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A República Velha DEODORO DA FONSECA (1889-1891) O primeiro presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca (Alagoas 5/8/1827 – Rio de Janeiro, 23/8/1892), não foi o governante dos melhores sonhos republicanos. Velho, doente e autoritário, formou um ministério que, composto de estrelas como Rui Barbosa, Campos Sales, Quintino Bocaiúva e Benjamim Constant, não se entendeu entre si e muito menos com o chefe do governo. Quando surge o JORNAL DO BRASIL, em abril de 1891, o primeiro governo republicano já vivia crise sobre crise, num processo que o levaria a fim abrupto, ainda naquele ano. A primeira Carta do Brasil republicano foi promulgada a 14 de fevereiro de 1891. No dia 25, Deodoro, até então chefe de um governo provisório, foi eleito presidente constitucional pelo Congresso. Preferiu, no entanto, governar sozinho: a 3 de novembro fechou o Congresso e virou ditador, decretando o estado de sítio e a censura à imprensa. Já perdera, no entanto, sustentação política. A situação econômica do país era ruim: uma desenfreada especulação na bolsa arruinava os produtores. Era o encilhamento. Movimentos grevistas e a ameaça de uma revolta na Armada (Marinha), capitaneada pelo almirante Custódio de Melo, levaram à renúncia do marechal, no dia 23 de novembro de 1891. Historiadores sustentam, ainda hoje, que o marechal Deodoro teria dito “Viva o Imperador” e não “Viva a República” ao sacudir o quepe, em cima de seu cavalo, no histórico 15 de novembro de 1889. Sua intenção seria apenas derrubar o gabinete do Visconde de Ouro Preto, mas, estimulado por republicanos militantes, como Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva, foi adiante e acabou derrubando toda a monarquia. De qualquer forma, Deodoro havia sido um servidor fiel do imperador, a quem pessoalmente respeitava. Transformado, querendo ou não, no primeiro presidente republicano, assumiu uma postura imperial, como é fácil perceber-se pela leitura do manifesto que lançou à nação, ao dissolver o Congresso, no dia 3 de novembro de 1891.

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A República Velha

DEODORO DA FONSECA (1889-1891)

O primeiro presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca (Alagoas 5/8/1827 – Rio de Janeiro, 23/8/1892), não foi o governante dos melhores sonhos republicanos. Velho, doente e autoritário, formou um ministério que, composto de estrelas como Rui Barbosa, Campos Sales, Quintino Bocaiúva e Benjamim Constant, não se entendeu entre si e muito menos com o chefe do governo. Quando surge o JORNAL DO BRASIL, em abril de 1891, o primeiro governo republicano já

vivia crise sobre crise, num processo que o levaria a fim abrupto, ainda naquele ano. A primeira Carta do Brasil republicano foi promulgada a 14 de fevereiro de 1891. No dia 25, Deodoro, até então chefe de um governo provisório, foi eleito presidente constitucional pelo Congresso. Preferiu, no entanto, governar sozinho: a 3 de novembro fechou o Congresso e virou ditador, decretando o estado de sítio e a censura à imprensa. Já perdera, no entanto, sustentação política. A situação econômica do país era ruim: uma desenfreada especulação na bolsa arruinava os produtores. Era o encilhamento. Movimentos grevistas e a ameaça de uma revolta na Armada (Marinha), capitaneada pelo almirante Custódio de Melo, levaram à renúncia do marechal, no dia 23 de novembro de 1891.

Historiadores sustentam, ainda hoje, que o marechal Deodoro teria dito “Viva o Imperador” e não “Viva a República” ao sacudir o quepe, em cima de seu cavalo, no histórico 15 de novembro de 1889. Sua intenção seria apenas derrubar o gabinete do Visconde de Ouro Preto, mas, estimulado por republicanos militantes, como Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva, foi adiante e acabou derrubando toda a monarquia. De qualquer forma, Deodoro havia sido um servidor fiel do imperador, a quem pessoalmente respeitava. Transformado, querendo ou não, no primeiro presidente republicano, assumiu uma postura imperial, como é fácil perceber-se pela leitura do manifesto que lançou à nação, ao dissolver o Congresso, no dia 3 de novembro de 1891.

Ante o ultimato do almirante Custódio de Melo, que tomou um navio e ameaçou atirar contra a cidade, o marechal Deodoro renunciou. O JORNAL DO BRASIL saudou o fim da ditadura que causava, nas palavras do redator, um “desgosto profundo” no país. Deodoro morreu no dia 23 de agosto de 1892. Dispensou honras militares e quis ser enterrado em trajes civis.

FLORIANO PEIXOTO (1891-1894)

De acordo com o artigo 42, seção II, capítulo 1º da constituição e 1891, o marechal Floriano Vieira Peixoto (Vila de Ipioca – AL, 30/4/139 – Barra Mansa – RJ, 29/6/1895) deveria exercer apenas um mandato-tampão, até a eleição de um sucessor de Deodoro. Floriano deu, no entanto, uma interpretação muito pessoal a esse dispositivo constitucional - só valeria, segundo ele, quando o presidente viesse a ser eleito por eleições diretas, o que não foi o caso de Deodoro – e foi

até o fim do mandato. Seu governo foi um dos mais contestados de toda a República. Foram, na verdade, três anos de guerra e ditadura militar. No Rio Grande do Sul, estourou a Revolução Federalista, que ensanguentou o estado e só terminou de fato sob

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Prudente de Morais. Na Capital Federal eclodiu a Revolta Armada. Com seu estilo frio e resoluto, Floriano resistiu e conseguiu sufocar todos os movimentos rebeldes, o que lhe valeu o epíteto de Marechal de Ferro. Por ordem de Floriano, o JORNAL DO BRASIL foi fechado, no dia 1º de outubro de 1893, deixando de circular durante 1 ano e 45 dias. Foi a reação do marechal ao fato de o jornal ter publicado, na sua primeira página, o habeas-corpus assinado por Rui Barbosa em defesa do almirante Wandenkolk, desafeto de Floriano, que estava preso junto com outros oficiais.

Logo que o vice-presidente, Floriano Peixoto, assumiu o poder, havia a esperança de que convocasse eleições, como manda a Constituição, para, na expressão do redator do JORNAL DO BRASIL, “reatar o fio da legalidade” rompido quando Deodoro dissolveu o Congresso. Mas Floriano não se contentou com a interinidade, e resolveu continuar, ao arrepio da lei, na chefia do governo. O próprio ministro da Marinha, Custódio de Melo, resolveu dar um golpe e assumir o governo, mas não teve êxito. O JORNAL DO BRASIL, que não apoiava o governo de Marechal de Ferro, publicou o manifesto do almirante rebelado, que, vencido, acabaria se retirando para o Sul, a fim de juntar-se às forças federalistas.

Floriano usou e abusou do estado de sítio, em função de movimentos antigovernistas que partiam de todos os lados. A Marinha, reduto de oficiais monarquistas, nunca desfrutou da sua confiança. No episódio da Revolta Armada, a população carioca acompanhou com suspense o desenrolar das negociações. O marechal Floriano cercou a orla da Baia de Guanabara com canhões e não deu trégua aos revoltosos. Firme e decidido, diz o folclore que quando lhe perguntaram como receberia uma esquadra inglesa, cujo comandante poderia intermediar o impasse, teria respondido: “A bala”. Muita gente foi presa durante seu governo, incluindo jornalistas, políticos e militares. Acusado de conspirar, o almirante Eduardo Wandenkolk, que fora ministro de Deodoro, foi posto na cadeia. A publicação, pelo JORNAL DO BRASIL, de habeas-corpus redigido por Rui Barbosa em favor de Wandenkolk, determinou o fechamento do jornal, cuja sede foi atacada na época, por antimonarquistas.

PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898)

Prudente José de Morais e Barros (Itu – SP, 4/10/1841 – Piracicaba – SP, 3/12/1902) foi o primeiro presidente civil da República. Seu prestígio, no começo, pode ser aferido pela maneira como chegou ao Rio, de trem, na qualidade de presidente eleito. Ninguém o esperava na estação. Hospedado no Hotel dos Estrangeiros, na Praça José de Alencar, tentou em vão uma audiência com o presidente Floriano Peixoto. No dia da posse, teve pegar carona na carruagem do embaixador da Inglaterra. Os movimentos nos quartéis da Capital Federal prenunciavam um golpe militar, para repor Floriano, que

acabou não acontecendo. Prudente, no governo, agiu como um pacificador: anistiou os revoltosos da Armada que ainda estavam presos e manteve boas relações com os militares. Não deixou, no entanto, de mostrar firmeza. Demitiu seu ministro de guerra, general Francisco de Paulo Argolo, e expulsou do Exército os líderes de um levante ocorrido na Escola Militar. Com a saúde debilitada, teve de afastar-se por quatro meses do governo, entregando o poder a um inimigo político, seu vice Manuel Vitorino, que pretendia derrubá-lo. Foi no governo de Prudente de Morais que extinguiu-se a Revolução Federalista. No mesmo período presidencial, em 1897, forças do Exército

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arrasaram, a ferro e fogo, com o Arraial de Canudos, pondo fim a uma guerra que fomentou a agitação nos meios militares.

“Canudos tomado! foi o grito entusiástico que ontem ecoou nesta capital e decerto em toda a República, ferida profundamente com a morte de um punhado de bravos que a defendiam, mas vingada hoje pela mais estrondosa das vitórias.” Foi assim que o JORNAL DO BRASIL saudou o final da campanha de Canudos, que matou milhares no Nordeste da Bahia. Canudos representou um grave fator de desequilíbrio para o primeiro governo civil da República. Muitos viam o movimento chefiado por Antônio Conselheiro como uma tentativa de restauração da monarquia, patrocinada inclusive por potências estrangeiras.

Houve muita agitação militar no governo de Prudente de Morais, que foi alvo de um atentado, no dia 5 de novembro de 1897, na estrada do antigo Arsenal de Guerra (hoje Museu Histórico Nacional), quando assistia ao regresso de uma tropa vinda de Canudos. Seu ministro da Guerra, marechal Carlos Bittencourt, é que acabou morrendo ao tentar conter o assassinato – um soldado chamado de Manuel Bispo de Mello. Pelo menos entre os civis, Prudente conquistou popularidade, a julgar pela reportagem (à direita desta página) publicada no JORNAL DO BRASIL quando deixou o governo.

CAMPOS SALES (1898-1902)

Manoel Ferraz de Campos Sales (Campinas – SP, 13/2/1841 – Santos – SP, 28/6/1913) assumiu a presidência de um país falido. Os gastos excessivos dos primeiros governos republicanos, em que tiveram expressivo peso: as despesas militares com a Revolta Armada, a Revolução Federalista e a campanha de Canudos, haviam esgotado o erário. A crise atingiu a todos. “A praça do Rio de Janeiro está em uma ansiedade excepcional; nem uma transação comercial se registrou ontem”, informou o comentarista econômico

no JORNAL DO BRASIL. Antes de tomar posse, Campos Sales teve o cuidado de viajar à Europa em busca de dinheiro. Sua política dos estados, no sentido do fortalecimento das oligarquias regionais, permitiu a aprovação, pelo Congresso, do seu projeto para sanear as finanças públicas. Foi apelidado na época de Campos Selos, tal a ênfase que colocou no setor administrativo. Campos Sales impôs ao país uma rígida política deflacionária, executada com zelo pelo seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho. O Tesouro, de fato, engordou. Em compensação, o povo empobreceu. Campos Sales recebeu vaias pelas ruas. O trem que o conduziu de volta a São Paulo foi apedrejado por populares.

Em entrevista – “breve interview” – a um repórter do JORNAL DO BRASIL, antes de embarcar para a Europa em busca de empréstimos, Campos Sales disse que não estava preocupado com a “questão política”. A situação econômica do país era muito ruim nessa época. Os chargistas pintam um presidente exultante ao terminar o mandato, em contraste com a fisionomia constrangida do sucessor, Rodrigues Alves, que chega ao Catete com uma bagagem de problemas. Foi em 1898 que o JORNAL DO BRASIL começou a publicar as charges. A partir daí, os presidentes tornaram-se alvo predileto dos caricaturistas.

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RODRIGUES ALVES (1902-1906)

Francisco de Paula Rodrigues Alves (Guaratinguetá – SP, 7/7/1848 – Rio de Janeiro, 16/1/1919) teve a segunda maior votação da República Velha, só perdendo para Washington Luís, em 1926. No início, houve restrições ao nome do antigo conselheiro do Império, por causa de seu passado monarquista. Homem de visão, Rodrigues Alves fez um governo de grandes reformas. Na sua gestão, José Maria da Silva Paranhos, o Barão Rio Branco fez sua estreia como ministro das Relações Exteriores. Ele permaneceria no cargo por mais três governos, e graças a seus sucessores em questões de

limites, se tornaria a figura mais popular e admirada da República Velha. Através do prefeito Pereira Passos, o presidente mudou a face da antiga Capital Federal. O sanitarista Oswaldo Cruz promoveu, no seu setor, verdadeira revolução. A vacinação obrigatória gerou não apenas sérias manifestações populares, mas também uma rebelião militar, com ramificações em outros estados. Rodrigues Alves, porém, conseguira conquistar prestígio junto aos militares, aos quais também prestigiou, e superou a crise. Um dos chefes da rebelião, general Silvestre Travassos, foi morto em conseqüência de um confronto com as forças legalistas, no Rio, e enterrado sem honras militares.

A campanha da vacinação obrigatória provocou sérios distúrbios na antiga Capital Federal. Populares incendiaram bondes, quebraram lampiões e promoveram tiroteios, deixando mortos e feridos. A revolta se expandiu também para os setores militares. Em charges e versos satíricos o JORNAL DO BRASIL, como muitos jornais da época, criticou os batalhões de mata-mosquito criado por Oswaldo Cruz, nomeado por Rodrigues Alves para promover o saneamento do Rio de Janeiro, na época uma cidade das mais insalubres.

Com Rodrigues Alves o Rio de Janeiro ganhou ares de moderna capital europeia. “O Rio civiliza-se”, era o slogan da moda. Boa parte do centro da cidade, que ainda conservava uma aparência herdada dos tempos colônias, cheia de pardieiros e becos mal cheirosos, foi posta abaixo, para dar lugar à Avenida Central, atual Rio Branco, com seus canteiros centrais e modernos edifícios. Ali instalou-se a antiga sede do JORNAL DO BRASIL. O jornal registrou, em março de 1904, a celebração da missa que marcou o início das obras da abertura da avenida, realizada ao lado dos escombros de velhas casas demolidas.

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AFONSO PENA (1906-1909)

Antigo conselheiro do Império, como seu antecessor, mas natural de Minas Gerais, Afonso Augusto Moreira Pena (Santa Bárbara-MG, 30/11/1847 – Rio de Janeiro, 14/6/1909) sacraliza com seu governo a política café-com-leite – ou seja, o poder revezado entre as oligarquias de São Paulo e Minas. Tanto ele como seu vice, Nilo Peçanha, foram eleitos através de um “convênio político”, expressão do redator do JORNAL DO BRASIL, que lamentou a falta de interesse do povo pelo pleito. Afonso Pena teve uma gestão atribulada pela crise da disputa sucessória. A rejeição total ao nome

que indicou para sucedê-lo, David Campista, seu ministro da Fazenda, desgastou-o. Uma discussão, na Câmara, sobre o direito de os militares participarem da vida política, abriu outra crise, ameaçando repetir, na República, a Questão Militar que abalou o Império. O marechal Hermes da Fonseca, ministro da Guerra de Afonso Pena, demite-se e se lança candidato à sucessão presidencial. O episódio criou duas facções nos meios políticos: os hermistas, que apoiavam o ex-ministro da Guerra, e os civilistas, que defendiam a candidatura de Rui Barbosa. Afonso Pena não conseguiu terminar o seu mandato: morreu a 14 de junho de 1909 – ao que se disse, muito em consequência das pressões políticas. A crítica aos processos eleitorais da República Velha esteve sempre presente nas páginas do JB. Associada ao nome do presidente, a expressão eleição a bico de pena – sinônimo de fraude na República Velha – deu ensejo ao cartunista para um inspirado trocadilho. Abatido pela morte recente de um filho e por uma crise ministerial insolúvel, Afonso Pena morreu antes de terminar o mandato. Diz a lenda que, ao demitir-se do cargo de ministro da Guerra, o marechal Hermes teria lançado a espada sobre a mesa de despachos, agravando ainda mais o delicado estado de saúde de Afonso Pena. De qualquer forma, o diagnóstico da época, para explicar a morte do presidente foi “traumatismo moral”. Suas últimas palavras, pelo menos conforme as registrou o repórter do JB, foram “Deus, pátria, liberdade e família”.

NILO PEÇANHA (1909-1910)

Como Afonso Pena, quando morreu, já cumprira mais da metade do mandato, seu vice-presidente assumiu o governo, nos termos da Constituição de 1891, sem necessidade de se convocarem novas eleições presidenciais. Nilo Procópio Peçanha (Campos, RJ-2/10/1867 – Rio de Janeiro, 31/3/1924), nome destacado da política fluminense na República Velha, foi presidente durante 17 meses. Morava em Niterói, e teve de atravessar a baia para tomar posse, no Palácio do Catete. Informou o JORNAL DO BRASIL, no dia 16 de junho de 1909: “É possível que de hoje em diante o Sr. vice-presidente da República comece a fazer a travessia de

Niterói para esta capital e vice-versa no iate Silva Jardim, sob o comando do Sr. capitão de corveta Barros Cobra.” Nilo Peçanha tentou, sob o lema Paz e amor, fazer um governo de conciliação. Tendo assumido a Presidência num clima de grande efervescência política, tentou costurar uma posição de equilíbrio, convidando o marechal Hermes da Fonseca, a quem discretamente apoiava, para reassumir a pasta da Guerra. A posição de aparente neutralidade do presidente em relação à campanha

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civilista acabou surtindo efeito indesejado: Nilo Peçanha passou a ser atacado pelos dois grupos rivais. Houve tumulto e derramamento de sangue durante comícios na Capital Federal.

Como seu antecessor, Nilo Peçanha deu ênfase à construção de ferrovias, mas investiu também nas questões sociais. No seu governo foi criado o Serviço de Proteção aos Índios, sob a direção do então tenente-coronel Cândido Rondon, cujo objetivo, segundo manchete do JORNAL DO BRASIL, seria o de promover a “catequese dos silvícolas”. O SPI pertencia, na época, ao Ministério da Agricultura, que mereceu atenção especial do presidente. Ao tomar posse, Rondon prometeu “estender aos nossos míseros irmãos das selvas os benefícios materiais e morais já garantidos a todos os brasileiros pelo regime republicano”. Nilo Peçanha criou também a Escola de Aprendizes Artífices, cada uma em um estado, e a Locação de Trabalhadores Nacionais. Durante o seu governo uma tragédia abalou o país: a morte do escritor Euclides da Cunha, no subúrbio carioca da Piedade, numa troca de tiros com o aspirante do Exército Dilermando de Assis.

HERMES DA FONSECA (1910-1914)

Depois do duelo político entre os civilistas, que se congregaram em torno de Rui Barbosa, e os hermistas, o marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (São Gabriel-RS, 12/5/1855 – Petrópolis-RJ, 9/9/1923) foi feito presidente. As eleições foram evidentemente fraudadas, como todas as que se realizaram na República Velha. Pela primeira vez, de todo modo, o Brasil vivera um verdadeiro clima de campanha eleitoral, com Rui Barbosa defendendo pelo país, à frente da sua histórica Campanha Civilista, a volta dos militares aos quartéis e o fortalecimento do poder civil. Depois da ida às urnas, uma multidão se reunia

diariamente em frente ao antigo prédio do JORNAL DO BRASIL, na Avenida Central, hoje Rio Branco, para acompanhar a apuração. Hermes da Fonseca assumiu a presidência a 15 de novembro de 1910. Sete dias depois, ecoava na Baia de Guanabara o primeiro tiro de canhão da Revolta Chibata. Comandados pelo marinheiro João Cândido e outras lideranças, as tripulações subalternas de quatro encouraçados se rebelaram, assumiram o comando dos navios e, sob ameaça de bombardear a capital, exigiram do governo o fim dos castigos corporais na Marinha. Embora os marinheiros revoltosos tenham sido anistiados, muitos foram depois fuzilados ou deportados para a Amazônia. A lua-de-mel com o marechal Hermes, cuja popularidade, logo após a eleição, fizera o JORNAL DO BRASIL publicar cupons que poderiam ser trocados por um retrato do presidente começou logo a ser abalada pela Revolta da Chibata, cujo início foi assim relatado pelo jornal: “Ecoou o primeiro tiro, arrancando a plácida Guanabara da sua doce quietude. – Que será?, foi a pergunta de algumas pessoas que se achavam na estação da Companhia Jardim Botânico. Pela Avenida Central, e pelas ruas que desembocam no Largo do Paço, o povo corria, ávido de saber do que se tratava.” Uma segunda fase da rebelião acabou num banho de sangue: foi quando as forças legais bombardearam a Ilha das Cobras, deixando um saldo de mais de 500 mortos.

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VENCESLAU BRÁS (1914-1918)

A ingente tarefa que a nação cometeu ao Sr. Dr. Venceslau Brás sequer uma soma enorme de energia, uma inquebrantável coragem cívica e um iniludível bom senso, disse o JORNAL DO BRASIL no dia da posse do sucessor do marechal Hermes. Hoje soa como profecia. O governo de Venceslau Brás Pereira Gomes (São Caetano da Vargem Grande, atual Brazópolis-MG, 26/2/1868 – Itajubá-MG, 15/5/1966) foi marcado, de fato, por acontecimentos dramáticos, como a eclosão da Primeira Guerra, da qual o Brasil participou, enviando tropas com destino à Europa, que no entanto

não chegaram a combater, e a epidemia da gripe espanhola, que fez milhares de vítimas pelo mundo. O início do governo Venceslau Brás foi sacudido pela Guerra do Contestado – uma disputa por questões de fronteira entre Paraná e Santa Catarina, agravada pela presença de um místico, Miguel Lucena de Boaventura, cognominado o monge, que, num arremedo de Canudos, congregou centenas de fanáticos à sua volta. Durante os cinco anos que durou a guerra, morreram 20 mil pessoas, entre partidários do monge e soldados enviados à região para reprimir o movimento. A querela só terminou quando representantes dos dois estados assinaram um pacto de limites no Palácio do Catete, perante o presidente, a 20 de outubro de 1916.

Depois do torpedeamento de navios brasileiros em mares internacionais, o Brasil declarou guerra ao Império Alemão. Em 1918, uma frota foi enviada à Europa, mas fez ponto final em Dacar, África, onde 156 tripulantes morreram em consequência da gripe espanhola.

Só no Rio de Janeiro, a gripe espanhola fez quase 6 mil mortos. Voluntários e presidiários faziam nos cemitérios cariocas as vezes dos coveiros, em números insuficiente – ou então, eles próprios, vítimas da epidemia – para enterrar tanta gente. Grandes valas foram abertas para receber os cadáveres. O JORNAL DO BRASIL promoveu campanha em prol das vítimas da epidemia, pedindo aos leitores “meios que o habilitem a enxugar muito pranto e mitigar muita dor de que são causa os dois sinistros flagelos da humanidade – a fome e a peste.”

DELFIM MOREIRA (1918-1919)

Rodrigues Alves, que já ocupara a chefia do governo no período 1902-1906, foi eleito outra vez presidente, em 1918, por meio de um pleito que, como era praxe na República Velha, não se caracterizou pela lisura. Um repórter do JORNAL DO BRASIL, num texto delicioso, denunciou até a compra de votos em seções eleitorais do Rio. De todo modo, aos 70 anos e combalido pela gripe espanhola, da qual convalescia, o velho ex-presidente nem chegou a tomar posse. Morreu no dia 16 de janeiro de 1919, protagonizando, na história brasileira, um drama que seria repetido, 67 anos depois, com Tancredo Neves. Seu substituto foi o vice-

presidente, Delfim Moreira da Costa Ribeiro (Cristina-MG, 7/11/1868 – Santa Rita do

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Sapucaí-MG, 1/7/1920). O curto governo de Delfim Moreira – oito meses de duração – ficou conhecido como regência republicana. Como ainda não se chegara à metade do quadriênio que caberia a Rodrigues Alves, convocaram-se novas eleições presidenciais. Delfim Moreira, na verdade, não estava em condições de governar. Embora contasse na época 50 anos, padecia de um tipo de arteriosclerose precoce que o levava a crises de ausência e a atitudes pouco sensatas. Durante o período da regência quem governou de fato foi o ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco.

Os movimentos grevistas – que tecelões, metalúrgicos e outras categorias já organizadas em entidades de classe – começavam a merecer manchete do JORNAL DO BRASIL. Os governadores da República Velha sempre preferiram resumir a questão social a um simples caso de polícia – conforme seria dito, com todas as letras, pelo presidente Washington Luís. Delfim Moreira falou de suas aflições, com relação às greves, na entrevistas que concedeu, no final do seu curto mandato, a um repórter do JORNAL DO BRASIL. “O Sr. deve estar lembrando”, disse ele, “que o início do meu governo foi áspero e terrível. Cheguei ao Catete debaixo de uma atmosfera pouco tranqüila e, dentro em breve, a polícia tinha de enfrentar um movimento subversivo da ordem pública.” Para ele também, como parece claro, tudo não passava de um caso de polícia.

EPITÁCIO PESSOA (1919-1922)

Epitácio da Silva Pessoa (Umbuzeiro-PB, 23/5/1865 – Petrópolis-RJ, 2/2/1942) disputou com um concorrente de peso, Rui Barbosa, as eleições presidenciais de 1918. Rui começou ganhando na Capital mas Epitácio tomou a frente no resto do país, vencendo o pleito por 294324 votos contra 118303. Num clima festivo, vindo de navio dos Estados Unidos, Epitácio chegou ao Rio, na condição de presidente eleito, no dia 20 de julho. Com o propósito assumido de afastar os militares da política, nomeou ministros civis para as pastas militares: José Pandiá Calógeras (Exército) e

Raul Soares de Moura (Marinha). A reação viria mais tarde, e de forma violenta. O estopim foi a divulgação de uma carta falsa, cuja autoria foi atribuída ao então presidente de Minas, Artur Bernardes, candidato à sucessão de Epitácio e por ele apoiado. A carta qualificava o marechal Hermes, grande liderança militar na época, de “sargentão sem compostura”. O desenvolvimento de uma conspiração militar, descoberta pelo governo, fez com que Epitácio mandasse fechar o Clube Militar e prender o marechal Hermes, Jovens oficiais solidários a Hermes confrontaram-se com as forças legalistas na Avenida Atlântica, em Copacabana, num episódio que ficou conhecido como Os 18 do forte – embora não passassem de 11. Os revoltosos que ocuparam o Forte de Copacabana atiraram contra a cidade, atingindo prédios próximos ao antigo Quartel General do Exército, no Centro do Rio, e fazendo vítimas. Sua intenção, cheia de simbolismo, era acertar exatamente a mesa na qual o ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, um civil, assinara o ato de prisão do marechal Hermes. As forças legais dominaram a rebelião, que também tinha focos na Vila Militar e na Escola Militar.

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ARTUR BERNARDES (1922-1926)

Ao desembarcar no Rio para assumir a Presidência, Artur da Silva Bernardes (Viçosa-MG, 8/8/1875 – Rio de Janeiro, 23/3/1955) foi vaiado e xingado ao longo do trajeto em direção ao Palácio do Catete. Tinha a antipatia do povo e, principalmente, do Exército. A primeira crise com que se defrontou foi a revolução de 1923, no Rio Grande do Sul. Borges de Medeiros conseguira se eleger pela quinta vez presidente do estado, por meio de eleições fraudadas. Políticos e caudilhos que apoiavam seu opositor, Assis Brasil, pegaram em armas, num violento conflito que só terminaria a partir das gestões pessoais

do ministro da Guerra, Setembrino de Carvalho, enviado por Bernardes para negociar uma solução para o conflito. Em São Paulo, a sublevação foi muito mais séria. Em 1924, com o apoio da população, militares rebeldes, antibernardistas, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, depuseram o governador, Carlos de Campos, e tomaram o poder estadual, provocando uma reação brutal do governo central. Durante quase um mês, forças legalistas bombardearam a cidade, com o uso de aviões, provocando morte e destruição. Os revoltosos, afinal, revolveram deixar São Paulo para evitar mais danos à população civil. Foi esse o ponto de partida da Coluna Prestes, que, durante três anos, percorreria o país de alto a baixo.

Uma das mais marcantes personalidades da vida política brasileira do começo do século, Rui Barbosa morreu no dia 1º de março de 1923, em pleno governo Artur Bernardes. Sua morte foi por si só um acontecimento político, e sua saída de cena motivo de homenagens a que só raramente o JORNAL DO BRASIL se permitiu. Rui integrou o primeiro governo do marechal Deodoro, como ministro da Fazenda, e mais tarde tentou três vezes, em vão, eleger-se presidente: tinha fama e prestígio, mas não era bom de voto. O JORNAL DO BRASIL tinha uma razão adicional para homenageá-lo: tratava-se de uma pessoa da casa, que, durante o turbulento período de Floriano Peixoto ocupou o cargo de redator-chefe do jornal. Escreveu um redator, na morte de Rui: “A nossa tenda de trabalho, que ele animou com os fulgores de sua grandeza mental e durante tempos aqueceu com as luminosidades de sua ação intensa, guarda a recordação dessas páginas fulgurantes da vida de imprensa, em que ninguém pôde reunir tantos e tão sublimados requisitos.”

WASHIONGTON LUÍS (1926-1930)

Washiongton Luís Pereira de Souza (Macaé-RJ, 26/10/1869 – São Paulo, 4/8/1957) foi o último presidente da República Velha. Ficou conhecido pelo lema “Governar é abrir estradas”. As dificuldades financeiras do país impediram-no de concretizá-la. A segunda metade do seu governo caracterizou-se por grande agitação, em função das eleições para a escolha de seu sucessor, marcada para marca de 1930. Getúlio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul, lançou-se à disputa representando a Aliança Liberal. O candidato governista, Júlio Prestes de Albuquerque, presidente do estado de São Paulo, venceu o pleito por 1 milhão

de votos contra pouco menos de 700 mil dados para Vargas. Os getulistas alegaram

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fraude e conspiraram. O movimento, aquecido pelo assassinato do presidente da Paraíba, João Pessoa, em Recife, explodiu no dia 3 de outubro, simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba e Pernambuco. O JORNAL DO BRASIL, que não apoiara Getúlio, defendeu, como em 1924, a legalidade. Vitoriosa a revolução, uma junta militar, integrada pelos generais Mena Barreto, Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha, depôs Washington Luís e assumiu o governo.

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RESUMO DAS FOLHAS

A República Oligárquica Prudente de Morais – (1894-1898)- Incentivos à industrialização- Canudos- Consolidação do poder civil

Campos Salles – (1898-1902)-Política dos governadores/Coronelismo-O Funding Loan

Rodrigues Alves – (1902-1906)-Remodelação do Rio de Janeiro (Pereira Passos)-A revolta da vacina-O convênio de Taubaté e a valorização do café-Compra do Acre

Afonso Pena – (1906-1909)-Plano nacional de valorização do café-Novos empréstimos à Inglaterra

Nilo Peçanha - (1909-1910)-Serviço de proteção ao índio (Marechal Rondon)-A campanha civilista – Rui Barbosa

Hermes da Fonseca - (1910-1914) > sobrinho de Deodoro-A política das salvações-Ceará>Padre Cícero-A revolta da chibata (navios ameaçam bombardiar a cidade)-O conflito do contestado (1912-1915)

Venceslau Brás – (1914-1918)- A primeira guerra mundial- Continua o contestado- Impulso a industrialização – o processo de substituição de importações- O operariado brasileiro – a greve de 1917

Delfim Moreira (1918-1919)- Rodrigues Alves foi eleito para um novo mandato, mas faleceu antes de tomar posse. Seu vice, Delfim Moreira governou até que novas eleições fossem realizadas-Nova derrota de Rui Barbosa

Os Anos 20 – As mudanças e a crise

Epitácio Pessoa – (1919-1922)-A semana de arte moderna

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Artur Bernardes – (1922-1926)-A guerra civil no RS – 1923-A fundação do PCB-O movimento tenentista-O levante do Forte de Copacabana – o movimento de 1924 – A coluna Prestes

Washington Luís – (1926-1930)-O crescimento da classe operária (“A questão operária é uma questão de polícia”)-A crise econômica (1929) > a crise geral do capitalismo e a grande depressão – a superprodução de café-A crise sucessória – a formação da Aliança Liberal- A revolução de 1930 e o fim da Primeira República

Dúvidas:Vai cair Encilhamento?

Política dos Governadores:

Folha: 19/6/20091. O bico de pena e a apuração foram medidas tomadas pelos coronéis, que, colocando seus cabos eleitorais próximos às urnas, direcionavam o voto dos eleitores.2. O coronel era o chefe político local, utilizava-se de estratégias paternalistas de controle social e era responsável pela manipulação do seu “curral eleitoral”, que deveria ser fiel aos candidatos oficiais nas eleições. 3. Embora na atualidade o Estado brasileiro não seja formalmente oligárquico, as práticas coronelistas das oligarquias continuam perceptíveis, principalmente nas regiões de menor desenvolvimento econômico do país. 4. A manipulação eleitoral exercida pelas oligarquias regionais da República Velha, assentada no controle dos eleitores através do chamado “voto de cabresto”. 5. O coronelismo vinculou-se à existência do latifúndio (grande fazendeiro), da troca de favores e do voto de cabresto.

Folha: 29/7/2009A Política dos Governadores, cujo instrumento principal é a Comissão de Verificação do Congresso, que passa a só reconhecer a eleição dos candidatos das oligarquias que estão no poder. Estas se comprometem a apoiar a política presidencial e, dependentes a votarem nos candidatos do governo. Minas (maior bancada no Congresso, maior eleitorado da República) e São Paulo, (poder econômico) detêm uma hegemonia sobre a política nacional. O Rio Grande do Sul, apesar de dividido entre dois partidos (Republicano e Federalista), também teve projeção nacional.

Coronel: chefe, cujo objetivo é o controle do voto dos agregados (“voto de cabresto”); ele garante para seus candidatos os votos daqueles que lhe devem favores.

Coronelismo: fenômeno político típico das áreas rurais brasileiras, construído a partir da importância dos latifundiários e baseado nas relações proprietários-agregados. Na estrutura de favores e de compadrio, os protegidos do coronel lhe devem fidelidade política, manifestada, principalmente, no momento das eleições.

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Campanha Civilista: -problemas na sucessão de Afonso Pena (1906-1910)

*ver caderno (folha mal explicada)

A política das salvações (salvacionismo):

-Intervenção federal nos governos estaduais, promovida pelo Presidente Hermes da Fonseca, para colocar um ponto final no domínio das oligarquias e para modernizar as eleições-Recebe o apoio dos militares desejosos de implantar a “verdadeira República” (o velho ideal já manifestado na proclamação da República, em 1889)-Na verdade foi uma simples substituição dos que controlavam o poder. Subiram ao poder, nos diversos estados, as oligarquias de oposição: os militares interventores se aliaram a elas.

O pacto de Ouro Fino (1913):

- A questão da sucessão: para evitar que Hermes elegesse o seu sucessor, o senador gaúcho Pinheiro Machado, paulistas e mineiros (PRP e PRM), que haviam confrontado na eleição presidencial anterior, pactuam um acordo, na cidade de Ouro Fino, em 1913.

- Por este acordo, as lideranças dos dois partidos se comprometiam a atuar em conjunto na escolha dos candidatos a presidência a partir de então, adotando um revezamento entre paulistas e mineiros. É uma visão equivocada a respeito deste pacto, visão esta que acredita que tenha se iniciado desde o início da República Oligárquica – que sustenta a versão de uma “Política do Café-com-leite” válida para todo o período.

- Já na eleição seguinte, apoiaram (e elegeram) o mineiro Venceslau Brás. Na eleição seguinte, elegeram o paulista Rodrigues Alves (que abotoou o terno antes de tomar posse).

Folha: 31/7/2009

Funding Loan:

A importância do café:

As crises do café:

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Política de Valorização do Café:

Crescimento industrial brasileiro:

ANOTAÇÕES NO CADERNO:

Rui Barbosa era republicano e associava modernização à indústria. Foi convidado para ser ministro da Fazenda e pensou em uma política para estimular a industrialização. Resultado: permitiu que os bancos privados fizessem moeda – isso tudo sem o controle do governo. A política acabou gerando especulações, empresas fantasmas e, claro, empresas de verdade = CRISE. Essa política ficou conhecida como Encilhamento. O custo de vida aumentou. A política emissionista (??) deu um pequeno impulso, mas as coisas ficaram pior.

Constituição de 1891:federalismo, descentralização, (completar)

A primeira eleição:

Deodoro/Wandenkolk (militares) versus Prudente/Floriano (oligarquias)

Cafeicultores tinham poder no Congresso. Militares chegaram ao poder porque foi um militar quem proclamou a República. Congresso era dominado por oligarquias. Tinha uma instabilidade política da época. Qualquer história que contavam, o pessoal acreditava. Espalharam o boato que caso Deodoro não fosse eleito no Congresso, os militares tomariam o poder na força. Então, Deodoro (militares) é eleito e Floriano (oligarquias) é eleito vice. Deodoro tenta fechar Congresso para aumentar a sua autonomia, porém os outros não cedem. Deodoro renuncia.

Conjuntura política:-instabilidade política = boatos quanto a uma possível reação dos monarquistas ou um golpe militar-tensão social: maior unidade entre as oligarquias em seu projeto político-divisão entre os militares: Armada (pouca atenção) versus Exército -“tarimbeiros” (campo de batalha) versus “científicos”(positivistas) Tarimbeiros apoiavam Deodoro. Científicos apoiavam Floriano. Deodoro foi formado em campo de batalha e Floriano também.

São Paulo e Minas tinham muita força política. Havia negociações para decidirem o político que concorreria. Afonso Pena morreu. O vice, Nilo Peçanha, tenta encontrar candidato para concorrer, já que o cargo dele era temporário. David Campistas era o escolhido para concorrer, mas não recebeu muito apoio. Do outro lado, Hermes da Fonseca que teve um ótimo desempenho em sua campanha. Gaúchos ganhariam a

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eleição. Nenhum candidato paulista importante, então surge a candidatura de Rui Barbosa. Rui Barbosa (civis) versus Hermes da Fonseca (militares). Campanha civilista: campanha de Rui Barbosa contra H. da Fonseca

Hermes da Fonseca é eleito. O governo de Hermes não foi bom. Ele casou com uma mulher da boemia. Ela levou a MPB para dentro dos salões. Isso foi um escândalo.

1889 – Proclamação da República1904 – Revolta da Vacina (acabar com a República prostituída)1910 – Hermes1910 – ameaça do navio (revolta da chibata)1912 – começa rebelião a ... (revolta do contestado)1920 – Tenentes

Muitos militares achavam que o governo Hermes seria um governo bom para eles. Naquela época, civis era sinônimo de corrupção.

Política salvações das salvacionismo:-tirar controle das oligarquias-tirar o governador

Naquela época, cada estado tinha um calendário de eleições próprio (datas de eleições diferentes). Quando Hermes tira uma oligarquia do poder e coloca outra oligarquia (oposição). ver folha 29;7

Reunião do PRP e PRM em Minas Gerais. Fizeram um acordo em 1913 para que os dois partidos formassem uma coligação para as eleições. Chamado Pacto de Ouro Fino.

Política do Café-com-leite: pacto do PRP com PRM. Leite seria o partido de Minas e café o partido paulista. Porém os dois estão mais ligados ao café. “Seria Política do Café-com-café” mas não foi desse modo que a política ficou conhecida.

Economia: - café – desenvolvimento industrial (a partir de 30)1GM: obriga a substituição das importações

Campos Salles foi um presidente impopular. Investia pouco e tinha condições desfavoráveis. Moratória: dívida muito grande, então há uma junção de todas.

Funding Loan: negociação com os bancos para adiar o pagamento (já que não sobrava dinheiro para investir no Brasil) e pagava os juros. Medida emergencial para o momento em que se vivia.

Reestruturação da economia: estabilizar economia

Café: principal produto de exportação não é alimento de primeira necessidade, então na 1GM a exportação para os EUA e outros reduz drasticamente. Crise por causa da superprodução

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-cacau, algodão (têxtil) e borracha (automobilística) (mas com uma importância bem menor do que a do café)

Brasil versus Bolívia: Brasil compra pedaço da Bolívia que hoje é o Acre. Ao comprar, o Brasil se comprometeu a fazer uma estrada de ferro para a Bolívia ter acesso ao mar – mas não cumpriu.

Contrabando das seringueiras (árvores das borrachas) e levavam para a Ásia. Menos rentável você lucrar com árvores que estão espalhadas em uma floresta (Manaus) e isso não acontecia na Ásia. Depois quando eles precisam, investem no Brasil.

Crises do café: -superproduçaõ. Após o plantio até a venda do café demora bastante tempo. E nesse tempo, há oscilações. Instituto do café: qualidade e outros critérios para controlar, planejar, ... Prudente, presidente da época, queria diminuir o número das perdas e acaba desvalorizando o cambio. BC compra dólares para controlar cotação do Real. Exportação paga preço das importações. + difícil de pagar dívida externa

Governadores de MG, SP e RJ assinam, em 1906, o convênio de Taubaté. Decidiram que os governos dos 3 estados iriam comprar o café excedente e estocar. Para regular oferta e procura. MG e RJ não toparam contrair dívidas externas para poder estocar. SP contrai a dívida com o apoio do Congresso – o Governo Federal garante os empréstimos no exterior. Acontecimento eventual. O caso é chamado de Política de valorização do café. Não deu certo quanto a superprodução, mas diminuiu os prejuízos dos cafeicultores. O lucro é privado e o prejuízo é distribuído = “socialização das perdas”.

Até 1822, o Brasil era colônia de Portugal. Então isso limitava o seu crescimento ainda mais porque nós tínhamos que importar de Portugal. Como Portugal não tinha histórico industrial, essa “herança” ficou faltando. Ideia que o Brasil é um país agro-exportador – focado exclusivamente na agricultura. Os latifundiários – cafeicultores – ficavam no poder e isso faria com que a indústria ficasse em segundo plano. Primeira República, a indústria se consolida.

Folha de exercícios: 1. capital (= bancos, cafeicultores e outros), infraestrutura e maior mercado interno 2. Imigração em massa (=aumenta o consumo e vinham homens que já conheciam a indústria) e os investimentos externos (imperalismo) 3. Têxtil (simples, pouca tecnologia, pouca especialização e BR era um grande produtor de algodão) e alimentar

O Estado não estava muito preocupado com a indústria, e sim com o café. Economia voltada para a guerra. Mercadorias que o Brasil importava, deixaram de ser produzidas pelos países estrangeiros. Brasil exporta e importa menos. Estimula a produção interna.

Campos Salles foi vaiado! Má reputação! (ver folha indústria 1 República)Insatisfações por causa das situações que as pessoas viviam = 5 rebeliões, movimentos sociais, ...

Rebeliões na primeira República

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Rurais: - Canudos (Bahia) – Contestado (Santa Catarina) – Cangaço (Interior do Nordeste)Características: - ambiente social (situação) – concentração fundiária – ausência do Estado – miséria, exploração, desamparoCanudos e contestado: religiosidade popular “catolicismo rústico”. A igreja católica estava incentivando a visão da bíblia de uma maneira literal, simples e fechada. A igreja queria mais poder e estava perdendo fiéis.

Urbanas: - Revolta da vacina – Revolta da chibata (RJ)

Milenarismo & Messianismo

“A Monarquia é de Deus. A República é invenção do diabo para acabar com Deus.”Profeta Samuel diz que Deus o enviou para eleger um rei. Saul é o rei. Rei coroado pela igreja. Monarquia foi criada por Deus. Na época, eles viam que na bíblia só tem rei então eles não simpatizavam com a ideia de um presidente.

Antonio Conselheiro:

Igreja está com medo. Conselheiro não entende como a igreja aceitou todas as mudanças de Monarquia para República. Então o Conselheiro rompe relações com a igreja e muitas pessoas começam a segui-lo.

Monarquia RepúblicaUltrapassada ModernoPassado FuturoFanatismo RazãoBarbárie CivilizadosSertão Litoral“A cada 200 anos pro interior, 100 anos pro passado.”

“Canudos tem que ser destruído” – igreja, políticos republicanos, coronéis

Coronéis: estão perdendo mão-de-obra, já que os trabalhadores estão fugindo para o anaial (econômico) político: perdem prestígio político, já que o número de votos diminui por causa do número menor de trabalhadores

Acabar com canudos para a situação voltar ao normal. Opinião pública dos fluminenses é radicalmente a favor do término de canudos. Governo prometeu casas aos soldados. Prudente de Morais é vítima de uma tentativa de homicídio. Ficou doente e o vice-presidente assumiu o governo. Depois Prudente volta ao trono.

Contestado (1912-1916)Paraná versus Santa Catarinabrigavam pela posse de terra. –desemprego –relações capitalistas (ferrovia que ligaria RS à SP. governo cede terra de um lado e de outro. empresa que vai construir é norte-americana)

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Nessa construção pessoas são contratadas para construir a ferrovia. Tal negócio não era visto na relação coronel-trabalhador. Trabalho livre e assalariado é uma novidade nas regiões rurais. Fanatismo religioso. Ambiente favorável para boatos que o mundo iria acabar – e a conformidade do povo.

Monge José Maria: soldado desempregado que começou a ter seguidores. Um coronel simpatiza com o seu discurso. Esse coronel permite que o monge acampe com os seus seguidores em suas terras. O tal coronel tem um coronel adversário, que percebe a aglomeração e desconfia de um possível ataque por parte do coronel e chama a “fiscalização”. O governo do Paraná vê que o povo de SC estava indo para as terras do Paraná. Há conflitos e o José Maria morre. Começa a perseguição. Menina de 13 anos começa a ter visões e dizer que o José Maria vai ressuscitar. Depois, mais 4 meninas se juntam com a estória. “A culpa é do Hermes que dá terra aos estrangeiros e não dá para nós, brasileiros” Povo a favor da reforma agrária.

Significado político de Canudos e Contestado: ambos representaram uma forma de escape da miséria/exploração. Uma contestação à ordem vigente. É um movimento contra a segregação social. No caso do contestado: surge uma manifestação concreta da consciência sobre a questão da concentração fundiária.

Cangaço: -exemplo de “banditismo social”: por sua origem (injustiça, perseguição, ...) o bandido é admirado pela comunidade. Não se posicionava necessariamente contra os dominantes nem tinha projetos de transformação social.

Getúlio Vargas vai combater os cangaceiros que estão associados à desordem. Cangaceiros roubaram alojamentos entre outros e era admirado por causa de sua origem. Contestação sem a consciência de uma união para a transformação: roubação.

Quem não tinha escravos jogava o lixo pela janela e aqueles que tinham faziam os escravos jogarem o lixo no oceano. – capital do Império – capital da RepúblicaRJ tinha muitas doenças: varíola, febre amarela, leptospirose e pasmem.Praia = lixão

1902- Rodrigues AlvesRJ é porta de entrada para o Brasil. = mudança. = reforma no centro do RJAlves nomeia Pereira Passos para prefeito. Oswaldo Cruz recebeu influências francesas para tomar a medida para melhorar a capital federal. (=largas avenidas, destruição de casebres, cortiços e bordéis) LIMPEZA GERAL-as pessoas começaram a subir as encostas e outras a ir para a periferia.-também quer mudar alguns costumes da população-“lixeirinha com cinzeiro em cima” era para cuspir naquela época. Tinha muita tuberculose. Série de leis querendo mudar os costumes. A mais conhecida era a “bota fora” que é voltada para reformas no centro fluminense.

Oswaldo Cruz (higienista e sanitarista)

A maioria das doenças envolvia ratos e mosquitos. O que fez com que o governo contratasse funcionários para visitar moradores e nessa visita, o funcionário recolhia material (entulho) da população e queimava. O governo também comprava ratos

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grandes. Fulano fez criação de ratos para faturar com o pagamento do governo. Depois, importaram ratos para vender. Mais tensão porque os funcionários invadiam as casas e recolhiam o que eles acreditavam que pudesse causar doenças. Começaram a fechar estabelecimentos freqüentados pelo povo mais humilde. Lei que obriga que as pessoas tomem vacina (que o governo não chegou a impor, mas foi um dos pensamentos) boatos sobre as vacinas. “tão querendo matar as pessoas”. Revolta da vacina foi a última gota.

Reforma urbana autoritária: descontentamento com a violência e com a segregação social-campanha higienista igualmente autoritária-imposição da vacina (varíola) sem esclarecimentos para a população-aproveitando-se da situação, políticos de oposição e militares positivistas tentam derrubar o governo Rodrigues Alves.

Resultado:-Inúmeras prisões-suspensão da obrigatoriedade da vacina-estado de sítio (medida emergencial quando o governo se sente em risco)-centenas de pessoas presas e deportadas para o Acre (recém incorporado ao Brasil)

A revolta da vacina não se refere somente ao caso da vacina, mas a situação em geral. Significado político da Revolta da vacina: revolta contra o autoritarismo do governo. O povo luta por cidadania. Tentativa de militares de “limpar” a República prostituída pelas oligarquias.

Pouco depois de Hermes assumir... Revolta da Chibata (1910)Marinheiros versus tratamento que eles eram submetidosCausas gerais: -marinheiros se rebelam contra o tratamento violento e humilhante a que eram submetidos – marinha elitizada, reduto de monarquistas – marinheiros de origem pobre e, em sua maioria, negros

Punição de um marinheiro que foi condenado a receber xis chibatadas. Navios apontam para o Rio de Janeiro.

Revolta sem nome na ilha das cobras. Para alguns a revolta foi forjada. A marinha se aproveita da 2ª revolta, prende os caras e os acusam e são condenados. João Cândido vai se tornar um herói para os marinheiros.

Significado político: -resquícios de escravismo – marinheiros se rebelam por não serem tratados como cidadão em plena República

Contestado (1912-1916)“A República trouxe o que prometia”. Wagner

1922:-Artur Bernardes versus Nilo Peçanha-18 do Forte (5 de julho de 1922)-22ª semana de arte moderna (pintura, música, literatura)

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-criação do partido comunista do Brasil (PCB): importante no movimento operário

Brasil rural. Mudança na forma de pensar a partir da década de 20: mudanças no pensamento político

Década de 20: crise da República Oligárquica

Ao longo da década de 1920, o Brasil passou por intensas transformações, provenientes tanto das inovações econômicas e tecnológicas quanto das novas formas de perceber o tempo e os espaços político e doméstico. No espaço público, a principal mudança foi ocorrida nas cidades, onde aumentou grandemente a circulação nas ruas, pavimentadas e iluminadas, cortadas pelo transporte elétrico, ocupadas por confeitarias, grandes lojas de departamento e arranha-céus. No espaço privado, a introdução de uma série de bens de consumo – como o rádio, a vitrola, o cinema – permitiu a divulgação de novos valores e novos comportamentos sociais. “Outros países estão investindo no Brasil e isso faz com que haja desenvolvimento.”

RJ – capitalporém o presidente tinha raízes nas áreas rurais. (???)Anos 20

Série de manifestações que mostram que o Brasil não é só meios rurais.

1. Sobre a classe média urbana: Deseja um liberalismo autêntico. O que isso significa? Transformar República Oligárquica em República Liberal. Eleições limpas, respeito aos direitos individuais, ou seja, que as leis fossem cumpridas. + poder legislativo e – poder executivo

2. Quais as suas principais reivindicações? Educação do povo, voto secreto, criação da Justiça Eleitoral. Executivo e legislativo têm compromisso com os partidos. Por isso a criação do Judiciário. Educação: mais eleitores já que só alfabetizado poderia votar, consciência do voto.

3. Por que a eleição presidencial de 1919 é um bom indício da maior participação política dessa classe? Demonstração que eles têm influência política. Mobilização. Reação republicana (1922): lançamento de uma candidatura de oposição, Nilo Peçanha (RJ). Artur Bernardes candidatou-se (base governista) (MG+SP). Outros estados apoiaram Peçanha (RJ+PE+BA+RS). Luta pelo poder e para manter-se nele. Cartas falsas surgem para instabilizar a candidatura de Bernardes. Elas eram falsas.

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TEXTOS DO LIVRO

167-170-Limites à importância do movimento operário

Ao longo da Primeira República os movimentos sociais de trabalhadores ganharam certo ímpeto, tanto no campo quanto nas cidades. No campo eles podem ser divididos em três grandes grupos: 1º conteúdo religioso + carência social (Canudos), 2º conteúdo religioso + reivindicações social (Contestado) e 3º reivindicações sociais porém sem conteúdo religioso (greves por salários e melhores condições de trabalho)

Segundo exemplo: o Contestado era uma região limítrofe entre o Paraná e Santa Catarina cuja posse vinha sendo reivindicada por ambos os Estados. O movimento aí surgido em 1911 não tinha porém por objetivo essa disputa. Nasceu reunindo seguidores de um “coronel” tido como amigo dos pobres e pessoas de diversas origens atingidas pelas mudanças que vinha ocorrendo na área. Entre elas, trabalhadores rurais expulsos da terra pela construção de uma ferrovia e uma empresa madeireira e gente que tinha sido recrutada na construção da ferrovia e ficado desempregada no fim de seus contratos. ***

José Maria: morreu num conflito com a milícia estadual. Os rebeldes diziam querer “igualdade e fraternidade” e reivindicaram a posse da terra enquanto esperavam a ressurreição de José Maria.

Terceiro exemplo: Nas fazendas de café de São Paulo ocorreram diversas greves por salários e melhores condições de trabalho. A mais importante, em 1913, os milhares de colonos pretendiam a revisão de seus contratos de trabalho e para isso, paralisaram as grandes fazendas. Os objetivos dos colonos não foram alcançados.

As greves do movimento da classe trabalhadora urbana só tinham fortes repercussões quando eram gerais ou quando atingiam setores-chave do sistema agroexportador, como as ferrovias e os portos. Muitos dos trabalhadores eram imigrantes que ainda não tinham abandonado as esperanças de “fazer a América” e voltar para a Europa.

-Diferenças entre os movimentos de trabalhadores do Rio e de São Paulo (diferenças ideológicas, de formas de organizações, ...)

NO RJ: Surgimento dos primeiros partidos operários: predominaram um vago socialista e um sindicalismo pragmático, procurando um aumento de salário, limitação da jornada de trabalho, salubridade, ou de médio alcance, como o reconhecimento dos sindicatos pelos patrões e pelo Estado.

EM SP: predominou o anarquismo, ou melhor, uma versão dele: o anarco-sindicalismo. Na prática, tendo em vista a distância entre seu programa e a realidade social brasileira, os anarquistas, apesar de assumirem uma ideologia revolucionária, foram levados a concentrar esforços nas mesmas reivindicações sustentadas por seus adversários. Isso não impediu que as duas tendências se guerreassem, debilitando o já frágil movimento operário.

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As diferenças ideológicas e de método de ação entre o movimento operário do Rio de Janeiro e o de São Paulo se devem a um conjunto de fatores. Eles dizem respeito às características das duas cidades e à composição da classe trabalhadora.

Em fins do século XIX, a capital da República tinha uma estrutura social muito mais complexa do que a existente em São Paulo. Ali se concentravam setores sociais menos dependentes das classes agrárias, onde se incluíam a classe média profissional e burocrática, militares de carreira, alunos da Escola Militar, estudantes das escolas superiores.

Os movimentos de protesto no Rio de Janeiro até 1917 tiveram um conteúdo mais popular do que especificamente operário. Um exemplo disso, além do jacobinismo, foi a “revolta da vacina” ocorrida em 1904, no governo Rodrigues Alves, contra a introdução da vacina contra a varíola.

Do ângulo da composição da classe trabalhadora, devemos lembrar que ela se concentrava principalmente em setores vitais dos serviços (ferroviários, marítimos, doqueiros), tratados com certa consideração pelo governo. Havia também no Rio de Janeiro um maior contingente de trabalhadores nacionais, imbuídos de uma tradição paternalista nas relações com os patrões e o governo.

doqueiros = ?

São Paulo tinha uma estrutura social menos diversificada. A classe média girava em torno da burguesia do café e não havia grupos militares inquietos, dispostos a se aliar com “os de baixo”. A maior presença dos operários estrangeiros, sem raízes na nova terra, favorecia a influência difusa do anarquismo: os patrões e o governo, principalmente o governo, eram o inimigo.

-Formas de organização e mobilização dos trabalhadores

Criação da Confederação Operária Brasileira, em 1906, foi uma tentativa de organizar a classe operária no nível nacional. O movimento não teve grandes influências sobre a elite e os direitos eram conseguidos através da pressão nos patrões em vez de assegurados em lei.

-O ciclo de greves entre 1917 e 1920

Dois fatores: agravamento da carestia, em consequência das perturbações causadas pela Primeira Guerra Mundial e pela especulação com gêneros alimentícios; segundo, a existência de uma vaga revolucionária na Europa, aberta com a Revolução de Fevereiro, seguida da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia czarista. O movimento operário passou a ser objeto de preocupações. Os trabalhadores não pretendiam revolucionar a sociedade, mas melhorar suas condições de vida e conquistar um mínimo de direito. O que não quer dizer que muitos não fossem embalados pelo sonho de uma sociedade igualitária.

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-Relação do Estado com o movimento operário

As principais propostas surgidas no Congresso Nacional, reunidas em um projeto de Código de Trabalho que previa a jornada de oito horas, o limite ao trabalho de mulheres e menores, a licença para as mulheres grávidas. O projeto foi bombardeado pelos industriais e pela maioria dos congressistas. Restou apenas a lei que regulava a indenização por acidentes de trabalho, aprovada em 1919.

Na década de 1920, enquanto o movimento operário arrefecia, surgiram claros indícios de uma ação do Estado no sentido de intervir nas relações de trabalho mediante uma legislação concessiva de direitos mínimos aos trabalhadores. Duas leis foram importantes nesse sentido: a lei concedendo quinze dias de férias aos trabalhadores do comércio e da indústria (1925) e a que limitava o trabalho de menores. Entretanto, a lei de férias dependia de regulamentação e até 1930 não foi aplicada na área da indústria, por pressão dos industriais.

-Declínio da influência anarquista (razões)

Foram poucos os resultados obtidos pelas greves e isso fez com que dúvidas sobre as concepções dessa corrente surgissem. Notícias vindas da Rússia sobre a ruptura entre os anarquistas e os comunistas chegaram ao Brasil. Membros do anarquismo migraram e fundaram o Partido Comunista do Brasil. O PCB esteve na ilegalidade em quase toda a sua história e era formado, predominantemente, de operários.

171-175

Sobre a classe média urbana: (ver última página do resumo do caderno)

Ajustes e desgastes entre as oligarquias:

1. A reação republicana > o que foi isso? Por que surgiu essa candidatura de oposição?

Os ajustes e desgastes entre as oligarquias nas sucessões presidenciais ganharam novos contornos. Um bom exemplo é a disputa pela sucessão do presidente Epitácio Pessoa. O eixo São Paulo-Minas lançou como candidato, nos primeiros meses de 1921, o governador mineiro Artur Bernardes. Contra essa candidatura levantou-se o Rio Grande do Sul, sob a liderança de Borges de Medeiros, denunciando o arranjo político como uma forma de garantir recursos para os esquemas de valorização do café, quando o país necessitava de finanças equilibradas. Os gaúchos temiam também que se concretizasse uma revisão constitucional – realizada efetivamente por Bernardes em 1926 – limitando a autonomia. Uniram-se ao Rio Grande do Sul outros Estados, formando a “Reação Republicana”, que lançou o nome de Nilo Peçanha como candidato de oposição. Nilo era um político fluminense, de origem plebeia e defensor do florianismo.

2. O episódio das cartas falsas > militares se dispõem com Artur Bernardes

Foi no curso da disputa eleitoral que veio à tona a insatisfação militar. A impressão corrente nos meios do Exército, de que a candidatura Bernardes era antimilar ganhou dramaticidade com uma carta publicada no jornal Correio da Manhã, no Rio de Janeiro,

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em outubro de 1921. Aparentemente, tratava-se de cartas – pois havia duas – enviadas por Bernardes a um líder político de Minas Gerais, contestando pesadas ofensas aos militares. As cartas falsas puseram lenha na fogueira. O objetivo de seus autores de indispor ainda mais as Forças Armadas contra a candidatura de Bernardes tinha sido alcançado quando, pouco antes das eleições de 1º de março de 1922, dois falsários assumiram a autoria dos “documentos”.

3. O fechamento do Clube Militar > razões? efeitos?

A situação continuou a se complicar em junho de 1922, época em que Bernardes já era vitorioso, mas ainda não tomara posse na Presidência, o que só ocorreria a 15 de novembro. O Clube Militar lançou um protesto contra a utilização pelo governo de tropas do Exército para intervir na política local de Pernambuco. Como resposta, o governo determinou o fechamento do Clube Militar, com fundamento em uma lei contra as associações nocivas à sociedade.

O movimento tenentista:

1. Razão do nome

Porque o movimento teve como suas principais figuras oficiais de nível intermediário do Exército – tenentes em primeiro lugar e capitães.

2. Os 18 do forte > significado, efeitos

O primeiro ato de rebeldia foi a revolta do Forte de Copacabana, ocorrida no RJ a 5 de julho de 1922. O clima de ofensas falsas ou verdadeiras ao Exército e a repressão contra o Clube Militar levaram os jovens “tenentes” a se rebelar, como um protesto destinado a “salvar a honra do Exército”. A revolta não se estendeu a outras unidades. Depois de lançar os primeiros tiros de canhão, os rebeldes sofreram bombardeios e ficaram cercados. No dia seguinte, centenas deles se entregaram, atendendo a um apelo do governo. Um grupo porém se dispôs a resistir. O forte voltou a ser bombardeado por mar e por aviões. Dezessete militares, com a adesão ocasional de um civil, decidiram sair pela praia de Copacabana, indo de encontro às forças governamentais. Na troca de tiros morreram dezesseis, ficando feridos os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Os “Dezoito do Forte” começavam a criar a legenda do “tenentismo”.

3. A revolução tenentista de São Paulo > objetivos, principais episódios, resultados

Dois anos depois, explodiu o chamado segundo 5 de julho em São Paulo. A data foi escolhida para homenagear o primeiro movimento e o local, pela importância do Estado de São Paulo. Essa revolução foi bem mais preparada, tendo como objetivo expresso derrubar o governo Artur Bernardes. Iniciado o movimento com a tomada de alguns quartéis, desenvolveu-se uma batalha pelo controle de São Paulo e os revolucionários assumiram o comando da cidade. No dia 27 de julho, os “tenentes” abandonaram a capital e deslocaram-se pelo interior de São Paulo. Formou-se assim a “coluna paulista”.

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4. A “coluna paulista”

Ao deslocarem-se pelo interior de São Paulo na direção oeste, formou-se a “coluna paulista”. Esta fixou-se no oeste do Paraná, em um lugarejo próximo à foz do rio Iguaçu. Ali as tropas vinda de São Paulo enfrentaram os legalistas, à espera de uma outra coluna proveniente do Rio Grande do Sul.

5. A revolução tenentista no Rio Grande do Sul > objetivos

No RS, estoura uma revolta tenentista em outubro de 1924 na qual se destacaram o tenente João Alberto e o capitão Luis Carlos Prestes. Ela contara com o apoio da oposição gaúcho ao PRR, mesclando assim o tenentismo com as divergências da política estadual. Depois de vários combates, os gaúchos se deslocaram em direção ao Paraná, indo ao encontro das forças paulistas. Juntaram-se em abril de 1925 e decidiram percorrer o Brasil para propagar a ideia de revolução e levantar a população contra as oligarquias. Tinham também a esperança de chamar para si a atenção do governo, facilitando o surgimento de novas revoltas nos centros urbanos. Assim nasceu Coluna Prestes.

6. A “coluna prestes” > significado, objetivos, repercussõesA Coluna Prestes realizou uma incrível marcha pelo interior do país. A Coluna evitou entrar em choque com forças militares ponderáveis, deslocando-se rapidamente de um ponto para outro. As possibilidades de sucesso eram praticamente nulas. Entretanto, ela teve efeito simbólico entre os setores da população urbana insatisfeitos com a elite divergente. Fosse como fosse, a seus olhos havia esperanças de mudar os destinos da República, como mostravam aqueles heróis que corriam todos os riscos para salvar a nação.

7. O que representou o tenentismo? heranças do positivismo e do “salvacionismo”

8. Tenentes como simples representantes dos desejos e do pensamento das classes médias urbanas?

9. O que Boris Fausto diz a respeito disso?

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10. Tenentismo & Revolta da Chibata

O tenentismo foi sobretudo um movimento do Exército. Na Marinha, o único episódio de ressonância envolvendo quadros intermediários foi a revolta do encouraçado São Paulo , liderada pelo tenente Hercolino Cascardo, em novembro de 1924. Depois de trocar tiros com as fortalezas da baía de Guanabara, o São Paulo partiu para o alto-mar até chegar a Montevidéu, onde os rebelados se exilaram.

A maior revolta ocorrida na Marinha durante a Primeira República teve como protagonistas os marinheiros, quase todos negros e mulatos, recrutados entre as camadas mais pobres da população. Foi chamada Revolta da Chibata, iniciada a 22 de novembro de 1910. Os participantes não queriam derrubar o governo, mas acabar com os maus tratos e a violência dos castigos físicos a que eram submetidos.

O movimento começou quase simultaneamente em vários navios de guerra fundeados na Guanabara, com a morte de surpresa de vários oficiais. Um de seus principais líderes era o marinheiro João Cândido. Sob ameaça da esquadra revoltada, o Congresso decretou uma anistia se os revoltosos se submetessem as autoridades, estabelecendo-se um compromisso de acabar com a chibata como castigo físico constate do regimento disciplinar da Marinha.

Um “navio da morte” saiu do Rio de Janeiro com destino à Amazônia, levando marinheiros revoltados, ladrões, exploradores de mulheres e prostitutas.