdadeiro sol e a verdadeira luz. Quando, ao declinar o dia, pedimos que a luz brilhe de novo sobre nós, imploramos a vinda de Cristo que nos dará a graça da eterna claridade. Ora, que Cristo seja designado como o dia é o que nos ensina o Espírito Santo nos salmos... É ele o dia que o Senhor fez; marchemos e alegremo-nos com sua luz... Cristo é igualmente designado como o sol, segundo nos atesta Malaquias.200

Um dos textos mais importantes é o de Orígenes (†255 aproximadamente) em seu Libellus de oratione: ‘E agora, a respeito da parte do mundo para a qual se deve dirigir para rezar, serei breve. Sendo quatro essas partes: o norte, o sul, o poente e o nascente, quem, pois negará que se deve indicar bem claramente o nascente, e que devemos rezar voltando-nos simbolicamente para esse lado, olhando com a alma de certo modo a saída da verdadeira luz? Se estando as portas da casa situadas não importa para que parte, alguém prefere por causa disso rezar para o lado de onde se abre a morada e sustém que a vista direta do céu o atrai mais que um muro que o esconde, no caso em que a entrada da dita casa não esteja para o Oriente, é necessário responder-lhe que pela vontade dos homens os edifícios se abrem para tal ou tal parte do mundo, enquanto que é pela própria natureza que o Oriente supera as outras

196 J. FOURNEE, Cap. 2, p. 11. 197 Jean FOURNEE, Cap. 2, p. 12. 198 Ibid, p. 13. 199 Idem. 200 Idem.

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regiões do céu. Ora, o que está na ordem natural supera o que provém de um arranjo arbitrário’.201

Lactâncio (250 ~ depois de 317) explica porque convém orar para o Oriente: ‘Desta terra, [Deus] constituiu duas partes contrárias e opostas uma à outra, a saber, oriente e ocidente. O Oriente está iluminado por Deus, Ele mesmo fonte da luz, iluminador de todas as coisas. Ele nos faz entrever a vida eterna. O Ocidente, pelo contrário, se atribui ao espírito turvo e vicioso, porque esconde a luz, porque traz sempre as trevas e faz que os homens sucumbam ao pecado. A luz vem do Oriente e a vida tem seu princípio na luz. As trevas estão no Ocidente, e nas trevas estão a morte e a destruição’.202

São Jerônimo (347~419), no livro segundo de seu comentário sobre Habacuc,

compara Cristo com o Sol de justiça que ilumina a Igreja. Comentando Zacarias, escreve: ‘O Senhor não se adiantará ao declinar o dia, na proximidade das sombras da tarde, como o fez, lemos, com Adão (cf. Gn 3,8). E quando se detiver, não será nos vales e nas depressões, mas sobre a montanha... E esta montanha está junto a Jerusalém, do lado do Oriente, de onde vem o Sol de Justiça’.

Mais incisiva e precisa é esta passagem de seu comentário sobre Amós (livro III), na qual recorda primeiramente os versículos 33 e 34 do Sl 68: ‘Cantai os louvores de Deus, fazei ressoar cânticos à glória do Senhor que subiu sobre todos os céus para o Oriente’.

E logo escreve: ‘Daqui vem que, em nossos mistérios, renunciemos primeiramente aquele que está no Ocidente e que morre em nós com os pecados, e, voltando-nos para o Oriente, nos aliemos ao Sol de justiça e prometamos servi-lo a partir de então’.203

E São Cirilo de Jerusalém (313~386) disse: “Quando renuncias a satanás, abolindo todo pacto com ele (cf. Is 28,15) e todas as velhas alianças com o inferno, então se abre para ti o paraíso de Deus, que Ele plantou ao Oriente (Gn 2,8), do qual, depois de ter violado o mandamento de Deus, foi expulso nosso primeiro pai. E em razão desse símbolo te voltaste do poente para o Oriente, que é a região da luz. E então é quando deves dizer: ‘Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, e em um batismo de penitência’”.204

XII – Mas como rezar nas igrejas onde é impossível ou difícil voltar-se para o Oriente?

Nas igrejas onde é impossível rezar a Santa Missa, ou pelo menos difícil de o fazer, voltado para o Oriente o sacerdote pode perfeitamente rezar de frente para o altar, no qual pode estar presente o sacrário com o Santíssimo Sacramento ou somente o crucifixo grande.

A posição do templo para o Oriente não é apenas uma questão de posição geográfica somente, mas de um gesto, um sinal muito expressivo e venerável pela Tradição que o acompanha desde o início da Igreja Católica. Como vimos acima, a orientação da Igreja de Deus é uma espera do Cristo Ressuscitado que foi ao Céu e que retornará. Ao rezar voltado para o Oriente não se está colocando em evidência o Oriente

201 Idem. 202 J. FOURNEE, A Missa voltada para Deus, Cap. 2, p. 13-14. 203 Ibid, p. 14. 204 Idem.

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em si, mas Deus, Jesus Cristo, que atuou na historia, vindo a nós do Oriente, viveu no Oriente, morreu no Oriente, ressuscitou no Oriente, subiu ao Céu no Oriente e do Céu voltará como um relâmpago. Por isso, como já é costume da Igreja, este Oriente geográfico pode ser representado por um “oriente espiritual”, ou seja, aquilo que nos representa Jesus-Oriente pode ser substituído por objetos sagrados (o altar e “a parede”) que nos remetem à realidade de Deus, ou ainda pode-se rezar diretamente voltado para Deus no sacrário.

Por isso, mesmo dizemos que no Rito Gregoriano o sacerdote reza voltado para Deus205, pois seja por Ele mesmo (Jesus no sacrário) seja pelo que O representa (altar ou crucifixo) deve ser sempre Deus o Oriente do sacerdote no seu posicionamento!

Capítulo 14

SOBRE A MISSA GREGORIANA206

XIII – A Missa tridentina foi proibida pelo Código de Direito Canônico e ab-rogada pela promulgação do novo Missal Romano. Hoje, só se reza a Missa do novo Ordinário de Paulo VI.

Esta afirmação não procede. Não existe nenhuma menção proibitiva ao Rito Gregoriano no Código de Direito Canônico.

O Rito Gregoriano não foi ab-rogado com a promulgação da Nova Missa. O Código de Direito Canônico diz que os costumes mais que centenários só são ab-rogados de forma explícita, ou seja, deve estar explicitamente indicada a sua ab-rogação. Isso não consta na “Institutio” (Instrução Geral) do Missal de 1969. A promulgação de uma Nova Missa não é fator suficiente para ab-rogar a Missa Gregoriana. Monsenhor Bugnini, presidente da Comissão que formulou o Novo Ordinário da Missa (1969), pediu para que se formulasse uma ab-rogação explícita do Rito Gregoriano, mas sem sucesso.

Em 1986, o Papa João Paulo II criou uma comissão de nove cardeais, para tratar do Rito Antigo. Perguntou aos mesmos cardeais se o Papa Paulo VI tinha intenção de proibir a Missa Gregoriana. “Oito dos nove cardeais responderam que a Nova Missa não tinha ab-rogado a Antiga. Todos os nove cardeais unanimemente afirmaram que o Papa Paulo VI nunca tinha concedido aos bispos a autoridade de proibir os sacerdotes de celebrar a Missa segundo o Missal de S. Pio V”.

Portanto, como nos diz o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei – que trata dos assuntos relacionados com o Rito Antigo, o Rito Gregoriano, não foi proibido: “Tudo isto faz ver claramente que este Rito,

205 Isso não significa afirmar que a Missa Versus populum não é “de frente para Deus” no sentido de exclui-lO.

Aqui nos referimos à posição aos objetos que representam a Deus e a Ele mesmo no Sacrário. 206 A seguir apresento trechos de um Texto do caríssimo amigo Ivan Luiz Chudzik Santos (Principais Perguntas,

Objeções e Questões sobre o Rito Tridentino, perguntas 1-8) com algumas adaptações. O texto é ótimo, caso alguém queira recebê-lo na íntegra pode me avisar que mando por e-mail, pois tenho permissão do autor (as referências deste texto se encontram no original).

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por concessão do Santo Padre, tem pleno direito de cidadania na Igreja, sem que isto queira diminuir a validade do Rito aprovado por Paulo VI e atualmente em vigor na Igreja latina.”

XIV – Quem pede ou deseja a Missa tridentina está contra o Concílio Vaticano II. Se o Concílio pediu uma nova Missa, aqueles que querem a Missa do Rito antigo estão contra o Concílio, e atentam contra a unidade da Igreja.

Em primeiro lugar, o Concílio não pediu uma Nova Missa, pediu a revisão dos textos da Missa no Rito Gregoriano, para que se mudasse ou adaptasse aspectos acidentais, sem, necessariamente, se criar um novo rito: “A Santa Mãe Igreja deseja com empenho cuidar da reforma geral de sua Liturgia, a fim de que o povo cristão na Sagrada Liturgia consiga com mais segurança graças abundantes” (Concílio Vaticano II § 552, Sacrosanctum Concilium).

As mudanças desejadas pelo Concílio não consistiam em criar um novo rito, mas em reformar o Rito de então. Portanto, eram em aspectos acidentais que o Vaticano II desejou mudança: “Estas [as partes mutáveis da Liturgia], com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas se introduzir algo que não corresponda bem à natureza íntima da própria Liturgia, ou se estas partes se tornarem menos aptas” (idem).

A formulação do Novo Rito aconteceu depois da conclusão dos trabalhos do Concílio. Muitos liturgistas acreditam que a Missa reformada em 1965, com a simplificação de algumas orações do Rito Gregoriano, já atendiam às mudanças propostas pelo Concílio, e que uma Nova Missa ia além das propostas do Vaticano II. O próprio Papa e Beato João XXIII, que convocou o Concílio, efetuou algumas reformas no Missal Gregoriano, em 1962, e é justamente este Missal que alguns fiéis solicitam.

Se o Concílio não pediu a formulação de um Novo Missal, como podem os fiéis ligados ao Rito Gregoriano estarem contra o Concílio? O argumento não faz sentido neste aspecto.

O teólogo do Papa, Padre Nicola Bux, em seu excelente exame sobre as reformas da Missa, demonstra o contrário. O Concílio desejou não a proibição, mas a permanência do Rito Gregoriano na Igreja. Citemos um trecho do trabalho do Padre:

Há um parágrafo na Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia que parece referir-se à questão do estatuto jurídico-canônico do Missal de S. Pio V. Antes de especificar os modos nos quais se deverá rever o rito da Missa, Sacrosanctum Concilium estabelece no parágrafo 49: Para que o Sacrifício da missa alcance plena eficácia pastoral, mesmo quanto ao seu rito, o sagrado Concílio, tendo em atenção as missas que se celebram com assistência do povo, sobretudo aos domingos e nas festas de preceito, determina o seguinte:

Essa passagem pressupõe que existam duas formas do rito da Missa, uma com a assistência dos fiéis, especialmente no Domingo e nas festas de preceito (cum populo), e uma sem a assistência dos fiéis (sine populo). Parece que era intenção do Concílio que as revisões, que são introduzidas no parágrafo seguinte de Sacrosanctum Concilium, dissessem respeito somente ao rito da Missa cum populo. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia obviamente imagina que a Missa Antiga continua existindo como forma sacerdotal de celebração do Sacrifício Eucarístico sine populo; isso significaria também que o sacerdote tem o direito de celebrar o Rito Antigo como Missa privada.

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Como evidencia o Padre Nicola, as mudanças propostas pelo Concílio não anulavam a Missa Gregoriana, mas permitia a continuação de sua celebração, ainda que houvesse um Novo Rito ou um Rito reformado. Não podemos cometer injustiça e dizer que, os fiéis que solicitam a Missa de Rito Antigo, são, necessariamente, cismáticos, que se opõe às normas atuais da Igreja.

Apesar de também existirem fiéis que não aceitam ser o Missal de Paulo VI lícito, e de rejeitarem as proposições do Concílio Vaticano II, não podemos negar o direito de todos os fiéis do Rito Latino de ter a Missa no Rito Antigo só por causa daqueles. E mesmo os ditos fiéis “tradicionalistas” também têm o seu espaço na Igreja. É o que diz o Cardeal Hoyos:

Na Igreja há uma tal variedade de dons postos à disposição das consciências e sensibilidades diferentes, com suas especificidades, que encontram seu lugar justamente nesta riqueza abundante da catolicidade. Não se pode recusar que no seio de uma tal variedade de dons e sensibilidades os ditos “tradicionalistas” estejam também presentes; e não se devem tratá-los como “fiéis de segunda categoria”, mas é preciso proteger seu direito de poder exprimir a fé e a piedade segundo uma sensibilidade particular, que o Santo Padre reconhece como totalmente legítima.

O Cardeal Ratzinger, em 2001, também expressou a sua decepção em ver perseguições aos fiéis que pedem o Rito Antigo:

Para uma reta conscientização em matéria litúrgica é importante que não se sobressaia a atitude de suficiência para a forma litúrgica em vigor até 1970. Quem hoje defende a continuação desta liturgia [da Liturgia antiga], ou participa diretamente de celebrações dessa natureza, é colocado no índice; qualquer tolerância fica em segundo plano a propósito. Nunca aconteceu nada do gênero na história; deste modo, é todo o passado da Igreja a ser desprezado. Como se pode esperar no seu presente se as coisas estão assim? Para ser franco, tão pouco entendo porque tanta subjeção, por parte de muitos coirmãos bispos, em relação a essa intolerância, que parece ser um tributo obrigatório ao espírito dos tempos, e que parece contrastar, sem um motivo compreensível, o processo de necessária reconciliação no seio da Igreja.

XV – A Missa tridentina é permitida, mas ainda assim ela só pode ser celebrada mediante autorização do bispo, pois ele é o mediador da liturgia numa diocese, e assim determinou o Papa João Paulo II no indulto “Quattuor abhinc annos”, de 1984.

É verdade que João Paulo II permitiu que os Bispos aceitassem a celebração da Missa Gregoriana caso os fiéis a solicitassem, mas o próprio Papa sabia que tais medidas eram insuficientes por causa da Comissão cardinalícia de 1986, que pediu o alargamento do Indulto.

É notável que a Santa Sé reconhecia o direito do sacerdote de celebrar a Missa no Rito Antigo. Por isso, todas as vezes que os sacerdotes eram injustamente suspensos por ter celebrado a Missa Antiga contra a vontade de seus bispos, a Cúria Romana sempre anulava a medida toda vez que um apelo era dirigido a ela. Pertence ainda à atual jurisprudência da Igreja que, por meio de apelo, qualquer suspensão que um Ordinário tenta infligir a um sacerdote para a celebração da Missa Antiga contra a vontade do bispo é automaticamente anulada.

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Porém, apesar de o Indulto de João Paulo II ter se demonstrado insuficiente, e os Cardeais pedirem o seu alargamento, isso só veio acontecer efetivamente com a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, por Bento XVI, em 7 de julho de 2007. O Motu Proprio assim diz:

Art. 1. O Missal Romano promulgado por Paulo VI deve ser considerado como a expressão ordinária da lei da oração (lex orandi) da Igreja Católica de Rito Romano, enquanto que o Missal Romano promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo Beato João XXIII como a expressão extraordinária da lei da oração ( lex orandi) e em razão de seu venerável e antigo uso goze da devida honra.

Art. 2. Em Missas celebradas sem o povo, qualquer sacerdote de Rito Latino, seja secular ou religioso, pode usar o Missal Romano publicado pelo Beato João XXIII em 1962 ou o Missal Romano promulgado pelo Sumo Pontífice Paulo VI em 1970, qualquer dia exceto no Sagrado Tríduo. Para a celebração segundo um ou outro Missal, um sacerdote não requer de nenhuma permissão, nem da Sé Apostólica nem de seu Ordinário.

Alguém poderia argumentar que a Missa Gregoriana pode ser celebrada, mas sem assistência do povo, como consta no supracitado artigo 2 do documento. Essa questão se resolve no próprio documento: “Art. 4. Com a devida observância da lei, inclusive os fiéis Cristãos que espontaneamente o solicitem, podem ser admitidos à Santa Missa mencionada no art. 2.”

Se o Papa deu aos padres o direito de celebrar a Missa Gregoriana sem a prévia autorização do Bispo, isso não significa a diminuição do poder episcopal, como pensaram erroneamente alguns. Esclarece o Cardeal Hoyos a questão em sua entrevista à Revista 30 Dias:

O bispo é o moderador da liturgia em sua diocese. Mas a Sé Apostólica tem a competência de ordenar a liturgia sagrada da Igreja universal. E um bispo deve agir em harmonia com a Sé Apostólica e garantir os direitos de cada fiel, inclusive o direito de participar da Missa de São Pio V, como forma extraordinária do Rito.

O Papa deu aos padres um direito, o que não nega, no entanto, a autoridade dos Bispos. Mas, caso haja alguma dificuldade, o Bispo pode intervir para dar a melhor solução, sem jamais proibir a celebração do Rito Gregoriano, que é um direito claro dos fiéis: “Obviamente, se houver dificuldades, caberá ao bispo fazer que tudo transcorra num clima de respeito e, eu diria, de bom senso, em harmonia com o Pastor universal”.

XVI - Se o bispo não pode proibir que um padre, secular ou religioso, celebre a Missa tridentina o pároco, no entanto, pode se opôr a esta celebração em sua paróquia.

Nem o pároco pode se opôr. Esta questão está no próprio documento papal: “Art. 5, § 1. Em paróquias onde um grupo de fiéis aderidos à prévia tradição litúrgica existe de maneira estável, que o pároco aceite seus pedidos para a celebração da Santa Missa de acordo ao Rito do Missal Romano publicado em 1962.”

O Cardeal Castrillón Hoyos também deixa isso claro: “É claro que nenhum pároco será obrigado a celebrar a Missa de São Pio V. Só que, se um grupo de fiéis, tendo um sacerdote disponível para fazê-lo, pedir que essa Missa seja celebrada, o pároco ou o reitor da igreja não poderá se opor”.

E na sua entrevista à Rádio Vaticana, o Cardeal complementa:

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Já o Código [de Direito Canônico] diz quem deve dar a permissão para celebrar a Missa não é o bispo: o bispo dá o celebrantet – a potestade de poder celebrar – mas quando um sacerdote tem essa potestade, são o pároco e o capelão que devem oferecer o altar para celebrar. Se alguém o impede, cabe à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei tomar medidas, em nome do Santo Padre, a fim de que esse direito – que é um direito claro dos fiéis – seja respeitado.

A Missa Gregoriana é um direito dos fiéis que não pode ser impedido nem mesmo pelo pároco. Este deve aceitar e acolher o pedido dos fiéis que desejam ter a Missa, e já possuem um padre disposto a celebrá-la.

O Papa não impõe a obrigação; o Papa impõe, porém, que se ofereça essa possibilidade onde os fiéis quiserem. No caso de um conflito, porque humanamente dois grupos podem entrar em contraste, a autoridade do bispo – como diz o Motu Proprio – deve intervir para evitá-lo, mas sem anular o direito que o Papa deu a toda a Igreja.

XVII – A Missa é autorizada, mas o documento do Papa Bento XVI diz que o Rito tridentino é “extraordinário”, ou seja, só deve ser rezado de vez em quando, enquanto que o Rito de Paulo VI deve ser rezado sempre.

Os termos “ordinário” e “extraordinário”, que designam a Missa de Paulo VI e de Pio V, respectivamente, são de caráter jurídico, ou seja, não estão designando a frequência com que o Rito deve ser celebrado, mas a sua natureza dentro do Rito Romano. Assim diz o teólogo Padre Nicola Bux: “Praticamente significa que se a Missa Antiga perdeu a sua posição privilegiada, não obstante ela continua existindo e o fiel tem direito a esta”.

O próprio Cardeal Hoyos, perguntado sobre este assunto numa coletiva de imprensa na Inglaterra, respondeu: “Não ‘excepcional’. Extraordinário significa ‘não ordinário’, e não ‘excepcional’.”

Se o argumento fosse levado às suas últimas consequências, as paróquias deveriam excluir os Ministros da Comunhão, tendo em vista que eles são “Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística”!

XVIII – A Missa é a expressão da fé da Igreja. É uma ação de toda a Igreja, e não destinada só a grupos. A Missa tridentina tende a criar divisões nas paróquias.

Esta objeção foi respondida pelo Cardeal Hoyos:

Se as coisas forem feitas com bom senso, simplesmente, não se correrá esse risco. Além do mais, já há dioceses em que se celebram Missas em vários Ritos, uma vez que existem comunidades de fiéis latinos, greco-latinos ucranianos ou rutenos, maronitas, melquitas, siro-católicos, caldeus, etc. Penso, por exemplo, em algumas dioceses dos Estados Unidos, como Pittsburgh, que vivem essa legítima variedade litúrgica como uma riqueza, não como uma tragédia. E existem também paróquias que acolhem Ritos diferentes do latino, entre outras as de comunidades ortodoxas ou pré-calcedonianas, sem que isso suscite escândalo.

No mundo todo existem paróquias aonde vários Ritos coexistem. A existência das duas Formas do Rito Romano numa paróquia não quebra a unidade da Igreja e nem cria cisões. A experiência de tantos lugares demonstra que, quando tudo é feito com bom senso e justiça, não existem riscos. No Brasil, em diversas Dioceses, já existe o Rito Gregoriano, permanecendo também o Rito de Paulo VI. E em Campos dos Goytacazes,

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onde existe a Administração Apostólica São João Maria Vianney, o Rito Gregoriano é celebrado em muitas paróquias, em plena união com a Diocese.

Aquele que diz que “a Missa é para a comunidade”, ao passo que o Rito Gregoriano é para “grupos”, não entendeu o estado da situação.

Assistir a Missa é um dever de todos os fiéis, e cada fiel pertence a um Rito. Os fiéis do Rito Latino, no entanto, têm direito tanto à Forma Ordinária (de Paulo VI) quanto à Forma Extraordinária (de São Pio V) do Rito Romano, ao mesmo tempo em que os padres também têm direito de celebrar nas duas Formas. Portanto, dizer que a celebração da Missa “é para todos, e não só para grupos”, só pode ser dito por alguém que não entendeu nada.

O Papa Bento XVI não deu a Forma Extraordinária para um grupo reservado de fiéis, muito menos só para cessar as reclamações dos fiéis tradicionalistas, como consta na entrevista do Cardeal Hoyos à Revista 30 Dias: “Hoje, o motu proprio se dirige a todos os fiéis ligados à Missa de São Pio V, e não apenas aos de proveniência, por assim dizer, lefebvriana”.

A Missa Gregoriana é para todos, tanto quanto a Missa de Paulo VI. A diferença é que, ainda que essa Missa seja direito de todos, os fiéis não são obrigados a assisti-la necessariamente, podendo assistir a Missa de 1970, para cumprir a obrigação dominical.

A Missa é para todo o Rito Latino, e não só para grupos. Todos podem ter acesso a ela, como disse o Cardeal Hoyos, quando esteve no Brasil, por ocasião do CELAM: “O Santo Padre tem a intenção de estender a toda a Igreja latina a possibilidade de celebrar a Santa Missa e os Sacramentos segundo os livros litúrgicos promulgados pelo Beato João XXIII em 1962”.

XIX – Não são todas as paróquias que comportam a Missa tridentina. Somente em cidades grandes ou capitais ela é possível, ou em lugares aonde essa tradição se manteve viva. Em cidades menores, no interior, ou, de modo geral, em paróquias comuns, ela não é viável, sobretudo por causa do número mínimo de fiéis.

Como já disse várias vezes o Cardeal Hoyos, a Missa Gregoriana é um direito de todos os fiéis de Rito Romano. Não está reservada a grupos, mesmo que somente uma parcela dos fiéis queira assisti-la com frequência. Isso não anula o direito particular de cada fiel de ter essa Forma do Rito Latino. Não existe restrição de paróquia para a celebração do Rito Antigo. Em todas as paróquias é possível que ele exista, ou melhor, o desejo do Papa é que, futuramente, exista o Rito Antigo em todas as paróquias, conforme disse o Cardeal Castrillón, em entrevista na Inglaterra: “Não muitas – todas as paróquias, pois isso é um dom de Deus. Ele oferece essas riquezas e é muito importante para as novas gerações conhecer o passado da Igreja.”

Se existem limitações humanas a essa Missa – indisponibilidade de espaço, falta de horários, desconhecimento do latim, falta de catequese dos fiéis neste Rito – cabe aos Bispos e Padres providenciar recursos para que ela possa ser celebrada, e, deste modo, o direito dos fiéis seja observado. Na coletiva de imprensa na Inglaterra, o Cardeal Hoyos respondeu a perguntas sobre o modo de se aplicar o Rito nas paróquias:

Anna Arco (The Catholic Herald): Nesse sentido, gostaria de ver todos os seminários da Inglaterra e Gales ensinando os seminaristas a celebrar na forma extraordinária?

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Cardeal Castrillon: Eu gostaria e será necessário. Nós estamos escrevendo aos seminários, estamos de acordo que devemos fazer uma grande preparação não apenas para o Rito, mas para ensinar a teologia, a filosofia, a língua latina.

DT: Quais seriam os passos práticos para as paróquias ordinárias [para se preparar para o Rito Gregoriano]?

Cardeal Castrillon: Se o pároco reserva uma hora aos domingos para celebrar a Missa e preparar com catequese a comunidade para compreendê-lo, apreciar o poder do silêncio, o poder da sagrada forma de frente para Deus, a profunda teologia, para descobrir como e por que o padre representa Cristo e rezar com o padre.

Também haviam especulações sobre o número mínimo de fiéis para que se atendesse o pedido de ter a Missa Gregoriana nas Dioceses. Dom Darío Castrillón Hoyos negou as suposições que saíram na Imprensa, dizendo que era necessário, no mínimo, 30 pessoas. Pelo contrário, a possibilidade da Missa se faz presente por muito menos:

DT: E quanto ao “grupo estável”?

Cardeal Castrillon: Isso é uma matéria de senso comum… Em todo palácio episcopal existem talvez três ou quatro pessoas. Isso é um grupo estável…. Não é possível dar a duas pessoas uma Missa, mas duas aqui, duas ali, duas acolá – eles podem tê-la. Eles são um grupo estável.

DT: De paróquias diferentes?

Cardeal Castrillon: Sem problema! Esse é o nosso mundo. Gerentes de empresas não vivem no mesmo lugar, mas eles são um grupo estável.

Quando a Fraternidade Sacerdotal São Pedro – fundada pelo Cardeal Ratzinger na década de 90 – lançou um DVD explicativo da Missa Gregoriana, o Cardeal Castrillón Hoyos foi convidado a fazer a introdução do vídeo. Sobre a extensão da Missa em toda a Igreja, assim ele disse:

[...] toda essa riqueza litúrgica, toda essa riqueza espiritual e todas as orações tão bem preservadas por séculos, tudo isso é oferecido para todos como um presente. Não é um presente para os assim chamados tradicionalistas, não, mas é um presente para toda a Igreja Católica, e porque é um presente oferecido livremente que o Santo Padre fez, ele o fez para todos por meio da maravilhosa estrutura da Igreja, que são as paróquias, os sacerdotes e os capelães e as capelas onde a Eucaristia é celebrada, e eles, pela vontade do Vigário de Cristo, devem aceitar as petições e requerimentos dos fiéis que querem essa Missa e a devem oferecer a eles, e mesmo que essa Missa não seja especificamente solicitada ou pedida, eles devem torná-la acessível para que todos tenham acesso a este tesouro da antiga liturgia da Igreja. Este é o principal objetivo do Motu Proprio, a riqueza espiritual e teológica.

O Santo Padre quer que essa forma da Missa se converta numa forma normal nas paróquias e que desse modo as comunidades jovens se familiarizem também com esse Rito.

As palavras de Sua Eminência são claras: a Missa é um direito de todos os fiéis, e os padres devem oferecê-la ainda que não seja solicitada, antes mesmo que seja solicitada pelos fiéis. Muitos fiéis têm desejo de assistir o Rito Gregoriano, mas não conhecem o atual estado canônico da Missa, não sabem e nem têm subsídios para organizar uma celebração desse tipo. Por isso, os padres, por vontade própria, devem oferecer essa Missa, que é desejada de forma velada por muitos fiéis, principalmente os idosos que já assistiram a este Rito.

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Alguns padres pensam que, já que essa Missa não é do interesse de toda a paróquia, ela “não vale a pena”, é “perda de tempo”, “desnecessária”, “supérflua”, etc. Essa mentalidade não pode ser católica; afinal, a Missa é a renovação incruenta e mística do Sacrifício de Cristo no Calvário, por meio das Espécies do Pão e do Vinho, pelas mãos do sacerdote. A Missa é uma ação de Cristo por meio do ministério sacerdotal, ao qual se unem todos os fiéis católicos. Portanto, a Missa não é uma ação do povo ou do padre, mas uma ação de Cristo, ao qual se une toda a Igreja. [...] O padre que se recusa a celebrar a Missa, recusa a oferta perfeita de Cristo no Altar, recusa o próprio culto a Deus, o que é algo bastante escandaloso para um sacerdote, já que é essa a sua razão de ser. Dom Malcolm Ranjith, ex-secretário da Congregação do Culto Divino, já lamentava, em entrevista, de um preconceito velado de alguns sacerdotes em relação ao Rito Antigo.

XX – Mas a Missa tridentina é em latim e o uso do latim deve ser regulado pelo bispo. Só ele pode autorizar Missas em latim.

Ora, o Concílio renova o ensino de que o latim é a língua oficial da Igreja, dando, porém, permissão para o uso do vernáculo, então a língua latina continua sendo a regra, enquanto que o vernáculo é a exceção. Não é para o latim que se precisa de autorização, mas para o vernáculo, como consta no próprio Concílio Vaticano II: “Baseada nestas normas, cabe à competente autoridade eclesiástica territorial, [...] decidir sobre a omissão e a extensão da língua nacional”.

O documento Redemptionis Sacramentum, de 2003, mais uma vez, demonstra isso: “Excetuadas as Celebrações da Missa que, de acordo com as horas e os momentos, a autoridade eclesiástica estabelece que se façam na língua do povo, sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo Sacrifício em latim.”

XXI – Mas o latim e o canto gregoriano são elementos da Liturgia que só devem, porém, existir em mosteiros ou ordens de vida religiosa.

Novamente o Concílio Vaticano II desmente isso. Se o Concílio estabeleceu que o latim permanece como a língua oficial da Igreja, então qualquer padre do Rito Latino pode celebrar nesta língua, e não só os de vida religiosa.

Ademais, Bento XVI pediu para que, em toda a Igreja, os seminaristas fossem educados no latim: “A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano (...).”

Tendo em vista o desaparecimento abrupto do latim na vida da Igreja, o Cardeal Francis Arinze, ex-Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, disse durante um discurso proferido em Saint Louis “[....] que as paróquias maiores tenham uma Missa em latim pelo menos uma vez por semana e que as paróquias rurais e menores a tivessem pelo menos uma vez ao mês.” Ou seja, já que o latim foi praticamente suprimido quase que totalmente da Igreja, hoje – por um infortúnio – então que, pelo menos, se celebre em latim, no mínimo, uma vez na semana. Ora, se o Cardeal Arinze disse que em todas as paróquias – sejam maiores ou menores – devem ter Missa em latim, logo, é falso afirmar que o latim é só para a vida religiosa.

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Também é falso afirmar que o latim permanece somente no Rito Gregoriano. Muitos padres pensam que “Missa Gregoriana” e “Missa em latim” é a mesma coisa, como se fossem sinônimos absolutos. A Missa Nova pode ser rezada tanto em latim quanto em vernáculo, pois o Cardeal Arinze, no seu discurso acima citado, estava obviamente falando do Novus Ordo.

Mas se a questão é que “somente aonde o povo sabe latim” é que se celebra “Missa em latim”, então por que não oferecer aos fiéis as orações principais da Igreja em latim? Aqueles que dão este argumento já o dão porque também não fazem a menor questão de resolver o problema. O argumento é proposital, infelizmente. O Papa Bento XVI pediu, aliás, para que os fiéis fossem ensinados nesta língua: “(...) nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia.”.

XXII – O latim, no entanto, só deve ser usado em celebrações internacionais.

Esta afirmação parte de uma má leitura da Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis”, de Bento XVI. Nela o Papa Bento XVI disse que, de preferência, as celebrações com fiéis de diversas nacionalidades sejam rezadas em latim, como fator de unidade entre todos:

(...) penso neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar durante encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina (...).

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ÚLTIMA PALAVRINHA!

Caríssimos irmãos e irmãs, ao chegarmos ao final desta pequena exposição, apesar do grande esforço, sentimos que nossa ajuda ainda é muito limitada e imperfeita, por isso, queremos pedir desculpas, mas ao mesmo tempo desejamos que nosso trabalho sirva à formação pessoal de cada um. Esta primeira edição do volume I será posteriormente melhorada e redestribuída, para isso pedimos mais uma vez vossa ajuda.

Não podemos deixar de pedir que cada um possa buscar outras fontes católicas para a formação litúrgica e recomendar esta que agora terminamos de apresentar.

Por mais que estudemos, pesquisemos e amemos a Sagrada Liturgia nada adiantará se não acompanharmos tudo isso com o nosso testemunho. Este testemunho não é algo de extraordinário, pelo contrário, é ordinário, cotidiano, dado nas pequenas coisas relacionadas a Deus, desde uma simples genuflexão até a íntima união da oração com os sentidos e sentimentos, tão desejados pelo Concilio Vaticano II207. Nosso testemunho litúrgico é a maior formação que podemos oferecer ao próximo, privá-los da demonstração de nosso zelo nos levaria, como diz o Concílio de Trento, a cair no número dos malditos que executam com negligência as obras de Deus208.

Portanto, participemos da Liturgia de nossa Santa Igreja nesta terra, contemplando já as alegrias celestes, as quais somos chamados a participar, na comunhão dos Santos e na feliz espera da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo209. Sejamos zelosos no serviço de Deus e que nossa assistência seja interior e exterior210, ativa e frutuosa211, a fim de que a Liturgia seja, de fato, o cume de nossa ação eclesial e a fonte de nossa força, e para que nossa participação nos leve a conservar na vida o que recebemos na Fé.212

Que a Santíssima Virgem Maria nos conduza sempre mais ao seu Filho Santíssimo e nos faça recebê-lO e servi-lO do modo mais conveniente possível.

Abraços fraternos e pax!

In nomine Domine,

Seminarista Jorge Luís

207 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 11, p. 15. 208 S.C.E. TRENTO, p. 91. 209 Cf. PAULO VI, Sacrosanctum Concilium, n. 8, p. 13. 210 Ibid, n. 11, p. 16. 211 Ibid, n. 19, p. 20. 212 Ibid, n. 10, pp. 14-15.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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_______. Catecismo da Igreja Católica. Tradução por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Loyola, 2000. 934 p. LEFEBVRE, Gaspar. Missal Romano Quotidiano: Latim-Português. Tradução por Monges Beneditinos de Singeverga. Bruges [Bélgica]: bíblica, 1963. 1723 p. _______. Liturgia: Princípios Fundamentais. Tradução por A.C.. Porto, RJ: Machado & Ribeiro, 1922. 262 p. LIBERALI, Ricardo D.. Horas de Combate: ou Vademecum apologético para uso dos leigos. 6ª ed. s/l: Paulinas, 1956. 287 p. LITURGIA DAS HORAS: Ofício das Leituras. Tradução por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulinas, 1987. 1790 p. MATOS, Henrique Cristiano José. Aprenda a estudar: Orientações metodológicas para o estudo. 15ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 139 p. MARSILI, Salvatore et al. Panorama histórico geral da Liturgia. Tradução por Cristina Pena de Andrade. São Paulo: Paulinas, 1986. 281 p. MISSAL DOMINICAL: Missal da Assembléia Cristã. Tradução por Monjas Beneditinas do Mosteiro Nossa Senhora da Paz. 5ª ed. São Paulo: Paulus, 1995. 1461 p. PINTO, Manuel. O valor teológico da Liturgia: ensaio de um Tratado. Braga, Portugal: Livaria Cruz, 1952. 369 p. PIO XII. Mediator Dei: A Sagrada Liturgia. In: Documentos da Igreja: Documentos de Pio XII. São Paulo: Paulus, 1999. p. 289-370. PORTO-MAURÍCIO, Leonardo. As Excelências da Santa Missa. s/Trad. Roma: s/Ed. 1737. 128 p. REYNA, Alberto Wagner de. Introdução à Liturgia. Tradução por Oscar Mendes. Rio de Janeiro: AGIR, 1947. 315 p. REUS, João Batista. Curso de Liturgia. 2ª ed. São Paulo: vozes, 1940. 516 p. ROUET, Albert. A Missa na história. São Paulo: Paulinas, 1981. 129 p. SANTOS, Ivan Luiz Chudzik. [sem título] s.n.t.

_________. Principais Peguntas, objeções e Questões sobre o Rito Tridentino. s.n.t. SACROSSANTO CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO: Documentos. [Compilaçãopor Jorge Luís da Silva].

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ÍNDICE Dedicatória – 04 Advertência ao leitor – 05 Introdução – 06

PRIMEIRA PARTE: RESUMO HISTÓRICO

Capítulo 1: A INSTITUIÇÃO DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA – 09 I. Os sacrifícios judaicos – 09 II. A instituição do Sacrifício cristão – 10

Capítulo 2: DESENVOLVIMENTO DA LITURGIA CRISTÃ – 11 I. Culto cristão e culto judeu – 11 II. Os tempos apostólicos – 12 III. Os primeiros séculos da Liturgia cristã – 13

Capítulo 3: MAS O QUE É A SANTA MISSA INSTITUÍDA POR JESUS? – 14 I. Doutrina da Igreja – 14 II. Os Santos e a Santa Missa – 15

Capítulo 4: OS RITOS DA SANTA IGREJA CATÓLICA – 16 I. As Famílias litúrgicas Católicas – 16 II. Os Ritos da Igreja Católica Oriental – 17 III. Os Ritos da Igreja Católica Ocidental – 18

Capítulo 5: O RITO ROMANO A PARTIR DO PAPA PIO V – 20 I. Pedido pela unificação litúrgica – 21 II. A bula Quo Primum Tempore do Papa São Pio V – 21 III. Depois da unificação do Rito Romano – 23

SEGUNDA PARTE: A SANTA MISSA NO RITO ROMANO

Capítulo 6: VISÃO GERAL – 28 I. Estrutura geral da Santa Missa – 28 II. Classificação das Missas – 29

Capítulo 7: ORDINÁRIO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO – 30 I. Preparação – 31 II. Primeira parte: Ante-Missa – 35 III. Segunda parte: Sacrifício – 40 IV. Último Evangelho – 67 V. Orações no fim da Missa Rezada – 68

Capítulo 8: O RITO GREGORIANO A PARTIR DO SANTO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II – 70

I. Linhas gerais da Sacrosanctum Concilium – 70 II. As reformas de 1970 – 73 III. A quase extinção do Rito Gregoriano – 75

Capítulo 9: O RITO GREGORIANO COMO FORMA EXTRAORDINÁRIA DO RITO ROMANO – 75

I. Motu Proprio do Romano Pontífice Bento XVI – 76 II. Motu Proprio, nova legislação – recapitulação – 79

Capítulo 10: VIGOR DO MOTU PROPRIO SUMMORUM PONTIFICUM – 80 I. Será um retrocesso? – 80 II. Acolhida por parte dos Bispos e Cardeais – 81 III. Comunhão da Igreja Católica – 82

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Capítulo 11: POR QUE ACOLHER O RITO GREGORIANO? – 82

TERCEIRA PARTE: QUESTÕES FREQÜENTES

Capítulo 12: SOBRE O LATIM – 87 I – O que é o Latim? – 87 II – Donde veio a língua latina? – 87 III – Por que a Igreja continua usando o Latim? – 88 IV – Quais as vantagens do uso do Latim na Missa? – 89 V – Os fiéis não entendem nada do Latim – 90 VI - O que a Igreja ensina a respeito da língua latina? – 92 VII – Mas o que o Vaticano II diz sobre o Latim? – 96 VIII – Como se pronuncia o Latim? – 97

Capítulo 13: SOBRE A ORIENTAÇÃO DO SACERDOTE NA MISSA – 98 IX – Por que o padre celebra de costas para o povo? – 98 X – Donde vem essa orientação referente à Santa Missa? – 99 XI – Há testemunhos cristãos a respeito da orientação? – 100 XII – Mas como rezar nas igrejas onde é impossível ou difícil voltar-se para o

Oriente? – 101

Capítulo 14: SOBRE A MISSA GREGORIANA – 102 XIII – A Missa tridentina foi proibida pelo Código de Direito Canônico e ab-

rogada pela promulgação do novo Missal Romano. Hoje, só se reza a Missa do novo Ordinário de Paulo VI. – 102

XIV – Quem pede ou deseja a Missa tridentina está contra o Concílio Vaticano II. Se o Concílio pediu uma nova Missa, aqueles que querem a Missa do Rito antigo estão contra o Concílio, e atentam contra a unidade da Igreja. – 103

XV – A Missa tridentina é permitida, mas ainda assim ela só pode ser celebrada mediante autorização do bispo, pois ele é o mediador da liturgia numa diocese, e assim determinou o Papa João Paulo II no indulto “Quattuor abhinc annos”, de 1984. – 104

XVI - Se o bispo não pode proibir que um padre, secular ou religioso, celebre a Missa tridentina o pároco, no entanto, pode se opôr a esta celebração em sua paróquia. – 105

XVII – A Missa é autorizada, mas o documento do Papa Bento XVI diz que o Rito tridentino é “extraordinário”, ou seja, só deve ser rezado de vez em quando, enquanto que o Rito de Paulo VI deve ser rezado sempre. – 106

XVIII – A Missa é a expressão da fé da Igreja. É uma ação de toda a Igreja, e não destinada só a grupos. A Missa tridentina tende a criar divisões nas paróquias. – 106

XIX – Não são todas as paróquias que comportam a Missa tridentina. Somente em cidades grandes ou capitais ela é possível, ou em lugares aonde essa tradição se manteve viva. Em cidades menores, no interior, ou, de modo geral, em paróquias comuns, ela não é viável, sobretudo por causa do número mínimo de fiéis. – 107

XX – Mas a Missa tridentina é em latim e o uso do latim deve ser regulado pelo bispo. Só ele pode autorizar Missas em latim. – 109

XXI – Mas o latim e o canto gregoriano são elementos da Liturgia que só devem, porém, existir em mosteiros ou ordens de vida religiosa. – 109

XXII – O latim, no entanto, só deve ser usado em celebrações internacionais. – 110

Última Palavrinha! – 111

Referência Bibliográfica – 112