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Poetas A N

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Page 2: Poetas  A N

Vinícius de Moraes

Vicente de Carvalho

Fernando Pessoa

Olavo Bilac

Carlos Drummond de Andrade

Raul de Leoni

Fagundes Varela

Augusto dos Anjos

Álvares de Azevedo

José Antonio Jacob

Francisco Otaviano

Mário Quintana

Manuel Bandeira

Guilherme de Almeida

Mário de Andrade

Castro Alves

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SAIR

“...Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida.

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:-Foi poeta – sonhou – e amou na vida.”

Álvares de Azevedo

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Florbela Espanca

Alceu Wamosy

MES TRES DA POES IA

Page 3: Poetas  A N

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SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure

SONETO DE DESPEDIDA

Uma lua no céu apareceuCheia e branca; foi quando, emocionada

A mulher a meu lado estremeceuE se entregou sem que eu dissesse nada.

Larguei-as pela jovem madrugadaAmbas cheias e brancas e sem véuPerdida uma, a outra abandonadaUma nua na terra, outra no céu.

Mas não partira delas; a mais loucaApaixonou-me o pensamento; dei-o

Feliz – eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado em meu enleioUm sorriso de carne em sua boca

Uma gota de leite no seu seio.

Page 4: Poetas  A N

Vicente de Carvalho

Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda

O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos.

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VELHO TEMA

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SÚBITA MÃO DE ALGUM FANTASMA OCULTO

Súbita mão de algum fantasma ocultoEntre as dobras da noite e do meu sonoSacode-me e eu acordo, e no abandonoDa noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepultoTrago no coração, como de um tronoDesce e se afirma meu senhor e dono

Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repentePresa por uma corda de InconscienteA qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombraDe um vulto que não vejo e que me assombra,

E em nada existo como a treva fria.

Fernando Pessoa

Clique na página para ler maisFernando Pessoa

Page 6: Poetas  A N

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Fernando PessoaPASSOS DA CRUZ

XINão sou eu quem descrevo. Eu sou a tela

E oculta mão colora alguém em mim.Pus a alma no nexo de perdê-la

E o meu princípio floresceu sem Fim.

Que importa o tédio que dentro em mim gela,E o leve Outono, e as galas, e o marfim,

E a congruência da alma que se velaComo os sonhados pálios de cetim?

Disperso... E a hora como um leque fecha-se...Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...

O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se...

E, abrindo as asas sobre Renovar,A erma sombra do vôo começadoPestaneja no campo abandonado...

Page 7: Poetas  A N

VELHAS ÁRVORES

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Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo! Envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem;

Na glória da alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo BilacMALDIÇÃO

Se por vinte anos, nesta furna escura,Deixei dormir a minha maldição,

Hoje, velha e cansada da amargura,Minha alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,Sobre a tua cabeça ferverão

Vinte anos de silêncio e de tortura,Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!Pelo mal que fizeste sem querer!

Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!Pela tristeza do que eu tenho sido!

Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...

Page 8: Poetas  A N

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OFICINA IRRITADA Eu quero compor um soneto duro

como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro,

seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro, năo desperte em ninguém nenhum prazer.

E que, no seu maligno ar imaturo, ao mesmo tempo saiba ser, năo ser.

Esse meu verbo antipático e impuro há de pungir, há de fazer sofrer, tendăo de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro, căo mijando no caos, enquanto Arcturo,

claro enigma, se deixa surpreender.

RETORNO

Meu ser em mim palpita como fora do chumbo da atmosfera constritora.

Meu ser palpita em mim tal qual se fora a mesma hora de abril, tornada agora.

Que face antiga já se năo descora lendo a efígie do corvo na da aurora?

Que aura mansa e feliz dança e redoura meu existir, de morte imorredoura?

Sou eu nos meus vinte anos de lavoura de sucos agressivos, que elabora

uma alquimia severa, a cada hora.

Sou eu ardendo em mim, sou eu embora năo me conheça mais na minha flora que, fauna, me devora quanto é pura.

Carlos Drummond de Andrade

Page 9: Poetas  A N

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RAUL DE LEÔNIINGRATIDÃO

Nunca mais me esqueci! ... Eu era criançaE em meu velho quintal, ao sol-nascente,

Plantei, com a minha mão ingênua e mansa,Uma linda amendoeira adolescente.

Era a mais rútila e íntima esperança...Cresceu... cresceu... e aos poucos, suavemente,

Pendeu os ramos sobre um muro em frenteE foi frutificar na vizinhança...

Daí por diante, pela vida inteira,Todas as grandes árvores que em minhas

Terras, num sonho esplêndido semeio,

Como aquela magnífica amendoeira,E florescem nas chácaras vizinhasE vão dar frutos no pomar alheio...

HISTÓRIA ANTIGA

No meu grande otimismo de inocente,Eu nunca soube por que foi... um dia,

Ela me olhou indiferentemente,Perguntei-lhe por que era... Não sabia...

Desde então transformou-se de repenteA nossa intimidade correntia

Em saudações de simples cortesiaE a vida foi andando para a frente...

Nunca mais nos falamos... vai distante...Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante

Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,Mas que é tarde demais para dizê-la...

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SONETODesponta a estrela d’alva, a noite morre,

Pulam no mato alígeros cantores,E a doce brisa no arraial das flores,

Lânguidas queixas murmurando, corre.

Volúvel tribo a solidão percorreDas borboletas de brilhantes cores;Soluça o arroio; diz a rola amores

Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfumaÀs carícias d’aurora, ao céu risonho,Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh’alma triste e sem um sonhoRepete olhando o prado, o rio, a espuma:-Oh! Mundo encantador, tu és medonho!

VISÕES DA NOITEPassai tristes fantasmas! O que é feito

Das mulheres que amei, gentis e puras?Umas devoram negras amarguras,

Repousam outras em marmóreo leito!

Outras no encalço de fatal proveitoBuscam à noite as saturnais escuras,

Onde empenhando as murchas formosurasAo demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! Sem mais paixões!Mais uma fibra trêmula e sentida!Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,Minh’alma está deserta de emoções,

Passai, passai, não me poupeis a vida!

FAGUNDES VARELA

Page 11: Poetas  A N

VOLTAR AOS POETAS

Vês ! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera ! O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro

A mão que afaga é a mesma que apedreja

Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga

Escarra nessa boca que te beija

VERSOS ÍNTIMOS

VANDALISMO

Meu coração tem catedrais imensas,Templos de priscas e longínquas datas,Onde um nume de amor, em serenatas,

Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatasVertem lustrais irradiações intensasCintilações de lâmpadas suspensas

E as ametistas e os florões e as pratas.

Com os velhos Templários medievaisEntrei um dia nessas catedrais

E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,No desespero dos iconoclastas

Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

AUGUSTO DOS ANJOS

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PARA VOCÊ

Pálida, à luz da lâmpada sombria,Sobre um leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria,Pela maré das águas embalada...

Era um anjo entre nuvens de alvorada,Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...Negros olhos as pálpebras abrindo....

Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!Por ti as noites eu velei chorando,

Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!

“...Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida.

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:-Foi poeta – sonhou – e amou na vida.”

Álvares de Azevedo

Page 13: Poetas  A N

Eu era criança, mas já percebia, O pouco pão que havia em nossa mesa

E a aparência acanhada da pobrezaQue tinha a nossa casa tão vazia.

De noite, antes do sono, uma certeza:A minha mãe rezava a Ave-Maria!E ao terminar a prece eu sempre viaNo seu olhar uma esperança acesa.

Após a reza desligava a luz,Beijava o crucifixo, e a fé era tanta

Que adormecia perto de Jesus.

Depois que ela dormia (isso que encanta)Nosso Senhor descia ali da cruz

Para beijar a sua face santa.

VOLTAR AOS POETAS

José Antonio JacobO BEIJO DE JESUS

Estou sozinho em meu jardim sem cores,E ainda que eu tenha mágoas, bem guardadas,

Cuido dessas roseiras desmaiadasQue em meu canteiro nunca abriram flores.

Tais quais receosas almas delicadasElas se encolhem, sobre seus temores,E abortam seus rebentos nas ramadas

Enquanto vão morrendo em suas dores...

Quantas almas que por serem assim,Como essas tristes plantas no jardim,

Calam-se a olhar o nada... tão descrentes...

Feito as minhas roseiras dolorosasQue só olham para a vida, indiferentes,

E não me dão espinhos e nem rosas.

ROSEIRAS DOLOROSAS

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DUAS ALMAS

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:

Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra, ao menos até que as curvas do caminhoSe banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,

Podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás sozinha.Há de ficar comigo uma saudade tua...

Hás de levar contigo uma saudade minha...

Alceu Wamosy

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ILUSÕES DA VIDA

Quem passou pela vida em branca nuvem

E em plácido repouso adormeceu;

Quem não sentiu o frio da desgraça,

Quem passou pela vida e não sofreu:

Foi espectro de homem, não foi homem,

Só passou pela vida, não viveu.

VOLTAR AOS POETAS

Francisco Otaviano

Page 16: Poetas  A N

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Mário QuintanaA RUA DOS CATAVENTOS

VINa minha rua há um menininho doente.

Enquanto os outros partem para a escola,Junto à janela, sonhadoramente,Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,Que uma canção napolitana engrola.

E pouco a pouco, gradativamente,O sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:Não canta nada na manhã sonora

E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamenteE está compondo este soneto agora,

Pra alminha boa do menino doente...

XVI

Triste encanto das tardes borralheirasQue enchem de cinza o coração da gente!

A tarde lembra um passarinho doenteA pipilar os pingos das goteiras...

A tarde pobre fica, horas inteiras,A espiar pelas vidraças, tristemente,

O crepitar das brasas na lareira...Meu Deus... o frio que a pobrezinha sente!

Por que é que esses Arcanjos neurastênicosSó usam névoa em seus efeitos cênicos?

Nenhum azul para te distraíres...

Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,Eu pintava trezentos arco-íris

Nesse tristonho céu que nos encobre!...

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O que eu adoro em tiNão é tua belezaA beleza é em nós que existeA beleza é um conceitoE a beleza é tristeNão é triste em siMas pelo que há nelaDe fragilidade e incerteza

O que eu adoro em tiNão é a tua inteligênciaMas é o espírito sutil Tão ágil e tão luminosoAve solta no céu matinal da montanhaNem é tua ciênciaDo coração dos homens e das coisasO que eu adoro em tiNão é a tua graça musicalSucessiva e renovada a cada momentoGraça aérea como teu próprio momentoGraça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em tiNão é a mãe que já perdiE nem meu paiO que eu adoro em tua natureza Não é o profundo instinto matinalEm teu flanco aberto como uma feridaNem a tua pureza. Nem a tua impurezaO que adoro em ti lastima-me e consola-meO que eu adoro em ti é A VIDA !!!

MADRIGAL MELANCÓLICA

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POEMA DE FINADOS

Amanhã que é dia dos mortosVai ao cemitério. Vai

E procura entre as sepulturasA sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas.Ajoelha e reza uma oração.

Não pelo pai, mas pelo filho:O filho tem mais precisão.O que resta de mim na vidaÉ a amargura do que sofri.

Pois nada quero, nada espero.E em verdade estou morto ali.

Manuel Bandeira

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Guilherme de Almeida

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FELICIDADE

Ela veio bater à minha porta E falou-me a sorrir, subindo a escada: “Bom dia, árvore velha e desfolhada”

E eu respondi: “Bom dia, folha morta”

Entrou: e nunca mais me disse nada... Até que um dia (quando pouco importa!) houve canções na ramaria torta E houve bandos de noivos pela estrada...

Então chamou-me e disse:“Vou-me embora! Sou a felicidade! Vive agora

Da lembrança do muito que te fiz”

E foi assim que em plena primavera, Só quando ela partiu contou quem era...

E nunca mais eu me senti feliz!

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QUARENTA ANOS

A vida é para mim, está se vendo,uma felicidade sem repouso:

eu nem sei mais se gozo, pois que o gozosó pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas, sabendodisso, persisto em me enganar... Eu ouso

dizer que a vida foi o bem preciosoque eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo

seria, agora que a velhice avança,que me sinto completo e além da sorte,

me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,ó sono, vem!... Que eu quero amar a morteCom o mesmo engano com que amei a vida.

Mário de Andrade

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3a SOMBRA - ESTER

Vem! no teu peito cálido e brilhanteO nardo oriental melhor transpira!Enrola-te na longa cachemira,Como as judias moles do Levante,

Alva a clâmide aos ventos - roçagante... Túmido o lábio, onde o saltério gira...Ó musa de Israel! pega da lira...Canta os martírios de teu povo errante!

Mas năo... brisa da pátria além revoa,E ao delamber-lhe o braço de alabastro,Falou-lhe de partir... e parte... e voa. . .

Qual nas algas marinhas desce um astro...Linda Ester! teu perfil se esvai... s'escoa...Só me resta um perfume... um canto... um rastro...

Castro Alves8a SOMBRA - ÚLTIMO FANTASMA

Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso, Que te elevas da noite na orvalhada? Tens a face nas sombras mergulhada... Sobre as névoas te libras vaporoso ...

Baixas do céu num vôo harmonioso!...Quem és tu, bela e branca desposada?Da laranjeira em flor a flor nevadaCerca-te a fronte, ó ser misterioso! ...

Onde nos vimos nós? És doutra esfera ?És o ser que eu busquei do sul ao norte. . . Por quem meu peito em sonhos desespera?

Quem és tu? Quem és tu? - És minha sorte! És talvez o ideal que est'alma espera! És a glória talvez! Talvez a morte!

Page 21: Poetas  A N

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EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do sonho, e desta sorteSou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que alguém sonhou.Alguém que veio ao mundo pra me ver

E que nunca na vida me encontrou!

VOZ QUE SE CALA

Amo as pedras, os astros e o luarQue beija as ervas do atalho escuro,Amo as águas de anil e o doce olhar

Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera, que entende a voz do muroE dos sapos, o brando tilintar

De cristais que se afagam devagar,E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calamDe corações que sentem e não falam,Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!Soluço imenso, eterno, que é a voz

Do nosso grande e mísero Destino!...

Florbela Espanca