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Um recado para ganhadores de alma

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Page 1: Um recado para ganhadores de alma

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Page 2: Um recado para ganhadores de alma

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UM RECADO PARA

GANHADORES DE ALMAS

Horatius A. Bonar

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA

Caixa Postal 21486 - 04698-970 São PauIo-SP

Título do original em inglês: WORDS TO WINNERS OF SOULS

Copyright © 1950 da American Tract Society, Garland, Texas, EUA

Tradução: Robson Ramos

Primeira edição em português: abril de 1983 Reimpressão: fevereiro de 1984

Reimpressão: setembro de 1986 Reimpressão: fevereiro de 1989 Reimpressão: setembro de 1990

Reimpressão: agosto de 1992

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Rua Antonio Carlos Tacconi, 75 - 04810-020 São Paulo-SP

Page 3: Um recado para ganhadores de alma

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PREFÁCIO

Não é uma tarefa tão difícil escrever o prefácio para este precioso tesouro do

ministério Cristão escrito por um ministro presbiteriano escocês nascido em Edimburgo no dia 19 de Dezembro de 1808, e falecido lá mesmo a 31 de Julho de

1889. Ele pertence a uma geração já passada, mas o seu pequeno livro nunca estará fora de época, pois ele satisfaz as necessidades do ministério em nossos dias tão precisamente quanto satisfez as necessidades da congregação de Kelso em 1866 e de

Edimburgo anos depois. Horatius Bonar foi acima de tudo um "ganhador de almas", um grande pregador e

também escritor de alguns dos nossos hinos mais bonitos. Além disso foi o Moderador

da Assembléia Geral de sua denominação. Enquanto lemos este livro, que trata de como ganhar homens para Cristo, a

nossa atenção é voltada página após página, para três belos hinos dentre os muitos que ele escreveu. Ele mesmo dizia, "eu ouvi a voz de Jesus, que dizia", e com estas palavras ele começava escrever um hino.

Quantos têm sido levados a conhecer a Cristo através desse convite a aceitá-lo como Salvador de suas vidas, e quantos cristãos têm buscado a reconciliação com o

Senhor e Mestre recordando o dia quando o conheceram pela primeira vez enquanto cantavam durante a Ceia do Senhor, "Aqui, oh meu Senhor, eu vejo a Ti face a face."!

Os seus conselhos para os ganhadores de almas não são apenas espirituais e

penetrantes, eles são impulsionados por um sentimento de urgência muito forte como ele mesmo expressou num de seus hinos mais famosos, "vamos trabalhar, vamos nos gastar e desgastar". A terceira estrofe deste hino deveria ser colocada como um

lembrete diário sobre a escrivaninha de cada pastor: “Vá, trabalhe enquanto é dia, Porque uma noite escura cairá sobre o mundo. Apresse, apresse o teu labor, abandone a preguiça

Não é assim que almas são ganhas.”

Este é um livro para ganhadores de almas, não para vadios à beira da estrada ou para servos preguiçosos. É um livro que penetra no coração de forma profunda, mas é também um livro que injeta coragem para o desempenho das tarefas diárias. Depois de

ter sido editado diversas vezes pela American Tract Sociery, ele é reeditado, por pedidos, em uma forma levemente resumida.

Há dois livros que contam a vida de Horatius Bonar em detalhes. Um é intitulado

Horatius Bonar, A Memorial, publicado em 1899, e o outro é intitulado Memories of Dr. Horatius Bonar, By Relatives and Public Men, (Edimburgo, 1909). Ambos os livros têm

uma fotografia na capa. Eu ainda trago comigo a recordação de tempos de menino ainda, bem pequeno,

de um livreto que estava sempre sobre a escrivaninha de meu pai - no seu gabinete pastoral em Michigan, isso há sessenta anos atrás. Aquele pequeno livro era um companheiro constante dele e tinha anotações em quase todas as páginas. Aquele

pequeno volume, com uma capa de couro e margens douradas, trazia na capa as seguintes palavras, Um Recado para os Ganhadores de Almas.

Samuel M. Zwemer, D.D. 1867-1952

New York City Março, 3, 1950

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I ....................................................................................................................................................................................................................................... 5 A IMPORTÂNCIA DE UM MINISTÉRIO VIVO............................................................................................................................................. 5

A SINCERIDADE ARDENTE DE BAXTER ........................................................................................................................... 5

NOSSO ÚNICO OBJETIVO: GANHAR ALMAS ................................................................................................................... 6

CONFRONTE “OPINIÕES” COM A VERDADE ................................................................................................................... 7

II ...................................................................................................................................................................................................................................... 9 A VERDADEIRA VIDA E O ANDAR DE UM MINISTRO ........................................................................................................................... 9

ANDANDO COM DEUS .......................................................................................................................................................... 9

ESTUDE OS PREGADORES, NÃO OS SERMÕES ............................................................................................................. 10

A FIDELIDADE É ESSENCIAL PARA O SUCESSO ........................................................................................................... 10

III .................................................................................................................................................................................................................................. 12 FALHAS DO PASSADO ........................................................................................................................................................................................ 12

A TRAGÉDIA DE UM MINISTÉRIO ESTÉRIL ................................................................................................................... 12

PARA A GLÓRIA DE DEUS E PARA O BEM DO HOMEM .............................................................................................. 13

SUBMISSÃO IMPLICA EM RENÚNCIA ............................................................................................................................. 14

CAMUFLANDO O FALSO COM O VERDADEIRO ............................................................................................................ 14

IV .................................................................................................................................................................................................................................. 16 CONFISSÃO MINISTERIAL ............................................................................................................................................................................... 16

PRONTO PARA ACHAR DESCULPAS ................................................................................................................................ 16

AMANDO OS PRAZERES MAIS DO QUE A DEUS ........................................................................................................... 17

CONFIAR EM NOSSAS PRÓPRIAS HABILIDADES ......................................................................................................... 17

NOSSAS ATITUDES PARA COM OS NOSSOS OPONENTES .......................................................................................... 18

CONFESSANDO NOSSAS FALHAS .................................................................................................................................... 19

O EXEMPLO DO ARCEBISPO USSHER ............................................................................................................................. 19

O MUNDANISMO ATROFIA A CONSCIÊNCIA ................................................................................................................ 19

MEDO DE DIZER TODA A VERDADE SEM RODEIOS .................................................................................................... 20

USANDO A PREGAÇÃO COMO MEIO DE AUTOPROMOÇÃO ...................................................................................... 21

POUCA ÊNFASE NA PALAVRA DE DEUS ........................................................................................................................ 21

TEMPO PARA TUDO, MENOS PARA ORAÇÃO ............................................................................................................... 21

BUSCANDO O PODER DO ESPÍRITO ................................................................................................................................. 22

POUCA IMITAÇÃO DE CRISTO .......................................................................................................................................... 22

V .................................................................................................................................................................................................................................... 23 AVIVAMENTO NO MINISTÉRIO .................................................................................................................................................................... 23

A NECESSIDADE ATUAL DE UM AVIVAMENTO ........................................................................................................... 23

COMO MYCONIUS APRENDEU A LIÇÃO ........................................................................................................................ 24

A GRANDE COLHEITA ........................................................................................................................................................ 24

PREGANDO PARA VITIMAS ATORMENTADAS ............................................................................................................. 25

DEVEMOS NÓS ESPERAR MENOS? .................................................................................................................................. 26

A INCREDULIDADE ENFRAQUECE O NOSSO TESTEMUNHO .................................................................................... 26

DISPOSTO A TREMER .......................................................................................................................................................... 26

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I A IMPORTÂNCIA DE UM MINISTÉRIO VIVO

“Quanto mais poderiam fazer no ministério uns poucos homens bons e fervorosos do que uma multidão de homens mornos!” disse Oecolampadíus, o Reformador suíço -

um homem que aprendeu através da sua própria experiência, que tem sido preservada para o benefício de outras igrejas e outras épocas.

A mera multiplicação de homens que chamam a si mesmo de ministros não vai

ajudar muito. Eles não serão mais que "chuchus de cerca". Eles podem ser como Acã, trazendo problemas para o acampamento; ou talvez

como Jonas, trazendo tempestades. Podem ser ortodoxos na doutrina, mas por causa

de incredulidade, morbidez e um formalismo doentio, tais ministros podem causar danos irreparáveis à causa de Cristo, causando um esfriamento e fazendo murchar toda

espiritualidade em volta deles. 0 ministro morno ainda que teoricamente ortodoxo é fatalmente mais funesto para as almas do que aqueles que são grosseiramente inconsis-tentes ou flagrantemente heréticos. "Que homem sobre a face da terra é tão pernicioso

quanto um ministro fútil e preguiçoso?" disse Cecil. E Fletcher observou bem ao dizer que "pastores mornos geravam cristãos desleixados". Será que a multiplicação de

ministros dessa linha, não importa quantos, pode ser considerada como bênção para o povo?

Quando a Igreja de Cristo, em todas as suas facetas denominacionais, retornar ao

exemplo da Igreja Primitiva, e andar de acordo com as pegadas apostólicas buscando uma conformação maior com os modelos inspirados, não permitindo que nada que seja pertinente às coisas deste mundo se interponha entre ela e a Cabeça, o Cristo Vivo, só

então poderá ela estar atenta em relação aos homens que ela mesma responsabiliza para o cuidado das almas, homens estes que, além de bem instruídos e capazes devem

ser distinguidos pela sua espiritualidade, zelo, fé e amor. Fazendo uma comparação entre Baxter e Orton, o biógrafo do primeiro observa

que “Baxter teria colocado fogo no mundo enquantto Orton acenderia um fósforo”.

Quão verdadeiro! Mas isso não é verdade apenas no que concerne a Baxte, e a Orton. Esses dois indivíduos são representantes de dois tipos existentes na Igreja de Cristo em

todas as épocas e em quaisquer denominações. O segundo tipo, representado por Orton, é o mais numeroso: Os Ortons podem ser contados as centenas, mas os Baxters ás dezenas; mesmo assim quem não preferiria uma copia única do primeiro, em lugar

de mil cópias do outro? Fazendo uma comparação entre Baxter e Orton, o biógrafo do primeiro deles

observa que "Baxter teria colocado fogo no mundo enquanto Orton acenderia um fósforo." Quão verdadeiro! Mas isso não é verdade apenas no que concerne a Baxter e

a Orton. Esses dois indivíduos são representantes de dois tipos existentes na Igreja de Cristo em todas as épocas e em quaisquer denominações. O segundo tipo, representado por Orton, é o mais numeroso: Os Ortons podem ser contados às

centenas, mas os Baxters às dezenas; mesmo assim quem não preferiria uma cópia única do primeiro, em lugar de mil cópias do outro?

A SINCERIDADE ARDENTE DE BAXTER

"Quando ele falava sobre a sua preocupação maior, que era a importância das

almas," relata um dos contemporâneos de Baxter, "você veria o seu espirito completamente imerso naquele assunto." Não é de se admirar que ele tenha sido abençoado de maneira tão espantosa! Os homens que tinham oportunidades de ouvi-

lo sentiam que tinham estado em contato com alguém que vivia em realidades

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infinitas.

Este é um dos segredos de um ministério bem sucedido e cheio de poder. Quem pode nos assegurar de que muita da infidelidade reinante em nossos dias não seja devida simplesmente à carência de líderes espirituais, não tanto devido à existência de

muitos deles flagrantemente infiéis ou inconsistentes, mas sim, devido à frieza de muitos que são reputados fiéis e idôneos. O fato é que os homens sabem que se

alguma dedicação deva ser dada à Religião, então não apenas alguma mas total dedi-cação ainda será pouca; o mesmo princípio se aplica a qualquer medida de zelo e fervor. O mais alto grau de devoção à causa é perfeitamente justificável, e não existe

espaço entre um ateísmo indiferente e o mais intenso zelo religioso. Tal devoção pode ser detestada, zombada e perseguida pelos homens, entretanto

eles estarão pouco a pouco sendo lembrados no recesso de sua existência que, se há

um Deus e um Salvador, um céu e um inferno, qualquer sacrifício que esteja aquém de uma vida de devoção absoluta e irrestrita não significa nada além da hipocrisia e

desonestidade! Portanto a lição que tais homens apreendem dos palavreados sem vida deste tipo

de ministros a que estamos fazendo referência, é a seguinte: desde que esses

pregadores não acreditam de maneira absoluta nas doutrinas que vivem a pregar, por que razão haveriam os seus ouvintes de crer nelas; se os pregadores crêem nelas

simplesmente porque é disso que eles vivem, por qual razão devem se preocupar em refutá-las aqueles que não tiram nenhum proveita delas? "Um sermão sem vigor", observou Rowland Hill, "causa repugnância; um sermão sem ousadia faz uma pobre

alma dormir mais depressa; um sermão vigoroso e ousado é o único tipo de sermão que é devido a Deus."

Não é apenas fraqueza na fé ou irresponsabilidade nas tarefas, nem uma vida cheia de inconsistências que definham o trabalho ministerial e deixam vidas em frangalhos. Um homem pode estar isento e livre de qualquer descrédito no que

concerne à sua doutrina e conduta, e ainda assim ele pode ser uma obstrução lastimável que impede o crescimento espiritual do seu povo. Ele pode ser um poço

seco e vazio, não correspondendo à sua ortodoxia. Ele pode estar esfriando ou estragando a vida no mesmo instante em que ele deve estar falando do caminho para a vida. Ele pode estar de forma repelidora afastando homens da cruz, mesmo quando

fala a respeito dela com suas palavras. Ele pode até mesmo se tornar um impe-dimento, uma barreira entre o seu rebanho e a bênção, mesmo quando ele está

ostensiva e exteriormente erguendo sua mão no momento de perpetrar a bênção apostólica. As mesmas palavras que de lábios ardorosos cairiam como uma chuva copiosa, ou seriam destiladas como o orvalho da manhã, caem dos seus lábios como a

neve fria ou como granizo trazendo um esfriamento gélido e destruindo qualquer sinal de vida espiritual. Quantas vidas têm se perdido por falta de seriedade, falta de solenidade e falta de amor na pessoa do pregador, mesmo quando as palavras proferi-

das são preciosas e verdadeiras!

NOSSO ÚNICO OBJETIVO: GANHAR ALMAS Muitas vezes nós fazemos pouco do fato de que o objetivo do ministério Cristão é

levar pecadores ao arrependimento e edificar o Corpo de Cristo. Não pode existir fidelidade na vida de um ministro cujo padrão esteja em falta quanto ao objetivo

maior. Aplausos, fama, popularidade, honra, riquezas — tudo isto é em vão. Se vidas não são ganhas, se os santos não são amadurecidos, o nosso próprio ministério será um fracasso.

A questão, portanto, que cada um de nós tem de responder a si mesmo é, "Tem sido este o objetivo do meu ministério? Tem sido o desejo do meu coração salvar o

perdido e guiar aquele que já está salvo? Será este o meu alvo em cada sermão que prego, em cada visita que eu faço? Será que estou continuamente vivendo, andando e

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falando sob a influência dessa convicção? Será esta a motivação maior que me faz orar

e trabalhar e jejuar e chorar? Será esta a razão pela qual me deixo consumir, con-siderando minha maior alegria ser um instrumento para a salvação de outros — depois da minha salvação pessoal? Será esta a razão pela qual eu existo? Daria eu a

minha vida com alegria, caso fosse necessário para a realização desse objetivo? Tenho eu visto o prazer do Senhor prosperar nas minhas mãos? Tenho eu visto

vidas sendo transformadas através do meu ministério? Tem o povo de Deus recebido refrigério vindo dos meus lábios, resultando em alegria em suas vidas, ou não terá o meu labor produzido nenhum fruto, e eu ainda me satisfaça com tamanha ausência

de bênçãos? Será que eu ainda me sinto confortável e satisfeito ao pregar sem saber se a

mensagem está ou não causando impressões salvadoras na vida dos ouvintes, ou sem

saber se há um pecador sendo despertado? Nada aquém de um trabalhar árduo porém bem sucedido pode satisfazer um

verdadeiro ministro de Cristo. Seus planos podem estar sendo realizados sem dificuldades mas se vidas não estiverem sendo salvas, todas as outras coisas perdem o seu valor. O verdadeiro alvo do ministro deve ser: ". . . meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós" (Gál 4:19). E este deve ser o sentimento propulsor que faz dele uma pessoa bem sucedida.

"Ministros," disse Owen, "são raramente honrados com sucesso a menos que eles estejam continuamente almejando a conversão de pecadores". A determinação de que na força e com a bênção de Deus ele nunca descansará sem sucesso irá assegurar

isso. O homem que já determinou resolutamente confrontar todo tipo de dificuldade, que já calculou os riscos e, que, tendo fixado seus olhos sobre o prêmio e já

determinado batalhar para consegui-lo — tal é o homem que vence. A apatia melancólica de dias passados precisa acabar de vez. Satanás está

atuando ativamente em quase todo o campo, e é melhor enfrentá-lo frente a frente.

Além disso os homens estão no limiar de algo indescritivelmente tenebroso. Parece que Deus está sendo paciente com eles, assim como aconteceu antes do dilúvio. Um sopro

alertador do Espírito Santo tem descido sobre a terra e conseqüentemente sobre a nossa época chamando a atenção para a necessidade urgente de restauração enquanto houver tempo.

O verdadeiro e único alvo ou lugar de descanso onde a dúvida e o cansaço, os latejos de uma consciência inquieta, e os desejos de uma vida insatisfeita podem aquietar-se é Cristo somente. Não a igreja, mas Cristo. Não a doutrina, mas Cristo. Não

as cerimônias, mas Cristo. Cristo o Deus-homem, dando sua vida por nós, selando a aliança eterna, e nos trazendo a paz mediante o sangue da sua cruz; Cristo, o depósito

divino de onde provém toda a luz e verdade, "Em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos (Col 2:3); Cristo, o vaso ilimitado cheio do Espírito

Santo, o Iluminador, o Mestre, o Unificador, o Confortador "de quem todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça (João 1:16)". Este, somente este, é o

refúgio de uma vida aflita, necessitada de um fundamento sólido e de uma habitação segura até que o tentador esteja finalmente amarrado e todo conflito transformado em vitória.

CONFRONTE “OPINIÕES” COM A VERDADE

Vamos então confrontar este orgulho que pode ser o ardor do momento, mas que

pode em breve ser a destruição da época, com aquilo que por si mesmo pode abaixar a

temperatura febril, e aliviá-la levando-a para uma calmaria celestial, o Evangelho da graça de Deus. Todas as outras coisas são nada mais que elementos narcotizantes, drogas e charlatanices; mas este, o Evangelho da Graça é o remédio divino; este é o

único, o infalível, a cura eterna. Não é com opiniões que devemos confrontar e refutar opiniões. É a Verdade de

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Deus que devemos empunhar; manuseando a "espada do Espírito" contra as teorias do

homem (que ele orgulhosamente chama de "opiniões"), fazendo-o enxergar a falacidade e a insensatez que caracteriza a teia de sofismas que ele próprio tem estado tecendo para sua própria ruína e perdição.

Não é de opiniões que o homem precisa: ele precisa da Verdade. Não é de teologia: é de Deus. Não é de religião: é de Cristo. Não de literatura e ciência, mas de

conhecimento do amor incondicional de Deus através do seu Filho unigênito. "Eu não sei", diz Richard Baxter, "o que os outros podem pensar, mas de minha

parte eu estou envergonhado pela minha estupidez, e realmente me decepciono comigo mesmo por não estar cuidando de mim mesmo e da vida de outras pessoas como alguém que anseia diligentemente pelo grande Dia do Senhor; e ainda ficar em

devaneios com palavras e pensamentos que não são pertinentes de forma alguma àqueles assuntos que, de tão maravilhosos que são deveriam permear a minha mente.

Causa-me estranheza reconhecer que eu tenho pregado sobre tais assuntos de maneira tão superficial e fria; e que mesmo vendo homens largados ao seu pecado eu não tenho ido até eles sem me preocupar com as reações que eles possam ter em

relação a mim, implorando-lhes, no nome do Senhor, que se arrependam. "Eu raramente desço do púlpito sem que minha consciência me fira por não estar

sendo cuidadoso e fervoroso. Ela me acusa não tanto pelos meus caprichos pessoais,

nem por eu ter deixado escapar uma palavra mais pesada; não, ela me acusa e me pergunta: "Como é que você pode falar da vida e da morte com tanta frieza? Como é

que você consegue falar do céu e do inferno carregado de tanto desinteresse e sonolência? Você não acredita no que diz? Existe severidade e urgência no seu trabalho ou é apenas um passatempo? Será que você não devia chorar em favor deste

povo, não deviam as suas lágrimas ocupar o lugar das suas palavras? Não devia você chorar em voz alta, e mostrar a eles os seus pecados, e chamá-los a uma decisão, ou para a vida ou para a morte?"

"Sinceramente é isto que a minha consciência tem feito ressoar nos meus ouvidos, e mesmo assim a minha alma sonolenta não consegue se despertar. Oh, mas

que coisa terrível que é um coração insensível e endurecido? Oh, Senhor, salve-nos desta praga da infidelidade e dureza de coração que há em nós, de outra forma, como poderemos ser instrumentos adequados para que outros possam ser salvos desta

mesma praga? Oh, faça em nossas vidas o mesmo que Tu queres fazer através de nós na vida de outros!"

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II A VERDADEIRA VIDA E O ANDAR DE UM MINISTRO

O verdadeiro pastor deve ser um verdadeiro cristão. Ele deve ser chamado por Deus antes que ele possa chamar outros para Deus. O Apóstolo Paulo afirma isto da

seguinte forma: "Deus . . . nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação (2 Cor 5:18)". Primeiro eles foram reconciliados, e só então

eles receberam o ministério da reconciliação. Somos nós pastores reconciliados? Aquele que se propõe a ser um líder espiritual na vida de outras pessoas deve saber por experiência própria o caminho da salvação. Tem sido dito com certa freqüência

que, "o caminho para o céu está bloqueado com mestres mortos". Será que a obstrução reinante é causada apenas pelos membros da igreja? Vamos olhar para nós

mesmos com maior cuidado. Como a vida do pastor é, em vários aspectos, uma vida ministerial, vamos falar

um pouco sobre a santidade da vida pastoral.

Busquemos ao Senhor logo cedo. “Se o meu coração for temperado com a Sua presença logo cedo, ele terá o aroma de Deus durante o dia todo.” Encontremo-nos

com Deus antes que nos encontremos com qualquer outra pessoa. “Eu devo orar antes de qualquer outra coisa. Muitas vezes quando eu durmo demais ou começo a ver e encontrar pessoas logo de manhã, e depois tenho um momento devocional com a

família na hora do café ou já começo a receber telefonemas, eu só vou conseguir ter o meu momento tranqüilo de oração depois das 11 horas. Este é um sistema falho e

miserável, além de não ser bíblico. Cristo levantava-se ainda de madrugada e se dirigia para um lugar solitário... O culto familiar perde em muito a sua dinâmica, e há muito pouco que eu posso fazer por aqueles que me procuram. A consciência torna-se

pesada e culposa e a alma carente de alimento. E então, quando esses momentos a sós com Deus tornam-se escassos a alma fica desafinada com o seu Criador. Eu sinto que é infinitamente melhor começar com Deus, ver a sua face primeiro e aproximar-

me dele antes que alguém se aproxime de mim. O melhor é termos pelos menos uma hora a sós com Deus antes de pensar em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, eu

devo tomar o cuidado de não supor que “comunhão com Deus se resuma exclusivamente em minutos, ou horas, ou em solidão.” (McCheyne).

Ouçam este verdadeiro servo de Cristo exortando um irmão amado: "Cuide bem

de você mesmo. O cuidado da sua alma deve ser o primeiro e o maior que você deve ter. Você sabe que um corpo são pode trabalhar com poder, e muito mais uma alma bem alimentada. Guarde a sua consciência limpa através do sangue do Cordeiro. Mantenha uma comunhão íntima com Deus. Procure ser como Ele em tudo. Leia a

Bíblia primeiro para o seu crescimento e depois para o crescimento dos outros." "Com ele", diz o seu biógrafo, "o início de todo trabalho consistia invariavelmente

da preparação de si próprio. A preparação para as visitas e encontros de cada dia era

um calmo e profundo período a sós com Deus durante as horas da manhã. As paredes do seu quarto eram testemunhas da sua devoção, assim como de suas lágrimas e prantos. Muitas vezes ouvia-se cânticos dos Salmos que brotavam do seu quarto;

seguidos da leitura da Palavra para sua santificação pessoal: e tão poucos têm compreendido inteiramente a bênção do Salmo primeiro." Como seria bom se essa

fosse a experiência de todos nós! "Devoção", disse o Bispo Hall, "é a vida da religião, a alma da piedade, a mais sublime aplicação da graça." Deve ser realmente um motivo de preocupação o fato de que "nós somos fracos no púlpito porque somos fracos nos

momentos a sós com Deus."

ANDANDO COM DEUS

"Para fazer com que uma frase vulgar e batida volte a ter um significado

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incomum", escreve o Sr. Coleridge, "tudo o que você tem a fazer é começar a praticá-

la." Andar com Deus tem se tornado uma frase batida e inexpressiva. Comece a praticá-la e você verá como ela vai readquirir aquele brilho original e natural! A frase, quão trivial! — mas a expressão real, quão rara! É esse tipo de "andar" - não um ideal

abstrato, mas uma personalidade, uma vida. Oh, pudéramos nós nos deixar abrasar pela prática da verdade e abandonar aquilo que é apenas trivial.

Diz-se a respeito do energético, piedoso e bem sucedido John Berridge que "comunhão com Deus foi o que ele mais enfatizou nos últimos anos do seu ministério. Isto era na verdade o seu comer e o seu beber diário, o banquete que parecia nunca

saciá-lo". Isto revela-nos a fonte do seu poder. Se nós estivéssemos sempre sentados à mesa do banquete, a mesma diferença seria logo notada em nós, assim como foi na

sua vida, "no primeiro ano de seu ministério ele foi procurado por mais ou menos mil pessoas, as quais saiam com profundas impressões".

ESTUDE OS PREGADORES, NÃO OS SERMÕES Para os homens, muito mais do que para as suas doutrinas é que nós devemos

direcionar a indagação cheia de curiosidade, "De onde é que vem o sucesso de tais pessoas? Por que não somos também tão bem sucedidos?" Nós podemos selecionar e

estudar os sermões de Whitefield ou Berridge ou Edwards, porém são os indivíduos principalmente que nós devemos colocar à nossa frente como modelos; é com o espírito de tais homens, muito mais do que com o espírito de suas obras que devemos

estar imbuídos se nós ansiamos por um ministério tão poderoso e tão vitorioso como o deles. Eles eram homens espirituais, e andavam com Deus. É uma comunhão viva

com o Salvador vivo que nos transforma de acordo com a Sua imagem, e que nos capacita para um ministério bem sucedido.

Sem isto tudo o mais será inútil. Nem ortodoxia, nem erudição, nem eloqüência,

nem poder de argumentação, nem zelo e nem fervor. É uma vida íntima com Deus que dá poder às nossas palavras e persuasão para os nossos argumentos, fazendo deles ou

um bálsamo de Gileade para uma pessoa necessitada de conforto, ou flechas pontiagudas na consciência dum rebelde obstinado. Uma retidão parece emanar daqueles que andam com Deus num relacionamento santo e feliz, uma fragrância

divina parece circundá-los onde quer que eles vão. Proximidade com Ele, intimidade com Ele, assimilação do Seu caráter - são esses os elementos necessários para um ministério com poder.

Quando nós pudermos dizer ao nosso povo, "Nós contemplamos a Sua glória, portanto é dela que falamos; não é através de informação que falamos, mas nós temos

visto o Rei em toda a Sua beleza" — quão elevada é a posição que ocupamos! Nosso poder para atrair homens a Cristo brota principalmente da plenitude do nosso regozijo pessoal nEle, e da proximidade da nossa comunhão com Ele. Um semblante que refle-

te a Cristo e reluz com seu amor e graça, é o mais indicado para atrair o olhar de um mundo desatento e leviano, e conquistar almas enfastiadas com os fascínios de uma

humanidade decaída. Um ministério com poder deve ser fruto de uma intimidade com o Senhor, santa, serena e amorosa.

A FIDELIDADE É ESSENCIAL PARA O SUCESSO "A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus lábios:

andou comigo em paz e em retidão, e apartou a muitos da iniqüidade. " Malaquias 2:6

Observemos agora a correlação existente entre fidelidade e sucesso na obra do ministério; entre uma vida piedosa e "apartando a muitos da iniqüidade". 0 fim para o

qual nós assumimos nosso cargo, formalizado através da ordenação, é a salvação de almas; o fim para o qual nós ainda vivemos e trabalhamos é o mesmo; os meios para

se chegar a este fim são uma vida santa e um cumprimento fiel de nosso ministério. A correlação entre essas duas coisas é certa e estreita, e isto deve ser objeto da

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nossa atenção. Nós devemos orar e trabalhar esperando os resultados com confiança.

Se não houver resultados, examinemos a nós mesmos com toda diligência. Pode ser que a causa do fracasso esteja em nós, na nossa falta de amor, oração, zelo e fervor, espiritualidade e santidade. Porque pela falta dessas coisas é que o Espírito Santo se

entristece. Sucesso pode ser conseguido; sucesso é desejável; sucesso é prometido por Deus; e nada neste mundo pode ser mais amargo para a vida de um pastor fiel do que

a falta de sucesso. Andar com Deus e ser fiel ao chamado é declaradamente o caminho certo para consegui-lo. Oh, se soubéssemos o quanto depende da santidade da nossa vida, da consistência de nosso caráter, da espiritualidade das nossas conversas e de

nosso andar! A nossa posição é tal que não nos permite uma neutralidade. A nossa vida não

pode ficar numa obscuridade inofensiva. Ou nós repelimos ou atraímos, salvamos ou

arruinamos vidas! Quão altissonante então, a chamada; quão forte, o motivo para uma vida de espiritualidade de circunspecção! Quão solene o aviso contra o

mundanismo e a vaidade, contra a leviandade e a futilidade, contra a negligência, preguiça e contra um formalismo gélido.

Dentre todos os homens, o ministro de Cristo é especialmente chamado para

andar com Deus. Tudo o mais dependerá disto; sua paz, alegria e seu galardão quando o Senhor voltar. Deus reservou para si o direito de estabelecer estas condições

como a única maneira de apropriação das Suas bênçãos. Este é o grande segredo do sucesso ministerial. Aquele que anda com Deus reflete

a luz do semblante de Cristo sobre um mundo entenebrecido; a intensidade do seu

andar com Deus determinará a intensidade da luz que será refletida no mundo. Aquele que anda com Deus tem ao redor de si uma serenidade e alegria que contagia o mundo ao seu redor. Aquele que anda com Deus recebe e compartilha vida aonde quer

que ele vá; como está escrito, "rios d’água viva fluirão do seu ventre (João 7:38)". Além de ser a luz do mundo ele é também a fonte do mundo, jorrando a água da

vida para todos os lados e fazendo o chão árido florescer como a rosa. Ele mitiga a sequidão do mundo à medida que ele vai pelo seu caminho. A sua vida é abençoada; o seu exemplo é abençoado; seus relacionamentos são abençoados; suas palavras são

abençoadas; seu ministério é abençoado. Vidas são salvas, pecadores são convertidos e muitos se apartam da iniqüidade.

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12

III

FALHAS DO PASSADO

“Meu Deus, estou confuso e envergonhado para levantar a ti a minha face, meu Deus... Agora, pois, ó nosso Deus, que diremos depois disto?” Esdras 9:6-10

Pregar a cada domingo, administrar a Ceia do Senhor rotineiramente, fazer

visitas ocasionalmente ou quando solicitado, participar de reuniões eclesiásticas — nisto, nós tememos, se resume a vida ministerial de muitos que são, por profissão,

pastores do rebanho de Cristo. Uma incumbência de 30, 40 ou 50 anos produz nada mais que isso. Tantos sermões, tantos batismos, tantas ordenanças, tantas reuniões de todos os tipos — estes são os "tudo" dos anais pastorais, registros congregacionais,

os "tudo" da vida de muitos! Das vidas dos que têm sido salvos tais registros não fazem alusão.

Há multidões que têm perecido sob a impotência de ministérios desse tipo; o julgamento revelará se pelo menos uma vida foi salva. Pode ter havido erudição mas não houve aquela palavra libertadora para aquele que estava oprimido. Pode ter

havido sabedoria, mas não houve aquela sabedoria que "ganha almas". Pode ter havido até mesmo um balbuciar de evangelho, mas parecia desprovido do vigor das Boas Novas; não procedia de corações abrasados e nem adentrava ouvidos ávidos com

a mensagem de vida eterna — "o evangelho glorioso do Deus abençoado." Houve homens que viveram e nunca foram interpelados pelos seus pastores se já tinham

nascido de novo! Outros adoeceram, queriam ser visitados pelo pastor mas apenas uma oração escrita era deixada sobre a cama, como se fosse um passaporte para o céu. Outros morreram e foram enterrados ao lado da sepultura dos seus

antepassados; uma oração era feita e os sentimentos devidos eram transmitidos aos seus parentes, mas as suas almas foram para diante do trono de julgamento sem

estarem preparadas. Ninguém perguntou se elas estavam realmente preparadas para partir, nem mesmo o pastor. Ninguém as avisou para fugir da ira vindoura.

Não seria esta uma descrição também de muitas igrejas e pastores? Nós não

falamos com ira e muito menos com menosprezo: nós fazemos esta pergunta com um sentimento de profunda gravidade e urgência. Uma resposta deve ser dada. Se é que há um momento para uma introspecção profunda e um reconhecimento honesto da

nossa infidelidade, esse momento vem quando Deus está nos visitando, e é agora. Nós falamos com amor fraternal. Certamente não esperamos uma resposta carregada de

mágoa e ressentimento. E se esta descrição for verdadeira, quão arraigado estará o pecado na vida dos pastores e do povo! Quão grande não será a desolação que se alastra! Certamente há algo mortiferamente errado em cada caso; algo que exige de

cada obreiro e pastor uma auto-avaliação séria e profunda; algo que exige um profundo arrependimento.

A TRAGÉDIA DE UM MINISTÉRIO ESTÉRIL

Há campos que são arados e semeados mas que não produzem frutos! O mecanismo está em constante movimentação, mesmo assim não há um sinal sequer na produção! As redes são lançadas ao mar e voltam vazias! E assim perdura por

muitos anos — e por uma vida inteira! Que estranho! Mas é a realidade. Não há nenhum exagero aqui. Pergunte a alguns pastores que outra desculpa eles podem

dar? Eles podem lhe dar um relatório de todos os sermões que eles pregaram, mas não teriam um sermão que foi realmente abençoado. Eles podem mencionar os discursos que foram admirados e elogiados, mas sobre os discursos que tenham sido usados

pelo Espírito Santo eles não têm nada a dizer. Eles podem lhe dizer quantos batismos foram feitos ou quantos catecúmenos foram admitidos; mas sobre vidas iluminadas,

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convertidas e amadurecendo na Graça, nada podem eles dizer. Eles podem enumerar

as ordenanças administradas, mas quanto a terem sido momentos de refrigério ou de despertamento, eles não terão uma palavra sequer. Eles podem lhe dizer quantos casos disciplinares passaram pelas suas mãos, mas eles não saberão informar se

houve uma única vez pelo menos em que um desses casos tenha resultado em contrição pelo pecado, ou se naqueles casos de aceitação dos confessantes houve

evidências de terem sido "lavados, santificados e justificados". Eles nunca pensaram que isso fosse tão importante.

Eles podem dar um relatório da freqüência da Escola Dominical, e da capacidade

do professor, mas eles não sabem e nem se preocupam se aqueles pequeninos estão buscando ou não ao Senhor. Também não sabem dizer se aquele professor é um homem piedoso e de oração. Eles podem dizer quantas pessoas estão arroladas no Rol

de Membros, o número de congregações, ou a situação dos membros em linhas gerais; mas quanto à sua temperatura espiritual, de quantos têm sido despertados daquele

sono de morte, de quantos são seguidores de Deus como filhos amados, não há nada que eles possam articular como resposta. Talvez eles pensem que seja um fanatismo presunçoso muito grande fazer-lhes tais perguntas. Entretanto, são eles que, diante

dos homens e dos anjos, fizeram votos de cuidar da vida de suas ovelhas como aquele que por elas terá de dar conta! Mas oh! para que servem sermões, ordenanças, escolas

dominicais se vidas estão sendo deixadas a perecer; se aquela religião verdadeira está sendo esquecida; se o Espírito Santo não está sendo invocado; se homens crescem e morrem esquecidos e desavisados.

PARA A GLÓRIA DE DEUS E PARA O BEM DO HOMEM

Não foi assim em tempos de outrora. Nossos pais realmente velavam e pregavam

visando as almas perdidas. Eles pediam e esperavam a bênção, e nunca ficaram

decepcionados. Eles eram abençoados ao trazer muitos para a justiça de Deus. A recordação de suas vidas registra o sucesso do labor incansável desses homens. Quanto refrigério emanava da vida daqueles que viveram unicamente para a glória de

Deus e para a salvação de almas. Há alguma coisa na sua história que nos leva a sentir que eles eram ministros de Cristo — verdadeiros pastores.

As histórias sobre o ministério de Baxter em Kidderminster chegam a nos contagiar de alegria. Ouvir a respeito de Venn e de sua pregação impinge-nos grande temor. Diz-se de sua pregação que homens caíam diante dele como laranjas que caem

do galho. O que dizer do ministério abençoadíssimo do apostólico Whitefield? não há muito para nos humilhar e também para nos abençoar? E de Tanner — que recebeu

vida do ministério de Whitefield e que "raramente pregava um sermão em vão". De Berridge e de Hicks sabe-se que em suas viagens missionárias pela Inglaterra, foram tão abençoados que em um ano eles despertaram quatro mil vidas que dormiam o

sono de morte. Oh, por aqueles dias novamente! Oh, por apenas um dia de Whitefield outra vez!

Por isso, alguém escreveu o seguinte: "A linguagem que nós estamos

acostumados a usar é esta; nós devemos usar os meios, e deixar os resultados para Deus; tudo o que podemos fazer é empregar os meios; este é o nosso dever e, tendo

feito isto nós devemos deixar o resto com aquele que nos concede todas as coisas." Esta linguagem parece-me ser a mais certa, pois há nela um reconhecimento da nossa insignificância e uma submissão à soberania de Deus; mas ela apenas soa bem aos

ouvidos, na verdade não existe nela em si qualquer substância, porque assim como há uma verdade estampada nas palavras, pode ser que haja uma falsidade escondida. Falar sobre submissão à soberania de Deus é uma coisa, mas submeter-se a ela é

uma outra coisa completamente diferente.

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SUBMISSÃO IMPLICA EM RENÚNCIA

Colocar-se em total submissão à soberania de Deus implica na renúncia da nossa

própria vontade, e tal renúncia (da vontade própria) só acontece através de

experiências e de provações agudas através das quais reconhecemos a nossa pequenez e incapacidade. Portanto, enquanto nós ainda estamos tranqüilos ao usar os meios

sem obter os fins, e isso não nos custa qualquer exercício interior e humilhação profunda — como aludido acima - se nós pensamos que estamos deixando tudo nas mãos de Deus; "enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós".

Não, para se fazer ou dar alguma coisa para Deus significa que a vontade, que é, sem dúvida alguma o coração, está fixada naquela coisa; e se o coração está realmente

fixado na salvação de pecadores como sendo o nosso alvo principal nós podemos estar certos de que o coração será séria e profundamente afligido pela renúncia da vontade que se requer para que não percamos de vista o nosso alvo. Portanto, quando nós

fazemos tudo para que vidas sejam salvas sem obter nenhum resultado, é porque não houve renúncia da vontade - isto é, não houve uma entrega genuína para Deus. A

verdade é, a vontade - que é o coração - nunca foi gasta sem reservas naquele alvo proposto; se tivesse, a vontade teria sido genuinamente quebrantada no sacrifício, e os resultados teriam sido obtidos.

Quando nós nos sentimos satisfeitos com os meios empregados sem que tenha havido sucesso quanto aos resultados, e nos referimos a eles como tendo nos submetido e nos colocado à disposição de Deus, nós estamos usando uma verdade

para esconder uma falsidade, fazendo exatamente aquilo que os moralistas religiosos fazem, limitando-se às formas e deveres mas sem ir além disso, embora eles saibam

que tais observâncias não lhes trarão salvação. Mesmo sendo avisados do perigo e implorados para que busquem ao Senhor de todo o coração, eles respondem dizendo que sabem que precisam arrepender-se e crer, mas que não conseguem fazer nem

uma nem outra coisa e por isso devem esperar até que Deus lhes dê a graça para que possam fazê-lo. Agora, esta é uma verdade, absolutamente ponderada; e muitos de

nós podem perceber por si mesmos que a estamos usando como uma falsidade para encobrir ou justificar uma grande insinceridade de coração.

Nós podemos concluir prontamente que se os seus corações tivessem sido postos

sobre a salvação, eles não estariam satisfeitos sem ela. O contentamento deles é o resultado, não de um coração submisso a Deus, mas de um coração indiferente à salvação de suas próprias almas.

CAMUFLANDO O FALSO COM O VERDADEIRO

Assim também acontece conosco quando nós nos contentamos apenas com o uso

dos meios para a salvação das almas sem vê-las realmente salvas, ou sem estarmos

nós mesmos com os corações quebrados pelo insucesso enquanto silenciosamente passamos a responsabilidade para Deus. Nós estamos fazendo uso de uma verdade

para camuflar uma falsidade; porque a habilidade que temos para deixar o assunto nesses termos não é, como imaginamos, sinônimo de um coração submisso a Deus, mas de um coração indiferente à salvação das almas postas sob nossa responsa-

bilidade. Não, absolutamente, se o coração está resolutamente imbuído com aquele propósito ou ele alcançará o seu objetivo ou se partirá ao perdê-lo.

Aquele que salvou as nossas almas nos ensinou a chorar pelos que ainda estão perdidos. Senhor, faça com que a nossa mente seja igual à Tua: ponha em nossos olhos as Tuas lágrimas, porque os nossos corações estão endurecidos; porque embora

vejamos milhares de pessoas que perecem ao nosso redor nós ainda conseguimos dormir bem durante a noite, sem que a visão do terrível final que os aguarda nos alarme, e sem que o choro dessas vidas transforme a nossa paz em amargura.

Nossas famílias, nossas escolas, nossas congregações, sem falar das nossas

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cidades em geral, nossa terra, nosso mundo, devem ser razão suficiente para nós

cairmos de joelhos diariamente, pois a perda de uma só alma que seja está terrivelmente além da nossa compreensão. Olhos nunca viram, ouvidos nunca ouviram, nem nunca penetrou o coração do homem, o quanto uma alma estará para

sempre sofrendo no inferno. Senhor, tenha misericórdia de nós! "Que mistério este! A alma e a eternidade de um homem dependem da voz de um outro homem!".

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IV CONFISSÃO MINISTERIAL

"Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras, quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrepen-deres. "(Apoc

2:5)

Em 1651, a Igreja da Escócia reconhecendo em relação aos seus ministros "quão encharcadas estavam as suas mãos na trangressão, e que os ministros estavam tão

alienados da realidade espiritual do país", decidiu então redigir o que eles chamaram de um humilde reconhecimento dos pecados reinantes no ministério. Este documento causou um pacto tremendo devido à sua natureza. Talvez seja a mais completa, a

mais fiel e a mais imparcial de todas as confissões de pecados ministeriais já escritas. Algumas porções deste documento aqui transcritas irão apropriadamente introduzir

este capítulo sobre confissão ministerial. O tema inicial é a respeito da confissão de pecados antes do ingresso ao ministério propriamente dito:

"Conversação profana e leviana, imprópria para aqueles que são chamados por Deus. Não andar

com Cristo antes de um envolvimento total no ministério. Pregar o Evangelho para os outros sem que

eles tenham um conhecimento prático e uma experiência dos mistérios do Evangelho em suas próprias

vidas. Negligência na auto-disciplina necessária para a obra ministerial, não desenvolvendo a vida de oração e comunhão com Deus, desperdiçando oportunidades de um ministério mais ativo sem mesmo

lamentar com pesar este tipo de falta. Desinteresse pela auto renúncia e pelo assumir da cruz de Cristo.

Negligência no cultivo de uma auto-consciência de pecado e corrupção; desinteresse pela mortificação e

submissão de espírito."

Quanto à entrada para o Ministério, o documento diz o seguinte:

"Entrar para o ministério sem ter sido comissionado por Jesus Cristo, pois muitos têm corrido

sem terem sido enviados.

Entrar para o ministério não por causa do amor de Cristo, e nem por um desejo de honrar a Deus através da conversão de almas, mas para se adquirir um título e uma forma de se sustentar na

sociedade não obstante tenham feito uma declaração em contrário quando de sua admissão".

Quanto aos pecados após o ingresso ao ministério - eles ocorrem da seguinte forma:

"Ignorância de Deus; falta de intimidade com Ele; pouco se importando em ler mais sobre Ele (em

Sua Palavra), não se preocupando em meditar nEle e falar sobre Ele. Exceder em egoísmo em tudo que fazemos; agindo de nós mesmos, por nós mesmo e para nós mesmos. Não nos preocupando quão infiéis

e negligentes foram outros - conquanto contribuísse um testemunho para a nossa própria fidelidade e

diligência - mas ao contrário, contentes, se não regozijando-se com as faltas dos outros. Menor prazer

naquelas coisas que são próprias da mais profunda comunhão com Deus; grande inconsistência no

nosso andar com Deus, e deixar de reconhecê-lo em todos os nossos caminhos. Correndo atrás das atividades, preocupando-se apenas com aquelas coisas que podem ser vistas pelos homens. Raramente

em momentos a sós com Deus, exceto para determinadas aparições públicas; e ainda assim com muita

negligência e superficialidade."

PRONTO PARA ACHAR DESCULPAS

"Sempre pronto a achar desculpas para encobrir a responsabilidade. Deixando de lado a leitura a

sós das Escrituras, que nos edifica como cristãos; lendo-as apenas por estarem elas no âmbito de

nossas atividades ministeriais, ainda assim de forma desleixada. Não dados a refletir sobre os nossos caminhos, nem permitindo que a convicção se acomode permanentemente em nós; enganando-nos a

nós mesmos e descansando sobre a ausência e repugnância do mal vistos sob a luz de uma consciência

natural e considerando isso uma mudança genuína de natureza e estado. Não nos guardarmos ou

protegermos o coração do mal, e descuido no auto-exame; o que resulta em falta de conhecimento de si

próprio e estranheza diante de Deus. Não se guardar e não combater os pecados vistos e conhecidos, principalmente os que predominam mais. Uma facilidade para ser levado pelas tentações do tempo

presente, e outras tentações mais específicas, seguindo as inclinações de companhias.

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"Instabilidade e oscilação nos caminhos do Senhor, por medo das perseguições, perigos, receio de

colocar a reputação em risco; recusar tarefas por medo de invejas ou censuras. Não honrando a cruz de

Cristo e os seus sofrimentos e esquivando-se deles numa atitude de auto-preservação. Desalento de

espírito depois de todas as investidas agudas de Deus sobre a Terra. Quase que nenhuma consciência

derivada de jejuns e humilhações em secreto, por nós mesmos sozinhos ou por nossas famílias. Possamos nós prantear a nossa culpabilidade assim como a de toda a Terra com toda a sua apostasia;

possamos nós também sentir em nosso próprio coração o peso e a vergonha de uma humilhação

pública. Que seja motivo de prazer, quando o Senhor nos chamar para que nos humilhemos.

"Não abrir o nosso coração para os tristes e pesados sofrimentos por que passam o povo de Deus

em outras terras que carecem de uma prosperidade maior no Reino de Jesus Cristo e do poder da piedade entre eles. Hipocrisia refinada; querer representar o que, na verdade, não somos. Contentando-

nos em aprender a linguagem do povo de Deus sem o exercício pleno dela. Artificialismo na confissão de

pecados, sem arrependimento; verbalizando apenas uma declaração de iniqüidade sem uma tristeza

interior por ter pecado. Fazer pouco caso da confissão, mesmo daquelas coisas sobre as quais já

estamos convictos. Nenhuma reforma mesmo depois de profundos reconhecimentos e votos feitos em

secreto; presumindo que estamos totalmente isentos depois de feita a confissão. Ávidos para encontrar e censurar faltas nos outros ao invés de reconhecê-las e tratar delas em nossa própria vida. Avaliar e

estimar a nossa vida segundo a estimativa que os outros fazem de nós. Estimar os homens concordem

eles conosco ou não.

"Não temendo as tubulações, mas presumindo, apoiando-nos sobre nossa própria força, que

podemos passar por elas sem ser afetados. Não aprendendo a temer pelas quedas de homens piedosos, nem derramando lágrimas e orando por eles. Não observando libertações na vida de outros, assim como

correções; não aperfeiçoando-se para a glória de Deus e para nossa edificação pessoal e de outros

também. Pouco ou nenhuma lamentação pela corrupção de nossa natureza, pouco ansiando por li-

bertação deste corpo mortal, a raiz amarga de todos os nossos males.

"Conversações infrutíferas com outras pessoas, que tendem para o pior e não para o melhor.

Gracejos tolos que preenchem inutilmente o tempo, bastante indecorosos para ministros do Evangelho. Propósitos espirituais iniciados por outros e que geralmente morrem em nossas mãos quando postos

sob nossa responsabilidade. Uma familiaridade carnal com homens iníquos e malignos, talvez seja a

causa do seu endurecimento e de tropeços entre o povo de Deus, e certamente do nosso próprio

esmorecimento."

AMANDO OS PRAZERES MAIS DO QUE A DEUS

"Fazer descaso da comunhão com pessoas de quem podemos aprender. Preferindo conversar com

aqueles que são mais talentosos do que com aqueles que podem nos edificar com a sua piedade. Não

aproveitar as oportunidades de fazer o bem aos outros. Esquivando-se da oração e outros deveres

preferindo omitir-se naquilo para o que somos chamados. Abusar indiscriminadamente do tempo com

excesso de atividades recreativas e amar os nossos prazeres mais do que a Deus. Não aproveitar opor-

tunidades para compartilhar com aqueles menos experientes no ministério. Pregações repetitivas e triviais no dia do Senhor. Desprezar alguma admoestação cristã vinda de nossa congregação, ou de

outros, só porque julgamos estarem eles num nível abaixo do nosso; e orgulhosos demais para pedir

conselhos de outros cristãos. Desgostar ou criar ressentimentos contra quaisquer pessoas que nos

admoestam ou reprovam, e ao mesmo tempo não ministrar a outros que carecem de nossa ajuda.

"Não interceder por homens de opiniões contrárias às nossas; antes estando prontos a falar deles do que com eles, ou falar com Deus em favor deles. Ao invés de se abater e se entristecer em razão das

falhas e fracassos dos outros nós procuramos uma forma de justificar a nós mesmos e de nos sobrepor

a eles. Zombando dos outros quando caem ao invés de compadecer-nos deles. Relaxando no zelo

religioso de nossas famílias, esquecendo que elas constituem o padrão para as outras famílias. Iras e

paixões impetuosas no seio de nossas famílias, que são na verdade um foco transmissor. Ambição e

mundanismo, e uma avidez desenfreada pelas coisas desta vida, que nos tiram do caminho do cumprimento de nossa chamada e que nos iludem com as coisas do mundo. Falta de hospitalidade e

caridade para os membros do Corpo de Cristo. Não cultivar a piedade entre o povo; há alguns que

fogem dela e outros que até odeiam o povo de Deus a ponto de querer abafar a obra do Espírito entre

eles."

CONFIAR EM NOSSAS PRÓPRIAS HABILIDADES

"O desinteresse pelo uso da Espada do Espírito nas tarefas ministeriais. Desleixo nas leituras e

outros preparos necessários; ou preparação meramente literal e livresca, fazendo dos livros verdadeiros

ídolos que atrapalham na comunhão com Deus; ou então descansando enganosamente em preparação

de tempos já passados e dedicando pouco tempo à oração. Confiar em nossos próprios dons, talentos e

lutas para preparar sermões em ordem e bem preparados, pelos quais Deus é incitado a opor-se à

nossa mensagem. Sem interesse em depender de Jesus Cristo, e extrair virtude Dele, para capacitar-

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nos a pregar no Espírito e com poder. Ao orar a Deus rogando-lhe por ajuda, nós pedimos mais por

ajuda ao mensageiro do que para a mensagem da qual somos portadores, não se importando tanto com

a Palavra, contanto que nos saiamos bem no cumprimento de nosso dever. Não há seriedade em pedir

que Deus ilumine o coração do seu povo em virtude da mensagem pregada. Negligência na oração

depois que a Palavra é exposta. "Negligenciar a necessidade de advertir através da pregação contra as ciladas e pecados em que

alguns se encontram no que tange a assuntos bíblicos; e o que dizer dos excessivos, desnecessários e

intermináveis relatórios sobre negócios administrativos! E tudo isto contraposto à omissão e inabilidade

de se anunciar as excelências de Cristo e a Nova Aliança, que devem ser as grandes prioridades de

estudo e exposição na vida de um ministro. "Há muitos que falam de Cristo usando um conhecimento de "Segunda-mão", e não um

conhecimento baseado na experiência pessoal que é marcada pela presença de Cristo na vida. Ausência total de sobriedade na pregação do Evangelho; só saboreando aquilo que é novidade, deixando de lado

as coisas substanciais da religião. "Não anunciar a Cristo na simplicidade do Evangelho, e nem

oferecer-nos a nós mesmos como servos dos irmãos, por amor a Cristo. Anunciando a Cristo, não para

que as pessoas possam vir a conhecê-lo, mas para que elas possam ver o quanto nós sabemos sobre Ele. Pregar sobre a ascensão de Cristo deste mundo para o céu sem o devido quebrantamento de

coração. Não pregar com o coração pesado de compaixão pelas pessoas que estão no limiar do

sofrimento eterno. Ou pregar contra os pecados públicos sem estar sendo movidos por aquela

compaixão premente visando a salvação de vidas presas no pecado, mas simplesmente porque nos trará

alguma vantagem dizer alguma coisa sobre tais males."

NOSSAS ATITUDES PARA COM OS NOSSOS OPONENTES

"Amargura e fidelidade ao invés de discrição, quando falamos contra os maledicentes, sectários e

outras pessoas escandalosas. Desinteresse e despreocupação pelas condições individuais das pessoas,

para que possamos ministrar a elas de maneira adequada, muito embora estejamos convencidos da

utilidade de se fazer tais registros numa pasta ou arquivo apropriado nós ainda não o fazemos. Não

escolher com cuidado as coisas ou atividades que devam ser mais proveitosas ou edificantes; e falta de sensibilidade no lidar com as diversas condições em que alguém venha se encontrar. Escolher os textos

mais fáceis e já bem conhecidos para as mensagens a serem pregadas, ao invés de expor os textos

ainda inexplorados e mais adequados para as condições da época; mensagens reduzidas demais só para

evitar uma disciplina séria nos estudos e na preparação. Quando o ministério é levado dessa forma a

própria leitura, pregação e oração se transformam em pesos que nos distanciam de Deus. Logo nos

sentimos satisfeitos com o cotidiano das tarefas, criando desculpas para nos omitir dos desafios da consciência. Cedemos facilmente aos desejos físicos, desperdiçamos o nosso precioso tempo.

Esforçamo-nos para receber aplausos, gostamos quando eles vêm, e ficamos insatisfeitos quando não

os vemos. Ficamos com medo na entrega da mensagem de Deus; e deixamos que os ouvintes

desavisadamente morram nos seus pecados. Desempenhando nossas funções apenas para não sermos

censurados do que desempenhá-las para Deus e com o propósito único de sermos aprovados diante dEle.

"Deixar de proclamar todo o conselho de Deus para o Seu povo; e calar a voz em tempos de

apostasia. Não estudar para ampliar seu conhecimento doutrinário, nem para o benefício dos outros.

Muitas vezes pregando mensagens que não constituem parte de nossa vivência pessoal. Indiferença

quando da conversão de pecadores; e complacência diante da vagarosidade da obra realizada pelo povo

de Deus, preferindo que a coisa fique como está, temendo mudanças, só para não atrapalhar o nosso bem estar, temendo que eles crescessem espiritualmente e nos obrigassem a sermos mais operosos e

menos elogiados - deixando o poder da piedade, tanto na pregação como na prática. Nós pregamos não

como perante Deus, mas para os homens; como que querendo ganhar a aprovação dos homens através

de nosso trabalho árduo de preparação e, também, aprovarmos a nós mesmos.

"Negligentes, preguiçosos e parciais na visitação aos doentes. Se eles são pobres nós vamos uma vez apenas, assim mesmo quando somos chamados; se eles são ricos ou importantes, nós os visitamos

com freqüência mesmo sem sermos requisitados; mas sem ter uma palavra que traga conforto espiritual

a qualquer que esteja cansado e sobrecarregado.

"Preguiça e complacência na educação cristã. Ir com os nossos corações despreparados e sem a

devida concentração; e nem lutar com Deus por uma bênção divina só porque já nos habituamos e

julgamos isso fácil de ser feito; e assim o Nome do Senhor é tomado em vão e o povo não é edificado. Consideramos isso uma atividade até vulgar demais para alguém de nossa posição, e assim não há uma

condescendência de nossa parte no sentido de nos aprofundar e estudar meios de instrução mais

proveitosos para o povo de Deus. Parcialidade nas admoestações, passando de largo pelos ricos e

influentes quando talvez sejam eles os que têm grande necessidade de instrução. Não tratando os mais

humildes com estima e igual consideração, ao contrário, usá-los como um objeto fácil para as nossas reprovações."

Estas são confissões seríssimas, confissões de homens que vieram a conhecer a natureza do

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ministério para o qual eles haviam entrado, e que estavam avidamente desejosos de serem aprovados

por Aquele que os havia chamado, para que ao final eles pudessem prestar contas com alegria e não

com tristeza.

CONFESSANDO NOSSAS FALHAS

Assim como eles fizeram, vamos também olhar para nós mesmos com honestidade. E as nossas

confissões não devem ser menos amplas e menos profundas do que foram as deles. 1. Nós temos sido infiéis. O medo do homem e o desejo de receber os seus aplausos têm nos

amedrontado. Nós temos sido infiéis às nossas próprias almas, aos nossos rebanhos, e aos nossos

irmãos; infiéis no púlpito, na visitação, na disciplina, na igreja. No desempenhar de cada uma de

nossas tarefas tem havido infidelidade. Ao invés de uma particularização específica do pecado a ser

reprovado, tem havido apenas uma vaga alusão. Ao invés de uma repreensão tem havido apenas uma

tímida insinuação. Ao invés de uma condenação inexorável tem havido uma censura débil. Ao invés de uma vida resolutamente santa cujo padrão deve ser um protesto contra o mundo e uma desaprovação

do pecado, tem havido tanta infidelidade em nosso andar e em nossas conversações e em nossa

conduta e relacionamentos diários, que qualquer medida de fidelidade que possamos manifestar no

domingo é quase que totalmente neutralizada pela falta de circunspeção exibida durante os dias da

semana.

O EXEMPLO DO ARCEBISPO USSHER Poucos homens conseguiram ter uma vida tão atarefada e tão consagrada a Deus como Ussher,

Arcebispo de Armagh. Sua erudição, habilidade nos negócios, posição, amigos, tudo contribuía para

que suas mãos estivessem sempre cheias; e a sua alma parecia estar continuamente ouvindo uma voz

que dizia: "Redima o tempo, pois os dias são maus." É bem verdade que ele começou bem cedo, converteu-se na tenra idade de 10 anos ao ouvir um sermão baseado em Romanos 12:1, "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo." Ele

pregou a Palavra com fervor e esmero durante cinqüenta anos. Mas ouça-o, ao final, em sua cama de morte! Como ele se agarra à justiça de Cristo, e vê em si

mesmo, mesmo depois de ter vivido em tão alto padrão, somente pecado e imperfeições. As suas últimas

palavras aconteceram por volta de uma hora da tarde, e foram pronunciadas como se fossem um grito: "Mas Senhor, perdoe-me especialmente pelos meus pecados de omissão." Era omissão, diz o seu biógrafo,

o pecado pelo qual ele implorou o perdão com o último fôlego que ainda lhe restava. Ele, que pela

percepção dos outros nunca desperdiçava uma hora sequer, mas que, ao contrário, aproveitava todos os instantes de sua vida para o Senhor e Mestre. No mesmo dia em que atacado pela doença que

finalmente o levou a falecer, ele terminou de escrever uma de suas grandes obras e foi visitar uma

senhora que estava doente para quem ele ministrou de tal maneira que você diria que aquele homem

tinha estado no céu antes de visitar aquela mulher. Ainda assim este homem sentiu-se oprimido por causa de suas omissões.

Leitor, o que você pensa de si mesmo, suas tarefas não terminadas; suas horas mal aproveitadas; momentos de oração omitidos; sua omissão de trabalhos menos agradáveis que você empurra para os

outros fazerem enquanto você se satisfaz em ficar sentado sob sua videira sem empregar todos os seus esforços para a salvação de vidas? "Senhor perdoe-me especialmente pelos meus pecados de omissão."

Ouça a confissão de Edwards, tanto pelos pecados pessoais quanto ministeriais: "Freqüentemente

eu tenho tido percepções muito profundas da minha própria pecaminosidade e minha vileza; e muitas

vezes isto me faz chorar amargamente, algumas vezes isto me ocorre com tanta intensidade que eu preciso fazer força para me calar. Eu tenho sentido a minha iniqüidade e a maldade do meu coração de

forma mais alarmante do que sentia antes da minha conversão. A minha iniqüidade, assim como eu

estou em mim mesmo, tem se tornado inexplicável, engolindo todo pensamento e imaginação. Os meus

pecados se amontoam diante de mim, e assim infinitamente, o finito se multiplicando pelo infinito, eu

não consigo expressar de outra maneira o que os meus pecados têm representado para mim. Quando olho para o meu coração e vejo a minha iniqüidade ela se parece com um abismo infinitamente mais

profundo que o inferno. Mesmo assim eu sinto que a minha convicção de pecado é extremamente

pequena e vaga, é suficiente para me pasmar por eu não estar tão consciente do meu pecado. Eu tenho

desejado avidamente um coração contrito para me prostrar humildemente diante de Deus."

O MUNDANISMO ATROFIA A CONSCIÊNCIA 2. Nós temos sido carnais. O padrão de nossa vida tem sido vil e mundano. Associamo-nos

demasiadamente com o mundo, e progressivamente conformando-nos com os seus caminhos. Temos até sido viciados, e as nossas consciências embrutecidas a tal ponto que aquela sensitividade que nos

impelia a enfrentar o sofrimento e repelir o mais remoto contato com o pecado estão agora gastas e

endurecidas.

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Talvez possamos recordar épocas de nossa vida quando nossos alvos eram claramente definidos

sobre padrões realmente divinos, e contrastá-los com a nossa situação presente e, para nosso espanto

nos depararmos com mudanças decepcionantes. Além de uma intimidade indevida com o mundo outras

coisas têm trazido esta deteriorização na espiritualidade das nossas mentes. O dogmatismo que nos

cerca no estudo da verdade tem tirado o poder do seu sentido devocional e prático. O corre-corre das ta-refas e deveres do ministério tem gerado essa frieza e esse formalismo estéril, e o resultado disso é que

o nosso envolvimento com as coisas mais importantes do nosso trabalho tais como conversar com as

pessoas sobre a sua eternidade ou dirigir os períodos de meditação e devoção enquanto o povo de Deus

está reunido ou ministrando as ordenanças do Senhor — estas coisas sendo feitas com pouca oração e

pouca fé e acabam nos despojando daquela profunda reverência e temor dos quais precisamos ser apossados.

Com que sinceridade e com que profundidade podemos nós dizer: "Eu sou carnal, vendido sob o pecado (Rom 7:14)." O mundo não foi crucificado para nós, nem nós para o mundo; a carne com os

seus membros não foi mortificada. Que triste efeito tudo isso tem trazido e causado, não somente sobre

a nossa paz interior ou sobre o nosso crescimento na graça, mas sobre o sucesso de nosso ministério. 3. Nós temos sido egoístas! Nós temos fugido do trabalho, da dificuldade e da perseverança,

considerando não apenas a nossa vida preciosa para nós mesmos, mas também o nosso bem estar e nosso conforto. Nos temos procurado agradar a nós mesmos, ao invés de obedecer a Romanos 15:2, "Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação". Nós não temos "levado as cargas uns dos outros, e assim cumprindo a lei de Cristo (Gl 6:2)". Nós temos sido mundanos e

preguiçosos. Nós não temos nos apresentado a Deus como "sacrifício vivo", colocando a nós mesmos,

nossas vidas, nossas posses, nosso tempo, nossa força, nossas faculdades — nosso tudo - sobre o seu

altar. Parece que nós perdemos totalmente a visão desse princípio de auto-sacrifício que deve marcar a vida de um crente, e quanto mais a vida dos pastores. Nós realmente sabemos muito pouco sobre o

significado real de sacrifício. Talvez nós tenhamos ido bem até o ponto em que um sacrifício era exigido,

e ali nós ficamos parados tentando convencer a nós mesmos de que era desnecessário avançar, talvez

até dizendo que seria imprudente ou irrefletido. Entretanto, não deveria a vida de cada cristão,

especialmente de cada pastor, ser uma vida de auto-sacrifício e auto-renúncia, assim como foi a vida

dAquele que "não viveu para si mesmo"? 4. Nós temos sido preguiçosos. Nós temos nos esquivado do nosso trabalho. Nós não temos

suportado as durezas como bons soldados de Cristo. Talvez nós sejamos solícitos e prontos a ajudar

apenas no tempo oportuno, para nós. Nós não temos procurado aproveitar cada momento do nosso

precioso tempo. Horas e dias inteiros têm sido perdidos por causa da preguiça, do prazer, com leituras

ociosas e até mesmo fúteis, que poderiam ser consagradas ao estudo da Palavra, ao púlpito e a

encontros mais significativos! Indolência, auto-indulgência, volubilidade e carnalidade têm carcomido o nosso ministério impossibilitando-nos de nos apropriarmos das bênçãos de Deus.

Não pode ser dito de nós, "e sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste (Ap 2:3)". Ó Deus, nós temos desfalecido pelo caminho. Não temos trabalhado com a

consciência limpa. Não temos agido honestamente com a igreja com a qual nos comprometemos quando

fomos ordenados. Temos agido fraudulosamente com Deus, cujos servos nós confessamos ser. Pouco

tem sido realmente manifestado daquele amor incansável e desinteresseiro de que nós, pastores, devíamos estar imbuídos no lidar com os rebanhos pelos quais somos responsáveis. Nós temos

alimentado a nós mesmos, enquanto os rebanhos perecem. 5. Nós temos sido frios. Mesmo quando revelamos algum zelo, há pouco fervor. Não nos

entregamos de corpo e alma, e é por isso que tudo acaba se transformando naquela rotina sem vida.

Nós não falamos e agimos como homens impulsionados pela urgência. As palavras que proferimos são

desprovidas de poder, muito embora soem bem aos ouvidos, nossos olhares não têm profundidade mesmo quando nossas palavras são oportunas, e nosso tom de voz traduz a apatia de nossa visão e

palavras. O amor é escasso. Amor profundo, forte como a morte, como aquele que fez Jeremias chorar por

causa do orgulho de Israel, e como aquele que fez Paulo chorar por causa dos inimigos da cruz de

Cristo. Na pregação e na visitação, no aconselhamento e na admoestação . . . quanto formalismo,

quanto frieza, quão pouca ternura e afeto! "Oh! Que eu fosse todo coração", disse Rowland Hill, "e alma e espírito, para anunciar o glorioso Evangelho de Cristo às multidões que estão perecendo!"

MEDO DE DIZER TODA A VERDADE SEM RODEIOS 6. Nós temos nos deixado intimidar. O medo tem nos amolecido e feito com que generalizemos as

verdades que, se ditas abertamente suscitariam ódio e censuras sobre nós, vindas das pessoas

envolvidas. E assim temos deixado de pregar todo o conselho de Deus. Nós temos nos encolhido num

canto quando tínhamos que admoestar e exortar com toda longanimidade e doutrina. Ficamos com

medo de separar amigos ou de suscitar a ira de velhos inimigos. Conseqüentemente, a proclamação da Lei de Deus tem se tornado débil e improdutiva; a pregação do Evangelho tem sido ainda cada vez mais

irrelevante, incerta e temerosa. Falta-nos aquela nobreza de espírito que caracteriza Lutero, Calvino,

Knox, e os poderosos homens da Reforma. Diz-se de Lutero, "cada palavra sua parecia um relâmpago."

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7. Falta-nos seriedade. Ao lermos sobre as vidas de Howe ou Baxter, de Brainerd ou Edwards, nos

deparamos com homens cuja seriedade de caráter indicava que eram da escola apostólica. Nós

sentimos que tais homens tinham uma presença incomum. Nós vemos também o contraste existente

entre eles e nós no que concerne àquela profunda seriedade, indicativa de que eles andavam com Deus.

Nós devíamos nos sentir envergonhados por causa de nossa leviandade, frivolidade, insolência, conver-sas e gracejos tolos que têm causado danos lamentáveis para o mundo perdido, retardando o

crescimento dos santos e sendo coniventes na situação miserável em que o mundo se encontra.

USANDO A PREGAÇÃO COMO MEIO DE AUTOPROMOÇÃO 8. Nós temos exaltado o nosso ego, e não a Cristo. Nós temos buscado os aplausos e os elogios,

cobiçando a fama e a auto-promoção. Quantas e quantas vezes nós pregamos como que para nos

projetarmos, ao invés de glorificar a Cristo. Fazemos com que os homens olhem para nós e não para o

Senhor Jesus e para a Sua cruz. E assim, pretensamente nos colocamos no lugar de Cristo com o propósito de canalizarmos as honras para nós mesmos. Cristo, e os sofrimentos da sua primeira vinda e

a glória do seu retorno não têm sido o Alfa e o Omega, o primeiro e o último em nossos sermões. 9. Nós temos usado palavras de sabedoria humana. Nós já nos esquecemos daquela resolução de

Paulo, no sentido de evitar o palavreado aliciante da sabedoria do homem, só para fazer com que a

mensagem da cruz soe aos ouvidos de maneira mais agradável. Nós temos feito exatamente o oposto

daquilo que o Apóstolo Paulo evitou, e pensamos que pelos muitos estudos, pela educação polida e discursos bonitos nós podemos suavizar o significado da cruz tornando-a não tão repulsiva, e sim,

irresistivelmente atraente para os olhos carnais! Ao fazer isto nós mandamos os nossos ouvintes de

volta para as suas casas satisfeitos consigo mesmos e convencidos de que são religiosos simplesmente

porque ficaram emocionados com a nossa eloqüência e inspirados pelos nossos apelos ou persuadidos

pelos nossos argumentos. Desta forma nós alijamos a cruz de todo o seu significado e enviamos para o

inferno vidas que levam uma mentira em sua mão direita. E então, como conseqüência de termos evi-tado a ofensa da cruz e a loucura da pregação nós ficamos a lamentar os resultados de um ministério

sem frutos e funesto. 10. Nós não temos pregado o evangelho da graça. Nós temos medo de falar sobre a Graça de Deus,

medo que os crentes caiam na licenciosidade; como se a Graça de Deus fosse trazer problemas e

conduzir pessoas ao pecado. É somente a Graça estampada no Evangelho que pode trazer paz. Nada, a

não ser a Graça pode fazer com que o homem seja santo. A pregação de Lutero foi resumida nesses dois pontos — "Que nós somos justificados pela fé apenas, e que devemos nos assegurar de que somos jus-

tificados"; e foi exatamente isto que ele intimou seu irmão Brentius a pregar, e foi a pregação desse

Evangelho da Graça, completo e cheio de ousadia e livre de boas obras, méritos, condições e destituído

de dúvidas, temores e incertezas que fez com que os seus esforços fosse abençoados. Que nós possamos

fazer o mesmo. Aliado a isto há a necessidade de se insistir que o pecador se volte para Deus numa

atitude imediata e intimá-lo a, em nome do Mestre, entregar o seu coração a Cristo imediatamente. Mas é estranho que alguns pastores não gostem desse tipo de conversão. No entanto este é o tipo de

conversão mais evidente da Bíblia.

POUCA ÊNFASE NA PALAVRA DE DEUS 11. Nós não temos estudado e honrado a Palavra de Deus. Em nossos estudos nós temos dado

maior proeminência às opiniões e sistemas humanos do que à Palavra. Nós preferimos saciar a nossa

sede bebendo das cisternas humanas e não das cisternas divinas. Nós temos tido mais comunhão com o homem do que com Deus. E é por isso que os nossos valores, nossas vidas, nossas palavras derivam

mais do homem do que de Deus. Nós devemos dedicar mais tempo ao estudo da Bíblia. Devemos deixar

que as nossas almas fiquem embebidas na Palavra. Não devemos interiorizá-la apenas mas também

deixar que ela penetre em todos os recessos de nosso ser. 12. Nós não temos sido homens de oração. O nosso espírito de oração tem estado dormindo entre

nós. Não freqüentamos mais a sala de oração. Temos nos preocupado tanto com as nossas tarefas e

estudos a ponto de permitir que isto interfira em nossa vida de oração. E esta morbidez em que a nação

e a própria Igreja se encontram já começou a causar esse atrofiamento no vigor de nossas orações.

Muito dormir, reuniões desnecessárias, conversas torpes, brincadeiras indecorosas, leituras ociosas,

ocupações infrutíferas; todas estas coisas fazem com que nos desviemos do espírito de oração.

TEMPO PARA TUDO, MENOS PARA ORAÇÃO

Por que será que há tão pouca ansiedade para orar? Nós reservamos tempo para tudo, menos

para orar. Por que é que se fala tanto enquanto que há tão pouca oração? Por que tanta pressa nos

negócios, e tão pouca oração? Por que tantas reuniões com nossos colegas, e tão poucos encontros com

Deus. Ninguém mais gosta de estar sozinho, desfrutando daqueles momentos sossegados e da calma de uma comunhão imperturbável com Deus. É justamente a falta desses momentos a sós com Deus que

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tanto prejuízo traz ao nosso crescimento na Graça, e fazendo de nós membros quase que imprestáveis

na igreja de Cristo . . . Para poder crescer na Graça nós devemos estar mais a sós com o Senhor. Não é

fazendo parte de uma multidão — mesmo que seja só de pessoas cristãs — que uma vida cresce mais

rapidamente e com vigor. Uma simples hora em oração e comunhão com Deus trará mais progresso do

que dias em companhia de outras pessoas. É no deserto que o orvalho cai com mais frescor e o ar é mais puro. Assim acontece com a nossa alma. E quando ninguém mais a não ser Deus, está perto, a

Sua presença apenas, como o ar do deserto, sem qualquer hálito nocivo do homem, invade a alma. É

quando os olhos podem ter o mais simples e límpido vislumbre das verdades espirituais, é quando

então a alma se refaz com poder e energia. É assim também que nós podemos nos tornar verdadeiramente úteis. Quando somos renovados

pelo frescor da comunhão com Deus e saímos adiante na Sua obra desempenhando a nossa tarefa com

eficiência. Pois é na comunhão com Deus que as nossas vasilhas são cheias com as bênçãos, que na

verdade não podem ser retidas para nós mesmos mas que, ao avançarmos vão sendo derramadas por onde quer que passemos. Nós não podemos dizer como disse Isaías: "Senhor, sobre a torre de vigia estou em pé continuamente de dia, e de guarda me ponho noites inteiras (Isaías 21:8)". As nossas vidas não

têm estado de "prontidão" para ouvir a voz de Deus. "Fala, Senhor, que o teu servo ouve (I Sam 3:9)", não

tem sido a atitude de nossas almas e a direção de nossas vidas. Intimidade com Deus, comunhão com Deus, espera em Deus, descanso em Deus, não têm sido as características marcantes nem de nossa

vida devocional nem de nosso ministério. É por isso que o nosso exemplo tem sido tão fraco, os nossos

sermões tão mesquinhos, e o nosso ministério como um todo infrutífero e superficial.

BUSCANDO O PODER DO ESPÍRITO 13. Nós não temos honrado o Espírito de Deus. Pode ser que em nossas palavras reconheçamos a

Sua ação, mas nós não temos deixado que sejamos guiados consistentemente por esta verdade. Nós não temos dado a glória que é devida ao Seu Nome. Não temos buscado o Seu ensino, Sua unção — "a unção do Santo, e sabeis tudo (I João 2:20)". Nem no estudo da Palavra nem na exposição de seu ensino

para outros temos nós nos apropriado da obra do Espírito, que é iluminar o entendimento, revelar a

Verdade, testificar e glorificar a Cristo. Nós temos ofendido a Ele pela desonra feita à Sua pessoa como a

terceira pessoa da gloriosa Trindade, e nós O temos ofendido também pela superficialidade e falta de

seriedade com que tratamos a Sua obra como o Guia, como aquele que dá o convencimento, como o

Confortador e Santificador. Ele bem poderia ter nos deixado à mercê de nossa própria estultícia, para

que nós colhêssemos o fruto da nossa perversidade e incredulidade. Além do mais nós O temos ofendido através de nossa inconsistência, pela falta de circunspecção, pelo nosso mundanismo, falta de

santidade, nossa infidelidade na oração, enfim, por uma vida muito aquém do caráter de um discípulo

ou de um embaixador. Assim escreveu a respeito de si mesmo um já idoso ministro escocês: "Eu sinto a falta do Espírito

— do poder e da demonstração do Espírito — no orar, no falar, e no exortar; que trazem convencimento aos homens, que os deixa aterrorizados ou maravilhados; aquilo mesmo que diferenciava os sermões de

Cristo dos sermões dos Escribas e Fariseus; e que julgo ser os raios de luz da majestade de Deus e do

Espírito de santidade irrompendo sobre o Seu povo. Mas a minha natureza ainda é parte de mim!

Miserável que sou! A coroa de glória e majestade não está mais sobre a minha cabeça; as minhas

palavras são fracas e carnais. E não há remédio para tudo isso a não ser humildade, contrição e um

esforço incansável para estar em comunhão com Deus."

POUCA IMITAÇÃO DE CRISTO 14. Há muito pouco da mente de Cristo em nós. Quão distantes estamos dos apóstolos, quanto

mais de Cristo; nós estamos caminhando longe até dos servos, quanto mais do mestre. Há muito pouco

em nós da graça, da compaixão, da mansidão, da humildade e do amor do Filho Eterno de Deus. O Seu choro sobre Jerusalém é algo a respeito do qual pouco conhecemos. Ele "buscava o que estava perdido"

e disto somos péssimos imitadores. Ele incansavelmente "ensinava as multidões", coisa que para nós é

penoso demais. Os dias em que jejuava, as noites em que ficava vigiando e orando são modelos que nós

ainda não ousamos imitar. Ele não considerou a Sua vida preciosa para si mesmo para que pudesse

glorificar o Pai e completar a obra que veio realizar, e ainda nos esquecemos que este deve ser o

princípio diretivo de nossas vidas. Certamente que devemos seguir os seus passos; o servo deve andar pelo caminho já estabelecido pelo seu Mestre. O Pastor que está aprendendo deve ser aquilo que o

Pastor líder foi. Nós não devemos buscar e esperar descanso e facilidades num mundo onde Aquele a

quem amamos enfrentou apenas dores e sofrimentos.

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V AVIVAMENTO NO MINISTÉRIO

É muito mais fácil falar ou escrever sobre Avivamento do que iniciar ou envolver-

se num. Há tanto lixo que precisa ser varrido para longe, tantos impedimentos que nós mesmos criamos, tantos hábitos que devem ser esquecidos, tanta preguiça a ser dominada, e tanta rotina ministerial que não leva a nada. Falta aquela crucificação do

"ego" e do mundo a ser efetuada. Da mesma forma que Cristo disse a respeito do espírito imundo que os discípulos não puderam expulsar também podemos nós dizer

sobre essas coisas: "Esta casta não pode sair a não ser pela oração e jejum." Assim pensava um ministro do século dezessete; que depois de lamentar os males

de sua vida e de seu ministério, determinou-se a iniciar um Avivamento em sua vida:

(1) Em imitação a Cristo e a Seus Apóstolos, eu me proponho a levantar regularmente no mesmo horário todas as manhãs.

(2) Tão logo eu levante, esteja pronto para o trabalho a ser feito, e o faça de todo o

meu coração; e quando não o fizer com toda devoção, que eu possa prantear sobre as minhas falhas.

(3) A cada dia passar algum tempo em oração, leitura, meditando e fazendo exercícios espirituais, na parte da manhã, no meio do dia e antes de ir dormir.

(4) A dedicar um dia do mês para um dia de humilhação em favor do mundo e em

favor do povo de Deus em virtude da triste condição em que se encontram. (5) A separar além deste dia, um outro dia a cada seis meses, para a minha

consagração pessoal, para lutar contra as forças espirituais e santificar o meu

coração. (6) A passar mais ou menos quatros horas por semana em oração e intercessão

por necessidades específicas, minhas ou de outros. (7) No sábado à noite, passar alguns momentos preparando-me para o Domingo,

dia do Senhor.

(8) Passar uma semana inteira, uma vez por ano, e quando for mais conveniente, dedicando-me total e inteiramente a questões espirituais."

A NECESSIDADE ATUAL DE UM AVIVAMENTO

Foi assim que ele quis iniciar o seu avivamento pessoal e ministerial. Vamos tomá-lo como um exemplo para nós. Se ele necessitava tanto assim quanto mais nós.

No quinto e sexto séculos, Gildas e Salvian surgiram para despertar e preparar

uma igreja relapsa e ministério estéril. No século dezesseis a tarefa era tão grande e premente que resultou nos Reformadores. No século dezessete, Baxter, entre outros,

teve grande participação no impulso que foi dado aos seus contemporâneos que dormiam na sua piedosa morbidez. No século dezoito, Deus levantou alguns homens para despertar a igreja e dar uma liderança ministerial mais nobre e mais ousada. O

século em que vivemos também carece do mesmo vigor e da mesma influência. É verdade que há algumas centelhas em pontos isolados, mas é preciso que o fogo se

alastre. É preciso que um outro Baxter se levante em nosso meio e faça sua voz ser ouvida, assim como o seu exemplo. E aterrador ver tanta melancolia ministerial, e tanta ineficiência que ainda existe em nosso meio. Quanto tempo ainda, Senhor,

quanto tempo! A injeção de vida nova no ministério deve ser objeto de esforços especiais e mais

diretos, assim como de orações mais fervorosas. As orações dos cristãos deviam ser mais voltadas para os estudantes, aos pregadores e aos pastores das igrejas. É de um ministério vivo que a nossa nação precisa, e sem esse ministério não tenhamos a

presunção de pensar que escaparemos ilesos dos julgamentos de Deus. Nós precisamos de homens que se deixem gastar, que trabalhem e orem, que vigiem e

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chorem pelas almas.

COMO MYCONIUS APRENDEU A LIÇÃO

Na vida de Myconius, o grande amigo de Lutero, de acordo com Melchior Adam, nós temos uma descrição marcante do evento que o envolveu no grande momento de

sua vida e que o levou a gastar todas as suas energias na causa de Cristo. Logo na primeira noite de vida monástica ele teve um sonho. Era como se ele estivesse vagando sozinho por um imenso deserto. De repente ele foi surpreendido por alguém que

apareceu e o conduziu para um vale de uma beleza inigualável onde havia uma corrente d'água da qual não lhe foi permitido beber. Mais adiante ele encontrou a fonte onde brotava aquela água. Ele quis ajoelhar-se para beber quando eis que apare-

ceu diante dele o Senhor crucificado, cujas feridas faziam jorrar toda aquela água. E, num momento muito rápido, aquele que o havia guiado até o vale o arremessou dentro

da fonte. E a sua boca encheu-se da água que jorrava das feridas, e ele pôde então mitigar aquela sede que lhe afligia a vida, e desde então nunca mais teve sede.

Logo depois de ter bebido da fonte, ele foi levado para um outro lugar onde o seu

guia lhe falou das grandes coisas que ele iria fazer pelo Senhor crucificado que havia inundado a sua alma com a água viva. Eles estavam numa planície muito vasta que

estava toda coberta de trigo que se agitava com o vento. O Seu guia então ordenou que ele começasse a colher aquele trigo. Mas ele quis recusar alegando que nunca fizera aquilo antes, e que portanto não teria a habilidade para fazê-lo. "O que você não sabe

você aprenderá", foi a resposta. Eles se aproximaram um pouco mais e ele avistou um trabalhador que, embora solitário, trabalhava como se estivesse determinado a colher todo o trigo sozinho. O seu guia então ordenou que ele se pusesse a ceifar ao lado

daquele outro ceifeiro,e agarrando uma roçadeira, mostrou a ele como manuseá-la. Novamente o seu guia o levou para uma colina. Ele contemplou a aquela vasta

planície diante de seus olhos e perguntou quanto tempo levaria para ceifar todo o campo com tão poucos trabalhadores. "Antes que o inverno chegue será dada a última foiçada", respondeu o guia. "Continue com toda a tua força. O Senhor da seara logo

enviará mais Ceifeiros". Já fatigado do seu trabalho Myconius teve alguns momentos para descansar. Novamente o Senhor crucificado surgiu ao seu lado, desfigurado e

sofrido. Então o guia colocou a mão sobre Myconius dizendo: "Assim como Ele é você deve também ser".

Com estas palavras Myconius despertou de seu sonho. Mas ele despertou para

uma vida de fervor e de amor. Ele encontrou o Salvador de sua alma, e pôs-se a pregar a respeito dEle para outros. Ele tomou posição ao lado daquele outro vigoroso ceifeiro, Martinho Lutero. Ele foi impulsionado pelo seu exemplo e com ele trabalhou naquele

vasto campo até que de todos os lados afluíam mais trabalhadores e a colheita foi recolhida antes da chegada do inverno. A lição para nós é clara, apanhemos nós as

foices. Os campos estão brancos e eles são vastos, e poucos são os trabalhadores, mas há alguns que já se encontram trabalhando. Em anos já passados nós vimos homens como Whitefield e Hill que não mediram esforços como se fossem os únicos a ceifar no

campo. Vamos nos juntar a tais homens, e o Senhor da seara não nos deixará sozinhos no campo.

A GRANDE COLHEITA

"Quando é que você pretende parar?" foi a pergunta feita a Rowland Hill, por um amigo. "Só depois que tudo o que temos a fazer estiver terminado," foi a resposta. Esta deve ser a nossa resposta também. Vastos são os campos, o trigo já embranquece e se

agita com o vento; e pela Graça de Deus nós avançaremos empunhando as nossas ferramentas e descansaremos apenas junto às fontes de água viva para onde o

Cordeiro nos levará, onde Deus enxugará o suor de nossos rostos cansados e toda

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lágrima de nossos olhos. Alguns de nós são jovens e com bastante vigor, e pela pro-

vidência de Deus com muitos anos pela frente. Esses dias devem ser dias de uma perseverança extenuante e, com a bênção de Deus, de bastante proveito no labor. Nós trabalharemos até que estejamos totalmente sem forças.

Vincent, um ministro não conformista que escreveu sobre aquele grande incêndio em Londres no seu livro intitulado "A Terrível Voz de Deus Sobre a Cidade", descreve-

nos a maneira como aqueles fiéis ministros que sobreviveram ao perigo ministraram aos habitantes que pereciam, e fala-nos também de como as multidões aterrorizadas se agarravam às palavras que fluíam de seus lábios para poderem se apoderar e

receber a salvação antes que aquele terror os levasse sem esperança para o túmulo. As portas das igrejas foram escancaradas, mas os púlpitos estavam em silêncio, pois não havia quem os ocupasse; os mercenários haviam desaparecido.

PREGANDO PARA VITIMAS ATORMENTADAS

Só então os fiéis servos de Deus finalmente saíram de seus esconderijos e

assumiram os púlpitos abandonados. Então eles se levantaram no meio dos

moribundos e dos mortos, para proclamar a vida eterna para aqueles homens que não esperavam estar vivos na manhã seguinte. Eles pregavam quando era oportuno e

quando não era. Um dia da semana e o Domingo era a mesma coisa para eles. Fosse o momento próprio ou impróprio eles não se preocupavam com caprichos eclesiásticos, eles alçavam suas vozes como trombetas. Cada sermão era como se fosse o último. As

sepulturas já estavam cavadas por todos os lados, a morte estava mais próxima do que nunca, a eternidade era uma realidade palpável, almas foram revestidas de sua real importância e oportunidades não podiam ser mais desperdiçadas, cada hora era

mais valiosa do que tesouros e riquezas, o mundo tornou-se uma sombra desvanecente e os dias do homem na terra passaram a ser como que um piscar de

olhos! Oh! Como eles pregavam! Nada de imponência ou elegância, nem grande erudição

ou frases feitas que servem apenas para esfriar os apelos. Eles falavam sem receio do

homem e sem esperar a bajulação popular, não havia medo do entusiasmo genuíno e nada havia que os fizesse parar de verter aquele fervor de seus corações que se

derramava sobre aquelas almas com uma ternura inexprimível. O velho "tempo", diz Vincent, "parecia estar em pé diante do púlpito com seu cortador de grama enorme, falando com voz rude, "trabalhe enquanto for dia. De noite te cortarei. A morte horrível

parecia ficar ao lado do púlpito com sua flecha afiada, dizendo, "Lance você as flechas de Deus, e eu mandarei a minha. O sepulcro parecia aberto ao pé do púlpito com pó no seu fundo, a dizer:

"Levante o teu pranto para Deus, para os homens E faça vingar a tua confiança;

Aqui tu deves deitar - A boca está parada O fôlego se foi,

Só silêncio e poeira." "Seriedade e fervor começaram a avivar o trabalho ministerial, os pastores

começaram a pregar da beira da cova onde milhares estavam caindo. E as multidões

afluíam para as igrejas onde tais ministros pregavam de tal forma que eles mesmos tinham às vezes, que andar por sobre os bancos para poder sair; e o semblante

daqueles que se aglomeravam era tal que raramente se tinha visto coisa igual em Londres; olhares angustiados e cheios de avidez; ouvidos atentos e uma atenção voraz, e era como que devorada cada palavra que os ministros proferiam."

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DEVEMOS NÓS ESPERAR MENOS?

Assim pregaram eles e assim ouviram as multidões naqueles dias de terror e de

morte. Os homens estavam desejosos tanto no falar quanto no ouvir. Não havia frieza

e nem uma oratória fabricada. Eles pregavam como se estivessem morrendo com aqueles que estavam a morrer. Mas a questão é, deve a pregação do evangelho ser diferente do que foi? Será que deve haver agora menos intensidade no fervor daqueles que pregam e menos atenção naqueles que ouvem do que houve naquela ocasião? É

verdade que a vida foi um pouco curta então, mas a morte era a mesma assim como a sua inevitabilidade. A eternidade é a mesma. A alma também é a mesma. O único elemento de diferença era a brevidade de vida que os tinha assolado, mas era esta a

diferença, apenas e tão somente esta.

A INCREDULIDADE ENFRAQUECE O NOSSO TESTEMUNHO

Por que então a nossa pregação é tão destituída de fervor e nossos apelos tão

carentes de entusiasmo e de urgência? Nós estamos há apenas alguns passos da eternidade, isto é tudo. As grandes questões da vida ainda estão aí a nos fustigar e intrigar. Não há dúvidas de que é a nossa incredulidade que faz a diferença. É a

incredulidade que faz com que os ministros sejam tão frios em suas pregações, tão preguiçosos para visitar, e tão remissos no desempenho de suas tarefas ministeriais. É a incredulidade que arrefece a vida e oprime o coração. É a incredulidade que faz com

que certos pastores tratem das realidades espirituais com tanta irreverência. É a incredulidade que faz com que subam ao púlpito, aquele lugar terrível, para falar do

céu e do inferno sem o temor e tremor devidos. Ouça um dos apelos de Richard Baxter: "Eu fico assombrado quando ouço coisas

tão importantes serem proferidas; como é que as pessoas na congregação conseguem

ficar impassivas; como é que elas conseguem achar descanso. Ó que o céu e o inferno não afetassem mais os homens. Ó que a eternidade não

funcione mais! Oh, você já parou e pensou no que significa estar num estado de alegria eterna, ou de tormento eterno? Eu fico a pensar se esse tipo de pensamento chega a interromper o seu sono; ou se a sua mente se ocupa dele enquanto você

trabalha; eu fico a pensar como é que você consegue pensar em outra coisa; como é que a sua mente consegue descansar; ou como é que você pode comer e beber sem estar seguro das eternas consolações!

"Será um homem ou um cadáver que não consegue ser afetado por assuntos desta importância? Quem consegue dormir bem e quem não treme ao ouvir que ele

será colocado diante do tribunal de Deus? Será um homem ou um pedaço de barro que consegue levantar-se e deitar-se sem ter uma profunda preocupação com a sua eternidade? Quem faz questão de se ocupar com cada detalhe de sua ocupação

profissional mas que não se importa com a iminência da salvação ou da condenação, que pode vir sem aviso? Sim, senhores, quando eu penso na seriedade do assunto logo

me vêem à mente os grandes santos de Deus, eles não são melhores do que nós e nem levam vantagem alguma neste assunto. Eu fico a pensar sobre aqueles a quem o mundo atribui mais santidade do que deve, e que fazem muito barulho por nada,

pondo Cristo de lado assim como as suas almas; que não derramam todo o seu ser em suas súplicas; cujos pensamentos não mais se agitam com a prestação de contas que virá. Eu realmente fico a pensar se eles não seriam cem vezes mais disciplinados em

suas vidas, mais árduos e incansáveis na corrida pela coroa, do que agora são."

DISPOSTO A TREMER "E quanto a mim, eu estou envergonhado por causa do meu coração estúpido e

negligente, pela vagarosidade e inutilidade da minha existência; o Senhor me conhece

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e sabe, eu estou envergonhado de cada sermão que eu prego; quando eu penso no fato

de que a salvação ou condenação dos homens podem estar profundamente relacionadas com aquilo que eu prego, a única coisa que posso fazer é tremer receando que Deus possa me julgar como um barateador das Suas Verdades e das al-

mas dos homens, ou que no meu melhor sermão eu tenho sido culpado do sangue de muitos.

Não é sem lágrimas que devemos nos dirigir aos homens sobre um assunto de tão drásticas conseqüências; não deve ser sem o maior cuidado de nossa parte; poderia sim, ser, sem o mais intenso zelo ou sem lágrimas, se nós não fôssemos ser tidos

como culpados do pecado que nós tanto reprovamos." Nós temos sido relapsos tanto no pregar quanto no ouvir, de outra forma não

seríamos tão frios, tão sem oração, tão inconsistentes, tão preguiçosos, tão mundanos.

Se queremos ganhar almas a nossa preguiça precisa ser substituída por grande e intenso fervor, e só assim estaremos seguindo as pegadas do amado Senhor e

verdadeiramente cumprindo os votos que estão sobre nós. Se continuarmos como estamos, continuaremos sendo nada mais que hipócritas. Nós precisamos ser tomados por um fervor e um entusiasmo sem precedentes se pretendemos completar a nossa

carreira com alegria e receber a coroa quando o Senhor voltar. Nós devemos trabalhar enquanto é dia, pois a noite vem quando ninguém mais poderá trabalhar.

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UM RECADO PARA GANHADORES DE ALMAS

Horatius A. Bonar Um Recado é a expressão da dedicação de Horatius Bonar ao ministério da

Palavra. Ele não apresenta métodos de evangelização ou coisa parecida, sua preocupação é com a vida do ministro de Deus.

Para Bonar, o objetivo do ministério cristão é "levar pecadores ao arrependimento e edificar o Corpo de Cristo" e para que isso seja alcançado é necessário que o ministro

de Deus seja um homem consagrado plenamente ao seu Senhor.

A exortação de Bonar para nós pede "Cuide bem de Você mesmo. O cuidado de sua alma deve ser o primeiro e o maior que você deve ter. Guarde sua consciência lim-

pa através do sangue do Cordeiro. Mantenha uma comunhão íntima com Deus. Procure ser como Ele em tudo. Leia a Bíblia primeiro para o seu crescimento e depois para o crescimento de outros".

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