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XI SEMINÁRIO MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGIA PERIFÉRICA RECIFE, 4 a 6 de NOVEMBRO de 2009 Fundação Joaquim Nabuco, Apipucos, Sala Gilberto Osório, Rua Dois Irmãos, 92 A organização do trabalho na produção da vida humana de base científica laboratorial Valeska Nahas Guimarães, UFSC [email protected] Samya Campana, UFSC [email protected] Resumo Este artigo tem origem em pré-projeto de doutorado intitulado “Emancipação humana pela educação? A prática pedagógica engrendrada pelo desenvolvimento das forças produtivas sociais de base científica-laboratorial” desenvolvido a partir dos resultados de dissertação de mestrado. A pesquisa tem como pressuposto que o processo de produção laboratorial, a exemplo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) (localizado na cidade de Campinas em São Paulo, sendo o único do hemisfério Sul), é o que há de mais avançado em termos de forças produtivas sociais sob égide do capital. Não obstante, essas considerações nos remetem a duas indagações que são nosso norte, já que constituem parte importante dessa pesquisa doutoral: há ou não há uma “nova forma de organização do trabalho” que se manifesta nessa nova forma produtiva laboratorial? Se estamos diante de uma nova forma de organização do trabalho que se constitui e se desenvolve no e pelo “sistema de laboratório”, será ela reafirmadora ou contestadora da sociedade capitalista? Destarte, indagamos se essa nova forma de organização do trabalho traz em seu bojo relações sociais que representem um avanço, ou mesmo, a superação das relações capitalistas. Inicialmente, para buscar respostas a essas indagações, nos utilizamos neste artigo de uma revisão dos modelos e formas de organização do trabalho, incluindo-se uma discussão sobre as novas formas de organização do trabalho, objetivando diagnosticar ou não uma simetria entre os modelos e formas de organização do trabalho e a organização do trabalho na produção de base científica laboratorial. Palavras-chave: organização do trabalho, novas formas de organização do trabalho, sistema de laboratório Abstract This article has its origin in a pre-doctoral project entitled “Education for Human Emancipation”. The teaching created by the development of social productive forces of scientific and laboratory "developed from the results of Master's thesis. The research has the assumption that the process of laboratory production, such as the National Laboratory of Syncrotron (located in the city of Campinas, in São Paulo, the only one of the South) is the most advanced in terms of social productive forces under the aegis of the capital. Nevertheless, these considerations send us to two questions which are our goal, once they constitute an important part of this doctoral research: is there or is there not a “new form of work organization” which rises in this new form of laboratory productive form? If this is a new way of organizing work that is developed and is in and the “laboratory system,” is it reaffirming or contesting the capitalist society? Therefore, we ask whether this new form of organization of work itself brings inside some new social relation which may represent a step ahead or even an overcoming of the capitalist relations. At first, in search of answers for theses questions, in this paper we used a review of models and forms of work organization, including a discussion about the new forms of work organization, aiming at diagnosing or not symmetry among the models and forms of work organization in the scientific-based laboratorial production. Key-words: work organization, new forms of work organization, laboratory system. GUIMARÃES, VN; CAMPANA, S. A organização do trabalho na produção da vida humana de base cientifica laboratorial 153

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Fundação Joaquim Nabuco, Apipucos, Sala Gilberto Osório, Rua Dois Irmãos, 92

A organização do trabalho na produção da vida humana de base científica laboratorial

Valeska Nahas Guimarães, UFSC [email protected]

Samya Campana, UFSC [email protected]

ResumoEste artigo tem origem em pré-projeto de doutorado intitulado “Emancipação humana pela educação? A prática pedagógica engrendrada pelo desenvolvimento das forças produtivas sociais de base científica-laboratorial” desenvolvido a partir dos resultados de dissertação de mestrado. A pesquisa tem como pressuposto que o processo de produção laboratorial, a exemplo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) (localizado na cidade de Campinas em São Paulo, sendo o único do hemisfério Sul), é o que há de mais avançado em termos de forças produtivas sociais sob égide do capital. Não obstante, essas considerações nos remetem a duas indagações que são nosso norte, já que constituem parte importante dessa pesquisa doutoral: há ou não há uma “nova forma de organização do trabalho” que se manifesta nessa nova forma produtiva laboratorial? Se estamos diante de uma nova forma de organização do trabalho que se constitui e se desenvolve no e pelo “sistema de laboratório”, será ela reafirmadora ou contestadora da sociedade capitalista? Destarte, indagamos se essa nova forma de organização do trabalho traz em seu bojo relações sociais que representem um avanço, ou mesmo, a superação das relações capitalistas. Inicialmente, para buscar respostas a essas indagações, nos utilizamos neste artigo de uma revisão dos modelos e formas de organização do trabalho, incluindo-se uma discussão sobre as novas formas de organização do trabalho, objetivando diagnosticar ou não uma simetria entre os modelos e formas de organização do trabalho e a organização do trabalho na produção de base científica laboratorial.

Palavras-chave: organização do trabalho, novas formas de organização do trabalho, sistema de laboratório

AbstractThis article has its origin in a pre-doctoral project entitled “Education for Human Emancipation”. The teaching created by the development of social productive forces of scientific and laboratory "developed from the results of Master's thesis. The research has the assumption that the process of laboratory production, such as the National Laboratory of Syncrotron (located in the city of Campinas, in São Paulo, the only one of the South) is the most advanced in terms of social productive forces under the aegis of the capital. Nevertheless, these considerations send us to two questions which are our goal, once they constitute an important part of this doctoral research: is there or is there not a “new form of work organization” which rises in this new form of laboratory productive form? If this is a new way of organizing work that is developed and is in and the “laboratory system,” is it reaffirming or contesting the capitalist society? Therefore, we ask whether this new form of organization of work itself brings inside some new social relation which may represent a step ahead or even an overcoming of the capitalist relations. At first, in search of answers for theses questions, in this paper we used a review of models and forms of work organization, including a discussion about the new forms of work organization, aiming at diagnosing or not symmetry among the models and forms of work organization in the scientific-based laboratorial production.

Key-words: work organization, new forms of work organization, laboratory system.

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1. Introdução

Nas últimas quatro décadas a humanidade tem vivenciado transformações no modo como produz o capitalismo e a si mesma. Na década de 1970, muito se falava em crise; na de 1980, os termos de moda foram “reestruturação e reorganização”; na de 1990, deixou-se de ter certeza de que a crise já estaria solucionada e começou a se difundir a visão de uma nova fase histórica do capitalismo, chamada por alguns de pós-moderna; na de 2000, fala-se de névoa, incerteza, transição, admitindo-se a possibilidade concreta de uma transformação radical (senão de colapso das relações capitalistas) e de abertura para relações de um tipo novo.

A tese assumida é a de que o modo de produção capitalista está atravessando um momento decisivo e que as transformações em curso não têm precedentes. Entendendo que a história não se repete, seu primeiro pressuposto é a consideração da afirmação, negação e superação do Modo de Produção Capitalista (MPC) à luz do movimento de sua base material e da constituição do ser social. Suas formas sociais orgânicas de produzir (artesanal, manufatureira e industrial) são e expressam o movimento de seus próprios criadores - os homens -, suas relações sociais de produção burguesas, no tempo e no espaço ao decomporem o trabalho individual como fonte da vida e constituírem o trabalho social como fundamento da existência humana (AUED, 2005, 1999). O segundo pressuposto é a constatação de que a superação do modo de produção capitalista se faz, no presente, a partir de uma nova forma social orgânica de produção, contraditória e transitória que emerge do desenvolvimento das forças produtivas sociais, mas que nada tem em semelhante com a forma da grande indústria (muito menos da manufatura e do artesanato), porque mesmo tendo sido embutida em seu bojo, desta se separou superando-a e, provisoriamente, foi chamada de “sistema de laboratório” (CAMPANA, 2006).

Em continuidade ao desenvolvimento dessa tese, foi originado um pré-projeto de doutorado intitulado “Emancipação humana pela educação? A prática pedagógica engrendrada pelo desenvolvimento das forças produtivas sociais de base científica-laboratorial”, com enfoque na Educação para saber se esta se configura de forma diferenciada em relação à interiorização e legitimação das condições do MPC. Essa pesquisa tem como pressuposto que o processo de produção laboratorial, a exemplo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado na cidade de Campinas em São Paulo, sendo o único do hemisfério Sul, é o que há de mais avançado em termos de forças produtivas sociais sob égide do capital. Seu objetivo é relacionar essa nova forma produtiva ao processo educacional do ensino e pesquisa universitários visando compreender essa relação social como afirmação, negação e superação do próprio modo de produção que a produz.

Não obstante, essas considerações nos remetem a duas indagações que serão aqui nosso norte: na prática, constata-se o surgimento de uma Nova Forma de Organização do Trabalho (NFOT) que se manifesta nessa nova base produtiva laboratorial? Será esta emancipatória? Se estamos diante de uma NFOT que se constitui e se desenvolve no e pelo “sistema de laboratório”, será ela reafirmadora ou negadora da sociedade capitalista? Destarte, indagamos se essa NFOT traz em seu bojo relações sociais que representam um avanço, ou mesmo, a superação das relações capitalistas. Finalmente, uma pergunta inspiradora: o que essa nova base produtiva laboratorial e, se for o caso, essa NFOT pode significar em termos da modernização tecnológica de regiões periféricas, no atual contexto de esgotamento dos recursos planetários?

Inicialmente, é preciso compreender a Organização do Trabalho (OT) no modo de produção capitalista (MPC) como uma manifestação concreta de como o capital atinge o seu objetivo de valorização através da dominação exercida sobre a força de trabalho, a qual, não possuindo o controle dos meios de produção, submete-se ao assalariamento (ROESE, 1992). Trata-se da forma de extração de mais-valia absoluta, enquanto o desenvolvimento

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tecnológico dos meios de produção representa a forma de obter mais-valia relativa (GUIMARÂES, 1995).

No entanto, apesar de identificada a lógica geral que enseja a organização do trabalho no MPC, não é tarefa fácil caracterizá-la, dado que representa um locus privilegiado, onde encontram-se, intimamente associados, os aspectos políticos, técnicos, econômicos, psicológicos, sócio-culturais (ORSTMAN, 1984, FLEURY, 1987).

Essa confluência de áreas tem impelido como pressuposto a análise interdisciplinar da organização do trabalho, numa concepção ampla, ao contrário do tratamento convencional, afinado com uma postura normativa, tradicionalmente oferecido pelas Ciências Administrativas e pelas Engenharias, que se limitam a interpretá-la como organização racional do trabalho1 - tampouco deve ser conduzido unilateralmente pelas Ciências Sociais (especialmente a Sociologia, a Psicologia e a Política) sem entrar no mérito dos procedimentos operacionais, presente nas situações reais do trabalho (FLEURY, VARGAS, 1983 apud GUIMARÃES, 1995).

A interdisciplinaridade permite avançar quanto à interpretação da OT, sugerindo a inclusão das relações sociais, os níveis de responsabilidade, as qualificações necessárias além da cadência, da variedade e complexidade das tarefas, ou, ainda, relacionando a OT com a política industrial que estrutura o conjunto (MELO, 1985). Para Guimarães (1995), dessa interpretação ampla, decorre, em primeiro lugar, que a OT está relacionada à estrutura de poder e ao controle organizacional e que se refere tanto ao conteúdo (através da concepção de postos e tarefas) quanto às condições materiais de trabalho, cujas fronteiras não são fáceis de precisar. Enfim, entende-se que a OT lida com uma diversidade de combinações de elementos que compõem o próprio processo de trabalho.2

Em nível mundial, a partir da década de 1950, constata-se uma tendência de integração de diversas áreas de conhecimento nos estudos sobre a organização do trabalho (como ocorreu com a equipe de pesquisadores do Instituto Tavistock de Londres). No Brasil, somente a partir da década de 1980, observa-se um esforço entre os pesquisadores da OT no sentido de romper as barreiras que delimitam o campo de conhecimentos sobre a questão: contrapondo-se à práxis internacional, grupos de pesquisadores com formação básica em Engenharia, passaram a utilizar os seus conhecimentos técnicos à luz das Ciências Humanas e Sociais (GUIMARÃES, 1995).

No entanto, embora o tratamento interdisciplinar da OT represente uma tendência geral em nível nacional e internacional, inexistem propostas concretas de unificação de metodologias, tampouco, conclusões convergentes sobre o tema (SORENSEN, 1985; CASASSUS-MONTERO, 1989).

Um dos procedimentos sugeridos para a melhor compreensão da diversidade de formas de OT refere-se aos estudos comparativos, desenvolvidos em nível internacional, conforme proposto por Cassasus Montero (1989). A autora defende que “as formas de organização do trabalho resultam certamente de escolhas das empresas face às alternativas tecnológicas e do mercado, mas estão também inscritas dentro de um sistema institucional” (ibid., p.156). Assim, estudos comparativos em nível internacional tendem a encaminhar-se de acordo com duas correntes: a) a primeira defende a possibilidade de determinar perfis comuns e, portanto, abre a possibilidade de generalização, pressupondo que, apesar das características distintas de cada país, a heterogeneidade de respostas não é ilimitada, e b) a segunda destaca as especificidades nacionais como condicionantes das formas de OT, as

1 Mas vale ressaltar, conforme Guimarães (1995), que mesmo no campo da Engenharia, atualmente observa-se uma tendência de ampliar o entendimento da OT relacionada apenas às exigências físicas com relação aos equipamentos, suas características técnicas e localização; ritmo; seqüenciamento das operações e divisão das tarefas, acrescentando-se algumas preocupações ergonômicas e de condições ambientais.2 Dentre esses elementos, uma posição significativa é ocupada pela tecnologia: “a OT lida com as combinações possíveis entre tecnologia e utilização da força de trabalho” (ROESE, 1992, p.21). Para ROESE (1992) este conceito engloba a forma como o trabalho é dividido; o conteúdo das tarefas; a hierarquia e o modo como são tomadas as decisões no local de trabalho; a relação homem/máquina (número de máquinas por operador, ritmo e cadência de trabalho); como estão constituídos e integrados os postos de trabalho (se individual ou grupal, o número de componentes da equipe, responsabilidades e grau de autonomia).

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quais resultam do desenvolvimento próprio de cada sociedade; as diferenças entre as formas de OT são interpretadas historicamente.3

Com relação à aparente diversidade das várias abordagens comparativas internacionais, um ponto comum a destacar é a crítica ao determinismo tecnológico, pois os estudos comparativos internacionais demonstram que empresas utilizando as mesmas tecnologias, porém situadas em países diferentes, apresentam uma diversidade de formas de organização do trabalho.

Feitas essas considerações acerca da justificativa deste artigo e das possibilidades de abordagens para caracterizar a organização do trabalho no modo de produção capitalista, adotaremos o procedimento de desvelar organização do trabalho existente na materialidade capitalista, admitindo o existente como a força produtiva materializada na máquina-ferramenta-automática de precisão quântica (CAMPANA, 2006) e a partir da discussão e da proposta de classificação apresentadas por Guimarães (1995) a respeito da organização do trabalho. Indicaremos num primeiro momento os principais elementos dessa nova forma de os homens produzirem, a saber, a produção de base científica laboratorial. Num segundo momento, a após uma panorâmica sobre os modelos existentes para caracterizar a organização de trabalho, apresentaremos as características da organização do trabalho na produção de base científica laboratorial conforme o modelo proposto por Guimarães (1995) e de inspiração no Quadro de Liu (1983). O objetivo do artigo é com auxílio desses modelos compreender a realidade evidenciada pela produção de base científica laboratorial, tentando responder as seguintes questões: há uma nova forma de organização do trabalho na produção de base científica laboratorial? O que pode ser inferido sobre a modernização periférica a partir dessa nova organização do trabalho neste espaço?

2. A nova forma de os homens produzirem em questão

Seguindo o trabalho desenvolvido por Campana (2006), cujo guia para se compreender tal forma de produção foi a dialética materialista, explicitando os nexos e as mediações de uma forma de produção para outra, nosso ponto de partida real não é nem grande indústria nem a ciência conscientemente aplicada do final do século XIX, mas a do final do século XX/início do século XXI. E é esta ciência atual que remodela à sua produção as formas da grande indústria, manufatureiras e artesanais. A ciência, atualmente, vista como decomposição da matéria mesma em partículas quânticas é a própria decomposição do objeto de trabalho em si e para si e se origina da decomposição dos instrumentos de trabalho, realizada pela grande indústria, cujo ponto de partida fora a máquina-ferramenta-automática. Portanto, temos que a grande indústria hoje se transmuta, ao ser determinada pelo sistema de laboratório, passando a integrar uma nova totalidade: antes, a grande indústria foi engendrada pela manufatura – a qual alterava a forma exterior dos objetos -, mas agora é a parte operacional do Sistema de Laboratório alterando a forma exterior dos objetos a partir dos avanços sobre a constituição e manipulação atômica da matéria.4

3 Segundo Guimarães (995), Cassasus-Montero (1989) sugere quatro tipos de abordagens que podem ser seguidas na condução de estudos comparativos: a sistêmica, a cultural, a política e a estratégica, as quais não são excludentes entre si. Os defensores da corrente crítica assumem, em seus estudos, uma abordagem política da OT, valendo-se da análise dialética do trabalho. É o caso dos estudos de Zimbalist et. al. (1979), Palloix (1982), Tronti (1982), Braverman (1987), Gorz (1989). No Brasil, podem ser citados os estudos de Espíndola (1985), Kuenzer (1985), Bruno e Saccardo (1986), Marques (1987), Vieira (1989), Humphrey (1990), Faria (1992, 1987, 1985).

4 Cabe enfatizar que, para Campana (2006), a relação histórica entre manufatura e grande indústria moderna também foi mediada pela ciência, na forma do que a autora chamou de “laboratório”, porque os avanços não eram suficientes para se compreender a estrutura atômica da matéria, embora já tivesse sido iniciado o processo histórico de decomposição de seus elementos mais simples. O que se sucedeu ao desenvolvimento da grande indústria moderna em seu último grau (e por causa disto) é também a ciência, porém elevada a um novo nível - e por isso chamado pela autora de “sistema de laboratório” – porque visa a decomposição, manipulação e recomposição dos elementos simples integrantes à matéria (CAMPANA, 2006). Qual seria, atualmente, a diferença

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O Sistema de Laboratório, apesar de não estar mencionado em Karl Marx teve elaboração desenvolvida a partir da obra desse autor. Entre alguns especialistas há um debate em aberto sobre as indicações de sua obra, principalmente dos Grundrisse, para caracterizar uma forma produtiva superior à grande indústria moderna, envolvendo o conceito de intelecto geral. Para tal apreensão, torna-se importante a contribuição de autores como Moraes Neto (2003, 1991) que, visando compreender a “reestruturação produtiva” bem como o ohnoísmo e a automação de base microeletrônica, critica as análises marxistas do trabalho sobre as tendências dominantes do avanço tecnológico; Fausto (2002, 1987) e Prado (2003, 2005a, 2005b) que buscam compreender o que chamam de “pós-grande indústria ”a partir das formas de subsunção do trabalho ao capital e Aued (2005b) e Campana (2006), que buscam compreender o “sistema de laboratório” a partir da idéia de ser social e transitoriedade.

Distintamente do modo como a objetividade do trabalho se materializa nas fases manufatureira e industrial, na fase laboratorial a objetividade do trabalho tem como ponto de partida os elementos constitutivos da matéria - o objeto sobre o qual se trabalha - e se materializa em um instrumento de trabalho específico: a máquina-ferramenta-automática de precisão quântica, cuja característica determina a universalização do conhecimento (general intellect) dos homens na produção e na criação das mercadorias (CAMPANA, 2006).

Conforme Campana (2006), a máquina-ferramenta-automática de precisão quântica é um sistema que, ao lhe ser transmitidas força motriz e transmissão apropriadas, age, baseado em princípios quânticos, sobre o objeto, a partir do conhecimento de sua estrutura atômica. Nesse sentido, a interação entre as várias áreas da ciência se exprime de duas maneiras: a) no sistema de máquinas automáticas, agora sintetizado num só aparelho e b) na interação de múltiplos sistemas de máquinas automáticas, materializada em vários aparelhos que atuam conjuntamente.

No primeiro modo de interação, de acordo com Campana (2006), cada aparelho é a síntese diminuta da “combinação de máquinas de diferentes espécies e diferentes habilidades dos homens” - ou, do “verdadeiro sistema de máquinas”, conforme Marx (1996, p.432) -, que opera sobre o objeto. E, abstraindo-se a interação dos aparelhos entre si, observando um aparelho isoladamente, a transformação que se opera sobre o objeto é desprovida de caráter subjetivo (CAMPANA, 2006).

Pelo aparelho, a execução é objetiva em si mesma, por meio dos seus diversos componentes, e o problema de levar a cabo cada um dos diversos processos e de entrelaçá-los é resolvido com a aplicação de outros domínios da ciência. Parece que executa, nesse caso, todos os movimentos necessários para a transformação “sem ajuda humana”, pois a intervenção humana (que requer habilidades específicas) ocorre em função da vigília e/ou término da vigília sobre o processo. Entretanto, o ser social, o humano, está expressado/materializado no aparelho (CAMPANA, 2006, p.105).

No segundo modo de interação, conforme a autora, o conjunto dos vários aparelhos (cada

entre sistema de laboratório e os laboratórios de P&D? Seriam a mesma coisa? Para Campana (2006), o sistema de laboratório em comparação à grande indústria moderna “[...] reproduz, num nível ou qualidade superior de produtividade, a utilização das forças naturais e a aplicação tecnológica da ciência. Somente sob essa condição de reproduzir, os métodos para elevar a força produtiva social do trabalho são métodos para elevar a produção da mais-valia ou do produto excedente, que por sua vez é fator constitutivo da acumulação” (CAMPANA, 2006, p.87). O âmago da questão é que a produção do sistema de laboratório, o trabalho ali objetivado, não mostra servir originalmente como meio imediato para que uma nova produção seja capital, como também o trabalho ali empregado não se revela produtor de mais-valia. “Em que sentido esse movimento altera a composição técnica do capital global? É que, ao se apropriar produtivamente dos resultados do sistema de laboratório (ou transformá-los em ´métodos mais produtivos` via laboratórios de pesquisa aplicada à grande indústria), o modo de produção especificamente capitalista amplia em outros setores industriais a conversão contínua da mais-valia em capital (que se patenteia na magnitude crescente do capital que entra no processo de produção), reproduzindo a base da produção em escala ampliada dos métodos que elevam a força produtiva do trabalho e acelerando a produção da mais-valia (MARX, 1996). O grau de acumulação que o capital adquire, ao se apropriar produtivamente dos resultados do sistema de laboratório, se revela a condição do modo de produção especificamente capitalista, e este, reagindo, causa acumulação acelerada do capital. ´Esses dois fatores, na proporção conjugada dos impulsos que se dão mutuamente, modificam a composição técnica do capital, e, desse modo, a parte variável se torna cada vez menor em relação à constante` (Op.cit., p.726)” (CAMPANA, 2006, p.87).

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qual constituindo um sistema de máquinas diminuto), acrescidas as habilidades dos homens vivos para, teleologicamente, decomporem partículas quânticas, em si e para si, constituem o sistema de laboratório. Desta maneira, não são os aparelhos, isoladamente, que constituem seu elemento fundante, mas os vários aparelhos existentes conjuntamente com as habilidades pensantes dos homens (as quais são socialmente criadas):

A cooperação entre os homens não ocorre sob a forma de combinação de um único sistema de máquina-ferramenta-automática parcial complementar, tal qual na grande indústria (que patenteia o “verdadeiro sistema de máquinas”) em que as máquinas controlavam os homens, predominantemente ao controle destes sobre elas. A cooperação ocorre sob a forma da combinação de vários sistemas de máquinas-ferramenta-automáticas, expressados na existência dos vários aparelhos. Desse modo, os aparelhos específicos e as habilidades (ambos provenientes de outros domínios) se transformam em órgãos adequados de uma função especial: cada um dos vários sistemas de laboratórios se distingue, pela configuração particular dos vários aparelhos existentes, para responder a uma necessidade bem definida (CAMPANA, 2006, p.105).

Sendo assim, o caráter geral material do processo se expressa no e pelo general intellect, como força universal pensante, porque sendo os processos parciais (aqueles realizados pelos aparelhos) que o constituem examinados objetivamente em si mesmo, a universalidade como objetivação se expressa não somente nos aparelhos, mas também - e fundamentalmente -, materialmente, no homem pensante, teleológico, social e historicamente considerado. Nesse sentido, o general intellect, evidenciado pelo sistema de laboratório, é pura ação humana intelectual, consciente e objetivamente expressa, porque tem por pressuposto a decomposição do trabalhador coletivo materializado na máquina, cujo resultado são os aparelhos de laboratório que decompõem a matéria. Nisso reside o caráter revolucionário/salto ontológico deste processo de produzir em relação à grande indústria moderna.

A partir dessa descrição sucinta a respeito dessa nova base de produção dos homens, de base científica laboratorial, vejamos sobre os modelos e formas de OT a partir da discussão apresentada por Guimarães (1995) e, em seguida, sobre a proposta de classificação que a autora apresenta.

3. Modelos e Formas de Organização do Trabalho: tradicionais e ‘novas formas’

Com a expressão “modelo de organização do trabalho” pretende-se identificar um referencial teórico formado por um conjunto de princípios e conceitos básicos, estabelecidos a partir de experiências práticas de organização da produção e do trabalho (ROESE, 1992). A partir daí, torna-se fundamental que se considere a distinção entre formas de OT e o(s) modelo(s) que fornece(m) os substratos teóricos e ideológicos. Assim, várias formas de organização do trabalho podem ter o mesmo modelo referencial, mantendo em comum, o mesmo corpo de princípios básicos. Guimarães (1995) apresenta uma avaliação crítica dos limites e condicionantes do modelo conceitual em que estão assentadas as “novas formas de organização do trabalho” (NFOT), tendo questionado se o modelo sobre o qual essas “novas formas” se assentam é realmente novo ou tradicional. Dentre as propostas de classificação dos modelos de OT destacamos a de Orstman (1984) e a de Fleury (1987).

Orstman (1984) classifica as diversas correntes em três grupos gerais, por ele denominados de abordagens tecnocráticas, abordagens liberais e abordagem sócio-técnica. Incluem-se como abordagens tecnocráticas: (1) o próprio taylorismo e as correntes dele derivadas; (2) a corrente ou Escola de Relações Humanas e (3) o enriquecimento de cargos. Com a denominação de abordagens liberais, o autor inclui os grupos de auto-formação ("T-Groups"), baseados em técnicas de dinâmica de grupos e a do Desenvolvimento Organizacional (DO). Para o autor, essas duas formas são consideradas formas

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tradicionais de organização do trabalho porque não rompem com o taylorismo/fordismo. Finalmente, a terceira abordagem, representada pela abordagem sócio-técnica e a sua proposta de inovação organizacional do trabalho - através dos grupos semi-autônomos de produção - corresponde à única tentativa de superação do taylorismo originando, portanto, uma nova forma de organização do trabalho (NFOT), de acordo com Orstman.

A proposta de Orstman (1984), segundo Guimarães (1995), é passível de críticas, pois o que autor identifica como “abordagens liberais” representam experiências organizacionais e não caracterizam formas específicas de OT. Além disso, para a autora a tipologia de formas de OT proposta por Orstman tem como critério de classificação a correção ou superação das fragilidades decorrentes do primeiro modelo operacionalizado por meio da organização científica do trabalho.

Por sua vez, a proposta de Fleury (1987) contempla uma classificação dos modelos de OT em dois grandes grupos:

a) Modelo Clássico, representado pela administração científica (modelo taylorista/fordista), como uma proposta surgida num período conflituoso da sociedade norte-americana, especialmente tratando-se das relações de trabalho e que permitiu “um desbalanceamento total na relação de forças, provendo o patronato de um esquema extremamente autoritário” (FLEURY, 1987, p.52) e,

b) Novos Modelos de OT, os quais rompem basicamente com os princípios e técnicas tayloristas, dentre os quais o autor inclui as propostas de enriquecimento de cargos e os grupos semi-autônomos, ambos assentados em premissas implícitas sobre as necessidades humanas (em geral e com relação ao trabalho), e o “modelo” japonês de OT, como um “modelo” integrado à lógica organizacional e à cultura japonesa.

Contudo, entre esses “novos modelos” de OT 5 o autor não inclui as formas geradas pelo Modelo da Escola de Relações Humanas, que visavam “humanizar” o ambiente de trabalho, porque estas desconsideraram o subsistema técnico da produção e "pouco mudaram o processo de trabalho em si, tendo conseqüências apenas sobre algumas práticas administrativas, e, em certos casos, sobre o ambiente de trabalho” (ibid., p.53).

Evidenciando as limitações dessas duas propostas anteriores, Guimarães (1995) enfatiza que uma proposta de classificação de OT associada às matrizes paradigmáticas deveria incluir não somente o Modelo Taylorista-Fordista, mas o Modelo de Relações Humanas e o Modelo Sócio-Técnico.

A respeito do Modelo Taylorista-Fordista, a autora esclarece que [...] apresenta-se como um modelo único, dados os princípios conceituais comuns. Esta simbiose dos dois modelos organizacionais clássicos tem como principais características a divisão dicotômica entre a concepção e a execução do trabalho; o parcelamento máximo das tarefas; a simplificação e a desqualificação do trabalho; a centralização das decisões e o controle sobre o processo de trabalho. Na prática administrativa, o Modelo Taylorista-Fordista é reconhecido como “gerência científica” ou “organização racional do trabalho”. Teoricamente, é cognominado, também, “modelo mecanístico” 6(GUIMARÃES, 1995, p.37).

No entanto e apesar dos sintomas da crise eminente e esgotamento desse modelo (índices crescentes de turnover, absenteísmo, insubordinação e sabotagem industrial), cabe registrar seu esgotamento parcial e não total, pois se observa que a sua filosofia e princípios gerais “[...] foram mantidos incólumes e embora sejam pouco perceptíveis, encontram-se implicitamente inseridos nas propostas de ‘novos modelos e formas de organização do trabalho’ [NFOT]” (GUIMARÃES, 1995, p.38).

Quanto ao Modelo de Relações Humanas, segundo a autora, originou-se da tentativa de se 5 Ressalte-se que, na verdade, são formas de OT, não chegando a constituir um novo modelo, pois, o modelo está assentado num paradigma teórico, num corpus teórico, enquanto que a forma é a operacionalização ou aplicação prática do modelo.6 A expressão “ modelo mecanístico” deve-se a Burns e Stalker (1961) na obra The management of innovation. London: Tavistock.

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reverter o quadro negativo e a situação de crise decorrente do modelo dominante de organização do trabalho (taylorista/fordista) e visava para recuperar a máxima eficácia e a acumulação, detendo os conflitos sociais. Considerado um modelo humanista, esse modelo – proposto pela Escola de Relações Humanas na década de 1930 – só aparentemente se contrapôs ao taylorismo/fordismo, pois na realidade não o pôs em causa, tratando-se de um tentativa tecnocrática de correção ao taylorismo/fordismo. Dentre suas características de “humanização do trabalho” pode-se destacar:

[...] a redefinição da lógica eficientista da racionalidade taylorista, pela lógica da cooperação, com vista à conquista da ‘harmonia administrativa’ (consenso) não pela coerção/autoritarismo, mas, pela cooptação obtida por meio de esquemas manipulativos psicológicos [...], a ênfase nas motivações psicossociais no trabalho (em substituição as de ordem econômico-financeiras, propostas pelo taylorismo); o destaque ao papel dos pequenos grupos de trabalho, como o coletivo informal de referência; a redefinição do papel da gerência: de emanadora de ordens, autoritária, controladora para integradora do indivíduo, procurando a cooperação e a harmonia pelo consenso através de esquemas motivacionais (GUIMARÃES, 1995, p.38-39).

É este modelo, ampliado com a contribuição da psicologia industrial, nos anos de 1950, que servirá de paradigma à formulação das teorias motivacionais do trabalho, as quais vão influenciar algumas propostas de modificações na organização do trabalho – reconhecidas como “novas formas de organização do trabalho” (NFOT) – que incluem “[...] o alargamento (horizontal e vertical) dos cargos (job enlargement), a rotação de tarefas, o enriquecimento dos cargos, além dos grupos de trabalho (GTs); equipes polivalentes; grupos semi-autônomos de produção (GSA) e, mais recentemente, o trabalho politécnico” (GUIMARÃES, 1995, p.39).

Finalmente, de acordo com a classificação de Guimarães, apresenta-se o Modelo Sócio-Técnico, considerado na teoria organizacional, como o mais avançado. Este modelo foi desenvolvido nos anos da Segunda Guerra Mundial com a contribuiçao dos pesquisadores do Tavistock Institute de Londres e do Projeto de Democracia Industrial, nos países escandinavos. Aplicações práticas do Modelo Sócio-técnico são as formas japonesa, sueca e italiana de organização do trabalho, comumente denominados na literatura como “modelos” japonês, sueco e italiano, os quais se utilizam de um mix de formas de OT baseadas no trabalho em grupo, em equipes ou células de produção (time-works). 7

Guimarães (1995) destaca como principais focos difusores da abordagem sócio-técnica, além do Tavistock e do Programa de Democratização Industrial (IDP), na Noruega, a corrente denominada ‘Job Design’, nos EUA, liderada por Louis Davis (1957) da Universidade de Los Angeles. No Brasil esta corrente é conhecida como análise e delineamento de cargos (Fleury, 1978; Garcia, 1980).

Quanto ao Modelo Japonês de gestão, atualmente muito difundido, este polemiza as opiniões dos pesquisadores. Enquanto alguns estudiosos o consideram como a alternativa mais eficaz ao paradigma taylorista/fordista (FLEURY, 1987, MONIZ, 1987a; KOVÁCS, 1987b), vem sendo alvo de severas críticas por parte de diversos autores (FREYSSENET, HIRATA, 1985, VIEIRA, 1989, SACCARDO, LINO, 1986, SALERNO, 1987, ROESE, 1992; 2004, 2007, ANTUNES, 2003). Os críticos do modelo procuram demonstrar que, na prática, tenta reproduzir esquemas participativos e motivacionais assentados no modelo “humanístico” proposto pela Escola de Relações Humanas, constituindo-se como uma nova forma de exploração do trabalho.

O Modelo Japonês parte do pressuposto que o fator produtividade é determinado pelo homem e não pela máquina e isto pressupõe uma forma de OT que estimule a motivação e a qualificação para que as máquinas possam ser as mais produtivas possíveis (Freyssenet, 7 A sua ampla difusão deve-se aos trabalhos de consultoria que foram sendo desenvolvidos pelo Tavistock, com base em modelos conceituais importados das mais diferentes fontes, tais como, a psicanálise freudiana, a psicologia gestáltica, a antropologia funcional, a teoria de campo de Kurt Lewin e a teoria dos sistemas abertos (SORENSEN, 1985). Podem ser considerados também como influentes os trabalhos de Bion (dinâmica de gupos), Lewin (grupos de auto-formação), Selznick (liderança organizacional) e Argyris (conflitos entre personalidade e organização). O modelo de Hawthorne, de acordo com Burrel & Morgan (1979) representou uma influência primordial no início dos trabalhos sócio-técnicos.

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1992). Identificado correntemente com a ‘produção enxuta’ (lean production), proporcionada pelo sistema Just-in-time, esse modelo de OT procura ajustar a produção à demanda dos produtos, visando a inexistência de estoques, pressupondo fornecer a cada processo somente o que é necessário, na quantidade e no tempo exatos8. O trabalho é organizado de tal forma que não deve ser realizada nenhuma atividade que não adicione valor ao produto. Deve-se eliminar, pois atividades de movimentação desnecessária de material, atividades de controle ou inspeção dos produtos, estoques em geral, máquinas paradas, dentre outros.

A flexibilidade organizacional é pré-condição para o funcionamento do JIT, de modo que as estruturas de produção estejam adaptadas as demandas cada vez mais diversificadas. A organização do processo de produção prevê a divisão da fábrica em mini-fábricas seqüenciais, com autonomia relativa, interligadas por um sistema de informações denominado “kanban” (layout linearizado). Observa-se então, uma reprodução aproximada da linha fordista, sendo cada mini-fábrica formada por diversas células de produção onde, em cada uma, um grupo multifuncional (e não polivalente) opera diversas máquinas semelhantes ao mesmo tempo9.

O JIT, ao eliminar os estoques intermediários, requer que os operários mantenham-se trabalhando todo o tempo e a multifuncionalidade evita os tempos ociosos10. Portanto, apesar da ênfase na flexibilidade do modelo - se analisado em termos do ritmo e seqüenciamento da produção - o JIT pode ser considerado uma espécie de fordismo celular. Como ocorre no fordismo, observa-se que, além da parcelização do trabalho e a divisão entre trabalho intelectual e manual, o ritmo é intenso e imposto. Pesquisas empíricas têm demonstrado o quanto é fatigante para o trabalhador e causador de stress essa NFOT (MOSER, 1985; ROESE, 1992. FARIA, 2004, 2007), em grande parte devido à ampliação do grau de vigilância e controle sobre o trabalhador, por parte da administração.

Quanto ao denominado “Modelo Sueco de Organização do Trabalho” ou “volvismo”, este originou-se a partir de 1970, quando um grande número de experiências foram introduzidas nas indústrias, incorporando os princípios da abordagem sócio-técnica. Nesse sentido, as mais divulgadas são as experiências da Volvo nas plantas de Kalmar e Uddevala e da Saab-Scania em Trollatan. Esses projetos de inovação organizacional contaram com a participação conjunta de administradores, técnicos e sindicalistas (GUIMARÃES, 1995).11

No entanto, autores como Marx, R. (1992, 1994) e Leite, M. (1991) (cujos estudos sobre a realidade sueca conferem autoridade para avaliar a questão) não consideram apropriada a utilização da expressão “Modelo Sueco” porque, ainda que se observe uma tendência crescente de se continuar adotando formas de trabalho em grupo, essa tendência não parece seguir nenhum modelo pré-estabelecido (MARX, R., 1992)12.

8 O modelo japonês está associado ao Sistema Toyota de Produção (denominado toyotismo ou ohnismo) em função de ter os seus pressupostos assentados na proposta de Taiichi Ohno, especialista em produção da Toyota em 1950.9 O que basicamente difere é a disposição da linha em cada célula, que assume um leiaute em forma de ‘U’ para facilitar o arranjo das diversas máquinas e reduzir o deslocamento do operador multifuncional. A aplicação do leiaute celular e do trabalho em grupo, não é uma inovação do modelo japonês, mas uma adaptação da proposta sócio-técnica identificada com o Modelo Sueco de OT. Ao contrário, porém, do modelo sueco, a versão japonesa não traz explicitamente o objetivo de melhorar as condições de trabalho, embora possa ter isto como efeito (Roese, l992). A preocupação é muito mais com a competitividade do que observado no modelo sueco, cuja produtividade é negociada com o conjunto de trabalhadores, num espectro mais amplo de qualidade de vida e conquistas sociais.10 Os operários multifuncionais devem assumir também as funções de controle de qualidade e manutenção das máquinas, como também solucionar pequenos problemas de produção e tomar decisões sobre situações rotineiras, sem a necessidade do envolvimento da gerência, que fica liberada para tratar de assuntos estratégicos. A propalada ‘autonomia decisória’ é, no entanto, bastante limitada, pois, o que produzir, a quantidade, os prazos, a divisão do trabalho, e a alocação dos postos de trabalho, são rigidamente determinados pela empresa.11 “A experiência de Kalmar, iniciada em 1974, representa uma espécie de paradigma de uma nova forma de organização do trabalho, onde os aspectos do tipo: enriquecimento de cargos, autonomia de decisões sobre o ritmo e melhores condições ambientais se mostraram possíveis” (MARX, R., 1992, p.37). Para os sócio-técnicos, essa proposta é tão significante, que costumeiramente é comparada, em termos de impacto organizacional, à experiência de Hawthorne na década de 1930.12 As principais tendências observadas por Márcia Leite (ibid.) referem-se ao abandono da linha fordista de montagem e substituição pelas ilhas de produção; utilização de crescentes níveis de trabalho qualificado e grupal;

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Além da Volvo, Scania-Saab e inúmeras empresas suecas, mundialmente foram muito divulgadas as experiências da Renault e Rhône Poulenc na França, Fiat e Olivetti na Itália.13

Entretanto, deve-se atentar para o fato de que, a partir dos anos 1990, devido às condições desfavoráveis de mercado14, a Volvo decidiu pelo fechamento das plantas de Kalmar e Udevalla, o que representa um retrocesso à experiência sócio-técnica com os grupos semi-autônomos.

Outros modelos vêm sendo definidos, a partir da década de 1980, assumindo formas de OT assemelhadas aos modelos japonês e sueco, como é o caso da proposta de Piore e Sabel (1984) acerca da especialização flexível, com base na flexibilidade organizacional e no trabalho multifuncional apregoados pelo modelo japonês, considerado, pelos autores, como “um novo paradigma da organização do trabalho”. Na literatura encontra-se, também, referências ao Modelo Italiano identificado com “a Terceira Itália”, particularmente, onde há uma forte concentração de indústrias mecânicas com produção diversificada de pequenos lotes (região da Emília-Romagna) (HIRATA et al., 1992). As macrocondicionantes regionais, tais como movimento operário forte e organizado, sindicatos altamente combativos, conferem características muito peculiares a esse modelo, pois, desde as metas de produtividade, as inovações a serem introduzidas e as formas de organização do trabalho são negociadas com a direção das empresas15.

Considerando essa breve exposição da discussão acerca dos modelos e formas de OT, apresentamos uma proposta de classificação das novas formas de organização do trabalho, baseada na proposta originalmente defendida por Guimarães em 1995.16

4. Uma proposta de classificação das novas formas de organização do trabalho

A título de diferenciação em função do seu caráter mais ou menos inovador, no sentido de continuísmo, correção ou ruptura com a lógica formal de sustentação do modelo taylorista/fordista, propomos a seguinte classificação:

ampliação do grau de decisão autônoma e de responsabilidade; crescente colaboração entre os operários e o pessoal de escritório, com os trabalhadores ocupando-se cada vez mais do planejamento e programação de seu trabalho; relações de trabalho mais democráticas, descentralização de poder e agilização dos processos de decisão; estruturas organizacionais pouco rígidas. Além disso, a pesquisadora observou uma grande interação entre as formas de OT e variáveis intra e extra organizacionais como a cultura, as estruturas sócio-políticas e econômicas contextuais. Porém, adverte que, a par dessas transformações em prol da reorganização do trabalho apontando para uma flexibilização, nos últimos 20 anos, não houve o abandono completo dos princípios tayloristas.13 No Brasil, efetivamente divulgados, são poucos os casos de verdadeiros GSA. Na década de 1980, algumas experiências com GSA destaque na mídia, particularmente associadas à subsidiárias estrangeiras, tais como Volvo, Rhodia e Souza Cruz, cada qual adotando seus próprios esquemas de implantação (AQUINO et al., 1984). Uma forte razão para considerar-se imprópria a expressão ‘Modelo Sueco’ de OT.14 As condições desfavoráveis referem-se à estagnação ou decréscimo das vendas, excesso de capacidade instalada e competição acirrada entre fabricantes. Todavia, outros motivos não devem ser descartados , tais como, a fusão recente da Volvo com o grupo francês Renault, que teria pressionado o fechamento das plantas por não se enquadrarem na nova proposta de organização do trabalho (assumida pelo grupo), influenciada pelo modelo japonês (MARX, R.,1994).15 Os grupos autônomos de produção propostos pelos trabalhadores, ultrapassam a concepção dos GSA suecos, em termos de autonomia e controle do processo de trabalho, num esquema negociado pelos sindicatos, "ao contrário do que ocorre com os CCQs ou outra formas de captação não negociada do conhecimento dos trabalhadores (...)" (HIRATA et al., p. 177). Porém, deve-se destacar que não se trata de uma situação que possa ser generalizada, pois, em outras regiões da “Terceira Itália”, como a Toscana, onde predominam indústrias tradicionais (têxteis, vestuário, calçados), as relações de trabalho ainda permanecem adversas, inclusive, tratando-se das relações com os sindicatos. 16 Esta proposta foi apresentada em sua tese doutoral intitulada Novas tecnologias de produção de base microeletrônica e democracia industrial: estudo comparativo de casos na indústria mecânica de Santa Catarina (UFSC, 1995).

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a) propostas que pouco acrescentam em termos de inovação e ruptura com o paradigma clássico;

b) propostas que avançam, mas não rompem com a lógica taylorista/fordista;

c) propostas que se destacam como formas inovadoras de OT, em ruptura parcial ou transitória17 com o paradigma clássico.

Em relação às propostas que pouco acrescentam em termos de inovação e ruptura em relação ao paradigma clássico, a autora inclui o alargamento dos cargos (job enlargement) e rotação de tarefas (GUIMARÃES, 1995). O alargamento dos cargos - uma versão simplificada do enriquecimento dos cargos - refere-se ao agrupamento de tarefas semelhantes (alargamento horizontal) ou tarefas com certo grau de diferenciação (alargamento vertical) em um mesmo cargo, ou, ainda, uma combinação desses dois tipos (MELO; 1985; MONIZ, 1987a; BRESCIANI, 1991). Já a rotação de tarefas ou rotação de posto de trabalho significa a possibilidade para o operário de permutar entre diversos postos de trabalho, geralmente semelhantes do ponto de vista do conteúdo das tarefas e da qualificação exigida. Ambas as modalidades (rotação ou alargamento), entretanto, não contribuem para o aumento da qualificação do trabalhador, cuja natureza intrínseca do trabalho não sofre alteração.

Quanto às propostas que avançam, mas não rompem com a lógica taylorista/fordista, de acordo com a classificação de Guimarães (1995), podem ser consideradas as propostas de enriquecimento de cargos (job enrichment) ou projeto e delineamento de cargos e os grupos de trabalho (GTs), os quais avançam em termos de inovação, mas não rompem com o modelo taylorista/fordista.

No que se refere ao enriquecimento de cargos acontece quando se associa à tarefa principal outras tarefas mais nobres, mais interessantes, que despertem o interesse e a motivação do trabalhador. Trata-se de uma proposta que vem sendo alvo de muitas críticas por parte de dois grupos, teórica e ideologicamente distintos: pesquisadores sócio-técnicos (EMERY, THORSRUD, 1976; TRIST, 1981; ORSTMAN, 1984; FLEURY, VARGAS, 1983)18 e defensores da corrente crítica radical (PEREIRA, 1979; TRAGTENBERG, 1980; MARGLIN, 1981; FRASER, 1983; GORZ, 1987)19. A não-inclusão dos trabalhadores na discussão e decisão das propostas de enriquecimento dos cargos é uma crítica comum entre ambos os grupos de pesquisadores, ainda que tenham visões distintas dos objetivos e tipos de participação dos trabalhadores. “Por paradoxal que possa parecer, faz-se um discurso em defesa do trabalhador, propõe-se a suavização das normas disciplinares e a ampliação da liberdade, mas recusa-se qualquer implicação do interessado neste esforço” (CASTRO, 1988, p.40 apud GUIMARÃES, 1995).

Deste modo, os defensores da corrente radical unem-se aos sindicalistas para denunciar que as gerências valem-se de esquemas pseudo-enriquecidos para manipular, de forma insidiosa, os trabalhadores contra os sindicatos:

17 Em 1995, Guimarães propunha o agrupamento de propostas em ruptura parcial ou total.18 A crítica sócio-técnica concentra-se em três aspectos sócio-organizacionais: o projeto de cargos individuais não prevê formas grupais de organização do trabalho; não há participação do trabalhador no projeto e delineamento de cargos; o acréscimo no grau de iniciativa é pouco significativo e não pode extrapolar o que foi estabelecido pela gerência, através dos especialistas. Não há, portanto, aumento da autonomia do trabalhador. Todavia, os sócio-técnicos reconhecem que, apesar de suas limitações, o enriquecimento de cargos representa um avanço em termos das condições de trabalho, além de destacar a OT propriamente dita (GUIMARÃES, 1995).19 Por sua vez, os teóricos radicais – segundo Guimarães (1995) - literalmente desmantelam a proposta de Herzberg, bombardeando-a com críticas severas, desde a simploriedade da lógica de formulação das hipóteses sobre o comportamento humano, até o seu atrelamento ideológico e político ao capitalismo e a ótica gerencialista de suas considerações. Gorz (1987, p.86) avalia o enriquecimento de cargos como “uma tentativa dos psicossociólogos patronais para conciliar os trabalhadores com o trabalho (...) muito mais como uma nova forma de manipulação do que uma solução para as contradições de fundo”. Pereira (1979, p. 26) refletindo sobre as considerações de Friedman (1977), acrescenta que o enriquecimento de cargos representa a melhor proposta para reduzir a resistência operária ao controle direto do processo de trabalho por parte da gerência. Isto porque, vale-se das vantagens de conceder uma certa “autonomia responsável”, de acordo com a qual os trabalhadores, identificados com os objetivos da empresa, podem agir de forma mais responsável, com um mínimo de supervisão.

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As iniciativas patronais para humanizar o trabalho têm como objetivo, confesso ou não, conquistar os corações e as mentes dos operários da empresa, em detrimento de sua lealdade ao sindicato ou a sua classe (MARGLIN, 1981, p.239).

Com relação aos grupos de trabalho, as aplicações práticas remetem aos casos em que um conjunto de pessoas reúne-se para a realização de um determinado tipo de trabalho, previamente projetado e planejado pela gerência. A forma e a maneira de dispor este conjunto varia de acordo com o produto, os modelos, as máquinas e as pessoas que participam do conjunto (PICCININI, 1992, citando SCHMITZ, 1989)20. Em geral, o grau de autonomia desses GTs é muito relativa, se comparados com os grupos autônomos de produção. A ampliação da qualificação dos trabalhadores depende do tipo e da natureza do trabalho desenvolvido em grupo21.

Finalmente, tratando-se das propostas que se destacam como “formas inovadoras de organização do trabalho”, em ruptura parcial ou transitória com as formas tradicionais, Guimarães (1995) destaca o trabalho polivalente (ou as equipes polivalentes); o trabalho politécnico; os grupos semi-autônomos (GSA) e grupos autônomos de produção.

Vejamos primeiramente sobre o trabalho polivalente e o trabalho politécnico. No caso do trabalho polivalente não há uma interpretação consensual. Há autores que entendem que se trata da possibilidade de deslocar os operários, segundo as necessidades de produção em função do turnover e do absenteísmo, devido as características de não-especialização, não-parcelamento das tarefas, não-individualização do trabalho, tempos de execução variáveis. Mantém-se, contudo, a separação entre concepção/decisão/controle e execução do trabalho.

Em relação ao trabalho polivalente, na literatura corrente e na prática empresarial é comum a utilização da expressão “polivalência” para caracterizar situações distintas, tratando-se da realização de tarefas diversificadas por um mesmo trabalhador. Em geral, confunde-se polivalência funcional com multifuncionalidade22, as quais, na realidade representam formas distintas de utilização do trabalho diversificado e que têm implicações diferentes sobre a qualificação do trabalhador (GUIMARÃES, 1995). Uma tentativa de diferenciação das expressões é apresentada por Roese (1992, p.92), que assim argumenta:

por polivalência entende-se a capacidade do operário desempenhar um número de operações maior do que o realizado normalmente por um operário especializado. Além disto, o polivalente pode deslocar-se de um posto de trabalho para outro, de acordo com a necessidade de produção. Em termos de qualificação, é capaz de controlar a qualidade de sua produção e tomar decisões que julgar necessário do atingimento dos objetivos da programação da produção.

O operador multifuncional não precisa ter uma qualificação superior, mas sim, uma diversidade de sua especialização, pois detém apenas a capacidade de operar muitas máquinas semelhantes. Este tipo de operador é na prática, comumente utilizado como “quebra galho”, no caso da ausência de outros operários (ZILBOVICIUS; MARX, 1983).

Salerno (1993, p.13), refere-se a um aspecto fundamental relativo à lógica imanente às

20 A autora refere-se aos GTs observados na indústria calçadista do Vale dos Sinos (Rio Grande do Sul) e Franca (São Paulo).21 Moniz (1987a) destaca um tipo de GT específico, que ele denomina "equipes flexíveis de produção", que avançam no sentido de auto-definirem os métodos, a divisão do trabalho, a composição e o gerenciamento do grupo visando ao incremento da produtividade e a redução dos desperdícios. Porém, não desempenham funções de supervisão e nem tem autonomia para tomarem decisões. A intervenção de Melo (1985), com relação aos grupos de trabalho, vai no sentido de alertar que podem significar realidades diferentes, encontrando-se, na prática, desde grupos formais de produção sem mudanças significativas no conteúdo do trabalho e sem uma responsabilidade coletiva sobre as suas atividades até, num outro extremo, grupos autônomos, formados por operários qualificados, que integraram um determinado número de tarefas e responsabilidades, com certa autonomia coletiva.

22 Smith (1984) toca no ponto principal para o estabelecimento da distinção entre um e outro: trata-se da diferenciação entre qualificação (skill) e especialização (specialisation). A polivalência pressupõe um aumento da primeira e a multifuncionalidade, uma diversificação da segunda.

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duas formas organizacionais de trabalho, entendidas como dois tipos diferentes de polivalência: a multifuncional (relacionada a esquemas onde “o planejamento do trabalho é externo aos executantes do trabalho”) e a qualificada (“entre esquemas onde a definição de como produzir - em termos de método de execução do trabalho - é prerrogativa do operário”). No primeiro caso, de acordo com diferenciação estabelecida pelo autor, observa-se presente a lógica taylorista e, no segundo caso, a influência visível da proposta sócio-técnica e dos desdobramentos que a aprofundam.

Uma terceira conceituação da questão é apresentada pela educadora Lucília Machado (1994, p.19), que vai mais além ao tentar trazer ao debate as questões da polivalência e da politecnia no trabalho industrial. No seu entendimento, “polivalência significa simplesmente um trabalho mais variado com uma certa abertura quanto à possibilidade de administração do tempo e não importa necessariamente em mudança qualitativa das tarefas”. A autora defende que, no caso da polivalência, trata-se de uma racionalização formalista com fins instrumentais e pragmáticos, nada além disso. Além do mais, também não acredita que signifique a intelectualização do trabalho, pois “é suficiente [ao trabalhador] o recurso aos conhecimentos empíricos disponíveis, permanecendo a Ciência como algo que lhe é exterior e estranho” (ibid., p.19).

Observa-se que se trata de uma interpretação diferente de polivalência, que se aproxima da noção de multifuncionalidade (ROESE, 1992) ou polivalência multifuncional (SALERNO, 1993). No entanto, enquanto a polivalência representa o novo em termos da qualificação do trabalhador frente à introdução das Novas Tecnologias de Produção de Base Microeletrônica (NTP-ME), Machado (1994) anuncia o que ela considera “o novíssimo” e o que, realmente, não se encontra presente nas discussões correntes acerca do tema: a questão da politecnia. Segundo a autora, politecnia significa:

o domínio da técnica a nível intelectual e a possibilidade de um tempo flexível com a recomposição das tarefas a nível criativo. Supõe, também a ultrapassagem de um nível de conhecimento meramente empírico, ao requerer formas de conhecimento mais abstratas (MACHADO, 1994, p.19).

De acordo com a autora, a politecnia pressupõe um perfil amplo de trabalhador, consciente e capacitado a agir criticamente em atividades criativas, dispondo de autonomia para utilizar os conhecimentos necessários ao seu progressivo aperfeiçoamento23.

Finalmente, no caso dos Grupos Semi-Autônomos (GSA) ou autônomos de produção, há uma mudança substancial no conteúdo e nas condições de trabalho. Decorrentes do Modelo Sócio-técnico de organização do trabalho:

um grupo semi-autônomo é uma equipe de trabalhadores que executa, cooperativamente, as tarefas que são designadas ao grupo, sem que haja uma pré-definição de funções para os membros. As justificativas para este esquema, contemplam tanto o aspecto social, quanto o aspecto técnico do trabalho (FLEURY, VARGAS, 1983, p.34)24.

A partir da definição de GSA, Fleury e Vargas (1983) destacam algumas conseqüências desta NFOT, tais como a necessidade de cooperação requerida entre os elementos do grupo e o desenvolvimento de múltiplas habilidades. Considerando a exigência de habilidades múltiplas, em princípio, pressupõe-se a necessidade de operadores polivalentes (com maior qualificação). Os GSAs podem ser organizados e estruturados de formas diversas, respeitando-se os tipos de tarefas a serem desenvolvidas e as características das

23 A formação politécnica vai além da mera formação técnica: no âmbito do trabalho industrial, ela pressupõe a compreensão teórico-prática da bases científicas e tecnológicas empregadas nos processos (produtivos e organizacionais), métodos, técnicas, materiais. Por sua vez, a passagem do trabalho polivalente ao politécnico, requer "práticas requalificadoras, que exigem a união da destreza e do fazer com a inteligência e o pensar, num nível superior" (MACHADO, 1994, p. 20).24 Para Guimarães (1995), de acordo com os sócio-técnicos os GSA constituem-se em uma NFOT que amplia consideravelmente a autonomia e a participação dos trabalhadores nas decisões, no âmbito das suas tarefas, contribuindo para a democratização do trabalho. Como decorrência, um acréscimo na produtividade industrial e elevação do nível de bem estar social é esperado.

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pessoas que deles participam25.

Os críticos mais radicais (PEREIRA, 1979, GORZ, 1987, ENGUITA, 1988, VIEIRA, 1989) não atribuem ao GSA uma autonomia e controle do seu trabalho, mas apenas uma autonomia relativa, no âmbito da divisão interna de tarefas pelo grupo e um controle restrito ao cumprimento das metas de qualidade e de quantidade estipuladas pela gerência26. Assim:

embora os GSA melhorem sensivelmente as condições de trabalho, evidentemente que funcionam submetidos a determinação mais geral da direção, a qual estabelece o nível de produção e além disso, preservam a divisão entre o trabalho intelectual e manual, ainda que no interior das equipes todos façam tudo (VIEIRA, 1989, p.75).

Entretanto, os seguidores da corrente crítica procuram estabelecer uma distinção importantíssima entre a formação de Grupos Semi-Autônomos por iniciativa da empresa - como ocorreu na Escandinávia (caso das fábricas da Volvo e Saab) - e experiências semelhantes conquistadas pelos próprios trabalhadores, após longo processo de lutas - como ocorreu na Itália (caso da Fiat, por exemplo). Nos dois casos, observa-se que as conseqüências em termos da operacionalização dos grupos, conquista da autonomia plena e do controle sobre o grupo são muito diferentes. Quando propostos pela empresa são estimulados e quando a iniciativa parte dos trabalhadores, são combatidos e poucos conseguem êxito (GORZ, 1987).

5. Novas Formas de Organização do Trabalho (NFOT) e o Sistema de Laboratório

Para analisarmos as formas de organização de trabalho em um sistema inusitado e inovador, que denominamos “Sistema de Laboratório”, torna-se necessária a imersão na realidade concreta, material de um destes “Sistemas”, mediante uma pesquisa de campo cujo locus selecionado é o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), pois, como descrito na primeira parte deste artigo, o Sistema de Laboratório refere-se a uma nova base produtiva capitalista, conforme Campana (2006), a qual aponta novas condições sociais em que se realizado o trabalho. Por que hipotetizamos que a materialização desse sistema esteja no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron? Porque fazemos a distinção entre a produção científica laboratorial “pura” ou “de base” e aquela “aplicada”. A primeira não é convidativa ao investimento capitalista privado porque requer somas gigantescas de dinheiro, constantes e durante certo tempo (amplo demais aos capitalistas), ansiosos demais para se apropriar privadamente do “caro” conhecimento produzido socialmente; deste modo, este tipo de pesquisa (ou produção do conhecimento) requer investimento governamental, parecendo ser representativa(o) do LNLS27.

Contudo, apesar de as informações que dispomos sobre esse Laboratório serem oriundas 25 Diversas propostas de organização (interna e externa) dos GSA podem ser encontradas em Fleury (1978, p.31-33 ) e Fleury e Vargas (l983, p.35).26 Klein (1991, p. 22) analisando a questão da autonomia, destaca que ela significa literalmente "liberdade de escolha". Em termos de trabalho, a autora identifica a autonomia com o "grau em que o trabalho oferece substancial liberdade, independência e determinação para o indivíduo planejá-lo e determinar os procedimentos que devem ser adotados na sua execução" (ibid., p. 23). Na opinião de Klein, autonomia pressupõe o controle dos ritmos, dos métodos e do processo de trabalho, além da capacidade de tomar decisões, sem o que, trata-se de uma conquista relativa. A autora reconhece que a tecnologia freqüentemente delimita o grau de autonomia concedida ao indivíduo ou ao grupo.27 Ele é operado pela Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) mediante um Contrato de Gestão assinado com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Assim, quando há propriedade intelectual envolvida, há uma taxa para o uso dos experimentos. Trata-se de uma das instituições que ocupam o Pólo II de Alta Tecnologia de Campinas (região onde estão, por exemplo, a UNICAMP, a PUC-Campinas, a Fundação CPqD) da área de telecomunicações e empresas de base tecnológica.

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de fontes secundárias (buscadas na internet) e do site do próprio Laboratório e referirem-se tão somente a informações administrativas, financeiras, ou técnicas, com base em elementos de reflexão e pressupostos teóricos sobre as organizações e os sistemas de produção classificados como “inovadores”, podemos inferir e estabelecer hipóteses qualitativas sobre as formas de organização do trabalho vivenciadas neste espaço, e como elas podem se constituir em elementos para a discussão da modernização periférica.

A pesquisa de dados primários documentais e de campo acerca do modo como está organizado o trabalho nesse espaço está ainda para ser realizada no LNLS, e, portanto, conforme exposto acima, a proposta de classificação das formas de organização do trabalho em um Sistema de Laboratório parte de pressupostos teóricos e evidências empíricas em fontes secundárias.

Os pressupostos teóricos e as evidências empíricas encontram amparo em nos estudos anteriormente desenvolvidos por Campana (2006) e Guimarães (2004, 2003,1998,1997,1996).

Com base no exposto sobre os Modelos e Formas de OT levantamos uma hipótese teórica a partir de reflexões sobre o modo como se organiza o trabalho no Sistema de Laboratório - que sinaliza uma base produtiva assentada na compreensão (e por isso manipulação) de átomos e decomposição-recomposição do objeto, e no intercâmbio entre os homens pelo desenvolvimento do general intellect, conforme Campana (2006).

Outrossim, pesquisas realizadas por Guimarães, publicadas em autoria e co-autoria com mestrandos e graduandos, especificamente tratando-se do tema formas de organização/gestão do trabalho e empresas de base tecnológica (EBT’s), incluindo-se incubadoras tecnológicas como o Centro de laboração de tecnologias Avançadas - CELTA (Florianópolis, SC)28 também compuseram um conjunto de pressupostos e hipóteses para elaboração do Quadro 1 que teve como base de idealização as propostas defendidas por Liu (1983) e Guimarães (1995).

As conclusões de tais estudos anteriormente desenvolvidos em ambientes de inovação tecnológica não corroboraram a hipótese levantada pelos pesquisadores de que a inovação tecnológica de ponta (inovações radicais ou revolucionárias, segundo a classificação de Schumpeter) que caracteriza o sistema de produção destas organizações produtivas/empresas de base tecnológica, estaria associada a formas de gestão e organização do trabalho também inovadoras. As constatações destes estudos evidenciaram que tanto as formas tradicionais (OCT) associadas aos modelos taylorista e fordista; quanto as formas intermediárias, relacionadas com os modelos de relações humanas, bem como formas mais “avançadas” como os GSA’s, equipes multifuncionais e/ou polivalentes relacionadas com o modelo sócio-técnico e modelo japonês (ohnismo) se fizeram presentes, em alguns situações convivendo em paralelo ou como “ formas híbridas”.

Deste modo, salientamos que o Quadro a seguir constitui uma indicação de hipótese, já que o “Sistema de Laboratório”, materializado no LNLS, ainda não foi pesquisado, sendo que aqui apresentamos uma possível “leitura” desse espaço em termos da temática da OT.29

Portanto, as evidências em fontes secundárias nos levam a apresentar um quadro amplo, conforme segue:

28 Orientação das dissertações de Trindade (2004); Pontes (2003) ; pesquisas com a co-autoria de Assanuma (2003); Dresch, Mattos (1998); Francisco Jr. (1997); Dresch (1996); Bonilla (1996).

29 “Grande parte da pesquisa científica realizada em países como o Brasil ocorre nas universidades. Sabemos, no entanto, que não existe equivalência entre as atividades realizadas nos laboratórios de pesquisa e nos laboratórios didáticos. Trabalhos reportados na literatura (QUEIROZ; ALMEIDA, 2004; SANTOS et al., 2006; NEVES, 2001) têm apontado a importância de se discutir nos cursos superiores de Ciência o contexto da “vida” de laboratório, uma vez que este conhecimento pode trazer contribuições para a formação e futura atuação profissional dos estudantes” (ZANON; ALMEIDA; QUEIROZ, 2007, p.58). Uma obra, considerada clássica, que se originou de um estudo em um laboratório, é A Vida de Laboratório de Bruno Latour e Steve Woolgar, tendo seu enfoque sobre “o sentido, a pertinência e as implicações teóricas de um estudo etnográfico sobre a atividade científica” (Op.cit.).

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QUADRO1 – TIPOLOGIAS E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

MODELOS E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE LABORATÓRIOMODELOS TAYLORISMO-

FORDISMORELAÇÕES HUMANAS SÓCIO-TÉCNICO

CARACTERÍSTICAS/FORMAS DA

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO (OT)

Organização clássica do

trabalho

Alargamento de Tarefas

Rotação de

Tarefas

Enriquecimento de

cargos

Grupo polivalente

Grupo Semi-autônomo

Parcelização não sim não não não nãoEspecialização não sim não sim sim simTempos Impostos não sim não sim sim simIndividualização não não não sim sim simSeparação: Controle/execução

não não não não não não

Separação concepção, coordenação, decisão, execução

não sim não sim não não

CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSTAS (a, b ou c) CONFORME GUIMARÃES (1995)

Formas de Organização Taylorista e derivadas (a)

Formas de Organização intermediária (b)

Forma de Organização em ruptura parcial ou transitória

com o Taylorismo

(c)Fonte: Elaboração das autoras com base no Quadro de Liu (1983) e na proposta de classificação de Guimarães (1995).

Em comparação com o quadro originalmente proposto pelo sócio-técnico Liu (1983), o qual apresenta (por exemplo, nos dois extremos) a coluna inteira do Taylorismo-Fordismo preenchida por “não” e a coluna inteira do Sócio-Técnico preenchida por “sim”, sugerimos em relação ao sistema de laboratório – com base nas informações e dados até então coletados –uma espécie de “miscelânea” ou “diversidade” que se apresenta de modo não-linear, isto é, inesperadamente.

Por esse indicativo poderíamos esperar a possibilidade de uma Nova Forma de OT e até mesmo de um novo Modelo? Talvez esse seja o caso. Ou, então, talvez seja apenas o caso de se efetuar o estudo empírico, buscando mais dados e informações, para uma classificação mais acurada, que inclua inclusive uma possibilidade inovadora radical, como os Grupos Autônomos de Produção ou Grupos Autogeridos, formas em ruptura transitória pautados em modelos ou formas de gestão “alternativas”?

Se estes administram sem a intervenção de chefias, coordenadores, gerentes ou supervisores sendo possível encontrá-los em organizações que trabalham com projetos, criação, artesanato, artes por que não poderiam estar presentes em um sistema de laboratório como LNLS?

6. Considerações finais

A proposta deste texto de resgatar os modelos e formas de organização do trabalho é desafiadora, haja vista que se esta temática representa um campo de estudos que se tornou interdisciplinar e que se manifesta como uma categoria de interesse tanto na literatura referente à engenharia de produção, à economia de empresas e à teoria organizacional (de cunho mais eficientista), quanto aos estudos críticos desenvolvidos no

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campo de conhecimento da sociologia do trabalho, sem fronteiras claramente delimitadas ou definidas. Quiçá possa constituir-se como um campo de investigação transepistêmico pela sua complexidade de análise, associada ao modo de produção e ao processo de produção capitalistas.

Associar-se a temática da organização do trabalho no capitalismo contemporâneo à uma forma avançada de sistema produtivo, mediado pela Ciência, denominada por Campana (2006) de “Sistema de Laboratório”, torna-se, então, tarefa hercúlea, altamente complexa.

Consideramos que nesse artigo, o start esteja dado, portanto, alea jactea est, “a sorte” está lançada. Estamos atentas ao fato de que, a partir da materialização da pesquisa de campo, novos elementos irão compor ou contrapor-se aos conteúdos, propostas e hipóteses formuladas com base no campo do conhecimento teórico até então desenvolvido.

No LNLS, desde 1997, funciona a única fonte de luz síncrotron existente em todo o hemisfério Sul a qual permite estudar os ingredientes básicos dos materiais, os átomos e as moléculas - são apenas 14 países que têm laboratórios síncrotron. Este equipamento foi desenvolvido, construído e é operado inteiramente por brasileiros. Além dele, existem outros equipamentos relacionados a um centro de microscopia eletrônica: três microscópios e todos os equipamentos necessários para preparar amostras de materiais a serem estudados. Também, é no LNLS que está hoje o microscópio mais potente da América Latina, capaz de ampliar um objeto em um milhão e meia de vezes - neste caso, os equipamentos podem ser usados por pesquisadores externos. Outro laboratório de ressonância magnética nuclear com dois espectrômetros também é aberto para usuários bem como vários laboratórios de apoio.

O orçamento anual do LNLS, aprovado pelo Congresso Nacional (em 2002) para 2003 foi de 28,145 milhões30 (sendo o orçamento anual de todo o Ministério da Ciência e Tecnologia no mesmo ano, de 2,14 bilhões de reais). Isto incluiu o pagamento de pessoal, recursos para a manutenção e novos desenvolvimentos tecnológicos. A equipe fixa tem 180 pessoas, outras 80 integram a equipe como bolsistas e estagiários e 90% dos cientistas (físicos, químicos, biólogos, engenheiros de materiais) que usam o LNLS são de outras instituições. Eles podem ser de uma universidade ou de um outro centro de pesquisa, do Brasil ou do Exterior, ou da indústria. Após passar alguns dias em Campinas, onde fica o LNLS, para fazerem as experiências necessárias em uma das estações experimentais instaladas na fonte de luz síncrotron ou outros equipamentos disponíveis, retornam a seus locais de origem, onde analisam todas as informações obtidas.

A tentativa de analisar as formas de organização do trabalho vivenciadas em um Sistema de Laboratório, conforme o Quadro 1 apresentado na página anterior, levou em conta os estudos e avanços acerca dos modelos e formas de organização do trabalho, os estudos feitos por Guimarães (2004, 2003,1998,1997,1996), os apontamento teóricos feitos por Campana (2006) sobre as especificidades dessa nova base produtiva e as informações encontradas (ainda que bastante preliminares) sobre o LNLS.

Longe, ainda, de fornecer respostas conclusivas, o presente artigo constata que as fontes e as informações trabalhadas sinalizam a complexidade e dificuldade de se compreender as pesquisas (ou processos de produção do conhecimento) de cunho “nanocientífico” (a chamada nanociência) - em especial aquelas que visam obter resultados “puros” ou “de base”, e mais ainda, sobre a organização do trabalho - a partir de modelos desenvolvidos com base nos processos de trabalho encontrados na grande indústria moderna. Além disso, há escassez de informações sobre a OT nesse tipo de espaço, diferentemente no espaço das indústrias.

Mais perguntas/dificuldades surgem quando o assunto é Modernização periférica: admitindo que o LNLS possa ser representativo do que há de mais avançado em termos de forças produtivas sociais (o Sistema de Laboratório), como foi e está sendo possível o desenvolvimento desse único Laboratório no hemisfério sul e na América do Sul, aqui no Brasil, onde historicamente o desenvolvimento tecnológico ainda permanece como um gap imenso (se confrontado com os países centrais) e onde é comum a importação de 30 Deste valor, R$ 18 milhões sob contrato com o Ministério da Ciência e Tecnologia.

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tecnologias avançadas. Uma das hipóteses é o fato dele ser financiado em 100% pelo Estado; ao mesmo tempo, a falta do “privado forte” (tal como nos laboratórios europeus e norte-americanos) ou, ainda, a presença de um “privado mascarado” nesse tipo de pesquisa “pura”, tem qual tipo de implicação sobre a OT?

Todas as questões aqui em aberto suscitam a necessidade de discussão e pesquisa envolvendo a produção do conhecimento “puro” ou “de base” relacionado à nanociência.

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