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Comunicação, Cultura e Sociedade
Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro
Faculdade de Comunicação - UFPA
Roteiro da Aula 14
A Sociedade de Massas I09 de maio de 2011
A sociedade de massa
Um dos efeitos mais importantes da Modernidade sobre as sociedades humanas é a
produção de uma sociedade “massificada” – ou seja, uma
sociedade marcada pela padronização.
A noção de “sociedade de massas” surge no pensamento social do começo do século XX,
no contexto da crítica à modernidade.
Sua fonte primordial está na percepção de que a
Modernidade gerou um fenômeno novo de associação das pessoas: a constituição de
« multidões ».
• O pensador político Gustave Le Bon, por exemplo, dedicou-se a encontrar uma definição para a noção de “multidão”, sugerindo
que ela tem três características:•
1) anonimato, 2) emoções que se estendem por imitação
ou "contágio", 3) desaparecimento da consciência pessoal
A relação entre a Teoria da Comunicação e o tema da
Modernidade é fundamental porque toda a teorização a
respeito da Comunicação surge da noção de sociedade de massa
é fundada sobre a noção de “sociedade de massa”.
O pensamento de Ortega y Gasset, desenvolvido nas décadas de 1920 e 1930, foi amplamente difundido nos anos 1950, ou seja, no Pós-guerra. Nesse momento, acreditava-se que o Ocidente enfrentava, desde a I Guerra, uma crise geral de valores morais e culturais.
O resultado dessa crise seria a massificação, enquanto eliminação das características diferenciadoras do homem e dos grupos.
Ortega y Gasset, em A rebelião das massas (original de 1937), descreveu o protagonista desta sociedade, o homem massa:
“o conceito de multidão é quantitativo e visual […] Encontramos então a idéia de massa social. A sociedade é sempre uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados. A massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas” (Ortega y Gasset, s/d: 223).
O homem da massa é o homem médio, aquele que não se valoriza a si mesmo, não pensa e que se perde na imensidão da multidão, “que não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo genérico” (Ortega y Gasset, s/d: 223).
Ele é medíocre, vulgar, falho de tradição, primitivo. Vive em massa e está em revolta contínua com as minorias:
“Massa é todo aquele que não se valoriza a si mesmo – como bem ou como mal – por razões especiais, mas que se sente «como toda a gente» e, no entanto, não fica angustiado”
Elias Canetti, por sua vez, estabeleceu as quatro caracteristicas da noção de massa:
1) quer crescer sempre, 2) no seu interior reina a igualdade,
3) ama a densidade,4) necessita de uma direção.
“Um fenômeno tão enigmático quanto universal é o da massa que repentinamente se forma onde, antes, nada havia. Umas poucas pessoas se juntam – cinco, dez ou doze, no máximo. Nada foi anunciado; nada é aguardado. […] As pessoas afluem, provindas de todos os lados, e é como se as ruas tivessem uma única direção. Muitos não sabem o que aconteceu e, se perguntados, nada têm a responder; no entanto, têm pressa de estar onde a maioria está. Em seu movimento, há uma determinação que difere inteiramente da expressão da curiosidade habitual. O movimento de uns – pode-se pensar – comunica-se aos outros; mas não é só isso: as pessoas têm uma meta. E ela está lá antes mesmo que se encontrem palavras para descrevê-la: a meta é o ponto mais negro – o local onde a maioria encontra-se reunida” (Canetti, 1995: 14-15).
Para Canetti,
“a massa destrói preferencialmente edifícios e objetos. Como freqüentemente se trata de coisas quebradiças – como vidraças, espelhos, vasos, quadros, louça –, inclinamo-nos a acreditar que é justamente esse caráter quebradiço dos objetos que estimula a massa à destruição” (Canetti, 1995: 18).
Elias Canetti (1905-1994) nasceu na Bulgária, filho de judeus sefarditas (descendente de judeus espanhóis de Cañete. Canetti seria a italianização do nome). Viveu em Londres, Viena, Manchester, Lausanne, Frankfurt e Zurique, onde morreu. Recebeu o Nobel da literatura em 1981. Ainda jovem, Canetti assistiu às primeiras manifestações populares de adesão ao nazismo, o que lhe incutiu um previsível temor.
Canetti também discute a noção de malta.
... A qual deriva do latim movita, significando movimento.
Para ele, malta é uma unidade mais antiga do que massa (Canetti, 1995: 93).
A malta seria uma horda de número reduzido (10-20 homens) e teria duas características básicas:
• uma forma que assume a excitação coletiva;• o fato de não poder crescer.
A malta consiste num grupo de pessoas excitadas que nada mais deseja do que ser mais.
É um conjunto de pessoas que sempre viveram juntas e que se encontram diariamente, empreendendo a avaliação mútua em atividades conjuntas (Canetti, 1995: 94).
Como se constitui apenas de conhecidos, a malta é, num ponto, superior à massa (que pode crescer infinitamente): mesmo quando dispersa por circunstâncias adversas, a malta pode voltar a reunir-se.
Canetti define quatro funções e formas para malta:
• caça (e partilha da presa)• guerra (uma forma especializada da caça)• lamentação (quando perde um elemento)• multiplicação (o desejo de ampliar e/ou formar novos
grupos; a comunhão ou refeição conjunta).
Blumer, em sua obra de 1946, procurou diferenciar “público” de “massa”, compreendendo aquele como um grupo de pessoas:
1) que se confrontam com um tema,
2) que se dividem em termos de idéias quanto a um tema,
3) que se envolvem na discussão de um tema
Em síntese, público seria como uma coletividade menos amorfa que a massa.
Esse tema é central para a compreensão dos fenômenos midiaticos e, portanto, para a Teoria da Comunicação. Pode-se perceber afinal que, com a expansão do capitalismo, o fenômeno da sociedade de massa acabou por gerar fenômenos contiguos, como o da « cultura de massa ».
Reflexão introdutória à próxima aula:Da sociedade de massa à cultura de massa.
O desenvolvimento da cultura de massa se associa, historicamente, à expansão do capitalismo, conformando-se como um
fator determinante da padronização dos gostos, do estabelecimento de um
mercado de bens culturais, da criação do conceito de lazer e do estabelecimento
das indústrias do lazer.