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RESTINGA
1. INTRODUÇÃO
Restinga pode ser definida como um terreno arenoso e salino, próximo ao mar e
coberto de plantas herbáceas características.
Segundo a Resolução CONAMA N°07 de 23 de julho de 1996, “entende-se por
vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob
influência marinha e fluvio-marinha. Estas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem
em áreas de grande diversidade ecológica sendo consideradas comunidades edáficas por
dependerem mais da natureza do solo que do clima”.
Ecologicamente, as restingas são ecossistemas costeiros, fisicamente determinados
pelas condições edáficas (solo arenoso) e pela influência marinha, possuindo origem
sedimentar recente (início no período Quaternário), sendo que as espécies que ali vivem
(fauna e flora) possuem mecanismos para suportar os fatores físicos dominantes como: a
salinidade, extremos de temperatura, forte presença de ventos, escassez de água, solo instável,
insolação forte e direta, entre outros.
Figura 1 – Distribuição das restingas no litoral brasileiro
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As restingas estão distribuídas ao longo do litoral brasileiro (linha amarela – Figura 1),
numa extensão total de quase 5000 quilômetros, ocorrendo em 79% da sua costa. Na costa
brasileira, elas ocorrem de maneira descontínua, desde 4o N a 34o S. As principais formações
estão na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Essa distribuição norte-sul cria ao longo do litoral variações climáticas, o que confere
uma grande diversidade ambiental e biológica para as restingas brasileiras.
2. FORMAÇÃO DAS RESTINGAS BRASILEIRAS
As restingas começaram a surgir há milhares de anos, com o recuo do mar, e ainda
hoje estão sob um dinâmico processo de montagem-desmontagem.
Na formação das restingas entram quatro fatores básicos:
Oferta de sedimentos – o tipo de sedimentos varia com as fontes, que em geral são
rochas costeiras, ou o material existente no fundo oceânico, ou trazido do interior do
continente pelos rios.
Correntes de deriva – são as correntes paralelas à costa, formadas pelas ondas que
chegam obliquamente. Essas correntes transportam os sedimentos.
Obstáculos retentores – ilhas, recifes, pontais, etc., que barram o fluxo de sedimentos,
formando bancos de formas diversas; obstáculo retentor também pode ser a força de
saída da foz de um rio, formando uma barreira de água.
Variação do mar – essa variação permitiu há alguns milênios atrás que alguns bancos
de areia, antes submersos fossem expostos como terra firme; a variação do nível do
mar também determina a linha de arrebentação das ondas e o deslocamento dos bancos
de areia. Quando o nível do mar sobe, o mar avança , quando desce ele recua,
deixando bancos de areia e outros sedimentos – as restingas.
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3. ESTRUTURA DAS RESTINGAS
Existem quatro ambientes típicos da restinga, são eles:
Comunidade halófila - faixa livre do alcance das ondas e marés diárias, mas ainda
sujeita à força das ressacas. A vegetação aí é formada por espécies rasteiras,
herbáceas, capazes de conviver com a salinidade elevada, a exposição direta ao sol,
aos ventos e aos extremos térmicos, sem falar da extrema pobreza em nutrientes do
solo arenoso.
Vegetação esclerófila - faixa onde o mar não chega mais; os fatores dominantes são a
maresia, os ventos, a insolação e a pobreza do solo em nutrientes e água. A vegetação
forma um denso emaranhado de ramos, espinhos e folhas, de aspecto ressecado - e
"aparado", por causa do efeito abrasivo do vento.
Comunidade hidrófila - faixa entre dunas ou de borda das lagunas. São locais úmidos a
alagados, por acumulo de água das chuvas, ou por afloramento do lençol freático, ou
por serem antigos leitos de lagunas, colmatadas. A água aí costuma ser salobra. As
plantas formam matas paludosas, ou brejos herbáceos e arbustivos.
Mata seca - é um ambiente de transição entre restingas e a vegetação continental mais
antiga, como a Mata Atlântica ou a Caatinga. O solo já apresenta melhores condições
de fertilidade e de água, e o microclima já é ameno. A mata apresenta níveis
herbáceos, arbustivos e arbóreos, com um bom número de epífitas e cipós.
4. VEGETAÇÃO
A vegetação de restinga é uma formação típica que ocorre nas planícies costeiras
arenosas da costa brasileira, principalmente sobre solos quartzosos e pobres em nutrientes.
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Figura 2 – Vegetação de restinga
A flora das restingas apresenta algumas espécies endêmicas, mas a maioria das suas
plantas pode ser encontrada também em outros ecossistemas. Nas dunas da praia a vegetação
é formada principalmente por plantas herbáceas com caules longos e flexíveis que se
transformam em árvores cada vez mais altas à medida que se afasta do mar.
Podemos citar como exemplos de algumas espécies características da restinga o
sumaré, alfa-goela, açucena, bromélia, orquídeas, cactos, coroa-de-frade, aroeirinha, jurema,
caixeta, taboa, sepetiba, canela, pitanga, figueira, angelim, entre outras.
A cobertura vegetal das restingas está distribuída em várias formações vegetais
distintas, entre elas, as halófitas, psamófilas, escrube, florestas altas de restinga e florestas
baixas de restinga.
A formação vegetal mais próxima à praia é chamada de halófila (Figura 3). Encontra-
se sob influência direta do mar, apresentando poucas espécies adaptadas à alta salinidade. São
elas Sesuvium portulacastrum, Blutaparon portulacoides e Sporobolus virginicus,
representantes das famílias Aizoaceae, Amaranthaceae e Poaceae, respectivamente.
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Figura 3 – Formação vegetal halófila
A psamófila (Figura 4), representada por espécies estoloníferas, rizomatosas é de
rápido crescimento. As espécies são resistentes ao acúmulo de areia, constante exposição ao
vento e altas temperaturas. Apenas 15 espécies têm ocorrência registrada para esta formação
vegetal.
Figura 4 – Formação vegetal psamófila
A escrube é uma vegetação arbustiva, com ramos predominantemente retorcidos,
formando moitas, intercaladas com espaços abertos ou em aglomerados contínuos com
plantas de até 3m de altura. Poucas plantas epífitas, representadas por liquens, samambaias,
bromélias e orquídeas. Trepadeiras ocorrem com mais abundância e diversidade e o estrato
herbáceo também é frequente.
Os animais que se utilizam desta área são, principalmente, aves migratórias e
residentes, como saíras, tucanos, arapongas, bem-te-vis, macucos e jacus.
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Figura 5 – Escrube
A floresta baixa de restinga (Figura 6) é formada por estratos arbustivo e arbóreo
predominantes, com dossel aberto. As árvores possuem, em média 3 à 10 m de altura, com
diâmetro entre 5 e 10 cm, podendo ocorrer árvores emergentes de até 15 m de altura. Nesta
região, ocorre grande variedade e quantidade de epífitas representadas também por bromélias,
orquídeas e liquens. Trepadeiras são raras, um exemplo é o cará.
Os animais utilizam esta área como local para pouso, no caso das aves, alimentação,
reprodução, dormitório e rota migratória. Entre eles temos a saíra peruviana e o papa-mosca
de restinga, ambos endêmicos.
Figura 6 – Floresta de baixa restinga
As florestas de alta restinga (Figura 7) apresentam vegetação predominantemente
arbórea, com dossel fechado e árvores de 10 à 15 m de altura, com diâmetro aproximado de
12 à 25 cm, podendo existir plantas com até 40 m de altura e 40 cm de diâmetro. Alta
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diversidade e quantidade de epífitas e trepadeiras. O subosque é composto por plantas jovens
do estrato arbóreo e arbustos.
Fauna composta por animais residentes e migratórios, sendo que muitos visitam esta
área para alguma atividade (alimentação, nidificação, etc), porém são provenientes das áreas
de encosta ou de transição. Aves: papagaio-da-cara-roxa, jaó do litoral, saracura-três-pontes;
mamíferos: mico-leão-caiçara, queixada, bugio e mono-carvoeiro.
Figura 7 – Floresta de alta restinga
5. FAUNA
As espécies animais das restingas são bastante diversificadas, daí a importância da
preservação desse habitat. A fauna é formada principalmente por carangueijos, viúvas-
negras, baratas, sabiás, corujas e pererecas. Mas o espaço também é utlizado por outros
animais: aves migratórias, o maçarico e o gavião utilizam as restingas para descansar, assim
como alguns mamíferos, como o elefante marinho e o lobo marinho. Tartarugas marinhas
utilizam a área para reprodução e desova.
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Figura 8 – Animais típicos da restinga: maçarico, tartaruga-marinha e caranguejo.
6. CLIMA
O clima deste ecossistema é bem diferenciado, devido à vasta amplitude latitudinal.
Nas porções ao Norte apresenta-se mais seco com temperaturas médias em torno de 28ºC,
podendo facilmente chegar aos 40ºC, nos meses mais quentes. Na porção ao Sul possui clima
mais ameno e úmido com média anual em torno de 17ºC. Já o índice pluviométrico é mais
regular e gira em torno de 1.600 mm anuais.
7. IMPACTOS AMBIENTAIS
Atualmente são inúmeras as formas de alteração e agressão as restingas, explicáveis
por ser a área do território brasileiro mais habitado e que abriga boa parte das atividades
econômicas de lazer e turismo, através do estabelecimento de moradias temporárias e
condomínios de elevado padrão ou prédios.
As mais importantes conseqüências dessa ocupação referem-se a eliminação da
vegetação natural, ao estímulo dos processos erosivos, às mudanças nas características de
drenagem por cortes e aterros, à geração de lixo, à geração de esgoto doméstico, além do
aumento na procura por recursos naturais.
A preservação da vegetação das restingas é muito importante, pois serve de suporte
para todo esse bioma. Quando a vegetação é destruída, o solo sofre intensa erosão pelo vento,
o que ocasiona a formação de dunas móveis com riscos para o ambiente costeiro e para a
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população. Em zonas urbanas costeiras, a restinga preservada facilita o controle de espécies
com potencial para pragas como cupins, formigas, escorpiões e baratas.
Entre as principais atividades predatórias destacam-se a agropecuária, a extração
mineral, incêndios, estradas, erosão costeira, expansão imobiliária, entre outras.
8. DIMINUIÇÃO DAS ÁREAS DE RESTINGA
As diversas formas de ocupação do litoral brasileiro ocasionaram a redução da área
natural de restinga em diversos Estados do país. No município do Rio de Janeiro, a restinga
foi a cobertura vegetal que, proporcionalmente a sua área, apresentou os maiores índices de
diminuição (30% de perda), na segunda metade da década de 80 e durante toda a década de
90.
A restinga com pior nível de conservação é a do Prado, na Bahia. Em situação
igualmente crítica encontram-se duas restingas do Rio de janeiro, as de Grumari e Grussai,
seguidas pelas de Setiba, no Espírito Santo, e Massambaba, também no Rio de Janeiro.
Embora a área de restinga tenha encolhido 500 hectares entre 1995 e 2000 apenas nos
estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, de acordo com um estudo da organização não-
governamental SOS Mata Atlântica, ainda há trechos em bom estado de conservação. Hoje, o
levantamento abarca 17 restingas, das quais sete bem preservadas, três em estágio
intermediário e sete bastante degradadas.
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9. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO DA RESTINGA BRASILEIRA
Segundo a Resolução n° 303, de 20 de março de 2003, do Conselho Nacional de Meio
Ambiente – CONAMA, considera-se área de preservação permanente nas restingas a área
situada:
em faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha de premear máxima;
em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função
fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues.
No país existem algumas áreas de preservação da restinga, dentre elas podem ser
citadas:
Parque Nacional da Restinga da Jurubatiba – RJ
Área: Faixa de orla marítima com 14.860 hectares e 44 quilômetros de ectensão ao
longo da praia, com cerca de 2 km de largura na extremidade oeste e 4,8 km de largura
na extremidade leste, com perímetro de 123 km.
Primeiro Parque Nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema
restinga. Considerada a área de restinga mais bem preservada do país e está
praticamente intacta.
Restinga Ponta das Canas - SC
Área 21,5 hectares
Restinga em processo de formação já recoberta por uma vegetação característica
desse sistema, inclusive com a formação de mangue situado na extremidade norte
e na projeção sul, junto a foz do Rio Thomé.
Restinga da Ponta do Sambaqui – SC
Área: 1,3 hectares
A Ponta de Sambaqui originou-se através de processo de sedimentação de uma ilha
antiga, chamada de tômbulo. A cobertura vegetal é caracterizada por árvores frutíferas.
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Reserva Ecológica da Juatinga – RJ
Área: 8000 hectares.
Área de proteção de vários ecossistemas da Mata Atlântica, entre eles floresta tropical,
manguezais e restingas.
Santuário de Proteção e Recuperação da Restinga do Distrito de Caraíva – BA
Área: 200 hectares
10. CONCLUSÃO
Conforme visto, a restinga, que é um bioma característico do litoral brasileiro, tem
grande importância para a manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado, pois
serve de habitat e local de reprodução e rota migratória para diversos animais. Também tem
um importante papel na infiltração da água da chuva, pois possui solo arenoso, reduzindo
assim o risco de enchentes.
Apesar dessa importância, assim como grande parte dos biomas brasileiros, a restinga
tem sido destruída por ações antrópicas, principalmente ações relacionadas com o turismo
devido a sua localização.
11. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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“Área Protegida, Santuário de Proteção e Recuperação da Restinga do Distrito de Caraíva”.
Disponível em:< http://www.vivacaraiva.com/Proposta-Caraiva231006-rev1.L.pdf>. Acesso
em 21 set 2009.
“Parque Nacional da Restinga da Jurubatiba”. Disponível em:<
http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Restinga_de_Jurubatiba>. Acesso em 21 set
2009.
RESOLUÇÃO CONAMA n°.303, de 20 de março de 2002 – Dispõe sobre Área de
Preservação Permanente. Disponível em:<
http://www.aesa.pb.gov.br/legislacao/resolucoes/conama/303_02_preservacao_permanente.pd
f>. Acesso em 20 set 2009.
“Restinga”. Disponível em:< http://www.trilhasetrilhas.tur.br/Ecosistemas/Ecosistemas_06B.htm>. Acesso em 19 set 2009.
“Restingas”. Disponível em:< http://litoralbr.vilabol.uol.com.br/restingas.htm>. Acesso em 16
set 2009.
“Restingas”. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Restinga>. Acesso em 16 set 2009.
“Restingas do litoral amazônico, estados do Pará e Amapá, Brasil”. Disponível em:<
http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
81142008000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 set 2009.