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luisprista
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«escritos que foram esses trinta e tantos poemas [de Caeiro], imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a “Chuva Oblíqua”, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro».
Vai lendo a parte VI de «Chuva Oblíqua», de Fernando Pessoa, na p. 169 do manual.
Antes de começares, vê o que é dito na «Orientação de leitura».
No manual ou em folha tua, assinala os versos que se reportam à infância — com (uintal) —, os que se reportam ao presente do sujeito poético — com (eatro) — e os que misturam estes dois planos — com QT.
T O maestro sacode a batuta, T E lânguida e triste a música rompe...
Q Lembra-me a minha infância, aquele dia Q Em que eu brincava ao pé dum muro de
[quintal Q Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
Q O deslizar dum cão verde, e do Outro lado Q Um cavalo azul a correr com um jockey
[amarelo...
TQ Prossegue a música, e eis na minha infância
TQ De repente entre mim e o maestro, muro [branco,
Q Vai e vem a bola, ora um cão verde, Q Ora um cavalo azul com um jockey
[amarelo...
Q Todo o teatro é o meu quintal, a minha [infância
TQ Está em todos os lugares, e a bola vem a [tocar música,
TQ Uma música triste e vaga que passeia no [meu quintal
TQ Vestida de cão verde tomando-se jockey [amarelo...
TQ (Tão rápida gira a bola entre mim e os [músicos...)
TQ Atiro-a de encontro à minha infância e ela TQ Atravessa o teatro todo que está aos meus
[pés Q A brincar com um jockey amarelo e um cão
[verde Q E um cavalo azul que aparece por cima do
[muro TQ Do meu quintal... E a música atira com bolas TQ À minha infância... E o muro do quintal é feito
[de gestos TQ De batuta e rotações confusas de cães
[verdes Q E cavalos azuis e jockeys amarelos... TQ Todo o teatro é um muro branco de música
TQ Por onde um cão verde corre atrás da minha [saudade
Q Da minha infância, cavalo azul com um jockey [amarelo...
Q E dum lado para o outro, da direita para a [esquerda,
Q Donde há árvores e entre os ramos ao pé da [copa
Q(T) Com orquestras a tocar música, Q Para onde há filas de bolas na loja onde a
[comprei Q E o homem da loja sorri entre as memórias da
[minha infância...
T(Q) E a música cessa como um muro que [desaba,
TQ A bola rola pelo despenhadeiro dos meus [sonhos interrompidos,
TQ E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey [amarelo tornando-se preto,
TQ Agradece, pousando a batuta em cima da [fuga dum muro,
TQ E curva-se, sorrindo, com uma bola branca [em cima da cabeça
(T)Q Bola branca que lhe desaparece pelas [costas abaixo...
Aliteração / Assonância
«Na messe que enlourece estremece a quermesse»
(Eugénio de Castro)
Hipérbato / Anástrofe
Gradação
Ocorrem-me em revista exposições, países,Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!
(Cesário Verde)
Interrogação retórica
Com esta política, podemos falar em futuro?
Quiasmo
Ó minha menina loura,Ó minha loura menina,Dize a quem te vê agoraQue já foste pequenina…
(Fernando Pessoa)
Pleonasmo
Vi, claramente visto, o lume vivo
(Camões)
Uma duna de areia.
Personificação
O pião fungava.
Animismo
O Sol espojava-se sobre a terra.
Antítese Oxímoro
Esta obscura claridade que cai das estrelas.
O mito é o nada que é tudo.
(Fernando Pessoa)
Paradoxo
Graças a Deus, sou ateu.
Sinestesia
Uma música [...] vestida de cão verde
Metáfora Imagem / Alegoria
Metonímia (e Sinédoque)
O dérbi da Segunda Circular…No leilão adquiri um Van Gogh.
As velas navegavam no Índico.
A música atira com bolas à minha infância
‘A música recorda-me a infância’.
[A bola rola pelo] despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos
‘complexidade angustiada dos meus sonhos’.
O meu filho é uma jóia de moço
‘O meu filho é excelente moço’.
Vem apagar o fogo, que estou a arder
‘Vem fazer amor comigo, que estou com muito desejo sexual’
[Sim, usei aqui outra figura de estilo, um eufemismo.]
[De que tamanho é a tua] mangueira?
[Agarra-te ao] varão.
‘órgão sexual masculino’
Andas sempre a bombar
‘Andas sempre a praticar actos sexuais’
despenhadeiro dos meus sonhos
Sonhos
Despenhadeiro
‘abismo’ dos despenhadeiros’ é susceptível de analogia com a intangibilidade dos sonhos
a música atira com bolas à minha infância
Música
atira com bolas
música suscita recordações (que magoam); «atirar com bolas» implica ‘chamar a atenção’, ‘agredir’, ‘recordar com mágoa’.
* a música cessa como um muro que desaba
paragem da música
muro a desabar
os dois termos referem actos repentinos; ambos causam desolação
O meu filho é uma jóia de moço
Filho
Jóia
jóias são preciosas; essa excelência é associável, para o pai, às qualidades do filho
De que tamanho é a tua mangueira?
órgão sexual masculino
Mangueira
têm forma aproximável e são condutores de líquido
Vem apagar o fogo (que estou a arder)
satisfazer desejo sexual
apagar o fogo (enquanto actividade de bombeiro)
o primeiro termo sugere a necessidade de satisfação (que resolva «um fogo»); «apagar» tem a mesma noção de ‘resolver’, ‘acalmar’
Andas sempre a bombar
praticar acto sexual
bombar (‘introduzir ou extrair por meio de bomba’)
sentido de ‘introdução’ é comum ao acto sexual e à actividade em termos denotativos
Agarra-te bem ao varão
órgão sexual masculino
Varão
formas aproximáveis [no próprio sketch se tenta, porém, negar a
analogia]
Transforma o verso «A música cessa como um muro que desaba» de modo a, em vez de uma comparação, ficarmos com uma metáfora: «O cessar da música é um muro que desaba».
Andas metido nos diabetes
nos diabetes
‘na prática de te injectares com insulina’
a doença — que é o motivo pelo qual se injecta a insulina — serve para designar a actividade que é, afinal, apenas uma sua consequência
Soldado da
pás, pás (enquanto onomatopeia)
‘dar palmadas nas nádegas’
o som produzido como efeito da actividade passa a significar a actividade de que resultava
Note-se que «soldados da paz» (por ‘bombeiros’) e «órgão sexual masculino (por ‘pénis’) são perífrases.
Num texto narrativo-descritivo-argumentativo, faz uma tua versão da madalena de Proust (ou, se se quiser, da música ouvida por Pessoa).
Terás de evocar uma sensação presente — um cheiro, um gosto, certa música ou som, uma visão, ... —, descrevê-la com bastante completude, bem como ao contexto em que ocorreu, mostrar a surpresa pelo repentino transporte para outro momento, recordar esse momento passado agora recuperado (deixando implícito por que ficou tão memorável). 200 a 300 palavras
TPC
Lê os textos expositivos sobre Fernando Pessoa, ortónimo (pp. 152-153; 172).
Em Gaveta de Nuvens, dá uma vista de olhos ao longo poema «Un Soir à Lima».
Completa o texto que começaste em aula.