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JOSÉ AUGUSTO FIORIN (ORG.) sapiens editora

O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

JOSÉ AUGUSTO FIORIN (ORG.)

sapiens editora

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

2007,Sapiens Editora

Obras da série Estudos da Sociedade:

Volume 1 A organização das sociedades na história da humanidade

Volume 2 O pensamento Humano na história da Filosofia

Volume 3 O Desenvolvimento Brasileiro – Colônia, Império e República

Volume 4 A Humanidade em seu transcurso histórico

Volume 5 Sociologia Rural: Breve Introdução

Catalogação na Fonte

Copyright ®

Fiorin, José Augusto (org.). O Desenvolvimento Brasileiro – Colônia, Império e República. Ijuí: Sapiens Editora, 2007. 180 p.

1.Sociedade 2.História 3.Sociologia 4.Cultura 5.Estado I.Título II.Série

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

JOSÉ AUGUSTO FIORIN (ORG.)

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

ORIGEM DOS POVOS AMERICANOS

Várias hipóteses procuram explicar a origem dos povos

americanos. A mais aceita afirma que o povoamento da América começa

entre 15 e 25 mil anos antes da chegada dos europeus. Povos

mongólicos teriam migrado da Ásia para a América através do estreito de

Bering durante um período de glaciações, quando o gelo teria formado

uma ponte natural entre os dois continentes. Caçadores nômades viriam

seguindo o deslocamento das manadas de animais, espalhado-se em

ondas migratórias sucessivas por todo o continente.

HIPÓTESE ALTERNATIVA – Muitos historiadores têm

trabalhado com uma hipótese alternativa: o povoamento da América teria

começado antes, em quatro ondas migratórias principais distanciadas no

tempo. Grupos mongólicos teriam chegado por Bering. Australianos, pelo

Pólo Sul, polinésios e esquimós pelo oceano Pacífico: os polinésios

teriam aportado ao sul, dirigindo-se para a costa oeste sul-americana; os

esquimós, ao norte, ocupando a América do Norte.

O n a t i v o b r a s i l e i r o

São poucos os estudos sobre a presença humana no Brasil

antes da chegada de Cabral. Nos sítios arqueológicos de Paranapanema

(SP) e Lagoa Santa (MG), os indícios de presença humana datam de 12

mil anos. Recentemente, pesquisas arqueológicas em São Raimundo

Nonato, no interior do Piauí, registram indícios de até 48 mil anos –

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restos de fogueiras e artefatos de pedra. Essas descobertas, no entanto,

ainda são polêmicas e não se constituem em prova definitiva.

GRANDES GRUPOS INDÍGENAS – A primeira classificação

dos nativos brasileiros só é feita em 1884 pelo viajante alemão Karl von

Steinen. Ele registra a presença de quatro grupos ou nações indígenas:

tupi-guarani, a maioria, jê ou tapuia, nuaruaque ou naipure e caraíba ou

cariba. São sociedades tribais baseadas no patriarcalismo e numa

divisão sexual e etária do trabalho. Vivem principalmente da caça, da

pesca, da coleta de frutos e raízes. Alguns grupos já praticam uma

agricultura de subsistência. Plantam tabaco, milho, batata-doce,

mandioca, abóbora e ervilha e usam a queimada para limpar o solo. Com

os portugueses, começam a cultivar também o arroz, o algodão e a

cana-de-açúcar.

POPULAÇÃO INDÍGENA ORIGINAL – As estimativas sobre a

população indígena na época do descobrimento variam de 1 milhão a 3

milhões de habitantes. Em cinco séculos, a população indígena reduz-se

a 280 mil pessoas, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio). A

escravização, a aculturação e o extermínio deliberado resultam no

desaparecimento de várias nações

DESCOBERTA DO BRASIL?

Vasco da Gama retorna vitorioso a Portugal em 1499. Traz

uma carga de porcelanas, sedas, tapetes e especiarias que garantem

grandes lucros à Coroa. Rapidamente uma nova expedição é organizada

e seu comando é entregue ao almirante Pedro Álvares Cabral. A

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esquadra sai da praia do Restelo, em Lisboa, dia 9 de março de 1500,

com destino a Calicute, na Índia. Seu objetivo é estabelecer uma feitoria

– espécie de entreposto comercial – e fazer acordos com o soberano

local que garantam o monopólio do comércio para Portugal.

PEDRO ÁLVARES CABRAL

(1467-1517) é o segundo filho dos senhores

do Castelo e das terras de vila Belmonte, na

Beira-Baixa. A história de sua família é

semelhante à da maioria da nobreza

portuguesa: cavaleiros e soldados, inclusive

mercenários, que conquistam títulos e terras

na luta pela reconquista do território aos

muçulmanos e, num segundo momento, nas

guerras contra Castela que levam a casa de

Avis ao trono português. Pedro Álvares muda-se para a corte aos 11

anos. Estuda literatura, história e ciências, cosmografia, marinharia e as

artes militares. Aos 16 anos é nomeado fidalgo da corte de dom João II.

No reinado de dom Manuel, passa a integrar o Conselho do Rei, é

admitido na Ordem de Cristo – uma distinção entre os nobres – e recebe

uma pensão anual. Aos 33 anos é escolhido para comandar a segunda

expedição às Índias. Depois de alcançar as terras brasileiras, retoma a

rota de Vasco da Gama. Aporta em várias reinos africanos, estabelece

relações com os poderosos locais e chega a Calicute em 13 de setembro

de 1500. Ao voltar a Lisboa, dia 6 de junho de 1501, é aclamado herói.

Sua glória dura pouco. Desentende-se com o rei sobre o comando da

próxima expedição às Índias, programada para 1502. Vasco da Gama é

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escolhido para comandar a esquadra, e Cabral desaparece do cenário

político.

ESQUADRA DE CABRAL – Cabral comanda a maior e mais

bem equipada frota a zarpar dos portos ibéricos até então. Com dez

naus e três caravelas, leva 1.500 homens, quase 3% da população de

Lisboa, na época com cerca de 50 mil habitantes. São representantes da

nobreza, comerciantes, artesãos, religiosos, alguns degredados e

soldados. Participa da expedição um banqueiro florentino, Bartholomeu

Marquione, elo de ligação entre a Coroa portuguesa e Lourenço de

Medici, o senhor de Florença. É essa expedição que descobre o Brasil,

dia 22 de abril de 1500.

OS PILOTOS – A esquadra inclui alguns dos mais experientes

navegadores da época. Um deles é Bartolomeu Dias, o primeiro a

contornar o cabo da Boa Esperança e a descobrir a passagem marítima

para a Ásia, em 1485. Outro é Duarte Pacheco Pereira, apontado pelos

historiadores como um dos mais completos cartógrafos e pilotos da

Marinha portuguesa do período. Bartolomeu Dias não chega às Índias.

Morre quando seu navio naufraga justamente ao cruzar o cabo da Boa

Esperança, que conquistara 12 anos antes.

O p o l ê m i c o d e s v i o d e r o t a

Por muito tempo, o descobrimento do Brasil, ou "achamento",

como registra o escrivão Pero Vaz de Caminha, é considerado simples

acaso, resultado de um desvio de rota. A partir de 1940 vários

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historiadores brasileiros e portugueses passam a defender a tese da

intencionalidade da descoberta, hoje amplamente aceita.

DESCOBERTA INTENCIONAL – Os historiadores

argumentam que, no final do século XV, Portugal já sabe da existência

de uma grande área de terra firme a oeste do Atlântico. Pode ter sido

avistada por seus pilotos que navegaram para regiões ao sul do golfo da

Guiné. Até o golfo, as correntes marinhas são descendentes e é possível

fazer uma navegação costeira. Do golfo da Guiné para baixo, as

correntes se invertem. Para atingir o sul da África é preciso afastar-se da

costa para evitar os ventos e correntes que ali têm ascendente (corrente

de Benguela), navegar para o ocidente até pegar a "volta do mar", hoje

chamada corrente do Brasil : ventos e correntes descendentes que

passam pelo nordeste brasileiro e levam ao sul do continente africano. O

primeiro a fazer isso é Diogo Cão, em 1482, seguido depois por

Bartolomeu Dias e Vasco da Gama ao contornarem o cabo da Boa

Esperança.

A "QUARTA PARTE" – Em 1498 o rei dom Manuel manda o

cosmógrafo e navegante Duarte Pacheco Pereira percorrer a mesma

rota de Vasco da Gama e explorar a chamada "quarta parte", o

quadrante oeste do Atlântico sul. Em seu livro Esmeraldo de situ orbi, o

navegante relata suas descobertas: "...temos sabido e visto donde nos

vossa alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além da

grandeza do mar Oceano, onde foi achada e navegada uma tão grande

terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes..." Mais dois

navegantes espanhóis, Vicente Pinzón e Diego de Lepe, também teriam

aportado nessas terras, respectivamente em janeiro e fevereiro de 1500.

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Não tomam posse do território por saberem estar na área portuguesa

demarcada pelo Tratado de Tordesilhas.

A posse da terra

A esquadra portuguesa avista sinais de terra dia 21 de abril

pela manhã, segundo a carta de Pero Vaz de Caminha: "...eram muita

quantidade de ervas compridas a que os mareantes chamam botelho,

assim como outras a que dão o nome de rabo de asno". Na manhã

seguinte, 22 de abril, avistam aves e "... neste dia, a horas de véspera,

houvemos vista de terra! Primeiramente de um grande monte, mui alto e

redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã..."

LOCAL DO DESEMBARQUE – Na manhã do dia 23,

procuram uma área abrigada dos ventos para o desembarque — um

porto seguro. Por muito tempo, esse local é confundido com a atual

cidade de Porto Seguro, na Bahia. A partir de 1940, historiadores

brasileiros e portugueses reestudam a questão e concluem que o

verdadeiro local do desembarque é a baia Cabrália, ao norte da cidade

de Porto Seguro.

PRIMEIRA MISSA E POSSE FORMAL – No dia 26 de abril,

frei Henrique de Coimbra, capelão da esquadra, celebra a primeira missa

na nova terra, no local hoje conhecido como Coroa Vermelha – na época

um ilhéu, atualmente um promontório. Cabral toma posse formal do novo

território em nome da casa real portuguesa em 1º de maio. No dia

seguinte, a esquadra parte rumo às Índias. Uma nau volta a Portugal

com as cartas dos pilotos, inclusive a de Caminha, que relatam a

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descoberta ao rei. Ficam em terra dois desertores e dois marinheiros

com a missão de aprender a língua dos nativos.

OS NOMES DA NOVA TERRA – Considerada a princípio uma

ilha, a nova terra recebe o nome de Vera Cruz. Desfeito o engano, é

chamada de Terra de Santa Cruz. Em mapas da época e relatos de

viagem aparece como Terra dos Papagaios, aves que os europeus

consideram exótica, e de Terra dos Brasis, devido à abundância da

árvore pau-brasil (Caesalpinia echinata).

PERÍODO PRÉ-COLONIAL

O primeiro reconhecimento da nova terra é feito em maio de

1500 pela nau mandada de volta a Portugal com a notícia do

descobrimento. Rapidamente a Coroa envia uma expedição exploratória

à terra nova. Chega ao litoral do atual Rio Grande do Norte em 1501 e

navega para o sul por cerca de 2.500 milhas. Dá nomes aos lugares

descobertos: baía de Todos os Santos, cabo de São Tomé, Angra dos

Reis, São Vicente. A segunda expedição, entre 1502 e 1503, conta com

a participação de Américo Vespúcio, navegante italiano que tem seu

nome associado a todo o continente e, nessa época, trabalha para

Portugal.

E n t r a d a s

Completamente voltada ao comércio com o Oriente, a Coroa

portuguesa arrenda a exploração da costa para um grupo de

comerciantes liderados por Fernão de Loronha, que entra para história

com o nome de Fernando de Noronha. Eles podem extrair pau-brasil de

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300 léguas do litoral por ano, comprometem-se a pagar as taxas devidas

e a garantir a defesa da costa.

EXPEDIÇÕES DE FERNÃO DE LORONHA – A primeira

expedição chega ao Brasil em 1503 e descobre a ilha de São João, ou

da Quaresma, atual arquipélago de Fernando de Noronha. No

continente, negociam o corte do pau-brasil com os índios. Conseguem

carregar pelo menos seis navios por ano. Em 1511, Loronha leva para

Portugal 5 mil toras de pau-brasil, índios escravizados e animais

silvestres, como papagaios, tuins e sagüis.

PAU-BRASIL – O

pau-brasil é colocado sob

monopólio da Coroa

portuguesa. A exploração é feita

através de contratos de

arrendamento com companhias

particulares, que devem pagar

um quinto do valor obtido ao

governo português. É extraído

do litoral do Rio Grande do

Norte até o do Rio de Janeiro. O

corte e o transporte local são realizados inicialmente pelos índios, sob

controle de feitores, comerciantes ou colonos. Depois, por escravos

negros. Até 1875 o "pau de tinta" aparece nas listas de produtos

exportados pelo Brasil.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

P r i m e i r o s i m i g r a n t e s

Muitos europeus se fixam no Brasil nos primeiros anos após o

descobrimento. São náufragos, marinheiros desertores, degredados

expulsos de Portugal pelas draconianas Ordenações Manuelinas,

legislação criminal portuguesa considerada a mais severa da Europa.

Chegam também aventureiros de várias nacionalidades, inclusive

fidalgos em missões oficiais ou em busca de fortuna. Vêm ainda judeus

portugueses convertidos ao cristianismo, os chamados cristãos-novos.

JOÃO RAMALHO (?-1580?) é um dos primeiros europeus a

assentar vida no Brasil. A data de sua chegada é imprecisa. A versão

mais aceita sobre sua vida o aponta como um degredado pelas

Ordenações Manuelinas. Deixa a esposa grávida em Portugal e aporta

em São Vicente, onde se estabelece. Junta-se com a índia Bartira, filha

de Tibiriçá, chefe da tribo dos tupinambás, e tem muitos filhos. Os

jesuítas o encontram por volta de 1550 e sua vida é descrita pelo padre

Manoel da Nóbrega como petra scandali: "Tem muitas mulheres. Ele e

seus filhos andam com as irmãs das esposas e têm filhos delas. Vão à

guerra com os índios e suas festas são de índios e assim vivem andando

nus como os mesmos índios". João Ramalho é o guia de Martim Afonso

de Souza nas entradas de reconhecimento do planalto de Piratininga e

ajuda a contatar tribos indígenas da região. Mais tarde, fixa moradia no

povoado de São Paulo de Piratininga, combate os índios tupiniquins ao

lado dos portugueses e recebe o título e os privilégios de capitão-mor.

C o n c o r r ê n c i a e s t r a n g e i r a

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Atraídos por histórias de tesouros fantásticos, outros povos

fazem viagens freqüentes às costas do novo território, principalmente

espanhóis e franceses. Voltam com os navios abarrotados de pau-brasil

e obtêm lucros certeiros nos mercados europeus. As expedições são

feitas por particulares: comerciantes, traficantes e piratas, a maioria com

apoio velado de seus governos.

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COLÔNIA

Endividado pelos investimentos nas viagens ao Oriente,

Portugal tem esperança de encontrar metais e pedras preciosas na nova

terra. No entanto, para garantir sua posse frente aos governos

estrangeiros, precisa ocupá-la e promover seu efetivo povoamento. O

período colonial começa com a expedição de Martim Afonso de Souza,

em 1530, e vai até a proclamação da independência por dom Pedro I em

7 de setembro de 1822.

E x p e d i ç ã o d e M a r t i m Af o n s o

Martim Afonso de Souza, militar e primeiro administrador

colonial, parte de Lisboa em 3 de dezembro de 1530 com cinco navios e

400 homens. Sua missão: combater os piratas franceses, fazer um

reconhecimento da costa brasileira e indicar os melhores locais para

iniciar o povoamento. Seus poderes são definidos em cartas régias.

Pode doar terras, nomear capitães-mores e oficiais de justiça e, onde for

possível, organizar núcleos de povoados.

EXPLORAÇÃO DO RIO DA PRATA – Em 30 de abril de 1531,

depois de deixar soldados no litoral de Pernambuco, Martim Afonso

chega à região da Guanabara. Depois navega até o rio da Prata, que,

pelo Tratado de Tordesilhas, está em território espanhol. Mesmo assim,

manda uma de suas naus navegar rio acima para explorar o interior e

toma posse da região em nome de dom João III, rei de Portugal.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE – Ao retornar do Prata,

Martim Afonso aporta na região de São Vicente, que já é um centro de

comércio de índios escravizados. Com a ajuda de João Ramalho, funda

a vila de São Vicente, a primeira oficialmente criada na colônia, em 22 de

janeiro de 1532. Do litoral, sobe em direção ao planalto e organiza o

povoamento de Santo André da Borda do Campo. Regressa a Portugal

no ano seguinte.

MARTIM AFONSO DE SOUZA (1500-

1571), filho de nobres portugueses, vive na corte

desde muito jovem. Estuda matemática,

cosmografia e navegação. É nomeado pajem do

duque de Bragança e, mais tarde, do infante dom

João, o príncipe herdeiro. Ao subir ao trono, dom

João III garante a Martim Afonso posições de

prestígio. Recebe o comando da primeira expedição

colonizadora ao Brasil e, quando a colônia é

dividida em capitanias, é nomeado donatário de São

Vicente e do Rio de Janeiro. Não fica no Brasil para

administrar suas possessões. Em 1533 é nomeado

capitão-mor do mar das Índias, onde as feitorias

portuguesas vêm sofrendo vários ataques. Defende a feitoria de Diu

contra os mouros e hindus, derrota o rajá de Calicute, ataca e ocupa a

ilha de Repelina, destrói a fortaleza de Damão e combate os corsários

que saqueiam as embarcações portuguesas. Vitorioso, é nomeado vice-

rei das Índias por dom João III em 1542. O fim de sua carreira é

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controverso. Alguns historiadores dizem que Martim Afonso volta a

Portugal em 1545 e assume um lugar no Conselho de Estado, onde fica

até morrer. Outros afirmam que ele é chamado de volta a Portugal sob

acusação de desvio de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito,

mantendo-se afastado da vida pública até morrer.

ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

Sem dinheiro para bancar os custos de

um processo de colonização centralizado, dom

João III adota o modelo que já experimentara com

sucesso nas possessões da África – o das

capitanias hereditárias. Pouco tempo depois,

institui também a figura do Governo Geral.

Capitanias e Governo Geral coexistem por mais

de dois séculos, numa sobreposição de poderes

nem sempre tranqüila. O sistema de governos gerais é interrompido

entre 1580 e 1640, época em que Portugal e suas colônias ficam sob

domínio da Espanha.

C a p i t a n i a s h e r e d i t á r i a s

Pelo sistema de capitanias hereditárias, implantado entre 1534

e 1536, a Coroa repassa para a iniciativa privada a tarefa e os custos de

promover a colonização.

DIVISÃO DO TERRITÓRIO – A colônia é dividida em 15

donatarias, ou capitanias: faixas paralelas de terra, com 50 léguas de

largura, que vão do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. São

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

doadas a 12 capitães donatários, geralmente membros da pequena

nobreza enriquecidos no comércio com o Oriente. Em troca das terras,

comprometem-se com a Coroa em desenvolver a agricultura canavieira e

montar engenhos de açúcar, produto raro e muito valorizado na Europa.

Alguns donatários não chegam a tomar posse. Outros renunciam a seus

direitos ou vão à falência nos primeiros anos. Das 15 capitanias, as de

São Vicente e de Pernambuco são as de maior sucesso. Esta última

consegue grande prosperidade com a lavoura de cana e produção de

açúcar. O sistema de capitanias é extinto em 1759.

DIREITOS DOS DONATÁRIOS – Em suas capitanias, os

donatários são senhores absolutos e devem obediência apenas ao rei.

Têm autonomia civil e criminal sobre as terras cedidas, recebem a

propriedade sobre dez léguas de terra ao longo da costa e direitos de

posse e usufruto sobre a produção do restante da capitania. São

autorizados a vender anualmente em Lisboa 39 índios escravizados.

Podem fundar vilas, nomear ouvidores e tabeliães e doar lotes de terra –

as sesmarias – aos cristãos que tenham condições de torná-las

produtivas. Apesar dos privilégios, a empreitada é cheia de riscos e

exige investimentos iniciais volumosos. As vilas são administradas por

alcaide nomeado pelo donatário e por uma câmara municipal (às vezes

chamada de senado da câmara). A câmara é formada por três ou quatro

vereadores, um procurador, dois almotacéis (ou fiscais), um tesoureiro e

um escrivão e presidida por um juiz ordinário ou juiz-de-fora, nomeado

pela Coroa. Os vereadores, com mandatos de três anos, são eleitos

entre os proprietários de terra e de escravos.

G O V E R N O G E R AL

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

O rei dom João III cria o Governo Geral e transforma a

capitania da Bahia em capitania real em 17 de dezembro de 1548. Seu

objetivo é centralizar a administração colonial por meio de funcionários

de confiança e, assim, aumentar o controle sobre os lucros da produção

açucareira e a eficiência no combate às invasões estrangeiras. O

Governo Geral é mantido durante a dominação espanhola com a

independência portuguesa, os governadores recebem o título de vice-

reis. O sistema é extinto em 1808, com a vinda da corte portuguesa para

o Brasil.

ESTRUTURA DOS GOVERNOS

GERAIS – O governador-geral, nomeado pelo rei,

é assessorado pelas Juntas Gerais, que

funcionam como um Conselho de Estado, e pelas

Juntas de Fazenda, encarregadas da

administração econômica e fiscal. As vilas

continuam sob o poder dos capitães-donatários,

que não aceitam a ingerência dos funcionários

reais em seus negócios. Na prática, o poder dos

primeiros governadores limita-se à capitania da

Bahia.

GOVERNADORES – O primeiro é Tomé de Souza. Ele chega

ao Brasil em 29 de março de 1549 e governa até sua morte, em 1553. É

substituído por Duarte da Costa, que fica no cargo por quatro anos. O

terceiro é Mem de Sá, que governa de 1557 até 1572. Até a chegada da

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

família real no Brasil, em 1808, sucedem-se na colônia 47 governadores-

gerais.

FUNDAÇÃO DE SALVADOR – Salvador, sede do Governo

Geral é fundada por Tomé de Souza logo após sua chegada, em 1549. A

vila cresce rapidamente com a vinda de mais colonos, atraídos pelas

doações de sesmarias. Eles introduzem a cultura do arroz e de árvores

frutíferas, começam as criações de gado, as plantações de cana-de-

açúcar e instalam engenhos.

FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO – A cidade de São

Sebastião do Rio de Janeiro é fundada em 1º de março de 1565 por

Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá. O local

escolhido é o do antigo forte construído pelos franceses na entrada da

baía de Guanabara.

DIVISÃO DO GOVERNO GERAL – Em 1572 dom Sebastião

divide a administração da colônia em dois governos gerais. O do sul,

com sede em São Sebastião do Rio de Janeiro, fica responsável pelos

territórios da capitania de Ilhéus para baixo. O governo do norte, com

capital em Salvador, se encarrega de administrar a região que vai da

capitania de Porto Seguro à de Pernambuco. O sistema dura pouco. O

governo único é restabelecido em 1578; há uma nova divisão entre 1608

e 1612.

ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ – Em 1621, já sob

domínio espanhol, é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará. Seu

objetivo é melhorar as defesas da costa e os contatos com a metrópole,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

já que as relações com Salvador são dificultadas pelas correntes

marítimas.

ECONOMIA COLONIAL

A economia colonial brasileira é integrada ao processo mundial

de expansão do capitalismo mercantil. Baseada no monopólio colonial –

Portugal tem a exclusividade do comércio com a colônia –, é altamente

especializada e dirigida para o mercado externo. Internamente tem

caráter predatório sobre os recursos naturais. As técnicas agrícolas

utilizadas são rudimentares e provocam rápido esgotamento da terra. A

produção está centrada na grande propriedade monocultora, o latifúndio,

e na utilização de numerosa mão-de-obra escrava – primeiro dos

indígenas e depois dos negros.

E s c r a v i d ã o

O trabalho compulsório do indígena é usado em diferentes

regiões do Brasil até meados do século XVIII. A caça ao índio é um

negócio local e os ganhos obtidos com sua venda permanecem nas

mãos dos colonos, sem lucros para Portugal. Por isso, a escravização do

nativo brasileiro é gradativamente desestimulada pela metrópole e

substituída pela escravidão negra. O tráfico negreiro é um dos mais

vantajosos negócios do comércio colonial e seus lucros são canalizados

para o reino.

ESCRAVIDÃO NEGRA – A primeira leva de escravos negros

que chega ao Brasil vem da Guiné, na expedição de Martim Afonso de

Souza, em 1530. A partir de 1559, o comércio negreiro se intensifica. A

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Coroa portuguesa autoriza cada senhor de engenho a comprar até 120

escravos por ano. Sudaneses são levados para a Bahia e bantus

espalham-se pelo Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de

Janeiro e São Paulo.

TRÁFICO DE

ESCRAVOS – O tráfico

negreiro é oficializado em

1568 pelo governador-geral

Salvador Correa de Sá. Em

1590, só em Pernambuco

registra-se a entrada de 10

mil escravos. Não há

consenso entre os

historiadores sobre o

número de escravos

trazidos para o Brasil.

Alguns, como Roberto Simonsen e Sérgio Buarque de Holanda, estimam

esse número entre 3 milhões e 3,6 milhões. Caio Prado Júnior supõe

cerca de 6 milhões e Pandiá Calógeras chega aos 13,5 milhões.

C a n a - d e -

a ç ú c a r

O cultivo da cana-

de-açúcar é introduzido no

Brasil por Martim Afonso de

Souza, na capitania de São

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Vicente. Seu apogeu ocorre entre 1570 e 1650, principalmente em

Pernambuco. Fatores favoráveis explicam o sucesso do

empreendimento: experiência anterior dos portugueses nos engenhos

das ilhas do Atlântico, solo apropriado, principalmente no Nordeste,

abundância de mão-de-obra escrava e expansão do mercado

consumidor na Europa. A agroindústria açucareira exige grandes

fazendas e engenhos e enormes investimentos em equipamentos e

escravos.

O ENGENHO – Os chamados engenhos de açúcar são

unidades de produção completas e, em geral, auto-suficientes. Além da

casa grande, moradia da família proprietária, e da senzala, dos escravos,

alguns têm capela e escola, onde os filhos do senhor aprendem as

primeiras letras. Junto aos canaviais, uma parcela de terras é reservada

para o gado e roças de subsistência. A "casa do engenho" possui toda a

maquinaria e instalações fundamentais para a obtenção do açúcar.

ECONOMIA AÇUCAREIRA – Estimativa do final do século

XVII indica a existência de 528 engenhos na colônia. Eles garantem a

exportação anual de 37 mil caixas, cada uma com 35 arrobas de açúcar.

Dessa produção, Portugal consome apenas 3 mil caixas anuais e

exporta o resto para a Europa. O monopólio português sobre o açúcar

assegura lucros consideráveis aos senhores de engenho e à Coroa.

Esse monopólio acaba quando os holandeses começam a produzir

açúcar nas Antilhas, na segunda metade do século XVII. A concorrência

e os limites da capacidade de consumo na Europa provocam uma rápida

queda de preços no mercado.

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M i n e r a ç ã o

Na passagem do século XVII para o XVIII, são descobertas

ricas jazidas de ouro no centro-sul do Brasil. A Coroa portuguesa volta

toda sua atenção para as terras brasileiras. A região das minas espalha-

se pelos territórios dos atuais Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato

Grosso e torna-se pólo de atração de migrantes: portugueses em busca

de fortuna, aventureiros de todas as regiões do Brasil e escravos

trazidos do Nordeste. Criam-se novas vilas: Sabará, Mariana, Vila Rica

de Ouro Preto, Caeté, São João del Rey, Arraial do Tejuco (atual

Diamantina) e Cuiabá.

O QUINTO – A Coroa portuguesa autoriza a livre exportação

de ouro mediante o pagamento de um quinto do total explorado. Para

administrar e fiscalizar a atividade mineradora, cria a Intendência das

Minas, vinculada diretamente à metrópole. Toda descoberta deve ser

comunicada. Para garantir o pagamento do quinto, são criadas a partir

de 1720 as casas de fundição, que transformam o minério em barras

timbradas e quintadas. Em 1765 é instituída a derrama: o confisco dos

bens dos moradores para cobrir o valor estipulado para o quinto quando

há déficit de produção.

ECONOMIA MINERADORA – O chamado "ciclo do ouro" traz

uma grande diversificação social para a colônia. A exploração das

jazidas não exige o emprego de grandes capitais, permite a participação

de pequenos empreendedores e estimula novas relações de trabalho,

inclusive com a mão-de-obra escrava. Os escravos trabalham por tarefa

e, muitas vezes, podem ficar com uma parte do ouro descoberto. Com

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isso, têm a chance de comprar sua liberdade. O período áureo dura

pouco: entre 1735 e 1754, a exportação anual gira em torno de 14.500

kg. No final do século, o volume enviado a Portugal cai para 4.300 kg por

ano, em média.

DIAMANTES – A exploração de diamantes toma corpo por

volta de 1729, nas vilas de Diamantina e Serra do Frio, no norte de

Minas Gerais. A produção atinge grandes volumes e chega a causar

pânico no mercado joalheiro europeu, provocando a queda nos preços

das pedras. Em 1734 é instituída uma intendência para administrar as

lavras. A extração passa a ser controlada por medidas severas que

incluem confisco, proibição da entrada de forasteiros e expulsão de

escravos.

D i v e r s i f i c a ç ã o a g r í c o l a

A agricultura de subsistência e a pecuária desenvolvem-se ao

longo dos caminhos para as minas e nas proximidades das lavras. O

crescimento demográfico aumenta rapidamente os lucros dessas

atividades. Sesmarias são doadas na região a quem queira cultivá-las.

Novas culturas surgem em outras áreas da colônia.

NOVOS PRODUTOS AGRÍCOLAS – Em meados do século

XVII, o algodão, o tabaco e o cacau passam a ser produzidos em larga

escala e a integrar a pauta de exportações da colônia. A produção

algodoeira desenvolve-se no Nordeste, em especial Maranhão e

Pernambuco. O tabaco é produzido principalmente na Bahia, seguida por

Alagoas e Rio de Janeiro e, ao longo do século XVII, o produto é usado

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

como moeda de troca para aquisição de escravos nos mercados da

costa africana. O cacau é explorado inicialmente apenas em atividade

extrativista, no Pará e no Amazonas. Começa então a ser cultivado na

Bahia e no Maranhão com mão-de-obra escrava.

INTRODUÇÃO DO CAFÉ – O café é introduzido no Brasil por

Francisco de Melo Palheta, em 1727, que o contrabandeia da Guiana

Francesa. Durante o século XVIII, seu cultivo limita-se ao nordeste, onde

os solos não são adequados. A cafeicultura só se desenvolve no século

XIX, quando o produto começa a ser cultivado na região Sudeste.

FRANCISCO DE MELO PALHETA (1670 –?) nasce em Belém

do Pará e é considerado o primeiro a introduzir o café no Brasil. Militar e

sertanista, em 1727 é mandado à Guiana Francesa e recebe duas

incumbências do governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, João

Maia da Gama. A primeira tem caráter diplomático: o governador da

Guiana, Claude d'Orvilliers, tinha mandado arrancar um padrão com o

escudo português plantado na fronteira entre as duas colônias. A missão

de Palheta seria fazer respeitar a divisa, estabelecida pelo Tratado de

Utrecht no rio Oiapoque. A segunda tarefa de Palheta é clandestina:

deveria obter mudas de café, cultivado nas Guianas desde 1719, e trazê-

las para o plantio no Pará. O sertanista cumpre suas duas incumbências.

Faz os franceses aceitarem a faixa divisória entre os dois países e traz

mudas de café para o Brasil, apesar da proibição formal do governo

francês. Conta-se que ele mesmo teve um cafezal no Pará, com mais de

mil pés, para o qual pediu ao governo cem casais de escravos.

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EXPANSÃO DO AÇÚCAR – A agroindústria açucareira do

nordeste volta a se expandir no século XVIII, quando as revoltas

escravas nas Antilhas interrompem a produção local. O aumento das

exportações brasileiras estimula a expansão dos canaviais para o Rio de

Janeiro e São Paulo, já enriquecidos pelo comércio do ouro.

P e c u á r i a

Fator essencial na ocupação e povoamento do interior, a

pecuária se desenvolve no vale do rio São Francisco e na região sul da

colônia. As fazendas do vale do São Francisco são latifúndios

assentados em sesmarias e dedicados à produção de couro e criação de

animais de carga. Muitos proprietários arrendam as regiões mais

distantes a pequenos criadores. Não é uma atividade dirigida para a

exportação e combina o trabalho escravo com a mão-de-obra livre:

mulatos, pretos forros, índios, mestiços e brancos pobres. No sul, a

criação de gado é destinada à produção do charque para o

abastecimento da região das minas.

EXPANSÃO TERRITORIAL

A busca de mão-de-obra indígena, a pecuária e a mineração

são atividades que resultam na expansão da ocupação portuguesa para

áreas além dos limites do Tratado de Tordesilhas. Essa expansão é

estimulada pela Coroa portuguesa velada ou abertamente.

B a n d e i r a s

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O apresamento de indígenas e a busca de metais e pedras

preciosas são os principais objetivos das bandeiras. No início do século

XVII, com Portugal sob domínio espanhol, a Holanda investe no

comércio de mão-de-obra africana e desorganiza o tráfico português. O

fluxo de escravos negros para algumas regiões da colônia diminui e

renasce o interesse pela escravização do indígena. Quando o tráfico

negreiro é regularizado, as bandeiras continuam, motivadas pela procura

de metais e pedras preciosas.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

AS EXPEDIÇÕES – A capitania de São Vicente é o principal

ponto de partida das bandeiras: grandes expedições, às vezes formadas

por milhares de homens, que viajam pelo interior durante meses e até

anos. Vão fixando acampamentos temporários para melhor explorar uma

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região – possibilidade de encontrar ouro, prata e pedras preciosas – ou

preparar o ataque às tribos indígenas. Para o apresamento, os alvos

principais são os aldeamentos jesuíticos. Estima-se que 300 mil índios

são escravizados entre 1614 e 1639. As primeiras bandeiras são

comandadas por Diogo Quadros e Manuel Preto, em 1606, e Belchior

Dias Carneiro, em 1607.

RAPOSO TAVARES – Em 1629, Antônio Raposo Tavares e

Manuel Preto dirigem uma bandeira com 900 mamelucos e 2.200 índios.

Eles destroem os aldeamentos jesuítas de Guayra, na atual fronteira

com o Paraguai, aprisionando milhares de indígenas. Raposo Tavares

faz uma outra grande bandeira entre 1648 e 1651: sai de São Paulo,

alcança o Peru, desce o Amazonas até o Pará.

PEDRO TEIXEIRA – A bandeira de Pedro Teixeira sobe o rio

Amazonas até Quito, em 1637. Retorna ao Pará em 1639 e é derrotado

pelos índios com o apoio dos jesuítas em 1641.

FERNÃO DIAS PAES – Conhecido como caçador de

esmeraldas, a bandeira de Fernão Dias embrenha-se pelo interior do

atual Estado de Minas Gerais, entre 1674 e 1681, em busca de ouro e

pedras preciosas. Em outra expedição, vai às Missões, no sul, junto com

Raposo Tavares.

ANHANGÜERA – Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido

como Anhangüera, procura ouro no Brasil central. Chega ao rio

Vermelho, sudoeste de Goiás, entre 1680 e 1682.

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PASCOAL MOREIRA CABRAL –

Parte de Sorocaba e atinge o Mato Grosso.

Encontra ouro às margens do rio Coxipó-Mirim,

em 1719.

ARTUR E FERNÃO PAES DE

BARROS – A bandeira dos Paes de Barros parte

de Cuiabá. Descobre ouro na bacia do rio

Guaporé, no Mato Grosso, em 1731.

DOMINGOS JORGE VELHO – A bandeira de Domingos Jorge

Velho dirige-se ao Nordeste do Brasil entre 1695 e 1697. Subjuga

indígenas do Maranhão a Pernambuco e ajuda a exterminar o Quilombo

de Palmares.

O c u p a ç ã o d o s e r t ã o

A pecuária desenvolvida nos engenhos de Pernambuco e

Bahia contribui para o desbravamento do interior do Nordeste. O "sertão

de fora", como é chamada a região próxima do litoral, é ocupado a partir

de Pernambuco, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, e os migrantes

chegam até o interior do Ceará. O "sertão de dentro", mais para o

interior, é ocupado a partir da Bahia. Os canais de acesso são os rios

São Francisco, que leva ao sertão baiano e à região das minas, e

Parnaíba, que permite chegar ao sul do Piauí e do Maranhão.

Am a z ô n i a

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O ponto de partida para a ocupação da Amazônia é o Forte do

Presépio, atual cidade de Belém, fundado em 1616 na baía de Guajará

pelo capitão Francisco Castelo Branco. O extrativismo vegetal é o

principal móvel de ocupação e povoamento da Amazônia. As chamadas

"drogas do sertão", como o urucum, o guaraná e alguns tipos de

pimenta, rendem bons lucros no mercado internacional e são alguns dos

produtos monopolizados pela metrópole. À sua procura, milhares de

pessoas internam-se na floresta e os vilarejos vão surgindo às margens

dos rios. A região torna-se também fonte de mão-de-obra indígena,

vendida nas principais praças do Nordeste.

E x t r e m o s u l

A expansão em direção ao sul, num primeiro momento, dirige-se

por mar para o rio da Prata, porta de entrada para o interior do

continente. Uma segunda rota de ocupação parte de Laguna e desce ao

sul por terra. Em geral, é feita por paulistas que chegam ao pampa para

"campear gado xucro", ou seja, montar estâncias com o gado introduzido

na região pelos jesuítas e que se reproduz em grandes manadas sem

donos quando os religiosos são expulsos do Brasil.

COLÔNIA DE SACRAMENTO – A colônia de Sacramento,

atual cidade de Colônia, no Uruguai, é fundada em 20 de janeiro de

1680, na margem esquerda do rio da Prata, praticamente em frente a

Buenos Aires. O ponto é estratégico: permite o acesso por terra a toda a

região do pampa e, por rio, para o atual Centro-Oeste do Brasil, Paraguai

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e Bolívia. Organizada pelos jesuítas, a colônia torna-se um dos centros

da guerra de fronteiras entre portugueses e espanhóis. Tomada pelos

espanhóis em 7 de agosto de 1680, é restituída aos portugueses pelo

Tratado de Lisboa, assinado entre os dois países em 7 de maio de 1681.

FUNDAÇÃO DE MONTEVIDÉU – Em 1726, os espanhóis (ou

castelhanos, como os portugueses chamam os súditos do reino de

Castela) fundam Montevidéu, a leste de Sacramento, também na

margem esquerda do Prata, mas um pouco mais próxima de sua foz.

Pretendem com isso diminuir a influência de Portugal na região dos

pampas e ampliar o controle da navegação no Prata.

FUNDAÇÃO DE RIO GRANDE – Entre 1735 e 1737 nova

guerra explode na região do Prata e os portugueses fazem várias

tentativas de conquistar Montevidéu. O comandante da expedição,

brigadeiro José da Silva Paes, funda o povoamento de Rio Grande de

São Pedro, em 1737, atual cidade de Rio Grande. Porto marítimo

localizado na embocadura da lagoa dos Patos, a região é estratégica

para a ocupação do pampa.

GUERRAS DE FRONTEIRAS – Os conflitos na fronteira

estendem-se por quase todo o século XVIII. Os dois países chegam a

um acordo apenas em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso: os

portugueses reconhecem a soberania espanhola sobre Sacramento e

garantem sua posse sobre o Rio Grande de São Pedro.

GRANDES INVASÕES

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As invasões das terras brasileiras por outros países europeus

começam assim que a notícia do descobrimento espalha-se pela Europa.

Algumas são apenas incursões de piratas e aventureiros e limitam-se à

pilhagem. Outras são promovidas velada ou abertamente por outras

potências européias com o objetivo de conquistar terras no novo

continente e estabelecer colônias. Os ingleses, aliados de Portugal, não

chegam a invadir o Brasil para estabelecer colônias. Os corsários

ingleses – piratas que contam com a proteção velada da Coroa britânica

– fazem várias incursões ao litoral, saqueiam cidades e apresam cargas

de navios. Franceses e holandeses procuram estabelecer colônias no

Brasil.

I n v a s õ e s f r a n c e s a s

Desde o Tratado de Tordesilhas, no final do século XV, a

Coroa francesa manifesta seu desacordo com a divisão do mundo entre

Portugal e Espanha. Defende o direito de uti possidetis – a terra pertence

a quem dela toma posse – e os franceses se fazem presentes no litoral

brasileiro logo após o descobrimento.

FRANCESES NO RIO DE JANEIRO – Em meados do século

XVI, os franceses ocupam o Rio de Janeiro com intenção de estabelecer

uma colônia – a França Antártica. A expedição, chefiada por Nicolas

Durand de Villegaignon, com apoio oficial, traz colonos calvinistas e os

primeiros frades capuchinhos para o Brasil. Fundam em 1555 o forte

Coligny, base de sua resistência às investidas dos portugueses por mais

de dez anos. Em 1565 são derrotados e expulsos pela armada de

Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá. Ele

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

desembarca na baía de Guanabara, toma o forte de Coligny e funda a

cidade do Rio de Janeiro. Em 1710 e 1711 o Rio de Janeiro é saqueado

por duas expedições de corsários franceses.

FRANCESES NO MARANHÃO – Em 1594 os franceses

repetem a tentativa de construir uma colônia em terras brasileiras – a

França Equinocial – e invadem o Maranhão. A expedição é comandada

por Charles des Vaux e Jacques Riffault. Em 6 de setembro de 1612,

liderados por Daniel de la Touche, fundam o forte de São Luís, origem da

cidade de São Luís do Maranhão. São expulsos em 4 de novembro de

1615.

I n v a s õ e s h o l a n d e s a s

Antes do período de domínio espanhol sobre Portugal (1580 a

1640), portugueses e holandeses têm vários acordos comerciais:

companhias privadas holandesas ajudam a financiar a instalação de

engenhos de açúcar, participam da distribuição e comercialização do

produto na Europa e do transporte de negros da África para o Brasil.

Espanha e Holanda, no entanto, são potências rivais e, durante o

domínio espanhol, os holandeses são proibidos de aportar em terras

portuguesas e perdem os privilégios no comércio do açúcar.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

C

OMPANHI

A DAS

ÍNDIAS

OCIDENTA

IS – Para

garantir e

ampliar

seus

negócios na

América e

na África,

governo e

empresas

comerciais

privadas

holandesas

formam, em

1621, a Companhia das Índias Ocidentais – um misto de sociedade

mercantil militarizada e empresa colonizadora. Seu objetivo é garantir o

mercado fornecedor de açúcar e, quando possível, criar colônias nas

regiões produtoras. Interfere também no tráfico negreiro, até então

monopolizado por Portugal e indispensável ao modelo de produção

açucareira instaurado no Brasil.

HOLANDESES NA BAHIA – A primeira tentativa holandesa

de se estabelecer no Brasil ocorre em maio de 1624. Uma expedição

conquista Salvador e consegue resistir aos portugueses por quase um

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

ano. Em abril de 1625 são repelidos por uma frota de 52 navios

organizada por Espanha e Portugal.

HOLANDESES EM PERNAMBUCO – Em 1630 os

holandeses fazem nova investida. Conquistam Recife e Olinda, em

Pernambuco, maior centro produtor de açúcar da colônia. Permanecem

na região por 24 anos. Conquistam o apoio de boa parcela da população

pobre local, como o mulato Calabar, e de muitos senhores de engenho.

O período de maior prosperidade da colônia holandesa ocorre no

governo do príncipe de Nassau, entre 1637 e 1644. Quando Nassau

volta para a Holanda, a vila de Recife entra em rápida decadência.

Conflitos entre os administradores e donos de engenho reduzem a base

de apoio dos holandeses e sua resistência diante dos constantes

ataques portugueses.

DOMINGOS FERNANDES CALABAR (?-1635) é um mulato

pernambucano nascido em Porto Calvo. No início da invasão holandesa,

entre 1630 e 1632, ele combate os invasores. Em 1633 muda de lado.

Os holandeses oferecem liberdade civil e religiosa para quem os apoiar e

conquistam a adesão de muitos índios, negros,

mulatos e cristãos-novos. Calabar passa a lutar ao

lado de seus antigos inimigos. Preso em 1635 em

uma das inúmeras escaramuças com os

portugueses, diz acreditar que o domínio holandês é

mais benéfico que o português. Considerado traidor,

é enforcado por ordem do governador da capitania

de Pernambuco, Matias de Albuquerque.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

GOVERNO NASSAU – O príncipe João Maurício de Nassau

chega à vila de Recife como governador em 1637. Entre seus

colaboradores traz pintores, como Franz Post e Albert Eckhout, que

retratam cenas do cotidiano da colônia, e uma equipe de cientistas.

Promove estudos de história natural, astronomia, meteorologia e

medicina. As doenças que afetam a população são catalogadas e

investigadas. Em seus sete anos de governo, amplia a lavoura

açucareira, desenvolve fazendas de gado, constrói hospitais e orfanatos

e assegura a liberdade de culto aos católicos, protestantes e judeus.

JOHANN MAURITIUS VAN NASSAU-SIEGEN (1604-1679), o

príncipe de Nassau, nasce no castelo de Dillemburg, Alemanha, num dos

ramos da casa de Nassau, família que participa do trono da Alemanha e

dos Países Baixos (Holanda). Ingressa na vida militar muito cedo, em

1618, durante a Guerra dos Trinta Anos, quando entra no exército dos

Países Baixos. Distingue-se no campo de batalha e conquista grande

poder e prestígio. Em 1632 começa a construir o palácio Mauritius, em

Haia, e contrai muitas dívidas. Em 1636 aceita o convite da Companhia

das Índias Ocidentais para administrar a colônia holandesa no Brasil, por

um salário milionário: 1.500 florins mensais, ajuda de custo de 6.000

florins, soldo de coronel do exército e 2% sobre todos os lucros obtidos.

Depois de sete anos no Brasil, desentende-se com a Companhia das

Índias e volta à Holanda. Ocupa vários cargos diplomáticos e militares

importantes: governador de Wessel e general da cavalaria, governador

do principado de Kleve, embaixador junto à dieta de Frankfurt. Em 1652

recebe o título de príncipe do Império Germânico. Retira-se da vida

pública em 1674.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

BATALHAS DE GUARARAPES – As duas batalhas dos

Guararapes, em 1648 e 1649, são decisivas para a derrota dos

holandeses. Elas reúnem forças do Estado do Maranhão e do Governo

Geral da Bahia. Os holandeses capitulam em 26 de janeiro de 1654 e

reconhecem formalmente a soberania portuguesa sobre a vila de Recife

em 1661, no tratado conhecido como Paz de Haia.

SOCIEDADE COLONIAL

Assentada na propriedade monocultora e na escravidão, a

sociedade colonial é patriarcal e sem mecanismos de mobilidade social.

O poder concentrado em grandes proprietários estimula o clientelismo:

os agregados – homens livres que gravitam em torno do engenho – e as

populações das vilas dependem política e economicamente dos

senhores, inclusive de seus favores pessoais.

VIDA URBANA – No nordeste açucareiro a sociedade é

basicamente agrária. A vida urbana se desenvolve primeiramente nas

regiões das minas. A própria natureza da atividade mineradora, com sua

variedade de funções e serviços, estimula o comércio, a formação de

núcleos populosos e permite maior mobilidade social.

POPULAÇÃO – Em 1770 a Coroa portuguesa estima que a

população da colônia seja de 1,5 milhão a 2,5 milhões de pessoas.

Destas, 20,5% estão concentradas em Minas Gerais, 18,5% na Bahia,

15,4% em Pernambuco, 13,8% no Rio de Janeiro, 7,5% em São Paulo e

24,3% espalham-se pelas outras capitanias.

R e s i s t ê n c i a d o s e s c r a v o s

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

As rebeliões e conflitos com escravos atravessam todo o

período colonial e se estendem até a abolição da escravatura, em 1888.

São comuns os casos de suicídio, de fugas, de abortos provocados

pelas escravas e os assassinatos de senhores, feitores e capitães-do-

mato. Revoltas e fugas coletivas nos engenhos são freqüentes,

principalmente no século XVIII, quando há vários levantes urbanos. Na

resistência à opressão branca, os escravos negros também se

organizam coletivamente e formam quilombos. Há registros desses

núcleos autônomos de negros fugidos ao cativeiro em todas as áreas do

Brasil onde aescravidão se fez presente. O mais conhecido é o Quilombo

de Palmares.

QUILOMBO DE PALMARES – Formado na região do atual

Estado de Alagoas por volta de 1630, Palmares é uma confederação de

quilombos organizada sob a direção de Zumbi, o chefe guerreiro. Os

palmarinos praticam a policultura: plantam milho, feijão, mandioca,

batata-doce, banana e cana-de-açúcar. Também criam galinhas e suínos

e conseguem um excedente de produção que é trocado nos

povoamentos vizinhos. A fartura de alimentos em Palmares é um dos

fatores fundamentais de sua resistência. Chega a reunir 30 mil

habitantes e resiste às investidas militares dos brancos por 65 anos. É

destruído em 1694. Zumbi foge e é morto em 1695.

REVOLTA DOS MALÊS – Os malêssão negros das nações

Nagô e Tapa que professam a religião muçulmana e são alfabetizados

na língua árabe. Em janeiro de 1835 lideram um levante em Salvador

considerado como a mais organizada das insurreições urbanas de

escravos de todo o período escravocrata. Seus líderes mantêm contato

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com os cativos do Recôncavo Baiano, grupos de Santo Amaro e

Itapagipe. Reúnem-se periodicamente para discutir os detalhes do

movimento e formam um fundo de guerra que chega a juntar 75 mil-réis.

PLANO DE AÇÃO DOS MALÊS – De acordo com o plano de

ataque, assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os revoltosos

sairiam da Vitória (atual bairro da Barra, em Salvador), "tomando a terra

e matando toda a gente branca". De lá rumariam para a Água dos

Meninos e, depois, para Itapagipe, onde se reuniriam ao restante das

forças. O passo seguinte seria a invasão dos engenhos e a libertação

dos escravos. O plano é denunciado às autoridades da Província, que

preparam a contra-ofensiva. Os revoltosos atacam na madrugada de 25

de janeiro. Sem contar com o fator surpresa, o levante é desbaratado em

dois dias. Cerca de cem escravos e negros libertos são mortos nos

confrontos com a polícia, 281 são presos e pelo menos cinco dos

principais chefes são fuzilados. Entre seus pertences são encontrados

livros em árabe e rezas muçulmanas.

P o d e r r e l i g i o s o

A Igreja Católica participa de todo o projeto de expansão

ultramarina português por intermédio da Ordem de Cristo e está presente

no Brasil desde o descobrimento. Os primeiros religiosos da Companhia

de Jesus chegam com Tomé de Souza, na instalação do Governo Geral.

Os jesuítas cuidam do registro de nascimentos, casamentos e mortes;

estudam as culturas locais e se opõem à escravidão indígena.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

PRIMEIRO BISPADO – Em 1552, por insistência do jesuíta

Manoel da Nóbrega, dom João III autoriza a criação do primeiro bispado

em Salvador. Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo, chega em

junho daquele ano. Institui o sistema de padroado, pelo qual o rei age

como perpétuo administrador da Ordem e Cavalaria do Mestrado de

Nosso Senhor Jesus Cristo. Carmelitas fundam seu primeiro convento

em Pernambuco, em 1584; franciscanos chegam em 1587. A partir de

1594 capuchinhos franceses instalam-se no Maranhão e monges

beneditinos, no Rio, Bahia e Pernambuco. A ação missionária é

regulamentada em 1696 pelo Regimento das Missões.

PRIMEIRAS ESCOLAS – Entre 1554 e 1570 os jesuítas

fundam no Brasil cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro,

Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente e São Paulo de Piratininga) e três

colégios (no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). A organização do

ensinosegue a orientação do Real Colégio das Artes de Coimbra,

chamada ratio studiorum. O currículo divide-se em duas seções ou

classes distintas. Nas classes inferiores, com duração de seis anos,

ensinam-se retórica, humanidades, gramática portuguesa, latim e grego.

Nas classes superiores, com três anos, os alunos aprendem matemática,

física, filosofia, que inclui lógica, moral e metafísica, além de gramática,

latim e grego.

EXPULSÃO DOS JESUÍTAS – Em meados do século XVIII

cresce em Portugal uma oposição sistemática aos jesuítas, liderada por

dom Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, ministro

do rei dom José I. Sob o argumento de que a Companhia de Jesus se

transformara num Estado dentro do Estado português, consegue

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

expulsar os jesuítas de Portugal e de suas colônias em 1759. No Brasil,

com a saída dos jesuítas, colégios e seminários são fechados e as

diferentes formas de registro civil ficam desorganizadas. A reforma

pombalina da educação, em 1770, substitui o sistema jesuítico por um

ensino laico, dirigido pelos vice-reis.

MOVIMENTOS NATIVISTAS

Entre meados do século XVII e começo do século XVIII, os

abusos da Coroa na cobrança de impostos e dos comerciantes

portugueses na fixação de preços começam a gerar insatisfação entre a

elite agrária da colônia. Surgem os chamados movimentos nativistas:

contestação de aspectos do colonialismo e primeiros conflitos de

interesses entre os senhores do Brasil e os de Portugal. Entre esses

movimentos destacam-se a revolta dos Beckman, no Maranhão (1684); a

Guerra dos Emboabas, em Minas Gerais (1708), e a Guerra dos

Mascates, em Pernambuco (1710).

R e v o l t a d o s B e c k m a n

A revolta dos Beckman tem suas origens em problemas no

comércio de escravos no Maranhão. Para abastecer as grandes

propriedades da região, Portugal cria a Companhia de Comércio, em

1682, empresa que monopoliza o comércio de escravos e de gêneros

alimentícios importados. Deve fornecer 500 escravos negros por ano, em

média, durante 20 anos e garantir o abastecimento de bacalhau, vinho e

farinha de trigo. Não consegue cumprir esses compromissos. A carência

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

de mão-de-obra desorganiza as plantações e a escassez de alimentos

revolta a população.

REAÇÃO DOS COLONOS – Em fevereiro de 1684 os

habitantes de São Luís decidem tomar os depósitos da Companhia de

Comércio e acabar com o monopólio. Chefiados por Manuel e Tomás

Beckman, grandes proprietários rurais, prendem o capitão-mor Baltazar

Fernandes e instituem um governo próprio, escolhido entre os membros

da Câmara Municipal. Sem propósitos autonomistas, pedem a

intervenção da metrópole. Portugal acaba com o monopólio da

Companhia de Comércio. O novo governador chega à região em 1685.

Executa os principais cabeças do movimento. Os demais são

condenados à prisão perpétua ou ao degredo.

G u e r r a d o s E m b o a b a s

As disputas pela posse e exploração das minas de ouro são os

motivos da Guerra dos Emboabas. Os portugueses, chamados de

emboabas, reivindicam o privilégio na exploração das minas. Porém,

paulistas e sertanejos também têm o direito de explorá-las. Explodem

conflitos em toda a região das minas. Um deles, que envolve paulistas

comandados por Manuel de Borba Gato e emboabas apoiados por

brasileiros de outras regiões, assume grandes proporções.

CAPÃO DA TRAIÇÃO – Sob o comando de Manuel Nunes

Viana, proclamado governador de Minas, os emboabas decidem atacar

os paulistas concentrados em Sabará. No Arraial da Ponta do Morro,

atual Tiradentes, um grupo de 300 paulistas investe contra os

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

portugueses e seus aliados, mas acaba se rendendo. Bento do Amaral

Coutinho, chefe dos emboabas, desrespeita garantias estabelecidas em

casos de rendição e, em fevereiro de 1709, chacina os paulistas no local

que fica conhecido como Capão da Traição. O governador-geral Antônio

Coelho de Carvalho intervém e obriga Nunes Viana a deixar Minas. Para

melhor administrar a região, é criada em 9 de novembro de 1709 a

capitania de São Paulo e Minas, governada por Antônio de Carvalho. Em

21 de fevereiro de 1720, Minas separa-se de São Paulo.

G u e r r a d o s M a s c a t e s

O conflito de interesses entre os comerciantes portugueses

instalados no Recife, chamados pejorativamente de mascates, e os

senhores de engenho de Olinda dá origem à Guerra dos Mascates.

Olinda é a sede do poder público na época e os senhores de engenho

têm grande influência nos rumos da capitania. No início de 1710, o

governador de Pernambuco, Sebastião de Castro Caldas, decide

promover Recife, onde concentram-se os comerciantes portugueses, a

sede do governo.

CONFRONTO OLINDA-RECIFE – A população de Olinda se

rebela contra a decisão e ataca Recife, dia 4 de março. Destrói o

pelourinho da vila, símbolo do poder político municipal, expulsa o

governador e entrega o poder ao bispo de Olinda, dom Manuel Álvares

da Costa. A metrópole envia outro governador a Pernambuco, Félix

Vasconcelos, que toma posse em 10 de janeiro de 1711. Os conflitos

continuam até 7 de abril de 1714, quando é feito um acordo: Recife

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

permanece como capital e o governador passa a morar seis meses em

cada vila.

CULTURA COLONIAL

Até o século XVII, a escassa vida cultural da colôniagira em

torno dos colégios jesuítas. A literatura e o teatro, influenciados pelo

universo religioso, trazem um discurso retórico e moralizante. Os

primeiros sinais de uma produção cultural de caráter nativista aparecem

no livro de poemas Música no Parnaso, de Manoel Botelho de Oliveira

(1636-1711). Significativa é também a obra satírica de Gregório de

Matos e Guerra, que traça amplo painel da vida na Bahia.

GRÊMIOS LITERÁRIOS – Em meados do século XVIII

começam a proliferar no Rio de Janeiro e na Bahia os grêmios literários

e artísticos. Integrados por médicos, funcionários públicos, militares,

magistrados e clérigos, impulsionam pesquisas e obras com temas

nacionais.

Ar t e e l i t e r a t u r a m i n e i r a s

O desenvolvimento urbano e a

concentração de riquezas na região das minas

permite o florescimento de um excepcional

movimento arquitetônico e plástico: o barroco mineiro. Na literatura, a

região vê nascer o arcadismo, primeira escola literária da colônia.

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BARROCO MINEIRO – O maior expoente do barroco mineiro

é Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Escultor, entalhador e

arquiteto, Aleijadinho trabalha principalmente em Vila Rica, atual Ouro

Preto, e Congonhas do Campo. Tem obras espalhadas em São João del

Rey, Sabará e Mariana.

ARCADISMO – Por volta de 1757, surge um movimento

literário específico da região das minas, o arcadismo. Privilegia o

bucólico e a simplicidade, utiliza imagens da mitologia e modelos

literários greco-romanos. Destacam-se a obra lírica de Tomás Antônio

Gonzaga e os poemas épicos de Cláudio Manuel da Costa. Os árcades

mineiros críticam a opressão colonial e participam da Inconfidência

Mineira.

CRISE DO SISTEMA COLONIAL

A efervescência cultural e as grandes transformações políticas

em curso no mundo ocidental na passagem do século XVIII para o XIX

têm repercussão no Brasil. Na França, é a época do iluminismo, quando

o pensamento liberal se rebela contra as instituições do antigo regime.

Na Inglaterra, a revolução industrial transforma rapidamente as

tradicionais estruturas econômicas. A independência dos Estados

Unidos, em 4 de julho de 1776, primeira grande ruptura do sistema

colonial europeu, torna-se um modelo para as elites nativas das demais

colônias do continente. No Brasil, os pesados impostos, as restrições ao

livre comércio e as proibições às atividades industriais vão acirrando os

conflitos entre as elites locais e o poder metropolitano. Eclodem as

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

primeiras rebeliões claramente emancipatórias: a Inconfidência Mineira

(1788/1789) e a Conjuração Baiana, ou dos Alfaiates (1798).

Ab s o l u t i s m o p o r t u g u ê s

Em Portugal, o absolutismo –

centralização do poder na figura do governante –

atinge seu apogeu durante o reinado de dom José

I, reconhecido como "déspota esclarecido", e de

seu ministro, o marquês de Pombal. Para

fortalecer o poder real, eles reformam o Exército e

a burocracia estatal, subjugam a nobreza e

reduzem o poder do clero. Sua política gera crises

internas e nas colônias. O ministro é obrigado a demitir-se em 4 de

março de 1777. No mesmo ano morre o rei dom José e o trono

português é ocupado por sua filha, dona Maria.

RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO E À INDÚSTRIA – A política

econômica de Pombal resulta em maior controle da metrópole sobre a

colônia. O ministro tenta limitar as brechas no monopólio comercial

português, abertas pelos tratados com a Inglaterra. As elites brasileiras

percebem que têm mais a lucrar com o livre comércio e encontram no

liberalismo a base teórica para defender seus interesses. O governo

português também tenta evitar a diversificação da economia na colônia.

Em 1785 manda fechar as oficinas de metalurgia, ourivesaria e as

manufaturas têxteis no território brasileiro. O afastamento de Pombal não

diminui os conflitos da elite brasileira com a metrópole.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

I n c o n f i d ê n c i a m i n e i r a

Os

inconfidentes querem a

independência do Brasil

e instaurar a República.

Pretendem incentivar as

manufaturas, proibidas

desde 1785, e fundar

uma universidade em

Vila Rica, atual Ouro

Preto. Integrado por membros da elite intelectual e econômica da região

– fazendeiros e grandes comerciantes –, o movimento reflete as

contradições desses segmentos: sua bandeira traz o lema Libertas quae

sera tamem (Liberdade ainda que tardia), mas não se propõe a abolir a

escravidão.

CONSPIRADORES – Entre os conspiradores estão Inácio

José de Alvarenga Peixoto, ex-ouvidor de São João del Rey; Cláudio

Manoel da Costa, poeta e jurista; tenente-coronel Francisco Freire de

Andrada; Tomás Antônio Gonzaga, português, poeta, jurista e ouvidor de

Vila Rica; José Álvares Maciel, estudante de Química em Coimbra que,

junto com Joaquim José Maia, procura o apoio do presidente americano

Thomas Jefferson; Francisco Antônio de Oliveira, José Lopes de

Oliveira, Domingos Vidal Barbosa, Salvador Amaral Gurgel, o cônego

Luís Vieira da Silva; os padres Manoel Rodrigues da Costa, José de

Oliveira Rolim e Carlos Toledo; e o alferes Joaquim José da Silva Xavier,

o Tiradentes.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

DERRAMA – O momento escolhido para a eclosão da revolta

é o da cobrança da derrama, imposto adotado por Portugal no período

de declínio da mineração do ouro. A Coroa fixa um teto mínimo de 100

arrobas para o valor do quinto. Se ele não é atingido, os mineradores

ficam em dívida com o fisco. Na época, essa dívida coletiva chega a 500

arrobas de ouro, ou 7.500 quilos. Na derrama, a população das minas é

obrigada a entregar seus bens para integralizar o valor da dívida.

A DEVASSA – O movimento é denunciado pelos portugueses

Joaquim Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona, em 5 de

março de 1789. Devedores de grandes somas ao tesouro real, eles

entregam os parceiros em troca do perdão de suas dívidas. Em 10 de

maio de 1789 Tiradentes é preso. Instaura-se a devassa – processo para

estabelecer a culpa dos conspiradores –, que dura três anos. Em 18 de

abril de 1792 são lavradas as sentenças: 11 são condenados à forca, os

demais à prisão perpétua em degredo na África e ao açoite em praça

pública. As sentenças dos sacerdotes envolvidos na conspiração

permanecem secretas. Cláudio Manoel da Costa morre em sua cela.

Tiradentes tem execução pública: enforcado no

Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792, seu

corpo é levado para Vila Rica, onde é

esquartejado e os pedaços expostos em vias

públicas. Os demais conspiradores são

degredados.

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER

(1746-1792), o Tiradentes, entra para a história como principal líder do

movimento. Filho de um proprietário rural sem fortuna, aprende as

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

primeiras letras com um de seus irmãos. Mais tarde, trabalha com um

cirurgião, seu padrinho, e aprende noções práticas de medicina e

odontologia. Antes de se tornar soldado, exerce vários ofícios: tropeiro,

minerador e dentista, origem do apelido Tiradentes. Oficial do Regimento

dos Dragões das Minas Gerais, sem raízes na aristocracia local, é

sistematicamente preterido nas promoções. Para alguns historiadores,

Tiradentes é apenas um idealista ingênuo, manipulado pela elite que

articula e dirige a Inconfidência. Entre todos os condenados à morte, é o

único executado.

IMAGENS DE TIRADENTES – Pesquisas nos Autos da

Devassa iniciadas em 1958 e divulgadas em 1992, ano do bicentenário

da morte de Tiradentes, indicam que todas as suas imagens conhecidas

são fictícias. Ele nunca teria usado barba, proibida para os integrantes

do corpo militar onde servia. Consta nos autos que ele tinha em casa

duas navalhas de barbear e um espelho, e que mantém esses objetos

em sua cela durante os três anos de prisão. Além disso, os presos são

proibidos de usar barba e cabelos longos.

C o n j u r a ç ã o b a i a n a

De caráter social e popular, a Conjuração Baiana, ou Revolta

dos Alfaiates, como também é conhecida, explode em Salvador em

1798. Inspira-se nas idéias da Revolução Francesa e da Inconfidência

Mineira, divulgadas na cidade pelos integrantes da loja maçônica

Cavaleiros da Luz, todos membros da elite local – Bento de Aragão,

professor, Cipriano Barata, médico e jornalista, o padre Agostinho

Gomes e o tenente Aguilar Pantoja. O movimento é radical e dirigido por

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pessoas do povo, como os alfaiates João de Deus e Manoel dos Santos

Lira, os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Propõe a

independência, a igualdade racial, o fim da escravidão e o livre comércio

entre os povos.

REPÚBLICA BAIENSE – A conjuração baiana tem a

participação de escravos, negros libertos e pequenos artesãos da capital

baiana. Seu manifesto, afixado nas ruas em 12 de agosto de 1798,

conclama o povo a um levante em defesa da República Baiense: "Está

para chegar o tempo feliz da nossa liberdade; o tempo em que seremos

irmãos; o tempo em que seremos iguais". O movimento é delatado e

reprimido: 49 pessoas são presas, inclusive três mulheres. Seis

integrantes da facção mais popular são condenados à morte e outros ao

exílio. Os Cavaleiros da Luz são absolvidos.

A CORTE NO BRASIL

No início do século XIX, a política expansionista de Napoleão

Bonaparte altera o equilíbrio político da Europa. O imperador tenta impor

a supremacia da França sobre os demais países. A Inglaterra resiste e

Napoleão decreta o chamado bloqueio continental: a proibição, sob a

ameaça das armas, de os demais países do continente negociarem com

a Inglaterra. Portugal tenta uma política de neutralidade, mas continua

negociando com os ingleses. Em represália, o imperador francês ordena

a invasão de Portugal pelas tropas do general Jean Junot. Firma com a

Espanha o Tratado de Fontainebleau (1807), que reparte o território

português entre os dois países, dividindo-o em dois reinos, Lusitânia e

Algarves. Essa divisão não é posta em prática, mas a ameaça de uma

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

invasão francesa faz com que a família real portuguesa se transfira para

o Brasil.

FUGA DA FAMÍLIA REAL – Em outubro de 1807 os governos

português e inglês assinam um acordo secreto em que a Inglaterra se

compromete a ajudar a nobreza em fuga. Começa, então, o que os

historiadores caracterizam como o momento do "salve-se quem puder".

A notícia da fuga da família real espalha-se, e Lisboa é tomada pelo

caos. Apavorada, a população da cidade sai às ruas para protestar

contra os governantes que não hesitam em deixá-la entregue à própria

sorte.

SÉQUITO REAL – Dia 29 de novembro, depois de vários

incidentes, a esquadra real parte de Lisboa escoltada por navios de

guerra ingleses. Vários nobres morrem afogados ao tentar alcançar a

nado os navios superlotados. Nas 36 embarcações, o príncipe-regente

dom João, a família real e seu séquito, estimado em 15 mil pessoas,

trazem jóias, peças de ouro e prata e a quantia de 80 milhões de

cruzados, o equivalente à metade do dinheiro circulante no reino. Em

janeiro de 1808, a frota lusa chega à Bahia. O Brasil passa a ser sede da

monarquia portuguesa.

DOM JOÃO VI (1767-1826), filho da rainha dona Maria I e do

príncipe dom Pedro III, herda o direito ao trono com a morte do

primogênito dom José. Em 1785, casa-se com dona Carlota Joaquina,

uma das herdeiras do trono espanhol. Dom João assume a regência de

Portugal em 1792, quando sua mãe enlouquece e enfrenta conflitos

internos e externos durante todo o seu governo. Na França, Luís XVI é

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

executado pelos revolucionários e as monarquias européias temem

destino semelhante. Na corte portuguesa, dom João sofre constantes

tentativas de golpes tramados pela esposa e pelo filho, dom Miguel. No

Brasil, dona Carlota tenta derrubar dom João e conspira com diferentes

grupos da nobreza espanhola. Pretende conquistar a Coroa da Espanha,

unir os dois reinos e tornar-se imperatriz das Américas. Quando dom

João, de volta a Portugal, submete-se ao regime constitucionalista, dona

Carlota e dom Miguel assumem a luta pela autonomia do trono frente às

Cortes. Prendem dom João durante uma revolta em Lisboa, em 1824. O

rei foge sob a proteção dos ingleses e manda prender a esposa e o filho.

Isolado na corte, morre dois anos depois.

A CORTE NO RIO DE JANEIRO – Em

7 de março de 1808, a corte se transfere para o

Rio de Janeiro. No primeiro momento, a mudança

provoca grandes conflitos com a população local.

A pequena cidade, com apenas 46 ruas, 19

largos, seis becos e quatro travessas, não tem

como acomodar de uma hora para outra os 15 mil

novos habitantes. Para resolver o problema, os

funcionários reais recorrem à violência, obrigando os moradores das

melhores casas a abandoná-las a toque de caixa. A senha P.R.

(príncipe-regente), inscrita nas portas das casas escolhidas, passa a ter

para o povo o sentido pejorativo de "ponha-se na rua". Apesar dos

contratempos iniciais, a instalação da realeza ajuda a tirar a capital da

letargia econômica e cultural em que está mergulhada.

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NOVAS INSTITUIÇÕES – Toda a burocracia administrativa do

Estado português é remontada no Brasil. Para fazer frente às novas

despesas é criado, em 1808, o primeiro Banco do Brasil. Sua função é

obter fundos para cobrir os gastos suntuários da Corte, pagar os

soldados e promover transações comerciais. Instalam-se o Erário Régio,

depois transformado em Ministério da Fazenda; o Conselho de Estado; a

Junta de Comércio; a Intendência Geral da Polícia; o Desembargo do

Paço; a Mesa de Consciência e Ordens (ou tribunal) e a Junta Real de

Agricultura e Navegação.

R e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s

Logo ao chegar, dom João decreta a abertura dos portos às

nações amigas, abolindo o monopólio comercial luso. A vida econômica

muda radicalmente. O séquito real amplia a demanda de bens de

consumo e aumenta as despesas públicas. O comércio se diversifica

com a inundação de produtos estrangeiros suntuários e o príncipe toma

medidas de incentivo à indústria.

ESTÍMULO ÀS MANUFATURAS – Dom João revoga o alvará

de 1785, que proibia as manufaturas brasileiras e autoriza a instalação

de tecelagens, fábricas de vidro e de pólvora, moinhos de trigo e uma

fundição de artilharia. Também facilita a vinda de artesãos e profissionais

liberais europeus, inclusive médicos e farmacêuticos. Dez anos depois

da chegada da corte ao Brasil, a população do Rio de Janeiro aumenta

de 50 mil para 100 mil habitantes.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

PRESENÇA INGLESA NO BRASIL – Até 1814 a abertura dos

portos beneficia exclusivamente a Inglaterra, que praticamente

monopoliza o comércio com o Brasil. Outros tratados firmados por dom

João em 1810, o de Amizade e Aliança e o de Comércio e Navegação

consolidam ainda mais a presença inglesa na colônia. O Tratado de

Comércio, por exemplo, fixa a taxa de 15% para todas as importações

inglesas e de 24% para as de outras nações.

Ab e r t u r a c u l t u r a l

Com a corte no Brasil, dom João toma várias iniciativas para

estimular a educação, a ciência e as artes na colônia. Promove várias

missões culturais, com a vinda de cientistas e artistas franceses,

alemães e ingleses: o pintor e escritor francês Jean-Baptiste Debret, o

botânico francês Auguste Saint-Hilaire, o naturalista alemão Karl

Friedrich von Martius, o pintor alemão Johann Moritz Rugendas e o

naturalista e geólogo britânico John Mawe.

CENTROS CULTURAIS – São criadas a primeira escola

superior, a Médico-cirúrgica, em Salvador, em 18/2/1808; a Academia da

Marinha, em 5/5/1808, e a Academia Militar do Rio de Janeiro, em

4/12/1808; e a primeira Biblioteca Pública (atual Biblioteca Nacional),

também no Rio de Janeiro, em 13/5/1811. Cultura e ciências são

também estimuladas com a criação do Jardim Botânico e da Escola Real

de Ciências, Artes e Ofícios (depois Academia de Belas Artes), em

4/12/1810.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

IMPRENSA – O príncipe dom João instala a primeira tipografia

do Brasil e inaugura a Imprensa Régia, em maio de 1808. Em setembro

do mesmo ano começa a circular A gazeta do Rio de Janeiro. Publicada

três vezes por semana, a Gazeta não chega a ser um jornal, mas um

periódico que publica anúncios e atos oficiais da Coroa. A imprensa

brasileira nasce efetivamente em Londres, com a criação do Correio

Brasiliense, pelo jornalista Hipólito José da Costa. Apesar de favorável à

monarquia, o jornal tem cunho liberal, defende a abolição gradual da

escravidão e propõe em seu lugar a adoção do trabalho assalariado e o

incentivo à imigração. O Correio braziliense circula entre 1808 e 1822,

sem interrupções.

Reino Unido

Com a derrota de Napoleão frente aos ingleses, a Europa

passa por um processo de reorganização de suas fronteiras internas. O

Congresso de Viena, realizado em 1815, exige que as casas reais

destronadas por Napoleão voltem a se instalar em seus reinos para,

então, reivindicar a posse e negociar os limites de seus domínios. Para

cumprir essa exigência num momento em que a corte portuguesa está

instalada na colônia, dom João usa um artifício: em 16 de dezembro de

1815 promove o Brasil de colônia a reino e cria o Reino Unido de

Portugal e Algarves. A medida agrada aos ingleses, que vêem com bons

olhos a instalação definitiva do governo português no Brasil. Em 1816,

com a morte da rainha dona Maria I, o príncipe-regente é sagrado rei,

com o título de dom João VI.

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CONFLITOS INTERNOS E EXTERNOS – Os gastos com a

burocracia do governo e manutenção da corte no Rio de Janeiro

provocam um aumento excessivo nos tributos cobrados nas regiões

exportadoras. Nas primeiras décadas do século XIX, a seca e a crise do

setor açucareiro aumentam o descontentamento dos senhores locais. Ao

mesmo tempo, em Portugal, surge um movimento antiabsolutista que

exige maior participação das cortes, o Parlamento português, nas

decisões políticas do reino. A Revolução Pernambucana de 1817 e a

Revolução do Porto, em Portugal, em 1820, prenunciam os movimentos

que vão desaguar na independência do Brasil, em 1822.

R e v o l u ç ã o p e r n a m b u c a n a

O mau desempenho da indústria açucareira no início do século

XIX mergulha Pernambuco em um período de instabilidade. Distantes do

centro do poder, a presença da corte no Brasil traduz-se apenas em

aumento de impostos e faz crescer a insatisfação popular contra os

portugueses. Em 1817 estoura uma revolta: de um lado, proprietários

rurais, clero e comerciantes brasileiros, de outro, militares e

comerciantes portugueses vinculados ao grande comércio de importação

e exportação.

GOVERNO REVOLUCIONÁRIO – Denunciado o movimento,

o governador Caetano Pinto manda prender os envolvidos. Os líderes

civis não oferecem resistência, mas o capitão José de Barros Lima,

chamado de Leão Coroado, mata o brigadeiro Manoel Barbosa de

Castro ao receber ordem de prisão. Seu ato deflagra um motim na

fortaleza das Cinco Pontas e a rebelião ganha as ruas. O governador

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refugia-se na fortaleza de Brum, no Recife, mas capitula e em 7 de

março embarca para o Rio de Janeiro. De posse da cidade, os rebeldes

organizam o primeiro governo brasileiro independente, baseado na

representação de classes, e proclamam a República. Enviam emissários

aos Estados Unidos, Inglaterra e região platina para pedir o

reconhecimento do novo governo. Procuram articular o movimento na

Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, mas recebem adesões

apenas nesta última.

A QUESTÃO DA ESCRAVIDÃO – O governo revolucionário

compromete-se a garantir os direitos individuais, as liberdades de

imprensa, culto e opinião, mas divide-se na questão da escravidão.

Comerciantes, como Domingos José Martins, defendem a abolição. Os

representantes do setor agrícola, como Francisco de Paula, se opõem,

temendo a repetição dos massacres de brancos ocorridos no Haiti. A

divergência impede a participação dos combatentes negros e de suas

lideranças, como o capitão mulato Pedro Pedroso. Divididos e isolados

do resto da colônia, os revoltosos não resistem por muito tempo. São

derrotados pelas tropas de dom João VI em 19 de maio de 1817. As

lideranças são presas e os líderes mais importantes são executados.

C o r t e s C o n s t i t u i n t e s

A elevação do Brasil a Reino Unido a limenta o inconformismo

em Portugal. Sob tutela britânica desde 1808 e alijados do centro das

decisões políticas do reino, a nobreza e comerciantes que permanecem

no território português reivindicam maior autonomia. Cresce o movimento

antiabsolutista e, em 24 de agosto de 1820, é deflagrada a Revolução do

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Porto. Como conseqüência, em janeiro de 1821, as Cortes Constituintes,

o Parlamento nacional, que não se reunia desde 1689, voltam a ser

instaladas.

A PRESSÃO DA METRÓPOLE – Interessadas em reativar o

monopólio colonial, as Cortes diminuem a autonomia do Reino Unido. Os

delegados brasileiros são minoria – dos 250 representantes, o Brasil tem

direito a 75 e nem todos viajam a Portugal para as seções. Em agosto de

1821, com 50 representantes presentes, as Cortes decidem elevar os

impostos sobre a importação de tecido britânico pelo Brasil de 15% para

30% e exigem que dom João VI volte a Portugal.

PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA

Quando dom João VI regressa a Portugal deixa seu filho, dom

Pedro, como príncipe-regente do Brasil. A aristocracia latifundiária

brasileira passa a considerar dom Pedro como a saída para um processo

de independência sem traumas. Ao apoiar dom Pedro, impedem a

atuação dos grupos republicanos e abolicionistas e a participação das

camadas populares no processo separatista. Apostam que a

manutenção da monarquia garantiria a unidade do país, evitando os

processos revolucionários separatistas em andamento nas regiões de

colonização espanhola. Também evitaria radicalismos e, o mais

importante, manteria o sistema escravocrata.

DIA DO FICO – Atento aos movimentos no Brasil, dom João VI

ordena que dom Pedro volte a Portugal. Em 29 de dezembro de 1821 o

príncipe-regente recebe um abaixo-assinado pedindo sua permanência

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

no Brasil. Ele anuncia sua decisão de ficar dia 9 de janeiro de 1822,

episódio que passa a ser conhecido como Dia do Fico.

CONSELHO DE PROCURADORES – Dom Pedro inicia várias

reformas políticas e administrativas: em 16 de janeiro nomeia José

Bonifácio de Andrada e Silva para ministro do Reino e Estrangeiros, o

mais alto cargo até então ocupado por brasileiro. Por sua influência junto

ao príncipe-regente e em todo o processo de independência, José

Bonifácio passa à história com o título de Patriarca da Independência.

Em fevereiro, dom Pedro cria o Conselho de Procuradores Gerais das

Províncias do Brasil – uma espécie de Parlamento – com a função de

examinar as decisões das Cortes e julgar sobre sua aplicabilidade na

Colônia. No mês seguinte recebe da maçonaria – organização influente

nos movimentos de independência – o título de Protetor e Defensor

Perpétuo do Brasil.

MANIFESTO ÀS NAÇÕES AMIGAS – Em 3 de junho dom

Pedro convoca uma Assembléia Constituinte para substituir o Conselho

de Procuradores e, em 1° de agosto, baixa decreto considerando

inimigas as tropas portuguesas que desembarquem no país. Dia 6 de

agosto lança o Manifesto às Nações Amigas, elaborado por José

Bonifácio, onde dom Pedro assegura "a independência do Brasil, mas

como reino irmão de Portugal".

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA (1763-1838)

nasce em uma das famílias mais ricas de Santos, em São Paulo, e muito

jovem vai estudar em Coimbra. Permanece na Europa por 36 anos. Em

Lisboa, destaca-se como naturalista, geólogo e metalurgista. Funda a

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

primeira cátedra de metalurgia lusitana e torna-se intendente geral das

minas de Portugal. Volta ao Brasil em 1819 e, já com grande prestígio,

lidera a bancada brasileira nas Cortes Constitucionais, em Lisboa.

Inicialmente não revela intenções separatistas e procura apenas

preservar as vantagens conquistadas pelo Brasil desde 1808. Com a

inflexibilidade das Cortes, transforma-se em ardoroso defensor da

independência. É um dos políticos mais importantes do Império, com

grande influência junto a dom Pedro. Adversário do absolutismo, defende

uma monarquia constitucional, mesclando posições liberais e

conservadoras: "Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me

alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica

democracia", afirma em discurso na Assembléia Constituinte, no Império.

Indispõe-se com o imperador durante o processo constituinte e, em

1823, é preso e exilado junto com outras lideranças. Retorna ao Brasil

seis anos depois, reconcilia-se com dom Pedro I e, com a abdicação, é

nomeado tutor do príncipe herdeiro. Afasta-se da política em 1835.

P r o c l a m a ç ã o d a I n d e p e n d ê n c i a

Portugal continua a tomar medidas

para manter o Brasil sob seu domínio: anula a

convocação da Constituinte, ameaça enviar

tropas e exige o retorno imediato do príncipe-

regente. Dom Pedro está nos arredores de São

Paulo, perto do riacho do Ipiranga, quando

recebe em 7 de setembro de 1822 os

despachos com as exigências das Cortes.

Também recebe cartas de dona Leopoldina e

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

de José Bonifácio incentivando-o a proclamar a independência. "De

Portugal não temos o que esperar senão escravidão e horrores", diz

José Bonifácio. Dom Pedro proclama então a independência. É

aclamado imperador em 12 de outubro e coroado em 1º de dezembro.

RESISTÊNCIA – Os portugueses que vivem no país resistem

durante algum tempo, principalmente nas Províncias onde há grande

concentração de tropas ou onde a comunidade lusa é numerosa. Na

Bahia, o Império só é aceito em 2 de julho de 1823, depois de vários

enfrentamentos entre a população e os soldados portugueses. No

Maranhão, o reconhecimento ocorre em 28 de julho do mesmo ano.

PRIMEIRO REINADO

Dom Pedro é aclamado imperador em 12 de outubro de 1822.

Seu governo, conhecido como primeiro reinado, não chega a representar

uma ruptura com o passado. Pertence à mesma casa reinante da antiga

metrópole e é herdeiro do trono português. Mantém os privilégios das

elites agrárias, principalmente a continuidade do regime escravocrata.

Aos poucos, porém, seu governo assume caráter centralista e despótico

que desagrada aos interesses provinciais. O primeiro reinado dura até a

abdicação de dom Pedro em favor de seu filho, em 1831.

DOM PEDRO I (1798-1834) nasce em Lisboa com o nome de

Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula

Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de

Bragança e Bourbon. É o quarto filho de dom João VI e de dona Carlota

Joaquina e o segundo na linha sucessória. Herda o direito ao trono e o

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

título de príncipe da Beira em 1801, com a morte do irmão mais velho.

Educado por preceptores religiosos, dedica-se mais à equitação e

atividades físicas do que aos estudos. É autor da música do Hino da

Independência. Com fama de aventureiro e boêmio, tem 13 filhos

reconhecidos e mais cinco naturais: sete com a primeira esposa, a

arquiduquesa austríaca Maria Leopoldina, morta em 1826; uma filha com

a segunda esposa, a duquesa alemã Amélia Augusta; cinco com a

amante brasileira Domitila de Castro, a marquesa de Santos; e mais

cinco com diferentes mulheres, inclusive uma irmã de Domitila, Maria

Benedita Bonfim, baronesa de Sorocaba, e uma monja portuguesa, Ana

Augusta. Príncipe do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves,

príncipe-regente do Reino do Brasil por mais de um ano e imperador do

Brasil por quase nove anos, abdica do trono em favor de seu filho Pedro.

Herdeiro da Coroa portuguesa como dom Pedro IV, volta a Portugal e

trava luta com o irmão, dom Miguel, que havia usurpado o trono. A

guerra civil dura dois anos. Dom Pedro vence, restaura o absolutismo e

instala no trono a filha Maria II. Morre em 24 de setembro de 1834, no

Palácio de Queluz, Lisboa, aos 35 anos. Em 1972, no sesquicentenário

da independência, seus restos mortais são trazidos para a cripta do

monumento do Ipiranga, em São Paulo.

DOMITILA DE CASTRO CANTO E MELO (1797-1867), a

marquesa de Santos, pertence a uma das mais importantes famílias de

Piratininga, São Paulo. Aos 15 anos, casa-se com o alferes mineiro

Felício Pinto Coelho de Mendonça, com quem tem três filhos. Conhece

dom Pedro num encontro casual, em 1822, às vésperas da proclamação

da Independência – um caso de paixão à primeira vista que dura oito

anos. Dom Pedro convida o pai da moça a transferir-se com a família

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

para o Rio de Janeiro. O caso entre os dois é público na corte. Em seus

bilhetes, o imperador chamava a amante de filha, Titília, "meu amor e

meu tudo". Assinava-os como "demonião", "fogo", "foguinho" e, às vezes,

apenas "Imperador". Domitila e José Bonifácio disputam a influência

junto ao imperador. Ela ajuda a indispô-los durante a Assembléia

Constituinte, o que resulta no exílio de José Bonifácio e seu irmão,

Antônio Carlos. Depois, faz rápida carreira palaciana. É nomeada

viscondessa de Castro, em 1825, e marquesa de Santos no ano

seguinte, título que afronta os irmãos Andrada, ciosos do nome de sua

cidade natal, Santos. Com a morte de dona Leopoldina, em 1826, dom

Pedro frustra a amante ao casar-se com a princesa alemã Amélia

Augusta. A marquesa encerra o romance com dom Pedro e volta para

São Paulo. Em 1842, casa-se com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar,

presidente da Província de São Paulo. Em seus últimos anos de vida,

torna-se protetora dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São

Francisco. Morre aos 70 anos, em São Paulo, e deixa como legado a

capela do Cemitério Municipal de São Paulo, atual Cemitério da

Consolação.

C o n s t i t u i ç ã o de 1824

Alcançada e reconhecida a independência, os grupos que

haviam apoiado dom Pedro começam a lutar por interesses específicos.

Três tendências políticas projetam-se mais nitidamente na cena

brasileira: a liberal, a conservadora e a republicana.

TENDÊNCIAS POLÍTICAS – Os liberais, divididos em

moderados e radicais, querem a implantação de uma monarquia

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

constitucionalista que limite os poderes do imperador e reconheça o

poder legislativo como o legítimo representante da nação. Os

conservadores defendem um poder executivo forte e centralizado nas

mãos do monarca, capaz de manter a ordem social e assegurar a

unidade do Império. Os republicanos não têm muita expressão política,

mas ressurgem em todos os movimentos sociais de oposição do

período.

PROCESSO CONSTITUINTE – A Assembléia Constituinte é

instalada em 3 de março de 1823. É presidida por Antônio Carlos Ribeiro

de Andrada, irmão de José Bonifácio e um dos liberais mais atuantes da

época. Em 12 de novembro, fica pronto o anteprojeto de Constituição:

mantém a ordem escravocrata e restringe os direitos políticos aos

indivíduos com renda anual superior ao valor de 150 alqueires de farinha

de mandioca. Alguns de seus pontos são polêmicos: a Câmara seria

indissolúvel e teria o controle sobre as Forças Armadas; o veto do

imperador teria apenas caráter suspensivo.

DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE – Dom

Pedro dissolve a Assembléia Constituinte, manda prender as lideranças

e desterrá-las. Os irmãos Andrada, principalmente José Bonifácio,

invejados na corte por sua influência junto ao imperador, caem em

desgraça e também são exilados. Contribuem para isso as articulações

de bastidores feitas por Domitila de Castro, amante do imperador e com

grande ascendência sobre ele.

CONSTITUIÇÃO OUTORGADA – Dom Pedro nomeia uma

comissão especial, o Conselho de Estado, para redigir uma Constituição

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

que garanta a centralização do poder em suas mãos. A primeira

Constituição do país é outorgada em 25 de março de 1824 por dom

Pedro. Estabelece um governo "monárquico, hereditário e constitucional

representativo". Institui os poderes Executivo – representado pelo próprio

imperador –, Legislativo e Judiciário e garante a dom Pedro privilégios de

monarcas absolutistas, instituindo o Poder Moderador. O legislativo é

formado pelo Senado, vitalício, e pela Câmara, que tem caráter

temporário e pode ser dissolvida pelo imperador. A reunião das duas

casas legislativas forma a Assembléia Geral – órgão máximo do

legislativo. São abolidos o açoite, a marca de ferro quente e outros

castigos usados contra os escravos, mas a escravidão é mantida. O

catolicismo permanece como religião oficial.

ELEIÇÕES E VOTO CENSITÁRIO – A Constituição institui o

voto censitário – os eleitores são selecionados de acordo com sua renda.

O processo eleitoral é feito em dois turnos: eleições primárias para a

formação de um colégio eleitoral que, por sua vez, escolherá nas

eleições secundárias os senadores, deputados e membros dos

conselhos das Províncias. Os candidatos precisam ser brasileiros e

católicos. Nas eleições primárias só podem votar os cidadãos com renda

líquida anual superior a 100 mil-réis. Dos candidatos ao colégio eleitoral,

é exigida renda anual superior a 200 mil-réis. Os candidatos à Câmara

dos Deputados devem comprovar renda mínima de 400 mil-réis e, para o

Senado, de 800 mil-réis. A maioria da população fica excluída não

apenas do exercício dos cargos representativos como também do

próprio processo eleitoral.

Unidade nacional e resistência

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

A monarquia brasileira mantém a unidade nacional, mas

enfrenta reações sobretudo no Norte, Nordeste e na Província Cisplatina.

A aristocracia latifundiária resiste ao comando centralista do Rio de

Janeiro. Os portugueses detentores de cargos políticos ou militares

preferem manter-se fiéis a Lisboa. Todas as tentativas de levantes

contrárias à independência são vencidas por tropas legalistas ou por

insurreições populares que acabam reforçando o poder imperial.

C o n f e d e r a ç ã o d o E q u a d o r

Em 1824, os liberais pernambucanos se recusam a aceitar a

Constituição outorgada e a política centralista do imperador. O

presidente da Província, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, adere ao

movimento e, em 21 de julho de 1824, proclama a Confederação do

Equador. Os revoltosos seguem o modelo americano de república, com

maior autonomia regional e governo representativo. A Constituição da

Colômbia é adotada provisoriamente. Em agosto, o movimento recebe a

adesão de separatistas do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. O

movimento é contido. Recife e Olinda são retomadas em 17 de

setembro. No interior, forças rebeldes lideradas por Augustinho Bezerra

e frei Joaquim do Amor Divino Caneca resistem até 21 de novembro de

1824. Todos os líderes são condenados à morte na forca. Frei Caneca é

fuzilado, em 1825, porque os carrascos se recusam a enforcá-lo.

G u e r r a C i s p l a t i n a

A Banda oriental, disputada por brasileiros e castelhanos, é

incorporada ao Império em 1821 como Província Cisplatina. Em 1825,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

líderes separatistas locais, comandados por Fructuoso Rivera,

proclamam a independência da região. O Brasil declara guerra à

Argentina, que também reivindica a posse da Província, em 10 de

outubro de 1825. É derrotado na batalha de Passo do Rosário em

20/2/1827. A diplomacia britânica intervém e os dois países desistem da

região. Um tratado de paz cria a República Independente do Uruguai, em

27 de agosto de 1828.

R e c o n h e c i m e n t o e x t e r n o

Os Estados Unidos são os primeiros a reconhecer a

independência brasileira, em 25 de junho de 1824 – uma aplicação de

sua Doutrina Monroe, que prega a "América para os americanos".

Portugal, pressionado pelos ingleses, reconhece a independência

brasileira em 29 de agosto de 1825 e recebe uma indenização de 2

milhões de libras esterlinas.

MEDIAÇÃO INGLESA – A Inglaterra lucra com a

independência brasileira. O Brasil faz um empréstimo junto à Inglaterra

para pagar a indenização por sua independência para Portugal. Como a

dívida portuguesa com os ingleses é bem maior que o valor da

indenização, o dinheiro nem chega a sair dos cofres britânicos, que

ainda recebem os juros e o pagamento do empréstimo brasileiro. Por seu

papel de mediadora, consegue renovar os tratados comerciais de 1810 e

compromete o Brasil com a convenção internacional sobre o fim do

tráfico de escravos.

ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

A economia brasileira não se altera com sua independência

política: mantém-se agrário-exportadora e baseada no trabalho escravo.

Livre do colonialismo português, o país passa inteiramente para a esfera

econômica da Inglaterra. Os ingleses tornam-se os únicos compradores

dos produtos primários brasileiros e os principais fornecedores de bens

manufaturados.

C a f é

A partir do século XIX, o café começa a ser plantado na região

Sudeste do país e desenvolve-se rapidamente no Rio de Janeiro,

sudeste de Minas e em São Paulo. Entre 1820 e 1830, já é responsável

por 43,8% das exportações brasileiras, o equivalente a uma venda anual

de cerca de 3 milhões de sacas de 60 kg. O vale do rio Paraíba, em São

Paulo e Rio de Janeiro, torna-se o principal centro da produção cafeeira:

formam-se as grandes fazendas trabalhadas por escravos e as imensas

fortunas dos "barões do café", um dos pilares de sustentação do Império

até 1889.

C r i s e e c o n ô m i c a

Apesar do desenvolvimento da economia cafeeira, o país é

abalado por uma forte crise econômica, que já se anunciara antes

mesmo da independência. A partir de 1820, começam a cair preços do

algodão, do cacau e do açúcar no mercado internacional e os ingressos

com o café não são suficientes para superar os déficits da balança

comercial. O tabaco perde seu principal mercado, a África, em

conseqüência das pressões inglesas para o fim do tráfico de escravos.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Para contornar o problema, o governo desvaloriza a taxa cambial e faz

empréstimos no exterior, principalmente na Inglaterra. Em 1828, o Banco

do Brasil abre falência e, no ano seguinte, é liquidado oficialmente. A

crise econômica prolonga-se até 1840.

ROMBOS DO ORÇAMENTO – Os rombos no orçamento são

constantes durante todo o reinado de dom Pedro I. As revoltas e

sublevações das Províncias e a oposição ao centralismo imperial levam

os governos locais a não enviar os impostos arrecadados ao Rio de

Janeiro. O imposto territorial, que poderia ser uma grande fonte de

recursos, normalmente não é cobrado para não contrariar os grandes

proprietários. Para agravar o quadro, o governo tem gastos elevados

com as guerras da independência e repressão às rebeliões internas.

SOCIEDADE NO PRIMEIRO REINADO

A diversificação econômica na fase final da colônia e início do

Império produz uma maior estratificação social. A estrutura social

permanece patriarcal, dominada pelos grandes fazendeiros do centro-sul

e senhores de engenho no Nordeste, sem mecanismos de mobilidade e

ascensão social. A elite agrária controla a economia e a política. O

clientelismo e a prática do apadrinhamento começam na unidade rural e

se estendem aos núcleos urbanos, criando uma rede de fidelidade e

dependência entre diferentes extratos da população com as elites.

C i d a d e s n o P r i m e i r o R e i n a d o

As capitais das Províncias, localizadas em sua maioria

próximas ao litoral, ganham importância como centros administrativos.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

As cidades portuárias, principalmente na região Sudeste, passam por um

processo de desenvolvimento e modernização estimulados pelo

crescimento das exportações do café e das atividades comerciais e

bancárias que as acompanham.

CIDADES DO INTERIOR – No interior do país a vida urbana

permanece estagnada. Nas descrições dos viajantes da época, a grande

maioria dos vilarejos tem aspecto descuidado, o capim cresce pelas ruas

e praças, a iluminação pública, à base de óleo de baleia, é precária, o

abastecimento de água é feito em chafarizes ou poços, não há

saneamento básico e os dejetos correm a céu aberto. Enquanto nas

capitais a população tem contato com as novidades européias, nas

pequenas cidades os moradores vivem isolados e as notícias do que vai

pelo mundo são trazidas por tropeiros e mascates.

CULTURA NO PRIMEIRO REINADO

A Academia Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, antiga

Academia Imperial, inaugurada em 5 de novembro de 1826, introduz nas

artes plásticas do país a tendência de reprodução dos padrões

neoclássicos europeus. O compositor paulista Carlos Gomes,

influenciado pelos italianos, faz sucesso com as óperas O Guarani, O

escravo e Moema. No teatro, surge Martins Pena, considerado o primeiro

teatrólogo original do Brasil. Suas peças marcam o início de um teatro de

autor baseado em temáticas brasileiras. Entre as mais conhecidas,

destacam-se: O juiz de paz na roça, O caixeiro viajante, Quem casa quer

casa, Os meirinhos e As desgraças de uma criança.

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CRISE DO PRIMEIRO REINADO

A crise da economia agrário-exportadora que explode durante

o primeiro Império, a violenta repressão à Confederação do Equador, em

1824, e a perda da Província Cisplatina diminuem o prestígio do

imperador. Na Câmara dos Deputados surge uma oposição aberta a

dom Pedro, representada pelos liberais moderados. Eles defendem um

Legislativo mais forte em detrimento do poder do imperador, mas querem

manter a centralização político-administrativa do Império. Os liberais

federalistas, também conhecidos como democratas, reúnem muitos

profissionais liberais e comerciantes. Reivindicam uma participação

política mais ampla e um equilíbrio de poderes entre o governo central e

as Províncias. Alguns defendem idéias republicanas.

P o l í t i c a n a i m p r e n s a

A ebulição política anima a criação de vários jornais de

oposição. Apesar da cerrada censura do governo imperial, pela primeira

vez no país o debate político chega à imprensa, com posições de

diferentes matizes. Vários jornais começam a circular no Rio de Janeiro

e em outras Províncias. O Aurora Fluminense, dirigido por Evaristo da

Veiga, combate dom Pedro e os partidários do federalismo. Estes, por

sua vez, editam O Republicano e A Nova Luz Brasileira. Dom Pedro é

apoiado pelo jornal A Gazeta do Brasil, dirigido por José da Silva Lisboa,

o visconde de Cairu. Em Pernambuco, o veterano jornalista Cipriano

Barata edita o jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco.

Em São Paulo, Libero Badaró dirige O Observador Constitucional, com

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

críticas radicais ao imperador. O jornal circula até 1830, quando Libero

Badaró é assassinado, no dia 20 de novembro.

JOÃO BATISTA LIBERO BADARÓ (1798-1830), jornalista,

político e médico, é considerado um mártir da liberdade de imprensa.

Nasce em Laigneglia, Itália, e estuda nas universidades de Turim e

Pávia. Radicado no Brasil, destaca-se pela defesa e propaganda dos

princípios liberais na imprensa paulista durante o reinado de dom Pedro

I. Em 1829, funda o jornal O Observador Constitucional, onde faz críticas

ao autoritarismo de dom Pedro I. Na noite de 20 de novembro de 1830,

os estudantes do Curso Jurídico de São Paulo promovem uma passeata

para comemorar a revolução liberal que, na França, depusera o rei

Carlos X. Durante a manifestação, Libero Badaró é assassinado por

desconhecidos. Pouco antes de morrer, teria dito: "Morre um liberal, mas

não morre a liberdade". Sua morte acelera a crise política do primeiro

reinado: mais de 5 mil pessoas comparecem ao enterro e multiplicam-se

as manifestações pela renúncia do imperador.

CIPRIANO JOSÉ BARATA DE ALMEIDA (1764-1838) é um

dos mais combativos jornalistas brasileiros do período imperial. Nasce

em Salvador, Bahia, e forma-se em filosofia e cirurgia pela Universidade

de Coimbra. Liberal-democrata radical, participa da Conjuração Baiana,

em 1798, e da Revolução Pernambucana de 1817. Em 1821, deputado

pela Bahia nas Cortes Constitucionais, em Lisboa, assume posições

separatistas. Volta ao Brasil em 1822 e estréia na imprensa na Gazeta

de Pernambuco. Em 1823, cria o jornal Sentinela da Liberdade na

Guarita de Pernambuco, onde denuncia as tendências absolutistas de

dom Pedro I. Eleito para a Assembléia Constituinte, prefere ficar em seu

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

"posto de combate": a redação do Sentinela, em Pernambuco. Preso nas

turbulências que precedem a dissolução da Constituinte, em novembro,

inaugura nova série de seu jornal, agora clandestino: A Sentinela da

Liberdade na Guarita de Pernambuco Atacada e Presa na Fortaleza do

Brum por Ordem da Força Armada e Reunida. Sua ousadia é punida

com sucessivas transferências de prisão. Em quase todas consegue

reeditar o jornal, apenas adaptando o título. Sai da prisão em 1830. Com

64 anos e a saúde abalada, volta para a Bahia e publica A sentinela da

Liberdade, Hoje na Guarita do Quartel-general de Pirajá. Defende o

federalismo e idéias republicanas. Volta a ser preso várias vezes e

continua na ativa até sua morte.

Ab d i c a ç ã o d e D o m P e d r o I

Em 1831 os confrontos entre as diferentes facções políticas de

oposição ao imperador se intensificam. Os partidários de dom Pedro

ganham a adesão dos portugueses residentes no Brasil e estouram

distúrbios em várias Províncias. O mais sério ocorre no Rio de Janeiro e

fica conhecido como a Noite das Garrafadas. Em 12 de março de 1831

portugueses e brasileiros atracam-se nas ruas durante um ato de

desagravo a dom Pedro, com muitos feridos para os dois lados.

Protestos e novos conflitos se reproduzem nas semanas seguintes.

RENÚNCIA DE DOM PEDRO – Pressionado e sem apoio,

dom Pedro abdica do trono em 7 de abril de 1831 em favor de seu filho

Pedro. Seu ato tem apoio na Constituição: em caso de vacância, o trono

deve ser ocupado pelo parente mais próximo do soberano. Como o

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príncipe Pedro tem apenas 5 anos, é formada uma regência tríplice

provisória para administrar o país.

PERÍODO REGENCIAL (1831-1840)

O período regencial começa em 1831, com a abdicação de

dom Pedro I, e estende-se até 1840, quando dom Pedro II é aceito como

maior de idade. É uma das fases mais conturbadas da história brasileira

e de grande violência social. A menoridade do príncipe herdeiro acirra as

disputas pelo poder entre as diferentes facções das elites. Pela primeira

vez no país, os chefes de governo são eleitos por seus pares. Os

brasileiros pobres continuam alijados da vida política da nação. As

revoltas regionais, os motins militares e os levantes populares são

violentamente reprimidos.

FACÇÕES POLÍTICAS – A elite política do período divide-se

em pelo menos três grandes facções: liberais radicais, liberais

moderados e restauradores. Em 1835, os restauradores fundam o

Partido Conservador. Em 1840, os moderados se organizam no Partido

Liberal. Com poucas divergências ideológicas, esses dois partidos

conseguem neutralizar as facções políticas mais radicais e dominam o

cenário político da nação até a proclamação da República.

R e g ê n c i a T r i n a P r o v i s ó r i a

Instalada no mesmo dia da abdicação de dom Pedro I, em 7

de abril de 1831, a regência trina é uma exigência da Constituição para o

caso de não haver parentes próximos do soberano com mais de 35 anos

e em condições de assumir o poder. Ela é provisória porque não há

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

quórum suficiente no dia da abdicação para a eleição de uma regência

permanente. A primeira tarefa do novo governo é atenuar os impasses

que levaram à abdicação de dom Pedro I, quase todos resultantes dos

excessos de um poder extremamente centralizado. O último ministério

deposto por dom Pedro I, de maioria liberal, é reintegrado e os presos

políticos são anistiados. O poder dos regentes é limitado. Não podem,

por exemplo, dissolver a Câmara, que, na prática, torna-se o centro do

poder do país.

COMPOSIÇÃO POLÍTICA DA REGÊNCIA – A composição do

primeiro trio de governantes é fruto de uma negociação entre os

restauradores e liberais moderados. É composto pelos senadores José

Joaquim Carneiro Campos, marquês de Caravelas, representante dos

restauradores; Nicolau de Campos Vergueiro, representante dos liberais

moderados; e, no papel de mediador, o brigadeiro Francisco de Lima e

Silva, representante da oficialidade mais conservadora do Exército. Os

liberais radicais não participam do governo, mas obtêm vitórias

importantes no Legislativo.

R e g ê n c i a T r i n a P e r m a n e n t e

A regência trina permanente é eleita pela Assembléia Geral

em 17 de junho de 1831. Sua composição inclui as facções políticas que

se expressam na capital e também os interesses regionais da elite

agrária. É integrada pelos deputados moderados José da Costa

Carvalho, marquês de Montalvão, representante do sul, e João Bráulio

Muniz, representante do norte, além do brigadeiro Francisco de Lima e

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Silva, que já integrara a regência trina provisória. O padre Diogo Antônio

Feijó é nomeado ministro da Justiça.

GUARDA NACIONAL – A formação da Guarda Nacional é

proposta pelo padre Diogo Antônio Feijó e aprovada pela Câmara em 18

de agosto de 1831. Sua criação desorganiza o Exército. Com a Guarda

Nacional, começa a se constituir no país uma força armada vinculada

diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada,

composta por membros da elite agrária e seus agregados. Os oficiais de

alta patente são eleitos nas regiões e, para muitos historiadores, é um

dos componentes fundamentais do coronelismo político – instituição não-

oficial determinante na política brasileira e que chega ao apogeu durante

a República Velha.

REFORMAS LIBERAIS – As bases jurídicas e institucionais

do país são alteradas por várias reformas constitucionais que, em sua

maioria, favorecem a descentralização do poder e o fortalecimento das

Províncias. Em 29 de novembro de 1832 é aprovado o Código do

Processo Criminal, que altera a organização do Poder Judiciário. Os

juízes de paz, eleitos diretamente sob o controle dos senhores locais,

passam a acumular amplos poderes nas localidades sob sua jurisdição.

ATO ADICIONAL DE 1834 – A tendência à descentralização

do poder é reforçada pelo Ato Adicional assinado pela regência trina

permanente em 12 de agosto de 1834. Considerado uma vitória dos

liberais no plano institucional, o Ato extingue o Conselho de Estado,

transfere para as Províncias os poderes policial e militar, até então

exclusivos do poder central, e permite-lhes eleger suas assembléias

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

legislativas. O poder Executivo provincial continua indicado pelo governo

central e o caráter vitalício do Senado também é mantido. A regência

trina é substituida pela regência una, eletiva e temporária, com um

mandato de quatro anos para o regente.

P r i m e i r a R e g ê n c i a U n a

O processo de escolha do primeiro regente único do país

começa em junho de 1835. Os principais concorrentes são o padre

Diogo Antônio Feijó, de tendência liberal, e o deputado pernambucano

conservador Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti. Feijó

defende o fortalecimento do poder Executivo e vence o pleito por uma

pequena margem de votos.

GOVERNO FEIJÓ – Empossado dia 12 de outubro de 1835

para um mandato de quatro anos, padre Feijó não completa dois anos no

cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar e

rebeliões provinciais, como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra

dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com poucos recursos para

governar e isolado politicamente, renuncia em 19 de setembro de 1837.

DIOGO ANTÔNIO FEIJÓ (1784-1843) nasce em São Paulo

numa família de "barões do café". Ordena-se sacerdote católico em 25

de outubro de 1805. Em 1821 é eleito deputado às Cortes

Constitucionais, em Lisboa. Defensor de idéias separatistas, é

perseguido pela Coroa portuguesa, refugiando-se na Inglaterra. Volta ao

Brasil após a independência. Deputado nas legislaturas de 1826 a 1829

e de 1830 a 1833, combina idéias de um liberal radical com propostas e

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

práticas políticas conservadoras. Luta contra o absolutismo, a escravidão

e o celibato clerical. Chama os liberais de "clube de assassinos e

anarquistas" e também afasta-se dos restauradores. Ocupa o Ministério

da Justiça entre 5 de julho de 1831 e 3 de agosto de 1832. Em 1833 é

eleito senador e, em 1835, regente único do reino. Autoritário na

condução do Estado e sem bases de apoio próprias, é obrigado a

renunciar em 1837. Participa da Revolução Liberal em 1842. Derrotado,

foge para Vitória. Volta ao Rio de Janeiro em 1843 e, nesse mesmo ano,

morre em São Paulo.

S e g u n d a R e g ê n c i a U n a

Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os

conservadores obtêm maioria na Câmara dos Deputados e elegem

Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de

setembro de 1837.

GOVERNO ARAÚJO LIMA – A segunda regência una é

marcada por uma reação conservadora. Várias conquistas liberais são

abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de

maio de 1840, restringe o poder provincial e fortalece o poder central do

Império. Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de dom

Pedro. Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho

de 1840.

G o l p e d a m a i o r i d a d e

A política centralista dos conservadores durante o governo de

Araújo Lima estimula revoltas e rebeliões por todo o país. As

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

dissidências entre liberais e conservadores fazem crescer a instabilidade

política. Sentindo-se ameaçadas, as elites agrárias apostam na

restauração da monarquia e na efetiva centralização do poder. Pela

Constituição, no entanto, o imperador é considerado menor de idade até

completar 18 anos.

CLUBE DA MAIORIDADE – Os liberais lançam a campanha

pró-maioridade de dom Pedro no Senado e articulam a popularização do

movimento no Clube da Maioridade, presidido por Antônio Carlos de

Andrade. A campanha vai às ruas e obtém o respaldo da opinião pública.

A Constituição é atropelada e Dom Pedro é declarado maior em 1840,

com apenas 14 anos.

REVOLTAS NA REGÊNCIA

Os primeiros anos do período regencial são marcados por

vários motins de militares e levantes de civis. Alguns exigem a expulsão

dos portugueses residentes no Brasil, e outros, a volta de dom Pedro I

ao poder. Pouco organizados e sem base popular, esses movimentos

são facilmente reprimidos pelas forças legalistas, comandadas pelo

major Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias. Entre 1834 e

1840, o país é sacudido por revoltas bem mais estruturadas e com

participação ativa das camadas populares livres e de escravos. Algumas,

como a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Sabinada e a Balaiada,

ameaçam romper a ordem social e política construída desde a colônia e

mantida intacta no Império.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

LUÍS ALVES DE LIMA E SILVA (1803-1880), o duque de

Caxias, é o patrono do exército brasileiro. Filho, neto e irmão de militares

é reconhecido cadete aos 5 anos – um costume das famílias militares da

época. Faz carreira no exército comandando as tropas que reprimem os

levantes regionais contra o Império, as rebeliões liberais, as revoluções

separatistas durante a regência e o segundo reinado, e as guerras nas

fronteiras. Ainda tenente, participa da campanha pelo reconhecimento da

independência na Bahia, conquistada dia 2 de julho de 1823. Capitão,

em 1825 comanda a linha de frente brasileira na Guerra Cisplatina.

Major, chefia o batalhão do imperador até sua dissolução, em 1831.

Abraça a causa do imperador, apesar da opinião pública. Apóia Feijó,

ministro e depois regente do Império, na criação da Guarda Nacional.

Em 1839, combate no Rio Grande do Sul a guerra separatista dos

Farrapos e, no Maranhão, os focos de resistência dos Balaios. Em 1841,

promovido a brigadeiro, recebe o título de barão de Caxias. Comandante

das armas da corte, reprime a Revolução Liberal de 1842, em São Paulo

e em Minas, e dirige novamente as tropas imperiais contra a Guerra dos

Farrapos, em 1843. É agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de São

Bento de Avis, com o título de conde de Caxias e promovido a marechal-

de-campo. Em 1845, o imperador o escolhe senador pelo Rio Grande do

Sul. Em 1851, durante as guerras platinas, é o comandante-chefe das

tropas brasileiras e exerce a função de presidente da Província gaúcha.

No ano seguinte, é elevado a tenente-general e marquês de Caxias.

Nomeado ministro da Guerra em 1855, acumula o cargo com o de

presidente do Conselho de Ministros, entre 1856 e1857, o equivalente a

primeiro-ministro no parlamentarismo brasileiro, e volta a exercê-lo entre

1861 e 1862. Em 1866 comanda as forças brasileiras na Guerra do

Paraguai. Vence batalhas sucessivas e conquista Assunção em janeiro

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

de 1869 – fato que define a vitória brasileira na guerra. Nesse mesmo

ano, recebe o maior título de nobreza concedido pelo imperador, o de

duque de Caxias.

M o t i n s m i l i t a r e s

Já em 1831 militares do Rio de Janeiro revoltam-se contra o

atraso no pagamento dos soldos. O momento mais violento do conflito

ocorre nas fortalezas de Santa Cruz e Villegaignon, sob o comando do

major Miguel de Farias e Vasconcelos. O movimento é rapidamente

sufocado. No ano seguinte, eclode nova revolta militar apoiada pelos

restauradores. Comandada pelo barão Von Bülow, um aventureiro

alemão, também é prontamente reprimida.

L e v a n t e s n a c i o n a l i s t a s

Em 12 de setembro de 1831 eclode no Maranhão a

Setembrada, revolta nacionalista que exige a expulsão dos portugueses

e dos padres franciscanos. No ano seguinte, um novo conflito é sufocado

por uma força naval. Em 15 de novembro de 1831, estoura em

Pernambuco a Novembrada, apoiada por republicanos federalistas e

liberais radicais. Os revoltosos querem o desarmamento de todos os

portugueses e a expulsão daqueles que são solteiros. É dominada por

tropas legalistas. Em 1832, duas revoltas nacionalistas sacodem a

Bahia. Na primeira, os rebeldes ocupam a vila de Cachoeira por uma

semana. A segunda é uma rebelião da guarnição do forte do Mar, em

Salvador. Dura quatro dias.

M o v i m e n t o s r e s t a u r a d o r e s

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Em 14 de abril de 1832 começa nova insurreição nos sertões

de Pernambuco e Alagoas, a Abrilada, que exige a restauração de dom

Pedro I. Os rebeldes usam táticas de guerrilha e, apoiados por escravos

fugidos, camponeses e por índios da região resistem aos contingentes

enviados pelo governo. A luta prossegue mesmo depois da morte de

dom Pedro I. É controlada apenas em 1835, com a mediação do bispo

João da Purificação Marques Perdigão. Em 1833, levanta-se a guarnição

de Ouro Preto, em Minas Gerais, também exigindo a volta de dom Pedro

I. O movimento espalha-se por Mariana e Caeté. É dominado pelos

legalistas, que ocupam Ouro Preto em 23 de maio de 1833.

C a b a n a g e m

No Pará, a difícil situação econômica e os conflitos da elite

local com os governadores nomeados pelo Rio de Janeiro são os

motivos que levam à eclosão de uma violenta rebelião em 1835. Os

revoltosos apresentam propostas de grande apelo popular, como a

distribuição de terras e o fim da escravidão. São apoiados pela

população mais pobre da Província: negros libertos, mestiços e índios

que vivem em pequenas cabanas à beira dos rios – origem do nome

Cabanagem. Entre seus líderes destacam-se: o cônego Batista de

Campos, os jornalistas Ferreira Lavor e Eduardo Angelim, o fazendeiro

Félix Clemente Malcher e pequenos sitiantes como os irmãos Francisco

e Antônio Vinagre. Os conflitos entre os líderes cabanos animam a

reação do governo. Mercenários ingleses sob o comando de Manoel

Jorge Rodrigues são enviados para combatê-los.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

GOVERNO POPULAR – A resposta dos cabanos é violenta.

Em 14 de agosto de 1835 conquistam Belém, instalam um governo

popular liderado por Eduardo Angelim, proclamam a independência do

Pará e a República. Esta data é considerada o principal marco da

revolta. O governo popular expropria comerciantes, distribui alimentos e

persegue os grandes proprietários rurais. Em abril de 1836, uma força

militar legalista cerca Belém. Em 13 de maio os cabanos se retiram para

o interior, onde resistem por mais quatro anos. Entre 1837 e 1840

morrem 30 mil homens, dois terços da população masculina da

Província.

G u e r r a d o s F a r r a p o s

Os impostos territoriais

cobrados pelos governos da regência e

as altas taxas sobre os produtos da

agropecuária gaúcha, como o charque,

couros e sebos provocam constantes

protestos dos estancieiros do Rio Grande do Sul. Eles aproximam-se dos

políticos liberais, que, nas eleições de 1834, obtêm a maioria na

Assembléia Provincial. Em 20 de setembro de 1835, o deputado

federalista e coronel das milícias Bento Gonçalves da Silva depõe o

presidente da Província, Antônio Fernandes Braga. A rebelião ganha

adesão popular e o movimento evolui para posições separatistas e

republicanas.

REPÚBLICA DE PIRATINI – Em outubro de 1836, os

legalistas derrotam os farrapos na batalha de Fanfa. Bento Gonçalves é

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

preso e enviado para o Forte do Mar, na Bahia. A guerra continua. Em 6

de novembro os rebeldes proclamam a República na localidade de

Piratini. Bento Gonçalves, ainda preso, é indicado presidente. Em

setembro, Gonçalves foge da prisão na Bahia com o apoio dos

federalistas locais, regressa ao Rio Grande do Sul e retoma o comando

da luta. O movimento republicano se expande para Santa Catarina. Em

julho de 1839, com o auxílio do refugiado italiano Giuseppe Garibaldi,os

farrapos conquistam Laguna e proclamam a República Juliana.

LONGA RESISTÊNCIA – A Guerra dos Farrapos dura dez

anos e é a mais longa revolução da história do país. Pela primeira vez,

as tropas imperiais enfrentam um movimento militar organizado e com

bases populares formadas em sua maioria por homens livres – daí sua

longa resistência. Devido às constantes guerras de fronteiras, os sulistas

já têm experiência militar. Os rebeldes ampliam ainda mais suas forças

oferecendo liberdade para os escravos que aderem ao movimento.

TRATADO DE PAZ – Com a maioridade de dom Pedro II, em

1840, é oferecida anistia aos revoltosos. Embora em desvantagem, eles

não aceitam. Em 1842, o barão de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, é

encarregado de pacificar a região. Só consegue a paz quando o general

uruguaio Manuel Oribe ataca o sul da Província. Entre dois fogos, os

farrapos assinam o tratado de Ponche Verde, em 28 de fevereiro de

1845. Obtêm anistia para os revoltosos, sua incorporação às forças do

Exército com patente de oficial para os líderes e liberdade para os

escravos rebeldes.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

GIUSEPPE GARIBALDI (1807-1882), filho de um pequeno

armador italiano, nasce em Nice, na época pertencente à Itália. Ingressa

na marinha mercante da Sardenha em 1832. Republicano fervoroso, é

filiado ao partido da Jovem Itália, sociedade secreta fundada por

Giuseppe Mazzini, que prega a revolução popular como forma de

conquistar a unificação e a independência da Itália. Garibaldi é obrigado

a exilar-se em Marselha, em 1834. De lá, parte para o Rio de Janeiro,

chega em 1835, viaja ao sul e adere à causa dos farroupilhas. Em

Laguna, conhece Ana Maria Ribeiro da Silva, a Anita Garibaldi, que

abandona o marido para seguir Garibaldi. Anita destaca-se por sua

bravura e participa ao lado de Garibaldi das campanhas no Brasil, no

Uruguai e na Europa. Em 1841 Garibaldi dirige as defesas de

Montevidéu contra as incursões de Oribe, ex-presidente da República,

então a serviço de Rosas, o ditador da Argentina Em 1847, volta à Itália

e integra-se às tropas do papa e do rei Carlos Alberto. Participa da

revolução de 1848, que, na Itália, coincide com uma das guerras contra a

Áustria. Derrotado, perseguido e preso, perde também a companheira

Anita, morta em batalha. Refugia-se nos Estados Unidos e volta à

Europa em 1854. Assume o posto de major-general na guerra contra a

Áustria de 1859. Depois, retoma as armas pela unificação do país em

1860, 1862 e 1867 – em todas é derrotado.

S a b i n a d a

A Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, estimula

manifestações de liberais exaltados, os farroupilhas, em vários pontos do

país. Na Bahia, em setembro de 1837, eles organizam a fuga do líder

gaúcho Bento Gonçalves, preso em Salvador. Dois meses depois,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

quando o governo começa o recrutamento compulsório de tropas para

combater os farroupilhas no sul, os liberais baianos sublevam-se. O

movimento eclode em 7 de novembro de 1837, sob a liderança do

médico Francisco Sabino da Rocha Vieira. Os revoltosos tomam o forte

de São Pedro, em Salvador, obrigando as autoridades a se refugiarem

no Recôncavo Baiano.

SEGUNDA REPÚBLICA BAIENSE – Em Salvador, a

população sublevada instaura a República Baiense, fato que já ocorrera

em 1798, durante a Conjuração Baiana. Em 13 de março de 1838,

depois de quase cinco meses de governo revolucionário, as forças

legalistas reconquistam Salvador.

B a l a i a d a

Deflagrado no Maranhão no final de 1838, o movimento ganha

o nome de um de seus líderes, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o

Balaio. Tem sua origem numa reivindicação democrática – a

descentralização das eleições de prefeitos, até então sob controle do

governo conservador – encabeçada pelos liberais de São Luís que

editam o jornal de oposição Bem-te-vi. Os combates de rua se iniciam

quando o mestiço Raimundo Gomes Vieira Jutaí invade a prisão de Vila

Manga para libertar o irmão, aprisionado a mando dos conservadores.

Todos os prisioneiros escapam com o apoio de Cosme, negro liberto que

comanda um quilombo de 3 mil escravos fugitivos. O episódio generaliza

o conflito, transformando-o numa rebelião sertaneja que sacode o

Maranhão, parte do Ceará e do Piauí entre 1838 e 1841.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

GOVERNO PROVISÓRIO – Em 1° de outubro de 1839 os

balaios tomam a cidade de Caxias e nomeiam uma junta provisória de

governo. Derrotado pelas tropas legalistas comandadas por Luís Alves

de Lima e Silva, o barão de Caxias, Gomes se rende. Balaio morre em

combate e Cosme refugia-se no sertão, de onde passa a liderar ataques

às propriedades rurais da região. Em 1840, dom Pedro II oferece anistia

aos revoltosos e 2.500 deles aceitam. Os últimos rebeldes se entregam

em 15 de janeiro de 1841. Cosme é preso e enforcado.

SEGUNDO REINADO

O segundo reinado começa em 23 de julho de 1840, quando

dom Pedro II é declarado maior de idade, e estende-se até 15 de

novembro de 1889, com a instauração da República. É um período de

consolidação das instituições nacionais e de desenvolvimento

econômico. Em sua primeira fase, entre 1840 e 1850, o país passa por

uma série de redefinições internas: repressão e anistia aos movimentos

rebeldes e separatistas; reordenamento do cenário político em bases

bipartidárias, introdução de práticas parlamentaristas inspiradas no

modelo britânico; reorganização da economia pela expansão da

cafeicultura e normalização do comércio exterior, principalmente com o

Reino Unido.

DOM PEDRO II (1825-1891) nasce no palácio da Quinta da

Boa Vista, Rio de Janeiro, e é batizado como Pedro de Alcântara João

Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio

Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. Sétimo filho de dom Pedro I e da

imperatriz Leopoldina, herda o direito ao trono com a morte de seus

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

irmãos mais velhos Miguel e João Carlos. Tem 5 anos quando o pai

abdica. Fica no Brasil sob tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva e,

depois, do marquês de Itanhaém. É sagrado imperador aos 15 anos, em

18 de julho de 1841, um ano depois de ser declarado maior e começar a

reinar. Em 30 de maio de 1843 casa-se com a princesa napolitana

Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha de Francisco I, do Reino das

Duas Sicílias. Tem quatro filhos, mas só dois sobrevivem: as princesas

Isabel e Leopoldina. No início de seu governo faz viagens diplomáticas

às províncias mais conflituadas. Culto, protege artistas e escritores e

mantém correspondência com cientistas de várias partes do mundo.

Entre 1871 e 1887 faz três viagens ao exterior – sempre pagando suas

próprias despesas –, e procura trazer para o Brasil várias inovações

tecnológicas. Com a proclamação da República, deixa o país e vai com a

família para Portugal, em 17 de novembro de 1889. Dois anos depois,

em 5 de dezembro, morre de pneumonia em Paris, aos 66 anos.

R e o r g a n i z a ç ã o d o p o d e r

Com o sucesso do movimento da maioridade, o Partido Liberal

sobe ao poder junto com dom Pedro II. Forma a maioria no primeiro

ministério do monarca, integrado também por membros da chamada

facção "áulica", grupo palaciano conservador que gravita em torno do

imperador. A Câmara dos Deputados, porém, é de maioria

conservadora. Dom Pedro é convencido a dissolvê-la e convocar novas

eleições.

ELEIÇÕES DO "CACETE" – As primeiras eleições do reinado

de dom Pedro II são realizadas em 1840. Ficam conhecidas como

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

eleições do "cacete", devido aos métodos corruptos e violentos usados

pelo Partido Liberal para garantir a vitória de seus candidatos. Eles

obtêm a maioria na Câmara, mas o gabinete liberal fica pouco tempo no

poder. Em 23 de março de 1840 é destituído pelo imperador, que atende

às pressões da facção "áulica" e dos conservadores. Como num círculo

vicioso, o novo gabinete de maioria conservadora toma posse em 1841 e

repete o ato dos liberais: dissolve a Câmara, onde a oposição é maioria,

sob o argumento de que houve fraudes no processo eleitoral.

REFORMA DO CÓDIGO CRIMINAL – Uma das primeiras e

mais polêmicas medidas do gabinete conservador de 1841 é a reforma

do Código do Processo Criminal, com a centralização das ações judicial

e policial. Os juízes de paz, eleitos nos municípios, são destituídos da

maior parte de suas funções, que passam para as mãos de juízes

nomeados pelo governo imperial. As reformas servem de complemento à

Lei de Interpretação do Ato Adicional, editada durante a regência de

Araújo Lima e centralizam ainda mais o poder no país. A medida

desagrada vários setores das elites agrárias e, nas Províncias, os

representantes do Partido Liberal se recusam a obedecê-la.

R e e s t r u t u r a ç ã o d o E s t a d o

A partir de meados do século XIX o país entra num período de

normalização política. Segundo os historiadores, isso resulta da adoção

do sistema parlamentarista. No Brasil, não se usa a fórmula clássica

inglesa – "o rei reina mas não governa" – já que o Poder Moderador do

monarca é mantido.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

PARLAMENTARISMO – Concretiza-se em 1847, quando dom

Pedro II cria o cargo de primeiro-ministro ou de presidente do Conselho

de Ministros. Escolhido pelo imperador, o primeiro-ministro se encarrega

de formar o ministério e submetê-lo ao Parlamento (Câmara dos

Deputados). O imperador é o árbitro em caso de oposição entre

ministério e Parlamento: pode demitir o gabinete ministerial ou dissolver

a Câmara dos Deputados. Durante os 39 anos em que se mantém no

poder, dom Pedro II forma 36 ministérios diferentes, e os partidos Liberal

e Conservador alternam-se no poder.

REVOLTAS NO SEGUNDO REINADO

A reação conservadora que ocorre na primeira década do

reinado de dom Pedro II estimula o surgimento de movimentos de

oposição liberal. Conflitos explodem em vários pontos do país. Alguns

evoluem para lutas armadas, como a Revolução Liberal, em São Paulo,

e a Rebelião Praieira, em Pernambuco. No final do Império, crescem os

levantes de caráter popular urbano, as rebeliões e fugas de escravos e o

movimento republicano.

R e v o l u ç ã o l i b e r a l

Em São Paulo, a oposição à legislação conservadora do

governo central evolui para uma rebelião armada. A revolução liberal,

como fica conhecida, eclode na capital em 17 de maio de 1842. É

liderada por Rafael Tobias de Aguiar, aclamado presidente da Província.

Os rebeldes conseguem o apoio do padre Diogo Feijó e da população de

algumas vilas, entre elas Itapetininga, Itu, Porto Feliz e Capivari. Tentam

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

avançar sobre a capital e são derrotados pelo Exército, sob o comando

de Luís Alves de Lima e Silva, o barão de Caxias. Padre Feijó é preso

em Sorocaba, em 21 de junho, mas Tobias de Aguiar consegue escapar.

Os liberais mineiros também rebelam-se. No final de julho, Caxias chega

a Minas e vence os liberais num violento combate travado em Santa

Luzia, dia 20 de agosto. Os principais chefes são presos e, em março de

1844, anistiados pelo imperador.

RAFAEL TOBIAS DE AGUIAR (1795-1857) é um dos mais

destacados chefes liberais da primeira metade do século XIX. Nasce em

Sorocaba, em uma rica família de fazendeiros. Muito moço, ingressa no

Regimento das Milícias. Aos 26 anos, reúne às suas custas uma brigada

de cem homens e vai para o Rio de Janeiro combater as tropas

portuguesas que se opõem à independência. Em São Paulo, é eleito

membro dos conselhos provinciais várias vezes e deputado às Cortes,

em Lisboa. Presidente da Província de 1831 a 1835, e de 1840 a 1841,

recebe o posto de brigadeiro honorário do Império. Realiza excelente

administração e aplica seu próprio ordenado em escolas, obras públicas

e de caridade. Em 1842, lidera a Revolução Liberal junto com o padre

Diogo Antônio Feijó. Em 16 de maio de 1842, Sorocaba é declarada

capital provisória da Província e Rafael Tobias de Aguiar, seu presidente

interino. Ele reúne a chamada Coluna Libertadora, de 1.500 homens, e

tenta invadir São Paulo e depor o presidente da Província, o barão de

Monte Alegre. Antes da batalha, casa-se com Domitila de Castro Canto e

Melo, marquesa de Santos, com quem já tinha seis filhos. Derrotado e

preso pelas forças imperiais, tenta fugir para juntar-se aos farroupilhas

do sul. Detido no caminho, fica preso na Fortaleza da Laje, no Rio de

Janeiro, até a anistia concedida em 1844.

Page 93: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

R e b e l i ã o p r a i e i r a

Os moderados do Partido Liberal retornam ao poder em 1844,

mas mantêm as leis centralistas que antes combatiam. A ala radical do

partido rebela-se. O maior foco oposicionista concentra-se em

Pernambuco, onde o governo provincial está nas mãos de Antônio

Chichorro da Gama, um liberal radical ligado ao Grupo da Praia –

chamado assim porque se reúne em torno do jornal O Diário Novo,

instalado na rua da Praia. Os praieiros também se voltam contra

parcelas dos grandes proprietários rurais e comerciantes portugueses.

MANIFESTO AO MUNDO – Em 1848, a Rebelião Praieira é

deflagrada sob o comando do capitão de artilharia Pedro Ivo Veloso da

Silveira. Começa em Olinda e espalha-se rapidamente por toda a Zona

da Mata pernambucana. Em janeiro de 1849, os praieiros lançam o

Manifesto ao Mundo, síntese de seu programa revolucionário: voto livre e

universal, plena liberdade de imprensa, trabalho como garantia de vida

para o cidadão brasileiro, efetiva independência dos poderes

constituídos e a extinção do poder moderador. Conseguem a adesão da

população urbana pobre, de pequenos arrendatários, boiadeiros,

mascates e negros libertos. Chegam a congregar cerca de 2 mil

combatentes. A luta prolonga-se por mais de um ano. São derrotados em

março de 1852.

EXTINÇÃO DO LIBERALISMO RADICAL – Para os

historiadores, com a derrota da Rebelião Praieira desaparecem os

últimos resquícios do liberalismo radical e democrático surgido durante o

Page 94: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

processo de independência. Seu fim facilita a política de conciliação

entre liberais e conservadores, característica do segundo reinado.

L e v a n t e s p o p u l a r e s

Os últimos anos do Império são sacudidos por vários levantes

das populações urbanas pobres. A carestia de vida é o principal motivo

dessas revoltas. Também multiplicam-se pelo país manifestações

populares e comícios em favor da abolição da escravatura, e da

República.

QUEBRA-QUILOS – O Brasil adere oficialmente ao Sistema

Métrico em 1862, mas, em todo o país, permanecem em uso os sistemas

tradicionais de medidas. Em 1874 a tentativa de adotar os padrões do

sistema métrico provoca uma revolta popular violenta na Paraíba,

conhecida como Quebra-Quilos. Para as autoridades da época, o

movimento é insuflado pelo clero, em briga com o governo. A rebelião é

contida, vários revoltosos são presos, inclusive padres.

REVOLTA DO VINTÉM – Em 1880, a população pobre do Rio

de Janeiro se rebela contra o aumento das passagens dos bondes, ainda

puxados por burros e trens. A chamada Revolta do Vintém explode dia

1º de janeiro. A polícia tenta contê-la e os manifestantes respondem

quebrando bondes, arrancando trilhos e virando os veículos. A revolta só

pára com a intervenção do Exército, que abre fogo contra a multidão e

mata várias pessoas.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Page 95: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Durante o segundo reinado, o Brasil mantém sua dependência

econômica em relação à Inglaterra. Os dois países enfrentam vários

conflitos diplomáticos e têm interesses divergentes na questão da

escravidão, mas a política externa brasileira é de alinhamento

praticamente automático com a dos ingleses. São eles que financiam as

guerras em que o país se envolve no período – contra o Uruguai, a

Argentina e o Paraguai.

PRESENÇA NORTE-AMERICANA – Os industriais norte-

americanos cobiçam participar do mercado brasileiro, mas não

conseguem quebrar a hegemonia inglesa. Sem poder competir

abertamente, passam a atuar contra os interesses ingleses. Fazem,

inclusive, a intermediação do tráfico negreiro, atividade que tem a

participação dos embaixadores dos Estados Unidos no Brasil.

G u e r r a s p l a t i n a s

Independente desde 1828, o Uruguai vive às voltas com as

disputas de poder, muitas vezes armadas, entre os partidos Colorado e

Blanco. No início da década de 40, o país é governado pelo general

Fructuoso Rivera, do Partido Colorado. O Brasil apóia Rivera em troca

de seu afastamento da Argentina. O Partido Blanco, de oposição, tenta

tomar o poder sob o comando de Manuel Oribe e com a ajuda do ditador

argentino Juan Manuel de Rosas. Cercam Montevidéu em 1843 e

mantêm seu controle por mais de oito anos.

PRIMEIRA GUERRA CONTRA O URUGUAI OU QUESTÃO

ORIBE – Em 1849, temendo o predomínio argentino na região do Prata,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

o governo brasileiro decide intervir no conflito ao lado dos colorados.

Alega que o próximo passo de Oribe e Rosas seria a invasão do Rio

Grande do Sul. Financiados pelos ingleses, brasileiros e uruguaios

colorados unem-se às tropas argentinas de oposição a Rosas,

comandadas pelo general Urquiza. Os três Exércitos tomam Montevidéu

em dezembro de 1851, forçando a rendição de Manuel Oribe. Brasil e

Uruguai assinam o Tratado de Limites, Comércio, Amizade e Subsídios.

GUERRA CONTRA A ARGENTINA OU QUESTÃO ROSAS –

Em janeiro de 1852, o general Urquiza, líder militar da oposição

argentina, invade seu país com apoio de tropas uruguaias e brasileiras.

O movimento também é financiado pelos ingleses. Rosas é derrotado na

batalha de Monte Caseros, em 3 de fevereiro de 1852. Brasil e Inglaterra

garantem o direito de navegar nos rios Uruguai e Paraná, melhor

caminho para penetrar no interior do continente.

SEGUNDA GUERRA CONTRA O URUGUAI OU QUESTÃO

AGUIRRE – O Partido Blanco dá um golpe de estado e Atanasio Cruz

Aguirre assume o poder. Mais uma vez, o Brasil fica ao lado dos

colorados. Uma esquadra comandada pelo almirante brasileiro

Tamandaré e um exército liderado pelo colorado Venâncio Flores

bloqueiam Montevidéu em 2 de janeiro de 1864. Aguirre renuncia e o

presidente do Senado, Tomás Villalba, assume o governo em 20 de

fevereiro de 1864. A vitória consolida a posição brasileira no Prata.

G u e r r a c o m o P a r a g u a i

Page 97: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Desde a primeira metade do século XIX, o Paraguai investe no

desenvolvimento econômico auto-suficiente. Sem as marcas da

escravidão, sua população tem um alto índice de alfabetização. A

autonomia do país desafia o imperialismo britânico na América. Em

1862, Francisco Solano López assume o governo e investe na

organização militar. Em 11 de novembro de 1864, captura o navio

brasileiro Marquês de Olinda e, no dia seguinte, 12 de novembro, corta

as relações diplomáticas com o Brasil. Em março de 1865, tropas

paraguaias invadem a Argentina. O objetivo paraguaio é obter uma porto

marítimo, conquistando uma fatia dos territórios brasileiro e argentino.

FRANCISCO SOLANO LÓPEZ (1827-1870) é filho e sucessor

do presidente paraguaio Carlos Antônio López. Em 1845, nomeado

general-de-brigada, é enviado à França, onde compra armas e munições

e começa a modernização do exército paraguaio. Nomeado ministro da

Guerra e da Marinha, Solano López implanta internamente o sistema

militar prussiano. Com a morte do pai, assume o governo e dá

continuidade à sua política de desenvolvimento econômico. Contrata

mais de 200 técnicos estrangeiros para introduzir inovações

tecnológicas: implanta a primeira rede telegráfica da América do Sul,

redes de estradas de ferro, promove a instalação de indústrias

siderúrgicas, têxteis, de papel e de tinta. Investe na construção naval,

fabricação de canhões, morteiros e balas de todos os calibres e institui o

recrutamento militar compulsório. Sem contar com um litoral para

expandir o comércio externo de seu país, assume uma política

expansionista frente ao Brasil e à Argentina e, em 1864, desencadeia a

mais sangrenta das guerras americanas. No início, tem amplo apoio

popular e detém as tropas aliadas por cinco anos. Depois, as milhares de

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

vidas perdidas enfraquecem sua posição e popularidade. Para calar os

opositores, manda executar centenas de compatriotas, acusando-os de

conspiração, em 1868. López é morto após a batalha de Cerro Corá, ao

fugir do cerco de um destacamento brasileiro. Por muitos anos, é

retratado pela historiografia apenas como um aventureiro. O julgamento

é revisto e, atualmente, é considerado um herói nacional.

TRÍPLICE ALIANÇA – Os governos da Argentina, do Brasil e

seus aliados uruguaios assinam o Tratado da Tríplice Aliança, em 1º de

maio de 1865, contra o Paraguai. Empréstimos ingleses financiam as

forças aliadas. O Exército paraguaio, superior em contingente – cerca de

64 mil homens em 1864 – e em organização, defende o território de seu

país por quase um ano. Finalmente, em 16 de abril de 1866, os aliados

invadem o Paraguai ao vencer a batalha de Tuiuti, sob o comando do

argentino Bartolomeu Mitre.

COMANDO BRASILEIRO – Em 1868, o comando dos aliados

passa para o barão de Caxias. Ele toma a fortaleza de Humaitá, em 5 de

agosto de 1868, e invade Assunção em 5 de janeiro. Passa o comando

das tropas brasileiras ao conde d'Eu, marido da princesa Isabel. Solano

López resiste no interior. A batalha final acontece em Cerro Corá, em 1º

de março de 1870. O país é ocupado por um comando aliado e sua

economia é destruída. A população paraguaia, que antes do conflito

chegava a 1,3 milhão de pessoas, fica reduzida a pouco mais de 200 mil

pessoas.

REFLEXOS DA GUERRA NO BRASIL – Para o Brasil, a

guerra significa o início da ruptura com o sistema monárquico-escravista.

Page 99: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Diante da dificuldade de recrutar soldados, escravos são alforriados para

substituí-los, fato que incentiva a campanha abolicionista. A

conseqüência mais importante, porém, é o fortalecimento do Exército.

Atraídos pela causa republicana, em poucos anos os militares passam a

liderá-la. No plano financeiro, o saldo final é uma duplicata de 10 milhões

de libras que o Brasil deixa pendente com o Banco Rothchild, de

Londres.

ECONOMIA NO SEGUNDO REINADO

A partir da metade do século XIX, a economia brasileira entra

num período de prosperidade e diversificação de atividades. O café

torna-se a base da economia do país e a indústria começa a se

desenvolver. Outros produtos agrícolas também ganham destaque na

pauta de exportações brasileiras.

D i v e r s i f i c a ç ã o a g r í c o l a

O cacau, produzido na Bahia, a borracha, explorada na bacia

do rio Amazonas, e o algodão, cultivado em larga escala no Maranhão,

Pernambuco e Ceará, passam a ser produtos expressivos na economia

brasileira. Em 1860 o algodão chega a ser o segundo produto de

exportação nacional. A expansão de sua cultura, nesse período, é

conseqüência da Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865), que

desorganiza a produção algodoeira dos Estados Unidos. A pecuária,

embora voltada para o mercado interno, é a mais importante atividade

econômica na região centro-sul. Também é responsável pela efetiva

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

ocupação e povoamento do chamado Triângulo Mineiro e sul do Mato

Grosso.

E c o n o m i a c a f e e i r a

Seguindo os caminhos percorridos anteriormente pela cana-

de-açúcar, o café atinge o oeste paulista (de Campinas a Ribeirão Preto)

em meados do século XIX. Nessa região de terra roxa, desenvolve-se de

maneira extraordinária, superando em pouco tempo a produção das

áreas tradicionais do vale do Paraíba. Na década de 1860, o porto de

Santos torna-se o primeiro centro portuário de exportação do país.

GRANDES FAZENDAS – As fazendas do Vale do Paraíba,

primeiro centro cafeeiro da região Sudeste, não têm mais do que 50 mil

pés de café. As do oeste paulista, por sua vez, chegam aos 600 mil ou

800 mil cafeeiros. Nos últimos anos do século XIX, tornam-se empresas

modernas e mecanizadas – utilizam equipamentos aperfeiçoados, como

ventiladores, despolpadores e separadores de grãos. Em conseqüência,

surgem várias tarefas especializadas em seu interior, aumenta a divisão

do trabalho e a produtividade.

I n d ú s t r i a e s e r v i ç o s

As atividades industriais, pouco significativas nos primeiros

decênios do século XIX, começam a crescer junto com a economia

cafeeira, na segunda metade do século XIX. Enquanto de 1841 a 1845

apenas uma patente industrial é expedida, entre 1851 e 1855 esse

número sobe para 40. Na década seguinte, são fundadas 62 empresas

industriais; 14 bancos; 3 caixas econômicas; 20 companhias de

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

navegação a vapor; 23 companhias de seguro; 4 companhias de

colonização; 3 de transportes urbanos; 2 companhias de gás e

construídas 8 estradas de ferro. Surgem grandes empreendedores no

país, como Irineu Evangelista de Souza, o visconde de Mauá.

IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA (1813-1889), o visconde

de Mauá, industrial, banqueiro, político e diplomata, é um símbolo dos

capitalistas empreendedores brasileiros do século XIX. Inicia seus

negócios em 1846 com uma pequena fábrica de navios em Niterói (RJ).

Em um ano, já tem a maior indústria do país: emprega mais de mil

operários e produz navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos

de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de

água. É pioneiro no campo dos serviços públicos: organiza companhias

de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas; em 1852

implanta a primeira ferrovia brasileira, entre Petrópolis e Rio de Janeiro,

e uma companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro,

em 1854. Dois anos depois inaugura o trecho inicial da União e Indústria,

primeira rodovia pavimentada do país, entre Petrópolis e Juiz de Fora.

Em sociedade com capitalistas ingleses e cafeicultores paulistas,

participa da construção da Recife and São Francisco Railway Company;

da ferrovia dom Pedro II (atual Central do Brasil) e da São Paulo Railway

(hoje Santos-Jundiaí). Inicia a construção do canal do mangue no Rio de

Janeiro e é responsável pela instalação dos primeiros cabos telegráficos

submarinos, ligando o Brasil à Europa. No final da década de 1850, o

visconde funda o Banco Mauá, MacGregor & Cia., com filiais em várias

capitais brasileiras e em Londres, Nova York, Buenos Aires e

Montevidéu. Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai,

torna-se persona non grata no Império. Suas fábricas passam a ser alvo

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

de sabotagens criminosas e seus negócios são abalados pela legislação

que sobretaxava as importações. Em 1875 o Banco Mauá vai à falência.

O visconde vende a maioria de suas empresas a capitalistas

estrangeiros.

IMPULSO À INDUSTRIALIZAÇÃO – Em 1844 é criada a tarifa

Alves Branco, que aumenta as taxas aduaneiras sobre 3 mil artigos

manufaturados importados. Seu objetivo é melhorar a balança comercial

brasileira, mas acaba impulsionando a substituição de importações e a

instalação de inúmeras fábricas no país. Com o fim do tráfico negreiro,

os capitais empregados no comércio de escravos também impulsionam a

industrialização.

NOVAS INDÚSTRIAS – Em 1874 as estatísticas registram a

existência de 175 fábricas no país. Dez anos depois, elas já são mais de

600. Concentram-se em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul

e empregam mais de 20 mil operários. O capital vem geralmente do

setor agrário: vários fazendeiros diversificam seus negócios e

transformam-se em capitães de indústria.

FIM DO ESCRAVISMO

Desde o início do século XIX, a questão da escravatura é uma

fonte constante de atrito entre o Brasil e a Inglaterra. No interior do país,

a abolição da escravatura é defendida por grupos de liberais, mas não

chega a ter repercussão na elite agrária, dependente do trabalho

escravo. O fim efetivo do tráfico negreiro é o primeiro grande passo para

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

a transformação real da estrutura das relações de trabalho no Brasil,

mantidas praticamente intactas desde a colonização.

F i m d o t r á f i c o

Já em 1810, ao assinar o Tratado de Comércio e Navegação

com a Inglaterra, dom João VI compromete-se com o fim do comércio de

escravos. As negociações arrastam-se por 15 anos, devido à ferrenha

oposição dos grandes proprietários de terras. Em 1825 os ingleses

exigem que o Brasil marque uma data para a extinção do tráfico. Um

decreto imperial de 1827 garante a interrupção do comércio negreiro no

prazo de quatro anos. Em 7 de novembro de 1831 é votada a lei que

determina o fim do tráfico. Nunca posta em prática, o episódio dá origem

à expressão "para inglês ver".

LEI EUSÉBIO DE QUEIROZ – Em 8 de agosto de 1845 o

Parlamento inglês promulga a Lei Bill Aberdeen, que proíbe o tráfico em

todo o mundo e arroga ao Reino Unido o dever e o direito de aprisionar

qualquer navio suspeito de carregar escravos. No Brasil, o fim do tráfico

negreiro é definido pela Lei Eusébio de Queiroz, aprovada em 4 de

setembro de 1850 e complementada pela Lei Nabuco de Araújo, de

1854. Os últimos 209 escravos trazidos para o Brasil desembarcam em

Serinhaém (PE), em 1855.

CONSEQÜÊNCIAS DO FIM DO TRÁFICO – Em 1856 já não

há entradas de escravos no Brasil. Logo aparecem as primeiras

reclamações sobre a falta de "braços" para a lavoura e a carestia das

"peças" negras. Alguns fazendeiros chegam a tentar a reprodução

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

"racionalizada" da população escrava, num sistema semelhante ao

utilizado nas plantations norte-americanas. Mas a experiência não vinga

por exigir grandes gastos com a manutenção dos "reprodutores". O fim

do tráfico negreiro estimula a imigração de europeus, inclusive de

operários qualificados, e libera grandes quantidades de capitais, até

então empregados no comércio de escravos – cerca de 1,9 milhão de

libras esterlinas por ano. Esses dois fatores são determinantes para a

diversificação econômica do país.

C a m p a n h a a b o l i c i o n i s t a

O Partido Liberal compromete-se publicamente com a causa

abolicionista. A campanha cresce após a Guerra do Paraguai com a

adesão dos militares. No início da década de 80 é criada a Sociedade

Brasileira contra a Escravidão e a Associação Central Abolicionista, no

Rio de Janeiro, agremiações políticas que reúnem figuras proeminentes

do Império, como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa,

Luís Gama e André Rebouças. Em 1887, nas fazendas, começam as

fugas em massa de escravos. São apoiadas pelos abolicionistas e o

Exército recusa-se a perseguir os fugitivos.

LEI DO VENTRE LIVRE – Em 28 de setembro de 1871 o

governo conservador do visconde do Rio Branco promulga a Lei do

Ventre Livre. De poucos efeitos práticos, a lei dá liberdade aos filhos de

escravos, mas deixa-os sob tutela dos senhores até 21 anos de idade.

ABOLIÇÃO NO CEARÁ – A campanha abolicionista no Ceará

ganha a adesão da população pobre. Os jangadeiros encabeçam as

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

mobilizações, negando-se a transportar escravos aos navios que se

dirigem ao sudeste do país. Apoiados pela Sociedade Cearense

Libertadora, os "homens do mar" mantêm sua decisão, apesar das fortes

pressões governamentais e da ação repressiva da polícia. O movimento

é bem-sucedido: a vila de Acarape (CE), atual Redenção, é a primeira a

libertar seus escravos, em janeiro de 1883. A escravidão é extinta em

todo o território cearense em 25 de março de 1884.

LEI DOS SEXAGENÁRIOS – Em 28 de setembro de 1885 o

governo imperial promulga a Lei Saraiva-Cotegipe, conhecida como Lei

dos Sexagenários, que liberta os escravos com mais de 65 anos. A

decisão é considerada de pouco efeito, pois a expectativa de vida do

escravo não ultrapassa os 40 anos.

LEI ÁUREA – Em 13 de maio de 1888, o gabinete

conservador de João Alfredo apresenta, e a princesa Isabel assina, a Lei

Áurea, extinguindo a escravidão no país. A decisão, porém, não agrada

aos latifundiários, que exigem indenização pela perda dos "bens". Como

isso não acontece, passam a apoiar a causa republicana. Os escravos,

por seu lado, ficam abandonados à própria sorte. Marginalizados pela

sociedade, vão compor a camada mais miserável das classes populares.

Imigração

As primeiras experiências com o trabalho livre nas fazendas de

café começam em 1847 por iniciativa do senador Nicolau de Campos

Vergueiro, político e latifundiário paulista. Vergueiro traz para sua

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

fazenda de Ibicaba, no município de Limeira (SP), 177 famílias de

colonos suíços e alemães para trabalhar em regime de parceria, ao lado

dos escravos. Os imigrantes comprometem-se a cuidar de uma certa

quantidade de pés de café em troca de uma porcentagem do que é

obtido na venda dos grãos. Podem plantar pequenas roças de

subsistência, partilhando a produção com o proprietário das terras. A

experiência não dá certo: os colonos acusam Vergueiro de roubá-los no

peso do café e na divisão das roças. O mesmo ocorre em praticamente

todas as fazendas paulistas que adotam a parceria. O sistema é

abandonado no final de 1850.

I m i g r a ç ã o s u b v e n c i o n a d a

Em 1871 o governo brasileiro cria a lei que permite a emissão

de apólices de até 600 contos de réis para auxiliar no pagamento das

passagens e no adiantamento de 20 mil-réis a cada família imigrante. No

mesmo ano, é formada a Associação Auxiliadora de Colonização de São

Paulo, que reúne grandes fazendeiros e capitalistas e tem o apoio do

governo provincial. Entre 1875 e 1885, a Província de São Paulo recebe

42 mil estrangeiros. Em 1886, é criada a Sociedade Protetora da

Imigração, em São Paulo. Garante aos estrangeiros transporte,

alojamento, emprego e repatriamento em caso de inadaptação. Em

1887, a Sociedade traz 32 mil trabalhadores estrangeiros para o Brasil.

Entre 1888 e 1900 entram mais de 800 mil imigrantes.

OS IMIGRANTES – Portugueses, espanhóis, italianos,

alemães, austríacos, entre outros povos, são atraídos pelas

propagandas divulgadas em seus países, que acenam com uma vida

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

melhor para quem quiser se aventurar nos trópicos. É da Itália, porém,

que vem a maioria dos imigrantes. Fogem da falta de empregos e da

fome generalizada. A maioria dos imigrantes vem para as lavouras de

café de São Paulo. Um número expressivo dirige-se ao Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul, onde se desenvolve uma colonização

baseada na pequena propriedade agrícola. Muitos ficam nos núcleos

urbanos, como operários ou artesãos autônomos. O recenseamento de

1900 registra 1,2 milhão de estrangeiros no Brasil, ou cerca de 7% da

população. Destes, cerca de 500 mil estão em São Paulo, 200 mil no Rio

de Janeiro, mais de 140 mil no Rio Grande do Sul.

CULTURA NO SEGUNDO REINADO

Na segunda metade do século XIX, as manifestações culturais

mantêm as influências européias, principalmente a francesa, mas cresce

a presença de temas nacionais.

LITERATURA – O romantismo é marcante na literatura até o

final do século XIX, quando cede lugar para o realismo. A prosa de ficção

romântica se alterna entre o nacionalismo indigenista e o relato de

costumes tipicamente brasileiros. José de Alencar representa bem essas

duas tendências, com destaque para Lucíola, Iracema e O guarani. Na

poesia, o maior expoente é Gonçalves Dias, autor de I-Juca Pirama e Os

timbiras. Surgem também os poetas estudantes, com uma produção

marcada pelo pessimismo e pelo sentimentalismo extremo, como

Álvares de Azevedo em A noite da taverna e Macário. No realismo, a

descrição objetiva da realidade e das ações dos personagens substitui a

visão romântica. Aluísio Azevedo é um dos mais completos autores do

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

período, com suas obras O mulato, Casa de pensão e O cortiço. A

estética anti-romântica se expressa na poesia pelo parnasianismo, com

ênfase no formalismo da métrica, do ritmo e da rima. Seu maior

representante é Olavo Bilac.

CRÍTICA SOCIAL – O maior representante da crítica social na

literatura é Machado de Assis. Seus romances Dom Casmurro, Esaú e

Jacó e Memórias póstumas de Brás Cubas, ou os contos, como O

alienista, refletem de maneira sutil, irônica e mordaz as transformações

sociais e a crise de valores dos últimos tempos do Império. Junto com

outros intelectuais, Machado de Assis funda a Academia Brasileira de

Letras, em 1876, da qual é o primeiro presidente. Na poesia, destaca-se

Castro Alves, que, por sua dedicação à causa abolicionista, é um dos

primeiros representantes da arte engajada no Brasil.

TEATRO E MÚSICA – O ator João Caetano funda no Rio de

Janeiro a primeira companhia nacional de teatro. Em suas performances,

procura substituir o estilo rígido da apresentação clássica por uma nova

naturalidade e liberdade de interpretação. A música popular também se

diversifica no período. Surgem o samba e a marcha, tocados por grupos

de "chorões", conjuntos compostos por flauta, violão e cavaquinho,

presença indispensável nos saraus das populações urbanas de baixa

renda.

DECADÊNCIA DO IMPÉRIO

As transformações socioeconômicas da segunda metade do

século XIX apressam o fim da monarquia. Federalistas, abolicionistas e

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positivistas se opõem ao excesso de centralização de poder e

convergem para a solução republicana. O desgaste aumenta quando o

imperador perde o apoio da Igreja e do Exército. A adesão da família real

à abolição mina as relações com os fazendeiros.

Q u e s t ã o r e l i g i o s a

No final do Império, um incidente de pouca relevância acaba

tomando uma dimensão inesperada: o padre Almeida Martins é

suspenso pelo bispo do Rio de Janeiro por ter participado de uma

solenidade maçônica. Na época, católicos e maçons convivem sem

problema na cena política brasileira. Contrariando essa tradição, os

bispos de Olinda, Gonçalves de Oliveira, e do Pará, Macedo Costa,

proíbem a participação de maçons em confrarias e irmandades católicas.

Dom Pedro II interfere e manda suspender a medida. Os bispos mantêm

suas posições e, em 1874, são presos e condenados a trabalhos

forçados. Recebem a solidariedade dos demais bispos e do Vaticano.

Mais tarde são anistiados, mas a Igreja não perdoa dom Pedro e retira-

lhe o apoio.

O p o s i ç ã o r e p u b l i c a n a

Idéias republicanas aparecem no Brasil desde o período

colonial. Estão presentes em movimentos como a Inconfidência Mineira,

de 1789, ou na Revolução Pernambucana, de 1817. Após a

independência, ressurgem na Confederação do Equador, de 1824, na

Guerra dos Farrapos, de 1835 a 1845, e nos vários levantes liberais e

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populares. Voltam à cena nos anos 60, bancadas principalmente por

setores do Partido Liberal.

MANIFESTO REPUBLICANO – Em dezembro de 1870 surge

no Rio de Janeiro o jornal A República, que publica o Manifesto

Republicano, texto de referência para os republicanos brasileiros.

Defende o federalismo em oposição ao unitarismo do Império, prega o

fim da união Estado-Igreja e do Senado vitalício. Essas idéias ganham

força em Províncias importantes, como São Paulo, Minas Gerais e Rio

Grande do Sul, onde são formados partidos republicanos regionais, uma

novidade frente aos partidos até então constituídos, de caráter nacional.

FUNDAÇÃO DO PRP – João Tibiriçá Piratininga e José

Vasconcelos de Almeida Prado, ricos fazendeiros da região de Itu, em

São Paulo, e adeptos do liberal-republicanismo, dão início ao processo

de organização do Partido Republicano Paulista. Convocam a

Convenção de Itu, em 18 de abril de 1873, com 133 convencionais – 78

fazendeiros, 12 negociantes, 10 advogados, 8 médicos e 25 de outras

profissões – e fundam o PRP, em 1º de julho, num congresso de

delegados eleitos em 29 municípios. Dominado pelos grandes

cafeicultores do oeste paulista, o PRP não se define sobre a abolição da

escravatura até 1887.

OPOSIÇÃO NAS CIDADES – A oposição ao regime se

estende aos industriais de São Paulo e do Rio de Janeiro e às classes

médias urbanas. Os industriais querem reduzir as importações,

reivindicação que não tem acolhida no Parlamento, dominado pela

aristocracia agrária. As camadas médias urbanas reivindicam maior

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representação social. Exigem o fim do sistema eleitoral indireto e

censitário que, nas eleições de 1876, permite que apenas 0,25 da

população tenha direito ao voto.

REFORMA ELEITORAL – Parte das reivindicações da

população urbana é atendida pela Lei Saraiva, elaborada por Rui

Barbosa em 9 de janeiro de 1881, que reforma a legislação eleitoral.

Estabelece as eleições diretas, a elegibilidade para os não-católicos e

escravos libertos. Mas mantém a exigência de renda anual superior a

200 mil-réis para a qualificação dos eleitores.

ARISTOCRACIA AGRÁRIA DIVIDIDA – Os republicanos se

beneficiam das divergências profundas dentro da aristocracia agrária. Os

representantes da lavoura açucareira e da cafeicultura tradicional do vale

do Paraíba são maioria no Parlamento, mas já não têm poder econômico

para garantir seu domínio político. Os representantes do progressista

oeste paulista organizados no PRP são minoria, mas detêm o poder

econômico. Com ideais liberais e republicanos tornam-se líderes das

camadas urbanas que começam a rejeitar o Império.

CLUBES E IMPRENSA REPUBLICANA – O crescimento do

movimento republicano é rápido. Em 1889 existem 273 clubes e 77

publicações republicanas espalhados por todo o país. Entre elas,

destacam-se os jornais: A República, no Rio de Janeiro; A Federação, no

Rio Grande do Sul, A Província de S. Paulo, atual O Estado de S. Paulo,

e O Radical Paulistano, na capital paulista.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

HISTÓRICOS E REVOLUCIONÁRIOS – Os republicanos

históricos, ou evolucionistas, são liderados pelo político e jornalista

Quintino Bocaiúva. Contam com o apoio de um setor da aristocracia

agrária do oeste paulista e esperam alcançar a República através de

várias reformas paulatinas. Os revolucionários, ligados às camadas

médias urbanas, são liderados pelo também jornalista Antônio da Silva

Jardim. Admitem lançar mão da luta armada para derrubar o Império.

O p o s i ç ã o m i l i t a r

Desde a Guerra do Paraguai as relações dos militares com o

poder civil não são boas. O Exército transforma-se numa instituição

organizada e coesa. O contato com os Exércitos da Argentina e do

Uruguai, países republicanos, e a adesão de muitos oficiais à doutrina

positivista, os leva a lutar pela República.

POSITIVISMO NO EXÉRCITO – Depois da Guerra do

Paraguai, o positivismo, doutrina elaborada pelo filósofo francês Augusto

Comte (1798-1857), encontra forte eco no Exército. Segundo o

positivismo, o desenvolvimento da humanidade ocorre em três estágios:

o estágio teológico ou fictício; o estágio metafísico ou abstrato e o

terceiro, o estágio científico ou positivo. Para atingir o estágio positivo, as

sociedades modernas deveriam se organizar em bases científicas e

conciliar a ordem e o progresso, mesmo que para isso fosse preciso usar

a violência, como na Revolução Francesa. Os militares brasileiros

identificam o estágio positivo com os ideais republicanos. Vários oficiais

sentem-se encarregados de uma "missão salvadora": organizar uma

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

espécie de "ditadura republicana", único caminho para corrigir os vícios

da organização política e social do país.

ORDEM E PROGRESSO – O lema "ordem e progresso" da

atual bandeira brasileira expressa os ideais positivistas elaborados por

Augusto Comte: "Nenhuma ordem legítima poderá daqui em diante

estabelecer-se e, principalmente, durar, se não for plenamente

compatível com o progresso. Nenhum grande progresso poderá se

realizar eficazmente se não tender em última análise para a evidente

consolidação da ordem".

QUESTÃO MILITAR – Em 1875 o Parlamento aprova o

Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbe os militares de

manifestar publicamente suas divergências e posições políticas. Em

1884, a punição do capitão Antônio de Sena Madureira por apoiar

publicamente o fim da escravatura detona o enfrentamento entre os

militares e o governo. Uma segunda punição pelo mesmo motivo ao

oficial Ernesto Augusto da Cunha Matos agrava a crise. Manifestações

políticas de militares eclodem por todo o país, apesar das tentativas do

governo de sufocá-las. Em fevereiro de 1887, mais de 200 oficiais se

reúnem no Rio de Janeiro com o marechal Deodoro da Fonseca, herói

da Guerra do Paraguai e figura de grande prestígio, para exigir o fim das

punições. O governo cede, mas não consegue apaziguar os militares.

CRISE FINAL – O próprio governo colabora para a adesão do

marechal Deodoro à conspiração ao nomear o visconde de Ouro Preto

para organizar um novo gabinete, em junho de 1889. Ouro Preto propõe

algumas reformas liberais: democratização do voto, diminuição dos

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poderes do Conselho de Estado, implantação do federalismo com maior

autonomia para as Províncias e medidas de estímulo ao

desenvolvimento econômico. Mas também tenta restaurar a disciplina no

Exército e reorganizar a Guarda Nacional – medidas entendidas como

interferência pelos militares. Deodoro adere primeiro à conspiração para

derrubar Ouro Preto. No início de novembro de 1889, ele e o almirante

Eduardo Wandenkolk também aderem ao movimento republicano e à

conspiração contra o Império, já em curso.

ATENTADO – Em 15 de julho de 1889 dom Pedro II sofre um

atentado na saída do Teatro Santana. Ouve-se um grito de "Viva a

República" e um tiro é disparado quando o monarca e a imperatriz já

estão em sua carruagem. O autor do atentado, Adriano do Vale, um

português de 20 anos, não tem qualquer ligação com os republicanos ou

com os militares que combatem o governo. Dom Pedro II não dá

importância ao fato e perdoa o agressor.

P r o c l a m a ç ã o d a R e p ú b l i c a

O golpe militar para derrubar o governo é preparado para 20

de novembro. O governo organiza-se para combater o movimento.

Temendo uma possível repressão, os rebeldes antecipam a data para o

dia 15. Com algumas tropas sob sua liderança, Deodoro cerca o edifício,

consegue a adesão de Floriano Peixoto, chefe da guarnição que defende

o ministério, e prende todo o gabinete. Dom Pedro II, que se encontra

em Petrópolis, tenta contornar a situação: nomeia um novo ministro,

Gaspar Martins, velho inimigo do marechal Deodoro. A escolha acirra

ainda mais os ânimos dos militares. Na tarde do dia 15, a Câmara dos

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Vereadores do Rio de Janeiro, em sessão presidida por José do

Patrocínio, declara o fim da monarquia e proclama a República. Dois

dias depois a família real embarca para Portugal, em sigilo.

A PRIMEIRA REPÚBLICA

A Primeira República ou República Velha tem como início a

data de 1889, com a declaração da República pelo Marechal Deodoro da

Fonseca, e finaliza na data de 1930, quando o presidente Washington

Luís é deposto pelos militares, e Getúlio Vargas assume a presidência.

A República de Espada: Assim foi denominado o período de

1889 até 1894, quando os militares governaram o país.

Governo Provisório de Deodoro

(1889-1891): O Marechal Deodoro foi o 1º

Presidente do Brasil, governando o país de 1889

até 1891. Em 1891, entrou em vigor a 1º

Constituição Republicana. Sofrendo forte

oposição, Deodoro renuncia em 1891.

Floriano Peixoto (1891-1894): O

Marechal Floriano Peixoto, vice de Deodoro, foi inpedido de assumir,

pois a constituição dizia que, o vice não podia assumir se o titular não

houvesse completado metade de seu mandato, isto é, 2

anos, então o Mal. Floriano deveria convocar novas

eleições. Mas Floriano não convocou novas eleições, e

seu mandato acabou sendo legitimado pelo Congresso,

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com o apoio do Partido Republicano Federal. Em seu governo, Floriano

teve de enfrentar muitas revoltas como o Manifesto dos Treze Generais,

Revolta da Armada, e a Revolução Federalista. Por causa de suas

atitudes energéticas contra essas rebeliões, Floriano passa a ser

conhecido como "Marechal de Ferro".

A República Oligárquica (1894-1930): A República Oligárquica,

recebeu essa denominação porque toda sua política-administrativa se

baseou na existência das oligarquias-estaduais. Nesse período,

predominou a política do café-com-leite, onde, paulistas e mineiros se

revesariam no poder.

Prudente de Morais (1894-1898): Foi o primeiro presidente

civil a governar o Brasil, sofrendo forte oposição dos "florianistas".

Prudente de Morais teve de enfrentar muitos problemas, como a Guerra

de Canudos, fruto da miséria do povo nordestino. Foram 4 tentativas

para acabar com Canudos. As 3 primeiras expedições foram derrotadas,

sendo somente o última conseguido acabar com Canudos.

Campos Sales (1898-1902): Iniciou a "Política dos

Governadores". No seu governo, Campos Sales realizou o Saneamento

Financeiro. Realizou uma política deflacionista, visando o equilíbrio

orçamentário e a valorização da moeda. Para isso empregou algumas

medidas como o aumento dos impostos de consumo, aduaneiros, e taxa-

ouro sobre importações. Por outro lado diminui as despesas

governamentais. Nesse período o país apresentou um seperávit. O

balanço comercial apresentou saldo favorável, mas houve a diminuição

do poder aquisitivo do povo.

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Rodrigues Alves(1902-1906): Seu governo é conhecido como

"Quadriênio Progressista", devido à excelente obra administrativa que

realizou. Mas deve-se lembrar que os recursos utilizados por esse

governo eram de origem do governo anterior. Rodrigues Alves foi

beneficiado também com o aumento das exportações de café e da

produção de borracha. Nesse período aconteceu a Campanha de

Saneamento do Rio, dirigido pelo médico Oswaldo Cruz, que impôs a

vacinação obrigatória, que gerou descontentamento da população.

Afonso Pena(1906-1909): Nesse governo, criou-se Caixa de

Conversão, que recebia todo tipo de moeda estrangeira e a trocava po

bilhetes conversíveis. Isso favoreceu o setor industrial e cafeeiro,

beneficiando estes graças ao encarecimento das exportações.

Nilo Peçanha(1909-1910): Com a morte de Rodrigues Alves,

seu vice, Nilo Peçanha assume a presidência da República. Em seu

governo, Nilo Peçanha criou o Serviço de Proteção aos Índios, e

restabeleceu o Ministério da Agricultura, Indústria

e Comércio. Para a sucessão de Nilo, dois

candidatos: o Mal. Hermes da Fonseca, apoiado

por Nilo, e Rui Barbosa. Hermes da Fonseca

ganha a eleição.

Hermes da Fonseca(1910-1914): Seu governo foi muito conturbado,

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tento permanecido o país sobre estado de sítio. Nesse período também

ocorreu a Revolta da Chibata, revolta liderada por Jõao Cândido. Os

marinheiros dos encouraçados "Minas Gerais" e "São Paulo",

revoltaram-se contra os maus-tratos, excesso de trabalho e a chibatada,

que era utilizado para punir os infratores. Durante a revolta muitos

marinheiros foram asscinados. Três meses antes do fim do mandato do

Mal. Hermes, estourou a Primeira Guerra Mundial.

Venceslau Brás(1914-1918): Esse governo foi marcado pela Primeira

Guerra, em que o Brasil teve pouca participação do lado Aliado. Os

países Aliados começaram a comprar tudo o que o Brasil pudesse

oferecer. Isso fez com que surgisse indústrias no país. Nesse governo

houve a Questão do Contestado, onde Paraná e Santa Catqarina

disputavam uma região da divisa entre os dois estados. A construção de

uma ferrovia na região, provocou um revolta, resolvida em 1916.

Epitácio Pessoa(1919-1922): O presidente

eleito, Rodrigues Alves faleceu sem completar dois

anos de seu governo, o que implicava em novas

eleições. Epitácio Pessoa foi o eleito. A sua

política financeira de começo foi austera, mas

depois, pressionado pela queda das exportações

do setor cafeeiro, acabou tendo de facilitar os empréstimos. No seu

governo, Epitácio Pessoa, teve ainda de enfrentar o Movimento

Tenentista.

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Arthur Bernardes(1922-1926): Arthur

Bernardes, governou durante um período muito

difícil, diante de uma ameaça de revolução e dos

efeitos da crise econômica decorrente do fim da

Primeira Guerra Mundial. Bernardes governou o

país sob estado de sítio. Em seu governo

houveram diversas revoluções, como a Revolução

de 1924, ocorrida em São Paulo, e a Coluna Prestes, que percorreu o

Brasil entre 1924 a 1927. No ano de 1926, o Congresso aprovou a

Reforma Constitucional Federal, estabelecendo a limitação do hábeas

corpus, veto parcial do presidente, e a ampliação do poder de

intervenção federal nos Estados.

Washington Luís(1926-1930): Nascido no Rio, Washington Luís fez

carreira política em São Paulo no PRP(Partido Republicano Paulista).

Enfrentou a crise de 1929, quando os produtores de café foram

obrigados a pedir empréstimos ao governo, que recusou, alegando que

isso iria prejudicar a sua política de estabilização. Na sua sucessão,

Washington rompeu com o Café-com-leite, pois agora seria a vez dos

mineiros, mas ele preferiu o nome do governador de SP, Júlio Prestes.

Revoltados, os mineiros se juntaram aos insatisfeitos e indicaram Getúlio

Vargas e João Pessoa. Venceu Júlio Prestes, mas ele não foi

empossado, por causa da deposição de Washington Luís em 24 de

outubro de 1930. Assumiu a presidência Getúlio Vargas, dando início a

"Era Vargas"

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ERA VARGAS

A chamada "Era

Vargas" começa com a

Revolução de 30 e termina

com a deposição de Getúlio

Vargas em 1945. É marcada

pelo aumento gradual da

intervenção do Estado na

economia e na organização

da sociedade e também pelo crescente autoritarismo e centralização do

poder. Divide-se em três fases distintas: governo provisório, governo

constitucional e Estado Novo.

Governo Provisório

Getúlio Vargas é conduzido ao poder em 3 de novembro de

1930 pela Junta Militar que depôs o presidente Washington Luís.

Governa como chefe revolucionário até julho de 1934, quando é eleito

presidente pela Assembléia Constituinte. O governo provisório é

marcado por conflitos entre os grupos oligárquicos e os chamados

tenentes que apóiam a Revolução de 30. Getúlio Vargas equilibra as

duas forças: atende a algumas reivindicações das oligarquias regionais e

nomeia representantes dos tenentes para as interventorias estaduais. O

interventor em São Paulo é um veterano do movimento tenentista, João

Alberto. Para o Rio Grande do Sul, nomeia Flores da Cunha e para os

Estados do Norte-Nordeste e Espírito Santo é escolhido um supervisor,

Juarez Távora, que fica conhecido como "vice-rei do Norte".

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Agitações sociais – Em 1931 o PCB organiza no Rio de

Janeiro uma manifestação contra a carestia, a Marcha contra a Fome,

violentamente reprimida. Em vários Estados também pipocam greves e

manifestações de oposição. Os setores oligárquicos afastados do poder

se reorganizam, exigem a convocação de uma Assembléia Constituinte e

o fim do governo provisório. São Paulo, principal centro econômico do

país, lidera a oposição a Vargas.

Revolução Constitucionalista

Em 1932 as elites paulistas deflagram a Revolução

Constitucionalista contra o governo federal. Uma frente entre o Partido

Republicano Paulista, derrotado pela Revolução de 30, e o Partido

Democrático lança a campanha pela imediata convocação de uma

Assembléia Constituinte e o fim das intervenções nos Estados. O

movimento tem o apoio das classes médias. Manifestações e comícios

multiplicam-se na capital. Em um deles, dia 23 de maio de 1932, os

manifestantes entram em conflito com o chefe de polícia Miguel Costa e

quatro estudantes são mortos: Euclides Bueno Miragaia, Mário Martins

de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo Camargo

de Andrade. Com as iniciais de seus nomes é composta a sigla MMDC

(Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo), assumida como emblema do

movimento rebelde. Em 9 de julho de 1932 estoura a rebelião armada.

As forças paulistas comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes ficam

isoladas: não recebem ajuda dos outros Estados e a Marinha bloqueia o

porto de Santos impedindo-as de comprar armas no exterior. Os

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paulistas se rendem em 3 de outubro, depois de quase três meses de

luta.

Constituição de 1934 – As eleições são realizadas dia 3 de

maio de 1933 e a Assembléia Constituinte é instalada em 15 de

novembro. Pela primeira vez uma mulher é eleita deputada no país, a

médica Carlota Pereira de Queiroz. Promulgada em 15 de julho de 1934,

a Constituição mantém a república federativa, o presidencialismo, o

regime representativo e institui o voto secreto. Amplia os poderes do

Estado, que passa a ter autonomia para estabelecer monopólios e

promover estatizações. Limita a atuação política do Senado, incumbindo-

o da coordenação interna dos três poderes federais. Institui o Conselho

de Segurança Nacional e prevê a criação das justiças Eleitoral e do

Trabalho. Nas disposições transitórias, transforma a Assembléia

Constituinte em Congresso e determina que o próximo presidente seja

eleito indiretamente por um período de 4 anos.

Governo Constitucional

Getúlio Vargas é eleito presidente pelo Congresso em julho de

1934 e exerce o mandato constitucional até o golpe do Estado Novo, em

10 de novembro de 1937. Os três anos de legalidade são marcados por

intensa agitação política, greves e o aprofundamento da crise

econômica. Nesse quadro, ganham importância movimentos como a

Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Ação Integralista Brasileira – As idéias fascistas chegam ao

Brasil nos anos 20, propagam-se a partir do sul do país e dão origem a

pequenos núcleos de militantes. Em 1928 é fundado o Partido Fascista

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Brasileiro. A organização mais representativa dos fascistas, porém, é a

Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932 pelo escritores Plínio

Salgado e Gustavo Barroso. O movimento é apoiado por setores

direitistas das classes médias, dos latifundiários e dos industriais.

Recebe a adesão de representantes do clero católico, da polícia e das

Forças Armadas. Defende um Estado autoritário e nacionalista que

promova a "regeneração nacional", com base no lema "Deus, Pátria e

Família".

Plínio Salgado (1895-1975) nasce em São Bento do Sapucaí,

São Paulo, e estuda ciências humanas em Minas Gerais. Desde jovem

dedica-se ao jornalismo. Elege-se deputado

estadual em 1928 e, em 1932, funda a Ação

Integralista Brasileira (AIB). Em menos de

quatro anos, o movimento reúne mais de 300

mil adeptos em todo o país. De inspiração

nazi-fascista, adota uma simbologia

nacionalista, uma camisa verde como

uniforme e, como saudação, a palavra

anauê, uma interjeição da língua tupi.

Apontado como líder do levante integralista

de 1938, Plínio Salgado é preso na fortaleza de Santa Cruz, e depois

exilado em Portugal. Volta ao Brasil em 1945, com o fim do Estado Novo,

e funda o Partido da Representação Popular (PRP). Em 1955, concorre

à Presidência da República e chega em último lugar. Elege-se deputado

federal em 1958 e 1962 pelo PRP, e em 1966 e 1970 pela Arena.

Membro da Academia Paulista de Letras, escreve romances, ensaios e

obras políticas.

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Aliança Nacional Libertadora – O agravamento das

condições de vida das massas urbanas e rurais, e as tendências

autoritárias de Vargas fornecem os ingredientes para formar a Aliança

Nacional Libertadora (ANL), em março de 1935. A ANL é uma grande

frente política formada por ex-tenentes, comunistas, socialistas, líderes

sindicais e liberais alijados do poder. O capitão da Marinha Hercolino

Cascardo, líder da revolta do couraçado São Paulo na Revolução

Paulista de 1924, é escolhido para dirigi-la. Luís Carlos Prestes, ex-chefe

da Coluna Prestes e já militante do Partido Comunista, é indicado seu

presidente de honra. A ANL defende a suspensão definitiva do

pagamento da dívida externa, ampliação das liberdades civis, proteção

aos pequenos e médios proprietários de terra, reforma agrária nos

latifúndios improdutivos, nacionalização das empresas estrangeiras e

instauração de um governo popular.

Movimento nacional – Formada à semelhança das frentes

populares antifascistas e antiimperialistas da Europa, a ANL é o primeiro

movimento de massas de caráter nacional. Em apenas 3 meses forma

1.600 núcleos, principalmente nas grandes cidades. Só no Rio de

Janeiro inscrevem-se mais de 50 mil pessoas. Congrega operários,

estudantes, militares de baixa patente e membros da classe média. Seu

rápido crescimento assusta as classes dominantes. Surgem campanhas

contra a "ameaça comunista". Getúlio Vargas começa a reprimir os

militantes e, em 11 de julho de 1935, decreta a ilegalidade da ANL e

manda fechar suas sedes.

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Intentona Comunista

Após o fechamento da ANL, o Partido Comunista começa a

preparar uma insurreição armada. Em 23 de novembro de 1935 estoura

em Natal um levante de militares ligados ao partido. No dia seguinte, o

mesmo ocorre no Recife e, no dia 27, no Rio de Janeiro. A rebelião fica

restrita aos muros dos quartéis, mas serve de argumento para o

Congresso decretar estado de sítio. A polícia, dirigida por Filinto Müller,

desencadeia violenta repressão aos comunistas.

Golpe de Estado

O estado de sítio aumenta o poder de Vargas e de alguns altos

oficiais do Exército e da própria polícia. Crescem a repressão aos

movimentos sociais e a conspiração para instaurar uma ditadura no país.

É nesse clima que se inicia a campanha para as eleições presidenciais,

previstas para janeiro de 1938.

Campanha eleitoral – Três candidatos são lançados à

Presidência. O paulista Armando de Sales Oliveira é apoiado pelos

partidos Constitucionalista (sucessor do Partido Democrático) e

Republicano Mineiro, pelo governador gaúcho, José Antônio Flores da

Cunha, e por facções liberais de outros Estados. O paraibano José

Américo de Almeida é apoiado pelo Partido Libertador do Rio Grande do

Sul, pelo governo de Minas e pela maioria das oligarquias nordestinas. O

terceiro candidato é o integralista Plínio Salgado. Vargas declara seu

apoio a José Américo, mas, ao mesmo tempo, encomenda secretamente

ao jurista Francisco Campos, simpatizante do fascismo e futuro Ministro

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da Justiça, uma nova Constituição para o Estado autoritário que

pretende estabelecer.

Plano Cohen – Em 30 de setembro de 1937 o general Góis

Monteiro, chefe do Estado-maior do Exército, divulga à nação o

"tenebroso" Plano Cohen: uma suposta manobra comunista para a

tomada do poder através da luta armada, assassinatos e invasão de

lares. O Plano não passa de uma fraude forjada por membros da Ação

Integralista para justificar o golpe de estado. Frente à "ameaça

vermelha", o governo pede ao Congresso a decretação de estado de

guerra, concedido em 1º de outubro de 1937. É o início do golpe.

O golpe – Com o golpe já em andamento, Getúlio reforça suas

alianças com o governador de Minas, Benedito Valadares, e de vários

Estados do Nordeste. Em 10 de novembro de 1937 as Forças Armadas

cercam o Congresso Nacional e, à noite, Vargas anuncia em cadeia de

rádio a outorga da nova Constituição da República, elaborada pelo jurista

Francisco Campos. A quarta Constituição do país e terceira da

República, conhecida como "a polaca" por inspirar-se na Constituição

fascista da Polônia, institui a ditadura do Estado Novo.

Constituição de 1937 – A Constituição outorgada acaba com

o princípio de harmonia e independência entre os três poderes. O

Executivo é considerado "órgão supremo do Estado" e o presidente é a

"autoridade suprema" do país: controla todos os poderes, os Estados da

Federação e nomeia interventores para governá-los. Os partidos

políticos são extintos e instala-se o regime corporativista, sob autoridade

direta do presidente. A "polaca" institui a pena de morte e o estado de

emergência, que permite ao presidente suspender as imunidades

parlamentares, invadir domicílios, prender e exilar opositores.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Estado Novo

A ditadura Vargas, ou Estado Novo, dura oito anos. Começa

com o golpe de 10 de novembro de 1937 e se estende até 29 de outubro

de 1945, quando Getúlio é deposto pelos militares. O poder é

centralizado no Executivo e cresce a ação intervencionista do Estado. As

Forças Armadas passam a controlar as forças públicas estaduais,

apoiadas pela polícia política de Filinto Müller. Prisões arbitrárias, tortura

e assassinato de presos políticos e deportação de estrangeiros são

constantes. Em 27 de dezembro de 1939 é criado o Departamento de

Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura aos meios de

comunicação, pela propaganda do governo e pela produção do

programa Hora do Brasil.

As bases do regime – O Estado Novo é apoiado pelas classes

médias e por amplos setores das burguesias agrária e industrial.

Rapidamente Vargas amplia suas bases populares recorrendo à

repressão e cooptação dos trabalhadores urbanos: intervém nos

sindicatos, sistematiza e amplia a legislação trabalhista. Sua principal

sustentação, porém, são as Forças Armadas. Durante o Estado Novo

elas são reaparelhadas com modernos armamentos comprados no

Exterior e começam a intervir em setores considerados fundamentais

para a segurança nacional, como a siderurgia e o petróleo. A burocracia

estatal é outro ponto de apoio: cresce rapidamente a abre empregos

para a classe média. Em 1938, Vargas cria o Departamento

Administrativo do Serviço Público (Dasp), encarregado de unificar e

racionalizar o aparelho burocrático e organizar concursos para recrutar

novos funcionários.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Propaganda – No início dos anos 40 o Estado Novo alcança

certa estabilidade. Os inimigos políticos já estão calados e as ações

conciliatórias com os diversos setores da burguesia evitam oposições.

Na época, o jornal O Estado de S. Paulo, sob controle direto do DIP, não

cansa de publicar editoriais exaltando o espírito conciliador do ditador.

Um deles, por exemplo, diz que Vargas é um "homem sem ódio e sem

vaidade, dominado pela preocupação de fazer o bem e servido por um

espírito de tolerância exemplar, sistematicamente devotado ao serviço

da Pátria". Inúmeros folhetos de propaganda enaltecendo o caráter

conciliador de Vargas e sua faceta de "pai dos pobres" são produzidos

pelo DIP e distribuídos nos sindicatos, escolas e clubes.

Revolta integralista

Os integralistas apóiam o golpe de estado desde a primeira

hora mas não conseguem participar do governo. Sentem-se logrados

quando Vargas extingue a Ação Integralista Brasileira junto com os

demais partidos. Formam então a Associação Brasileira de Cultura e

passam a conspirar contra o ditador. Tentam um primeiro golpe em

março de 1938, mas são prontamente reprimidos. Dois meses depois

organizam a invasão do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, com o

objetivo de assassinar Vargas. A guarda do Palácio resiste ao ataque até

chegarem tropas do Exército. Vários integralistas são presos e alguns

executados no próprio Palácio.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Política Externa no Estado Novo

Dois

anos depois de

instalada a

ditadura

Vargas começa

a Segunda

Guerra

Mundial.

Apesar das

afinidades do

Estado Novo

com o

fascismo, o Brasil se mantém neutro nos três primeiros anos da guerra.

Vargas aproveita-se das vantagens oferecidas pelas potências

antagônicas e, sem romper relações diplomáticas com os países do Eixo

– Alemanha, Itália, Japão –, consegue, por exemplo, que os Estados

Unidos financiem a siderúrgica de Volta Redonda.

Rompimento com o Eixo – Com o ataque japonês à base

americana de Pearl Harbour, no Havaí, em dezembro de 1941,

aumentam as pressões para que o governo brasileiro rompa com o Eixo.

Em fevereiro de 1942 Vargas permite que os EUA usem as bases

militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Como retaliação, forças do

Eixo atacam navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18

e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi, Aníbal

Benévolo, Itagiba e Arará – são torpedeados por submarinos alemães.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Morrem 652 pessoas e Vargas declara guerra contra a Alemanha e a

Itália.

Brasil na Segunda Guerra – A Força Expedicionária

Brasileira (FEB) é criada em 23 de novembro de 1943. Em 6 de

dezembro, a Comissão Militar Brasileira vai à Itália acertar a participação

do Brasil ao lado dos aliados. O primeiro contingente de soldados segue

para Nápoles em 2 de julho de 1944 e entra em combate em 18 de

setembro. Os pracinhas brasileiros atuam em várias batalhas no vale do

rio Pó: tomam Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945, vencem em

Castelnuovo em 5 de março e participam da tomada de Montese em 14

de abril. Ao todo são enviados cerca de 25 mil homens à guerra. Morrem

430 pracinhas, 13 oficiais do Exército e oito da Aeronáutica.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA POPULISTA

Com a queda de Vargas e a realização de eleições para a

Assembléia Constituinte e para presidente começa a Redemocratização

do país. A Segunda República estende-se de 1945 até o golpe militar de

1964. Caracteriza-se pela consolidação do populismo nacionalista,

fortalecimento dos partidos políticos de caráter nacional e grande

efervescência social. A indústria expande-se rapidamente.

Populismo – O conceito de populismo é usado para designar

um tipo particular de relação entre o Estado e as classes sociais.

Presente em vários países latino-americanos no pós-guerra, o populismo

caracteriza-se pela crescente incorporação das massas populares ao

processo político sob controle e direção do Estado. A intervenção estatal

na economia com o objetivo de promover a industrialização também cria

vínculos de dependência entre a burguesia e o Estado. No Brasil, o

populismo começa a ser gestado após a Revolução de 30 e se constitui

em uma derivação do regime autoritário criado por Getúlio Vargas.

Governo José Linhares

Com a deposição de Vargas em 29 de outubro de 1945, José

Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, assume

interinamente a Presidência e governa até 31 de janeiro de 1946.

Entrega o poder ao general Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo voto direto

pelo PSD e PTB em 2 de dezembro de 1945.

Page 132: O Desenvolvimento Brasileiro: Colônia, Império e República

O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Governo Dutra

Eurico Gaspar Dutra

governa de 1946 até o final de seu

mandato, em 31 de janeiro de 1951. O

início de seu governo é marcado por

mais de 60 greves e intensa repressão

ao movimento operário. Dutra congela

o salário mínimo, fecha a

Confederação Geral dos

Trabalhadores e intervém em 143

sindicatos. Conservador, proíbe o jogo

e ordena o fechamento dos cassinos.

No plano internacional alinha-se com a política norte-americana da

Guerra Fria. Rompe relações diplomáticas com a União Soviética,

decreta novamente a ilegalidade do PCB e cassa o mandato de seus

representantes. Em 6 de agosto de 1947 é fundado o Partido Socialista

Brasileiro (PSB) a partir de uma dissidência da UDN, a Esquerda

Democrática.

Constituição de 1946 – A Assembléia Constituinte é instalada

em 5 de fevereiro de 1946 e encerra seus trabalhos em 18 de agosto de

1946. A nova Constituição devolve a autonomia dos Estados e

municípios e restabelece a independência dos três poderes. Permite a

liberdade de organização e expressão, estende o direito de voto às

mulheres, restabelece os direitos individuais e extingue a pena de morte.

Mantém a estrutura sindical atrelada ao Estado e as restrições ao direito

de greve.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Eurico Gaspar Dutra (1889-1974) nasce em Cuiabá e faz

carreira militar. Em 1908 é desligado junto com toda sua turma da Escola

Militar de Porto Alegre pelo apoio à Revolta da Vacina. Anistiado,

ingressa na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro. Atinge o

posto de general em 1932, depois de comandar um destacamento contra

a Revolução Constitucionalista em São Paulo. Em 1933 comanda a

repressão à Intentona Comunista. No ano seguinte assume o Ministério

da Guerra e garante o apoio das Forças Armadas ao golpe de Getúlio

Vargas, em 1937, e ao Estado Novo. No cargo de ministro é responsável

pela construção da Escola Militar de Resende (atual Aman), da Escola

do Estado Maior, da Escola Técnica do Exército e também pela

organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ao final da guerra,

em 1945, sai do ministério, passa para a oposição e participa do

movimento militar que depõe Getúlio Vargas. Candidato pelo PSD à

Presidência em 1946, elege-se com o apoio do ex-presidente que

ajudara a derrubar. Em 1954 participa da conspiração militar-udenista

para derrubar o governo constitucional de Getúlio. No ano seguinte

opõe-se à candidatura de João Goulart para a vice-presidência. Em

1964, apóia o golpe militar que depõe Goulart e chega a ser cogitado

para a Presidência, depois ocupada por Castelo Branco.

Governo Vargas

Getúlio Vargas vence as eleições presidenciais de 1950 e

assume o poder em 31 de janeiro de 1951. Governa até 24 de agosto de

1954. Apoiado pela coligação PTB/PSP/PSD, retoma as plataformas

populistas e nacionalistas, mantém a intervenção do Estado na

economia e favorece a implantação de grandes empresas públicas,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

como a Petrobrás, que monopolizam a exploração dos recursos naturais.

Com uma imagem de adversário do imperialismo, é apoiado por setores

do empresariado nacional, por grupos nacionalistas do Congresso e das

Forças Armadas, pela União Nacional dos Estudantes e pelas massas

populares urbanas. Em 1952 cria o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE), com o objetivo de fomentar o desenvolvimento

industrial, e também o Instituto Brasileiro do Café (IBC).

Monopólio do petróleo – A campanha pela nacionalização do

petróleo começa em 1949 e divide a opinião pública. Sob o lema "O

petróleo é nosso", reúnem-se sindicatos, organizações estudantis,

militares nacionalistas, alguns empresários, grupos de intelectuais e

militantes comunistas. Os setores contrários ao monopólio e favoráveis à

abertura ao capital estrangeiro incluem parte do empresariado, políticos

da UDN e do PSD e a grande imprensa. O debate toma conta do país e

a solução nacionalista sai vitoriosa: em 3 de outubro de 1953 é criada a

Petrobrás (lei 2.004), empresa estatal que monopoliza a exploração e

refino do petróleo. A decisão desagrada aos Estados Unidos que, em

represália, cancelam acordos de transferência de tecnologia

estabelecidos com o Brasil. Empresas norte-americanas derrubam os

preços do café no mercado internacional.

Trabalhismo – O nacionalismo varguista faz crescer a

oposição e o presidente aproxima-se do trabalhismo. Em dezembro de

1951 assina nova lei do salário mínimo. No ano seguinte cria a Carteira

de Acidentes do Trabalho e outros benefícios, como o adicional de

insalubridade. Em junho de 1953 nomeia João Goulart, conhecido como

Jango, para ministro do Trabalho com a missão de reorganizar a

estrutura sindical, tornando-a ainda mais ligada à máquina do governo.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Em 1º de maio de 1954 aumenta em 100% o salário mínimo, que

mantinha o mesmo valor desde 1943.

Conspiração contra Vargas – Em 1954 políticos da UDN,

boa parte dos militares e da grande imprensa conspiram abertamente

pela deposição do presidente. A crise se agrava com a tentativa de

assassinato do jornalista da UDN Carlos Lacerda, dono do jornal Tribuna

da Imprensa e um dos mais ácidos opositores ao governo. Lacerda fica

apenas ferido, mas o major da Aeronáutica Rubens Vaz morre. Gregório

Fortunato, chefe da segurança pessoal de Vargas, é acusado e preso

como mandante do crime (e depois assassinado na prisão). Em 23 de

agosto, 27 generais exigem a renúncia do presidente em um manifesto à

nação.

Suicídio – Na manhã de 24 de agosto de 1954 Vargassuicida-

se. Seu último ato político é uma carta-testamento : "Eu vos dei a minha

vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o

primeiro passo no caminho da eternidade. Saio da vida para entrar na

História". No Rio de Janeiro a reação popular é violenta: chorando,

populares saem às ruas, empastelam vários jornais de oposição, atacam

a embaixada dos EUA e muitos políticos udenistas, entre eles Lacerda,

têm de se esconder. Os conflitos são contidos pelas Forças Armadas.

Carlos Frederico Werneck de Lacerda (1914-1977) ingressa na

política como militante da juventude comunista e, mais tarde, torna-se

um dos mais combativos e polêmicos líderes conservadores do país.

Conquista projeção política através da linkblack Tribuna da Imprensa no

jornal Correio da Manhã. Em 1947, elege-se vereador do Distrito Federal

e funda o jornal Tribuna da Imprensa. Faz oposição permanente e

violenta contra Getúlio Vargas e está no centro dos acontecimentos que

levam ao suicídio do presidente, em agosto de 1954. Nesse mesmo ano,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Lacerda elege-se deputado federal. Em dezembro de 1960, com a

mudança da capital para Brasília, é o primeiro governador eleito do

Estado da Guanabara. Sua gestão é marcada por grande número de

obras públicas e intensa agitação política. Faz oposição a Jânio

Quadros, participa da tentativa de golpe para impedir a posse do vice,

João Goulart, em 1961, e do golpe militar de 1964. Alijado do poder

pelos militares, em 1967 procura o apoio de Juscelino Kubitschek, João

Goulart e do PCB para formar a Frente Ampla de oposição. No ano

seguinte, tem seus direitos políticos cassados. Dedica-se então apenas

ao jornalismo e à sua editora, a Nova Fronteira.

De Café Filho a Nereu Ramos –

Nos 16 meses seguintes à morte de Getúlio

Vargas, três presidentes cumprem

mandatos-relâmpagos. Café Filho, vice-

presidente, assume o governo em 24 de

agosto de 1954 e afasta-se por problemas

de saúde em 3 de novembro de 1955. Tenta

voltar em novembro mas é impedido pelo

Congresso. Em seu lugar, assume

interinamente o presidente da Câmara dos

Deputados, Carlos Luz. Efetivado em 9 de

novembro, ocupa a Presidência por apenas dois dias e é interditado pelo

Congresso por tentar impedir a posse do presidente eleito em outubro de

1955, Juscelino Kubitschek. Nereu Ramos, vice-presidente do Senado,

assume a Presidência até 31 de janeiro de 1956, quando entrega o

cargo a Juscelino.

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Governo Juscelino

Juscelino Kubitschek assume em 31 de

janeiro de 1956 e governa até o final de seu

mandato, em 31 de janeiro de 1961. Sua

candidatura e a do vice João Goulart são

apoiadas pelo PSD e pelo PTB. Obtêm 36% dos

votos, 500 mil a mais que o candidato da UDN,

Juarez Távora, e 700 mil a mais que o terceiro

colocado, Ademar de Barros – fato considerado

uma vitória das forças getulistas. A UDN alia-se a

uma organização de direita, a Cruzada Brasileira Anticomunista, e tenta

impedir a posse dos eleitos alegando que eles não obtiveram maioria

absoluta nas eleições. A posse é garantida pelo ministro da Guerra,

general Henrique Teixeira Lott.

Plano de Metas – Com o slogan "Cinqüenta anos em cinco", o

Plano Nacional de Desenvolvimento, conhecido como Plano de Metas,

estimula o crescimento e diversificação da economia. Juscelino investe

na indústria de base, na agricultura, melhora a educação, os transportes,

o fornecimento de energia e transfere a capital do país para o Planalto

Central. Projetada pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a

construção de Brasíliacomeça em fevereiro de 1957. É inaugurada em

21 de abril de 1960.

Estabilidade política – Durante o governo JK o país vive um

clima de confiança e otimismo. Juscelino consegue conciliar os

interesses de diferentes setores da sociedade. Os levantes militares,

poucos e inexpressivos, são contornados com habilidade pelo

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

presidente. Em 19 de fevereiro de 1956 oficiais da Aeronáutica rebelam-

se em Jacareacanga, no Pará. Fato semelhante ocorre em 3 de

dezembro de 1959 em Aragarças, Goiás. Nos dois casos, as rebeliões

são rapidamente sufocadas e os rebeldes anistiados. No plano

internacional, estreita as relações com os EUA e cria a Operação Pan-

americana (OPA), uma aliança para superar o subdesenvolvimento.

Apesar do crescimento econômico, os empréstimos externos e os

acordos com o FMI resultam em aumento da inflação e arrocho salarial.

O mandato de Juscelino chega ao fim em meio a várias manifestações

de descontentamento popular. Cresce o número de greves no campo e

nos principais centros industriais. Nas eleições de 1960, vence o

candidato da oposição, Jânio Quadros.

Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) nasce em

Diamantina, Minas Gerais. Formado em medicina, começa sua carreira

política em 1931, no posto de capitão-médico da polícia militar mineira.

Eleito deputado federal em 1934, exerce o mandato até o fechamento do

Congresso pelo golpe de 1937. É nomeado prefeito de Belo Horizonte

em 1940 e realiza obras urbanísticas na cidade planejadas por Oscar

Niemeyer. Elege-se deputado constituinte em 1946 e governador de

Minas Gerais em 1950. Em seu mandato, constrói cinco usinas

hidrelétricas e abre mais de 3 mil km de rodovias. É eleito presidente

pela aliança PSD-PTB com 36% dos votos, fato que serve de argumento

para a oposição tentar impugnar sua posse e a de seu vice, João

Goulart. Assume a Presidência em 31 de janeiro de 1956 e cumpre o

mandato até o fim. Político habilidoso e dinâmico, consegue governar

sem grandes movimentos de oposição e deflagra um processo de

crescimento e modernização da economia brasileira. Ao sair da

Presidência, elege-se senador por Goiás. Seus direitos políticos são

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

cassados pelo golpe militar de 1964. Em 1967, junto com Carlos

Lacerda, seu ex-inimigo político, e João Goulart tenta articular um

movimento de oposição, a Frente Ampla. Morre em acidente

automobilístico na via Dutra, no município de Resende, no dia 22 de

agosto de 1976.

Eleições de 1960 – Os

dois principais candidatos às

eleições presidenciais de 1960

são Jânio Quadros, apoiado pela

UDN, e o marechal Henrique

Teixeira Lott, da coligação PSD-

PTB. Jânio Quadros, carismático,

com discurso e comportamento

populistas, apresenta-se como um

candidato acima dos partidos.

Obtém 5.636.623 votos, o

equivalente a 48% dos votos

válidos, a maior votação até então

atingida por um político brasileiro. O marechal Lott obtém 3.846.825

votos. João Goulart, vice na chapa do marechal e herdeiro político de

Getúlio Vargas, é eleito vice-presidente da República. Isso ocorre

porque, na época, o voto para presidente e vice-presidente era

desvinculado, ou seja, o eleitor podia votar em candidatos de chapas

diferentes para cada um dos cargos.

Governo Jânio Quadros

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Jânio assume em 31 de janeiro de 1961 e renuncia sete

meses depois, em 25 de agosto. Herda de JK um país em acelerado

processo de concentração de renda e inflação galopante. Adota uma

política de austeridade econômica ditada pelo FMI: restringe o crédito e

congela salários. Com isso, obtém novos empréstimos, mas desagrada

ao movimento popular e aos empresários. No plano externo, exerce uma

política não-alinhada. Apóia Fidel Castro diante da tentativa fracassada

de invasão da baía dos Porcos pelos norte-americanos. Em 18 de agosto

de 1961 condecora o ministro da Indústria de Cuba, Ernesto "Che"

Guevara, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta

comenda brasileira.

Renúncia – Dia 24 de

agosto de 1961, Carlos Lacerda,

governador da Guanabara, denuncia

pela TV que Jânio Quadros estaria

articulando um golpe de estado. No dia

seguinte, o presidente surpreende a

nação: em uma carta ao Congresso

afirma que está sofrendo pressões de

"forças terríveis" e renuncia à

Presidência da República.

Jânio da Silva Quadros (1917-1992) nasce em Campo Grande,

atual capital do Mato Grosso do Sul. Advogado e professor de português,

faz uma carreira política vertiginosa em São Paulo: elege-se vereador da

capital em 1947, deputado estadual em 1950, prefeito de São Paulo em

1953 e governador do Estado em 1954. Fica conhecido por sua política

de moralização administrativa e por seu comportamento populista. Ao

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

sair do governo do Estado, elege-se deputado federal pelo Paraná. Em

1960 chega à Presidência da República com o apoio da UDN. Obtém

48% dos votos, resultado recorde no Brasil. Renuncia sete meses depois

e, em 1962, é derrotado nas eleições para o governo de São Paulo.

Seus direitos políticos são cassados pelo golpe militar de 1964. Em 1968

é confinado por quatro meses em Corumbá, Mato Grosso, por criticar o

governo. Volta à vida pública no final dos anos 70. Em 1982 é derrotado

para o governo paulista, mas elege-se prefeito da capital pelo PTB, em

15 de novembro de 1985. Morre em São Paulo em 16 de fevereiro de

1992.

Crise Política

Quando Jânio renuncia, o vice-presidente João Goulart está

fora do país, em visita oficial à China. O presidente da Câmara, Ranieri

Mazzilli, assume a Presidência como interino, em 25 de agosto de 1961.

A UDN e a cúpula das Forças Armadas tentam impedir a posse de

Goulart, considerado perigoso por sua ligação com o movimento

trabalhista. Os ministros da Guerra, Odílio Denys, o da Marinha, vice-

almirante Sílvio Heck, e o da Aeronáutica, brigadeiro Gabriel Grün Moss,

pressionam o Congresso para que considere vago o cargo de presidente

e convoque novas eleições. O jornal O Estado de S. Paulo, porta-voz

dos udenistas, afirma em editorial de 29 de agosto de 1961 que só há

uma saída para a crise: "a desistência espontânea do Sr. João Goulart

ou a reforma da Constituição que retire do vice-presidente o direito de

suceder ao presidente".

Campanha da Legalidade – O governador do Rio Grande do

Sul, Leonel Brizola, encabeça a resistência legalista. Apoiado pela milícia

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estadual, afirma que garantirá a posse de Jango "a bala, se for preciso".

Em seguida, cria a Cadeia da Legalidade: encampa a Rádio Guaíba, de

Porto Alegre, e, transmitindo em tempo integral, mobiliza a população e

as forças políticas leais ao governo a resistirem ao golpe e defender a

Constituição. As principais emissoras do país aderem à rede e a opinião

pública respalda a posição legalista. Em 28 de agosto de 1961 o general

Machado Lopes, comandante do 3º Exército, sediado no Rio Grande do

Sul, também declara seu apoio a João Goulart. Em 2 de setembro o

problema é contornado: o Congresso aprova uma emenda à Constituição

que institui o regime parlamentarista. Jango toma posse mas perde os

poderes do presidencialismo.

Governo João Goulart

João Goulart assume a

Presidência em 7 de setembro de

1961, sob regime parlamentarista, e

governa até o golpe de estado de 1º

de abril de 1964. Seu mandato é

marcado pelo confronto entre

diferentes projetos políticos e

econômicos para o Brasil, conflitos

sociais, greves urbanas e rurais e

um rápido processo de organização popular. O parlamentarismo,

estratégia da oposição para manter o presidente sob controle, é

derrubado em janeiro de 1963: em um plebiscito nacional 80% dos

eleitores optam pela volta ao presidencialismo.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Primeiros-ministros – Tancredo Neves, do PSD mineiro, é

eleito primeiro-ministro pelo Congresso logo após a posse de Jango.

Renuncia ao cargo em junho de 1962 para candidatar-se ao governo de

Minas Gerais. É substituído pelo jurista gaúcho Francisco de Paula

Brochado da Rocha, também do PSD, derrubado três meses depois por

pressões político-militares. Hermes Lima, do PSB paulista, assume o

cargo até o fim do parlamentarismo.

Plano Trienal – João Goulart realiza um governo contraditório.

Procura estreitar alianças com o movimento sindical e setores nacional-

reformistas. Paralelamente, tenta implementar uma política de

estabilização baseada na contenção salarial para satisfazer a oposição

udenista, o empresariado associado ao capital estrangeiro e às Forças

Armadas. Seu Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social,

elaborado por Celso Furtado, ministro do Planejamento, tem por

objetivos manter as taxas de crescimento da economia e reduzir a

inflação. Essas condições, impostas pelo FMI, são indispensáveis para a

obtenção de novos empréstimos, renegociação da dívida externa e

elevação do nível de investimentos.

Reformas de base – O Plano Trienal também determina a

realização das chamadas reformas de base – reforma agrária,

educacional, bancária etc. –, necessárias ao desenvolvimento de um

"capitalismo nacional e progressista". O anúncio dessas reformas

aumenta a oposição ao governo e acentua a polarização da sociedade

brasileira. Jango perde rapidamente suas bases na burguesia. Para

evitar o isolamento, reforça as alianças com as correntes reformistas:

aproxima–se de Leonel Brizola, então deputado federal pela Guanabara;

de Miguel Arraes, governador de Pernambuco; da União Nacional dos

Estudantes e do Partido Comunista que, embora na ilegalidade, mantém

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

forte atuação no movimento popular e sindical. O Plano Trienal é

abandonado em meados de 1963, mas o presidente continua

implementando medidas de caráter nacionalista: limita a remessa de

lucros para o exterior, nacionaliza empresas de comunicações e decide

rever as concessões para exploração de minérios. As retaliações

estrangeiras são rápidas: governo e empresas privadas norte–

americanas cortam créditos para o Brasil e interrompem a renegociação

da dívida externa.

Radicalização no Parlamento – O Congresso reflete a

crescente polarização da sociedade. Forma-se a Frente Parlamentar

Nacionalista em apoio ao presidente, reunindo a maioria dos

parlamentares do PTB e PSB, e setores dissidentes do PSD e da UDN.

A oposição aglutina-se na Ação Democrática Parlamentar, que reúne

boa parte dos parlamentares do PSD, a maioria da UDN e de outros

partidos conservadores.

Financiamento da oposição – A Ação Democrática

Parlamentar recebe ajuda financeira do Instituto Brasileiro de Ação

Democrática (Ibad), instituição mantida pela Embaixada dos Estados

Unidos. Setores do empresariado paulista formam o Instituto de

Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), com o objetivo de disseminar a luta

contra o governo entre os empresários e na opinião pública. A grande

imprensa pede a deposição de João Goulart em seus editoriais.

João Belchior Marques Goulart (1918-1976) nasce em São

Borja, Rio Grande do Sul, numa família de estancieiros. Advogado,

ingressa no PTB em 1945. É eleito deputado federal em 1946 e 1950, e

nesse ano coordena a campanha presidencial de Getúlio Vargas, de

quem é considerado herdeiro político. Nomeado ministro do Trabalho em

1953, deixa o cargo um ano depois diante das pressões para não

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

aumentar o salário mínimo. Eleito vice-presidente de Juscelino

Kubitschek, em 1955, e de Jânio Quadros em 1960, enfrenta forte

oposição política. Com a renúncia de Jânio, uma conspiração militar

tenta evitar sua posse na Presidência. Leonel Brizola, governador do Rio

Grande do Sul, seu cunhado e aliado, encabeça uma grande mobilização

popular para garantir-lhe a posse, a Campanha da Legalidade. Assume a

Presidência depois da aprovação de uma emenda constitucional que

institui o parlamentarismo no país, em 2 de setembro de 1961. Um

plebiscito realizado em janeiro de 1963 derruba o parlamentarismo. Em

troca do apoio popular, Jango compromete-se a realizar as reformas de

base, que intimidam as classes dominantes. É destituído da Presidência

pelo golpe militar de 31 de março de 1964. Exilado no Uruguai, participa

da articulação da Frente Ampla, um movimento pela redemocratização

do país, junto com Juscelino Kubitschek e seu ex-inimigo político, Carlos

Lacerda. A frente não decola, Jango retira-se da vida pública e dedica-se

à administração de suas propriedades na Argentina, Paraguai, Uruguai e

Brasil. Morre na Argentina em 6 de dezembro de 1976. É o único ex-

presidente a morrer no exílio.

Crise do populismo

No início de 1964 o país chega a um impasse. O governo já

não tem o apoio da quase totalidade das classes dominantes e os

próprios integrantes da cúpula governamental divergem quanto aos

rumos a serem seguidos. A crise se precipita no dia 13 de março, com a

realização de um grande comício em frente à Estação Central do Brasil,

no Rio de Janeiro. Perante 300 mil pessoas Jango decreta a

nacionalização das refinarias privadas de petróleo e desapropria para

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

fins de reforma agrária propriedades às margens de ferrovias, rodovias e

zonas de irrigação dos açudes públicos. Tais decisões provocam a

reação das classes proprietárias, de setores conservadores da Igreja e

de amplos segmentos das classes médias. A grande imprensa afirma

que as reformas levarão à "cubanização" do país.

Mobilização

contra o governo – Em

19 de março é realizada

em São Paulo a maior

mobilização contra o

governo, a "Marcha da

Família com Deus pela

Liberdade". Organizada

por empresários, setores

conservadores das

classes médias e do

clero, reúne cerca de

400 mil participantes. A

manifestação fornece o apoio político e social que faltava aos grupos que

já conspiram para derrubar o presidente. Um desses grupos é liderado

pelo general Olímpio Mourão Filho. Outro, formado por civis e militares,

tem a direção do almirante Sílvio Heck. Um terceiro, composto por

coronéis e generais, conta com a participação dos coronéis João Batista

Figueiredoe Costa Cavalcanti e dos generais Ernesto Geisele Bizarria

Mamede.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

DITADURA MILITAR

Golpe de 1964 – No dia 30 de março o governador de Minas,

Magalhães Pinto, lança um manifesto em que conclama o povo à

"restauração da ordem constitucional comprometida". No dia 31 tropas

mineiras sob o comando do general Mourão Filho marcham em direção

ao Rio de Janeiro e Brasília. Depois de muita expectativa, os golpistas

conseguem a adesão do comandante do 2º Exército, general Amaury

Kruel. Jango está no Rio de Janeiro quando recebe o manifesto do

general Mourão Filho exigindo sua renúncia. No dia 1º de abril pela

manhã, parte para Brasília na tentativa de controlar a situação. Ao

perceber que não conta com nenhum dispositivo militar e nem com o

apoio armado dos grupos que o sustentavam, abandona a capital e

segue para Porto Alegre. Recusa a oferta de Leonel Brizola para

organizar uma resistência armada. Nesse mesmo dia, ainda com João

Goulart no país, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade,

declara vaga a Presidência da República. Ranieri Mazzilli, presidente da

Câmara dos Deputados, ocupa a Presidência interinamente.

O Regime Militar é instaurado pelo golpe de estado de 31 de

março de 1964 e estende-se até a Redemocratização, em 1985. O plano

político é marcado pelo autoritarismo, supressão dos direitos

constitucionais, perseguição policial e militar, prisão e tortura dos

opositores e pela imposição de censura prévia aos meios de

comunicação. Na economia, há uma rápida diversificação e

modernização da indústria e serviços, sustentada por mecanismos de

concentração de renda, endividamento externo e abertura ao capital

estrangeiro. A inflação é institucionalizada através de mecanismos de

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

correção monetária e passa a ser uma das formas de financiamento do

Estado. Acentuam-se as desigualdades e injustiças sociais.

Ministros militares – Com a deposição de João Goulart, o

presidente da Câmara Federal, Ranieri Mazzilli, assume formalmente a

Presidência e permanece no cargo até 15 de abril de 1964. Na prática,

porém, o poder é exercido pelos ministros militares de seu governo:

brigadeiro Correia de Melo, da Aeronáutica, almirante Augusto

Rademaker, da Marinha, e general Arthur da Costa e Silva, da Guerra.

Nesse período é instituído o Ato Institucional no 1 (AI-1).

AI-1 – Os atos institucionais são mecanismos adotados pelos

militares para legalizar ações políticas não previstas e mesmo contrárias

à Constituição. De 1964 a 1978 são decretados 16 atos institucionais e

complementares que transformam a Constituição de 1946 em uma

colcha de retalhos. O AI-1, de 9 de abril de 1964, transfere o poder

político aos militares, suspende por dez anos os direitos políticos de

centenas de pessoas, entre elas os ex-presidentes João Goulart e Jânio

Quadros, governadores, parlamentares, líderes sindicais e estudantis,

intelectuais e funcionários públicos. As cassações de mandatos alteram

a composição do Congresso e intimidam os parlamentares.

Governo Castello Branco

Em 11 de abril de 1964, o Congresso elege

para presidente o chefe do Estado-maior do Exército,

marechal Humberto de Alencar Castello Branco.

Empossado em 15 de abril de 1964, governa até 15 de

março de 1967. Usa atos institucionais e emendas

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

constitucionais como instrumentos de repressão: fecha associações

civis, proíbe greves, intervém em sindicatos, cassa mandatos de

políticos, entre eles o do ex-presidente Kubitschek, em 8 de junho de

1964. No dia 13 de junho cria o Serviço Nacional de Informações (SNI).

Em 27 de outubro o Congresso aprova a Lei Suplicy, que extingue a

UNE e as uniões estaduais de estudantes. O novo governo assina com

os EUA o acordo MEC-Usaid, com o objetivo de reestruturar a educação

pública no país. Em 18 de outubro de 1965 manda invadir e fechar a

Universidade de Brasília pela polícia militar.

Humberto de Alencar Castello Branco (1900-1967) nasce em

Mecejana, Ceará, e faz carreira militar. Chefe do Estado-maior do

Exército durante o governo Goulart, participa da conspiração para

derrubar o presidente. Em 21 de março de 1964 envia circular aos

comandos regionais do Exército acusando o governo de pretender

implantar no país um regime de esquerda. Deposto Goulart e editado o

AI-1, Castello Branco é reformado no posto de marechal e eleito

presidente pelo Congresso, em 11 de abril de 1964. Morre em acidente

aéreo em Mondubim, Ceará, em 18 de julho de 1967, alguns meses

após sair da Presidência.

A linha dura – As ações repressivas do governo são

estimuladas por grande parte dos oficiais do Exército, principalmente

pelos coronéis. A chamada "linha dura" defende a pureza dos princípios

"revolucionários" e a exclusão de todo e qualquer vestígio do regime

deposto. Usando de pressões, conseguem que o Congresso aprove

várias medidas repressivas. A emenda das inelegibilidades, por exemplo,

aprovada em 1965 antes das eleições para governadores, transforma em

inelegíveis alguns candidatos que desagradam aos militares. Uma das

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

maiores vitórias da linha dura é a permissão dada à Justiça Militar para

julgar civis pelos chamados "crimes políticos".

AI-2 – Em 27 de outubro de 1965 Castello Branco edita o AI-2:

dissolve os partidos políticos e confere ao Executivo poderes para cassar

mandatos e decretar o estado de sítio sem prévia autorização do

Congresso. Estabelece também a eleição indireta para a Presidência da

República, transformando o Congresso em Colégio Eleitoral.

Bipartidarismo – O ato complementar no 4, de 24 de

novembro de 1965, institui o sistema bipartidário no país. É criada a

Aliança Renovadora Naciona (Arena), de apoio ao governo, reunindo

integrantes da antiga UDN e do PSD. O Movimento Democrático

Brasileiro (MDB) reúne oposicionistas de diversos matizes, entre os que

sobraram dos processos de repressão pós-golpe. Como único espaço

consentido de oposição, aos poucos, adquire o caráter de uma grande

frente política.

AI-3 e AI-4 – Prevendo a derrota nas eleições para os

governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o governo baixa

o AI-3, em 5 de fevereiro de 1966: as eleições para governadores

passam a ser indiretas. Em novembro de 1966 Castello Branco fecha o

Congresso e inicia uma nova onda de cassações de parlamentares. O

AI-4, de 7 de dezembro de 1966, atribui poderes constituintes ao

Congresso para que aprove o projeto constitucional elaborado pelo

ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva.

Constituição de 1967 – A sexta Constituição do país e a

quinta da República traduz a ordem estabelecida pelo Regime Militar e

institucionaliza a ditadura. Incorpora as decisões instituídas pelos atos

institucionais, aumenta o poder do Executivo, que passa a ter a iniciativa

de projetos de emenda constitucional, reduz os poderes e prerrogativas

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

do Congresso, institui uma nova lei de imprensa e a Lei de Segurança

Nacional. A nova Carta é votada em 24 de janeiro de 1967 e entra em

vigor no dia 15 de março.

Governo Costa e Silva

O marechal Arthur da Costa e

Silva assume em 15 de março de 1967 e

governa até 31 de agosto de 1969, quando é

afastado do poder por motivo de saúde.

Logo nos primeiros meses de governo

enfrenta uma onda de protestos que se

espalha por todo o país. O autoritarismo e a

repressão recrudescem na mesma

proporção em que a oposição se radicaliza. Costa e Silva cria a

Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Movimento Brasileiro de

Alfabetização (Mobral).

Arthur da Costa e Silva (1902-1969) nasce em Taquari, Rio

Grande do Sul. Militar de carreira, é afastado do comando do 4º Exército

durante o governo Goulart por ter reprimido manifestações estudantis.

Ministro da Guerra durante o governo Castello Branco, é eleito

presidente da República pelo Congresso em 3 de outubro de 1966.

Toma posse em 15 de março de 1967, data em que entra em vigor a

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

nova Constituição. Obrigado a

afastar-se da Presidência em 31

de agosto de 1969 por ter sofrido

uma trombose, é substituído por

uma junta militar. Morre no Rio de

Janeiro em 17 de dezembro de

1969.

Movimentos de oposição – Em meados de 1967 é formada a

Frente Ampla, movimento de oposição extraparlamentar que reúne

líderes do período pré-64, como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e

João Goulart. Crescem também as manifestações de rua nas principais

cidades do país, em geral organizadas por estudantes. Em 1968 o

estudante secundarista Edson Luís morre no Rio de Janeiro em um

confronto entre policiais e estudantes. Em resposta, o movimento

estudantil, setores da igreja e da sociedade civil promovem a passeata

dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, a maior mobilização do período contra o

Regime Militar. Na Câmara Federal, o deputado Márcio Moreira Alves,

do MDB, exorta o povo a não comparecer às festividades do Dia da

Independência. Os militares exigem sua punição. A Câmara não aceita a

exigência. O governo fecha o Congresso e decreta o Ato Institucional no

5, em 13 de dezembro de 1968.

Áreas de segurança – Em 17 de abril de 1968, 68 municípios,

inclusive todas as capitais, são transformados em áreas de segurança

nacional e seus prefeitos passam a ser nomeados pelo presidente da

República.

AI-5 – Mais abrangente e autoritário que todos os outros atos

institucionais, o AI-5, na prática, revoga os dispositivos da Constituição

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

de 1967. Reforça os poderes discricionários do regime e concede ao

Executivo o direito de determinar medidas repressivas específicas, como

decretar o recesso do Congresso, das assembléias legislativas estaduais

e das câmaras municipais. O governo pode censurar os meios de

comunicação, eliminar garantias de estabilidade do Poder Judiciário e

suspender a aplicação do habeas-corpus em caso de crimes políticos. O

ato ainda cassa mandatos, suspende direitos políticos e cerceia direitos

individuais. Em seguida ao AI-5, o governo Costa e Silva decreta outros

12 atos institucionais e complementares, que passam a constituir o

núcleo da legislação do regime. O AI-5 é revogado pela emenda no 11,

que entra em vigor em 1º de janeiro de 1979.

Junta Militar

A Junta Militar é integrada pelos ministros da Marinha, Augusto

Rademaker, do Exército, Lyra Tavares, e da Aeronáutica, Márcio de

Sousa e Melo. Governa por dois meses – de 31 de agosto de 1969 até

30 de outubro de 1969. Em 9 de setembro de 1969, decreta, entre outras

medidas, o AI-14, que institui a prisão perpétua e a pena de morte em

casos de "guerra revolucionária e subversiva"; reforma a Constituição de

1967 e impõe nova lei de segurança nacional. Decreta também a

reabertura do Congresso, após dez meses de recesso. Em 25 de

outubro de 1969, os parlamentares elegem o general Emílio Garrastazu

Medici para a Presidência.

Reforma constitucional – A reforma é elaborada pelo jurista

Carlos Medeiros Silva com base em estudos feitos pelo professor de

Direito Penal, Pedro Aleixo, e nas normas decretadas pela Junta Militar.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Incorpora o AI-5 e os atos institucionais posteriores à Constituição,

permite ao presidente decretar estado de sítio e de emergência.

Decurso de prazo – A emenda constitucional no1, de 17 de

outubro de 1969, cria a figura do decurso de prazo, artifício usado pelos

governos militares para seus decretos-lei junto ao Congresso. Pela

emenda, os decretos do governo não votados num prazo de 45 dias

entram automaticamente em vigor. Assim, mesmo que os parlamentares

governistas sejam minoria no Congresso, basta-lhes não comparecer ao

plenário para impedir a formação do quórum necessário às votações.

Governo Medici

Emílio Garrastazu Medici assume a Presidência em 30 de

outubro de 1969 e governa até 15 de março de 1974. Seu governo fica

conhecido como "os anos negros da ditadura". O movimento estudantil,

sindical e as oposições estão contidos e silenciados pela repressão

policial. O fechamento dos canais de participação política leva uma

parcela da esquerda a optar pela luta armada e pela guerrilha urbana. O

governo responde com mais repressão. Lança também uma ampla

campanha publicitária com o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o". O

endurecimento político é respaldado pelo chamado "milagre econômico":

crescimento do PIB, diversificação das atividades produtivas,

concentração de renda e o surgimento de uma nova classe média com

alto poder aquisitivo.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Emílio Garrastazu

Medici (1905-1985) nasce

em Bagé, Rio Grande do

Sul. Militar de carreira,

atinge o posto de general

em 1961 e o de general-de-

exército em 1969.

Comandante da Academia

Militar de Agulhas Negras

em 1964, é um dos

primeiros a aderir ao

movimento que depõe João

Goulart. Na ocasião,

bloqueia a marcha das tropas leais ao governo na rodovia Presidente

Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Em 1967 é nomeado chefe

do SNI e, em 1969, designado comandante do 3º Exército. Em 25 de

outubro de 1969 é eleito presidente da República pelo Congresso. Morre

no Rio de Janeiro em 9 de outubro de 1985.

Governo Geisel

O general Ernesto Geisel assume a Presidência em 15 de

março de 1974 e governa até 15 de março de 1979. Enfrenta

dificuldades econômicas que anunciam o fim do "milagre econômico" e

ameaçam o Regime Militar. No final de 1973 a dívida externa contraída

para financiar as obras faraônicas do governo atinge US$ 9,5 bilhões. A

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inflação chega a 34,5% em 1974 e acentua a corrosão dos salários. A

crise internacional do petróleo desencadeada em 1973 afeta o

desenvolvimento industrial e aumenta o desemprego. Diante desse

quadro, Geisel propõe um projeto de abertura política "lenta, gradual e

segura". Mas ainda cassa mandatos e direitos políticos. Devido ao

expressivo crescimento das oposições nas eleições parlamentares de

1974, promulga a Lei Falcão, que impede o debate político nos meios de

comunicação, em 24 de junho de 1976.

Ernesto Geisel nasce em Bento Gonçalves, Rio Grande do

Sul. Dedica-se à carreira militar e, em 1964, depois de trabalhar pela

deposição do presidente Goulart, assume a chefia da Casa Militar do

governo Castello Branco. Promovido a general-de-exército em 1966,

chega a ministro do Supremo Tribunal Militar em 1967. Dois anos depois,

em 1969, assume a presidência da Petrobrás. É eleito presidente da

República pelo Congresso em janeiro de 1974. Após o final de seu

mandato, em 1979, dedica-se à iniciativa privada, mas mantém grande

influência entre setores militares.

Abertura política – O plano para a abertura é atribuído ao

ministro-chefe do Gabinete Civil, general Golbery do Couto e Silva.

Apesar de ser definida como "lenta, gradual e segura", repercute

negativamente entre os militares de linha dura. Em 20 de janeiro de

1976, o general da linha dura Ednardo d'Ávila Mello é afastado do

comando do 2º Exército e substituído pelo general Dilermando Gomes

Monteiro. A medida é tomada em conseqüência da morte do jornalista

Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, e do operário Manuel Fiel

Filho, em 17 de janeiro de 1976, no interior do DOI-Codi, órgão vinculado

ao 2º Exército. Em 12 de outubro de 1977 Geisel exonera o ministro do

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Exército, general Sylvio Frota, também da linha dura, por sua oposição à

liberalização do regime. Desmancha, assim, as articulações do ex-

ministro para sucedê-lo na Presidência.

Pacote de Abril – Prevendo nova vitória da oposição nas

eleições de 1978, Geisel fecha o Congresso por duas semanas e decreta

em abril de 1977 o chamado Pacote de Abril, que altera as regras

eleitorais: as bancadas estaduais na Câmara não podem ter mais do que

55 deputados ou menos que seis. Com isso, os Estados do Norte e

Nordeste, menos populosos, mas controlados pela Arena, garantem uma

boa representação governista no Congresso, contrabalançando as

bancadas do Sul e Sudeste, onde a oposição é mais expressiva. O

pacote mantém as eleições indiretas para governadores e cria a figura

do senador biônico: um em cada três senadores passa a ser eleito

indiretamente pelas assembléias legislativas de seus Estados. A emenda

também aumenta o mandato do presidente de quatro para seis anos.

Eleições de 1978 – Em 15 de outubro de 1978 o MDB

apresenta um candidato ao colégio eleitoral, o general Euler Bentes.

Recebe 266 votos, contra os 355 votos do candidato do governo, general

João Batista Figueiredo. Nas eleições legislativas de 15 de novembro a

Arena obtém em todo o país 13,1 milhões de votos para o Senado e 15

milhões para a Câmara e o MDB, 17,4 milhões de votos para o Senado e

14,8 milhões para a Câmara.

Governo Figueiredo

João Baptista Figueiredo assume a Presidência em 15 de

março de 1979 e governa até 15 de março de 1985. O crescimento das

oposições nas eleições de 1978 acelera o processo de abertura política.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Em 28 de agosto de 1979 é aprovada a lei da anistia. No mesmo ano,

em 22 de novembro, é aprovada a Lei Orgânica dos Partidos, que

extingue a Arena e o MDB e restabelece o pluripartidarismo no país.

Cresce também a mobilização popular por eleições diretas para os

cargos executivos. Em 13 de novembro de 1980 é aprovada uma

emenda constitucional que restabelece as eleições diretas para

governadores e acaba com os senadores biônicos, respeitando os

mandatos em curso.

João Baptista de Oliveira

Figueiredo nasce no Rio de Janeiro.

Dedica-se à carreira militar e, em 1964,

chefia a agência do SNI no Rio de Janeiro.

Recebe a estrela de general-de-exército em

1978, ano em que é eleito presidente da

República pelo Congresso. Seu governo,

entre 15 de março de 1979 e 15 de março

de 1985, encerra o ciclo do Regime Militar.

No final de seu mandato, um civil assume a Presidência e Figueiredo

retira-se da vida pública.

Pluripartidarismo – Com o fim do bipartidarismo, os aliados

do regime aglutinam-se no Partido Democrático Social (PDS). O MDB

transforma-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),

mas a frente de oposições fragmenta-se. Parte delas abandona a

legenda e cria novos partidos. Ressurgem algumas das antigas siglas,

como o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que reúne setores do antigo

trabalhismo liderados por Ivete Vargas. Em janeiro de 1979 é criado o

Partido dos Trabalhadores (PT), liderado pelo líder metalúrgico Luís

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Inácio Lula da Silva, reunindo grande parcela do movimento sindical rural

e urbano, intelectuais, militantes das comunidades eclesiais de base,

setores da esquerda antes abrigada no MDB e também grupos que

saem da clandestinidade. O PT é legalizado em 1980 e, nesse mesmo

ano, Leonel Brizola funda o Partido Democrático Trabalhista (PDT),

reunindo outra parcela do antigo trabalhismo.

Eleições de 1982 – Apesar do crescimento das oposições, o

Regime Militar mantém o controle sobre o processo de transição para a

democracia. Em 4 de setembro de 1980 uma emenda constitucional

prorroga os mandatos dos vereadores e prefeitos e adia por dois anos as

eleições para Câmara Federal e Senado, governos estaduais,

prefeituras, assembléias estaduais e câmaras de vereadores. Um ano

antes das eleições, marcadas para 15 de novembro de 1982, o governo

proíbe as coligações partidárias e estabelece a vinculação de voto – o

eleitor só poderia votar em candidatos de um mesmo partido. Nas

eleições para governadores, as oposições somadas obtêm 25 milhões

de votos. O PMDB elege nove governadores e o PDT, um. O PDS obtém

18 milhões de voto mas elege 12 governadores. As oposições crescem

nos grandes centros urbanos e ganham espaço nas pequenas e médias

cidades.

Diretas-já – Embora a oposição ganhe em número de votos, o

Regime Militar mantém o controle do processo político e articula a

sucessão do general Figueiredo por meio de eleições indiretas,

marcadas para novembro de 1984. No final de 1983, as oposições

lançam a campanha por eleições diretas para presidente da República. A

primeira manifestação, em 27 de novembro, é organizada pelo PT e

reúne cerca de 10 mil pessoas em São Paulo. O movimento cresce

rapidamente e aglutina todos os setores oposicionistas. Nas principais

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

cidades do país multidões vão às ruas para pressionar o Congresso a

aprovar a emenda Dante de Oliveira, que restabelece as eleições diretas

para presidente. As maiores manifestações ocorrem em São Paulo, na

praça da Sé, dia 12 de fevereiro de 1984, com 200 mil pessoas; no Rio

de Janeiro, a primeira no dia 21 de março, com 300 mil pessoas e, a

segunda, dia 10 de abril com 1 milhão; Goiânia, no dia 12 de abril, com

300 mil pessoas; em Porto Alegre, dia 13 de abril, com 150 mil;

novamente em São Paulo, no vale do Anhangabaú, com 1,7 milhão; e

em Vitória, em 18 de abril, com 80 mil manifestantes.

Emenda Dante de Oliveira – A emenda constitucional

apresentada pelo deputado federal Dante de Oliveira vai a plenário no

dia 25 de abril: 298 deputados votam a favor, 65 contra, três se abstêm e

113 parlamentares não comparecem ao plenário. Seriam necessários

mais 22 votos, que somariam dois terços do total, para a aprovação da

emenda.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

NOVA REPÚBLICA

Eleição de Tancredo

Neves – O governador de

Minas, Tancredo Neves,

apresenta-se como candidato da

oposição para disputar a

Presidência no Colégio Eleitoral.

O PDS lança Paulo Maluf, líder

de uma facção do partido. Uma

dissidência do PDS, a Frente

Liberal, une-se ao PMDB e

forma a Aliança Democrática. O

senador José Sarney, rompido

com o PDS e filiado ao PMDB, é

indicado para vice na chapa de Tancredo. O PT recusa-se a comparecer

ao Colégio Eleitoral sob o argumento de não compactuar com a farsa

das eleições indiretas. Tancredo Neves é eleito em 15 de janeiro de

1985 com 480 votos, contra 180 dados a Paulo Maluf e 26 abstenções. É

o primeiro presidente civil depois de 21 anos de ditadura. Os militares

retornam às casernas.

A eleição de Tancredo Neves para a Presidência marca o fim

do Regime Militar e o início da Redemocratização do país. Apesar de

indireta, sua escolha é recebida com entusiasmo pela maioria dos

brasileiros. Eleito pelo Colégio Eleitoral com o apoio do conjunto das

oposições, exceto o PT, Tancredo não chega a assumir o cargo. Na

véspera da posse, é internado no Hospital de Base, em Brasília, e morre

37 dias depois no Instituto do Coração, em São Paulo. A Presidência é

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

ocupada pelo vice, José Sarney. Em 1989, pela primeira vez após 29

anos, o país vai às urnas para eleger um presidente por voto direto.

Fernando Collor de Mello ganha as eleições, assume a Presidência em

janeiro de 1990 e é afastado pelo Congresso em 1992 num processo de

impeachment até então inédito. Em seu lugar assume o vice-presidente

Itamar Franco, em 29 de setembro de 1992. Governa interinamente até

29 de dezembro e, a partir daí, em caráter definitivo, até as eleições de

1994.

Entulho autoritário – A história recente do país pode ser

dividida em duas fases. A primeira é de expurgo do chamado entulho

autoritário, ou seja, dos traços antidemocráticos do regime anterior. As

maiores expressões dessa fase são a elaboração da nova Constituição,

promulgada em outubro de 1988, e a eleição presidencial de 1989. A

segunda fase é marcada pelos esforços de restauração da cidadania,

moralização da vida pública e das instituições democráticas. Os

principais marcos são a CPI do PC, o impeachment de Fernando Collor

de Mello e a CPI do Orçamento.

Tancredo de Almeida Neves (1910-1985) começa sua carreira

política em 1933, como vereador em São João del Rey, sua cidade natal,

em Minas Gerais. Elege-se deputado estadual pelo PSD, em 1945, e

federal em 1950. Ministro da Justiça do governo Vargas em 26 de junho

de 1953, entrega o cargo no dia da morte do presidente, e retorna ao

Congresso. Durante o governo Kubitschek preside o Banco do Brasil e o

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Candidato ao

governo de Minas em 1960, é derrotado por Magalhães Pinto, da UDN.

Com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, vai ao encontro de João

Goulart em Montevidéu, e o convence a aceitar a Presidência sob o

regime parlamentarista. Nomeado primeiro-ministro do país, fica no

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

cargo até 26 de junho de 1962. Em outubro desse ano reelege-se

deputado federal. Com o bipartidarismo imposto pelo Regime Militar, filia-

se ao MDB e reelege-se sucessivamente para a Câmara em 1967, 1971

e 1975, e para o Senado em 1978. Com a volta do pluripartidarismo

durante o governo Figueiredo, funda o Partido Popular, de curta duração.

Em 1982 é eleito governador de Minas Gerais pelo PMDB. Famoso pelo

espírito conciliador e por trafegar bem entre a oposição e os políticos

governistas, candidata-se à Presidência pelo Colégio Eleitoral quando a

campanha pelas diretas-já ainda está nas ruas. Derrotada a emenda

Dante de Oliveira, surge como alternativa tanto para o MDB como para a

dissidência do PDS, a Frente Liberal. Escolhido presidente em 15 de

janeiro de 1985, não chega a tomar posse. Na véspera, dia 14 de março,

é internado no Hospital de Base de Brasília com fortes dores no

abdômen: uma diverticulite, segundo os diagnósticos divulgados. Em 26

de março é transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo.

Depois de submetido a sete cirurgias, morre em 21 de abril de 1985, aos

75 anos de idade. A causa da morte atestada pelos médicos é infecção

generalizada. Seu corpo é velado em Brasília e Belo Horizonte e

sepultado em São João del Rey, em 24 de abril.

Governo Sarney

José Sarney assume a Presidência interinamente em 15 de

março de 1985. Em 22 de abril, após a morte de Tancredo, é investido

oficialmente no cargo. Governa até 15 de março de 1990, um ano a mais

que o previsto na carta-compromisso da Aliança Democrática, pela qual

chegou ao poder. A expressão "Nova República", criada pelo deputado

Ulysses Guimarães para designar o plano de governo da Aliança

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Democrática, é assumida por Sarney como sinônimo de seu governo.

Em 10 de maio de 1985 uma emenda constitucional restabele as

eleições diretas para a Presidência e prefeituras das cidades

consideradas como área de segurança nacional pelo Regime Militar. A

emenda também concede o direito de voto aos analfabetos e aos jovens

maiores de 16 anos. Em 1988 é promulgada a nova Constituição do

país. Na área econômica, o governo Sarney cria quatro planos de

estabilização, com sucesso parcial apenas no primeiro. O governo

Sarney faz vista grossa à corrupção crescente.

José Ribamar Ferreira de Araújo Costa é o nome de batismo

de José Sarney. O apelido de Sarney vem do pai, Sarney de Araújo

Costa. Quando criança, José Ribamar é chamado Zé do Sarney e acaba

adotando o apelido. Advogado, jornalista e escritor, José Sarney

ingressa na política em 1954, como suplente de deputado federal pela

UDN do Maranhão. Assume a cadeira em 1956 e reelege-se em 1958 e

1962. Em 1966, filiado à Arena, é escolhido governador do Maranhão.

Em 1970 e 1978 é eleito senador pelo mesmo partido. Participa da

fundação do PDS e preside o partido por duas vezes. Em 1984 é

encarregado pelo general Figueiredo de coordenar a sucessão

presidencial. Dentro do PDS, apóia a indicação de Aureliano Chaves

para candidato. É derrotado por Paulo Maluf. Renuncia à presidência do

PDS, sai do partido e ingressa no PMDB. Os dissidentes do PDS formam

a Frente Liberal e indicam Sarney como vice da chapa de Tancredo

Neves à Presidência da República. Eleito pelo Colégio Eleitoral, assume

a Presidência com a morte de Tancredo. Consegue que o Congresso

estenda seu mandato de quatro para cinco anos. Em novembro de 1990

elege-se senador pelo PMDB do Amapá.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Novos partidos – A emenda

constitucional de 10 de maio de 1985

extingue a fidelidade partidária e abranda

as exigências para registro de novos

partidos. Isso permite a legalização do

PCB e PC do B e o surgimento de grande

número de novas agremiações. Em 1988,

durante os trabalhos do Congresso

Constituinte, o "grupo histórico" do PMDB,

liderado por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro

e Pimenta da Veiga, rompe com Sarney e exige o afastamento do PMDB

do governo. A proposta não se concretiza e "os históricos" formam o

Bloco Independente do PMDB, embrião do Partido da Social Democracia

Brasileira (PSDB) ou partido dos tucanos, como também é conhecido. O

PSDB é criado oficialmente em 26 de junho de 1988.

Constituição de 1988 – O Congresso eleito em 15 de

novembro de 1986 ganha poderes constituintes. Sob a presidência do

deputado Ulysses Guimarães começa a elaborar a nova Constituição em

1º de fevereiro de 1987. É a primeira Constituinte na história do país a

aceitar emendas populares – que devem ser apresentadas por pelo

menos três entidades associativas e assinadas por no mínimo 30 mil

eleitores. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição tem 245

artigos e 70 disposições transitórias. Inclui um dispositivo que prevê sua

própria revisão ou ratificação pelo Congresso em outubro de 1993;

transfere a decisão sobre a forma de governo (república ou monarquia

constitucional) e sobre o sistema de governo (parlamentarista ou

presidencialista) para um plebiscito marcado para 7 de setembro de

1993 e, depois, antecipado para 21 de abril de 1993.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

A nova Carta fixa o mandato presidencial em cinco anos e a

independência entre os três poderes. Substitui o antigo decreto-lei usado

nos governos militares pela medida provisória, que perde sua validade

se não for aprovada pelo Congresso no prazo de 30 dias. Restringe o

poder das Forças Armadas à garantia dos poderes constitucionais.

Estabelece eleições diretas com dois turnos para a Presidência,

governos estaduais e prefeituras com mais de 200 mil eleitores. Mantém

o voto facultativo aos analfabetos e aos jovens a partir dos 16 anos. A

Constituição também fixa os direitos individuais e coletivos.

Direitos do trabalhador – A Constituição de 1988 limita a

jornada semanal a 44 horas, estipula o seguro-desemprego, amplia a

licença-maternidade para 120 dias e concede licença-paternidade, fixada

depois em cinco dias. Também proíbe a ingerência do Estado nos

sindicatos e assegura aos funcionários públicos o direito de se organizar

em sindicatos e usar a greve como instrumento de negociação, com

restrições apenas nos serviços essenciais. Procura ainda dificultar as

demissões ao determinar o pagamento de uma multa de 40% sobre o

valor total do FGTS nas dispensas sem justa causa.

Ulysses Silveira Guimarães

(1916-1992), paulista de Rio Claro, participa

de todos os momentos importantes da

história do país a partir da década de 50.

Em 1964 apóia o golpe militar, mas logo

transforma-se em um dos maiores

opositores do Regime Militar. Presidente do

MDB, em 1974 apresenta-se como

anticandidato à Presidência da República,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

na sucessão do general Medici. Em 1984 torna-se uma das principais

lideranças da campanha pelas diretas-já e passa a ser chamado de

Senhor Diretas. Derrotada a emenda Dante de Oliveira, transforma-se

em um dos principais articuladores da eleição de Tancredo Neves no

Colégio Eleitoral. Considerado um dos políticos mais hábeis e um dos

mais respeitados da história do país, Ulysses Guimarães dirige os

trabalhos do Congresso Constituinte. Em 1989, lança-se candidato à

Presidência da República pelo PMDB, mas sua campanha não

deslancha. Isolado por seus próprios pares, recebe apenas 4,5% dos

votos no 1º turno das eleições. Em 1992 participa das articulações do

impeachment do presidente Fernando Collor e da campanha pela

adoção do parlamentarismo no Brasil. Em 12 de outubro, aos 76 anos,

morre em acidente de helicóptero na região de Parati, litoral sul do Rio

de Janeiro, junto com sua mulher Mora, o ex-senador Severo Gomes e a

mulher, Henriqueta. O corpo de Ulysses não é encontrado.

Corrupção no governo – Em 1º de novembro de 1988 o

senador Carlos Chiarelli (PFL-RS), relator da comissão parlamentar do

Senado que investiga casos de corrupção no governo federal, denuncia

29 pessoas, entre elas o presidente Sarney e alguns ministros de

Estado. São acusados de usar critérios escusos na liberação de recursos

públicos e de favorecer determinados grupos privados para a prestação

de serviços ao governo federal. O processo é arquivado por pressões do

PMDB e do PFL.

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Eleições de 1988 – As eleições para

prefeitos de 15 de novembro de 1988, as

primeiras depois do Regime Militar, consolidam o

novo quadro político do país. Dos partidos que

compõem o governo, o PMDB elege os prefeitos

de cinco capitais: Fortaleza, Goiânia, Salvador,

Teresina e Boa Vista. O PFL vence em Cuiabá,

Maceió, Recife e João Pessoa. O PTB, em

Belém, Campo Grande e Porto Velho. O PDS, em Florianópolis e Rio

Branco. A grande surpresa é o desempenho dos partidos de oposição: o

pequeno PSB, por exemplo, vence em Manaus e Aracaju. O PSDB, em

Belo Horizonte, e o PT conquista as prefeituras de Porto Alegre, Vitória e

São Paulo. Pela primeira vez na história da capital paulista, uma mulher,

Luiza Erundina de Souza, ocupa a prefeitura e passa a gerir um dos

maiores orçamentos do país.

Sucessão de Sarney – A primeira eleição direta para

presidente após 29 anos é também a mais concorrida da história da

República. Participam 24 candidatos. Os mais importantes são Ulysses

Guimarães (PMDB), Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL),

Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Roberto Freire (PCB),

Mário Covas (PSDB), Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula

da Silva (PT). As campanhas realizam grandes comícios, mas é o

horário político gratuito nas emissoras de rádio e TV e os debates entre

candidatos organizados por redes de televisão que cumprem o papel

mais importante de formar a opinião dos eleitores.

Dois turnos – No 1º turno das eleições, em 15 de novembro

de 1989, participam 82,074 milhões de eleitores, o equivalente a 88% do

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eleitorado. Passam para o 2º turno Fernando Collor, com 28,52% dos

votos, e Lula, com 16,08%. A candidatura Lula cresce rapidamente com

o poio de candidatos derrotados no 1º turno, como Mário Covas, Leonel

Brizola, Roberto Freire e Ulysses Guimarães. Duas semanas antes das

eleições, Collor divulga no horário eleitoral o depoimento de uma antiga

namorada de Lula: ela afirma ter uma filha dele e que, na época da

gravidez, teria sido pressionada para abortar. A revelação choca boa

parcela do eleitorado e desestabiliza Lula. No debate eleitoral que

precede as eleições, ele tem um mau desempenho. Collor vence o 2º

turno das eleições, em 17 de dezembro, com 35,08 milhões de votos

(42,75%) contra os 31,07 milhões (37,86%) obtidos por Lula. Há 14,4%

de abstenções, 1,2% de votos em branco e 3,7% de votos nulos.

Governo Collor

Com uma carreira política construída no Estado de Alagoas

durante os anos da ditadura militar, Fernando Collor de Mello é o

primeiro presidente eleito por voto direto desde 1960. Toma posse em 15

de março de 1990, para um mandato de cinco anos. Anuncia a chegada

da "modernidade" econômica: livre mercado, fim dos subsídios, redução

do papel do Estado e um amplo programa de privatização. Já em sua

posse, assina 20 medidas provisórias e três decretos relativos à

economia e à extinção de órgãos governamentais de cultura e educação.

Ato contínuo, decreta o Plano Collor de combate à inflação: extingue o

cruzado novo e reintroduz o cruzeiro, confisca o saldo das cadernetas de

poupança, contas correntes e demais investimentos acima de 50 mil

cruzeiros.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

O governo Collor é abalado por uma sucessão de escândalos.

Um esquema de corrupção envolvendo o próprio presidente provoca a

abertura do processo de impeachment. O presidente é afastado

provisoriamente em 29 de setembro de 1992 e em caráter definitivo em

29 de dezembro do mesmo ano.

Fernando Affonso Collor de

Mello, quarto filho do casal Arnon e

Leda Collor de Mello, nasce no Rio de

Janeiro. Seu pai governa o Estado de

Alagoas de 1951 a 1956 e seu avô

materno, Lindolfo Collor, é um dos

articuladores da Revolução de 30. Aos

17 anos vai morar em Brasília, onde

cursa economia. Em 1973, muda-se

para Maceió, para assumir a direção da Gazeta de Alagoas, a convite do

pai, dono do jornal. Casa-se pela primeira vez em 1975 com a socialite

carioca Lilibeth Monteiro de Carvalho, mãe de seus dois filhos. Separa-

se em 1981 para casar, três anos mais tarde, com a alagoana Rosane

Malta. Por indicação de seu pai é nomeado prefeito de Maceió em 1979.

Alcança uma cadeira de deputado federal pelo PDS, em 1982. Elege-se

governador de Alagoas em 1986, pelo PMDB. Fica conhecido em todo o

país pela caça aos marajás e pelas críticas ao presidente José Sarney.

Cria um partido, o PRN, e vence as eleições presidenciais de 1989. É o

mais jovem presidente do Brasil e o primeiro eleito por voto direto desde

1960. Escândalos e corrupção marcam seu governo e provocam a

abertura do processo de impeachment. Collor é afastado em setembro

de 1992.

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

Marketing presidencial – No governo, Collor mantém o

mesmo estilo agressivo da campanha eleitoral. Usa os meios de

comunicação para passar uma imagem de vigor, juventude e ousadia.

Anda de jet-ski, de submarino, pilota um avião supersônico da

Aeronáutica e inspeciona tropas do Exército com roupas de camuflagem.

Aos domingos, faz cooper com camisetas em que exibe mensagens

como "Não às drogas!" ou "O tempo é o senhor da razão".

Denúncias de corrupção – No dia

19 de outubro de 1991 o presidente da

Petrobrás, Luís Otávio Motta Veiga, pede

demissão por ter sido pressionado a fazer uma

operação danosa à empresa no valor de US$

60 milhões. Acusa o empresário Paulo César

Farias, o PC, amigo íntimo do presidente e ex-

tesoureiro de sua campanha presidencial. A

partir daí, outras denúncias vêm à tona. No dia

10 de maio de 1992 a revista Veja publica trechos de um dossiê

elaborado por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, sobre o

chamado "esquema PC" de corrupção. Pedro Collor afirma que PC é um

testa-de-ferro e que o beneficiário da corrupção é o próprio presidente. A

Receita Federal investiga os rendimentos de Paulo César Farias e

conclui que as declarações de renda do empresário são incompatíveis

com seu padrão de vida. No segundo semestre, a primeira-dama Rosane

Collor também é acusada de desviar dinheiro da Legião Brasileira de

Assistência (LBA) para contas e entidades fantasmas ligadas a seus

amigos e familiares.

CPI do PC – A Câmara instaura uma Comissão parlamentar

de Inquérito para investigar as denúncias contra PC Farias em 26 de

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

maio de 1992. Parte do esquema PC é desvendado. Ele recebe dinheiro

de empresários em troca de favores junto à máquina administrativa. O

dinheiro é convertido em dólares e enviado a empresas fictícias em

paraísos fiscais. Parte desse dinheiro volta ao país por meio de legiões

de contas fantasmas, abertas em diferentes bancos com nomes fictícios.

Dessas contas são retiradas somas vultosas para pagamentos

irregulares a parlamentares, assessores do presidente e à própria família

Collor. A ligação do esquema PC com a Presidência é confirmada por

Francisco Eriberto Freire França, ex-motorista de Collor, em denúncias

publicada na revista IstoÉ em 28 de junho: empresas de PC fazem

depósitos regulares na conta de Ana Acioli, secretária particular do

presidente. A CPI apura que a própria secretária paga despesas de

Collor e da primeira-dama usando cheques com dois nomes diferentes.

Volume de dinheiro – A CPI conclui que, em dois anos e

meio de governo, o ex-presidente tenha recebido pelo menos US$ 10,6

milhões só para o custeio de despesas pessoais. Nesse período, o

esquema PC teria movimentado recursos na ordem de US$ 260 milhões.

O relator da CPI, deputado Amir Lando, estima que os valores apurados

representam apenas cerca de 30% do dinheiro realmente manipulado

por Paulo César Farias.

Empresas envolvidas – As investigações da CPI apontam

várias empresas como mantenedoras e beneficiárias do esquema PC: o

Grupo Votorantim, as construtoras Norberto Odebrecht e Andrade

Gutierrez, Viação Itapemirim, Mercedes-Benz, Vasp, Sharp, Copersucar

e o laboratório Laborcel.

Prisão de PC – PC Farias passa a responder a 16 inquéritos

na Polícia Federal. É acusado dos crimes de corrupção passiva,

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O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA JOSÉ AUGUSTO FIORIN

formação de quadrilha, falsidade ideológica, coação de testemunhas,

supressão de documentos e exploração de prestígio, entre outros.

Depois de permanecer 152 dias foragido, PC é localizado e preso na

Tailândia em 29 de novembro de 1993. Trazido ao Brasil, é preso no

quartel do Batalhão da Polícia de Choque do Distrito Federal, onde

aguarda julgamento.

Campanha pelo impeachment – Na medida em que avançam

as investigações sobre a corrupção no governo Collor crescem também

as manifestações públicas de massa pelo impeachment do presidente.

Surge o Movimento pela Ética na Política, reunindo partidos políticos e

várias entidades da sociedade civil, como a Associação Brasileira de

Imprensa (ABI), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Central

Única dos Trabalhadores (CUT). Em 13 de setembro, minimizando a

indignação popular, Collor convoca a população a apoiá-lo saindo às

ruas no dia 16, domingo, vestida de verde e amarelo. No dia esperado,

milhões de pessoas em todo o Brasil saem às ruas vestidas de preto,

num protesto espontâneo contra Collor e a corrupção instalada no

governo.

Caras-pintadas – As mobilizações pela "ética na política"

trazem de volta à cena o movimento estudantil, até então em refluxo. A

União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos

Estudantes Secundaristas (Ubes) organizam animadas passeatas. Os

manifestantes pintam o rosto com as cores do país e passam a ser

chamados de caras-pintadas. Adotam como hino de "guerra" a música

Alegria, alegria, de Caetano Veloso. Um dos hinos do tropicalismo no

final dos anos 60, a música volta a fazer sucesso ao ser usada como

tema da minissérie Anos rebeldes, da Rede Globo, sobre a juventude

nos anos negros da ditadura.

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Impeachment – O processo de impeachment do presidente é

aberto na Câmara, em 29 de setembro de 1992, com a aprovação de

441 votos, 38 contrários, uma abstenção e 23 ausências. Collor é

afastado da Presidência. Instalado na Casa da Dinda, com assessores

jurídicos, seguranças, porta-voz e secretário particular, manobra para

voltar ao cargo ou, pelo menos, para não ser julgado também pela

Justiça comum. Em 29 de dezembro de 1992, certo de sua derrota no

Senado, renuncia. Mesmo assim, é julgado por crime de

responsabilidade e condenado por 76 votos a 3 e perde seus direitos

políticos por oito anos. O procurador-geral da República, Aristides

Junqueira, denuncia o ex-presidente por formação de quadrilha e

corrupção. Fernando Colloré indiciado apenas por corrupção passiva.

Governo Itamar Franco

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Em 29 de dezembro de 1992 Itamar

Cautiero Franco assume a Presidência em caráter

efetivo. Projeta uma imagem oposta à do presidente

afastado: simplicidade, tranqüilidade e equilíbrio.

Logo, porém, revela-se hesitante, dado à atitudes

explosivas e populistas. Seu governo é marcado por

freqüentes trocas de ministros. Em menos de um

ano, quatros ministros revezam-se no estratégico

Ministério da Fazenda: Gustavo Krause, Paulo Roberto Haddad, Eliseu

Resende e Fernando Henrique Cardoso. Este último assume o cargo em

20 de maio de 1993, com carta branca para conduzir a economia do

país. A inflação mantém uma tendência crescente. No final de 1993 o

índice acumulado é de 2.708,55%. Em dezembro Fernando Henrique

Cardoso anuncia seu plano de estabilização da economia, o Plano Real.

Durante o governo Itamar também crescem as denúncias e

investigações sobre casos de corrupção no país.

Itamar Augusto Cautiero Franco, nasce a bordo de um navio

que ia de Salvador ao Rio de Janeiro. Órfão de pai, morto de malária

antes do filho nascer, passa uma infância pobre em Juiz de Fora, Minas

Gerais, ajudando a mãe na entrega de marmitas. Aos 24 anos forma-se

em engenharia civil e eletrotécnica pela Escola de Engenharia de Juiz de

Fora. Em 1958 é candidato derrotado a vereador de Juiz de Fora pelo

PTB. Em 1966 é eleito prefeito pelo MDB, e reeleito em 1972. Dois anos

depois é eleito senador e consegue reeleição em 1982. Candidata-se ao

governo de Minas Gerais em 1986, mas acaba perdendo. É eleito vice-

presidente em 1989, na chapa de Fernando Collor. Presidente interino

desde 2/10/92, efetiva-se no cargo com a renúncia de Collor, em

29/12/92. Sua principal realização é dar início ao processo de

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estabilização da economia. Tem 55 ministros, seis só da Fazenda. É um

dos poucos presidentes, a partir de 1930, a fazer seu sucessor.

Plebiscito – O plebiscito sobre forma (monarquia ou república)

e regime de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) previsto

pela Constituição de 1988 é realizado no 21 de abril de abril de 1993. A

monarquia é defendida por alguns parlamentares de diferentes partidos

e, principalmente, pelos membros da antiga família real brasileira. Os

principais partidos políticos brasileiros defendem a manutenção da

república. Em fevereiro deste ano, o PMDB, PFL e PDT lançam a Frente

Republicana Presidencialista, que defende a manutenção do

presidencialismo. O PT também apóia o presidencialismo, mas a

questão divide seus militantes do partido. O PSDB é o único entre os

grandes partidos do país a apoiar em bloco o sistema parlamentarista.

Vão às urnas 67,01 milhões de eleitores, 66,06% votam pela

manutenção da república e 10,21% pelo retorno da monarquia. O

presidencialismo é referendado por 55,45% dos eleitores e 24,65%

optam pelo parlamentarismo.

CPI do Orçamento – Em 20 de outubro de 1993 o ex-diretor

do Departamento de Orçamento da União, José Carlos Alves dos

Santos, denuncia o esquema de corrupçãoexistente na Comissão de

Orçamento do Congresso. Acusa 23 parlamentares, seis ministros e ex-

ministros e três governadores de Estado de tráfico de influências na

distribuição das dotações orçamentárias. Também confessa ter recebido

US$ 3 milhões do deputado João Alves (PPR-BA), ex-presidente da

Comissão de Orçamento. O deputado é acusado de comandar um

esquema de corrupção montado em torno da distribuição das verbas

destinadas a subvenções sociais. Também teria intermediado emendas

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no orçamento para beneficiar algumas das grandes empreiteiras do país.

Os deputados que participam desse esquema são chamados pela

imprensa de "os anões do orçamento" devido a sua pequena estatura e

imensa ganância..

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