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FILOSOFIA "Por que, pergunto, tão poucos conhecem e compreendem o poder interno? ... Aquele que em si mesmo vê todas as coisas é todas as coisas." ~ Giordano Bruno ~ ~ O Caminho da Filosofia ~ O mundo é um livro no qual o eterno Juízo Escreveu os seus pensamentos; o templo vivo onde Em si mesmo pintando belas figuras Ornamentou inteiramente a imensa circunferência. Aqui, pois, todo homem deveria ler, com o olhar descobrir Como viver, governar, e temer A impiedade; e ao ver em toda parte Deus, Ser usado e compreender a mente universal. Mas nós nos vinculamos aos livros e templos mortos Copiados com erros sem conta do que é vivo Esses, mais nobres que aquela escola, dita sublime. Oh, possam nossas desajuizadas almas ser conduzidas À verdade, através da dor, do pesar, da angústia e da luta! Voltemo-nos e leiamos o único original. (Soneto de Campanella, escrito em sua prisão de Nápoles) ~ A Filosofia da Lógica ~ ~ Gibran Kahlil Gibran ~ Salem Effandy meditava sobre o que lia e sentia-se tomado de admiração pelos filósofos e sábios do Leste e do Oeste. Page 1 of 14 Filosofia - © Starnews 2001 23/5/2009 http://www.starnews2001.com.br/filosofia.html

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FILOSOFIA

"Por que, pergunto, tão poucos conhecem e compreendem o poder interno?

... Aquele que em si mesmo vê todas as coisas é todas as coisas."

~ Giordano Bruno ~

~ O Caminho da Filosofia ~

O mundo é um livro no qual o eterno Juízo Escreveu os seus pensamentos; o templo vivo onde Em si mesmo pintando belas figuras Ornamentou inteiramente a imensa circunferência. Aqui, pois, todo homem deveria ler, com o olhar descobrir Como viver, governar, e temer A impiedade; e ao ver em toda parte Deus, Ser usado e compreender a mente universal. Mas nós nos vinculamos aos livros e templos mortos Copiados com erros sem conta do que é vivo Esses, mais nobres que aquela escola, dita sublime. Oh, possam nossas desajuizadas almas ser conduzidas À verdade, através da dor, do pesar, da angústia e da luta! Voltemo-nos e leiamos o único original.

(Soneto de Campanella, escrito em sua prisão de Nápoles)

~ A Filosofia da Lógica ~

~ Gibran Kahlil Gibran ~

Salem Effandy meditava sobre o que lia e sentia-se tomado de admiração pelos filósofos e sábios do Leste e do Oeste.

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"Conhece-te a ti mesmo" — ele repetia Sócrates, quando deu um salto de sua cadeira, estendeu os braços e exclamou: — "Na verdade, devo conhecer a mim mesmo e penetrar na parte secreta de meu coração; assim ter-me-ei livrado da dúvida e da ansiedade. Minha dúvida suprema consiste em separar meu ser ideal de meu ser material e, depois, transmitir os segredos de minha existência abstrata."=

Tocado por um raro fervor, seus olhos brilharam de interesse pelo conhecimento, pelo autoconhecimento.

Depois, Daybis dirigiu-se ao quarto contíguo e postou-se de pé como uma estátua em frente a um espelho, contemplando seu aspecto espectral e analisando o formato de sua cabeça e de seu rosto, o tronco e os membros do corpo.

Permaneceu nessa atitude por meia hora, como se o Saber Celestial se estivesse derramando sobre ele como maravilhosos e exaltados pensamentos nos quais os segredos de sua alma estivessem sendo revelados e enchendo seu coração de luz. Então, Daybis lentamente abriu a boca e dirigiu-se a si mesmo: — "Sou pequeno em estatura, mas pequenos também eram Napoleão e Victor Hugo. Tenho uma testa estreita, mas também Sócrates e Spinoza tinham traços semelhantes. Sou careca, como Shakespeare. Meu nariz é grande e torto como os de Voltaire e George Washington. Tenho olhos fundos, mas também Paulo, o Apóstolo, e Nietzsche os tinham. Tenho os lábios grossos de Luís XIV e meu sólido pescoço é exatamente como os de Aníbal e Marco Antônio."

Depois de uma pausa, Salem Effandy continuou:

— "Minhas orelhas são longas e deveriam adornar a cabeça de um animal, mas Cervantes tinham tais orelhas. Apesar das maçãs protuberantes, minhas faces são encovadas; mas assim também eram as de Lafayette e Lincoln. Meu queixo é recuado, semelhante aos de William Pitt e Goldsmith. Um de meus ombros é mais alto que o outro, mas os de Gambetta tinham idêntico formato. As plantas de minhas mãos são grossas demais e meus dedos também curtos em excesso, e nisso me pareço com Eddington."

"Meu corpo está entre os magros, mas esta é uma característica comum aos grandes pensadores. Parece estranho que não me possa acomodar para escrever ou ler sem ter minha cafeteira por perto, como Balzac. Além disso, tenho inclinação para relacionar-me com pessoas vulgares e, nesse particular, lembro Tolstoi. Às vezes, fico três ou quatro dias sem lavar as mãos e o rosto. Desse modo se comportavam Beethoven e Walt Whitman. Também parece estranho que eu tenha tempo para me

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distrair ouvindo as tagarelices das mulheres sobre seu comportamento quando os maridos estão ausentes. Isto é exatamente o que fazia Boccaccio. Minha sede de vinho excede as de Marlowe, Abi Nowas e Noé, e minha gulodice ultrapassa as do Emir Bashee e de Alexandre, o Grande."

Depois de outra pausa, Salem Effandy tocou a testa com a ponta dos dedos sujos e prosseguiu:

— "Este sou eu, esta, a minha realidade. Possuo todas as qualidades dos grandes homens, do começo da História aos contemporâneos. Um jovem com tais predicados está destinado a grandes realizações."

"A essência da sabedoria é o autoconhecimento. De hoje em diante, devo começar o grande trabalho para o qual fui destinado pelo Grande Pensamento deste universo que plantou nas profundezas de meu coração certos elementos visíveis. Acompanhei os grandes homens do tempo, de Noé a Sócrates, passando por Boccaccio a Ahmad Farris Shidyak.

Não sei por que grande feito devo começar, mas um homem que tem unidas em seu ser místico e em sua pessoa verdadeira todas estas qualidades místicas amoldadas pelas mãos dos dias e inspiração das noites é, indubitavelmente, capaz de realizar grandes coisas.

Tomei conhecimento profundo de mim mesmo; sim, e a divindade me conheceu. Longa vida para minha alma, a vida longa para mim. Que o universo dure para sempre, de modo que eu possa realizar os meus propósitos."

E Salem Effandy andava para um lado e outro no quarto, a face feia brilhante de alegria; e, num tom de voz que se assemelhava ao miado de um gato mesclado a um ranger de ossos, ele repetia este verso de Abi'Al-Ala' Al-Ma'rri:

Apesar de ser o último destes tempos Devo levar avante aquilo que os patriarcas não conseguiram.

E, logo, nosso amigo recostou-se na cama imunda e adormeceu, ainda vestido com suas roupas amarrotadas, e o seu roncar era tão alto quanto o ruído da mó de um moinho.

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~ Concordância e Axiomas ~

Sócrates, grande filósofo ateniense, condenado a morrer pela ingestão de cicuta,

porque ensinara a sabedoria interior que libertava a mente dos homens.

~ Platão ~

Nasceu em Atenas, em 427 a.C. Morreu em 347 a.C. Sua mãe, Perictione, remontava sua ascendência a Solon. Recebeu ele o nome de Platão por causa de sua compleição robusta, em substituição a seu nome original, que era Aristocles, nome de seu avô. Alguns afirmaram que ele recebeu o nome de Platão devido à liberalidade do seu estilo, ou à amplitude de sua testa, como sugeriu Neanthes.

Conta-se que Sócrates, em sonho, viu um pequeno cisne em seu colo, o qual logo adquiriu penas e saiu voando, emitindo um canto alto e harmonioso. No dia seguinte, Platão foi introduzido como discípulo e Sócrates nele reconheceu o cisne do sonho.

E quando falou sobre a tirania, sustentando que o interesse exclusivo do soberano não era o melhor objetivo, a menos que ele fosse preeminentemente virtuoso, ofendeu a Dionísio (o Soberano), que, irritado, exclamou: "Tu falas como um velho caduco". "E tu como um tirano", retorquiu Platão.

Após ter percorrido todo o país, ele finalmente se estabeleceu na província de Sais (Faraó Egípcio), aprendendo com os sábios o que eles tinham a dizer sobre o universo; se este tivera começo e se isto seria então, no todo ou em parte, conforme com a razão.

Alguém afirmou que "Platão copiou de Hermes Trismegistus a parte

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mística de sua filosofia, especialmente no que concerne à Bondade Divina".

Platão distinguia princípio de elementos. "Princípio é aquilo que não depende de coisa alguma, anterior, de que possa ter sido gerado. Elementos são produtos."

Observando a extravagância de algumas pessoas, disse ele: "Estas pessoas constroem como se fossem viver para sempre, e comem como se fossem morrer logo depois".

A Filedônio, que o criticava por ser tão diligente para aprender quanto para ensinar, e lhe perguntou por quanto tempo pretendia ser discípulo, respondeu Platão: "Enquanto não sentir vergonha de me aprimorar e me tornar mais sábio".

— "A verdade, ó estranho, é uma coisa bela e desejável, porém, é uma coisa de que é difícil persuadir os homens."

Aristóteles e Platão

~ Aristóteles ~

Nasceu em Stagira, cidade da Trácia, em 384 a.C., 44 anos após o nascimento de Platão. Era descendente de uma longa família de médicos. Morreu em 322 a. C.

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Os pais de Aristóteles faleceram quando ele era ainda muito jovem; em conseqüência, ele foi criado e educado por Proxenus. Em gratidão por Proxenus ter cuidado de sua educação, Aristóteles não só educou o filho de Proxenus, do mesmo modo, mas, adotou-o como seu filho e, juntamente com seus bens, legou-lhe sua filha.

Aos dezessete anos, Aristóteles tornou-se discípulo de Platão, em Atenas, e com ele estudou durante vinte anos. Platão gostava muito dele e admirava sua agudeza de compreensão e sua diligência nos estudos, chamando-o de a "mente da escola". Com a morte de Platão, seus discípulos separaram-se em dois grupos; os Peripatéticos da Academia e os Peripatéticos do Liceu. Aristóteles tornou-se o líder dos últimos.

No Liceu, Aristóteles ensinava e discursava sobre filosofia para aqueles que o procuravam, caminhando constantemente, todos os dias, até o momento da sagração, que os gregos praticavam antes das refeições. Os discursos, as doutrinações que ele pregava aos seus discípulos eram de duas espécies: exotericke acroatick. Aristóteles ensinava a disciplina acroatick no Liceu, pela manhã, não admitindo que qualquer pessoa assistisse, mas, somente aquelas cuja inteligência, cuja disposição de aprender e diligência no estudo, ele tivesse antes testado. Suas conferências exoterick eram realizadas à tarde e à noite; estas ele fazia para os jovens em geral, chamando as últimas de passeios noturnos e, as primeiras, de passeios matinais.

Quando lhe perguntaram por que ensinava os outros a falar e vivia calado, respondeu: "Uma pedra de amolar não pode cortar, mas afia espadas". E ao lhe perguntarem quem seria capaz de guardar um segredo: "aquele que fosse capaz de manter uma brasa na boca". E quanto à maneira como alguém poderia enriquecer: "sendo pobre em desejo".

Tendemos a pensar em Aristóteles como um intelecto encarnado; no entanto, seu testamento é a mais clara prova de uma natureza agradecida e afetuosa.

Quando lhe pediram que definisse a esperança, replicou: "Um sonho em estado desperto". À pergunta, "Que é um amigo?" respondeu: "uma única alma habitando dois corpos".

Consta que Aristóteles teria dito, num momento de dificuldade: "quando as coisas não acontecem como preferiríamos, temos de preferir conforme elas acontecem."

Três coisas considerava ele indispensáveis à educação: dom natural,

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estudo e prática constante.

~ Sócrates ~

Nasceu em Atenas, em 469 a.C. Era filho de Sophroniscus, um escultor. Morreu em 399 a.C. Disse ele que "A Filosofia é o caminho para a verdadeira felicidade, e suas funções são duas: contemplar a Deus e abstrair a alma da percepção sensorial."

— "A alma é imortal, pois, aquilo que é sempre móvel é imortal; mas, aquilo que move outra coisa, ou é movido por outra coisa, deixa de ter movimento e vida."

Ele se admirava "daqueles que esculpiam imagens de pedra, pois, muito se empenhavam em fazer com que as pedras se assemelhassem aos homens, enquanto negligenciavam a si mesmos e se tornavam semelhantes a pedras."

Perguntado sobre qual seria a mais forte cidade, respondeu, "aquela que tivesse bons homens". Inquirido sobre qual seria a mais ordeira cidade, disse, "aquela cujos magistrados concordassem amigavelmente". E sobre qual seria a melhor cidade, disse, "aquela que oferecesse mais recompensas para a virtude". Perguntado sobre qual a cidade que viveria melhor, respondeu, "aquela que vivesse conforme a lei e punisse os injustos".

A vestimenta de Sócrates era a mesma no inverno e no verão, e ele usava essa roupa o ano inteiro; não usava sapatos e se alimentava com frugalidade. Às vezes cobria o rosto, enquanto discursava, para que não fosse distraído por qualquer coisa que visse.

Era tão religioso que nunca fazia alguma coisa sem primeiro se aconselhar com os deuses, e nunca se ouviu dizer que ele tivesse pronunciado alguma irreverência.

— Quando lhe perguntaram qual era seu país de origem, respondeu: "Nem Atenas, nem a Grécia, e sim, o mundo".

— Observando a grande variedade de coisas expostas à venda, pensava: "Quantas coisas existem de que eu não necessito".

— A outros que pediram sua opinião sobre o casamento, disse: "... um peixe apanhado numa rede tenta sair, e os que estão fora tentam entrar.

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Cuidado, meu jovem, para que não te aconteça o mesmo".

— Não damos mais valor ao milho que cresce no solo mais belo, e sim, àquele que mais alimenta; nem consideramos uma boa pessoa, ou um bom amigo, aquele que nasce no mais rico berço, mas, aquele que tem as mais nobres qualidades".

— "Um navio não deve depender de uma só âncora, nem a vida de uma só esperança."

~ Demócrito ~

Nasceu em 460 a.C., em Abdera. Foi discípulo de certos Magos e Caldeus. Morreu em 357 a.C. Demócrito viajou para o Egito, a fim de aprender geometria com os sacerdotes, e também para a Pérsia. Consta que esteve associado aos gimnosofistas da Índia e viajou também para a Etiópia. Era versado em todos os campos da filosofia, pois, instruiu-se em física, ética, e nos tópicos comuns de educação, e era proficiente em teologia, astronomia e nas artes.

Hipócrates* maravilhava-se da exatidão de suas observações. Demócrito exercitava-se por vários meios, para testar suas impressões sensoriais, às vezes buscando a solidão e freqüentando túmulos. Sua capacidade de predizer eventos futuros foi se intensificando e, com ela, sua fama, até que o povo passou a considerá-lo digno das honras tributadas a um deus.

Seu caráter pode ser inferido da seguinte declaração: "Alguns existem que, por não prestarem atenção ao que acontece com outras pessoas, perecem por suas próprias más ações, atentando para as coisas manifestas não mais do que se elas não fossem manifestas, e, no entanto, eles dispõem de um vasto passado, de coisas feitas e não feitas, pelo qual poderiam orientar sua vida e pelo qual todos podemos prever o futuro".

Quando Hipócrates lhe perguntou por que ele estava sempre tendo crises de riso, Demócrito respondeu: "Tu pensas que existem duas coisas que provocam meu riso, as boas e as más, porém, na verdade, eu rio de uma só coisa: dos homens, cheios de insensatez, incapazes de ações corretas, viajando para os confins da terra e deparando-se com profundezas insondáveis, para conseguir prata e ouro, nunca cessando de acumulá-los e, com seu tesouro aumentando seus próprios problemas, para evitar que, por não terem essas coisas, sejam

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considerados infelizes".

Desprezava a fama e era grande admirador de Pitágoras, visto que muitas de suas idéias parecem ter sido inspiradas neste filósofo.

— "Assim como um corpo gordo corre maior risco de adoecer, um Estado poderoso corre maior perigo de cair; as grandes mentes se revelam nos momentos críticos."

— "Ninguém ri de sua própria loucura e, sim, da loucura dos outros."

__________ * Discípulo de Demócrito

~ Pitágoras ~

Nasceu em 582 a.C. Pitágoras era filho de um gravador de jóias, de Samos. Morreu em 500 a.C., aos 82 anos de idade. Pitágoras deu início à filosofia da Itália. Era tão sequioso de conhecimento que, ainda jovem, deixou seu país e se fez iniciar em todos os mistérios e ritos, não só da Grécia, mas, também de nações estrangeiras, passando vinte e dois anos no Egito e doze na Babilônia. Consta que foi o primeiro a declarar "que a alma, ora presa nessa criatura, ora naquela, segue assim um ciclo, necessariamente determinado".

Pitágoras usava uma estola branca imaculada, um manto branco de lã, turbante e veste amarelo-ouro. Dada sua dieta frugal, conservava o corpo em constante boa forma; dir-se-ia, por sua fisionomia, que sua alma conservava a mesma constância. Não estava sujeito a alegria nem a pesar; nunca foi visto regozijando-se nem se lamentando. Pretendia que seus discípulos alcançassem comunhão com os deuses, por meio de visões e sonhos, o que não pode ocorrer com uma alma perturbada pelo ódio ou o prazer, ou qualquer outra excitação inarmônica, ou pela sensualidade ou uma rígida ignorância de tudo isto. Ele purificava perfeitamente a alma de todas essas coisas, inflamava sua parte divina e a preservava, e nela dirigia a divina visão intelectual, que é melhor do que mil olhos físicos, porque somente por meio dessa visão pode a verdade ser compreendida; deste modo empenhava-se Pitágoras na purificação do intelecto.

Pitágoras sustentava que o primeiro rudimento de sabedoria consistia em aprender a meditar e a não falar. Durante cinco anos, seus discípulos tinham de manter silêncio, limitando-se a escutar seus discursos, sem vê-lo. A finalidade desse silêncio era de que a alma se

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voltasse para si mesma, desviando-se das coisas externas, das paixões irracionais que nela se manifestassem, bem como do corpo, dirigindo-se inteiramente para sua própria vida, que deverá persistir para sempre; ou de que seus discípulos, alheados às coisas tangíveis, pudessem buscar a Deus com mente pura. Assim, nada ensinava a seus discípulos antes do silêncio, a primeira meditação.

Quando eles haviam aprendido estas coisas, as mais difíceis, ou seja, a permanecer quietos e escutar, e estavam já desenvolvidos no silêncio, era-lhes permitido falar, levantar questões e escrever o que escutavam ou o que concebiam. Pitágoras não determinava a mesma duração do silêncio para todos; os discípulos mais circunspectos tinham o tempo de silêncio reduzido.

Pitágoras entregava-se a práticas matutinas, extravasando sua própria alma ao som da lira, entoando algumas canções de Tales, bem como versos de Homero, para com isto serenar ainda mais a sua mente. Além disso, executava algumas danças, que concebera para manter a agilidade e a saúde física. Descobriu as pausas musicais, ao monocórdio, e aperfeiçoou a Geometria.

Um pitagórico não se levantava da cama antes que recordasse as ações do dia anterior, na ordem de ocorrência. E, se após ter-se levantado dispusesse de algum tempo livre, do mesmo modo esforçava-se para relembrar tudo o que lhe ocorrera três dias antes. Assim exercitavam os pitagóricos principalmente a memória; pois, concebiam que nada poderia levar mais eficientemente a ciência, experiência e prudência, do que recordar coisas. Pitágoras aconselhava todo mundo a repetir para si mesmo os seguintes versos, antes de dormir:

"Não feche os olhos à noite, para dormir, Antes que três vezes teus atos tenhas repassado; Que erros cometeste? Que atos praticaste? Que dever não cumpriste?"

E, antes de levantar-se:

"Tão logo acordes, em ordem deves pôr As ações a serem praticadas durante o dia."

~ Empédocles ~

Nasceu em Agrigentum, aproximadamente em 490 a.C. Morreu cerca

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de 424 a.C. Consta que seu avô era um homem nobre. Aristóteles qualificou Empédocles como inventor da retórica. Este pertencia à Escola Homérica; era extremamente eloqüente e proficiente no uso de metáforas e outros recursos poéticos.

Empédocles foi discípulo de Anaxágoras e Pitágoras e imitava, o primeiro, em sua conduta e sobriedade e, o segundo, em sua organização. Foi ainda considerado terapeuta e excelente orador, e consta que realizou proezas mágicas. Tornou-se famoso por ter curado uma mulher que fora desenganada por todos os médicos. Mas a cura mais notável que efetuou foi a de uma mulher que estava acamada fazia dias, sem respiração e sem pulso, em nada diferindo de um cadáver, exceto por um ligeiro calor na região abdominal. Empédocles informou Pausanias da natureza do estado da mulher e explicou que esta poderia sobreviver por trinta dias, sem respirar nem comer. Com isto, tornou-se ele conhecido como terapeuta e profeta.

Sustentava Empédocles que existiriam quatro elementos e que sua contínua transformação, como ele próprio afirmava, "nunca cessa, ora unificando-se todas as coisas pelo Amor, ora sendo elas impelidas em diferentes direções pelo ódio nascido da discórdia".

Conta-se que, quando o povo de Selinus estava sofrendo uma pestilência, devido aos odores fétidos emanados do rio, e morriam muitas pessoas, Empédocles concebeu o plano de desviar dois rios próximos para aquele lugar, a sua própria custa, e que, com a mistura dos rios, purificou as águas.

Valendo-se de seus grandes recursos, Empédocles concedia dotes a muitas moças da cidade que não os tinham. Eram sem dúvida os mesmos recursos que lhe permitiam usar uma veste púrpura com cinto dourado, sandálias cor de bronze, uma coroa de louros délfica, e manter um grupo de jovens criados. Estava sempre circunspecto e mantinha esta atitude inabalável. Ao encontrá-lo em público, os cidadãos reconheciam em seu porte um sinal de realeza.

Empédocles foi um paladino da liberdade, opondo-se a qualquer espécie de dominação; ele próprio recusou a realeza, quando esta lhe foi oferecida, obviamente por preferir uma vida modesta.

~ Tales ~

Consta que Tales nasceu em Mileto em 585 a.C., o ano do eclipse. Era

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descendente de uma família nobre e foi o primeiro a receber o título de "Sábio", que foi atribuído aos Sete Sábios. Morreu aos noventa anos de idade, quando assistia aos jogos de um festival.

Ele passava a maior parte do tempo viajando; foi para Creta, a fim de aprender os mistérios de sua religião. Sua última viagem (já em idade avançada) foi para o Egito (conforme ele próprio informou em sua epístola a Perécides), com o fim de conferenciar com sacerdotes e astrônomos.

Ali estava ele (no Egito), no reino de Amasis, por quem era muito favorecido e admirado, por muitos motivos, especialmente por ter medido a altura das pirâmides em função de sua sombra.

Quando Molpágoras, eminente personalidade da Jônia, perguntou-lhe qual fora a coisa mais estranha que ele já vira, respondeu: "Um tirano senil". Perguntado sobre o que seria Deus, respondeu Tales: "Aquilo que não tem começo nem fim".

Quando lhe perguntaram se um homem poderia fazer um mal e ocultá-lo a Deus, respondeu: "Ora, quando um homem pensa nisso, já não pode ocultá-lo".

— "O mais antigo de todos os seres é Deus, porque ele não foi gerado; a mais bela de todas as coisas é o mundo, porque é obra de Deus."

Afirmou Tales que o mundo é animado e Deus é a sua alma, difusa por toda parte e cuja virtude movente penetra através do elemento água.

Declarou, também, que a matéria é fluída e variável, e que o movimento é produzido pela composição dos elementos.

Asseverou que não há diferença entre a vida e a morte; quando então lhe perguntaram por que não morrera, disse: "Porque não faz diferença". A alguém que perguntou qual era o mais velho, a noite ou o dia, respondeu: "A noite, por um dia".

E quando lhe perguntaram o que era difícil, respondeu: "Conhecer a si mesmo"; o que era fácil, "ser dirigido por outro"; o que era agradável, "seguir a própria vontade"; e o que era divino, "aquilo que não tem começo nem fim".

— "É difícil, porém bom, conhecermos a nós mesmos, pois, isto é viver conforme a natureza."

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Conta-se que, quando sua mãe tentou forçá-lo a se casar, replicou que era cedo demais, e, quando ela voltou a pressioná-lo, um tempo depois, respondeu que era tarde demais.

Hieronimus de Rodes, no segundo tomo de suas notas esparsas, conta que, para mostrar como era fácil enriquecer, Tales, prevendo uma boa safra de azeitonas, arrendou todos os moinhos de azeite e ganhou uma fortuna.

~ Heráclito ~

Nasceu em Éfeso, durante a 69.ª Olimpíada, ou seja, aproximadamente em 536 a.C. Desde a infância, revelou-se excepcional. Morreu aos sessenta anos de idade, após ter sofrido de hidropisia.

Respondendo a um convite do Rei Dario, da Pérsia, para passar algum tempo no palácio do monarca, expondo sua filosofia, disse Heráclito: "Todos os homens da Terra mantêm-se alheios à verdade e à justiça, ao mesmo tempo que, por sua pecaminosa insensatez, devotam-se à avareza e à sede de popularidade. Eu, porém, estranho a toda corrupção, esquivando-me à saciedade geral que está intimamente associada à inveja, e porque tenho horror ao esplendor, não poderia ir à Pérsia, contentando-me com pouco, segundo a minha própria opinião."

— "Ó vós, homens ignorantes, dizei-nos primeiro o que é Deus, a fim de que, quando nos chamardes de ímpios, mereçais crédito. Onde está Deus? Trancados em templos? Ó homens piedosos, que colocais Deus nas trevas! É um insulto a um homem, dizer-lhe que ele é pedra; mas de Deus professais, como verdade e em Seu louvor, que ele nasceu da pedra. Gente ignorante! Não sabeis que Deus não é feito por mãos, nem tem qualquer alicerce por onde tenha começado; nem está limitado, mas o mundo inteiro, adornado com seres vivos, plantas e estrelas, é a sua mansão."

— "O estudo profuso não ensina discernimento; ... isto é sabedoria, entender o pensamento como aquilo que rege o mundo em toda parte."

— "Há mais necessidade de extinguir a insolência do que a irrupção de um incêndio."

— "Da alma nunca encontrareis os confins, mesmo que a sigais por todos os caminhos; tão profunda é a sua origem."

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~ Arnaldo Poesia ~

Não deixe de ver:

A Escola de Atenas

© Arnaldo Poesia, Le Monde de Paris, Quinzaine Littéraire, 1997/2008. Tous droits de traduction et d’adaptation réservés pour tous pays.

Bibliografia: Yates, Frances A., Giordano Bruno e A Tradição Hermética – Editora Cultrix – São Paulo, 1964. Gibran, Gibran Kahlil, Mensagens Espirituais – Distribuidora Record – Rio de Janeiro, 1974. Arnaldo Poesia, Leituras de Filosofia – Edição do Autor – Niterói, 1985.

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