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O USO DA TECNOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: breve retrospectiva histórica Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/ CNPq/ FAPEMIG) PAIVA, V.L.M.O. O uso da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras: breve retrospectiva histórica (submetido à publicação) 2008 disponível em http://www.veramenezes.com/techist.pdf

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O USO DA TECNOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUAS

ESTRANGEIRAS: breve retrospectiva histórica

Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/ CNPq/ FAPEMIG)

PAIVA, V.L.M.O. O uso da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras: breve retrospectiva histórica (submetido à publicação) 2008 disponível em http://www.veramenezes.com/techist.pdf

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1. Introdução

Sempre que a tecnologia avança e sugere algo novo em relação ao que já está convencionado ocorre a reação entre adesão e a crítica ao novo. No sistema educacional essa relação dialética não é diferente e quando surge uma nova tecnologia, no primeiro momento é vista com desconfiança e rejeição mas, aos poucos, ela começa a integrar as atividades sociais da linguagem e a escola termina por utilizá-la em suas práticas pedagógicas.

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2. A tecnologia da escrita

A história do livro: Volumen: rolo de folhas de papiro. Códex: se aproximava aos livros de hoje,

feito com pergaminhos, peles de animais ou folhas de papiro unidas por uma costura.

Imprensa: invento de Gutemberg em 1442. Primeira grande revolução tecnológica na história da cultura humana.

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A socialização do livro Não foi um processo tranquilo. Enfrentou

os mesmos problemas que os trazidos pela inserção do computador em nossa sociedade.

Códex: era caro e privilégio de poucos. Segundo Paiva (2008) citando Chartier (1994), os leitores que adotaram o códex não pertenciam à elite letrada e estavam ainda muito ligados aos modelos gregos, o volumen.

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Estado e Igreja: censuraram o códex cuja prática estendeu-se aos livros ao longo do tempo.

Igreja Católica: índex – lista de livros proibidos considerados hereges no século XIV.

Nazismo: incineração de livros durante o regime autoritário no século XIX.

“a cultura escrita é inseparável dos gestos violentos que a reprimem.” (CHARTIER, 1999, p.23 apud PAIVA, 2008, p.3).

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De acordo com Paiva (2008), o livro didático também sofreu sanções restritivas ao seu uso por razões econômicas ou políticos.

China: em 1993 era negado o acesso dos livros ingleses aos alunos. Material didático de má qualidade e sem ilustrações. A censura política proibia o uso de antena parabólica e consequentemente o acesso à programação em língua estrangeira. Paiva (1995).

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O computador na atualidade

Hoje é o computador que sofre restrições nos ambientes escolares para acesso à sites como ORKUT, salas de bate-papo e aos vídeos do Youtube.

Nos ambientes familiares os jovens são proibidos de obter informações sobre assuntos como sexo e, se o fazem, fazem escondidos dos adultos.

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2.1 As tecnologias no ensino de línguas

Para o ensino de línguas os primeiros livros foram as gramáticas. “O conceito de ensino de línguas equivalia ao da oferta de descrições linguísticas. Aprender uma língua significava aprender a sintaxe dessa língua.” (PAIVA, 2008, p.3)

O primeiro livro ilustrado foi o de Comenius, o Orbis Sensualim Pictus que na verdade continha um vocabulário ilustrado e foi publicado em 1658 para a educação infantil.

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Comenius X Lambert Sauver

Comenius: defendia o uso de livros na sala de aula e acreditava que as imagens como experiências sensoriais “(...) auxiliavam a memória e que a percepção ajudava a imprimir a imagem na mente. A aquisição de vocabulário era sinônimo de memorização de itens lexicais.” (PAIVA, 2008, p.4)

Sauver: era contra o uso do livro na escola. Para ele a sala de aula era para trabalhar a audição e o livro deveria ser lido em casa como preparação para as aulas.

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3. Tecnologias de áudio e vídeo

A reprodução de som e vídeo configurou-se em uma grande inovação tecnológica. Primeiro foram os aparelhos que reproduziam o som, depois as máquinas de projeção de imagem e em seguida equipamentos que projetavam a imagem e reproduziam o som simultaneamente.

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As inovações tecnológicas: evolução no ensino de

línguas Fonógrafo: reproduzia sons gravados em

cilindros ou discos metálicos. Gramofone: reproduzia sons gravados

em discos sob a forma de sulcos aspirados.

Fita magnética: mídia de armazenamento não volátil que consiste em uma fita plástica coberta de material magnetizável.

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Com uma tecnologia que permitia a gravação e reprodução de som, foi possível levar para a sala de aula material gravado com amostras de fala de falantes nativos. O foco era na oralidade, no entanto acreditava-se que a aprendizagem da habilidade oral ocorria pela imitação e repetição sistemática de falas gravadas por nativos.

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Primeiros materiais didáticos gravados segundo Kelly (1969)

The International Correspondence Schools of Scranton: responsável pelo primeiro material didático gravado em 1902 e 1903.

Linguaphone: empresa inglesa fundada pelo professor e tradutor Jacques Roston que, de acordo com Paiva (2008, p.5), avoca para si o pioneirismo da associação dos métodos tradicionais escritos com as gravações em áudio.

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Cartoons e Filmes: em 1930 os estúdios Disney produziram cartoons para o ensino de inglês básico dando início ao uso de filmes para essa prática. Outros filmes foram produzidos por CREDIF (Centre de Recherce et d’Étude pour la Diffusion du Français).

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Os aparelhos e seus usos no ensino de línguas

O gravador de fita magnética: permitiu, na década de 40 que alunos gravassem suas leituras, exercícios de repetição e pudessem avaliar o próprio desempenho.

O rádio: não exerceu muita influência no meio escolar por suas transmissões em tempo real não permitirem compatibilidade do horário escolar com os programas.

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Inventada em 1926 por John Baird a televisão só chegou ao Brasil em 1950. Paiva (2008) revela que o rádio e a televisão dentre todas as tecnologias de áudio e vídeo foram as de maior socialização, no entanto pouco contribuíram no ensino escolar formal.

A televisão na sala de aula da escola regular toma nova dimensão ao ser usada para a visualização de vídeos didáticos e outros que pouco a pouco migram para CD-Roms e DVDs.

A escola busca nas novas tecnologias, ferramentas paras suas práticas pedagógicas intentando melhorar a mediação entre aprendiz e língua estrangeira.

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4. O COMPUTADOR

Surge nos Estados Unidos no período da Guerra Fria com o intuito de transferir e proteger dados através da rede eletrônica ARPANET.

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O Ensino de Línguas Mediado pelo Computador

Teve início em 1960 na Universidade de Illinois nos Estados Unidos com o projeto PLATO (Programmed Logic for Automatic Teaching), que oferecia instrução mediada pelo computador em várias línguas.

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Paiva (2008) de acordo com Wooley (1994), esclarece que o projeto PLATO se expandiu muito nos EUA durante a década de 70, começando com aproximadamente 20 alunos e depois passando para um computador mainframe que possibilitou a interação entre muitas pessoas através dos milhares de terminais dispostos no país a partir da década de 80.

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No Brasil, na década de 80 surgiram os primeiros PCs (computadores pessoais).

Na Inglaterra foram criados programas de reconstrução de texto: Storyboard e Adam&Eve.

Em 1991 no Brasil é criada a Rede Nacional de Pesquisa idealizada pelo CNPq interligando universidades e possibilitando a interação verbal entre professores universitários e parceiros no exterior.

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Segundo Paiva (2008, p.9) o acesso público aos computadores:

(...) só teve início em 1994, com as provedoras particulares, e, em 1997, chega a WWW nos moldes que conhecemos hoje. Surgiram novas formas de comunicação e os aprendizes de línguas estrangeiras puderam, pela primeira vez, ter acesso às páginas da Internet e interagir com falantes das línguas por meio de e-mail, lista de discussões e fóruns.

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Em 1995 David Sperling cria a ESL Cafe, uma das primeiras páginas com material gratuito para alunos e estudantes.

A evolução da tecnologia da informática foi ampliada rapidamente integrando todas as tecnologias de escrita áudio e vídeo já dispostas na sociedade.

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“Os recursos de comunicação instantânea como o ICq, hoje substituído pelo MSN, deram impulso às interações por mensagem escrita com acréscimo gradual de recursos de vídeo e áudio.” (PAIVA, 2008, p.9).

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Internet no século XXI: a WEB 2

O usuário não é mais simples consumidor, agora ele pode produzir. Surgem o Orkut, os blogs, os repositórios de vídeos como Youtube e torna-se possível uma enciclopédia mundial feita pelos próprios internautas, a Wikipédia.

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5. Rumo à normalização

De acordo com Pennington(1996), Paiva(2008) explicita as situações que contribuíram para a inserção do computador na sociedade:

Redução de tamanhos e custos; Grande variedade de softwares; Mudança de atitude em função da

repercussão entre os próprios usuários.

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7 fases da socialização e uso do computador na educação segundo Pennington(1996):

Fase 1: o computador usado por uma classe elitista de cientistas para cálculos matemáticos;

Fase 2: acesso dado a professores e alunos de instituições de prestígio;

Fase 3: início à esfera educacional, incluindo escola públicas;

Fase 4: o computador como objeto de massa, atingindo a classe média e tornando o acesso aos computadores universal.

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Fase 5: educadores se apoderam do computador e este fica mais próximo das práticas pedagógicas;

Fase 6: crianças tornam-se digitalmente letradas;

Fase 7: provável acesso universal não somente às informações mas também às pessoas.

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7 estágios até a normalização das atividades de ensino de línguas mediadas pelo computador segundo Bax (2003):

Estágio 1: primeiros adeptos; poucos professores e escolas que adotam a nova tecnologia;

Estágio 2: ignorância ou ceticismo em relação a tecnologia;

Estágio 3: as pessoas experimentam a tecnologia, mas resistem aos primeiros obstáculos;

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Estágio 4: após serem motivadas as pessoas tentam novamente e encontram vantagens relativas na tecnologia;

Estágio 5: mais pessoas começam a usar a tecnologia, mas ainda existe receio;

Estágio 6: a tecnologia passa a ser vista como algo normal;

Estágio 7: se adapta às nossas vida com normalidade.

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O Brasil e o Computador

Alcance da normalidade em serviços prestados por empresas como bancos.

Na educação, Paiva (2008) considera os mesmos estágios previstos por Bax (2003).

Apesar do uso em muitos ambientes e contextos ainda nota-se uma tensão entre adesão e rejeição.

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O computador e o ensino de línguas estrangeiras nas universidades brasileiras

De acordo com Paiva (2008) essas experiências se dividem em três tipos: extensão, atividades curriculares e projetos opcionais. Assim, a autora apresenta:

Na área de extensão: a pioneira Profa. Heloisa Collins e os cursos de língua inglesa que ofereceu pela PUCSP em 1997. Em 1995 foi oferecido o primeiro curso de leitura instrumental via BBS (Bulletim Board System), sistema precursor da Internet atual.

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Sob a orientação de Collins, a Profa. e pesquisadora Ana Silva Ferreira que defendeu dissertação sobre o tema em 1998. A seguir o Surfing & Learning de 1997 a 2002 coordenado por Collins em parceria com a UOL. Entre 1997 e 1998 Collins e Robert Wyatt, seu aluno de mestrado planejaram o oferecimento do Business Writing on-line – Inglês para Negócios via Internet.

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Cursos de extensão por e-mail em 2008 dirigidos, segundo Collins, para professores de escolas públicas e estaduais de São Paulo.

Como atividade curricular: Paiva (2008) cita a própria experiência na UFMG com ofertas de leitura e escrita na Internet para alunos da licenciatura em inglês. Cita, ainda, Denise Braga que, na Unicamp, coordena desde 2000 o projeto Real Web para alunos da pós-graduação.

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Como atividade extracurricular: o projeto Teletandem Brasil da UNESP sob coordenação de João Telles em parceria com universidades no exterior. Vilson Leffa com seu sistema ELO (Ensino de Línguas Online) juntamente com cursos de formação continuada de professores de línguas com o foco nas atividades interativas.

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CONCLUSÃO

A partir dos anos 80 o computador começa a fazer parte da universidade e na atualidade muitos brasileiros ainda não tiveram experiência com esse recurso tecnológico. No entanto, apesar do esforço de alguns governos em promover esse acesso tecnológico, essas ações ainda são recusadas pelos próprios docentes por acreditarem que esses recursos deveriam ser revertidos para aumento dos salários e também por crerem não possuírem treinamento para lidarem com a máquina.

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De acordo com Werneck (2008), esse pensamento do professor em face da falta de conhecimento para lidar com a máquina encontra-se lado a lado com o pensamento cartesiano também atrasado. O uso do computador não requer treinamento específico, ele age como professor estando disponível para responder infinitamente inúmeras questões. Portanto, é usando que o aprendizado vai se consolidando pois se aprende antes de fazer, enquanto se faz e depois de fazer.

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Dessa forma, é preciso que o professor esteja mais aberto para aceitar e se adequar a essa ferramenta que é, de fato, importante para o desempenho de suas atividades como educador. É preciso também termos em mente que nem o livro e nem o computador promoverão um aprendizado de línguas pleno e satisfatório se o aprendiz não estiver engajado em sua aprendizagem numa prática social da linguagem. Assim, o mal uso da tecnologia poderá encobrir as mesmas falhas das práticas antigas.