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A CABRA – 176 – 15.01.2008

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JOGOS DEPODER

O filme mais básico deNichols?

ARTES FEITAS

|Pág.16

ANO XVII | Nº 176 TERÇA-FEIRA | 15 DE JANEIRO, 2008Director: Helder Almeida

����������������� e A.J.GONÇALVES

CULTURA| Pág. 14

Quinzenal Gratuito

UC REJEITA MODELO FUNDACIONAL PARA JÁPróximo limite para passagem a fundação a 10 de Junho

As Universidades de Aveiro, Porto e IS-CTE foram as únicas instituições do ensi-no superior a dar o primeiro passo para setransformarem em fundações públicas dedireito privado, na semanapassada.A maioria preferiu deixar tu-do na mesma para já. É o ca-so da Universidade de Coim-bra, que só tomará uma deci-são final depois de aprovar os estatutosem Conselho Geral. O reitor da UC, Sea-bra Santos, justifica a posição com críticasà indefinição da lei.Quem deu o sim declara que o caminho

do ensino superior passa pelo modelofundacional e considera que este trarávantagens na clarificação das indecisõesque dizem existir de momento.

Entretanto, o Governoanunciou que o ensino supe-rior está na lista de priorida-des para 2009 e deixa ante-ver um aumento do finan-ciamento público às univer-

sidades. Seabra Santos espera por Marçopara saber mais pormenores, mas congra-tula–se desde já com a notícia

No arranque donovo ano, ACABRA convidouum dos seusilustradores arepresentar, comum olhar crítico,aqueles que, à par-tida, prometem ser ostemas que vão fazercorrer mais tinta em 2008.

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Numa altura em que Macau se afirmacada vez mais como a ‘Meca do Jogo’, ACABRA esteve na antiga região adminis-trativa portuguesa para tentar perceber oque faz crescer e quem está por detrásdeste negócio. Stanley Ho é uma figuraincontornável no desenvolvimentomacaense. O magnata dos casinos acom-panhou toda a transformação de Macaunuma cidade do jogo. Apesar das ameaçasde quebra, o investimento de Ho e de ou-tras empresas da área não pára de crescer.

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Rostos de um futuro promissordo desporto nacional

TEMA | Pág.10 e 11 INTERNACIONAL | Pág.9

Editor-Executivo: Rui Antunes

O presidente cessante da Direcção–Ge-ral da Associação Académica de Coimbrafaz um balanço bastante positivo do seuano à frente da maior associação de estu-dantes do país. Em entrevista, Paulo Fer-nandes afirma que o trabalho que desen-volveu “contribuiu para credibilizar maisa AAC”. O estudante considera tambémque chegou o momento de clarificar a si-tuação com a reitoria. Abordando ainda obar da AAC, Paulo Fernandes elogia a di-nâmica que o mesmo trouxe ao edifício.

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De colectividades de bairro a grandescentros de actividade, a realidade das as-sociações desportivas e culturais deCoimbra é muito diversa. A CABRA foiconhecer um poucodo quotidianoe da históriados gruposrecreativose s p a l h a d o spela cidade.

ENS. SUPERIOR | Pág.5 CIDADE | Pág.7

Indefiniçõesna lei

criticadas

Hedson Trindade é atleta de salto emaltura e Nádia Laezza nadadora. Ambosforam recentemente eleitos atletas reve-lação 2007, na 1ª Gala do Desporto daCâmara Municipal de Coimbra. Sur-preendidos com o prémio, os desportistaslembram percursos perturbados por le-sões, mas recheados de títulos de cam-

peões nacionais pelos escalões que passa-ram. Nádia e Hedson contam ainda comoé o quotidiano de um atleta de alta com-petição que é obrigado a fazer malabaris-mos para conciliar os estudos, os amigose a carreira desportiva.

DESPORTO| Pág.13

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ENS.SUPERIOR| Pág.6

FOTO POR CÁTIA MONTEIRO

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uando os dias que o calendário mar-ca coincidem com os dias que o planode exames determinou, Coimbratransforma–se. A cidade que nunca

pára, com convívios de estudantes, trajes pelaPraça da República e uma alta cheia de imagensde juventude, sai das ruas e recolhe a casa para seconcentrar no estudo.

Os cartazes de cores fortes e caras bonitas aanunciar festas de estudantes deixam de se verpela cidade. A noite passa a ser dos que vagueiam,sem responsabilidades académicas. Os bares, ha-bituados a esta época do ano, já sabem com o quecontar: durante uns tempos vão ser poucas as ca-pas negras a pedir imperiais ao balcão.

Agora é tempo de abrir os livros, sublinhar o es-sencial dos apontamentos e procurar na biblio-grafia indicada pistas para esclarecer as dúvidasde última hora.

Uns alunos desesperam, ao tomar consciênciada quantidade de matéria leccionada durante osemestre; outros enfrentam os exames com segu-rança. Mas ninguém fica indiferente àquela épo-ca, no fim de cada semestre, em que há uma cha-mada para apurar o que se sabe.

De folhas de exame e caneta na mão à espera deouvir chamar o nome, os alunos agrupam–se àporta da sala. Hoje é dia de exame.

2 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

Coimbra em tempo de exames

����������������������������������������Aquela que é conhecida em Portugal como “a cidade dos estudantes” estud

chega o tempo das chamadas à porta dos anfiteatros, Coimbra fTexto de Martha Mendes e F

Q

s “habitués” da Associação Académica de Coimbra (AAC)fogem do agitado bar do piso térreo e dos tentadores corre-dores das secções, e assentam arrais nas cantinas e salas deestudo. Alinhados em filas de mesas e cadeiras brancas, os

universitários misturam–se. Aqui não há divisões por licenciatura,nem sequer por faculdade. Estão todos para o mesmo: a linguagemdo momento da avaliação é universal.

Lá dentro o ambiente é sempre igual em todas as épocas de exame.Não há cadeiras vagas e o trabalho prolonga–se noite fora. As maté-rias são escritas e reescritas mil vezes como que para treinar a cane-ta, e na esperança de tatuar a memória.

Lado a lado com os que chegaram agora a esta etapa da vida acadé-mica, e ainda se espantam por não existirem manuais de consulta, es-tão os finalistas. Dezenas de vezes avaliados, temem ainda. Porqueesta é a última vez. E a nota que daqui a uns tempos vai sair na pau-ta tem agora mais impacto do que alguma vez teve. E porque o fadoparece rezar a verdade: Coimbra tem mesmo mais encanto na hora dadespedida.

É já esta saudade que parece sentir o jovem, carregado de códigosjurídicos, que num corredor da AAC, comenta: “parece impossívelque este é o meu último exame”. No ar cheira à nostalgia do que ficoupara trás.

Todos contam o tempo que falta para acabarem os exames. Os maisnovos, com a ansiedade de quem quer voltar para a boémia académi-ca, que estão agora a começar a experimentar. Os mais velhos com aansiedade de quem sabe que depois desta fase se segue uma outramais incerta, uma escada que vão começar daí a pouco a percorrercom passo inseguro.

O

Page 3: A CABRA – 176 – 15.01.2008

epois do estudo segue–se a hora da ver-dade. À porta da sala alguém chama,nome a nome, a longa lista de inscritospara exame. Os nomes ouvem–se e, nal-

gumas faculdades, ecoam ao longo do corredor. Ca-da nova chamada é uma batida acelerada no cora-ção de quem aguarda cá fora, sem saber o que oenunciado lhe reserva.

O funcionário da faculdade dá as respectivas in-dicações: “Vão entrando, um a um, e deixem as ma-las e as pastas à entrada da sala”. Não vá a tentaçãoda cábula ser mais forte.

Os alunos cumprem e vão entrando nas salasque, qual Adamastor sobre as Naus, lhes engole osmedos e as dúvidas. Chegou a hora da verdade. Ládentro o professor começa a distribuir os enuncia-dos, enquanto faz algumas recomendações. Se-guem–se duas horas de teste.

Faltam ainda uns minutos até a lista chegar aonome da rapariga que relê uma última vez os apon-tamentos de alguém. Com um ar perdido, a alunavai tentando perceber com que malhas se tecem asmatérias que parece estar a ler pela primeira vez.

Tarde demais. Já chamaram por si. Levanta obraço, para assinalar a presença, e devolve os apon-tamentos ao colega. “Vamos lá a isto”, diz–lhe. Aoseu jeito, também ela sente que aquela é a hora daverdade.

15 de Janeiro de 2008, 3ª feira DDEESSTTAAQQUUEE A CABRA 3

������������������������������������������ ����da cada vez menos fora da chamada época de exames. No entanto, quando faz jus à alcunha e (quase) toda a gente se recolhe para estudar.

Fotografias de Fábio Teixeira

esta altura, em que os livros são a grande priori-dade dos estudantes de Coimbra, a gare dos au-tocarros está tão vazia como a estação dos com-boios. A cidade parece cercada: ninguém sai.

À marcante imagem dos estudantes carregados de malas,de partida para a terra ao fim–de–semana, sobrepõe–se ago-ra a voz que se ouve nos corredores, mais vazios do que é ha-bitual, a anunciar comboios que os estudantes não vão apa-nhar nos próximos tempos.

Os que têm Coimbra como cidade de empréstimo adop-tam–na por completo durante uns tempos. “Esquecem” ospais, os irmãos, os amigos. O quarto que é mesmo deles. Anamorada. O namorado. Por uns tempos, estão para ficar.

Já que ficam, colegas de curso e amigos reúnem–se nos ca-fés da cidade para discutirem as matérias que mais assustam.Quem se dedicou pouco ou nada às aulas, aproveita estes diaspara passar apontamentos emprestados por aqueles quenunca faltam.

Numa mesa do antigo Café de Santa Cruz uma rapariga, cu-jo rosto está praticamente tapado por um monte de livros,suspira com ar de desespero. Escreve, pousa a caneta. Párapara pensar. Rói as unhas. Volta a escrever. O medo do fra-casso acentua–se durante estes dias.

A rapariga olha distraída para o monte de livros, porque avida lá fora ainda acontece e há outras coisas em que pensar,outras coisas que desejar, mesmo em época de exames. Pedemais um café, para se sentir acompanhada. Pelo monte de li-vros que se vê na mesa que ocupa, a caminhada vai ser longa.

N

D

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A Lei de Prevenção Tabágica tem sido objecto deinterpretações mais díspares. A proibição de fumarconstitui a regra: em espaços públicos fechados elocais de trabalho, veda–se que se fume. A lei, no en-tanto, é equívoca, a despeito do que asseveram os res-ponsáveis.

“Eficaz extracção dos fumos” – o que é? Os esclareci-mentos prestados pela jurista da Direcção–Geral daSaúde (DGS) às televisões não foram nada … “aclarado-res”! Pelo contrário, remeteu para técnicos privados a“certificação” e a “homologação”, à revelia de regras téc-nicas e jurídicas…

Do episódio dos casinos, que envolveuo presidente da ASAE (Autoridade de Se-gurança Alimentar e Económica), já seouviu nos media que a DGS deu razão àASAE… Pelo contrário! Mas ninguém cla-rificou a situação. Não é o grupo técnico-–consultivo da DGS que interpreta au-tenticamente a lei. A Lei do Jogo refereexpressamente:

“Artigo 32.º…5- Nas salas de jogo, quando pos-

sível, devem ser delimitadas zonasreservadas a não fumadores.

…“Ora, é das zonas de jogo que se trata. Que não dos

restaurantes ou das salas de espectáculos dos ca-sinos. Para as salas de espectáculo rege obviamente, naausência de norma, a alínea j) do nº 1 do artigo 4º da Lei37/2007: “É proibido fumar: (…) Nas salas e re-cintos de espectáculos e noutros locais destina-dos à difusão das artes e do espectáculo, in-cluindo as antecâmaras, acessos e áreas contí-guas”… E, compulsado o artigo 5º, lobriga–se umapossibilidade: “é admitido fumar nas áreas ao arlivre”.

“[É admitido fumar ainda] em áreas expressa-mente previstas para o efeito desde que obede-çam aos requisitos seguintes:

a) estejam devidamente sinalizadas, com afixação dedísticos …

b) sejam separadas fisicamente das restantes insta-lações, ou disponham de dispositivo de ventilação, ouqualquer outro, desde que autónomo, que evite que ofumo se espalhe às áreas contíguas

c) seja garantida a ventilação directa para o exterioratravés de sistema de extracção de ar que proteja dos

efeitos do fumo os trabalhadores e os clientes não fu-madores.”

É facto que a excepção vertida neste plano viola desig-nadamente as regras de segurança de antemão estabele-cidas, que vedavam que nas salas e recintos de espectá-culos se fumasse, mas a lei é tecida de incongruências ede bizarras cedências que o Parlamento entendeu intro-duzir… incompreensivelmente. A menos que se preten-da hipocritamente dar com uma mão o que com a outrase retira.

Segundo a OMS, não há equipamentos no mercado detodo eficazes na extracção do fumo. Mal se percebe que

numa sala do estilo possa haver “separa-ção física” das restantes instalações… ouque de um dos lados se fume e do(s) ou-tro(s) não… Tudo dependerá das confi-gurações adoptadas… Por conseguinte,as salas ou recintos de espectáculos doscasinos sujeitar–se–ão à Lei da Preven-ção e Cessação Tabágicas, enquanto aszonas de jogos se submeterão à Lei doJogo.

Mas o paradigma é outro com aConvenção–Quadro da OrganizaçãoMundial da Saúde. Passou a reconhecer-

–se o direito do não fumador à não exposição aofumo dos fumadores. E na colisão de direitos, cedeo do fumador perante o do não–fumador.

Daí que se haja de considerar, mesmo no que tange àszonas de jogo, tacitamente revogado o n.º 5 do artigo 32da Lei do Jogo. Deve, isso sim, haver zonas para fuma-dores se cumprirem os requisitos plasmados nas alíneasde a) a c) do nº 5 do artigo 5.º da Lei nº 37/2007): zo-nas livres de fumo para os não–fumadores e “bolsas”de fumo para os fumadores.

É o que parece ajustar–se à razão de ser da lei, aos no-vos paradigmas da saúde e de estilos de vida saudáveis,sendo que os não–fumadores não serão “aves raras”,mas a espécie preponderante, cometendo–se aos fuma-dores zonas restritas em que poderão dar livre expres-são ao fumo…

Não se olvide que a lei geral - em domínios como osdas relações jurídicas de consumo em que os jogos defortuna e azar se inscrevem - se sobrepõe à lei especial,se a lei geral for, entretanto, mais favorável: é o princí-pio “do tratamento mais favorável ao consumi-dor”.

As normas consagram–no como estruturante do mi-cro–sistema jurídico de que se trata.

���������������������������������� ��������Um ano controverso

2007 foi para o ensino superior um ano fulcral. OProcesso de Bolonha entrou definitivamente em vi-gor, foi aprovada uma nova lei que passa a regula-mentar todo o sector e que permite às instituiçõestornarem–se fundações de direito privado e retira osestudantes da participação democrática dos órgãosde gestão. Devido à nova lei, os alunos passaram a terainda a possibilidade de acesso directo a créditosbancários para financiamento dos estudos.

Perante esta profunda reforma, imposta por umamaioria absoluta, que veio sem dúvida mudar o que éo ensino superior em Portugal, um dos sectores quemais na pele vai sofrer as alterações, os estudantes,pouco pôde fazer e pouco fez. A maior parte dos estu-dantes não se interessa por estas questões. As pró-prias Assembleias Magnas em que se discutiram asreformas são um espelho disso: o que são 200 ou 300estudantes, o número médio de participantes, quan-do só na Universidade de Coimbra existem cerca de20 mil?

Por outro lado, não nos podemos esquecer do papelque as associações académicas tiveram, ou melhor,não tiveram para atacar uma reforma que, na genera-lidade consideravam inadequada. Apesar da alturaem que a lei foi discutida, entre as festas académicase o início de exames, a nível nacional não houve posi-ções de força mesmo com consensos entre as váriasacademias. Na AAC, a direcção–geral, apesar da ca-minhada a Lisboa e da participação na manifestaçãoda CGTP–IN, optou por uma via mais de “gabinete”,de reuniões e elaboração de documentos de análise ede pressão política, importantes, mas por si só insufi-cientes. Fica, deste modo, por provar a capacidademobilizadora de Paulo Fernandes, que termina agorao mandato na presidência da DG/AAC.

Já a nível interno, as coisas correram muito pior.Se bem que foi um ano proveitoso ao nível do finan-ciamento, secções e organismos sentiram, contudo, anecessidade de afirmar publicamente a insatisfaçãoque sentem na sede da associação. E não foi apenasno que diz respeito ao funcionamento do bar da AACmas também na própria forma de administração doedifício e no relacionamento com as secções e orga-nismos. Sem dúvida que é importante uma associa-ção financeiramente saudável, o que não significauma associação a dar lucro pois não é para isso queexiste. Acima de tudo é necessário uma associação in-terventiva e participativa, onde dirigentes e sóciosnão andem de candeias às avessas.

Helder Almeida

Editorial

*Mário Frota, Presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo

4 A CABRA OOPPIINNIIAAOO 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

Lei Antitabágica

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director Helder Almeida Editor-Executivo Rui Antunes Editores: Cátia Monteiro (Fotografia), Pedro Crisóstomo (Ensino Superior), Raquel Carvalho(Nacional), Rui Antunes (Internacional), João Miranda (Ciência), Patrícia Costa (Desporto), Martha Mendes (Cultura), Ângela Monteiro (Media), Carla Santos(Viagens) Secretária de Redacção Adelaide Baptista Paginação Cláudia Teixeira, Filipa Faria, Rui Antunes, Sofia Piçarra Redacção Alexandre Oliveira, AnaBela Ferreira, Ana Filipa Oliveira, Ana Margarida Gomes, Ana Raquel Melo, Andreia Silva, Cláudia Teixeira, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Joana Gante, JoãoPicanço, João Pimenta, Liliana Figueira, Rafael Pereira, Sandra Camelo, Sofia Piçarra, Soraia Manuel Ramos, Wnurinham Silva Fotografia Ângela Monteiro,Cláudia Teixeira, Fábio Teixeira, Filipa Faria, João Miranda, José Marques, Liliana Lago, Nuno Braga, Rui Antunes, Tiago Lino Ilustração José Miguel Pereira,Rafael Antunes Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, André Tejo, Cláudia Morais, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, François Fernandes, JoãoAlexandre, Laura Cazaban, Rafael Fernandes, Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Vitor André Mesquita Colaboraram nesta edição Patrícia Gonçalves, PedroMartins Publicidade Sofia Piçarra - 239821554; 913009117 Impressão CIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax: 256673861, e-mail:[email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica deCoimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

“Na colisão dedireitos cede o

do fumadorperante a do

não fumador.”

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Qual o balanço que fazes deste anode mandato à frente da DG/AAC?

Mais do que dizer se faço um balanço po-sitivo ou negativo acho que o que é impor-tante é sentirmos que servimos a AAC e queo trabalho que desenvolvemos foi bom econtribuiu para credibilizar mais a AAC. Omais importante para este balanço é mos-trarmos o que fizemos ao longo deste ano.

Relativamente à vida interna daAAC, este ano houve alguns proble-mas com as secções e organismos au-tónomos, que acusaram as sucessivasDG’s de se afastarem cada vez mais dacasa. Qual é a tua opinião sobre isto?

Houve no final do mandato algumas reu-niões mais periódicas entre secções e orga-nismos autónomos que tive a oportunidadede presenciar. Se for para aumentar a quali-dade de trabalho da DG como para aumen-tar a qualidade e rentabilização do próprioedifício são óptimas e só pecam por poucas.

Portanto, vês positivamente o factodas secções terem assumido o papelque assumiram neste caso, tendo feitoo manifesto, a reunião no bar…

Eu julgo que sim.

Se bem que era também uma críticaà DG…

Como disse, todas as críticas são positivase servem sobretudo para fazermos cada vezmais. E eu não fujo às críticas. O trabalhoque fizemos com os organismos autónomose as secções, de diálogo, também se mostrounessas situações em que houve as reuniõesnas quais eu próprio me disponibilizei, des-de o início, a discutir todos os problemasque existiam. Também devo dizer que seriaestranho que na casa peculiar que é a AACnão houvesse situações deste género.

Não achas, portanto, que tem havi-do falta de diálogo entre as DG’s e assecções e organismos para se ter che-gado à situação a que se chegou?

O que posso responder em relação a essasituação é que tanto eu como a equipa que li-derei sempre nos mostrámos, desde o pri-meiro momento, totalmente disponíveis ecom uma postura dialogante com todos osorganismos e secções, quer desportivas querculturais e também com os núcleos. Nuncarecusei não receber no momento nenhumapessoa, nenhuma secção, independente-mente de ser dirigente ou não.

Mas então qual foi o problema parase ter chegado àquele ponto?

Não sei. Isso terás que perguntar às pes-soas que organizaram a reunião.

Este foi um ano de grandes altera-ções no ensino superior. Foi aprovadoo Regime Jurídico das Instituições deEnsino Superior (RJIES) e entrou emvigor o Processo de Bolonha. Comoviste a aplicação das duas reformas?

A temática que todos os estudantes tive-ram mais oportunidade de discutir foi oRJIES. Tenho consciência de que é uma leimá, que não vem trazer nada de bom ao en-sino superior público. Temo que venha dealguma forma privatizar o ensino superior.Não é isto que defendemos. Defendemos umsistema universal, em que as pessoas te-nham oportunidade de acesso independen-temente das suas condições económicas.Aliás, este regime vem pôr em causa tudo oque são hoje os nossos serviços de acção so-cial ao nível das cantinas, residências, servi-ços médicos. Temo que no futuro seja cadavez mais difícil estudar no ensino superior.

Achas que a tua DG fez todo o possí-vel para denunciar uma lei para o en-sino superior que considerou injusta?

Procurámos ter sempre uma postura dia-logante para encontrar as melhores soluçõespara rejeitar esta lei. E nas Magnas procurá-mos fazer tudo o que estava ao alcance daAAC para pôr em prática as acções para quenão fosse aprovado o RJIES. Devo dizer quefoi a AAC que mais fez para que este regimejurídico não fosse aprovado, não há aquiqualquer tipo de dúvidas. Acredito que nodia 24 de Janeiro, quando sairmos, vamoscom a sensação de dever cumprido.

Em relação à esplanada nos jardinsda AAC, é verdade que o concessioná-rio pode pedir uma indemnização pe-lo facto da mesma ainda não estar afuncionar como estava previsto con-tratualmente?

O contrato pressupunha que mais tardeou mais cedo a esplanada estaria a funcio-nar, o que neste momento não se verifica. Seo concessionário tem possibilidade ou nãode ter alguma indemnização é o que está aser analisado pelos advogados da AAC. Ago-ra, há uma coisa que se deve salvaguardar: aAAC deve cumprir os seus contratos.

Relativamente ao BAAC, comoachas que tem sido o funcionamentodo mesmo?

O bar da AAC veio dar uma nova vida àAAC. Temos um bar que está sempre cheiode estudantes, com um ambiente acolhedore atractivo e deve–se dar esse mérito ao In-Tocha [empresa concessionária do bar daAAC]. É um bar que consegue chamar maisestudantes ao edifício, mas por outro ladoveio desregularizar o trabalho das secções.Agora, o que me parece é que se deve encon-trar um meio–termo entre o trabalho e o di-vertimento das pessoas. O InTocha tem sidoum patrocinador das actividades da associa-ção e um mecenas para a própria AAC.

Quanto à questão do reitor, não éum contra–senso Seabra Santos tersido convidado para todos os eventosdesta academia, quando uma moção

aprovada em magna o impede? O reitor não foi convidado para todos os

eventos da Academia, mas sim para aquelesque a AAC achou que era uma mais–valia.Para além dessa moção há uma outra queprevê que o reitor esteja sempre presentequando for considerado uma mais–valia. Efoi isso que fizemos. Durante este processohouve um estreitar de relações entre a AACe a reitoria em posições que são comuns. Ve-jo a reitoria a tomar posições fortes contraesta política do Ministério da Ciência, Tec-nologia e Ensino Superior.

Mas esta situação deve ser clarifica-da de uma vez por todas em magna?

Eu julgo que sim. Julgo que está a chegara hora de clarificar esta situação. O reitor foieleito para um segundo mandato, no fundo éum reitor com um novo projecto. Duranteeste mandato ainda não havia as condiçõesnecessárias para esta clarificação, mas comeste estreitar de relações e com o trabalho dareitoria e do reitor, a AAC deve no futurodiscutir esta questão em magna sobre reatarou não a relação com a reitoria.

Em Fevereiro passado, dissesteque querias deixar a associaçãomais prestigiada e mais activa. Con-seguiste-o?

Em larga medida os objectivos foramcumpridos. A todos os níveis, a AAC éuma associação mais credível.

ÂNGELA MONTEIRO

“A todos os níveis, a AAC é uma associação mais credível”

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15 de Janeiro de 2008, 3ª feira EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR A CABRA 5

Paulo Fernandes, presidente cessante da Direcção–Geral da AAC

A equipa liderada por Paulo Fernandes cessa funções a 24 de Janeiro, altura em que toma posse André Oliveira.O dirigente sai com “a sensação de dever cumprido” e acredita que contribuiu para

a credibilização da Academia. Por Helder Almeida e Cláudia Teixeira

“ ”

@ Versão integral em www.acabra.net

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Reitor da UC, Seabra Santos,diz que a lei é vaga e

deixa decisão em abertoaté alteração dos estatutos

da instituição

Pedro CrisóstomoPatrícia Gonçalves

A Universidade de Coimbra (UC) foi umadas 27 instituições de ensino superior querejeitou iniciar negociações com o Ministé-rio da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior(MCTES) para a transformação em funda-ção pública de direito privado. “É uma deci-são que não aproveita o prazo de três mesesque a lei facultou à Assembleia Estatutária”para tomar uma decisão, afirma o reitor daUC, Seabra Santos.

De acordo com o novo Regime Jurídicodas Instituições de Ensino Superior(RJIES), universidades e politécnicos ti-nham até à passada quinta, 10, para dar umparecer positivo ao Governo. A maioria op-tou por adiar a resposta até alterar os esta-tutos, no máximo até 10 de Junho, à ex-cepção da Universidade de Aveiro, Porto eInstituto Superior de Ciências do Trabalho eda Empresa (ISCTE), que deram já parecerpositivo.

Para Seabra Santos, a posição da Univer-sidade de Coimbra não deve sofrer altera-ções até Junho. “Não me parece que hajauma evolução positiva, muito embora osacontecimentos e a informação complemen-tar que vier a ser obtida possam modificar aposição da universidade”, adianta.

Na qualidade de reitor da UC e presidentedo Conselho de Reitores das UniversidadesPortuguesas (CRUP), Seabra Santos alegaque “a lei é vaga, pois não há informação ao

nível de legislação”. Também José BritesFerreira, investigador do Centro deInvestigação de Políticas do EnsinoSuperior, coloca reservas ao modelo funda-cional. “Falta clarificar sobre financiamento,autonomia, carreiras e racionalização darede”, exemplifica.

Ainda assim, o reitor da UC alerta para ofacto de “ser preciso estar aberto a todas aspossibilidades”, já que a decisão depende doConselho Geral da universidade. “Não mecompete fechar em absoluto a porta a umaevolução deste tipo”, acrescenta.

As razões de quem optou pelo mo-delo fundacional

A resposta da Universidade do Porto, em-bora positiva, apresenta algumas reticênciasno que toca à autonomia das faculdades.

Por seu lado, o ISCTE nunca escondeu a

vontade de passar ao regime fundacional.Desde Dezembro de 2006 que a instituiçãodiscute a sua transformação, altura em que aOrganização para a Cooperação e Desenvol-vimento Económico (OCDE) divulgou umrelatório favorável ao modelo de fundaçãode direito privado em Portugal. O presiden-te do ISCTE, Luís Reto, sublinha a urgênciaem aproximar o ensino superior portuguêsao modelo anglo–saxónico. “Se quisermosentrar num campeonato global, não há ou-tra alternativa. É só olhar para o mundo quenos rodeia”, frisa.

A opinião é partilhada pela Universidadede Aveiro (UA), a primeira a divulgar publi-camente a decisão. De acordo com a reitorada UA, Helena Nazaré, a “passagem a funda-ção pode ser instrumental” para o ensino su-perior. De acordo com o RJIES, o modelofundacional permite uma gestão mais flexí-vel das instituições e a celebração de contra-tos plurianuais com o Estado. Razões evoca-das pelas universidades de Aveiro, Porto eISCTE para terem seguido em frente com aspropostas.

Mesmo assim, Helena Nazaré corrobora aopinião da maioria das universidades, queconsideram a lei vaga, mas aponta que essafoi uma razão determinante na decisão daUA. “É exactamente para se esclarecerem asindefinições e ganharmos mais informa-ções que optámos por haver este períodonegocial”, esclarece.

ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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Financiamento do superior clarificado em MarçoDepois de conhecer a decisão de todas

as universidades, o primeiro–ministro,José Sócrates, e o ministro do MCTES,Mariano Gago, reuniram com o CRUP, aquem anunciaram que o ensino superiorvai estar na lista de prioridades do Orça-mento de Estado para 2009. Para já, fo-ram apresentadas as linhas gerais sobre ofinanciamento das universidades. Só emMarço é que o Ministério vai clarificar os

montantes a atribuir ao superior, revelaSeabra Santos.

O presidente do CRUP diz que são “boasnotícias” para as universidades, conside-rando que a aposta “decidida na educaçãoe em particular no ensino superior”vem“aliviar a tensão”. Seabra Santos destacaainda como ponto positivo a consideraçãodo Governo “nas chamadas de atenção dosreitores e das universidades”.

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João Picanço

A Gala dos Prémios Salgado Zenha, quedistingue anualmente os melhores do des-porto da Associação Académica de Coimbra(AAC), foi adiada para Fevereiro, no finalda semana passada, pelo Conselho Despor-tivo (CD) da AAC. A cerimónia estava ini-cialmente prevista para a próxima sexta-–feira, 18. Data e local não estão ainda defi-nidos.

A justificação avançada pelo CD prende-–se com o facto de a Câmara Municipal deCoimbra ter realizado, pela primeira vez, aGala do Desporto de Coimbra em Dezem-bro do ano passado. O CD considerou quese a cerimónia decorresse este mês, os doiseventos, “muito similares”, ficariam dema-siado próximos, explica Dominic Cross,membro do conselho.

O vice–presidente da Direcção–Geral daAssociação Académica de Coimbra(DG/AAC), e co–responsável pela realiza-ção do evento, Ricardo Duarte, conta que “oCD transmitiu [à Direcção–Geral] que estanão seria a melhor altura” para realizar agala. Dominic Cross justifica também oadiamento pela dificuldade em realizar umevento “com cerca de dez anos”.

Segundo Ricardo Duarte, com o final domandato da actual DG/AAC, caberá ao no-vo pelouro do desporto assumir a co–orga-nização da gala. Recorde–se que no anopassado, ao contrário do que era tradiçãoaté 2006, a cerimónia aconteceu em Feve-reiro, no Pólo II, sob organização da actualdirecção–geral. O vice–presidente frisa que“este ano houve um esforço em tentar recu-perar a gala para Janeiro e voltar às datashabitualmente praticadas”, o que acaba pornão se concretizar.

A escolha dos vencedores dos PrémiosSalgado Zenha está actualmente a decorrerem todas as secções desportivas, sendo queas nomeações se dividem em melhor treina-dor, melhor atleta, atleta revelação, prémiodedicação e prémio carreira, entre outros.No dia da gala cabe a um júri distinguiraqueles que recebem mais nomeações, deentre os cerca de 200 atletas a destacar. Aentrega dos prémios fica a cabo do reitor daUniversidade de Coimbra, Seabra Santos,do futuro presidente da direcção–geral, umrepresentante do Conselho Desportivo e al-guns membros da imprensa regional.

Com Pedro Crisóstomo

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66 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

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Para além da Associação Académica deCoimbra (AAC) são muitas as colectividadesque proliferam pela cidade. No entanto, nãosão todas iguais: enquanto umas estão es-quecidas pelos bairros mais antigos deCoimbra, outros adquiriram um protagonis-mo que já ultrapassou há muito os limitesdo município.

No cimo da rua Dias Ferreira, no bairro daConchada, fica situado o Centro Recreativo1º de Janeiro – “Patelas”. Criado em 1915, o“Patelas”, assim chamado devido a um jogotradicional (idêntico à petanga), assumiuum grande papel na primeira metade do sé-culo XX como ponto de encontro da popula-ção da Conchada, que aí se juntava para rea-lizar bailes e disputar torneios de sueca edominó. Hoje, porém, atravessa uma fase dedeclínio, como explica o presidente da colec-tividade, Pedro Almeida, 50 anos.

O “Patelas” é possuidor de um espaço sin-gular: do amplo pátio consegue–se avistar atorre da Cabra, o Mondego, o Hotel Astóriae toda a baixinha. À entrada do centenárioprédio, que alberga a colectividade, um ve-lho jogo do burro, feito de madeira, recebeos poucos sócios que ainda se deslocam aoespaço para conviver e jogar à sueca ou dis-putar uma partida de bilhar. No entanto, oespaço da colectividade tem uma particula-ridade: apesar de todo o edifício pertencerao grupo recreativo, o terreno é arrendado.

A associação vive apenas das quotas dossócios e da exploração do bar, o que contri-bui, para a degradação física do clube.

“Carolice” mantém colectividadesabertas

Mais conhecido por “Os Pirilampos”, oClube Desportivo de Celas situa–se numadas mais movimentadas ruas de Coimbra.Com 67 anos, o grupo recreativo não tem omesmo dinamismo de outrora mas vai so-brevivendo devido à “carolice” de alguns dossócios. É assim que se vai mantendo a tradi-

ção do ténis de mesa e da pesca desportiva.A televisão por cabo, a sueca, o bilhar e o barsão os motivos de encontro de alguns dossócios. Muito perto de várias escolas univer-sitárias, o espaço ainda é frequentado porestudantes. É com orgulho que um dos asso-ciados relembra os tempos em que AntónioSilva, então presidente da Direcção–Geralda AAC, reunia “até altas horas da madruga-da” com a sua equipa n’ “Os Pirilampos”.

Nascido em 1967, o Ateneu de Coimbradivide a sua actividade “pela cultura e peloapoio social aos idosos”, explica o presiden-te da direcção Jorge Gouveia Monteiro, 51anos. Situado perto da Sé Velha, a associa-ção atrai um público diversificado. Paraalém das duas grandes festas que celebra, o25 de Abril e o seu aniversário, a 1 de De-zembro, a colectividade promove ao longodo ano várias iniciativas culturais, comocontos e ateliers de pintura, marionetas,dança, teatro e fotografia e encontros de ar-queologia. O espaço do Ateneu costuma ain-da ser palco de concertos de grupos como os

Diabo a Sete ou os Rodobalho. Mas a colectividade não se fica pela cultu-

ra e dinamiza ainda várias actividades des-portivas como acampamentos, provas deatletismo e torneios de damas. Ao contráriod’ Os Pirilampos ou do Patelas, o Ateneutem muitos jovens sócios o que ajuda a man-ter a vitalidade e a dinâmica da associação.

Associações para lá do bairroSituado numa densa área populacional, o

Centro Norton de Matos (CNM), no bairroque lhe dá o nome, nasceu em 1951, na altu-ra ainda um bairro social. Criado para servirde meio de convívio e recreio para a popula-ção, maioritariamente operária, que residiano bairro, o CNM cresceu e hoje é uma dascolectividades que mais movimenta não só apopulação do bairro mas também de outrossítios da cidade, destaca João Rafael, presi-dente da direcção do CNM. O centro dispo-nibiliza um vasto leque de formações cultu-rais e desportivas. Dança–jazz, ballet, aulasde guitarra e de piano, bilhar, futsal e volei-

bol são algumas actividades a destacar.Também a Associação Cristã da Mocidade

(ACM) de Coimbra tem uma dimensãoigualmente grande. Contrariamente às ou-tras associações, o ACM assume um caráctermenos bairrista, patente não só no grandepatrimónio que possui, como no número depessoas que usufruem da associação, sendoprocurada por jovens não só da cidade. NoACM podem ser frequentadas actividadescomo danças de salão, ballet, ténis de mesa,judo, pesca desportiva ou ginástica. A asso-ciação realiza ainda campos de férias nassuas instalações de Foz de Arouce.

Sobre o movimento associativo em Coim-bra, Armando Braga da Cruz, da direcção doACM, afirma que “hoje a oferta mantém–se.A AAC continua a ser a que converge milha-res de jovens mas outras colectividades ne-cessitariam de mais apoios para poderemdesenvolver as suas actividades”. “Mas mes-mo assim Coimbra será das terras que terámais actividade cultural”, acredita Braga daCruz.

respostas de... Recentemente Gomes Ca-

notilho apelidou a Univer-sidade de Coimbra de pro-vinciana. Na sua opinião,Coimbra continua ser cida-de do conhecimento?

Há muitos anos que Coimbra não é a cida-de do conhecimento porque há muitas cida-des do conhecimento em Portugal. Não quenós sejamos fantásticos no domínio do co-nhecimento, porque em comparação comoutros países, Portugal tem ocupado um lu-gar que não é bom. Coimbra tem tido novasáreas de desenvolvimento interessantes.

A ciência é uma dessasáreas?

Alguns campos da ciênciatêm–se desenvolvido. Muitosdeles à custa de um enorme es-

forço por parte dos cientistas e investigado-res, dentro e fora da Universidade, que de-ram o seu melhor para procurar dinamizar abiologia molecular e alguns sectores de me-dicina, embora os estudantes universitáriossejam um público que nós ainda temos deconquistar.

Para além do Museu daCiência da Universidadede Coimbra, há o MuseuNacional de Ciência e daTécnica. Até que ponto éque estes museus se justi-ficam na mesma cidade?

Houve ideias de junção, de modo a con-centrar mais investimento, mas o MuseuNacional agora está fechado e não se pre-vêem melhorias nessa situação. Quanto aoda Universidade, tem já um ano, e tem comoobjectivo contribuir para a cultura geral daspessoas. Agora, depois de uma candidaturae de um relatório de visita ao espaço, foi no-meado para o prestigiado Prémio Europeude Museus.

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Colectividades de Coimbra

15 de Janeiro de 2008, 3ª feira CCIIDDAADDEE A CABRA 7

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3Paulo Gama Mota

Director do Museu da Ciênciada Universidade de Coimbra

De torneios de sueca e damas a oficinas de teatro e pintura, a realidade das várias associações que ainda existem no centro de Coimbra é muito diversa. A CABRA foi conhecê–las.

Por Helder Almeida, João Miranda e Alexandre Oliveira

Várias são as actividades que as associações de Coimbra disponibilizam

Por Soraia Manuel Ramos

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Caso não contem com pelomenos cinco mil filiados, atéMarço, os pequenos partidos

podem ser extintos

Raquel Carvalho

Os pequenos partidos portugueses tra-vam, neste momento, uma luta contra otempo. A Lei dos Partidos Políticos, apro-vada em 2003, obriga–os a comprovar quetêm, no mínimo, cinco mil membros. Osgrupos políticos já foram notificados paraesse efeito e aqueles que não cumpram es-ta exigência, até Março, ficam sujeitos à ex-tinção. Todos os pequenos partidos apeli-dam esta lei de “inconstitucional”. Já oconstitucionalista Vital Moreira sublinhaque “não é defensável que os partidos polí-ticos possam ser criados por meia dúzia depessoas, sem qualquer exigência”. Contu-do, também ele vê esta Lei dos Partidos co-mo “um requisito legal demasiado pesa-do”.

O líder do Partido da Nova Democracia(PND), Manuel Monteiro, acusa mesmo os“partidos do sistema” de impedirem “queos outros possam chegar ao campeonatoda 1ªdivisão”. Também para o presidented’Os Verdes (PEV), José Luís Ferreira, tra-ta–se de uma prova de que “os partidos dopoder convivem mal com a diversidadepartidária”. Por sua vez, o secretário doPartido Popular Monárquico (PPM), Ar-mando Ferreira, acrescenta ainda que estaé uma lei que foi “votada de forma incons-ciente” e que “vai cortar a liberdade de ex-pressão de largos milhares de eleitores”.

Os pequenos partidos discordam igual-mente da lei porque a consideram impreci-sa, uma vez que não define os meios que ospartidos devem usar para provarem o nú-mero de filiados. Por isso, apresentaramrequerimentos de aclaração e recursos pa-ra a fiscalização da constitucionalidade danorma. O Tribunal Constitucional (TC)respondeu através de um acórdão, no qualafirma deixar as considerações sobre o as-sunto para o momento em que algum dospartidos vier a ser objecto de um processode extinção. Vital Moreira diz discordardesta decisão. “É evidente que o Tribunalnão se pronunciou sobre o fundo da ques-tão”, afirma. Já o advogado e membro doComité Central do PCTP–MRPP (PartidoComunista dos Trabalhadores Portugue-ses–Movimento Re–organizativo do Parti-do do Proletariado), Carlos Paisana, refe-re–se ao acórdão como “uma atitude de co-vardia por parte do TC”.

Partidos unem esforçosPara fazerem face à lei, os pequenos par-

tidos estão dispostos a usar todos os meiosjurídicos e políticos que têm ao seu dispor.Estas acções passam não só por iniciativas

individuais, mas também por actos concer-tados entre os partidos. Nesse sentido, jáforam feitas duas reuniões, onde estiverampresentes oito partidos. De uma das reu-niões, realizada em Janeiro, resultou umacarta dirigida ao Presidente da República asolicitar uma audiência. Os partidos estãoainda a aguardar uma resposta.

O Partido Comunista Português (PCP)foi o primeiro grupo político a apresentarao TC uma declaração, na qual afirma quepossui mais de cinco mil filiados, mas nãorevela qualquer tipo de dados adicionais(fichas dos militantes ou documentos in-ternos). Apesar de estar a cumprir a lei, oPCP critica-a severamente. Também osrestantes partidos com assento parlamen-tar, à excepção do Partido Socialista, já re-velaram disponibilidade para discutir estaquestão na Assembleia da República. Ospequenos partidos esperam que tal aconte-ça. À parte disso, o antigo líder do PartidoPopular e actual eurodeputado, Ribeiro eCastro, já se disponibilizou para levantar aquestão no Parlamento Europeu.

Luta contra a leiQuanto às iniciativas de cada partido,

Manuel Monteiro revela que o PND está “aredigir cartas para figuras como MárioSoares, Francisco Pinto Balsemão, ManuelAlegre e Freitas do Amaral, enquanto fun-dadores do regime democrático, pedindo-–lhes que se pronunciem sobre esta maté-ria”. Além disso, o partido concentra esfor-ços no recrutamento de filiados. “O grossodas inscrições está a ser alcançado através

de acções de rua de Norte a Sul do país”,afirma o líder. Segundo Manuel Monteiro,o PND conta, actualmente, com “cerca de2500 membros”, havendo “imensa gente aaderir à Nova Democracia em sinal de pro-testo”.

Numa situação diferente está o PPM,porque segundo Armando Ferreira, o par-tido já tem mais de cinco mil filiados. Po-rém, afirma que o PPM vai manter–se “so-lidário com os restantes partidos”, poisconsidera que a “liberdade começa a estarameaçada”. Um caso semelhante é o doPartido Humanista. De acordo com o se-cretário–geral, Luís Guerra, o seu partidojá se fundou “com mais de cinco mil filia-dos”.

Por outro lado, o PCTP–MRPP admiteque ainda não tem os cinco mil membros e,por isso, pretende desenvolver uma “cam-panha política o mais vasta possível”, con-fessa Carlos Paisana. À semelhança de ou-tros partidos, o MRPP aposta num contac-to directo com os cidadãos, através de ac-ções nas ruas e de sessões organizadas.

Em melhor situação está o PEV, que se-gundo José Luís Ferreira, tem “entre 5500e 6500 filiados”, estando agora “a procederapenas à actualização da base de dados”.Por sua vez, o Partido Nacional Renovadornão revela o número de filiados, mas jálançou uma campanha sob o lema “O PNRfaz falta”, que isenta os novos membros dopagamento de quotas. Também o PartidoOperário de Unidade Socialista tenta anga-riar filiados, ao mesmo tempo que luta pe-la revogação da Lei dos Partidos. Tem vin-

do a recolher inscrições, sobretudo na re-gião de Lisboa e da Marinha Grande, e pre-para um “Encontro”, ainda sem data mar-cada.

Quem assume uma posição mais radicalé Pedro Quartin Graça, do MovimentoPartido da Terra, pois não vê “qualquer ra-zão para que o partido arranje filiados”,uma vez que se trata “de uma lei inconsti-tucional, logo não tem de ser concretiza-da”.

Apesar de alguns partidos estarem dis-postos a dar conta ao TC do número demembros, todos eles rejeitam a ideia defornecer qualquer tipo de dados dos seusfiliados. Contudo, esperam ainda por umainversão da situação, argumentando queem nenhum país da Europa existe uma leisemelhante a esta.

Também o constitucionalista Vital Mo-reira considera que “os requisitos para aformação de partidos não podem ser tãoexigentes que dificultem desnecessaria-mente a livre organização de correntes po-líticas”, podendo isto “limitar o pluralismopartidário”. Vital Moreira acrescenta aindaque “mesmo no caso das correntes extre-mistas, é preferível tê–las organizadas par-tidariamente e a participarem em eleiçõesdo que aproveitarem a ilegalização para re-correrem a meios de acção política violen-ta”. Por isso, o constitucionalista propõeuma outra opção: “em vez de um númeromínimo de militantes – que é sempre difí-cil de provar – talvez fosse mais razoávelexigir um número mínimo de votos naseleições parlamentares”.

88 A CABRA NNAACCIIOONNAALL 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

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A Lei dos Partidos, que agora suscita polémica, foi aprovada durante o governo de Durão Barroso em 2003

Lei dos Partidos Políticos

ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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Stanley Ho é conhecido comoo grande magnata dos casinosnaquela que é a Las Vegas do

Oriente: Macau. Mas sãopoucos os que conhecem as

suas origens e o percurso atéao “trono”. A CABRA foi

“tentar abrir o jogo”

Por Diana do Mar em Macau

egociar é a palavra de ordem navida de Stanley Ho e principal-mente na lógica “um país, doissistemas”. Aos ocupantes japo-

neses da Segunda Guerra Mundial vendeuarmamento em troca do abastecimento defeijão e açúcar em Macau, à ditadura sala-zarista proferiu palavras diplomáticas aomesmo tempo que seduzia maoístas endi-nheirados da China Continental para o“velhinho” Lisboa. Mito ou realidade?

Na verdade, quando os japoneses inva-diram Hong Kong, tinha 15 anos e teve deescolher entre “pegar nas armas” ou aju-dar na assistência médica. Ficou–se pelasegunda hipótese, caso contrário, não du-vida que estivesse morto, segundo reco-nhece.

Mais tarde, foi trabalhar como secretá-rio–geral da Companhia Cooperativa deMacau. A sua função era assegurar o trans-porte seguro de comida para o território,onde estavam concentrados os refugiados.Ao terceiro dia, foi surpreendido por pira-tas, mas conseguiu “dar a volta por cima”.

O nascimento de um Portugal democrá-tico também não “assustou” Stanley Ho,que continuou a alargar os espaços de jo-go. Em 1995, recebeu das mãos de MárioSoares a Grã–Cruz da Ordem do InfanteD. Henrique. Por ocasião do 8º aniversáriodo estabelecimento da Região Administra-tiva Especial de Macau (RAEM), em De-zembro, prepara–se para ser agraciadocom a Medalha de Honra Grande Lótus –a condecoração mais elevada de Macau.

Agora, o magnata ultima a inauguraçãodaquele que será o 29º casino de Macau,que deverá abrir portas ao público no com-plexo de turismo e entretenimento “PonteCais 16” ainda antes do Ano Novo Chinês,ou seja, em menos de duas semanas.

Passaram quase seis anos desde queStanley Ho perdeu legalmente o monopó-lio do jogo no território para as restantes

concessionárias que conquistaram licençapara operar - a Galaxy e a Wynn Resorts.Posteriormente, o contrato da Galaxy foialterado, tendo dado lugar a uma subcon-cessão à Venetian Macau, subsidiária dogrupo norte–americano Las Vegas Sands.Esta foi a primeira a fazer concorrência di-recta aos espaços de jogo do magnata, aoinaugurar o casino Sands em Maio de2004. Mais recentemente, a SJM e a Wynnacordaram subconcessões à MGM e a Mel-co PBL, respectivamente.

Fim da idade do ouro?Mas estará o rei em declínio? No mês

passado, pela primeira vez, o registo men-sal das receitas brutas do jogo colocaram aVenetian Macau uma “unha negra” à fren-te da SJM, de Stanley Ho, ambos com re-ceitas a rondar os cerca de 20 milhões deeuros cada. Apesar de tudo, o universo decasinos controlados pela “velha raposa” dojogo conquistou ao longo dos 12 meses de2007 uma quota de mercado de cerca de40 por cento, praticamente o dobro da ri-val, que desde Agosto passado explora emMacau o maior casino do mundo.

Os números surgem numa altura em quea SJM decidiu avançar com um processode listagem na Bolsa de Valores de HongKong, em que pretende angariar mais de670 milhões de euros. Stanley Ho prepara-–se para vingar o lance de azar do pai, que

aí arruinou a fortuna da família.Com a abertura do MGM Grand Macau

em Dezembro – fruto de uma parceria daMGM Mirage com a filha Pansy Ho, veio “àbaila” uma alegada investigação que a rivalLas Vegas Sands terá lançado aos negóciosda família Ho. Um assunto que Stanley Hodiz não o afectar.

O final de 2007 deu que fazer ao talento-so negociador, que prepara a remodelaçãodo “velhinho” Lisboa – uma das imagensde marca de Macau. Com o nascimento doimponente Grand Lisboa, em forma de florde lótus, a “gaiola de pássaro”, (como é co-nhecido o Hotel Lisboa), inaugurada em1970 e construída sob a égide das rigorosasregras do Feng Shui, perdeu o protagonis-mo.

Aos 86 anos, Stanley Ho continua impa-rável e os “tubarões” norte–americanosparecem não lhe ter tirado as forças. Provadisso foi a animada troca de galhardetesque Stanley Ho protagonizou no Verão de2006 com Sheldon Adelson, patrão da LasVegas Sands e provável sucessor de BillGates como detentor da maior fortuna domundo.

Stanley Ho deu o mote ao acusar a ope-radora rival de pagar comissões muito ele-vadas aos promotores do jogo, fomentan-do assim a concorrência desleal. Ao bomestilo americano, Adelson recomendou aStanley Ho que “se não se aguenta o calor,

é melhor sair da cozinha”. Mais tarde, oamericano de origem israelita substituiu acozinha pelo aquário como palco da trocade argumentos. “Ele [Stanley Ho] era umpeixe grande neste pequeno lago mas ago-ra há outros peixes grandes no mesmo la-go. Não gosta disso porque quer comer so-zinho todos os peixes pequenos”, disse opresidente da Las Vegas Sands.

Se achou piada, não sabemos, mas o cer-to é que Stanley Ho não tem desperdiçadooportunidades para “espicaçar” a concor-rência, ainda que sem perder a sua reco-nhecida capacidade diplomática, que lhegarante um lugar nas cadeiras da frentenas inaugurações dos casinos dos própriosrivais.

O homem a quem os chineses amantesdas mesas de bacará (jogo mais famoso daRAEM) chamam de Wong Tai Sin, “o deusque faz com que os nossos sonhos se reali-zem” insiste em fazer crescer o seu patri-mónio em diversos pontos do planeta, in-cluindo em Portugal e nos PALOP.

É verdade que os novos investidores têmfeito fortunas, mas os cofres de Stanley Hocontinuam recheados. O que é certo é queMacau tem sofrido um crescimento econó-mico acelerado com a liberalização do jogoe, desde que Pequim facilitou as viagensdos seus cidadãos, são cada vez mais oschineses continentais que não resistem atentar a sua sorte nos casinos de Macau.

Macau: A Meca do jogo

15 de Janeiro de 2008, 3ª feira IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL A CABRA 9

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Macau impõem-se cada vez mais como a “Las Vegas do Oriente” animada pela concorrência entre as grandes empresas de jogo

CLÁUDIO VAZ

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10 A CABRA TTEEMMAA 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

Para o ano é que é!Ilustração por Rafael Antunes

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15 de Janeiro de 2008, 3ª feira TTEEMMAA A CABRA 11

Já diz o ditado popular, inspirado nasraízes judaico–cristãs: “o futuro a Deuspertence”. No entanto, 2008 já deixa an-tever alguns dos temas mais empolgantesda esfera pública. Na Academia espera-–se que seja o ano do fim das hostilida-des entre os estudantes e a reitoria. Outradas dúvidas que subsiste é se o bar da As-sociação Académica de Coimbra vai con-tinuar a ser uma mina para empresas ex-teriores. Na cidade, o Metro Mondego

não deve sair da estaca zero, bem como overdadeiro avanço nas obras do Pediátri-co. O assoreamento do rio pode agravar-–se. A política cultural da autarquia devecontinuar a ser contestada.

A polémica lei do tabaco, o lento TGV ea difícil aterragem do novo aeroporto sãoalguns dos temas que vão animar o País.O início do ano foi já marcado pela passa-gem do testemunho da presidência por-tuguesa da União Europeia para as mãos

dos eslovenos. Pelo globo as eleições nor-te–americanas e o ‘circo’ das primáriascandidatam–se a acontecimento do ano.No campo científico fazem–se esforçospara salvar o planeta perante a precarie-dade do Protocolo de Quioto. A EstaçãoEspacial Internacional vai contar comapoio português.

O ano começou negativo para o mundodo desporto, com o cancelamento do Lis-boa–Dakar. Os Jogos Olímpicos reali-

zam–se pela primeira vez na China e im-põem–se como o maior evento desporti-vo do ano. “E o burro sou eu?”, esta po-de ser a frase proferida mais uma vez porScolari se Portugal se ‘safar’ na fase do‘mata–mata’ do Euro 2008. Isto se láchegarmos. Tudo depende da Nossa Se-nhora do Caravaggio… Para ilustrar2008 A CABRA desafiou um dos seus co-laboradores a desenhar o ano que agoraentrou.

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12 A CABRA CCIIEENNCCIIAA 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

ete estudantes portugueses es-tiveram numa expedição na An-tárctida durante duas semanas.A viagem esteve integrada noprojecto educativo ‘Latitude 60’

no âmbito do Ano Polar Internacional.Na passada quarta–feira, 9, os alunos re-gressaram com experiências novas de vi-da e estórias para contar.

Parte do projecto passou pela criaçãode um evento em parceria com as esco-las, ao qual, os alunos concorreram comtrabalhos científicos em diferentes cam-pos, para ganhar um lugar na expedição.

Desde o suporte audiovisual, escrito emultimédia, a organização recebeu apro-ximadamente quinhentos trabalhos decem escolas diferentes.

Após uma avaliação criteriosa e rigoro-sa por um júri composto por membrosdo corpo científico nacional, os alunosescolhidos foram notificados da sua par-tida para o Pólo Sul.

A então estudante do ensino secundá-rio, Andreia Raposo, estava num festivalde música quando recebeu o telefonema.Andreia havia realizado um ‘website’com informação sobre a Antárctida, noâmbito do concurso. Este foi o seu passa-porte para a expedição a bordo do barcoda organização ‘Students on Ice’.

A viagem rumo à região polar começouno dia de Natal, quando os sete portu-gueses eleitos partiram de Lisboa em di-recção a S. Paulo no Brasil. Houve umaescala imperativa em Buenos Aires, se-guida da paragem em Ushuaia, a chama-da Terra do Fogo, onde apanharam obarco para o Estreito de Drake.

No último dia do ano de 2007 o grupochegou finalmente à península da Antár-ctida.

João Miguel Corita, outro estudanteparticipante, conta como foi a rotina abordo do navio, “todos os dias éramosacordados pelo director do ‘Students onIce’ e depois do pequeno–almoço tínha-mos palestras explicativas a bordo” sobreos mais diversos temas. O porquê do ge-lo ser azul, a formação geológica, e a bio-diversidade polar foram alguns dos tópi-cos demonstrados por uma equipa deformadores.

João Corita recorda os diferentesworkshops que permitiram desenvolveractividades práticas, tanto em campo co-mo dentro do barco.

Diariamente e quando as condições cli-matéricas assim o permitiam, os estu-dantes saíam do navio para visitas decampo com o objectivo constatar o tópi-cos das palestras. O trabalho desenvolvi-do ‘in loco’ foi maioritariamente de ob-servação. Ana Salomé, membro do Pro-

jecto ‘Latitude 60’ e bolseira científica,refere que foi estabelecido um perímetrode segurança que tinha de ser respeitadoa 100 por cento”. A recolha de materiaise o contacto directo com os animais nãoera permitido.

Para Andreia Raposo, o convívio comestudantes de países estrangeiros foiigualmente importante nesta viagem.“Fomos divididos de maneira a dormirno mesmo espaço com pessoas de outrasnacionalidades”, conta.

“Entrámos num universo encantado”

A membro do projecto que acompa-nhou os participantes portugueses contaas primeiras imagens que teve da Antár-ctida, recordando “ver um pedaço enor-me de gelo, e de tirar uma fotografia, sur-gindo mais à frente outro ainda maior.”Ana Salomé acrescenta que entraram“num universo completamente à parte,num mundo encantado”.

No dia 4 de Janeiro, o navio dos ‘Stu-dents on Ice’ chocou contra uma plata-forma de gelo marinho, ficando lá encai-xado. Foi assim possível aos tripulantesdo barco caminhar sobre o gelo e ter con-tacto com a fauna. Focas e pinguins fo-ram os animais vistos pela bolseira doprojecto nesse episódio caricato.

“O degelo mudou muito a paisagem daAntárctida”, segundo a estudante An-dreia, as focas e os ursos polares tem es-tado a sofrer com isto porque não têm

onde habitar. Uma das palestras a bordodo navio sobre a história da Antárctidaalertou a estudante para as mudanças napaisagem polar decorrentes das altera-ções climáticas. O formador mostrou fo-tografias que comparava o mesmo espa-ço hoje e há dez anos atrás. Andreia con-sidera que as pessoas ainda não estãobem cientes do que está a acontecer comaquecimento global, “o degelo que ocor-reu agora é incrível e basicamente tudose vai agravar com o tempo”.

A expedição de duas semanas com es-tudantes de várias nacionalidades e o en-riquecimento científico das palestrasveio mudar as perspectivas a nível pro-fissional de alguns participantes. An-dreia Raposo pondera agora seguir o cur-so de oceanografia, inspirada pela expe-riência que teve durante a viagem.

O projecto que levou os alunos à Antár-ctida foi coordenado por três entidades:o Centro de Estudos do Mar do Algarve,o Centro de Estudos Geográficos da Uni-versidade de Lisboa e pela AssociaçãoPortuguesa de Professores de Geografia.A expedição foi organizada pela associa-ção canadiana ‘Students on Ice’.

Decorre actualmente o Ano Polar In-ternacional em Portugal (que se prolon-ga até Março) e que tem duas vertentes:a científica e a educacional. O projectoeducativo ‘Latitude 60’ contou com mui-ta adesão por parte da comunidade esco-lar, desde o ensino pré–escolar até ao su-perior.

Estudantes alertam para o perigo do efeito do aquecimento global na fauna da Antárctida

����������������������������Portugal tem cientistas a trabalhar na Antárctida. Mas durante quinze dias foram os estudantes

a estar, em campo, lado a lado com as focas e os pinguins. Por Pedro Martins e Carla Santos

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Tubo deEnsaio

Coimbra inovaçãoNome: Centro Ciência Viva - Rómulo

de Carvalho

Local: Departamento de Física da Fa-culdade de Ciências e Tecnologia da Uni-versidade de Coimbra

Data de criação: 2006

Responsável: Manuel Joaquim Bap-tista Fiolhais

Colaboradores: Especialistas e inte-ressados em Ciência, quer da Universida-de de Coimbra quer externas à instituição,como é o caso das duas funcionárias quevão estar no centro, diariamente, a prestarapoio.

Área de trabalho: O Centro Rómulode Carvalho vai ser um espaço interactivoe lúdico, onde também vai haver um con-junto de materiais típicos de biblioteca (li-vros, cassetes de vídeo). Os objectivos pas-sam pelo ensino das ciências e pela divul-gação da cultura científica, especialmente,junto dos mais novos.

Projectos desenvolvidos: Vai inte-grar o espólio da Biblioteca Rómulo deCarvalho, e apresentar, no âmbito daaprendizagem das ciências, várias expe-riências e programas de simulação com-putacional.

Financiamento: Até ao momento, 180mil euros, por parte da Ciência Viva.

Expectativas para o futuro: A gran-de expectativa é que o Centro se alargue eque seja um ponto de interesse para osmais jovens que visitam a Universidade deCoimbra. A ideia é possibilitar–lhes a inte-racção com a Ciência e motivá–los paraessa área.

Contactos: Manuel Joaquim BaptistaFiolhais – telefone: 239723895 /239410615

www.mocho.pt (site já existente, masque vai ser desenvolvido para integrar oprojecto do Centro)

Liliana Figueira

D.R.

19 e 20 de Jan. Hobby Weekend – Es-tádio Cidade de Coimbra Todo o mês Gabinete de curiosidadesde Domenico Vandelli – Museu Botâni-coTodo o mês Exposição A Diversidadeda Vida 300 Anos de Lineu – Museu daCiência

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Hedson Trindade, “missanguinha” para os amigos, foieleito, aos 18 anos, um dos atletas revelação. Salto em al-tura é hoje a modalidade do atleta que no quinto ano come-çou a praticar atletismo “na descontra”. “Iniciei a activida-de só para preencher os tempos livres e depois vi que tinhajeito e continuei”, conta. Desde então, Hedson já praticousalto em comprimento, lançamento do disco e do peso.

Hedson nasceu em São Tomé e chegou a Portugal comapenas sete anos, para se juntar à sua mãe que já se encon-trava no País por motivos de saúde. Actualmente vive emMontemor–o–Velho e todos os dias úteis desloca–se aCoimbra para treinar, sempre com a ambição de alcançara melhor performance. Porém, “não ganho nada, possoficar em primeiro mas não vou ao pódio”, lamen-ta o desportista que procura resolver o problema obten-do a dupla nacionalidade.

Para Hedson, a modalidade “é como uma namorada,se eu não tiver com ela um dia sinto–me (risos) mes-mo frustrado, já não consigo viver sem isso”. A dedi-cação de Hedson não se esgota na pista. Com o livrode matemática e a máquina calcudadora em cima damesa, o atleta revela que “os estudos estão sem-pre em primeiro lugar”. Actualmente a frequen-tar o último ano do ensino secundário, HedsonTrindade tem média de 15 valores e espera vir aingressar na universidade, no curso de MedicinaDesportiva. Este é o grande sonho de Hedson a parde “vir a entrar nos campeonatos do mundo de Atletis-mo”. Nesta sua ambição, Hedson contou sempre com oapoio dos que o rodeiam. “O meu treinador, desde o princí-pio, foi o meu pai”, conta o atleta. Os amigos corroboram.Ricardo Monteiro, amigo de longa data, diz que o atleta “éum amigo que se pode contar para para tudo, dá sem-pre uma força quando estamos em baixo, tem um enorme po-tencial e pode ir ainda muito mais longe”.

Para além da determinação, Hedson confessa ter outra quali-dade: a responsabilidade. Quanto a defeitos opta por revelar queé “muito teimoso e um cabeça–no–ar”. Enquanto atleta o defeitoé não ter cuidados de qualquer tipo. Na alimentação, “como dispa-ratadamente sem pensar no futuro, vou ao McDonalds”. Con-trolado nos vícios, o desportista aponta apenas dois: “não re-sisto ao chocolate nem a sair à noite com os amigos”. O piorda vida e da carreira do atleta, até agora, foi mesmo a lesão.“Quando estou lesionado sinto–me um inútil, baixo to-talmente a moral e não me consigo concentrar em nada”, afian-ça. Hedson garante que se um dia subir ao pódio será com as co-res da selecção portuguesa.

Nádia Laeeza, hoje com 17 anos, já pratica natação des-de os dois. O apelido não deixa esconder as ligações a Itália.

Foi lá que nasceu, que aprendeu a nadar e foi lá tambémque começou o gosto pela natação. A desportista luso-–transalpina fala desta vida dupla: “o meu pai é italia-no e a minha mãe é portuguesa, e tinha família em am-bas as partes”. A natação era a única coisa constante navida da atleta. “Aqui, nadava na Académica, lá nadavanum clube em Nápoles”, refere. A nadadora revela dife-renças entre os dois países e diz que “em Itália eles eram

muito mais rígidos”.Nádia Laeeza mostra–se surpreendida com a eleição co-

mo atleta revelação de 2007. “Não estava à espera, porquenão acabei a época passada, tive que abandonar em Julhodevido a lesão”, conta a nadadora. A atleta tem um per-

curso vitorioso e já conquistou títulos de campeã nacio-nal em diversos escalões. Poucas horas depois de saber maisum diagnóstico, Nádia não assegura um regresso rápido àcompetição. “Vou estar bastante tempo em recuperação, espe-ro que seja apenas um ano”, conta. A nadadora vai ter que li-dar com um fardo difícil: “tenho uma micro ruptura de 6 mi-límetros, um buraco no tendão que nunca vai sarar, tenhode evitar que se alastre e lidar com a dor, não posso fa-zer mais nada”.

No que diz respeito a apoios, no plano afectivo, ela desta-ca “a ajuda incondicional da mãe”. A nível monetário tem

contado com o auxílio dos patrocinadores e com prémios dosclubes por onde passa.

Neste momento, a atleta mantêm a forma com duas visitassemanais ao ginásio. Para além disso, tem mais cuidados com a

alimentação, como demonstra ao erguer um pacote de bolachasdietéticas. Cuidados que não tinha durante a competição, já que

“na altura comia tudo o que me apetecia”.A nível pessoal, Nádia considera–se “derrotista” e talvez por isso

não consiga encontrar uma qualidade que a defina. Já nos defeitosnão tem contemplações: “As pessoas dizem que sou antipá-tica”. No entanto, deixa escapar: “eu até sou simpática”.

Como está afastada da competição, Nádia dedica–se mais aosestudos. “Agora tenho subido as notas, tenho média de 15”,

conta a desportista. Com a ajuda do estatuto de atleta de altacompetição espera ingressar no curso de Medicina.Quanto a tempos livres, a atleta tem como preferência saí-das com os amigos e idas ao cinema. Porém, estas activida-des estão condicionadas durante o tempo de competição. Oseu grande vício, neste momento, é ver televisão.“Sou agarrada aos filmes”, revela. No futuro Nádia esperavir a ser a melhor atleta nacional nos 200 metros crawl.

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15 de Janeiro de 2008, 3ª feira DDEESSPPOORRTTOO A CABRA 13Perfis de Nádia Laeeza e Hedson Trindade

Hedson Trindade, atleta de salto em altura, e Nádia Laezza, nadadora, foram eleitos os atletas revelação 2007, na 1ª Gala doDesporto organizada pela Câmara Municipal de Coimbra. Hedson e Nádia, com 18 e 17 anos, respectivamente, têm ainda umalonga carreira pela frente, mas não escondem um passado já marcado por algumas lesões. Apesar de estarem sujeitos a um

rigor competitivo, os desportistas mostram que têm uma vida idêntica à de qualquer outro jovem. Texto por Rui Antunes e Patrícia Costa e fotos por Hugo Meneses

Alcunha: Mandinga, Missanguinha, HP, Pescador

Clube: Benfica

Outro Desporto: Basquetebol

Um sítio: Hungria

Música: Kizomba e Hip–Hop

Um livro: “Loucura”, Mário de Sá-–Carneiro

Data de Nascimento 23-10-89

Gastronomia: Hambúrgueres, umbom frango assado com batatas fritas earroz e bacalhau à brás

Ídolo: Stefan Holm e Michael Jordan

| Revelações | Hedson Trindade| Revelações | Nádia Laeeza

Alcunha: Nadi, Nadinha

Clube: Benfica

Outro Desporto: Basquetebol

Um sítio: Itália

Música:Fort minor- Remember the name

Um livro: Todos do Dan Brown

Data de Nascimento 10-04-90

Gastronomia: Pizza italiana, de Nápoles

Ídolo: Padeira de Aljubarrota

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Há quem defina a vossa obra comouma novela gráfica, outros como umpoema gráfico, outros ainda comouma banda desenhada. Como a classi-ficam?

António Jorge Gonçalves (AJG) – Hásempre um problema com a história das eti-quetas. O que é que são as etiquetas? Basesfuncionais para podermos organizar a com-plexidade. Mas na realidade, nisto somoscomo as pessoas. Engavetarmos uma pessoanum determinado tipo é extremamente re-dutor. Não é muito importante aquilo que sechama, é mais importante que possam ha-ver várias coisas que se possam chamar.

Como é trabalhar misturando a pa-lavra e a imagem?

Rui Zink (RZ) – Há muitas formas detrabalhar. A colaboração entre pessoas têmentre elas o infinito. O infinito pode ser umapessoa fazer tudo e a outra não fazer nada,por exemplo. Um trabalho a meias na esco-la é muitas vezes isso. As possibilidades sãoinfinitas. A que nos interessa é um encontrode sensibilidades e inteligências. Tambémgostamos do leitor, somos vértices de umtriângulo e no nosso caso funciona porquetento ir ao universo do Jorge e ele ao meu.

Acaba por dar mais trabalho…AJG - Acho que sim. Quando trabalha-

mos numa linguagem mista é preciso que oRui tenha o conhecimento profundo daqui-lo que é a narrativa da banda desenhada,que tem, como também é importante que eunão seja um analfabeto em literatura.

Já tinham pensado o “Rei” enquan-to elaboravam o “Arte Suprema”?

RZ - A razão pela qual levámos cerca dedez anos até encontrarmos uma forma detrabalharmos juntos não foi por estarmosinsatisfeitos, foi porque ficámos esgotados.Isto é, naquele momento estávamos muitofelizes quando acabámos a “Arte Suprema”,mas não sabíamos muito bem para onde ir.

Sentem que existiu uma evoluçãodo “Arte Suprema” para o “Rei”?

RZ – Não é tanto uma coisa de melhorpara pior ou vice–versa. É diferente. Este li-vro é mais sinuoso, porque seria menor danossa parte fazer aquilo que já fizemos.

Disseram que o livro não é um do-cumentário da vossa viagem, mas nãohá um pouco de relato da viagem quefizeram ao Japão?

RZ – Não, não. Nós somos omnívoros,comemos de tudo, nada nos é alheio. E usa-mos todas as nossas experiências, para cha-par lá as personagens. Isto significa que te-

mos mais ao menos uma noção da históriaque queremos contar. Mas o grande traba-lho do artista está em deixar–se surpreen-der pelo material. Por um lado, é um traba-lho diário, mas o autor tem que estar dispo-nível para essa surpresa. E depois há perso-nagens que são auto–biográficas, porquepara construir uma personagem rica temosde pôr um ‘pózinho’ da nossa experiência.

Abordam a questão da ligação doBrasil ao Japão. Quando lá estiveramverificaram isso?

RZ – É uma evidência. Há cidades emque se sai do comboio e o mapa da cidadeestá em português. Um dos desenhos quenós fazemos no livro é o do Karaoke com oCebolinha e a Mónica do Maurício. O Mau-rício é casado com uma japonesa. E precisa-mente nas histórias dele há a história de ummenino japonês. Esse lado antropológiconão é prioritário num trabalho destes. Masaqui nós achamos que fazia todo o sentido.

Já descreveram o livro como umaobra musical. Há música impressa navossa história?

AJG – Para mim, definitivamente. Masnós temos sempre discordâncias.

RZ – Aquilo a que o Jorge chama músicaeu chamo poesia, que é o livro como eu o ve-jo, fluído e com brancas. Fluído como aágua, que é um motivo ao longo livro. Masdepois há cortes ou cisuras. Os tais nós, a talbifurcação, pausas… O livro está cheio depausas, eu chamo a isso ritmos poéticos, oJorge acha que são ritmos musicais.

O comboio voador que surge ao lon-go da obra é alguma forma de ligaçãona história?

RZ - O ‘shinkansen’ é um exemplo deuma simples derivação a partir da realidade.O ‘shinkansen’ faz parte da realidade urba-na em todas as cidades do Japão. Não só asliga, como as atravessa. Normalmente cir-culam numa ponte e estão numa altura visí-vel para todos. No livro funciona como umelemento da estória, como as diferentes per-sonagens e pólos de acção.

Pensam continuar a história doNuno?

RZ – É altamente provável que nos volte-mos a reunir e que voltemos a trabalhar jun-tos e que não levemos outra vez dez anos.Mas é altamente improvável que façamoschichi na mesma bacia.

E já têm algum projecto conjuntopensado?

RZ – Pode ser que sim, pode ser que não.Este projecto foi feliz no meio de todos osincidentes que implica, hoje em dia, fazerum livro. É quase um esforço sobre–huma-no, especialmente um livro claramente al-ternativo. Ao mesmo tempo foi feliz a reedi-ção de “Arte Suprema”, o que prova que háinteresse. Não há duas sem três...

E em separado?AJG – Umas das perguntas quase certas

quando terminamos um livro é: “Então eagora, para quando é o próximo?” E poracaso, essa pergunta é um pouco frustrante,

é como perguntar a um corredor que acaboude fazer a maratona, e que está a chegar ofe-gante à meta, quando é a próxima corrida.

RZ – Ou pior, perguntar à mulher queacabou de dar à luz uma criança de 3,6 qui-los, quando chega o próximo filho.

AJG – Quer dizer... Há aquelas que nodia em que dão à luz dizem que foi tão bomque até dá vontade de ir logo fazer outro...

Há alguma pergunta que gostariamque vos fosse feita e que nunca tive-ram oportunidade de responder?

AJG - Sim, gostaria que me perguntas-sem: Como é que é estar nomeado para oNobel?

RZ - Gostaria que me perguntassem seacho que este livro é um sério candidato aoprémio Associação Portuguesa de Escritorespara romance 2008. E a resposta é “sim”.Adoraríamos que as editoras e o júri consi-derassem este livro uma possibilidade. Irri-ta–nos os estereótipos à volta da Banda De-senhada. Há 25 anos, Spiegelman publicouo ‘Maus’, sobre o Holocausto, e sendo ‘co-mics’ não era nada cómico. Esse trabalhovaleu–lhe o Pulitzer. Por isso a pergunta aque gostaria de responder é: Como é que sesentem por terem ganho o grande prémiode romance 2008?

AJG - E nós respondíamos: “Ah, não es-távamos nada à espera!”.

RZ - Também gostávamos de ganhar oprémio de melhor filme português, porque anovela gráfica é o cinema dos pobres.

14 A CABRA CCUULLTTUURRAA 3ª feira,15 de Janeiro de 2008

“Irrita-nos os estereótipos à volta da Banda Desenhada”

António Jorge Gonçalves e Rui Zink

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SOFIA PIÇARRA

“ ”Dez anos depois do lançamento de “Arte Suprema”, os dois autores retornam ao Oriente. Em “Rei”,

o novo livro, acompanhamos a viagem de Nuno pelo Japão e a busca de Teresa pelo filho. Por João Miranda

@ Versão integral em www.acabra.net

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JOSÉ MIGUEL PEREIRA

A vontade de comunicar fezsurgir nos últimos anos vários

órgãos académicos.Apesar do sucesso, estes meios

não conseguiram aindaa profissionalização.

Por Ângela Monteiro eSofia Piçarra

Em 1986 nasce em Vila Real a “Univer-sidade FM”. A vontade de aproximar a ci-dade à universidade levou alguns estudan-tes a avançar com o projecto de uma rádiouniversitária. Hoje, na “Universidade FM”“há um quadro de profissionais de rádioque asseguram a emissão durante o dia”,explica o director Luís Mendonça.

A partir das oito da noite, a antena per-tence aos estudantes, que podem exploraras potencialidades do mundo da rádio. Oprimeiro contacto significa, muitas vezes,o passo inicial para uma futura profissio-nalização na área dos media. De facto, osmeios de comunicação académicos permi-tem aplicar na prática o que é ensinadonos bancos da faculdade. Apesar de chega-rem de diferentes cursos, os alunos da áreade ciências da comunicação estão emmaioria.

O panorama é idêntico na “Rádio Uni-versitária do Algarve” (RUA). “Uma equi-pa de colaboradores, a grande maioria docurso de ciências da comunicação”, traba-lha para colocar no ar a informação, contaPedro Gonçalves, jornalista da RUA. O ob-jectivo é “mostrar coisas que as outras rá-dios não passam”, acrescenta.

A ideia parece fazer eco na frequência da“Rádio Universitária do Minho” (RUM).“A rádio tem que se reinventar”, afirma odirector de antena da RUM. Rui Torrinhaacredita que “o papel da rádio universitá-ria é ser transgressora da ideia de rádioformatada que hoje se vive e que não é anossa forma de funcionar”. Nos 18 anos deexistência a RUM tem apostado “no im-previsto, no directo, caso contrário, as pes-soas cansam–se e divorciam–se da rádio”.

“Primeiro contacto com a práticajornalística”

Mas nem só nas ondas hertzianas se fazjornalismo universitário. Em 1987 a Uni-versidade do Porto (UP) ganhou o “JornalUniversitário do Porto” (JUP). Segundo odirector, o objectivo é “estimular o espíritocrítico e abanar a alienação generalizadana comunidade académica”. Miguel Perei-ra acredita que “a principal vantagem dojornalismo universitário é ter tudo o quepreciso ao dispor”. Os colaboradores dojornal são estudantes, o que permite teruma visão abrangente sobre todos os te-mas prioritários na agenda, como o ensinosuperior, a academia e a UP.

Apesar dos diferentes meios e da distân-cia geográfica, os órgãos académicos parti-

lham características. Ainda que alguns in-tegrem jornalistas profissionais nas redac-ções, a maioria é composta exclusivamen-te por estudantes, que planificam e execu-tam todo o trabalho. Também as temáticasabordadas são semelhantes. Considerandoo público a que se dirigem a aposta é clara-mente ganha em temas de academia e en-sino superior. A região onde crescem étambém um assunto privilegiado.

As novas tecnologias exportaram para oonline os meios de comunicação, uma ten-dência que se alastrou aos media académi-cos. O jornal online “Urbi et Orbi”, afecto àUniversidade da Beira Interior (UBI) co-meçou a funcionar em 2000. Orientadospor um jornalista profissional que organi-za a redacção, os estudantes têm no “Urbi”um “primeiro contacto com a prática jor-nalística”, de acordo com o director. JoãoCanavilhas aponta como objectivos “fun-cionar como um laboratório para os alu-nos de Ciências da Comunicação e divul-gar o que acontece na UBI”. “Queremos fu-gir um pouco à agenda habitual e conse-

guir trazer assuntos novos”, acrescenta.

Jornalismo de “trazer por casa”Também em Coimbra o jornalismo uni-

versitário marca presença. Na Escola Su-perior de Educação de Coimbra a ESEC TVdesenvolve diversos trabalhos dos quais aface mais visível é o programa semanal naRTP2. O director do projecto, FranciscoAmaral, explica que “a intenção foi pro-porcionar aos alunos a verdadeira expe-riência prática e não a sua simulação”. Aequipa conta alunos e estagiários curricu-lares de Comunicação Social e Comunica-ção e Design Multimédia. O futuro passapela aposta em novas plataformas, como aTV–mobile, a Televisão Digital Terrestre eum portal de comunicação na WEB.

Na Associação Académica de Coimbra, aRádio Universidade de Coimbra (RUC)emite 24 horas por dia o produto do traba-lho dos cerca de cem sócios em actividade.Também a tvAAC tem dado a conhecer nosúltimos quatro anos a academia e univer-sidade através dos seus ecrãs.

Netos de Gutenberg

Vivemos num tempo em que o sentidodo humano se vai perdendo, asfixiado porduas forças contraditórias. Por um lado,assistimos ao esmagamento do indivíduopela força de atracção da nossa necessi-dade de identidade num colectivo maisou menos tribal (futebol, política, reli-gião). Por outro lado, perante as váriascatástrofes dos colectivos identitários,procuramos refúgio no esquecimento dosoutros e somos egocentricamente atraí-dos pela terapêutica hedonística. Esqui-zofrenicamente alternamos entre o Ying eo Yang.

Na nossa sociedade ultra tecnológicamuitos acreditam que os gadgets de to-dos os tipos podem contribuir para a so-lução desta antonímia, favorecendo a sín-tese dos contrários. O problema é sermosna realidade um colectivo de seres sós: re-conhecemo–nos como membros da triboiPhone (o gadget dos gadgets, no dizerda revista Time), mas ao mesmo tempoprocuramos refúgio no seu browser, namúsica, isolando–nos dos que nos sãopróximos.

Um sintoma claro desse nosso isola-mento no meio das multidões é o nossocomportamento quotidiano. Quando nosdeslocamos, no metro, comboio ou auto-carro de uma qualquer urbe, implodimosao som de um leitor de MP3 ou na leiturade um livro de bolso. Lemos uma páginahoje, outra amanhã. Não interessa tanto oque se lê mas mais o que se esquece. Poralguma razão os jornais gratuitos têmtanto sucesso. Mas nem sempre foi assim.Gutenberg criou as condições para a par-tilha do saber e da cultura. Das prensasdo vinho à prensa das letras, à imprensa.Da ignorância ao saber e memória parti-lhadas. Nos nossos dias, o projecto Gu-tenberg (http://www.gu-tenberg.org/wiki/Main_Page) prolonga aideia de partilha e renova a esperança deum conhecimento acessível a todos osque não sejam info–excluídos. Milharesde livros disponibilizados gratuitamente.

Mas este projecto não responde a umaquestão essencial do nosso tempo: quere-mos poder mudar, em qualquer altura, asnossas decisões. Queremos escolher livre-mente e não esperar por ofertas desinte-ressadas. Para isso, a Amazon coloca ho-je à disposição um novo gadget: um leitorde e–Books, jornais, tudo o que puder serapanhado na rede global, e que é apelida-do de Kindle. Deixa de ter sentido a per-gunta: quantos livros podemos transpor-tar numa mão? Agora ao arrastarmos onosso corpo pela cidade podemos esco-lher, pagando, como nos vamos inebriar.

Nesta sociedade de replicantes em quenos tornámos, seres biónicos sem memó-ria, precisamos urgentemente de reinven-tar Gutenberg.Ernesto Costa, professor da FCTUC

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Um problema comum a estes órgãos é afalta de um estatuto que defina as regrase garantias do trabalho dos jovens jorna-listas. O acesso à carteira profissional exi-ge que o jornalismo seja ocupação princi-pal, permanente e remunerada, o que setorna num entrave aos estudantes para aobtenção da mesma. O direito de acesso àinformação, à não discriminação no aces-so a eventos e fontes e o direito/dever desigilo profissional, garantias reservadasaos profissionais creditados ficam, desta

forma, comprometidos. Para o presiden-te do Sindicato dos Jornalistas (SJ) o es-tatuto “não tem que existir” uma vez queos estudantes “não se encontram investi-dos de responsabilidade social; e não es-tão obrigados a deveres profissionais eéticos nem se subordinam a um códigodeontológico”. No entanto, Alfredo Maiaconsidera que não cabe ao SJ “definirnem planear nada”, uma vez que “essepapel é dos jovens activistas da imprensado ensino superior”.

Jornalistas sem estatuto

i Crónica

15 de Janeiro de 2008, 3ª feira MMEEDDIIAA A CABRA 15

Page 16: A CABRA – 176 – 15.01.2008

Nichols – da subtileza ao gratuito

“Jogos de Poder” é, pois, a última novidade fílmicado realizador do subtilmente mordaz “Closer – Pertodemais”. Baseado em factos verídicos, este seu últimotrabalho relata a história de um congressista do Texasnos anos 80, Charlie Wilson (Tom Hanks), que foi oresponsável pelas toneladas de armamento cedidoclandestinamente ao Afeganistão, para o combate àameaça soviética em plena Guerra Fria.

Festas, mulheres, bebida, dinheiro e política são,para Wilson, elementos que naturalmente coexisteme, por isso, mesmo as decisões ditas “mais importan-tes” são tomadas entre apalpões à socapa (valeu o tra-seiro da Júlia Roberts estar presente) e malabarismosverbais que tocam sempre o suborno ou a ameaça.

“Jogos de Poder”, comparativamente ao que temosvisto de Nichols, é um filme extremamente básico. Orealizador pretende, de facto, fazer passar uma men-sagem mas que, infelizmente, é gritada a cada segun-do de filme. Ora, os espectadores que ainda tenhamuma réstia de neurónios comunicativos facilmente se

desiludirão com a gratuitidade da película. Para alémdo objectivo óbvio de Nichols pretender comparar arealidade política dos anos 80 com a de hoje, estabe-lecendo um paralelismo, o realizador não fugiu ao cli-ché de mostrar os soviéticos como a eterna ameaçavermelha, inimigo legítimo dos EUA, nem da heroici-dade teimosamente colocada em todas as frases pro-feridas por norte–americanos. Ainda que para um fil-me de toque caricatural, enfastia. O já conhecidocompositor James Newton Howard (“A Vila”) ficou,também ele, apagado no meio de tanto desleixo.

No entanto, tire–se o chapéu às cenas da “intimida-de” política, a todo o motor que faz as coisas aconte-cerem, felizmente abrilhantadas pelo incomparávelSeymour Hoffman no papel de Gust – “Gus”, emamericano.

Cláudia Morais

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2|5

Ground Zombie

Nova Iorque, 2012. Robert Neville (Will Smith) é oúnico sobrevivente da espécie humana, e vive no“Ground Zero” de uma epidemia resultante dumacura do cancro. Este vírus transformou toda a raçahumana em estranhas criaturas que misturam ca-racterísticas de zombies e vampiros. Alérgicos à luzsolar, são criaturas extremamente rápidas e fortes.

Neville é um cientista obcecado em encontrar a cu-ra para o vírus. Durante o dia caça com a sua cadelae passa o tempo numa Nova Iorque deserta. À noitefecha–se em casa, e é a vez dos “infectados” saírem àrua.

A ideia de alguém sozinho na cidade de Nova Ior-que completamente abandonado, é por si só fasci-nante, e é bem explorada na primeira parte do filmepor Francis Lawrence (realizador de Constantine).Do outro lado da câmera, Will Smith correspondecom uma interpretação sólida e equilibrada o sufi-ciente para tornar o argumento credível.

Remasterizado em formato digital, o filme pode

ser visto com uma qualidade de imagem ímpar, com-patível com efeitos visuais bastante eficazes na ca-racterização de uma cidade vazia filmada na perfei-ção por Lawerence.

A segunda (e última) parte (simplificando um pou-co a estrutura do filme) é um pouco mais sombria, eé aqui que está o seu calcanhar de Aquiles: O filmecaminha para o fim a uma velocidade estonteante, elança uma série de ideias que são sub–exploradas,ideias que poderiam acrescentar mais qualquer coi-sa ao filme, tornando-o um pouco mais longo e ain-da melhor.

Contudo, de uma forma geral, podemos conside-rar que a história foi bem conseguida e parece–meque se vai tornar num dos filmes de referência do gé-nero...

Rafael Fernandes

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4|5

16 A CABRA AARRTTEESS FFEEIITTAASS 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

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A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

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Originária da Irlanda do Norte, esta banda é consti-tuída por Tim Wheeler (guitarrista e vocalista), MarkHamilton (baixo) e Rick McMurray (bateria). Até hápouco tempo teve um quarto elemento que esteve noveanos no grupo, a bela Charlotte Hatherley (vocalista eguitarrista), que partiu para uma carreira a solo.

Os Ash conseguem inovar sem alterar muito a sua so-noridade desde 1992, sendo esta conotada como brit-pop, grunge ou punk–pop. Ao contrário de todas a ban-das que quando têm um álbum bem sucedido se põem ainventar novos sons à luz do sucesso, a banda de TimWheeler opta por melhorar o que já sabe. E este álbum,“Twilight of the Innocents” é a prova dessa atitude.

O álbum é todo um misto de energia e melodia numamistura de guitarra, bateria e instrumentos clássicos co-mo o piano e o violino. O single “You Can’t Have It All”transmite a sensação de segurança para quem duvida daqualidade deste trio de músicos. Tive a sorte de ver osAsh no festival Sudoeste 2004, a tocar de dia perantecinco mil pessoas, o que num festival como o Sudoesteé muito pouco e ainda com problemas de som. A bandade Tim Wheeler presenteou–nos nesse fim de tarde comum concerto fantástico como que se estivessem a tocarperante milhões de pessoas, sem problemas nenhuns,mantiveram a mesma energia e amor pela música queencontramos nas bandas em início de carreira.

Continuando com o álbum, “Twilight of the Innocen-ts”, ouvindo-o de início ao fim, começamos com umacanção cheia de energia “I Started a Fire”, passando pormelodias como “Polaris”, acompanhada por piano e vio-lino, que faz desta uma das melhores músicas do álbuma par de “Shatered Glass”, que lembra Muse em iníciosde carreira. Este álbum termina com “Twilight of the In-nocents” que junta uma melodia clássica com o podercaracterístico da banda, sendo este o fim perfeito deuma etapa na carreira destes três músicos muito talen-tosos.

Este é o último álbum dos Ash. A banda não vai aca-bar, mas e como afirmam, a maneira de as pessoas ou-virem música mudou e eles têm que acompanhar essamudança, por isso os futuros trabalhos irão sair em sin-gles.

Rui Velindro

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“Cal” tal como a vida é feito de pedaços. Pedaços ficcionados de uma existênciareal. Uma existência que dói e faz doer, como toda a escrita de José Luís Peixoto,mas que por vezes também abre brechas a sorrisos. Na obra, esses pedaços encai-xam–se através de uma circunstância da vida, a velhice, vivida no espaço rural. 17contos, três poemas e uma peça de teatro são, assim, unidos pelo passar do tempo.

O viver com a constante presença da morte, a ausência dos que partem, a soli-dão, os laços que se criam e que se rompem ao longo da vida, o lidar com um cor-po que cede ao peso da idade e a admiração de mais um dia são algumas das ques-tões presentes em quase todos contos. Estes textos, alguns já publicados em órgãosde imprensa, têm como espaço de acção o Portugal fora das cidades. Neles encon-tram–se relatos sobre rituais e adereços do quotidiano rural, sentindo–se a cadavirar de página uma viva ingenuidade não conspurcada pelos valores cosmopolitas.

A peça de teatro, incluída na obra, percorre os mesmos caminhos. Levada à cenapelo Teatro Meridional em 2006 e reposta no ano seguinte, “À manhã”, cujas per-sonagens todas têm mais de 70 anos, é a prova de que o amor também tem lugarna terceira idade. Sobrevive à decadência física. E, se o deixarem, vive ainda commais força. Numa aldeia algures no Alentejo, espaço já tão desertificado, mas ain-da cheio de afectos, a peça de teatro retrata o à manhã de todos os dias de cinco

personagens que povoam um lugar que se esvai no tempo. Através de uma linguagem impregnada de um léxi-co regional, “À Manhã” incorpora uma moldura cénica, habitada por pessoas reais que se sujeitam a partidase chegadas. E que se limitam a viver uns para os outros.

Pelo meio, surgem os poemas, também eles detentores de uma simplicidade gritante, carregando nos seusversos a sapiência de um qualquer avô, das mulheres de 80 anos ou de quem corre livre nas ruas.

Seja nos contos, nos poemas ou na peça de teatro a mão de José Luís Peixoto roda a maçaneta de uma por-ta, que nos deixa entrever um retrato da cor da terra, extraída das aldeias portuguesas, e da vida, à qual mui-tos se sujeitam. Um ano depois do romance “Cemitério de pianos”, “Cal” é, em cada linha, as rugas que brotamna pele como sinais de muito caminho já percorrido. Raquel Carvalho

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LER

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Foi, sem dúvida, uma das mais aguardadas películas de 2007 e, após dezoitotemporadas no ar, Os Simpsons chegaram finalmente ao cinema.

A transição do pequeno para o grande ecrã é sempre algo muito complicado dese fazer e este caso em particular não foge à regra. Apesar de ter um argumentobastante mais elaborado do que os tradicionais episódios de vinte minutos, há quereconhecer que, no fundo, estamos a assistir a mais um episódio dos Simpsons “es-ticado” ao máximo.

Quando os membros dos Green Day vêem o barco onde actuam ser diluído nopoluído lago de Springfield, durante uma performance na cidade, as atenções vol-tam–se para o excesso de detritos lançados no local. O alerta é dado pela volunta-riosa Lisa, pródiga filha de Marge e Homer. Quimby, o mayor da cidade decretaque o rio deve ser despoluído o mais depressa possível. Contudo, o “distraído” Ho-

mer acaba por causar um desastre ambiental, movido pela devoção ao seu mais re-cente porco de estimação. O acidente chega rapidamente aos ouvidos da Casa Bran-ca, que considera Springfield a cidade mais poluída dos EUA. A Agência de Protec-ção Ambiental é mobilizada para que o local seja imediatamente isolado por uma re-

doma gigante, trancando os habitantes da cidade no interior da mesma. É claro que apenas Homer e Bart po-dem salvar a cidade. Na tentativa de se tornarem heróis reside todo o virtuosismo da película.

A trama está longe do brilhantismo dos mais geniais episódios da série, contudo consegue prender o espec-tador do início ao final. Quanto às piadas, essas não defraudam minimamente as expectativas dos amantes damais americana das famílias. Cada piada é minuciosamente preparada e as mensagens subliminares são pordemais deliciosas. A estética da animação mantém o purismo do 2D, e que saudades da animação 2D, numaaltura em que a animação é sinónimo de bonecos repletos de arestas.

Importa referir os extras incluídos no dvd, entre os quais se destacam algumas cenas cortadas da versão fi-nal e um final alternativo. Habituámo–nos a ver os Simpsons desde sempre num patamar qualitativo tão ele-vado que agora o filme parece algo menor, mas analisando cuidadosamente estamos perante uma obra muitoboa e de cariz obrigatório, não fosse ela ter a assinatura dos geniais Matt Groening e James L. Brooks, que nosgarantem “rambóia” pela certa!

André Tejo

VER

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15 de Janeiro de 2008, 3ª feira AARRTTEESS FFEEIITTAASS A CABRA 17

OUVIR

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Sob nuvens carregadas, Aveiroespelha melancolia e deixa–seenvolver na rotina. A CABRAfoi ver o que se esconde para

lá da cortina cinzenta. Por Wnurinham Silva

O cenário que vemos nesta altura é quaseo oposto do que vivemos nos dias quentesde Verão. Hoje, tentando fugir do frio, pou-cas são as pessoas que passeiam pelas lar-gas ruas da cidade. Muitos são aqueles quese refugiam nas pastelarias que logo naporta arrebatam os nossos sentidos, fazen-do–nos rodopiar numa espiral de sensa-ções. Ao ambiente quente e acolhedor dapastelaria “Gato Preto” junta–se uma ten-tação quase que irresistível de devorar osovos–moles, as raivas, os queques de cho-colate, as regueifas, e tantos outros docesque parecem apelar à nossa gula constante-mente.

Mas abandonemos as doces tentações edeixemo–nos levar pelas calçadas que nosconduzem ao fórum de Aveiro. Pelo cami-nho, a atenção prende–se na Ria de Aveiroque se estende por longos quarenta e cincoquilómetros. Os belos moliceiros, atracadosà margem, parecem mostrar a cumplicida-de fortalecida durante anos com aquela queparece ser a Veneza de Portugal. Hoje emdia, o centro da cidade alberga edifícios no-vos, de uma arquitectura moderna e quaseque formal.

Hoje em dia, o comércio em Aveiro émuito variado. Mas, desde sempre, a ópti-ma situação geográfica de que beneficia semostrou propícia às pescas e à salinagem. Aprodução do sal, com utilização de técnicasmilenares, é ainda uma das actividades tra-dicionais mais características de Aveiro.

Continuando o percurso, avistamos deum lado a imponente Sé Catedral de Avei-ro, fundada em 1423, e do outro lado o mu-seu Santa Joana Princesa, fundado em 1911

para abrigar peças de arte recolhidas de ca-sas e comunidades religiosas de vários pon-tos do País. Para além destas duas obras,encontramos em Aveiro outros exemplaresclássicos da arquitectura religiosa manei-rista e barroca como a Igreja de São JoãoEvangelista, também conhecida como Igre-ja das Carmelitas.

Aveiro é uma cidade que apaixonariaqualquer amante do mar. Pergunto–me oque diriam da fantástica Reserva Natural

das Dunas de São Jacinto, uma área desti-nada à protecção de habitats, flora e faunaselvagens, com cerca de 700 hectares, e oque sentiriam perante a imensidão das pra-ias de Aveiro. Verdadeiros centros turísti-cos, as praias aveirenses fazem–se acompa-nhar por espaços de restauração que ser-vem o melhor do mar. Sem falar da bela ecolorida paisagem com que nos deparamoscada vez que vamos em direcção a zonas co-mo a Costa Nova.

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O rio Douro oferece àquele que se atrever a explorá–lo uma beleza ímpar, vinho e outrossabores. A paisagem que envolve o vale do Douro pode ser explorada pelo rio, através debarcos que fazem travessias turísticas, ou pelos carris através dos comboios históricos.Uma vez chegados às montanhas de xisto cavadas pelo rio e transformadas pelo homem,podem ver–se as vinhas que fazem parte da lista do Património da Humanidade promul-gada pela UNESCO.

As quintas abrem as suas portas aos visitantes e oferecem, em alguns casos, alojamento,tal como provas de vinho. As uvas que abundam por aqui e ali fazem pensar na quantida-de de diferentes especialidades de vinhos que se vão fazendo pelo Alto Douro vinhateiro. ARota do Vinho do Porto está dentro da primeira região demográfica demarcada de vinhosdo mundo, desde o século XVIII. A região demarcada de vinhos do Douro está dividida emtrês áreas: Baixo Corgo, o Cima Corgo e o Douro Superior. A demarcação vem no intuito deevitar a falsificação do vinho do porto com uvas de outras regiões. Cada zona tem eventospróprios de promoção da gastronomia e tradições. A festa da vindima é sem dúvida o pon-to alto das festas. Nesta altura, no Douro vinhateiro pode–se participar nos diversos pro-cesso da produção vinícula. O laboratório de sabores está incluído no programa da festa econta com a prova dos vinhos, dos doces e queijos típicos.

Há pelo menos 600 produtores de vinhos mas apenas 49 integram a rota que vive de to-da uma cultura à volta da mais antiga zona vinhateira do mundo.

Carla Santos

��������������������������������������������������Quem é que anda nu na rua em pleno mês de Janeiro? Será que é possível um país estar

em festa durante os próximos dias até o fim do mês? Não é o frio do primeiro mês do anoque impede de viajar e aproveitar os eventos e festivais que se realizam um pouco por todoo globo.

No arquipélago filipino, na localidade de Aklan, realiza–se anualmente um festival emhonra de Santo Nino. A festa chamada de Ati–Atihan começa no início do mês e termina noterceiro domingo e é considerada a mãe de todas as festas da cultura filipina. Durante duassemanas pode assistir–se a procissões católicas e pagãs, casamentos e danças tribais.

Já na península Ibérica a sugestão recai sobre La Bombarrada, em San Sebastian. Autên-ticos exércitos rivais de tocadores de tambores (representantes de diferentes sociedadesgastronómicas) em marcha durante 24 horas são os ingredientes necessários para uma dasfestas mais barulhentas de sempre.

Já no outro lado do mundo, milhares de homens aproveitam o Hakada Matsuri para an-darem nus na rua! É um festival de origem xintoísta, um ritual de purificação e um teste demasculinidade. Varia de cidade para cidade, mas um pouco por todo o Japão homens e ra-pazes andam e cantam sem roupa na rua, nadam nos gélidos rios e praias, tapando somen-te os órgãos genitais. Hoje, jovens do sexo masculino vão desfilar nus em Quioto até ao tem-plo de Hokai, uma das cidades mais tradicionais do país nipónico.

Carla Santos

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18 A CABRA VVIIAAGGEENNSS 3ª feira, 15 de Janeiro de 2008

Agenda mundial de eventos

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CONFISSÕES|LÍDIA JORGE* | 61 anos | ESCRITORA

Comecei a escrever porque comecei a ler muito cedo. Em criança, encontrei nos li-vros a companhia que não encontrava em mais lugar nenhum. A certa altu-ra, passei da leitura à escrita, naturalmente. E foi–me marcando como uma espécie devício até hoje. Não consigo ver–me sem a escrita. “Combateremos à Sombra” foi a obracom que mais me envolvi, exigiu que eu apostasse tudo o que sou capaz. Enquanto lei-tora, a obra que mais me tocou foi “Nada” de Carmen Laforet, uma escritora catalã. Foium livro que me abriu o mundo para a literatura e para a compreensão dos outros, so-bretudo, da solidão. As escritoras mulheres têm um tipo de aceitação diferente dos ho-mens, mas acho que isso é absolutamente marginal. As mulheres têm de escrever

aquilo que é importante escrever. Nós só pensamos se somos mulheres e maltratadas quando pensamos na aceitação. Masisso é uma fase secundária em relação àquilo que é mais importante, que é a escrita ela mesma. Preenche–me o contacto comas outras pessoas, gosto de acompanhar os escritores. Gosto muito de discutir. Procuro entender o mundo também pelaopinião que os outros têm sobre a mudança deste. As recordações mais fortes que trouxe de África, em plena guerra co-lonial, foram as pessoas a morrerem injustamente de um lado e do outro. Eram muitos mortos numa guerra completamente de-sajustada em relação ao seu tempo. Portugal foi o último país europeu a entender que o caminho era irreversível. Foi a recor-dação mais amarga que trouxe de África. A melhor coisa foi a lembrança dos alunos e da natureza. Vivi o 25 de Abril em Mo-çambique com uma alegria extraordinária. Esse anúncio, quando eu já não esperava, foi talvez dos dias mais felizes daminha vida. Uma escritora da minha condição em França ou Espanha tem cinco vezes mais leitores do que eu. E isso dá ideiade que o nosso público é pequeno e escasso. Por outro lado, é um público afectuoso. Os leitores acorrem às sessões, estãopresentes, têm estima e trocam impressões connosco. Não é um público pedante. As pessoas não discutem em Portu-gal os livros pelos seus temas, só geram polémica por más razões. Aqui confunde–se metáfora com fantasia e diz–se “é fanta-sia, não vale a pena”, considerando que não é testemunha. Entrevista por João Pimenta

*Esteve recentemente em Coimbra a apresentar o seu ultimo livro “O grande voo do pardal”

Um segundo. Foi quanto durou a passa-gem para o ano de 2008. E, ao que parece, éassim todos os anos. Não compreendo mui-to bem a histeria. Nesta altura do ano, recor-do–me sempre daqueles dias em que o Rallyde Portugal atravessava meio país a assapar.

Nunca ninguém punha a vista em cimados primeiros carros. Passavam com umabolina tal que só no programa Rotações éque os conseguíamos ver. À excepção, claroestá, daqueles cidadãos mais desprevenidos,que à procura da melhor foto do primeiroclassificado da especial, conseguiam apenaspartir o radiador do potente carro com o pe-rónio e, muitas vezes, com o rádio.

Mas não é esta a temática que me trazaqui. O prezado leitor não pode ver, masneste momento todo o meu rosto se fechou.

Enquanto muitos de nós retirávamos ogás ao espumante com um palito, a estirpemais perigosa do vírus H5N1 fazia das suas.Tocou–me o telefone. Do outro lado umavoz embargada suspirou:

- Morreu Fernão Capelo Gaivota…Ele foi um dos mais carismáticos ícones

aviários de que há memória. A meu ver, a si-tuação assume contornos dramáticos, poisGaivota sempre se mostrou atento ao evo-luir dos acontecimentos. Ele havia mesmobatido asas para os lados do Instituto Nacio-nal de Saúde Dr. Ricardo Jorge, procurandoinformações precisas sobre formas de pre-venção eficazes.

“Como era inconfundível o seu bater deasas”, afirmou consternada Águia Vitória.“Nas imensas vezes que voámos juntos, poressa costa afora, partilhámos experiênciasinesquecíveis. O Fernão era, realmente, umamante da liberdade! Ainda tenho presentea imagem do Gaivota a esvoaçar, na madru-gada de Abril, de cravo vermelho no bico...”

Outra ave com quem privava, nas suasviagens pela América do Sul, e com a qualmantinha uma relação muito aberta era Pi-ca–pau Amarelo, que lhe fora apresentadopor Papagaio Loiro de Bico, curiosamente,Amarelo (por vezes Doirado). Estas duas re-ferências dos nossos céus, em declaraçõesúltimas, sobre a vida e obra deste pensadore “amigo fraterno” registaram a importânciadesta tragédia ao afirmarem que “morre, ho-je, com Gaivota, um pouco de liberdade! To-

do o seu Bando está de bico caído.” A Gaivo-ta de Tchékhov está inconsolável. Os Parda-litos do Choupal estão a receber acompa-nhamento psicológico.

E já não faz sentido realizar–se o Congres-so Internacional das Aves Migratórias. En-contro aproveitado para prestar uma senti-da homenagem ao infeliz pensador.

A sua presença seria importante na dis-cussão de novas rotas para as inevitáveis mi-grações. Ele tinha em mãos o dossiê sobre aocupação selvagem das rotas por parte deaves provindas da China, que atropelamacordos sobre o espaço aéreo internacional,com o beneplácito e indiferença da Organi-zação das Aves Unidas e da Comissão Euro-peia das aves, presidida pelo português Galode Barcelos.

Crónica por Vítor André Mesquita

15 de Janeiro de 2008, 3ª feira PPEENNUULLTTIIMMAA A CABRA 19

eLesALEMANHA: Um homem oferece

250 mil euros à mulher que aceitar ter re-lações sexuais com ele, até lhe provocarum ataque cardíaco. Rolf Eden, de 72anos, quer chegar ao paraíso depois deum último orgasmo. O alemão afirma queo gesto é uma demonstração de carinhopor todas as mulheres com quem praticousexo e já recebeu respostas de interessa-das de todo o mundo.

REINO UNIDO: Um jovem de 17 anosadormeceu como Joel Whittle e acordoucomo Big Crazy Lester. Durante uma noi-te de bebedeira, e incentivado por algunsamigos, solicitou a alteração de nomenum site e pagou a taxa de 50 libras queoficializa a operação. O Big Crazy nãopretende voltar ao nome antigo.

EUA: Dois homens foram presos de-pois de tentarem levantar um cheque desegurança social de um morto, acompa-nhados... do próprio. James O’Hare e Da-vid Dalaia, de 65 anos, levaram o corpo deVirgilio Cintrón, de 66, até ao banco paradescontar o dinheiro, mas foram impedi-dos pela polícia, que verificou tratar–sede um cadáver.

REINO UNIDO:Uma mulher de 58anos foi proibida de conduzir por circularmuito devagar. Stephanie Cole, que se-guia numa estrada à velocidade eston-teante de 16 Km/h foi interceptada pelapolícia. No carro onde seguia, Stephanieguardava um cartaz onde se podia ler “Eunão vou rápido. Se eu sou lenta demaispara si NÃO buzine, apenas ultrapasse!”

Sofia Piçarra

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tUILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

MARTHA MENDES

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Nascida em 1949 em Sá da Bandeira, Angola, Maria Cândida Pacheco, neta de umprofessor de desenho e desenhador do Instituto botânico, e filha de pais artistas, cres-ceu no mundo das artes e descobriu cedo a sua vocação. “A primeira coisa que a minhamãe fazia quando um filho nascia era pôr–lhe lápis e papel nas mãos”, conta. Viveu noLobito, Angola, durante 11 anos. Quando vem para Portugal tira um curso técnico in-dustrial, actualmente conhecido como Design.

Vocacionada para desenhar roupa, tapeçarias e cerâmicas, Maria Cândida teve o pri-meiro emprego numa fábrica de cerâmica: a “Estaco”. “Tive a sorte de ser orientadapor um engenheiro norueguês”, confessa. Dentro da cerâmica, o trabalho que faz estáligado ao desenvolvimento do produto, decoração de ambientes e estética. Ao longodos anos, a artista tem trabalhado com designers de renome.

O desenho esteve sempre presente na sua vida, tendo feito formação na área. O pai,também artista, “desenhava a pena, fazia fotografia e era um músico fantástico”, re-lembra.

A pintura é outra paixão. No entanto, nesta área a única formação que teve foi o con-tacto com a mãe.

A peça acima mistura vidrofusão, pintura e desenho, e é uma das obras de eleição daartista. Representa uma figura feminina e, segundo Maria Cândida, “foi uma loucuraque resultou numa peça agradável de se ver”.

A artista inspira–se em Salvador Dali, Kandinsky e Miró. Actualmente, é co-proprie-tária do “Chá com Pinta”, na avenida Afonso Henriques, e de um atelier de arte deco-rativa e vidrofusão, espaços que gere com o marido.

Por Alexandre Oliveira

Redacção: Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54 Fax: 239 82 15 54

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Associação Académica de Coimbra

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PUBLICIDADE Cartoon por José Miguel Pereira

Pequenos Contrastes| Maria Cândida PachecoFusão de vidro com desenho e tinta, 2008

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