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17 MAL-EDUCADOS OU HIPERACTIVOS? Adriana Campos* de atenção. Apesar de a medicação ser muito importante, pais e profes- sores têm também um papel funda- mental na redução ou eliminação da hiperactividade, mediante a aplica- ção correcta dos princípios de modi- ficação do comportamento. Todos os educadores devem sempre ter presente que a desinibição com- portamental apresentada por estas crianças não é voluntária, mas sim o resultado de uma desregulação. Este facto obriga por si só a que os gritos, ameaças e punições físicas sejam substituídos por regras explícitas, uma vez que estas são mais eficazes e menos frustrantes. Todos os esfor- ços feitos pela criança no sentido de se autocontrolar devem ser valoriza- dos, ao passo que os comportamen- tos desajustados, sempre que possí- vel, devem ser ignorados. Na sala de aula a criança deverá ocu- par a primeira fila e os professores deverão supervisionar de forma sistemática o seu trabalho. Estes deverão também autorizar a criança a levantar-se. Como o hiperactivo tem muita difi- culdade em manter a atenção, é muito importante que os professo- res lhe dêem tarefas curtas, bem definidas e bem sequencializadas. Em relação a estes alunos, os profes- sores deverão também fazer uma gestão adequada de reforços positi- vos e penalizações. Isto é, devem elogiar a criança quando esta ter- mina a tarefa e penalizá-la quando tal não acontece. Deve também ser organizada uma folha de registo para anotar os progressos do aluno. Programar actividades em que a criança possa expressar-se corporal- mente ou relaxar, de, pelo menos, meia em meia hora é também uma estratégia a adoptar. Para além de tudo o que já foi referido, resta acrescentar que uma dose extra de paciência e de auto- controlo será também fundamental para lidar eficazmente com estes “bichinhos carpinteiros”. *Psicóloga Tem um aluno com sete ou mais anos que nunca está quieto e con- centrado, responde quando não é a sua vez, não respeita as regras, inter- rompe constantemente os outros, procura gratificações imediatas e lida mal com a frustração. A acres- centar a tudo isto, concluiu, através de conversas com os pais, que este tipo de comportamento também é frequente noutros contextos. Se assim é, provavelmente a criança não apresenta os comportamentos anteriormente descritos para o desa- fiar, mas porque apesar de saber o que deveria fazer não é capaz de se controlar, ou seja, poderá apresentar uma Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA). Note- -se que esta perturbação é relativa- mente frequente, uma vez que afecta 3% a 7% das crianças em idade escolar, podendo 50% destas sofrer da doença durante toda a vida. A desatenção, a impulsividade (desinibição comportamental) e a hiperactividade são consideradas os três sintomas centrais deste distúrbio. Embora se continue a discutir qual a origem da PHDA, considerando os americanos que tem uma origem biológica e os ingleses que está rela- cionada com factores sociais e fami- liares, o que é sem dúvida funda- mental é a intervenção, que deverá ser o mais precoce possível. A maior parte das crianças a quem foi detectada hiperactividade têm vantagem em ser medicadas com psicoestimulantes, uma vez que estes ajudam a ter maiores períodos “Apesar de a medicação ser muito importante, pais e professores têm também um papel fun- damental na redução ou eliminação da hiperac- tividade, mediante a aplicação correcta dos princípios de modificação do comportamento.” PSICOLOGIA AC 2PONTOS-02

Adriana Campos 17

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MAL-EDUCADOSOU HIPERACTIVOS?

Adriana Campos*

de atenção. Apesar de a medicaçãoser muito importante, pais e profes-sores têm também um papel funda-mental na redução ou eliminação dahiperactividade, mediante a aplica-ção correcta dos princípios de modi-ficação do comportamento.

Todos os educadores devem sempreter presente que a desinibição com-portamental apresentada por estascrianças não é voluntária, mas sim oresultado de uma desregulação. Estefacto obriga por si só a que os gritos,ameaças e punições físicas sejamsubstituídos por regras explícitas,uma vez que estas são mais eficazese menos frustrantes. Todos os esfor-ços feitos pela criança no sentido dese autocontrolar devem ser valoriza-dos, ao passo que os comportamen-tos desajustados, sempre que possí-vel, devem ser ignorados.

Na sala de aula a criança deverá ocu-par a primeira fila e os professoresdeverão supervisionar de formasistemática o seu trabalho. Estesdeverão também autorizar a criançaa levantar-se.

Como o hiperactivo tem muita difi-culdade em manter a atenção, émuito importante que os professo-res lhe dêem tarefas curtas, bemdefinidas e bem sequencializadas.Em relação a estes alunos, os profes-sores deverão também fazer umagestão adequada de reforços positi-vos e penalizações. Isto é, devemelogiar a criança quando esta ter-mina a tarefa e penalizá-la quandotal não acontece. Deve também serorganizada uma folha de registopara anotar os progressos do aluno.Programar actividades em que acriança possa expressar-se corporal-mente ou relaxar, de, pelo menos,meia em meia hora é também umaestratégia a adoptar.

Para além de tudo o que já foireferido, resta acrescentar que umadose extra de paciência e de auto-controlo será também fundamentalpara lidar eficazmente com estes“bichinhos carpinteiros”.

*Psicóloga

Tem um aluno com sete ou maisanos que nunca está quieto e con-centrado, responde quando não é asua vez, não respeita as regras, inter-rompe constantemente os outros,procura gratificações imediatas elida mal com a frustração. A acres-centar a tudo isto, concluiu, atravésde conversas com os pais, que estetipo de comportamento também éfrequente noutros contextos. Seassim é, provavelmente a criançanão apresenta os comportamentosanteriormente descritos para o desa-fiar, mas porque apesar de saber oque deveria fazer não é capaz de secontrolar, ou seja, poderá apresentaruma Perturbação de Hiperactividadee Défice de Atenção (PHDA). Note--se que esta perturbação é relativa-mente frequente, uma vez queafecta 3% a 7% das crianças emidade escolar, podendo 50% destassofrer da doença durante toda avida. A desatenção, a impulsividade(desinibição comportamental) e ahiperactividade são consideradas ostrês sintomas centrais deste distúrbio.

Embora se continue a discutir qual aorigem da PHDA, considerando osamericanos que tem uma origembiológica e os ingleses que está rela-cionada com factores sociais e fami-liares, o que é sem dúvida funda-mental é a intervenção, que deveráser o mais precoce possível.

A maior parte das crianças a quemfoi detectada hiperactividade têmvantagem em ser medicadas compsicoestimulantes, uma vez queestes ajudam a ter maiores períodos

“Apesar de a medicação ser muito importante,pais e professores têm também um papel fun-damental na redução ou eliminação da hiperac-tividade, mediante a aplicação correcta dosprincípios de modificação do comportamento.”

P S I C O L O G I A

AC

2PONTOS-02