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Saramago e Galeano discutem utopia no Fórum Social 29 de janeiro de 2005 • 13h14 • atualizado às 13h14

Notícias

29 de janeiro de 2005 Reuters

Mais de 3 mil pessoas se aglomeraram no Auditório Araújo Vianna na manhã deste sábado num painel do Fórum Social Mundial em Porto Alegre para debater a política e a utopia acerca do personagem Don Quixote de la Mancha, da obra de Miguel de Cervantes, e sua analogia com a quinta edição do evento. No ano do centenário da publicação da primeira edição da obra, Don Quixote foi o tema principal da palestra Quixotes hoje: utopia e política que contou, entre eles, com o Nobel de Literatura, o português José Saramago, e o escritor uruguaio Eduardo Galeano.

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Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde diplomatique, abriu seu painel exaltando os ideais de Don Quixote e foi ovacionado ao citar as aspirações dos participantes do Fórum: "Há batalhões de Quixotes e Quixotas aqui em Porto Alegre que não estão loucos porque são utópicos como Don Quixote. Ele não suportava as injustiças e as desigualdades e ofereceu sua força e empenho contra isso, na luta por um mundo ideal, por um mundo diferente", afirmou.

Ramonet elogiou a realização da quinta edição do evento e rechaçou fanatismos e dogmatismos. "O Fórum já é possível. Isso aqui sim é uma assembléia de pessoas do planeta, não a assembléia da ONU. Isso é uma Babel reconstruída, fraterna, democrática e que quer transformar o mundo", afirmou.

No final do painel, foi aplaudido de pé ao citar injustiças sociais e propor cinco

José Saramago durante debate no Fórum Social.

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medidas urgentes para o início de uma mudança mundial. "Temos milhares de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia, diferentemente de uma vaca européia, que recebe US$ 4. Isso é um escândalo. Vale mais ser uma vaca européia no mundo do que uma pessoa!. Isso é um mundo tremendamente desigual", gritava. "Por isso proponho a realização de uma força mundial contra a fome, a supressão dos paraísos fiscais, a supressão da dívida externa dos países pobres, a moratório de água potável para todo o mundo e a definição de impostos de solidariedade para as maiores fortunas do mundo", sugeriu.

Um dos discursos mais esperados do evento, o escritor português José Saramago foi firme ao começar seu discurso rechaçando a utopia e seus significados. "O que transformou o mundo não foi a utopia, mas a necessidade. Se a realização de nossas utopias ocorressem em breve não se chamariam de utopia, mas de trabalho e dedicação! Sugiro a retirada desta palavra do dicionário", disse sorridente em meio a aplausos.

Saramago criticou os organismos internacionais e os governos políticos. "O discurso político manipula, existe apenas para esconder algo. Essa é a arte de camuflar a verdade. Quem é que escolhe os líderes das organizações internacionais? Onde está a democracia?", questionou. "Nossas democracia estão amputadas, foram seqüestradas, pois hoje nossos poderes como cidadãos consistem em trocar um governo que não gostamos por outro que não conhecemos. Se fizermos as cinco bases de Ramonet com muito trabalho podemos modificar algo e não ficar apenas falando utopia, utopia....", finalizou sob intensas palmas.

Uma das apresentações mais aplaudidas foi a do escritor Eduardo Galeano, que afirmou em uma citação que a utopia serve para caminhar "uma vez que, independente de quanto andemos, ela sempre estará há dez ou 20 passos de nós, na linha do horizonte". O uruguaio contou a história de um pintor que conheceu em uma viagem à Bolívia onde, apenas diante de paisagens cinzas e vegetação morta, pintava obras de cores vibrantes, vivas e exuberantes. "A utopia antepõe os ideais à frente de tudo, pois também é real quando se pinta a realidade que se necessita porque em toda barriga há a possibilidade de um novo mundo", encerrou.

Para o ex-diretor geral da Unesco, Federico Mayor Zaragoza, "a política é a arte de fazer possível amanhã o que hoje é impossível hoje". "Aqui no Fórum temos uma resistência ativa de propostas e discussões que poderão mudar as situações miseráveis. Mayor terminou ao dizer que é necessário ter imaginação para que "numa democracia genuína se possa contar e que todos sejam contados".

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