· universidade estadual de santa cruz governo do estado da bahia paulo ganem souto - governador...

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Universidade Estadual de Santa Cruz

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIAPAULO GANEM SOUTO - GOVERNADOR

SECRETARIA DE EDUCAÇÃOANACI BISPO PAIM - SECRETÁRIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZANTONIO JOAQUIM BASTOS DA SILVA - REITOR

LOURICE HAGE SALUME LESSA - VICE-REITORA

DIRETORA DA EDITUSMARIA LUIZA NORA

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Ilhéus - Bahia2006

©2006 by JOSÉ CLÁUDIO FARIA

1ª edição: 2006

Direitos desta edição reservados àEDITUS - EDITORA DA UESC

Universidade Estadual de Santa CruzRodovia Ilhéus/Itabuna, km 16 - 45662-000 Ilhéus, Bahia, Brasil

Tel.: (73) 3680-5028 - Fax: (73) 3689-1126http://www.uesc.br/editora e-mail: editus@uesc.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica: Silvana Reis Cerqueira - CRB5/1122

PROJETO GRÁFICO E CAPAPROJETO GRÁFICO E CAPAPROJETO GRÁFICO E CAPAPROJETO GRÁFICO E CAPAPROJETO GRÁFICO E CAPAAlencar Júnior

ILILILILILUSTRAÇÕES DA CAPA E MIOLUSTRAÇÕES DA CAPA E MIOLUSTRAÇÕES DA CAPA E MIOLUSTRAÇÕES DA CAPA E MIOLUSTRAÇÕES DA CAPA E MIOLOOOOOSamanta Ribeiro

REVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃOMaria Luiza Nora

EQUIPE EDITUS

DirDirDirDirDiretor de Petor de Petor de Petor de Petor de Política Editoral:olítica Editoral:olítica Editoral:olítica Editoral:olítica Editoral: Jorge Moreno; RRRRRevisão:evisão:evisão:evisão:evisão: Maria Luiza Nora, Aline Nascimento;

Supervisão de PrSupervisão de PrSupervisão de PrSupervisão de PrSupervisão de Produção:odução:odução:odução:odução: Maria Schaun; CoorCoorCoorCoorCoord. de Diagramação:d. de Diagramação:d. de Diagramação:d. de Diagramação:d. de Diagramação: Adriano Lemos; DesignDesignDesignDesignDesignererererer Gráfico: Gráfico: Gráfico: Gráfico: Gráfico: Alencar Júnior.

F224 Faria, José Cláudio.Silêncio entre pássaros: poesia para fim de semana /José Cláudio

Faria. – Ilhéus, Ba: Editus, 2006.124p. : il.

ISBN: 85-7455-109-0

1. Poesia brasileira 2. Literatura brasileira. I. Título.

CDD 869.91

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Às duas irmãs que deixaram as mais felizes e profundas marcasem minhas reminiscências, e que acompanharam (desde sempre)minha caminhada de menino urbano e agreste, dedico:minha mãe, Venina Fosseminha tia, Edite Fosse (in memoriam)

7....

Fiquei de apresentar o livro de José Cláudio Faria e o seu autor. O livro é fácil, pois gosteimuito dele, de sua síntese máxima, das fronteiras entre o despojamento da linguagem e asofisticação da forma, do clima meio onírico, do seu modo de dizer o cotidiano com profundida-de. Gostei da transgressão, em relação à pontuação, aos sons onomatopéicos. Os volteios queele faz... Das fronteiras, fazendo divisa com o culto e com o popular, com o adulto e a criança. Écomo um olhar de criança expresso por um adulto... Gostei da influência de Manoel de Barros.

Gostei da densidade poética, que chega a doer, usando tão poucas palavras. Às vezes, umverso:

“Vento forte desavoa passarim”

Ou dois:

“Todo passarim detém um amargorde auroras entre grades”

Ou três:

“O exato do mundocarece de asase de canto”

O livro é fácil de apresentar. Porque é lindo. Mas como apresentar um poeta que, tendosido pedido que se apresentasse, ele o fez assim?

AprAprAprAprApresentaçãoesentaçãoesentaçãoesentaçãoesentação

“Pai tem um velho ditadoque nossa gente,quando nasce,cê joga na parede.................................................... se grudar..., tende a advogado se cair, músico e se avoar, poeta....................................................bom,avoar tem a ver com asa,canto, passarim

(quanto ao poeta, não me cabe o julgamento)”

Que maneira de se apresentar!Mas eu posso afirmar, antes de tudo, que ele é simples e sábio. Ou que é sábio porque é

muito simples. Que ele é tímido e educado.Quando ao que é valorizado pela academia, posso afirmar que é professor pelo Departa-

mento de Ciências Exatas e Tecnológicas na Universidade Estadual de Santa Cruz, desde 2000, eque tem doutorado na área de Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa.

E vou contradizê-lo. Ele diz:

“De tanto contrair leveza do planar das avesnas alturasna paisagem rupestre em que nasci,assimilei, que não se sustentao insustentável”

O autor sustenta, sim. No mundo de hoje, ele sustenta um outro mundo, de delicadeza ede sonho. Um mundo que seria insustentável se não viesse dele.

Maria Luiza Nora

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– Sabiá na muda, ele escurece o gorjeio...

#

– ...não entender, não entender, até se virar menino...

(Guimarães Rosa)

11....

Para os poemasque se seguemsugiro:

quebrar ao meioa pressa...

inspirar-sede Arapongas

prender um silêncionas pedrasaté perceber um Trinca-ferro pardo,pelo outro lado

13....

VVVrruuuuuuuuuu,tííííííuuuuuulííí............................................................Beija-flor-de-passagem

15....

Beija-flortem hora marcada com o futuro

17....

Avôo de Beija-florchama a atenção........................................

ele só não tem tempode ver o resultado

19....

Beija-flor voaàs expensas do equilíbrio

21....

VVVrruuuuuuuuuu,tííííííuuuuuulí............................................(dá uma olhadinha para trás)

Plaft!!!

Fizeram uma parede onde antesera buraco de vento,autopista de Beija-flor

23....

Rolinha gorjeando sozinhaem sombra de vegetal,amansa a tarde.........................................

25....

Tééémm, tééémm, tééémmtééémm, tééémm, tééémmtééémm, tééémm, tééémm..........................................

espírito de ferreiroquando reencarna,é em Arapongaque se dá

..........................................Tééémm, tééémm, tééémmtééémm, tééémm, tééémmtééémm, tééémm, tééémm

27....

................................................

Urubu no avôocontabiliza o desesforço

...................................

29....

Pare!

Não vire a página!

Obs: Não leia a não ser seguindo, estritamente, os seguintes passos: 1 – Levante-se se estiver sentado ou deitado 2 – Você vai andar em círculos 3 – Cada vez que seu pé direito tocar o chão faça Bum! (ou Bam!) forte 4 – Começe!

Bum bum bambam Bam baamm baaaammmmbuummm BUummm buuummmbumbummMbammbAammbumm BAmm

.....faça o quanto quiser!.....bummmbammMbBammmm bbuuuummmBum bum bambam bam baamm baaaammmm

31....31....

Imagine o sentimento das avesem vôo nos campos de

tiro ao pássaro

33....

Penso que Anum-pretonão se esforçou muitono aprendizado do voar,vai tímido e desequilibradofazendo actuííííínnho, actuííííínnho..........................................................

como que ojerizando o esforço.......................................................prefere ir pulandoao lado do pastejar mugidodas vacas

35....

Já Curióé nato brasileiro:canta moreno,ente prenhe de cantos......................................................... o cachoeira-abaixo, por exemplo, canto cachoeira alonga o espaço... desapressa o tempo.........................................................e é como convémaos ares mornos desta Bahia tropical

37....

Siriemadá um galope nas pernas ossudasque até cobra de peçonha renega,arregala a goelae estala o grito estridentetuuuulííííí, tuuuulííííí, tuuuulííííí, tuu...tuuuulííííí, tuuuulííííí, tuuuulííííí, tuu............................................................

a vaganteparece que engoliuflauta rouca bitonal

39....

Gavião(e os entes da família)

Pode que tenham outros,mas para mim,Gavião descompreendeu a rota:

PrimeirPrimeirPrimeirPrimeirPrimeirooooo: porque não canta!(que não se pode chamar aquilo de canto)

SegundoSegundoSegundoSegundoSegundo: costuma ficar parado no céu!(o que deve ter aprendido de arremedar Beija-flor)

TTTTTerererererceirceirceirceirceirooooo: isso de comer passarim...

41....

Casal de Urubuem vôo plainadono azul sem fimnão ocupa apetrecho de comunicação,dispensa plano de vôo

43....

O canto é mudoo bico amareloas penas brancas...nunca vi de perto os olhosfitando semoventes dos brejos,mas hão de ter algo de azul mar e vermelho vivoalém de serem redondos,tem graçaáguaarvlapt, vlapt, vlapt.............................................

Garças.............................................

45....

Talvez fosse comume sem graçana percepção dos vegetais...............................................

mas para mimà tarde se desfaleciaao cantar de dois pássarosraros

...............................................

47....

Tem passarimque é difícil falar sobre...Chorão,

a exemplo, é arisco por demais...

para ver no habitat natural........................

huummm...........................só enganando ele na linguagem

49....

Vento fortedesavoa passarim

51....

Dia dessesvi uma Garçaabestalhando peixinhosnuma água rasa de meu pé

53....

Pássaro urbano

Tarde quente dos Ilhéusverão,milhares de linhasde programação no computador...

é quando, pela janela,um me racha ao meiocom seu canto agrestede caçador...................................................

fluiôôóóó... fluiôóóó...fluióóó... fluió... fluió...grêgrêgrê...

...................................................

55....

Outono

Elódeas agasalham pela superfícieaquele pequeno lagoimerso na mata até os pentelhos,palmeiras enfrutadas o rodeiamgradando formas e verdes.....................................................

Manada de Jacudigerindo frutinha da palmeira

.....................................................

Uáááqqq, UáááqqqGraauuuu, Graauuuu.....................................................penso na reinvenção do gênese

(de tardinha, em junho do outono,já invernando)

57....

Migrantes dos Gerais

Tesoura migrantede passagem por aquidesbunda

tanajura(e meus olhos, quase negros)

59....

Todo passarim detémum amargor de auroras

entre grades

61....

Novidades tecnológicas

Pescoço de Corujafoi ponto de partida para giroscópio

#

Já olho de Gavião,se bem observado,teria nos levado ao zoom ótico,muito antes

63....

Coruja anda fiscalizando a madrugadana cabeça daquele toco velho de porteira

... que não é mais ...nestas terras dos Gerais

65....

Saíras-de-sete-corespintam esta manhã fria,enquanto as magnólias da retaenfrutam

67....

Anum-branco só dá os aresda graçaé na longa distância.......................................... fliôôôuóóóó... fliôôôuóóóó... fliôôôuóóóó............................................. (já indo)

69....

Nada mais insensatoque reproduzir com símbolos alfabéticosa sonora linguagem dos pássaros

71....

Chao-baietaé lindo por demais,vermelho vivo, fogo, cintilante,raridade...é necessário ter olhosde ver

73....

Pica-pau há de nos ter inspiradoa enxó

75....

Make it new

Biguas prediletam bagres perplexosnaquele sarã

(homenagem ao Manoel de Barros)

77....

HárpiaGavião-realpostura de rei,2,5 prá 3 m de ponta a ponta nas asas,garras grossas de meus punhos...penacho branco na cabeça,não consigo descrever os olhos...(vi empalhado no Melo Leitão)...............................................................Por que as coisas bonitas desaparecem?

79....

Elegância na mataadvém de Macuco

81....

Existe ciência de maisem João-de-barro

83....

Bacurau nunca que decidea viagem:

amanhã eu vou...amanhã eu vou...amanhã eu vou...

85....

Nunca entendipor que Tiziu dá um pulinho para trás(como um rodopio ligeiro)no canto........................................................

Tititittiiiiii (pulinho) iiizziiiiuuuuuTititittiiiiiiii (rodopio) izziiiiuuuuuTititittiiiiiiiiiz (pulinho) ziiiiuuuuu

........................................................E vai incessante pela tarde...

#

herdou nomedo cantar

#

87....

Vôo nas alturas

De tanto contrair leveza do planar das avesnas alturasna paisagem rupestre em que nasci,assimilei, que não se sustentao insustentável

89....

GalinholasGalinhas-d’angolaarquitetam ninhoantes de baixar as ovas

(às escondidas)

.....................................tô fraco... tô fraco...tô fraco... tô fraco...tô fraco... tô fraco...

.....................................

91....

Arapongaensina o espaço de ser,é no gogó

...............TTÉÉÉÉÉÉééééémmmmmm...............

93....

Observando

índole de passarim é genética:Você chOcar ovo

chOcadeira elétricacriar bichiNho

nuncA ver outros...dia que soLtar

reprodUZ hábitosantepassados

95....

Penas cortadas

Se não foremarrancadas,as novasnão emergem.....................................

ausência de vôo.....................................

97....

Outro dia vi uma Araponga bateraté romper o horizonte............................................................................. devia era de ser uma forma de protesto.............................................................................

99....

Canto de Assanhaço....................................

água fresca na bica....................................

#

Creio estar me tornando mais entendedor de cantos,embora não saibaem que tomAssanhaço afina seu serrilhado

#

Canto de Assanhaço é mais espertoque “corida di furmula one”

(homenagem aos agricultores imigrantes Ítalos dasserras frias por onde vivi)

101....

O exato do mundocarece de asase de canto

103....

Às vezes sinto a falta de umque chamaria de Qualis.......................................

do tipo do Colhereiromas de cor carmim

.......................................nas barras dessasTerras do Sem Fim

105....

TuiaupapauTuiaupapauTuiaupapau..........................

olho a árvorede onde vem

..........................TuiaupapauTuiaupapauTuiaupapau...movimento pouco...vejo que é amarelo de asas pretas ... a cabeça também ...fito o olho..................................................................

amarelo intenso, ao redor da íris negra,ou o inverso, não distingo

..................................................................ninho de gravetosnuma árvore velhade bromélias num mundo à parte ... quisera ser ...

... prossigo,que vem chuva daquele infinitoao Norte.

107....

De se ver

Asa de borboleta desfalecida de sustoum Assanhaço afônico amarelo, numa manhã de solo primeiro ver de filhote de Beija-floro desencontro das águasjuiz de futebol apitando com pio de JacúPassarim d’asa aberta solicitando sol dia-de-chuvacriança errando às escondidas – em silêncio,um Trinca-ferro pardo harmonizando o gorjeio sem porquês

#

um borbulhar alegre de Garrinchano alpendre daquela fazenda velha

#

..........................essas coisas

..........................

109....

Pena água peixe ......................... origens .........................

111....

Coisa de ir

Piar de Harpia nas encostas Andinas

#

Migração de Tesourana primaverados Gerais

#

Sem-fimsustenindo o poente

113....

Felicidade

Meu conceitode felicidadeé tão simples,que não carece explicar.......................................

imagine umaAraponga,entre sinos,anunciando liberdade

.......................................

115....

Um velho amigo me disse- prazer de Maritaca no alto falante!

...fiquei todo que Cardeal,ai me veio............................................

Cotovias num lampejoAraponga entre bigornasPapagaio descabidoBacurau de partidaProcissão de Urubarevoada de Azulõesuma tarde de Goderossorriso de Andorinha

............................................sei lá,penso que combina

117....

Reminiscências

Aquele Assanhaço no ocaso do mamão.......................................

(para tia Edite).......................................

119....

Êxtase

Dois Goderose um Melro.....................

in concert.....................

121....

Se tentarem me rotularde poeta-dos-pássaros,já tenho respostana ponta do bico

Este livro foi impresso na gráfica daUniversidade Estadual de Santa Cruz - Ilhéus - Bahia

Equipe da Imprensa Universitária

Coordenação Gráfica: Luiz Henrique FariasFotomecânica: Cristovaldo Caitano

Impressão: Davi Lima MacedoAcabamento: Nivaldo Lisboa

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