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Turismo comunidades tradicionais

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 1, p. 11-22, jan-abr. 2007

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PPPPPolíticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais:olíticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais:olíticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais:olíticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais:olíticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais:perspectivas conceituaisperspectivas conceituaisperspectivas conceituaisperspectivas conceituaisperspectivas conceituais

TTTTTourism ourism ourism ourism ourism pppppolicolicolicolicoliciesiesiesiesies and sustainability in traditional communities: conceptual perspectives and sustainability in traditional communities: conceptual perspectives and sustainability in traditional communities: conceptual perspectives and sustainability in traditional communities: conceptual perspectives and sustainability in traditional communities: conceptual perspectives

Paulo Moreira Pinto I

Resumo:Resumo:Resumo:Resumo:Resumo: O contexto das políticas governamentais de turismo no Brasil e na Amazônia, analisando suas implicações narealidade política e administrativa das comunidades tradicionais e sua imbricação com a sustentabilidade histórica dessaspopulações em sua relação com o ambiente natural. Trata-se de uma pesquisa exploratória e que, para alcançar seuobjetivo, descreve a trajetória das políticas governamentais de turismo no Brasil e, particularmente, na Amazônia,confrontando-as com os referenciais teóricos que sustentam a formulação das políticas governamentais. Como é o casoda perspectiva teórica do turismo sustentável, que permeia os novos segmentos de turismo e prevê a inserção daparticipação comunitária como um elemento importante para a consecução das políticas de turismo.

PPPPPalavras-chave:alavras-chave:alavras-chave:alavras-chave:alavras-chave: Políticas governamentais. Turismo sustentável. Populações tradicionais.

Abstract: Abstract: Abstract: Abstract: Abstract: The public policies of tourism in Brazil and in the Amazon, analyzing its implications in the political and administrativereality of traditional communities and its relationship with the historical sustainability of those populations in relation to thenatural environment. It is an exploratory research, and in order to achieve its goal, describes the trajectory of the publicpolicies of tourism in Brazil and, particularly, in the Amazon confronting them with theoretical background that supportthe formation of public policies, specially of sustainable tourism, which permeates the new programs of tourism andforesees the inclusion of community participation as an important element to carry out the public policies of tourism.

KKKKKeywords:eywords:eywords:eywords:eywords: Public policies. Sustainable tourism. Traditional communities.

I Universidade Federal do Pará. Professor e coordenador do Curso de Turismo. Belém, Pará, Brasil ([email protected]).

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Políticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais: perspectivas conceituais

INTRODUÇÃO

Ao procurar informações acerca dos viajados,chocamo-nos com uma outra dificuldade. As opiniõessobre turismo e as esperanças que o mesmo suscitadiferem de maneira considerável de acordo com osgrupos da população, as categorias profissionais e oescalão político estadados.

Krippendorf, 1989

Primeiro as pessoas, depois os lucros.Chomsky, 2002

Este estudo objetiva contribuir para a introdução dotema políticas governamentais de turismo no âmbitoda pesquisa antropológica, especialmente asrelacionadas às comunidades tradicionais1, como asde pescadores, uma vez que existe um acúmulo deconhecimento dessa ciência no tocante ao ‘mundoda pesca na Amazônia’. Tal fato fica evidenciado atravésdas amplas pesquisas realizadas por Silveira (1979),Furtado (1987), Maneschy (1993), Mello (1995),Leitão (1995) e Santana (2001), que se constituíramcomo referencial histórico para a compreensão dosaber e do fazer dos ‘povos das águas’. Entretanto,estudos recentes, como os de Quaresma (2000;2003), Santana e Quaresma (2004) e Quaresma ePinto (2006), chamam a atenção para umcomponente novo em se tratando de pesquisacientífica, o fenômeno do turismo, que vem seinserindo no contexto das comunidades do litoralamazônico com significativos impactos, quer sejampositivos, quer sejam negativos, para a transformaçãodo modus vivendi e do status quo local.

Contextualizar como se estabelece esse processo, doponto de vista das políticas governamentais de turismo,se constitui em um esforço singular. Embora estudoscomo os de Barretto (1991), Becker (1995), Beni(1998), Cruz (2001) e Ruschmann e Solha (2006)

tragam contribuições importantes para o entendimentodas políticas governamentais e o planejamento doturismo no Brasil e, conseqüentemente, para aAmazônia, ao se tratar do contexto de políticassetoriais, como as da pesca, ainda são incipientes. Dessamaneira, é importante caracterizar o contexto geraldas políticas governamentais de turismo no Brasil parase ter um quadro de sua historiografia, explicitando seuconteúdo teórico, que é alterado ao sabor da introduçãode novos componentes nos debates internacionais eda conjuntura política e administrativa.

Não há duvidas de que o Estado neoliberal, aglobalização e a mundialização do capital introduzemnas políticas gerais e setoriais novos elementos ecategorias (CHESNAIS, 1996; CHOMSKY, 2002).No turismo o componente da sustentabilidadeultrapassa o sentido de segmento de mercado, comoaconteceu com o ecoturismo, e se transforma emum referencial que perpassa por todos os segmentosmercadológicos desse fenômeno. Estudar astransformações dessa nova realidade, para o setorde turismo, é desafio importante uma vez que olocal, no mundo globalizado, tende a ser palco deconflitos para o bem e para o mal. Explicitar suarelevância para a conjuntura socioeconômica dascomunidades pesqueiras é tarefa para vários anosde pesquisas, já iniciadas no âmbito do projetoRecursos Naturais e Antropologia das PopulaçõesMarítimas, Ribeirinhas e Estuarinas – OrganizaçãoSocial, Desenvolvimento e Sustentabilidade emComunidades Pesqueiras na Amazônia (RENAS), faseI, e continuada em suas fases II e III.

O componente novo no contexto das políticasgovernamentais de turismo no Brasil e na Amazôniaemerge dos debates acerca da efetiva participação doscomunitários no planejamento do desenvolvimento

1 Também denominadas populações tradicionais. De acordo com Esterci (2005) são povos ou grupos muito diferentes entre si e noBrasil são conhecidos por muitas outras denominações, as quais ora indicam sua atividade econômica mais visível, ora indicam suaorigem étnica, ora se referem aos espaços que habitam, ou ainda a aspectos de sua cultura e seu modo de vida. São pescadores,seringueiros, babaçueiros, quebradeiras de coco, quilombolas, varjeiros, ribeirinhos, caiçaras e tantas outras categorias de trabalhadores.

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pela via do turismo sustentável. Aglutinar essaparticipação é uma proposta avançada em termos depolíticas públicas globais e setoriais e que começa a serpraticada a partir de eventos datados e de experiênciasparadigmáticas da recente política brasileira.

PPPPPolíticas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisde turismo no Brasilde turismo no Brasilde turismo no Brasilde turismo no Brasilde turismo no BrasilPara iniciar os debates sobre políticas governamentaisde turismo, é necessário entender as interfaces queessa atividade preconiza como elemento propulsorde desenvolvimento humano, haja vista que muitose divulga a inserção do turismo como gerador eimpulsionador da economia, esquecendo que, antesde qualquer coisa, é o ser humano o elementoessencial do turismo. É fato que a cadeia produtivado turismo está no foco dos discursos viaglobalização. Entretanto, é sabido, também, que aglobalização da economia prioriza a grande “[...]concentração de renda e exclusão social, face àsubordinação dos Estados Nacionais a interessesmeramente econômicos” (BURSZTYN, 2003,p. 1). O que explicita também a necessidade de serever o papel do Estado na formulação de políticasgovernamentais.

A dicotomia estabelecida através do padrãoeconômico provoca distorções em vários campos,principalmente do ponto de vista ‘ético-político-ideológico’, como enfatiza Bursztyn (2003, p. 1),ao expressar que o campo de luta se estabelece daseguinte maneira:

[...] de um lado os que defendem o livre mercado, oEstado mínimo e a “globalização capitalista” comandadapelas grandes corporações multinacionais. Do outro,ganham expressão em todo o mundo grupospreocupados com os “excluídos” desse sistemaselvagem, os quais sustentam a idéia de uma“globalização solidária”, que promova a justiça social.

O turismo não está fora deste contexto, uma vezque, como atividade econômica do setor terciário,emerge a partir da revolução industrial e dosurgimento de novas tecnologias que facilitaram o

‘deslocamento’ e a massificação do turismo, comobem salienta Becker (1995, p. 1):

Foi no século passado, a partir da ampliação da escalada acumulação de capital e das inovações datecnologia de transporte, com a ferrovia e anavegação a vapor, que grupos sociais puderamgastar dinheiro com o turismo tal como nós hojeentendemos tal atividade.

No Brasil, a atividade do turismo não teve outratrajetória senão a seguida pelos parâmetrosinternacionais. A valorização da paisagem costeira éo principal elemento de diferenciação do produtoturístico nacional. Entretanto, em se tratando depolítica de turismo, pode-se afirmar que as primeirasmanifestações foram realizadas nos anos de 1950,com a implantação de estradas que proporcionaramcirculação de capital e o desenvolvimento de novosmercados, inclusive o do turismo, embora o grandemarco na questão do planejamento turísticobrasileiro seja a criação da Empresa Brasileira deTurismo (EMBRATUR), em 1966.

É no bojo deste marco institucional que se podevisualizar as primeiras iniciativas de se planejar aatividade de forma adequada, apesar das açõesestarem centralizadas e em consonância com osobjetivos do poder político estabelecido, queprivilegiava a moderna sociedade capitalista. Essepadrão excludente prossegue nos anos 1970,quando é possível observar os novos hábitos deconsumo da classe média procurando produtos quesatisfaçam o anseio de fuga do estresse cotidiano.Porém, como salienta Krippendorf (1989, p. 17),“[...] viajamos para viver, para sobreviver. Assim, ogrande êxodo das massas que caracteriza a nossaépoca é conseqüência das condições geradas pelodesenvolvimento da nossa sociedade industrial”.

Nos anos de 1980, com a crescente discussão sobrea questão ambiental e o aparecimento de entidadesambientalistas, inicia-se um novo momento dedebate no setor do turismo, haja vista que o mercadocapitalista começa a vislumbrar novos focos depenetração e o turismo irá considerar um novo

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produto, institucionalizado em 1987 como programade turismo ecológico da Embratur. A partir daí,iniciam-se as discussões sobre como desenvolversustentavelmente locais turísticos sem que hajaperdas para a atividade econômica do turismo e aface social emergente desse diálogo.

A Política Nacional de Turismo (PNT), de formaembrionária, só será focalizada nos anos de 1990.Embora preconize o desenvolvimento integrado,ainda são projetadas como produtos prioritários asregiões Sul, Sudeste e Nordeste. Pertencem a esseperíodo recente os dados citados por Becker(1995, p. 31):

Em 1990 o Brasil representava apenas 0,24% dofluxo total de turismo no mundo, participando com0,57 da receita mundial de turismo [...] Ainda assim,[...] o turismo figurou entre os dez produtos maisimportantes da pauta de exportação brasileira debens e serviços, correspondendo a 4,7% de seutotal entre 87 e 90. E em 1991, o turismo superoua receita obtida com exportação do café, do farelode soja, do suco de laranja, ocupando o quinto lugarna pauta de exportação.

Em 1995 a EMBRATUR, agora denominada InstitutoBrasileiro de Turismo, lança o Programa Nacionalde Municipalização do Turismo (PNMT), que é parteintegrante da PNT e preconiza a descentralizaçãoatravés do fortalecimento das instituições municipais,entendendo que os municípios têm “[...] condiçõespara descobrir suas vocações, conhecer seupotencial, dimensionar seus desafios e encontrarmelhores caminhos para a promoção do turismosustentável” (BRASIL. Instituto, 2002). Tendo comobase a descentralização, sustentabilidade, parcerias,mobilização e capacitação, o PNMT pretendia serum amplo fórum de debates sobre a atuação doturismo com base local.

Embora os números apontem uma crescentedemanda turística, deve-se ressaltar que a conjunturaneoliberal amplia as desigualdades sociais tambémno campo do turismo, haja vista que, apesar dodiscurso do PNMT de inclusão, a exclusão é marcada

pela não efetivação de práticas participativas, fazendocom que vários municípios que faziam parte doprograma ficassem sem respostas às suas demandas,inclusive do ponto de vista de efetivação dasocupações dos postos de trabalho pela via dodesenvolvimento do turismo.

A PNT para o período de 2003 a 2007, inicia umainovação na estrutura político-administrativa com acriação do Ministério do Turismo (MTUR). A novaestrutura reflete a disposição do Governo Federalem priorizar o setor como elemento capaz deatender de “[...] forma mais completa os desafioscolocados”. Na mensagem do Presidente daRepública pode-se observar esse intento quando dizque “O turismo quando bem planejado, dentro deum modelo adequado, onde as comunidadesparticipam do processo, possibilita a inclusão dosmais variados agentes sociais” (BRASIL. Ministério,2003). Em outro trecho, salienta a importância dacadeia produtiva do turismo quando cita:

Os recursos gerados pelo turista circulam a partir degastos praticados nos hotéis, nos restaurantes, nosbares, nas áreas de diversões e entretenimento.Jornaleiros, taxistas, camareiras, cozinheiras, artesãos,músicos, barqueiros, pescadores e outrosprofissionais passam a ser agentes do processo dedesenvolvimento.

Nessa perspectiva, a PNT, como instrumento deplanejamento do MTUR, coloca metas importantesque serão balizadoras da ação estratégica do Ministério:1) criar condições para gerar 1.200.000 novosempregos e ocupações em turismo; 2) aumentarpara 9 milhões o número de turistas estrangeirosno Brasil; 3) gerar 8 bilhões de dólares em divisas;4) aumentar para 65 milhões a chegada depassageiros nos vôos domésticos; e 5) ampliar aoferta turística brasileira, desenvolvendo no mínimotrês produtos de qualidade em cada estado daFederação e Distrito Federal.

A partir desse ponto de vista o Governo Federallança novos programas, como o de Regionalizaçãodo Turismo (PRT) (BRASIL. Ministério, 2004), que

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tem o intuito de promover a cooperação e a parceriados segmentos envolvidos, assimilando a noção deterritório como um lugar de interação do serhumano com o ambiente, pressupondo a integraçãoentre organizações sociais, agentes econômicos erepresentantes políticos, dessa maneira vindo aoencontro dos pressupostos do turismo sustentável.

PPPPPolíticas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisolít icas governamentaisde turismo na Amazôniade turismo na Amazôniade turismo na Amazôniade turismo na Amazôniade turismo na AmazôniaA Amazônia, na condição de maior floresta tropicaldo mundo, é palco de conflitos históricos eantagônicos que agilizam a degradação do meioambiente, deixando um desenvolvimento marginale excludente à comunidade local. A pecuáriaextensiva, os grandes projetos mineradores, ogarimpo e o narcotráfico são alternativas que aindasobrevivem na região. Este fator torna a preocupaçãocom a preservação da biodiversidade amazônica tãoimportante quanto oportuna, onde o maior desafioé promover o desenvolvimento sustentável numaregião tão problemática.

A história do modelo de desenvolvimento daAmazônia inicia “[..] por uma lógica contrária à lógicada natureza” (COSTA, 1995, p. 345), haja vista queo extrativismo dominante era tido como situaçãoprovisória e em detrimento da exploração daagricultura, que passa a fazer parte da políticaPombalina, motivo de vários fracassos já estudadose registrados por cientistas brasileiros e estrangeiros.O fato é que a partir da criação da Superintendênciado Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em1966, o planejamento regional é executado a partirda elaboração dos Planos de Desenvolvimento daAmazônia (PDA), que refletiram o antagonismo doexcesso ‘desenvolvimentista’ da chamada ‘OperaçãoAmazônia’, através de inúmeros financiamentos que,como salienta Castro (2001), são passíveis de críticasaté os dias atuais, pois sequer comunidades locaisda Amazônia foram consultadas; e como bem éanalisado por Brito (2001, p. 148) quando afirmaque o “[...] crescimento pelo viés puramente

econômico teria conseqüências diretas sobre aestrutura social”.

No caso do turismo não foi diferente, como se podeobservar dos instrumentos de planejamento e daspolíticas emergentes dos PDA e dos Planos de Turismoda Amazônia (PTA), em que a atividade do turismo éexplicitada a partir da ênfase no desenvolvimentoeconômico, embora os documentos oficiais afirmemque o:

Turismo passa a ter um papel estratégico na implantaçãodo modelo de desenvolvimento que pretende alterara modalidade regional, representando uma alternativaque possibilite a compatibilização do crescimentoeconômico com a conservação ambiental, sob a óticado desenvolvimento sustentado. (SUDAM/PNUD,1992, p. 14).

Atualmente, na Amazônia, busca-se superar a noçãode desenvolvimento centrada unicamente no viéseconômico e, no caso do setor turismo, isto se evidenciaa partir do ecoturismo. Tal fato é proporcionado pelaenorme sociobiodiversidade da região, que apresentarico ecossistema e diversidade de fauna e flora e nosúltimos anos vem despertando interesses de umaclientela específica, preocupada com o respeito aosprincípios do desenvolvimento sustentável. O ecoturistana Amazônia é seduzido pela possibilidade de contatocom a natureza ainda pouco transformada pela açãoantrópica, além do interesse pela cultura local e históriasde aventura dos viajantes do século passado quandodas viagens de reconhecimento e estudos do território.

Para minimizar os conflitos decorrentes da políticaadotada pelo poder público, o governo utilizaplanejamentos sistemáticos executados porinstituições e instrumentos balizadores, coadunandoa prática do turismo com as demandas do mercado,garantindo, assim, o uso racional e sustentável daatividade de forma coletiva. A justificativa paraimplantação de projetos ecoturísticos na região giraem torno de questões como a da sustentabilidade,além do aumento no fluxo turístico, pois o potenciallatente não é utilizado em sua plenitude. Sendoassim, foi criado, nos anos 1990, por um consórcio

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entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e aEMBRATUR, com apoio financeiro do BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID), oPrograma de Desenvolvimento do Ecoturismo paraa Amazônia Legal (PROECOTUR).

É um programa de planejamento e investimentoexecutado pelo MMA, que, ao trabalhar odesenvolvimento do ecoturismo na Amazônia, exigedo poder público local um esforço no que tange àescolha de pólos com maior atratividade, apesar detodos serem trabalhados de acordo com suaspotencialidades (BRASIL. Ministério, 2001). Ao todosão 54 pólos, onde o estado do Para possui 6 unidadesde desenvolvimento: Belém, Costa Atlântica, Marajó,Tapajós, Araguaia-Tocantins e Xingu.

Esta é a metodologia que melhor se adequou aosobjetivos de planejamento regional da SUDAM, quea partir de 2001 foi transformada em Agência deDesenvolvimento da Amazônia (ADA). Nestecontexto, o PROECOTUR, como instrumento deplanejamento para o desenvolvimento doecoturismo na Amazônia brasileira, tem comoobjetivos criar uma estrutura apropriada e implantarcondições necessárias para que os 9 estados daAmazônia Legal consigam desenvolver uma gestãodemocrática e sustentável das áreas selecionadaspara o ecoturismo. O PROECOTUR objetiva,prioritariamente, a implantação de infra-estruturaecoturística nos municípios pólos dos estados quecompõem a região amazônica, os quais foramestabelecidos seguindo uma metodologia específica.Assim, no Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantinsforam priorizados municípios que possuíam potencialpara o desenvolvimento do ecoturismo. Estas áreasselecionadas têm em comum o fato de serem áreascom significativa diversidade biológica e a existênciade um considerável contingente populacional que jáocupava essas áreas em épocas remotas.

O PROECOTUR foi projetado para ser executadoem duas fases, denominadas de pré-investimento e

investimento. A primeira fase, programada paraacontecer em três anos, ainda não foi concluída,devido aos atrasos ocorridos nos cronogramas dosórgãos executores. Ao todo são US$ 213 milhõesdisponibilizados pelo BID para financiamento da infra-estrutura proposta nos municípios. Estas ações sãoalvo de críticas por parte dos mais diversos setoresda sociedade, seja pela demora na liberação dosrecursos disponíveis, ou falta de informações/articulação com os demais setores envolvidos noprocesso. Em função deste quadro, surgiram asdegradações oriundas do turismo desordenado e‘espontâneo’, estabelecido na região em função daspressões do mercado, que fogem ao controle dopoder público e ocasionam impactos das maisdiversas ordens.

O componente da sustentabilidadeO componente da sustentabilidadeO componente da sustentabilidadeO componente da sustentabilidadeO componente da sustentabilidadeno turismono turismono turismono turismono turismoA trajetória das políticas de turismo descritas hápouco não foi destituída de conteúdo no tocante àsteorias que permeavam e permeiam os debates, deacordo com as questões em referência à época emque foram formuladas. Esse é um dado importantepara entender os mecanismos impostos pelomomento histórico. Assim, o que se discutia,enquanto base teórica, nos anos de 1960 era a ênfaseao turismo de massa, embora alguns teóricos jáchamassem a atenção para o efeito negativo quepoderia ser provocado pelo grande fluxo de visitantesnos locais turísticos (KRIPPENDORF, 1989;CORIOLANO, 1996; RODRIGUES, 1997; CRUZ,1999; FENNELL, 2002; PIRES, 2003). Nos anosde 1970, o turismo aparece como uma atividadeque irá redimir os males da sociedade, em que ojargão era o da ‘Indústria sem chaminés’ e queperdura até os anos de 1980, até se verificar que oturismo também polui se não for adequadamenteplanejado. Já nos anos de 1990, surge uma novacategoria caracterizada como um novo segmentodo turismo, o qual é denominado de turismoecológico e depois de ecoturismo.

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A partir dos anos de 1990, o turismo é focalizadocomo um fenômeno de importância na sociedadebrasileira, a ser uma atividade relevante para odesenvolvimento socioeconômico, passando a ter umsignificativo papel na conservação do meio natural esendo uma das atividades que pode ser explorada semque isso represente, necessariamente, agressão ànatureza. Acredita-se, também, que o mesmo podetornar-se um fator de melhoria da qualidade de vidada população. A base teórica do turismo sustentávelé o desenvolvimento sustentável apropriado,desenvolvida por autores como Swarbrooke (2000)e Fennell (2002), dentre outros, servindo comoparadigma para os estudos de uma nova concepçãoda atividade turística, conectada ao seu principal ativoque são os recursos naturais.

O turismo sustentável começa a ser reconhecidoa partir de manifestações, na Inglaterra, deprofissionais e estudantes que passaram a consideraras implicações do relatório “Nosso FuturoComum” no turismo. Surge, então, a expressãoturismo verde, no final dos anos de 1980, paradesignar a preocupação do turismo com relaçãoao meio ambiente, pretendendo reverter aimagem negativa a partir da redução dos custosambientais e maximização dos benefícios ambientaisdo turismo. Os efeitos negativos do turismoocasionaram uma preocupação maior com arelação do turismo e o meio ambiente. Mas é apartir do início dos anos de 1990 que o termoturismo sustentável passou a ser usado com maiorfreqüência e começou a fazer parte de uma novavisão do turismo, que admite um turismo maisresponsável socio e ambientalmente. O turismosustentável tem sua origem no turismo verde.

O marco histórico do surgimento do turismosustentável foi a Conferência Globo 90, realizadano Canadá, sobre turismo e sustentabilidade. Nestaconferência foram sugeridas metas para o turismosustentável, dentre as quais se destaca a que remetea “[...] melhorar a qualidade de vida da comunidadeanfitriã”. Explicitando que o que se busca são medidas

de longo prazo e que, portanto, não sejamcentralizadas no aspecto puramente econômico dofenômeno turístico, como bem ressalta Wall (apudKINKER, 2002), quando se refere ao turismosustentável como:

[...] aquele que é desenvolvido e mantido em umaárea (comunidade, ambiente) de maneira que, eem uma escala que, se mantenha viável pelo maiortempo possível, não degradando ou alterando o meioambiente que usufrui (natural e cultural), nãointerferindo no desenvolvimento de outras atividadese processos, não degradando a qualidade de vida dapopulação envolvida, mas pelo contrário servindode base para uma diversificação da economia local.

Portanto, o desenvolvimento proposto peloturismo sustentável deve perpassar todos ossegmentos do turismo, desde o chamado turismode massa até o ecoturismo.

O turismo sustentável, segundo Ansarah (2001, p. 31):

[...] é definido como modelo de desenvolvimentoeconômico concebido para melhorar a qualidadede vida da comunidade receptora, proporcionar aoturista uma experiência de qualidade do meioambiente de que tanto a comunidade anfitriã comoos visitantes dependem.

Nesse sentido, em relação ao desenvolvimentosustentável, é evidente que o turismo é um setor comclaras perspectivas de mitigação dos impactossocioambientais, visto que o mesmo pode atuar comoinstrumento de sensibilização, orientação e equilíbrioentre o desgaste causado pelo desenvolvimentocentrado no viés econômico e a necessidade depreservar o patrimônio.

Sob esse prisma, o turismo sustentável deve levarem consideração a finitude dos recursos naturais e asustentabilidade dos mesmos com vistas às geraçõesfuturas. Desse modo, o ecoturismo, que está sendopriorizado para o desenvolvimento da Amazônia,surge como uma das alternativas coerentes para oplanejamento do desenvolvimento sustentável, umavez que permite a geração de renda e ao mesmotempo preserva os recursos naturais.

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TTTTTurismo e sustentabilidade emurismo e sustentabilidade emurismo e sustentabilidade emurismo e sustentabilidade emurismo e sustentabilidade emcomunidades tradicionaiscomunidades tradicionaiscomunidades tradicionaiscomunidades tradicionaiscomunidades tradicionaisA Amazônia consolidou-se como uma das áreas maisvisadas, ao tratar do desenvolvimento da atividadeturística, principalmente no tocante às novas formas oumodalidades de realizar o deslocamento turístico, comoé o caso do ecoturismo, em que a principal força motrizé o equilíbrio estabelecido através de milênios entre oser humano e o ambiente natural. O cenárioestabelecido pela atividade turística traz para o âmbitodo poder público uma realidade dicotômica, haja vistaque o esforço para um planejamento turístico eficaz sedepara com a espontaneidade dos movimentosdirecionados aos núcleos turísticos. Provocados na suagrande maioria pela grande especulação gerada pelomercado em sua via globalizada, que coloca para ospequenos núcleos e para as comunidades situaçõesdíspares no seu cotidiano, imprimindo-lhes contextosconflitantes no seu modus vivendi.

O turismo, na condição de atividade multidimensional,impresso na sociedade contemporânea como umfenômeno marcado pela crescente necessidade derecuperação dos desgastes físicos e mentais docotidiano urbano-capitalista, ou de lazer, vem sendodirecionado para áreas litorâneas e atendendo àsdemandas de sua mais recente segmentação, oecoturismo. Tais áreas são detentoras de vastosecossistemas e atendem às demandas por ‘cenáriosparadisíacos’ e de ‘aventuras’, que são veiculados pelomercado turístico nacional e internacional.

Na Amazônia, um considerável contingentepopulacional, que tem na relação direta com os recursosnaturais sua principal fonte de reprodução social, vemse apresentando de forma efetiva com a prática doturismo, seja ele em grande, média ou pequena escala.De acordo com Diegues (1994, p. 78-9), pode-sedefinir comunidades tradicionais como:

[...] estão relacionadas com um tipo de organizaçãoeconômica e social com pouca ou nenhumaacumulação de capital, não usando força de trabalhoassalariado. Nela produtores independentes estãoenvolvidos em atividades econômicas de pequenaescala, como agricultura e pesca, coleta e artesanato.Economicamente, portanto, essas comunidades sebaseiam no uso dos recursos naturais renováveis.Uma característica importante desse modo deprodução mercantil (petty mode of production) é oconhecimento que os produtores têm dos recursosnaturais, seus ciclos biológicos, hábitos alimentares,etc. Esse “Know-How” tradicional, passado degeração em geração, é um instrumento importantepara a conservação. Como essas populações emgeral não têm outra fonte de renda, o uso sustentadode recursos naturais é de fundamental importância.Seus padrões de consumo, baixa densidadepopulacional e limitado desenvolvimento tecnológicofazem com que sua interferência no meio ambienteseja pequena. Outras características importantes demuitas sociedades tradicionais são: a combinação devárias atividades econômicas (dentro de umcomplexo calendário), a reutilização dos dejetos e orelativamente baixo nível de poluição. A conservaçãodos recursos naturais é parte integrante de suacultura, uma idéia expressa no Brasil pela palavra“respeito” que se aplica não somente à naturezacomo também a outros membros da comunidade.

O Pará passou a ter, nestes trinta anos2, um aumentosignificativo da atividade turística, principalmente nasáreas do litoral do estado, integradas pelasmicrorregiões do Salgado, Bragantina e Viseu ecaracterizadas por vastas e diversificadas áreas naturaisde manguezais, rios, praias e floresta tropical, as quaissão ocupadas desde a pré-história por populaçõesde caçadores-coletores especializados na obtençãodos recursos do mar.

O mundo da pesca e dos pescadores está amplamenteregistrado nas pesquisas desenvolvidas por Furtado(1987; 1993; 1994; 1997; 2002a; 2002b), em queconstata as transformações ocorridas e os impactos,em sua maioria negativos, na pesca tradicional.

2 Aqui se tem como marco institucional a criação da Companhia Paraense de Turismo (PARATUR), órgão fomentador das políticasestaduais de turismo.

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Embora, ainda hoje, as populações habitantes destasáreas exerçam como principal atividade a pescaartesanal, complementando-a com a prática daagricultura de subsistência.

No conjunto de transformações em curso nestasáreas, a que afeta de forma mais intensa estascomunidades é o turismo, pois encontra o ‘produtoideal’ para a operacionalização de seus anseios. Assim,comunidades de pescadores como as de Mosqueiro,Salinas, Marudá, Ajuruteua, Algodoal, São João dePirabas, Viseu, Camará, Cotijuba e Outeiro, dentreoutras, são exemplos de áreas que vêm sendotransformadas em ‘balneários turísticos’3. Esteprocesso geralmente se dá de forma não planejada,impactando não só as formas tradicionais deorganização econômica, social e política destesmoradores, mas também suas realidades simbólicase valorativas.

Essas transformações ocorrem em várias esferas. Naesfera econômica pode-se citar a geração de divisas,empregos, renda, especulação imobiliária, pressãoinflacionária, crescimento, alteração da cadeiaprodutiva local, abandono de atividades da pesca,escassez de produtos, crescimento e transformaçãoespacial da localidade. Na esfera social, hámodificações na estrutura populacional e ocupacionalda comunidade, como o abandono da pesca,introdução de novas técnicas produtivas, carência demão-de-obra qualificada, necessidade de infra-estrutura básica, necessidade de serviço públicoadequado, inserção de novas atividades, incentivo/desagregação da organização local, introdução dedrogas, violência e exploração sexual comercialinfanto-juvenil. Na esfera cultural, o turismo temum duplo poder, ao mesmo tempo em que pode

possibilitar o resgate e valorização da cultura local,também pode ser capaz de alterá-la para padrõestotalmente diferenciados dos originais. Finalmente,na esfera ambiental pode promover a poluição eesgotamento dos recursos naturais.

Esse é o quadro que se instala nas comunidadespesqueiras e, muitas vezes, o Estado se apresentacomo um facilitador deste processo, seja pelaomissão ou pelo incentivo à expansão do turismoem áreas nem sempre preparadas para absorver ofenômeno. A forma como este é praticado o fazconstituir-se em um elemento de pressão contra ospescadores artesanais, em vez de uma vertente dedesenvolvimento e de melhoria de qualidade de vidalocal. É importante adotar uma visão sistêmica doprocesso em questão, em busca de um planejamentoo mais sustentável possível do turismo.

Adotando-se como referencial o turismo sustentável,estimula-se o processo de participação efetiva dosatores sociais envolvidos. Neste caso, atoresdiferenciados (estado, empresários e sociedade civil)teriam condições de articular, com um objetivocomum, a implantação do turismo como alternativade desenvolvimento eficaz e benéfico,principalmente para as comunidades residentes nasáreas utilizadas para este fim. Garantir-se-á, destemodo, não só o aproveitamento racional dosrecursos, mas também a não exclusão dascomunidades locais envolvidas no processo,efetivando de fato a atividade turística e a suasustentabilidade.

A adoção de novos referenciais balizadores depolíticas públicas vem sendo perseguida pelosformuladores dessas políticas, como se podeperceber através dos recentes documentos da

3 Estudos de Cruz e França (2005) demonstram tal processo ao longo da estrada para a ilha do Mosqueiro, em Belém do Pará. Demaneira mais ampla, pode-se considerar também o processo denominado de turistificação, já definido nos estudos de Almeida (1999,p. 20) como “[...] o processo de apropriação do lugar para e pelo turismo [...]”. A autora considera que os espaços se artificializam ouse turistificam no momento em que são destinados para a satisfação dos que chegam de fora. Frente a uma preocupação maior coma proteção da natureza, versa um interesse mais mercadológico do que ambiental.

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Políticas de turismo e sustentabilidade em comunidades tradicionais: perspectivas conceituais

SUDAM quando criou a Rede Amazônica de Centrosde Excelência e Núcleos de Difusão para o SetorPesqueiro (REPESCA), fazendo parte do Programa deAções Estratégicas para 1998-2000. Seu principalobjetivo seria promover o desenvolvimento da pescaextrativa e de cultivo da região, por meio daestruturação de políticas de ação e fomento noscampos socioeconômico e tecnológico, e da criação,consolidação e ampliação de uma competência eexcelência regional sobre recursos piscícolas daAmazônia. Embora, como salienta Leitão (1995), paraas comunidades pesqueiras o principal problema sejaa inexistência de política governamental de apoio àpequena produção pesqueira.

As pequenas comunidades de pescadores artesanaissão justamente as que são atingidas pelo processode ‘balnearização’, o qual já foi mencionado e queprecisa ser revisto, no intento de conjugar esforçospara elaborar políticas públicas que aliem odesenvolvimento do turismo sustentável em áreaspesqueiras e que incluam as populações locais. Noprocesso da formulação de políticas públicas énecessário montar fóruns que congreguem osdiversos setores e os atores envolvidos com asatividades do turismo e da pesca. Desse novoprocesso poderá advir políticas públicas que mitiguemos impactos do turismo e da pesca predatórios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável que as comunidades tradicionais seconfrontam com o processo de desenvolvimentoacelerado, do ponto de vista econômico, através daintrodução do turismo que transforma a realidadelocal. O poder público, formulador de políticas,reforça, na maioria dos casos, os impactos negativosdo turismo nessas comunidades. Entretanto, aspolíticas públicas são resultados de estudos para oplanejamento do desenvolvimento que podemmitigar esses mesmos impactos. Já faz parte dosdebates mais avançados que o processo de‘balneabilização’ dos núcleos atrativos de turismo não

poder ser reforçado por planos, programas ouprojetos excludentes da participação comunitária.

Algumas comunidades pesqueiras da Amazônia e doestado do Pará já se defrontam com experiênciaspontuais de desenvolvimento turístico com participaçãoefetiva na formulação de propostas pioneiras para otratamento das degradações socioambientais ocorridas,principalmente aquelas atingidas pelo projeto RENAS.Entretanto, ainda são poucos os avanços uma vez queessas experiências acabam sendo descontínuas eobtendo ganhos setoriais, que são expressivos paraaquela comunidade, mas não se refletem namacrosocioeconomia local, como é o caso deFortalezinha, na ilha de Maiandeua, Pará. Para tanto, énecessário um grande poder de organização e sensode cidadania para a efetiva integração dos atoresenvolvidos no intento de conseguir o bem comum.

A experiência de planejamento com participaçãocomunitária está avançando e requerendo dosformuladores de políticas governamentais novasreferências. Essa pode ser a grande chance dasociedade civil organizada exercer plenamente seusdireitos e decidir os rumos do desenvolvimento.Desse modo, todos os setores, mas nesse caso tantoo turismo como a pesca, podem ter importantesganhos em se tratando de políticas públicasinovadoras e que tragam modelos sustentáveis doponto de vista social e econômico.

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Recebido: 17/09/2004Aprovado: 23/03/2007

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