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Calendário do mês de junho 2010
by Rosely Lira
Saber Viver
Não sei... Se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido,se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura... Enquanto durar
Cora Coralina
01 de junho
Tarde demais...
Quando chegaste enfim, para te verAbriu-se a noite em mágico luar;E para o som dos seus passos conhecerPôs-se o silêncio, em volta, a escutar...
Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!Viu-se nessa hora o que não pode ser:Em plena noite, a noite iluminarE as pedras do caminho florescer!
Beijando a areia de oiro dos desertosProcurava-te em vão! Braços abertos,Pés nus, olhos a rir, boca em flor!
E há cem anos que eu era nova e linda!...E a minha boca morta grita ainda:Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...
Florbela Espanca
02 de junho
Presença
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, o trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae respirar-te, azul e luminosa, no ar.É preciso a saudade para eu te sentircomo sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevistaque nunca de pareces com o teu retrato...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!
Mário Quintana
03 de junho
Duas pessoas maduras em verdadeiro amor ajudam-se mutuamente a se tornarem mais
livres, mais plenas, mais completas.
Osho
04 de junho
Quem não compreende um olhartampouco compreenderáuma longa explicação.
Mario Quintana
05 de junho
Mensagem a um desconhecido
Teu bom pensamento longínquo me emociona.Tu, que apenas me leste,Acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.
Isso me consola dos que me viram,A quem mostrei toda a minha alma,E continuaram ignorantes de tudo que sou,Como se nunca me tivessem encontrado.
Cecília Meireles
06 de junho
Para estar junto não é preciso estar pertoe sim do lado de dentro.
Leonardo da Vinci
07 de junho
08 de junho
Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz...Que nas suas primaveras você seja amante da alegria.Que nos invernos você seja amigo da sabedoria.E, quando você errar o caminho, recomece tudo de novo.Pois assim você será cada vez mais apaixonado pela vida.E descobrirá que...Ser feliz não é ter uma vida perfeita.Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.Usar as falhas para esculpir a serenidade.Usar a dor para lapidar o prazer.Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.
Augusto Cury
09 de junho
Árvores são poemas que aterra escreve para o céu.
Khalil Gibran
10 de junho
Daí a alguns séculos ou daí a alguns minutostalvez digamos espantados:
E dizer que Deus sempre esteve!Quem esteve pouco fui eu.
Clarice Lispector
11 de junho
Um Beijo
Foste o beijo melhor da minha vida,ou talvez o pior...Glória e tormento,contigo à luz subi do firmamento,contigo fui pela infernal descida!Morreste, e o meu desejo não te olvida:queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,e do teu gosto amargo me alimento,e rolo-te na boca malferida.Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,batismo e extrema-unção, naquele instantepor que, feliz, eu não morri contigo?Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,beijo divino! e anseio delirante,na perpétua saudade de um minuto...
Olavo Bilac
12 de junho
O auto-retrato
No retrato que me faço- traço a traço –às vezes me pinto nuvem,às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisasde que nem há mais lembrança...ou coisas que não existemmas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco- pouco a pouco –minha eterna semelhança,
no final, que restará?Um desenho de criança...Corrigido por um louco!
Mário Quintana
13 de junho
14 de junho
Mas há a vida que é para ser intensamente vivida,
há o amor. Que tem que ser vivido até a última
gota. Sem nenhum medo.
Não mata.
Clarice Lispector
Coração é terra que ninguém vê
Quis ser um dia, Jardineira de um coração.Sachei, moldei - nada colhi.Nasceram espinhose nos espinhos me feri.
Quis ser um dia, Jardineira de um coração.Cavei, plantei.Na terra ingratanada criei.
Semeador da Parábola...Lancei a boa sementea gestos largos...Aves do céu levaram.Espinhos do chão cobriram.O resto se perdeuna terra durada ingratidão
Coração é terra que ninguém vê- diz o ditado.Plantei, reguei, nada deu, não.Terra de lagedo, de pedregulho,- teu coração. Bati na porta de um coração.Bati. Bati. Nada escutei.Casa vazia. Porta fechada,foi que encontrei...
Cora Coralina 15 de junho
O que o vento não levou
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as
[únicasque o vento não consegue levar:
um estribilho antigoum carinho no momento precisoo folhear de um livro de poemaso cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mário Quintana
16 de junho
Humildade
Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho. Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa terra sedenta e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa.
Cora Coralina
17 de junho
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegamnão se sabe de onde e pousamno livro que lês.Quando fechas o livro, eles alçam vôocomo de um alçapão.Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cadapar de mãos e partem.E olhas, então, essas tuas mãos vazias,no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...
Mario Quintana
18 de junho
Renúncia
Chora de manso e no íntimo... ProcuraCurtir sem queixa o mal que te crucia:O mundo é sem piedade e até ririaDa tua inconsolável amargura.Só a dor enobrece e é grande e é pura.Aprende a amá-la que a amarás um dia.Então ela será tua alegria,E será, ela só, tua ventura...A vida é vã como a sombra que passa...Sofre sereno e de alma sobranceira,Sem um grito sequer, tua desgraça.Encerra em ti tua tristeza inteira.E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira...
Manuel Bandeira
19 de junho
Rua
Procuro a ruaque ainda me resta:É longa, é alta,não é essa.
Esqueço o nome,por sono ou pressa:é alta, é clara,mas não é esta.
Em cada esquinahavia uma festa:é clara, é vasta,não é essa.
Nunca me lembro onde começa:é vasta, é longa,mas não é esta.
Rua que nãose manifesta:é longa, é alta, não é essa.
Cecília Meireles
20 de junho
A atitude otimista tem o poderde dissipar as névoas que turvam
nossa visão.
O livro das Atitudes
21 de junho
O mais importante é a mudança,o movimento,o dinamismo,
a energia.Só o que está morto não muda !Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,sem o qual a vida não vale a pena!!!
Clarice Lispector
22 de junho
Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães,cada um vai embora com um pão...Porém, se dois homens vêm andando por uma estradacada um carregando uma idéia, e, ao se encontrarem,eles trocam as idéias, cada homem vai emboracom duas idéias...
Ditado chinês
23 de junho
Canção amiga
Eu preparo uma canção Em que minha mãe se reconheça Todas as mães se reconheçam E que fale como dois olhos Caminho por uma rua Que passa em muitos países Se não me vêem, eu vejo E saúdo velhos amigos Eu distribuo um segredo Como quem ama ou sorri De um jeito tão natural Dois carinhos se procuram Minha vida, nossas vidas Formam um só diamante Aprendi novas palavras E tornei outras mais belas Eu preparo uma canção Que faça acordar os homens E adormecer as crianças.“
Carlos Drummond de Andrade
24 de junho
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.Más há também quem garanta que nem todas,só as de verão.No fundo, isso não tem importância.O que interessa mesmonão é a noite em si, são os sonhos.Sonhos que o homemsonha sempre, em todos os lugares,em todas as épocas do ano,dormindo ou acordado.
Shakeaspeare
25 de junho
Lembro-me de quando era criança e via,como hoje não posso ver, a manhã raiar sobre a cidade. Ela não raiava para mim,mas para a vida. Porque então eu,não sendo consciente, eu era a vida.E via a manhã e tinha alegria. Hoje vejo a manhã, tenho alegria, e fico triste.Eu vejo como via, mas por trás dos olhos, vejo-me vendo. E só com isso,se obscurece o sol, o verde das árvores é velho,e as flores murcham antes de apreciadas.
Fernando Pessoa
26 de junho
Apresentação
Aqui está a minha vida – esta tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está a minha voz – esta concha vazia,Sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
Aqui está a minha dor – este coral quebrado,Sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está a minha herança – este mar solitário,Que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.
Cecília Meireles
27 de junho
Eu conheço a residência da doré um lugar afastado,sem vizinhos, sem conversa,quase sem lágrimas, com umas imensas vigílias, diante do céu.
A dor não tem nome,não se chama, não atende.Ela mesma é solidão:nada mostra, nada pede, não precisa.Vem quando quer.
O rosto da dor está voltado sobre um espelho,mas não é rosto de corpo,Nem o seu espelho é do mundo.
Conheço pessoalmente a dor.A sua residência, longe,em caminhos inesperados.
Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:“Quem visse, como vês, a dor, já não sofria.”E olho para ela, imensamente.Conheço há muito tempo a dor.Conheço-a de perto.Pessoalmente.
Cecília Meireles 28 de junho
Presença
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos...É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, o trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae respirar-te, azul e luminosa, no ar.É preciso a saudade para eu te sentircomo sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevistaque nunca de pareces com o teu retrato...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!
Mário Quintana
29 de junho
30 de junho