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Cibercultura e a Inteligência Coletiva. Leandro Wanderley Couto da Silva Bacharelando em Sistemas de Informação. Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Alagoas IFAL. [email protected] Resumo Há muito tempo já foi falado que a internet iria tomar conta das rotinas das pessoas e alguns pensadores contemporâneos iniciaram pesquisas que ainda hoje tem se mostrado válidas para a sociedade atual. Dentre eles podemos destacar Pierre Levy e sua obra Cibercultura, publicada em 1997, que de forma única, o autor apresenta e defende o ciberespaço e a Cibercultura. Nela o autor argumenta que a sociedade se reconecta com ela mesma, onde há uma inteligência coletiva, proveniente da interação e da relação que as pessoas passam a ter, por meio da internet. Dividida em três partes, a obra, apresenta Definições, Proposições e Problemas adventos do ciberespaço e da Cibercultura. E é nessa última parte, onde Pierre Levy foca seu olhar sobre as contradições inerentes ao fenômeno da Cibercultura, com intuito de apresentar os conflitos de interesse que existem, nas diversas formas sobre o que vem a ser realmente tecnológico. Conflitos que podem se manifestar em diferentes setores da sociedade: o midiático, o mercadológico, o estatal entre outros. O escritor expõe também “O ponto de vista do bem público: a favor da inteligência coletiva”, onde ele reafirma a força e a virtude do ciberespaço, afirmando que ele é capaz de se erguer mesmo em meio a atividades participativas, espontâneas e descentralizadas. Indo de frente com argumentos que apontam excessivamente críticos sobre os riscos de que o virtual possa substituir o real (crítica da substituição) e sobre o ciberespaço servir, tão somente, ao estabelecimento de novas dominações (crítica da dominação). Levy tenta mostrar que a Cibercultura é um elemento particular, do que ele chama de, a terceira etapa da evolução humana. PALAVRAS CHAVE: Cibercultura, Ciberespaço, Inteligência Coletiva.

Cibercultura e a Inteligência Coletiva - Leandro Wanderley

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Artigo escrito para aquisição de nota na material de Filosofia, no curso de Sistemas de Informação do IFAL. O texto trata da cibercultura, o ciberespaço que serve de suporte para tal, alguns problemas adventos da temática e alguns casos de controle da internet, como o da China.

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Cibercultura e a Inteligência Coletiva.

Leandro Wanderley Couto da Silva

Bacharelando em Sistemas de Informação.

Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL.

[email protected]

Resumo

Há muito tempo já foi falado que a internet iria tomar conta das rotinas das pessoas e

alguns pensadores contemporâneos iniciaram pesquisas que ainda hoje tem se

mostrado válidas para a sociedade atual. Dentre eles podemos destacar Pierre Levy e

sua obra Cibercultura, publicada em 1997, que de forma única, o autor apresenta e

defende o ciberespaço e a Cibercultura. Nela o autor argumenta que a sociedade se

reconecta com ela mesma, onde há uma inteligência coletiva, proveniente da interação

e da relação que as pessoas passam a ter, por meio da internet. Dividida em três

partes, a obra, apresenta Definições, Proposições e Problemas adventos do

ciberespaço e da Cibercultura. E é nessa última parte, onde Pierre Levy foca seu olhar

sobre as contradições inerentes ao fenômeno da Cibercultura, com intuito de

apresentar os conflitos de interesse que existem, nas diversas formas sobre o que

vem a ser realmente tecnológico. Conflitos que podem se manifestar em diferentes

setores da sociedade: o midiático, o mercadológico, o estatal entre outros. O escritor

expõe também “O ponto de vista do bem público: a favor da inteligência coletiva”, onde

ele reafirma a força e a virtude do ciberespaço, afirmando que ele é capaz de se

erguer mesmo em meio a atividades participativas, espontâneas e descentralizadas.

Indo de frente com argumentos que apontam excessivamente críticos sobre os riscos

de que o virtual possa substituir o real (crítica da substituição) e sobre o ciberespaço

servir, tão somente, ao estabelecimento de novas dominações (crítica da dominação).

Levy tenta mostrar que a Cibercultura é um elemento particular, do que ele chama de,

a terceira etapa da evolução humana.

PALAVRAS CHAVE: Cibercultura, Ciberespaço, Inteligência Coletiva.

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Abstract

There has long since been told that the internet would take care of the routines of

people and some contemporary thinkers began research that today has proven valid

for today's society. Among them we can highlight Cyberculture Pierre Levy and his

work, published in 1997, that the only way the author presents and defends cyberspace

and Cyberculture. In it the author argues that society reconnects with itself, where there

is a collective intelligence, coming from the interaction and the relationship that people

now have, through the internet. Divided into three parts, the book presents Definitions,

Propositions and Issues advent of cyberspace and Cyberculture. And it's that last part,

where Pierre Levy focuses his gaze on the phenomenon of Cyberculture inherent

contradictions, in order to present conflicts of interest that exist in the various forms of

what comes to be really technological . Conflicts which may occur in different sectors of

society: the media, the market, the state and others. The writer also states "The point

of view of the public good: in favor of collective intelligence," where he reaffirms the

strength and virtue of cyberspace, stating that he is able to rise even amidst

participatory, decentralized and spontaneous activities. Going forward with arguments

that link too critical about the risks that the virtual can replace the actual (critical

replacement) and about cyberspace serve solely to the establishment of new

dominations (critique of domination). Levy tries to show that Cyberculture is a particular

element of what he calls the third stage of human evolution.

KEYWORDS: Cyberculture, Cyberspace, Collective Intelligence.

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1 – Introdução

No fim da década de 90 a humanidade passou a ter acesso a uma nova forma

de comunicação, diferente do telefone e das cartas convencionais, a “internet1” o que

proporcionou uma mudança nos hábitos e nas formas de realização de muitas

atividades. Ela desde o princípio carrega uma grande quantidade de recursos e

serviços e os disponibiliza em todo o mundo, incluindo os documentos interligados por

meio de hiperlinks2 da World Wide Web 3 (Rede de Alcance Mundial), e uma

infraestrutura para dar suporte aos correios eletrônicos e serviços como comunicação

instantânea e compartilhamento de arquivos. Conforme FRAGOSO, et. al (2010) os

anos 2000 compõem o período em que “a internet encontra-se como mais um artefato

midiático e comunicacional, inserido no cotidiano de diferentes sociedades”.

Dessa maneira todas as pessoas passaram a ter acesso a quase todos os

conteúdos independente do local em que ela se encontra. Mas tal avanço haveria de

ser visto em alguns lugares como negativos e passou a preocupar alguns líderes

mundiais. A partir deste fato passou-se a reconhecer que as tecnologias advindas da

internet proporcionaram uma mudança sociocultural ao redor do planeta. O que foi

chamado de Cibercultura.

O que se pode afirmar por Cibercultura é que ela se apresenta como forma

sociocultural que surge de uma relação de trocas entre três fatores a sociedade, a

cultura e as novas tecnologias, graças à convergência das telecomunicações com a

informática. É também um termo utilizado na definição dos relacionamentos sociais

das comunidades no espaço eletrônico virtual, e com isso popularizando e ampliando

a utilização da Internet e outras tecnologias de comunicação, possibilitando assim

maior aproximação entre as pessoas ao redor do mundo. Sendo assim, a Cibercultura

é a cultura contemporânea fortemente marcada pelas tecnologias digitais e está

presente na vida cotidiana de cada indivíduo.

Porém o que se pretende aqui é dialogar sobre as verdadeiras razões que

levam países e líderes mundiais temerem a Cibercultura a ponto de tentar ao máximo

manipulá-la ou esmaecer a sua existência dentro de algumas sociedades modernas. O

medo provocado pelo “poder” da Inteligência Coletiva traz à tona a ditadura e a tirania

vivenciada pela população mundial, em algumas décadas ou séculos passado.

1 Internet é o maior conglomerado de redes de comunicações em escala mundial, ou seja, vários computadores e

dispositivos conectados em uma rede mundial e dispõe milhões de dispositivos interligados pelo protocolo de comunicação TCP/IP que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados. 2 Hiperlink é uma referência dentro de um documento em hipertexto a outras partes desse documento ou a outro

documento. 3 World Wide Web, também conhecida como Web e WWW, é um sistema de documentos em hipermídia (hipermédia)

que são interligados e executados na Internet.

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2 – Desenvolvimento

Com o crescimento da internet e a popularização da troca de informações e

comunicação em massa através dela, era evidente que a Cibercultura ocupasse um

lugar de destaque em meio ao turbilhão de dados que trafegam de um local para o

outro.

Mas tudo isso só foi possível graças a construção de um “ciberespaço” que

proporcionasse para os seus usuários uma garantia de entrega de informações e

liberdade de escolha ao conteúdo que mais agrada.

“O termo ciberespaço foi criado pelo escritor de ficção científica William

Gibson, sendo projetado em seu livro Neuromancer, de 1984. Nesse, o

autor trata de um real que se constitui por meio do engendramento de

um conjunto de tecnologias, enraizadas de tal forma na vida em

sociedade que lhe modifica as estruturas e princípios, transformando o

próprio homem, que de sujeito histórico torna-se objeto de uma

realidade virtual que os conduz e determina”, (GONTIJO et. al., 2006).

Podemos de forma geral definir o ciberespaço como sendo um espaço

existente no mundo de comunicação em que não é necessária a presença física do

homem para constituí-la como fonte de relacionamento. É o espaço virtual para a

comunicação disposto pelo meio de diversas tecnologias. Permitindo que cada um

possa usar ele da melhor forma que precisar, dando ao seu usuário a sensação de

liberdade, e que segundo LÉVY (1999, p. 85):

“Podemos definir duas grandes atitudes de navegação opostas,

cada navegação real ilustrando geralmente uma mistura das duas. A

primeira é a “caçada”. Procuramos uma informação precisa, que

desejamos obter o mais rapidamente possível. A segunda é a

“pilhagem”. Vagamente interessados por assuntos, mas prontos a nos

desviar a qualquer instante de acordo com o clima do momento, não

sabendo exatamente o que procuramos, mas acabando sempre por

encontrar alguma coisa, derivamos de site em site, de link em link,

recolhendo aqui e ali coisas de nosso interesse”.

Mas na internet não existe um controle real e perfeito de quem forneceu a

informação, ou como ela chegou ao local que está, pois neste ciberespaço todos

somos escritores e leitores. Ao mesmo tempo em que esses dados existentes na rede

possibilitam ao mundo, diretamente ou indiretamente, um fluxo contínuo de capital,

conhecimento e cultura, favorecem também o surgimento de comunidades que se

integram por meio de contatos informacionais para atuar em escala global com relação

aos problemas existentes nas sociedades reais. Ou seja, cria também um ambiente

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propício para o fortalecimento dos movimentos sociais que irão contestar e propor

alternativas para os modelos socioeconômicos em que estão inseridas.

E é desse tipo de agrupamento virtual que as grandes potências mundiais em

alguns países socialistas ou militaristas temem. Pierre Lévy em seus estudos afirmou

que qualquer movimento social da Cibercultura e crescimento o crescimento inicial do

ciberespaço são orientados por três princípios: a interconexão, as comunidades

virtuais e a inteligência coletiva (1999, p. 127).

A interconexão é o que já acontece com a própria internet em si, é a garantia

de que máquinas de diversas partes estejam interligadas num ambiente único, que

conhecemos bem, o ciberespaço, “a interconexão constitui a humanidade em um

contínuo sem fronteiras (...) tece um universo por contato”, afirma LÉVY (1999, p.

127).

O segundo pilar citado por Lévy se estabelece a partir do momento que as

interconexões são formadas, pois grupos unidos por compartilharem do mesmo

interesse passam a trocar informações, cooperando entre si por algo maior,

independente de suas proximidades geográficas. As relações sociais dentro das

comunidades virtuais são carregadas de vontades e emoções, pois aqui cada

integrante tem voz e pode independente de suas responsabilidades como indivíduo ou

da opinião pública expor suas ideias. E esse movimento de ideias vai gerar enfim uma

intervenção social.

Por fim, mas não menos importante, temos o terceiro pilar, a chamada

inteligência coletiva que

“é um conceito que descreve um tipo de inteligência compartilhada que

surge da colaboração de muitos indivíduos em suas diversidades. É

uma inteligência distribuída por toda parte, na qual todo o saber está na

humanidade, já que, ninguém sabe tudo, porém todos sabem alguma

coisa”. 4

Enfim, Inteligência Coletiva é uma inteligência distribuída, valorizada e

coordenada em tempo real, resultando numa mobilização efetiva das competências,

ou seja, é quando a comunidade científica, as empresas e os indivíduos propriamente

ditos são capazes de trocar ideias (cooperar), confrontar pensamentos opostos

(competir) e assim gerar conhecimento, (JESUS, 2006).

E assim grandes grupos, ou as comunidades virtuais, passam a somar a

capacidade intelectual de seus membros em busca de uma universalização dos

conhecimentos adquiridos, onde pequenas contribuições de informação podem

organizar o que é preciso saber em busca de uma lógica inteligente.

4 Definição de Inteligência Coletiva extraída do livro Inteligência coletiva: Por uma antropologia do ciberespaço, de

Pierre Lévy.

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Muitos estudiosos do tema afirmam que o conceito já existia muito antes da

ação, e que a internet apenas veio para auxiliar ainda mais na construção da

inteligência coletiva. Existem três formas de se criar a inteligência coletiva, que são: a

Inconsciente, a Consciente e a Plena.

A Inteligência Coletiva Inconsciente, como o nome sugere, ocorre sem que o

usuário perceba, apenas pelo fato dele navegar na internet e deixar o seu rastro de

cliques, pois cada clique em links, figuras e preenchimento de formulário deixam

informações registradas nos servidores e softwares que fazem um verdadeiro trabalho

de mineração nesses dados, a chamada Data Mining 5, com o objetivo de reunir os

dados úteis, fornecer informações e encontrar padrões entre um clique e outro.

Já a Inteligência Coletiva Consciente ocorre em determinados grupos ou

comunidades virtuais, onde seus membros se dedicam em prol de construir e efetivar

algum conhecimento, tal modalidade se tornou comum a partir da década de 90,

podemos citar como grande fator de impulso o desenvolvimento do Linux6, o maior

sistema operacional para computadores desenvolvido de forma livre e que permite a

qualquer usuário modificar e sugerir melhorias, outros exemplos são as listas e fóruns

de discussões que se auxiliam para resolver determinado problema.

Por fim a Inteligência Coletiva Plena é aquela capaz de unir em um mesmo

ambiente a Inconsciente e a Consciente.

Mas para Lévy os meios de comunicação em geral se mostram com um alto

potencial de produção, fixação, reprodutibilidade e transporte das informações, mas ao

mesmo tempo tiram, em parte, a confiança de quando eram emitidos diretamente

pelas pessoas. A internet não produz e difunde as mensagens apenas, e sim permite

que o seus usuários possam interagir e modificar as informações. Assim a informação

está em constante processo de reorganização e permite que possam ser modificadas

de acordo com as necessidades do contexto.

E é nesse momento que alguns problemas de segurança e veracidade estão

inseridos, pois a legitimidade do conteúdo assim como a autoria do mesmo passa a

ser um fator preocupante. Quem escreveu o texto? Quem modificou um existente?

Quem moldou outro para atingir os seus interesses? E essas mudanças favorecem a

formação de grupos e comunidades virtuais, que inicialmente serviam para divulgar e

distribuir o conhecimento, mas que agora passam a manipular a informação, em boa

parte dos casos.

Além disso, essas comunidades começam a ser usadas como uma forma de

arquitetar reuniões e assembleias para organização de manifestações que na maioria

5 Data Mining é o processo de explorar grandes quantidades de dados à procura de padrões consistentes

6 Linux é um termo utilizado para se referir a sistemas operacionais que utilizem o núcleo Linux.

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das vezes possuem uma causa real e “nobre”, mas que ao final viram verdadeiros atos

de vandalismo e de descaso com o patrimônio público.

Alguns países no mundo passaram então a adotar políticas de controle e

repreensão ao acesso na internet. O grupo francês Reporters Sans Frontieres7

(Repórteres Sem Fronteiras) em 12 de Março de 2012 declarou o Dia Mundial contra a

Censura Mundial onde propõe uma internet livre e acessível para todos. Em seu site

essa comunidade virtual lista os países considerados “inimigos da internet” que

possuem grandes sistemas de filtragem e manipulação do conteúdo que pode ser

acessado pelos seus internautas, destacam-se nesta lista China, Cuba, Coréia do

Norte, Irã, Síria e outros. Além destes o grupo apresenta outra lista, com os países

“sob vigilância” que de certa forma possuem algum sistema de controle dos conteúdos

existentes na internet e é interessante ver que alguns países considerados avançados

fazem parte desta segunda lista, é o caso da Austrália, Coréia do Sul e até mesmo a

França.

Se pararmos para analisar o caso da China, por ser a censura da internet mais

conhecida e sofisticada do mundo segundo os analistas, encontramos dados

interessantes sobre esses bloqueios, no país existem pelo menos 18000 websites

bloqueados, alguns como YouTube, Facebook e Flickr, além de milhares de termos de

pesquisa em sites de busca que são totalmente proibidos. Alguns sites como

Wikipedia e Google tiveram que negociar com o governo chinês para atuarem lá, seus

conteúdos foram readaptados para serem expostos na rede chinesa e outras regras

foram impostas para que se adaptassem a realidade no país.

Todo o tráfego de internet da China chega ao país por 17 gigantescos cabos

submarinos, conectados diretamente a uma única central de controle responsável por

distribuir o acesso à grande rede no país. Por ser centralizado, o monitoramento do

conteúdo fica “menos complexo”. Assim nesta central os dados são filtrados por

Firewalls 8 e Proxys 9 do governo, dessa forma ninguém entra ou sai da China sem ser

supervisionado.

Todo esse controle ocorre de diferentes maneiras, desde as restrições de

termos em sites de busca até registro dos domínios permitidos, em alguns casos

existem restrições parciais de conteúdo, considerando que apenas parte dos sites,

como áudio, vídeo, imagens ou textos, simplesmente não são carregados. Quando

7 Reporters Sans Frontieres é uma organização não-governamental internacional cujo objetivo declarado é defender

a liberdade de imprensa no mundo. 8 Firewall é um dispositivo de uma rede de computadores que tem por objetivo aplicar uma política de segurança a um

determinado ponto da rede. 9 Proxy é um servidor intermediário que atende a requisições repassando os dados do cliente à frente.

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algum usuário insiste em tentar acessar sites bloqueados ele pode receber uma

punição total. 10

Apesar de todos os problemas a China afirma que tais medidas são

necessárias para garantir a integridade das informações, a segurança do país e ainda

a promoção de empresas de internet internas. Entre as medidas adotadas para

aumentar a proteção de informações pessoais e resguardar interesses públicos e a

segurança nacional, obriga-se os usuários da rede se cadastrem para ter acesso à

internet e que eles forneçam aos provedores as informações genuínas de

identificação. E os provedores são forçados a interromper de imediato a transmissão

de informações ilegais assim que estas sejam identificadas, apagando posts, mas

arquivando-os para reportá-los às autoridades supervisoras.

Recentemente a população chinesa usou a internet e as redes sociais

disponíveis para organizar protestos e, além disso, vários casos de corrupção no

Partido Comunista foram expostos em páginas particulares na internet. O que levou o

governo a tomar mais medidas para frear toda e qualquer forma de compartilhamento

de conteúdo que seja ofensivo a sua política.

Se compararmos todas essas informações com o que foi apresentado nas

teorias de Pierre Lévy, então podemos afirmar que o ciberespaço chinês tornou-se um

ambiente incapaz de sustentar os três pilares apresentados por ele, pois as

interconexões são restritas e fortemente monitoradas, a formação de grupos ou

comunidades virtuais é proibida, vemos que até as redes sociais são bloqueadas, e a

inteligência coletiva por mais que ocorra na forma Inconsciente será limitada ao que

pode ou não ser acessado pelos internautas.

Isso não quer dizer que outros países do mundo não mantenham seus

internautas sobre controle, mas aqueles que garantem a liberdade de uso da rede

mundial de computadores sempre estão um passo a frente dos demais. O Brasil é um

dos países que defendem a segurança na internet e não o seu controle. O país

recentemente passou por uma análise do que é realmente legal, em termos jurídicos,

de ser feito através da internet e o que pode ser considerado crime digital.

Tal estudo resultou na “Lei de Crimes na Internet” que tipifica os crimes digitais,

mas até que ponto esse projeto aprovado coloca em risco a liberdade na rede? Alguns

especialistas afirmam que ela possa ser uma ameaça aos direitos civis. Mas ainda é

cedo para tirar conclusões.

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Punição total - ele sofre represálias, tendo seu acesso completamente bloqueado por um tempo pré-determinado. Caso insista, pode receber uma “visita” de autoridades policiais.

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Outro caso de abuso e controle na internet partiu do principal país americano,

onde diversos casos de espionagem das contas dos países aliados e até roubo de

informações de grandes empresas multinacionais foram expostos.

Será que o controle realizado pela China está influenciando outras nações? A

forma utilizada para “proteger” as informações do país de ataques externos realmente

é a melhor solução?

Mas como em qualquer meio social, a Cibercultura também está ameaçada

pela capacidade que a humanidade apresenta de sempre arrumar uma forma de tirar

vantagem sobre os outros, seja pelo status ou pela força bruta e agora também

através das tecnologias. Basta saber até que ponto a inteligência coletiva será afetada

e como a sociedade vai utilizá-la nos próximos séculos.

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3 – Conclusão

Por ser a Cibercultura um movimento digital em que a liberdade de expressão

do indivíduo deve prevalecer, o que era apenas uma tendência mundial hoje é fato,

com a ajuda dos avanços nas comunicações é quase impossível imaginar que existam

países ou pessoas que não estejam inseridas numa ou noutra comunidade virtual.

E toda essa mudança na maneira de interagir também afeta o modo de pensar,

pois o conhecimento passou a ser disponível para todos, acessá-lo é mais simples e

rápido do que como seria feito na maneira convencional, em bibliotecas através de

livros. A Inteligência Coletiva trouxe novas oportunidades de adquirir o saber.

Mas nem tudo funciona desta forma e problemas oriundos deste avanço

surgiram e continuam surgindo, países como a China passam a temer a falta de

controle da sua população e iniciam uma “guerra” contra a internet, de fato eles

possuem suas razões e não deixam de ter uma verdade em seus conceitos, mas a

forma radical que realizam seus controles acaba atrapalhando a população e seus

novos costumes, o que apenas irá gerar mais descontentamento e desconfiança para

seus governantes.

Liberdade é o que todos sempre buscam, seja para pensar, para agir, para

observar ou interferir, as pessoas possuem a máquina mais eficiente e assustadora, o

cérebro, e atiça-lo ou repreendê-lo, no passado já vimos que acarretou numa

crescente de eventos mundiais revolucionários, basta saber se o uso de toda essa

Inteligência Coletiva irá de certo ajudar ainda mais na evolução da humanidade.

Nosso país é um dos que mais se preocupa com a segurança dos dados que

trafegam na rede, mas em nenhum momento ele precisou implantar uma forma de

controle das informações e conteúdos. E é por essa liberdade que em 2013 muitos

protestos populares foram as ruas, principalmente atiçados por jovens que passam a

maior parte do dia conectados uns com os outros, em redes sociais e chats11.

Aqui vemos que os princípios defendidos por Lévy para o crescimento do

ciberespaço e da Cibercultura estão em constante movimento o que com certeza irá

propiciar um avanço na sociedade brasileira.

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Chat, que em português significa conversação, ou bate-papo, é um neologismo para designar aplicações de conversação em tempo real.

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4 – Referências Bibliográficas

1. FRAGOSO, S.; RECUERO, R.; AMARAL, A. Métodos de pesquisa para

internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2011.

2. GONTIJO, C. R. B.; MENDES-SILVA, I. M.; VIGGIANO, A. R.; PAIXÃO, E. L.

Ciberespaço: Que Território É Esse? Universidade Federal do Rio Grande

Do Sul (UFRS). 2006.

3. JESUS, J. B. M.; Inteligência Coletiva, Desenvolvimento Profissional,

Tecnologias E Acesso À Informação. Universidade Federal Fluminense

(UFF). 2006.

4. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34. 1999.

5. LÉVY, P. A Inteligência Coletiva: Por Uma Antropologia do Ciberespaço.

Editora Loyola. 1998.

6. LUL, E. P. A Cibercultura como condição do Fora do Eixo. UNIPAMPA,

2013.

7. SZABÓ, I.; SILVA, R. R. G. Informação e inteligência coletiva no

ciberespaço: uma abordagem dialética. Ciências & Cognição, Vol. 11, 2007.

8. O movimento social da cibercultura. Disponível em:

http://claudiomanoel.wordpress.com/resenhao-movimento-social-da-

cibercultura/ Acesso em: 21/12/2013.

9. Ciberespaço. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciberespaço Acesso

em: 22/12/2013.

10. China aumenta restrições ao acesso à internet. Disponível em:

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11. Reporters Sans Frontieres. Disponível em: http://march12.rsf.org/en/ Acesso

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12. China. Disponível em: http://fr.rsf.org/chine-chine-12-03-2012,42011.html

Acesso em: 28/12/2013.

13. China: Como funciona a censura à web. Disponível em:

http://www.universitario.com.br/noticias/n.php?i=5369 Acesso em: 28/12/2013.

14. Dilma diz defender 'segurança' e não 'controle' da internet. Disponível em:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/09/130925_dilma_internet_onu_

pu_mm.shtml Acesso em: 02/01/2014.