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Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região
Poder Judiciário - Justiça do Trabalho
O documento a seguir foi juntado ao autos do processo de número 1000299-97.2014.5.02.0709
em 13/04/2016 17:39:15 e assinado por:
- ROBERTO TRIGUEIRO FONTES
16041317385380800000029165186
Consulte este documento em:https://pje.trtsp.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seamusando o código: 16041317385380800000029165186
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Belo Horizonte – Brasília – Campinas –Curitiba – Fortaleza – Manaus – Natal – Porto Alegre – Recife – Rio de Janeiro – Salvador – São Paulo
____________________________________________Rua Haddock Lobo,846, Torre “B” 13° andar
Jardins, São Paulo/SP - CEP 01.414-000Tel: 55 11 3555-0255 / Fax: 55 11 3555-0256
E-mail: saopaulo@trigueirofontes.com.br www.trigueirofontes.com.br TFA - 3177539v1
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da 9ª Vara do Trabalho de São Paulo – ZonaSul/SP
Reclamação Trabalhista nº 1000299-97.2014.5.02.0709
AVON INDUSTRIAL LTDA. (Recorrente), já devidamente qualificada nos
autos da Reclamação Trabalhista nº 1000299-97.2014.5.02.0709, em que litiga com José
Ronaldo Silva (Recorrido), vem, por seus advogados, respeitosamente à presença de
V.Exa., com fulcro no inciso II do artigo 893 e alínea “a” do artigo 895 da Consolidação das
Leis do Trabalho, interpor, tempestivamente,
RECURSO ORDINÁRIO
consoante as razões em anexo, requerendo, depois de cumpridas as formalidades legais, sua
remessa ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.
Nesses termos,pede deferimento.
São Paulo/SP, 13 de abril de 2016.
Roberto Trigueiro FontesOAB/SP 244.463
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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
MEMORIAL DE RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO
Colenda Turma,
I.- DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
1.- A r. sentença foi publicada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho em
05.04.2016 (terça-feira). Assim, o prazo para a interposição de eventual recurso teve inicio em
06.04.2016 (quarta-feira), com termo final em 13.04.2016 (quarta-feira).
2.- Dessa forma, protocolizado o presente recurso ordinário nesta data, 13.04.2016
(quarta-feira), flagrante é a sua tempestividade.
3.- Além disso, a Recorrente efetuou tempestivamente o pagamento do respectivo
depósito recursal, no valor de R$ 8.183,06 (oito mil cento e oitenta e três reais e seis centavos)
e das custas processuais, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), conforme guias GFIP e
GRU anexas.
Pela Recorrente AVON INDUSTRIAL LTDA.(Recorrente), nos autos da ReclamaçãoTrabalhista nº 1000299-97.2014.5.02.0709,de procedência da 9ª Vara do Trabalho deSão Paulo – Zona Sul/SP, tendo comoRecorrido Jose Ronaldo Silva (Recorrido).
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4.- Preenchido está também o requisito da regularidade de representação, tendo em
vista que o presente recurso encontra-se subscrito por advogado devidamente habilitado nos
autos.
5.- Logo, uma vez atendidos todos os pressupostos de admissibilidade do recurso
ordinário, este haverá de ser conhecido e regularmente processado perante uma das Turmas
desse E. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.
II.- DAS RAZÕES DE REFORMA PARCIAL DA R. SENTENÇA
a) Da prescrição do direito a reparação civil - inteligência do art. 206, parágrafo3º, inciso v, do Código Civil
6.- Com efeito, de acordo com o art. 177 do Código Civil de 1916, a pretensão de
reparação civil prescrevia em vinte anos. Com a edição do novo Código, o prazo foi reduzido
para três anos (art. 206, § 3º, V), devendo ser observada, entretanto, a regra de transição
prevista no art. 2.028.
7.- Nesse contexto, para as lesões a direito ocorridas até 10.01.1993, o prazo
prescricional é de vinte anos; para as ocorridas após essa data, o prazo é de três anos,
contado da data da edição da Nova Lei Civil. Assim, tal prazo prescricional teria vencimento no
dia 11.01.2006.
8.- Neste passo, o Recorrido esclareceu em sua exordial e documentos ter sofrido
acidente em 03.05.2002, 28.06.2002 e 10.07.2003, tendo, por conseguinte, o nascimento das
supostas violações naquelas datas. Ainda, os males psiquiátricos, segundo os documentos
juntados pelo próprio Recorrido, se iniciaram no ano de 2007 e se consolidaram em 2008, ou
seja, a ação foi proposta sem observância das datas acima arguidas.
9.- Ao apreciar a preliminar de prescrição argüida pela Recorrente em contestação,
o D. Juízo afirmou, no que pertine aos pedidos relacionados à doença mental de que sofre o
Recorrido, que:
“(...) Necessário ressaltar que, apesar de haver alguns atestados médicos nesse sentido apartir de 2008, todos eles indicam a necessidade de acompanhamento, não definindo
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os limites da incapacidade. O primeiro documento conclusivo nesse sentido foi oatestado de saúde ocupacional datado de 15.08.2011 (id. c51a99e), relatando aincapacidade total, indefinida e oniprofissional”
10.- Ocorre que toda a farta documentação médica juntada pelo próprio Recorrido
demonstra que já havia ciência inequívoca da doença e da sua gravidade, muito antes de
15.08.2011, o que afasta este marco prescricional estabelecido pelo D. Juízo.
11.- O documento id. 28cca3f, datado de 15.02.2008, já informa que o Recorrido não
conseguia discriminar realidade da “fantasia” tendo pensamentos negativos e alteração de
humor”. O atestado constante do id. 3b75cee traz a informação de que o Recorrido “apresenta
quadro depressivo grave e diz ouvir vozes/surtos delirantes que o impelem a ideia suicidas”.
12.- São diversos documentos médicos, todos datados de 2008, que já concluem
pela ausência total de condições de trabalho do Recorrido. A gravidade dos problemas
psíquicos e ausência de condições laborais já era portanto sabida desde o ano de 2008, ao
contrário do quanto aduzido na r. sentença. O marco prescricional, deste modo, foi
equivocadamente estabelecido na decisão de primeira instância, sendo certo que deveria ser
fixado a partir dos exames médicos realizados no ano de 2008, que levaram ao conhecimento
inequívoco da gravidade da doença e incapacidade laborativa do Recorrido.
13.- Portanto, tratando-se o pleito de reparação de natureza civil, porém avocada
para competência desta Justiça Especializada por força da Emenda Constitucional nº 45, e
considerando-se o teor do art. 206, parágrafo 3º, do Código Civil, decorrido o prazo de três
anos após o evento, prescrito se encontra o direito do Recorrido no que tange à espécie,
requerendo-se, via de consequência, a reforma da r. sentença para declaração da extinção do
feito com julgamento do mérito, com fulcro no art. 269, inciso IV, do Código Processo Civil, para
o pleito de todas as indenizações declinadas nas preambular.
b) Da inexistência de doença profissional. Da inocorrência de nexo decausalidade. Da ausência de responsabilidade objetiva
14.- Caso não seja acolhida a preliminar de prescrição total do direito de ação no que
tange aos pedidos de reparação civil em face da doença do Recorrido, por cautela a
Recorrente enfrenta o mérito do caso.
15.- O Douto Magistrado de primeiro grau, ao proferir a r. sentença, acolheu asfundamentações consubstanciadas no laudo pericial que reconheceu a responsabilidade da
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Recorrente pela patologia do Recorrido em razão das atividades laborais desempenhadas,
condenando esta empresa ao pagamento de indenização por danos morais no montante de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais), reintegração ao trabalho, salários da data da dispensa até a
data da efetiva reintegração e pensão mensal vitalícia no valor de 100% do salário do
Reclamante até os 70 anos de idade, em parcela única.
16.- Todavia, conforme apontado quando da impugnação do laudo pericial, tal meio
de prova não logrou êxito em definir que o Recorrido possui limitações laborais permanentes e
limitadoras, por culpa da Recorrente.
17.- Isso porque o Recorrido alegou que em 03/05/2002 trabalhava em Box, lavando
vasilhas e que, por descuido próprio, caiu óleo mineral quente nas pernas e pés, ocasionando
queimadura de 2º grau.
18.- Ora, conforme própria alegação do Recorrido, o acidente decorreu de
imprudência, gerando ato inseguro.
19.- Quanto aos ATOS INSEGUROS, definem-se como aqueles que decorrem de
falhas humanas, à revelia de todas as ordens de serviço emanadas pelo empregador e das
condições de segurança no trabalho, independendo de controle/eliminação das condições
inseguras, e são inerentes ao ser humano.
20.- De acordo com o Professor Doutor Leonídio Francisco Ribeiro Filho , ex-Diretor
da Divisão de Segurança do Trabalho da FUNDACENTRO e atual Fiscal da SSST do MTe, as
fls 105 do 1o tomo do seu livro "Curso para Engenheiros de Segurança do Trabalho":
"Ato Inseguro é a maneira pela qual o trabalhador se expõe consciente ouinconscientemente a riscos de acidente. Em outras palavras é o tipo decomportamento que leva ao acidente. Vemos que se trata de uma violação de
um procedimento consagrado, violação essa responsável pelo acidente."
21.- Ademais, o Recorrido alegou que em 10/07/2003, por descuido na limpeza de
um tacho para batons, POR NÃO TER COLOCADO O CONTRAPESO, teve a mão prensada.
22.- Ora, novamente evidencia-se imprudência do Recorrido, levando a ato inseguro
e decorrendo acidente por não seguir o procedimento correto.
23.- Em 28/06/2002, o Recorrido asseverou que uma hélice de exaustor caiu e que,por causa do barulho, SALTOU DA ESCADA, SOFRENDO QUEDA DE ALGUNS LANCES.
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24.- Com relação a tal acidente, cumpre reiterar que a Recorrente o desconhece
dentro de suas instalações, conforme já exposto na defesa.
25.- Ainda que assim não fosse, o Recorrido, quando da realização da pericia,
evidencia que teria agido forma imprudente, ocasionando a própria queda.
26.- Ressalta-se, ainda, que pesquisas demonstram de fato um Processo
Degenerativo (Artrose acrômio-clavicular) que com a idade desencadeiam um processo
patológico nos músculo dos ombros, que segundo Neer (1990) se instalam no ombro em torno
de 25 anos de idade. Neer classificou as lesões dos músculos do ombro em três estágios:
I = edema e hemorragia, idade típica < 25 anos;II =fibrose e tendinite, idade típica entre 25 e 40 anos;III = osteófitos e ruptura tendinosa, idade típica > 40 anos.
27.- Assim, de acordo com a lei 8213/91, em seu artigo 20, parágrafo 1º, não se pode
considerar como doença do trabalho a doença degenerativa.
28.- Por tais razões, em que pese a incidência da prescrição com relação a qualquer
suposta sequela ou dano decorrente de tais situações, está evidente que estas não ocorreram
por qualquer espécie de culpa da Recorrente.
29.- Por fim, sobre a doença psíquica do Recorrido, considerada pelo D. Juízo para
efeito de análise dos danos morais e materiais pretendidos na inicial, conforme relatório
psiquiátrico de 04/05/2010, evidencia-se pelo medico assistente a natureza orgânica de sua
patologia, cursando, inclusive com risco de vida.
30.- Destaca-se que não foi evidenciado relação laboral em tal relatório.
31.- Posteriormente, em relatório de 24/01/2014, verificou-se o tratamento por
ESQUIZOFRENIA. Tal patologia, contudo, não cursa com causa laboral.
32.- Ora, Nobres Julgadores, a medicina atual prepondera a natureza
MULTIFATORIAL DA ORIGEM DAS DOENÇAS, ou seja, a grande maioria das patologias
advém de uma complexa combinação de fatores genéticos/ hereditários/ constitucionais, de
envelhecimento, ocupacionais, iatrogênicos, ambientais, culturais, emocionais, etc. O próprio
viver, em suas infinitas nuances, acarreta riscos e desgastes a saúde.
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33.- Assim, não se pode concluir por qualquer causa laboral para contribuir com os
males do Recorrido.
34.- O laudo pericial não se sustenta, até mesmo porque ficou evidenciado que as
queixas psiquiátricas se deram por motivos alheios ao labor do Recorrido.
35.- Por todo o exposto, observa-se que o laudo técnico não apontou os fatores que
teriam levado ao entendimento de existência do nexo de concausalidade.
36.- Imperioso, ainda, destacar que o Douto Juízo, ao reconhecer a existência de
doença laboral, também se baseou no fato de que houve afastamento previdenciário do
Recorrido.
37.- Ocorre que o afastamento previdenciário, por si só, não tem o condão de
configurar a existência de doença ocupacional. O encaminhamento trata-se de obrigação de
fazer do empregador e não de reconhecimento de culpa ou de presunção de existência de
nexo causal entre as atividades realizadas e a doença.
38.- Nesse sentido é a jurisprudência:
DOENÇA DO TRABALHO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO NEXO DECAUSALIDADE. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Amera emissão de CAT (comunicação de acidente de trabalho) nãosignifica o reconhecimento de nexo de causalidade, por se tratar deexigência legal a ser cumprida pelo empregador, em face da suspeita dediagnóstico de doença ocupacional, nos moldes do art. 169 da CLT.Assim, o empregador não reconhece, com o cumprimento do quanto lhe éimposto pela norma, eventual relação de causalidade entre a doença e otrabalho realizado em seu proveito. Portanto, no presente caso, para adiscussão sobre a existência ou não de nexo de causalidade entre a doença deque foi portadora a reclamante e as condições de trabalho, afigura-se
imprescindível a realização de prova robusta para tanto, ônus do qual não sedesincumbiu a parte autora, a teor do disposto nos arts. 818 da CLT e 333, I,do CPC. A existência de problemas de saúde obreiras não autorizaa presunção de que sua origem seja ocupacional. Assim, não comprovada aexistência de nexo de causalidade entre a patologia desenvolvida e ascondições laborais, não se verifica a existência de ato ilícito a ser indenizado.Recurso da autora a que se nega provimento.1
(Grifos da Recorrente)
1 (TRT 9ª R.; Proc. 32629-2007-004-09-00-0; Ac. 43672-2011; Primeira Turma; Rel. Des. UbirajaraCarlos Mendes; DJPR 08/11/2011)
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39.- Ainda, o fato de o Recorrido ter recebido benefício previdenciário não pode
dispensar a vistoria do local de trabalho pelo Perito judicial, uma vez que o órgão previdenciário
concede referido benefício com base em mera presunção, o que não pode ocorrer com uma
decisão judicial.
40.- Com efeito, a existência deste tipo de benefício não isenta o Recorrido de
comprovar o nexo causal entre sua doença e seu trabalho, o que não se pode dizer que
ocorreu nestes autos, diante da fragilidade do laudo produzido com base unicamente no
depoimento do Recorrido e em conclusões contraditórias.
41.- Nesse aspecto, cumpre esclarecer que a Recorrente sempre cuidou de seus
empregados, fornecendo treinamentos para melhorar os procedimentos internos, inclusive com
observância de ergonomia e efetiva fiscalização de técnico de segurança do trabalho.
42.- Ainda que se pudesse entender que as atividades do Recorrido na Recorrente
foram concausa para a doença, não foi comprovado que houve culpa ou dolo da empresa para
o agravamento da patologia, de forma que esta empresa não pode ser condenada nos termos
da r. sentença, a teor do que preconiza o artigo 7º, XXVIII, da CF/88.
43.- Nesse sentido, vale transcrever o julgado:
Danos morais. Doença pré-existente. A figura da concausa, por si só, nãohabita o reconhecimento de doença do trabalho. A prova documental, nomais, afastou a alegada atitude culposa, ou mesmo dolosa, de parte daempresa, pelo que indevida a indenização perseguida. 2
(Grifos da Recorrente)
44.- Ademais, em relação às condições de trabalho, a Recorrente propicia a todos os
seus empregados ambiente salutar, harmônico, na mais estrita observância das Normas de
Higiene, Segurança e Medicina do Trabalho. O que não pode ser observado pelo i. PeritoJudicial que deixou de realizar a perícia no local de trabalho.
45.- Notem, Excelências, que a Recorrente cumpriu todas as medidas que estiveram
ao seu alcance para atender às necessidades e limitações do Recorrido, de forma que não é
plausível a condenação em indenizações por danos morais, materiais e estabilitária como se
nada tivesse sido feito para prezar pela higidez do ambiente de trabalho, eis que inexistiu ação
ou omissão ensejadora de reparação por parte da Recorrente.
2 (TRT/SP - 00440003220055020066 (00440200506602000) - RO - Ac. 17ªT 20110016100 - Rel.SERGIO J. B. JUNQUEIRA MACHADO - DOE 18/01/2011)
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46.- Sobre a doença psiquiátrica do Recorrido, para efeito tão-somente ilustrativo, a
Recorrente esclarece que a “Depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo”
consiste em doença de caráter multifatorial, podendo ser desenvolvidas diante traumas
pessoais, estresse com problemas particulares, dentre outros muitos fatores.
47.- Conforme restou comprovado, a Recorrente jamais impediu que o Recorrido
gozasse dos devidos auxílios previdenciários, bem como jamais o submeteu a jornada de
trabalho excessiva que pudesse lhe ensejar algum dano.
48.- Aliás, importante ressaltar que o Recorrido ficou muito abalado quando teve a
notícia do diagnóstico de sua filha como autista. Nessa ocasião a Recorrente também buscou
ampará-lo, dando todo suporte a ele e sua família, tendo inclusive concedido um auxílio para a
educação de sua filha.
49.- Sobre a relação de concausa estabelecido no laudo e adotada na r. sentença,
ressalta a Recorrente que a ansiedade no trabalho e eventual dúvida ou sobressalto quanto ao
futuro profissional atinge quase todas as pessoas em idade produtiva. Isso não significa
necessariamente que o ambiente laboral é hostil ou prejudicial de alguma forma. Trata-se de
fato da vida cotidiana, que somado a tantos outros de cunho pessoal e subjetivo, podem atingir
o psíquico das pessoas. São simplesmente fatos da vida.
50.- As doenças de origem psicológica são complexas e podem possuir diversos
fatores desencadeantes. No caso dos autos, não há sequer indício de nexo com o trabalho
realizado pelo Recorrido, valendo ressaltar que os documentos médicos por ele trazidos em
nenhum momento fazem este liame causal.
51.- Ademais, da análise do laudo médico judicial, realizado após decorrido maisde 02 (anos) da dispensa do Recorrido, consta inclusive que o mesmo possui alterações de
humor e agressividade, fala sozinho, às vezes houve vozes que o mandam fazer
procedimentos como subir no telhado e ouve a voz do avô falecido. Tentou suicídio por três
vezes, ao se jogar de um telhado, após o uso de medicamentos errados, e já foi internado duas
vezes por problemas psiquiátricos.
52.- Assim sendo, como o quadro acima poderia ser decorrente do labor na
Recorrente, se o Recorrido já estava desligado há mais de 2 anos da AVON? Se o
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trabalho na Recorrente fosse o responsável por agravar os distúrbios psiquiátricos do
Recorrido, tal lapso de tempo afastado do trabalho teria contribuído para melhorar o seu
quadro, mas não foi isso que ocorreu.
53.- Conforme o próprio laudo pericial médico afirma, o surgimento da esquizofreniapode ser súbito, em dias ou semanas, ou lento e insidioso, ao longo de anos. Assim,
estabelecer que a Recorrente agiu com culpa no agravamento da doença é no mínimo frágil.
54.- Sublinhe-se que o parecer médico concluiu que o trabalho apenas foi
considerado como fator agravante, ou seja, tendo em vista o histórico psicológico do
Recorrido, qualquer que fosse o trabalho realizado na Recorrente ou em qualquer outra
empresa, ocasionaria o agravamento dos distúrbios referidos.
55.- O fato é que, V.Exas., em momento algum o laudo pericial médico concluiu que
o labor na Recorrente é que foi o causador dos distúrbios psicológicos que acometem o
Recorrido.
56.- O diagnóstico da patologia da qual o Recorrido está acometido jamais poderá
ser considerado isoladamente, porquanto, de acordo com a melhor doutrina médica, existem
inúmeros outros fatores de risco que podem desencadeá-las, conforme acima descrito.
57.- Insta esclarecer que no presente caso deve ser adotada a teoria da
responsabilidade subjetiva (artigo 7º, inciso XXVIII da Constituição Federal), ou seja, para
haver a responsabilização pelo acidente/doença, é necessário apurar a existência do elemento
“culpa”. Não há que falar em responsabilidade objetiva, como aferido na r. sentença, porque a
atividade do Recorrido na Recorrente não se insere no conceito de risco preconizado no
parágrafo único do art. 927 do Código Civil.
58.- O parágrafo único do artigo 927 do Código Civil Brasileiro apenas possibilitou a
aplicabilidade da responsabilidade objetiva em duas situações: (i) nos casos especificados por
lei e (ii) se a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
59.- Todavia, nenhuma destas situações se verifica nos presentes autos, o que
impossibilita a aplicação da pretendida responsabilidade objetiva.
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60.- Assim, tendo-se por base a teoria da responsabilidade subjetiva, ancorada na
presença da culpa, não há como atribuir-se nexo causal e responsabilidade da Recorrente.
61.- Logo, a Recorrente pugna pela reforma da r. sentença no sentido de afastar o
reconhecimento da doença ocupacional, a determinação de reintegração no emprego e
responsabilidade da Recorrente pelo pagamento de salários vencidos e vincendos,
recolhimentos fundiários do período e indenização por danos morais e materiais, uma vez que
não é a hipótese dos autos, principalmente considerando o histórico do Recorrido e a
contrariedade na conclusão da prova técnica.
c) Da indenização por dano material
62.- Não agiu com o devido acerto o D. Juízo de origem ao deferir ao Recorridopensão mensal vitalícia, no montante correspondente a 100% das parcelas salariais do Autor
a contar de 15.08.2011 até que venha completar 70 anos de idade, em parcela única.
63.- Ressalta-se, de início, que o termo final da pensão mensal deve ser reformado,
posto que o pedido da exordial é expresso: “até o limite de obtenção de benefício de
aposentadoria por invalidez ou por tempo de contribuição”.
64.- Ou seja, o próprio Reclamante na exordial pleiteia o deferimento de pensãomensal até a obtenção da aposentadoria por invalidez ou por tempo de contribuição. Logo, a r.
sentença extrapolou os limites da lide, impondo-se sua adequação ao que efetivamente foi
postulado.
65.- Esse é o entendimento pacífico dos tribunais trabalhista sobre o tema:
JULGAMENTO ULTRA PETITA. OCORRÊNCIA.O excesso contido na sentença, configurando o julgamento ultra petita,deve ser extirpado no julgamento do recurso.3
JULGAMENTO "ULTRA PETITA".A sentença deferiu além da pretensão inicial, de modo que se impõeafastar a condenação correspondente.4
3 RO 00021779220115010261 RJ Relator(a): Angela Fiorencio Soares da Cunha Julgamento:08/09/2015 Órgão Julgador: Quarta Turma Publicação: 24/09/2015.4
RO 00004701220135020255 SP 00004701220135020255 A28 Relator(a): ÁLVARO ALVES NÔGAJulgamento: 28/05/2015 Órgão Julgador: 17ª TURMA Publicação: 03/06/2015 Parte(s):RECORRENTE(S): Wilson Sons Logistica LTDA RECORRIDO(S): Edimario Araujo Vieira.
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66.- Assim, forçoso concluir que caso o Recorrido seja aposentado por invalidez será
cessado o pagamento da pensão mensal vitalícia, o que desde já se requer.
67.- Caso não haja deferimento da aposentadoria por invalidez ao reclamante, certo
é que a pensão mensal deverá ser limitada até que o Recorrido complete 65 anos de
idade – conforme pedido constante na inicial, sob pena de afronta ao artigo 48 da Lei nº
8.213/91 bem como ao artigo 201, parágrafo 7º, inciso I, da CF, que assim dispõem:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida acarência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, sehomem, e 60 (sessenta), se mulher.
Artigo 201. (...)§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos
termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pelaEmenda Constitucional nº 20, de 1998).I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição,se mulher.
68.- Ademais, vale ressaltar novamente que a existência de ação ou omissão dolosa
ou culposa da Recorrente não se presume, não podendo se presumir, também, a ocorrência de
dano material indenizável no presente caso.
69.- Dessa forma, não se sustenta a condenação da Recorrente ao pagamento deindenização por danos materiais, tomando por base a incapacidade laborativa total e
permanente fixada no laudo pericial, se o Recorrido permanecerá afastado do trabalho
recebendo auxílio previdenciário, como foi a determinação do D. Juízo.
70.- A indenização a título de dano material decorrente de acidente de trabalho ou
doença ocupacional engloba o dano emergente, o lucro cessante e pensão proporcional à
importância do trabalho para o qual se inabilitou o trabalhador ou à depreciação que sofreu, no
caso de redução material do valor que recebia mensalmente.
71.- Com efeito, em face de determinação judicial, o Recorrido já se encontra
reintegrado, conforme noticiado pela Recorrente nos autos antes da prolação da r. sentença.
Assim, o Recorrido não esta desamparado, sem auferir remuneração.
72.- Pelo exposto, deverá ser reformada a r. sentença, para excluir da condenação a
indenização em pensão mensal vitalícia, no montante correspondente a 100% das parcelas
salariais do Autor, inclusive com 13º salário, a contar de 15.08.2011 até que venha completar
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70 anos de idade, em parcela única, ou, sucessivamente o percentual de 100% da
remuneração a título de pensão o mensal seja reduzido, considerando que a Recorrente não
foi responsável pelo surgimento da doença do Recorrido e a relação de causalidade se
estabeleceu por concausa. Assim, o mais justo seria a fixação do percentual da pensão
levando-se em conta a intensidade da culpa, já que diversos outros fatores contribuíram para o
atual estado psíquico do Recorrido.
73.- Ainda, caso mantida a condenação, requer a Recorrente que o pagamento da
pensão mensal seja cessado quando da efetivação da aposentadoria por invalidez do
reclamante, e, caso esta não ocorra, limitada até que o Recorrido complete 65 anos de
idade – conforme pedido constante na inicial e conforme artigo 620 do CPC e 769 da CLT, que
determinam que a execução deve ser processada da forma menos gravosa possível para o
devedor.
d) Da indenização por dano moral
74.- A r. sentença condenou a Recorrente ao pagamento de indenização por danos
morais no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), considerando que as atividades
desenvolvidas na Recorrente teriam contribuído para o agravamento da patologia do
Recorrido. O D. Juízo a quo considerou, para efeito de condenação, a ocorrência de
concausa com relação à doença psiquiátrica desenvolvida.
75.- Todavia, não merece prosperar a r. sentença, pois não há nenhuma evidência de
ato praticado com dolo ou culpa pelo empregador, no caso a Recorrente.
76.- Cumpre salientar que, para o Recorrido auferir indenização por dano moral, faz-
se necessário que este comprove a ocorrência de ato ilícito praticado pelo agente. A
condenação ao pagamento de indenização por dano moral exige a prova inequívoca da
conduta ilícita, do nexo causal e do resultado (prejuízo efetivo caracterizado por sofrimento e
lesão à honra, à vida privada, à intimidade ou à imagem).
77.- Ainda, não há como se imputar à Recorrente o acometimento de tais doenças
no Recorrido, mormente considerando todos os aspectos que podem ter contribuído com o
surgimento destas.
78.- Cabe à Recorrente reiterar tudo o quanto já aduzido nos autos, no sentido de
que as patologias apresentadas podem ter diversas causas que vão muito além das laborais.
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79.- Deve ainda ser observado por essa C. Turma que outro elemento necessário
para a imputação de responsabilidade civil é a existência de culpa do agente, o que não se
vislumbra no presente caso.
80.- Como já ressaltado, as doenças de origem psicológica são complexas e podem
possuir diversos fatores desencadeantes. No caso dos autos, o Perito entendeu que houve
concausa, ou seja, a atividade laboral na empresa não causou os problemas
psiquiátricos do Recorrido, tendo apenas contribuído para o seu agravamento, junto
com diversos outros fatores paralelos e externos.
81.- No Direito Brasileiro a responsabilidade civil é subjetiva e está escorada na
teoria da culpa, por meio dos artigos 186 e 927, do Código Civil. Para que se materialize o
direito à indenização é necessária a presença concomitante de três elementos: (i) a prática de
ato ilícito; (ii) a ocorrência de violação de direito, ou prejuízo a outrem e (iii) a existência de
nexo de causalidade entre o ato ilícito e a violação de direito, ou prejuízo a outrem.
82.- Como já sustentado anteriormente, no presente caso não se pode conceber a
aplicação da responsabilidade objetiva, equivocadamente adotada na r. sentença.
83.- O entendimento jurisprudencial cristalizado perante os Tribunais Pátrios é o de
que somente se admite indenizações por danos morais em casos notórios, evidentes e
incontestes, sobre os quais não paire qualquer dúvida:
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - AUSÊNCIA DE PROVA ROBUSTA -Não havendo o obreiro se desincumbido do ônus de provar a efetiva condutapatronal ofensiva à sua reputação, dignidade ou decoro, indevida se mostra apretendida indenização por danos morais.5
(Grifos da Recorrente)
84.- Para viabilizar a procedência de ação de ressarcimento de prejuízos, a prova da
existência da culpa é pressuposto essencial e indispensável.
85.- Assim, tendo em vista a natureza do nexo causal estabelecido - concausa -, e a
natureza da doença (psiquiátrica), não se pode perquirir a culpa da Recorrente a ponto de
5 Processo: RO 780200710122007 PI 00780-2007-101-22-00-7 -Relator(a): LIANA FERRAZ DECARVALHO - Julgamento: 15/07/2008 - Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA - Publicação: DJT/PI,Página 00, 14/8/2008
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sustentar condenação em danos morais, merecendo reforma a r. sentença para excluir a
condenação imposta.
e) Dos critérios para fixação da indenização por danos morais e materiais.
Violação dos princípio da razoabilidade e proporcionalidade. Condenação emvalor exorbitante
86.- Caso sejam ultrapassados todos os argumentos acima trazidos pela Recorrente
e esse E. Tribunal Regional entenda pela manutenção da r. sentença, deve-se salientar que a
reparação deve-se dar dentro do razoável, não se convertendo em fonte de enriquecimento,
cabendo a esse E. Tribunal Regional, no quadro de várias situações concretas, apreciar com
prudência os fatos. Há que se considerar não só a extensão e a gravidade do dano, como
também o grau de culpa do agente e todas as demais circunstâncias que cercam o fato.
87.- Entende a Recorrente que, ao deferir o pagamento de indenização por dano
moral no importe de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) e por dano material no importe de
100% do salário do Autor, em parcela única, o D. Juízo a quo se esquivou de tais parâmetros.
88.- Para tanto, é necessário se observar o princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade. No caso em apreço, a condenação da Recorrente nesta monta mostra-
se exorbitante, ainda mais se for levado em consideração o salário do Recorrido e
demais elementos dos autos.
89.- É notório que o arbitramento de possível indenização configura-se questão difícil
e abstrata para o julgador, posto inexistirem parâmetros fixos a serem utilizados. Porém, sob
pena de vir a configurar-se verdadeiro enriquecimento ilícito e sem causa, no presente caso
devem ser utilizados sensatos parâmetros, considerando-se as reais circunstâncias do eventual
fato.
90.- O E. Tribunal Superior do Trabalho já vem preconizando há muito tempo a
necessidade de observância dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, diante do
artigo 944 do Código Civil e 5º, inciso V, da Constituição Federal, de modo que as indenizações
deferidas pelo Judiciário não ganhem contornos de “prêmios de loteria”, a saber:
DANO MORAL. ARBITRAMENTO. "QUANTUM" INDENIZATÓRIO. Noordenamento jurídico pátrio não existe fórmula objetiva para estabelecer o valorda indenização por lesão extrapatrimonial cabendo ao magistrado arbitrar o"quantum" da reparação da dor moral com razoabilidade e equidade, de acordocom as circunstâncias do caso concreto e levando em consideração a extensãodo dano, o grau de culpa do ofensor, a capacidade econômica das partes e o
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caráter compensatório da indenização para a vítima e pedagógico para oagressor, sendo o respectivo valor suficiente para desencorajar este àreincidência e não acarretar enriquecimento sem causa daquela.6
91.- Portanto, não resta dúvida de que as indenizações deferidas pelo D. Juízo a quo
desatendem a tais princípios, violando flagrantemente o artigo 5º, incisos V e X, daConstituição Federal, e 944 do Código Civil, razão pela qual precisam ser minoradas por essa
C. Turma.
92.- Ora, o próprio juízo a quo reconheceu a responsabilidade da Recorrente em face
da doença psíquica do Recorrido no plano da concausa. Ou seja, não foi a Recorrente que
causou a doença do Recorrido, a partir de ato ilícito, mas sim concorreu, juntamente com
outros fatores, para o agravamento de uma doença que certamente surgiria de qualquer modo.
93.- Isso porque a “Depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo”
consiste em doença de caráter multifatorial, podendo ser desenvolvidas diante dos fatores mais
diversos. Conforme o próprio laudo pericial médico afirma, o surgimento da esquizofrenia pode
ser súbito, em dias ou semanas, ou lento e insidioso, ao longo de anos.
94.- As doenças de origem psicológica são complexas e podem possuir diversos
fatores desencadeantes. No laudo médico judicial produzido nos autos consta que o Recorrido
possui alterações de humor e agressividade, fala sozinho, às vezes houve vozes que o
mandam fazer procedimentos como subir no telhado e ouve a voz do avô falecido. Tentou
suicídio por três vezes, ao se jogar de um telhado, após o uso de medicamentos errados, e já
foi internado duas vezes por problemas psiquiátricos.
95.- Tais conclusões periciais foram produzidas dois anos depois quando o
Recorrido já não mais tinha contato com a Recorrente, ou seja, o afastamento do
ambiente laboral não contribuiu para melhorar o seu quadro, o que seria esperado diante
da conclusão de que o labor na empresa teria agravado a doença do Recorrido.
96.- A Recorrente ressalta tais aspectos para demonstrar que a sua atribuição de
culpa no agravamento da doença do Recorrido é no mínimo frágil, o que deve influenciar
diretamente no arbitramento da indenização por danos morais e materiais.
6 (TRT-14 - RO: 207 RO 0000207, Relator: DESEMBARGADOR ILSON ALVES PEQUENO JUNIOR,Data de Julgamento: 14/09/2011, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DETRT14 n.172, de15/09/2011)
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97.- Ora, no arbitramento de uma indenização deve considerar-se a intensidade da
culpa do agente. No caso dos autos estabeleceu-se o nexo causal apenas por concausa. É
incontroverso que a Recorrente não foi responsável pelo surgimento da doença do Recorrido.
98.- No caso em apreço o D. Juízo fixou condenação milionária ao Recorrido,
totalmente desproporcional em relação ao grau de culpa reconhecido nos autos, levando em
consideração tão somente o capital social da empresa!
99.- As peculiaridades do caso concreto não foram observadas no arbitramento da
condenação.
100.- A Recorrente sensibiliza-se com a doença do Recorrido e o seu atual estado,
contudo, não pode ser condenada em valores tão elevados quando não foi a causadora dos
infortúnios do Autor.
101.- Com efeito, a reintegração ao emprego foi efetivamente realizada e o
Recorrido estará amparado ou por benefício previdenciário ou pelo salário pago pela
Recorrente. Além disso, a Recorrente foi condenada no pagamento de pensão mensal
vitalícia, no valor integral do salário do Recorrido, em parcela única, e mais danos
morais no valor de R$ 500.000.00 (quinhentos mil reais).
102.- Os patamares das indenizações são exorbitantes e desproporcionais. O fato da
Recorrente ser uma multinacional de grande porte e capital social elevado não pode ser
justificativa para o enriquecimento injusto do Recorrido. Até porque, a Recorrente emprega
milhares de pessoas em todo o país.
103.- A natureza sancionadora não pode justificar, a título de supostamente aplicar-se
uma “punição exemplar”, que o acionante veja a indenização como um ”prêmio de loteria”, “baúda felicidade” ou “poupança compulsória” obtida às custas do lesante (Rodolfo M. V. Pamplona
Filho, in Dano Moral e Justiça do Trabalho).
104.- A inobservância de recomendações de cautela no arbitramento de indenização
advinda de dano moral, somente desprestigia o Poder Judiciário Trabalhista, bem como
fomenta a “indústria do dano moral”, destinada ao enriquecimento injusto e sem causa, algo
condenável jurídica, ética e moralmente.
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105.- A jurisprudência pátria estabelece que a condenação em dano morais deve ser
fixada sempre com moderação, observando as peculiaridades do caso concreto e os princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo que o valor não seja tão grande, que se
constitua em fonte de enriquecimento sem causa, tampouco insignificante, a ponto de não
atender ao seu caráter punitivo:
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. VALOR ARBITRADO. REDUÇÃO.POSSIBILIDADE. REFORMA DA SENTENÇA. Considerando a conclusão doperito de que o trabalho atuou como concausa, reforma-se a sentença parareduzir o valor da indenização por danos morais para R$20.000,00. (vinte milreais). (TRT 20ª R.; RO 0000436-61.2014.5.20.0009; Primeira Turma; Rel.Des. Carlos de Menezes Faro Filho; DEJTSE 12/04/2016; Pág. 142)
DANOS MORAIS. DOENÇA OCUPACIONAL. NEXO DE CONCAUSALIDADE
COM A ATIVIDADE LABORAL. RESPONSABILIDADE DARECLAMADA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. Reconhecido o nexo deconcausalidade entre as condições de trabalho a que esteve submetido oreclamante no exercício de suas atividades junto à reclamada e as patologiasque o acometem, e tendo ainda sido constatada a responsabilidade daempregadora pelo infortúnio, merece reforma da sentença no sentido dodeferimento do pedido de indenização por danos morais, devendo o valor dareparação ser arbitrado em harmonia com o que estabelecem os princípios darazoabilidade e da proporcionalidade, observando-se ainda as particularidadesdo caso concreto. Recurso parcialmente provido. (TRT 13ª R.; RO 0130526-13.2014.5.13.0023; Segunda Turma; Rel. Des. Francisco de Assis Carvalhoe Silva; Julg. 06/04/2016; DEJTPB 12/04/2016; Pág. 60)
DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. Na determinaçãoda indenização por danos morais, deverá ser observado um critério derazoabilidade, considerando a intensidade da culpa, as circunstâncias em queocorreu o evento danoso e a extensão do dano impondo-se, assim, umapenalidade ao agente a fim de se reparar o dano e impedir a continuidade daprática do ato ilícito, levando-se em conta, ainda, o salário percebido peloempregado e o caráter pedagógico do valor da penalidade a ser aplicada, como fim de impedir a reiteração do ato ilícito que, no caso, é a omissão em adotaras medidas necessárias à proteção da saúde e integridade física dosempregados. Noutras palavras, a indenização por danos morais e materiaisdeve ser fixada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre commoderação, observando as peculiaridades do caso concreto e os princípios darazoabilidade e da proporcionalidade, de modo que o valor não seja tãogrande, que se constitua em fonte de enriquecimento sem causa, tampoucoinsignificante, a ponto de não atender ao seu caráter punitivo. (TRT 3ª R.; RO0001408-30.2014.5.03.0033; Rel. Des. Anemar Pereira Amaral; DJEMG11/04/2016)
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. FIXAÇÃO DOSVALORES. Em se tratando de reparação civil, a fixaçãodo quantum indenizatório deve buscar compensar os danos sofridos (o quenem sempre é possível), e, ao mesmo tempo, punir de maneira sensível oresponsável. Para se quantificar a indenização, é necessária a observância de
certos critérios, devendo o julgador se pautar pela razoabilidade, evitando, deum lado, um valor exagerado e exorbitante, a ponto de levar ao enriquecimento
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sem causa ou à especulação e de outro, um valor irrisório e desprezível, aponto de não cumprir sua função pedagógica e inibitória. (TRT 15ª R.; RO0000316-95.2010.5.15.0009; Rel. Des. Luiz Roberto Nunes; DEJTSP27/11/2015)
(grifos da Recorrente)
106.- Não se está defendendo aqui uma condenação irrisória, mas evidentemente que
a condenação fixada na sentença viola e muito os critérios da razoabilidade, proporcionalidade
e bom senso.
107.- Apenas a título ilustrativo, para que fique evidente a desproporção da
quantificação do valor da indenização por dano moral arbitrada na r. sentença, em casos muito
mais graves, em que ocorreu morte do empregado por culpa da empregador, os tribunais
pátrios têm decidido por valores muito inferiores ao presente:
(...)DANO MORAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. ACIDENTEDE TRABALHO. O contexto probatório traçado no acórdão recorrido evidenciaa conduta culposa da reclamada, a qual não comprovou ter tomado as medidasde segurança necessárias para evitar o acidente fatal que acometeu otrabalhador. O acidente consistiu no atropelamento do trabalhador poruma das máquinas da reclamada, causando a sua morte. Incólumes osartigos 186 e 927 do CC e 7º, XXVIII, da CF. Recurso de revista nãoconhecido. VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.O valor arbitrado a título de reparação por dano moral somente pode serrevisado na instância extraordinária nos casos em que vulneram ospreceitos de lei ou Constituição os quais emprestam caráter normativo aoprincípio da proporcionalidade. Considerando a moldura factual definidapelo Regional e insusceptível de revisão (Súmula nº 126 do TST),o valor atribuído. R$ 100.000,00. não se mostra excessivamente elevado aponto de se o conceber desproporcional, levando-se em conta que doacidente decorreu a morte do empregado. Recurso de revista nãoconhecido. (TST; RR 0001400-03.2010.5.03.0095; Sexta Turma; Rel. Min.Augusto Cesar Leite de Carvalho; DEJT 08/04/2016; Pág. 1226)
(...)
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL Requer a Reclamada a reduçãodo valor da indenização por dano moral, considerando o valor máximo de 20salários mínimos por autor, conforme consagrado na jurisprudência. Tratando-se de acidente com vítima fatal, a dor e o sofrimento pela morte trágica einesperada do familiar são circunstâncias suficientes para evidenciar aextensão do dano moral a ser reparado. A indenizaçãopor dano moral não tem a finalidade de enriquecer ou empobrecer aspartes envolvidas, nem de apagar os efeitos da lesão, mas sim de repararos danos. A r. sentença condenou a Ré ao pagamento da indenizaçãopor dano moral no importe R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) para cada umdos Autores, viúva e filhos do "de cujus ". Rearbitro o valor daindenização para R$40.000,00 (quarenta mil reais) para cada beneficiário,quantia que reputo consentânea com o princípio da razoabilidade, a
extensão do dano, o grau de culpabilidade e a capacidade econômica daempresa, sendo suficiente para atingir o efeito pedagógico da
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condenação. Juros nos termos da Súmula nº 439 do C. TST. Dou provimentoparcial.
108.- Assim, por amor ao debate, caso seja reconhecido o dever de indenizar, a r.
sentença deve ser reformada para redução do valor da indenização por dano moral.
109.- Além disso, requer a Recorrente a reforma do julgamento quanto à determinação
de pagamento em parcela única, devendo ser considerado por essa C. Turma que a
Recorrente é empresa multinacional sólida, de marca notória no mercado, sendo descabida tal
medida.
110.- Destaque-se que o pedido de pagamento em parcela única sequer consta
da inicial. Tal determinação afronta o instituto da pensão mensal, o qual prevê os pagamentos
mensais de valores enquanto houver a alegada incapacidade, podendo a mesma ser
revogada, diante da efetivação da aposentadoria por invalidez pelo reclamante ou mesmo
restabelecimento da capacidade laborativa.
111.- Inexiste ainda qualquer prova inequívoca relacionada à atual situação financeira
da Recorrente, que é empresa solvente, séria, idônea e goza de capacidade financeira para
honrar eventual condenação.
112.- A atual jurisprudência tem entendido que o pagamento integral, nos termos do
art. 950 do Código Civil, de uma só vez, não se mostra a melhor maneira de se atingir a
finalidade da pensão mensal, que é a garantia de subsistência do trabalhador ao longo dos
anos, já que, recebendo o valor em pagamento único, poderá este ser utilizado para outra
finalidade, deixando o próprio empregado desamparado no futuro, comprometendo assim a
razão de ser do pensionamento: a subsistência até o final da vida.
113.- Assim sendo, não resta dúvida de que o pagamento de pensão na formamensal é o mais correto e justo, ainda mais no caso dos presentes autos em que o
pagamento deverá ser cessado em caso de aposentadoria por invalidez do Recorrido,
conforme pedido expresso constante na petição inicial e o que, novamente, se requer.
114.- Portanto, eventual pensão, se deferida for, deve ser de forma mensal e não em
parcela única e, ainda, a partir do momento que o Recorrente fique desamparado
materialmente, sem renda - o que não é o caso pois foi reintegrado ao emprego -, até os 65
anos.
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115.- Portanto, não há embasamento fático legítimo para tal condenação. Ademais, a
execução deve ser processada da forma menos gravosa possível para o devedor, nos termos
do artigo 620 do CPC, aplicado subsidiariamente nesta Justiça Especializada, nos termos do
artigo 769 da CLT.
116.- Acrescente-se ainda, por cautela, que em caso de pagamento em parcela única,
nos termos do § único do art. 950 do Código Civil, o arbitramento jamais poderá ser o
pagamento de “salário x expectativa de sobrevida”, como fixado na r. sentença. As ementas
abaixo traduzem com perfeição a impossibilidade desta conta:
“No caso dos autos, o reclamante fez tal opção (item “d”, fl. 29), que encontrarespaldo no parágrafo único do art. 950 do CPC, cuja disposição é no sentidode que “O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização sejaarbitrada e paga de uma só vez”. Todavia, não há como ignorar que a regraditada pela norma determina que, nos casos de pagamento único, aindenização deve ser arbitrada. Sobre este aspecto, esclareço que arbitrarnão significa apenas multiplicar o valor correspondente a 20% da últimaremuneração (R$ 3.091,00) pelo período do pensionamento, mesmoporque o pagamento único traz inúmeras vantagens ao credor. Ademais,a adoção desta forma de cálculo implicaria em enorme desequilíbrio entreaqueles que recebem a pensão mês a mês e aqueles que optam pelopagamento único. Assim, se o credor opta em receber o valor de umaúnica vez deve, pois, se sujeitar ao arbitramento, sob pena de distorçãoda própria norma que estabelece o pagamento único. (Processo: 01123-2009-002-10-00-2-RO; Acórdão do(a) Exmo(a) Desembargador(a) Federal doTrabalho PEDRO LUIS VICENTIN FOLTRAN, rexam, carlos Alcântara, TrT10.)”
DANO MATERIAL. ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO. PENSÃO VITALÍCIA.PAGAMENTO DE UMA SÓ VEZ. 1. A intenção expressa do autor manifestadana inicial de que o seu pagamento a título de danos materiais seja de uma sóvez constitui faculdade amparada pelo permissivo legal contido no parágrafoúnico do artigo 950 do Código Civil. 2. O pagamento da pensão em parcelaúnica traz consideráveis benefícios ao trabalhador, que receberá todo o créditode uma só vez, sem considerar outros fatores como o retorno da capacidadelaborativa plena ou a possibilidade de nova percepção de benefícioprevidenciário, razão pela qual é razoável a fixação de um redutor, até porqueo empregador acaba por ser onerado com o pagamento único e antecipado dodireito. Recurso do autor parcialmente provido por unanimidade. 7
DANO MATERIAL. ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO. PENSÃO VITALÍCIA.PAGAMENTO DE UMA SÓ VEZ. 1. A intenção expressa do autor manifestadana inicial de que o seu pagamento a título de danos materiais seja de uma sóvez constitui faculdade amparada pelo permissivo legal contido no parágrafoúnico do artigo 950 do Código Civil. 2. O pagamento da pensão em parcelaúnica traz consideráveis benefícios ao trabalhador, que receberá todo o créditode uma só vez, sem considerar outros fatores como o retorno da capacidadelaborativa plena ou a possibilidade de nova percepção de benefícioprevidenciário, razão pela qual é razoável a fixação de um redutor, até porque
7 (TRT 24ª R.; RO 335-67.2010.5.24.0004; Primeira Turma; Rel. Des. Fed. Amaury Rodrigues PintoJúnior; Julg. 22/01/2013; DEJTMS 28/01/2013; Pág. 17)
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o empregador acaba por ser onerado com o pagamento único e antecipado dodireito. Recurso do autor parcialmente provido por unanimidade. 8
RECURSO ORDINÁRIO INCAPACIDADE LABORAL ORIUNDA DEACIDENTE. ART. 950 DO CC. PENSÃO MENSAL X INDENIZAÇÃO EMPARCELA ÚNICA. NÃO EQUIVALÊNCIA. A indenização por incapacidade
laboral em parcela única, prevista no art. 950, parágrafo único, do Código Civil,não é monetariamente equivalente à soma de todas as parcelas futuras dapensão mensal prevista no caput do dispositivo. Isso não só pela menção, notexto legal, à fixação da indenização unitária por arbitramento, mas tambémpela visível distinção entre os institutos: diferentemente da pensão mensal, decaráter alimentar, a indenização em parcela única visa proporcionar aotrabalhador incapacitado o imediato investimento em nova carreira profissional,com potencial de melhores ganhos futuros. Não se trata, pois, de meroadiantamento das parcelas de pensão futuras. Recurso da reclamadaparcialmente provido quanto ao tema.9
(Grifos da Recorrente)
117.- Portanto, com relação ao pagamento em parcela única, não se pode
simplesmente multiplicar o valor mensal equivalente a 100% da remuneração do Autor, pelos
meses futuros equivalentes ao pensionamento. O correto é aplicar-se um redutor, já que o
pagamento antecipado representa vantagem ao credor, razão pela qual é razoável fixar-se um
redutor, diante do pagamento único e antecipado, para não gerar desequilíbrio na relação.
118.- No caso dos autos o desequilíbrio é total, diante da condenação em
reintegração ao emprego com pagamento de salários vencidos e vincendos, maispensão mensal no valor integral do salário, em parcela única, e dano morais de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais).
119.- Dessa forma, diante da excessiva indenização fixada, no montante de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) e 100% do salário do Autor, em parcela única, a Recorrente
requer a reforma da r. sentença para que essa C. Turma arbitre um valor menor para a
indenização a título de danos morais e materiais, observados os critérios apresentados
pela Recorrente acima, em observância aos princípios da razoabilidade eproporcionalidade, sob pena de afronta, por esse E. Tribunal Regional do Trabalho da 02ª
Região, aos termos do artigo 5º, inciso V da Constituição Federal e a violação ao artigo 186 e
ao parágrafo único do artigo 944 do Código Civil, que estabelecem o direito à indenização e a
proporcionalidade entre o dano sofrido e o quantum indenizatório.
8 (TRT 24ª R.; RO 335-67.2010.5.24.0004; Primeira Turma; Rel. Des. Fed. Amaury Rodrigues PintoJúnior; Julg. 22/01/2013; DEJTMS 28/01/2013; Pág. 17)9 (TRT 15ª R.; RO 0054300-61.2007.5.15.0053; Quarta Câmara; Rel. Des. Luiz José Dezena da Silva;
DEJTSP 18/01/2013; Pág. 517)
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f) Do pagamento dos salários desde a data da dispensa até a data da efetivareintegração
120.- Também não agiu com o devido acerto o D. Juízo de origem ao deferir ao
Recorrido o pagamento dos salários desde a data da dispensa até a data da efetiva
reintegração.
121.- Sendo superados os fundamentos de reforma da decisão de origem elencados
nas linhas acima, o que não se espera, ainda assim, o pagamento dos salários vencidos, tal
qual fixado na r. decisão, não deve ser mantida.
122.- Ora, a Recorrente não pode ser penalizada pela inércia do Recorrido, posto que,
em 14.08.2014, foi publicado despacho determinando a imediata reintegração do Autor, e
consequentemente a Recorrente agendou exame médico para o dia 19.08.2015, porém, o
Recorrido não compareceu e sequer justificou sua ausência.
123.- Ressalta-se que em 19.08.2015 a Recorrente disponibilizou o cargo ao
Recorrido, inclusive com o reestabelecimento do plano de saúde.
124.- Tal fato foi noticiado em diversas oportunidades (ID’s 9603633; a37ba54;a5c4b32 e 7772326), com requerimento de revogação da liminar deferida, sendo que o Nobre
Magistrado “a quo” também quedou-se inerte.
125.- Assim, em audiência realizada no dia 24.02.2016, o Juízo de base alertou o
Recorrido da perda do direito à reintegração em caso de não comparecimento injustificado no
dia 03.03.2016 às 14:00 horas, na sede da Recorrente, para efetiva reintegração e emissão de
CAT. Apenas neste momento, após ser abordado pelo D. Juízo, é que o Recorrido compareceu
na empresa para que a reintegração fosse efetivada.
126.- Pelo exposto, não poderá a Recorrente ser condenada a pagar salários ao
Recorrido por este período no qual o emprego esteve à sua disposição e este deixou de se
apresentar apesar de convocado, inclusive nos autos do processo. Tal atitude corresponderia a
premiar a parte em face da sua própria torpeza.
127.- Assim, deverá ser reformada a r. sentença, ao menos, para excluir da
condenação o pagamento dos salários desde o dia 19.08.2015 até o dia 03.03.2016.
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g) Do adicional de periculosidade
128.- A r. sentença condenou a Recorrente ao pagamento de adicional de
periculosidade, sob o argumento de que o Recorrido era exposto a agentes periculosos.
129.- Inicialmente, destaca a Recorrente que o Recorrido recebeu treinamento
adequado pertinente à função que executava, bem como utilizou os Equipamentos de
Proteção Individual justamente para elidir qualquer agente nocivo a saúde, tudo de
acordo com as normas de segurança do trabalho, saúde e meio ambiente.
130.- Assim, emerge dos autos o fato do Recorrido desempenhar diversas atividades,
não estando em contado permanente e contínuo com supostas áreas de risco oudesempenhando atividades em condições de risco acentuado, bem como sempre fez uso dos
EPIs atinentes às atividades que desenvolvia.
131.- Ressalta-se que artigo 193, da CLT, que define a periculosidade, expressamente
estipula que:
Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma de
regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que,por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtudede exposição permanente do trabalhador a:I – inflamáveis, explosivos ou energia elétrica.
(grifos Recorrente)
132.- Assim, pode-se entender que:
• PERICULOSIDADE = RISCO ACENTUADO + EXPOSIÇÃO PERMANENTE
133.- O artigo 193, da CLT é norma condicional. Seu alcance não pode ser estendido,até porque prevê situação excepcional.
134.- Não é porque o risco não é eliminado totalmente, que afigura-se acentuado a
ponto de ensejar o pagamento de adicional de periculosidade.
135.- Não fosse assim, o C. TST não teria, recentemente, editado a Súmula 447:
SÚMULA Nº 447 - ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. PERMANÊNCIA ABORDO DURANTE O ABASTECIMENTO DA AERONAVE. INDEVIDO. Res.
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193/2013, DEJT divulgado em 13, 16 e 17.12.2013 Os tripulantes e demaisempregados em serviços auxiliares de transporte aéreo que, no momento doabastecimento da aeronave, permanecem a bordo não têm direito ao adicionalde periculosidade a que aludem o art. 193 da CLT e o Anexo 2, item 1, "c", daNR 16 do MTE.
136.- É óbvio que o abastecimento de aeronaves envolve risco de explosão ouincêndio. Tal risco, porém, não é acentuado, pelo que, não é devido o adicional de
periculosidade.
137.- Aplica-se, por analogia, o entendimento em menção ao presente caso.
138.- Ademais, o D. Perito do Juízo cometeu alguns equívocos em seu laudo pericial,
conforme destacado na manifestação apresentada pela Recorrente, as quais não foram
levadas em consideração na r. sentença.
139.- Com efeito, a estocagem à granel de matérias primas classificadas como
inflamáveis, encontra-se em área externa, devidamente delimitada e afastadas, e são
transferidos para o setor de formulação por meio de dutos, onde ocorre a mistura com água.
140.- Portanto, ao contrário do quanto informado pelo Perito, no local vistoriado não
havia estoque de álcool puro ou acetona, mas apenas os dissolvidos – e não na sua forma
bruta - prontos e acabados para o uso pessoal.
141.- Por fim, sobre o volume de armazenamento de inflamáveis, a Recorrente não
ultrapassava a capacidade máxima, que na época era de 250 litros. Portanto, o local não pode
ser classificado como área de risco por tal motivo. Ademais, os produtos armazenados não
geravam condições de risco pois encontravam-se lacrados e certificados, o que não foi
observado pelo D. perito.
142.- D. Julgadores, diante de tais circunstâncias não há, neste caso,
reconhecimento de risco acentuado e, portanto, subsunção da situação fática do Recorrido aos
ditames do artigo 193, da CLT.
143.- Não pode haver condenação ao pagamento de adicional de periculosidade em
condição de risco não acentuado, por ausência de previsão legal, pena de violação, inclusive,
ao inciso II, do artigo 5º, da Constituição Federal.
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144.- Não se pode olvidar que o laudo pericial tem como função precípua auxiliar o
Juiz na busca pela verdade real dos fatos, mas não é o único elemento a ser considerado para
a formação da convicção do Juízo, que a ela não está adstrito (artigo 436 do CPC), haja vista
que não é a perícia que “cria” a insalubridade ou a periculosidade; o direito ao adicional nasce
do fato do empregado trabalhar em serviço insalubre ou periculoso e não apenas porque o
laudo pericial assim concluiu.
145.- Essa N. Turma deve sopesar que o laudo, inclusive, baseia-se em fatos
presumíveis, uma vez que o Perito do Juízo não tem como avaliar as atividades exercidas
diariamente pelo Recorrido, acompanhando-o em sua rotina.
146.- Atento, no entanto, ao princípio da eventualidade e da concentração, se outro
puder vir a ser o entendimento desse E. Tribunal, o que se admite apenas para argumentar, a
Recorrente requer que haja a observância do tempo de exposição à área de risco.
147.- Ademais, ainda que mantida a r. sentença, o que novamente se admite por
argumentação, aduz a Recorrente que a condenação de integração do adicional em referência
nos títulos emergentes do contrato de trabalho havido, se afigura de impossível prevalência.
148.- Com efeito, em se tratando o adicional em foco de cunho eminentemente
indenizatório, não há como se cogitar das incidências reflexas deferidas, mormente porque
inexiste previsão legal para tanto.
149.- De rigor, pois, a reforma da r. sentença, afastando-se o deferimento de adicional
de periculosidade e reflexos, por não caracterizado, conforme previsão do artigo 193, da CLT,
o labor em situação de risco acentuado decorrente da exposição permanente a inflamáveis ou
explosivos.
150.- É o que se aguarda em atenção ao inciso II, do artigo 5º, da Constituição
Federal, requerendo-se digne-se essa C. Turma de emitir posicionamento expresso sobre os
elementos destes autos, que permitam ou não, a caracterização dos requisitos previstos no
artigo 193, da CLT para fins de caracterização de adicional de periculosidade.
h) Dos honorários advocatícios
151.- Ao contrário do entendimento do I. Magistrado a quo , na Justiça do Trabalho
ainda vigora o jus postulandi , já que os honorários advocatícios somente são devidos quando
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atendidas todas as exigências previstas no artigo 14 da Lei nº 5.584/70, quais sejam, a
miserabilidade do trabalhador (auferir remuneração inferior a dois salários), assistência
judiciária por sindicato representativo da categoria profissional do demandante e a
sucumbência, o que não restaram demonstrados no caso sub judice.
152.- O E. Tribunal Superior do Trabalho, inclusive, já firmou o seu entendimento por
meio da Súmula 329:
“Honorários Advocatícios. Cabimento. Mesmo após a promulgação daConstituição da República de 1988, permanece válido o entendimentoconsubstanciado no Enunciado nº 219 do Tribunal Superior do Trabalho”.
153.- Ressalta-se, outrossim, o entendimento pacificado pelo E. Tribunal Regional do
Trabalho da 2ª Região:
Súmula n.18 - Indenização. Artigo 404 do Código Civil. (Res. nº 01/2014 -DOEletrônico 02/04/2014)O pagamento de indenização por despesa com contratação de advogadonão cabe no processo trabalhista, eis que inaplicável a regra dos artigos389 e 404, ambos do Código Civil.
154.- Dessa forma, tendo em vista que as exigências do artigo 14 da Lei nº 5.584/70
não foram atendidas pelo Recorrido, deve esse N. Turma manter a improcedência de mais
esse pedido.
155.- Destaca-se que, nos termos da Lei nº 5.584/70, tal verba só é devida caso o
Recorrido estivesse assistido pelo sindicato da categoria que o representa, o que não é a
hipótese dos presentes autos.
156.- Portanto, ausentes, no caso, os requisitos legalmente exigidos para o
deferimento dos honorários advocatícios, é certo que manter a condenação da AVON aopagamento da verba honorária contrariaria os entendimentos contidos nas Súmulas nº 219 e
329 do C. Tribunal Superior do Trabalho, bem como o descrito na Orientação Jurisprudencial nº
305 da SDI do C. TST, que segue in verbis :
OJ/SDI 1 Nº 305 Honorários advocatícios. Requisitos. Justiça do Trabalho.Na Justiça do Trabalho, o deferimento de honorários advocatícios sujeita-se àconstatação da ocorrência concomitante de dois requisitos: o benefício dajustiça gratuita e a assistência por sindicato. (D.J. 11/08/2003)
(Grifos da AVON)
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157.- Além disso, é incabível a aplicação subsidiária dos artigos 389, 404 e 927 do
Código Civil e artigo 133, da Constituição Federal, uma vez que existe legislação específica
doutrinando a matéria, e esta é clara ao afirmar que os honorários somente são devidos
quando atendidas todas as exigências previstas no artigo 14 da Lei n.º 5.584/70. Nesse sentido
é o entendimento da jurisprudência pátria:
RECURSO DE REVISTA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PERDAS EDANOS. ARTS. 389 E 404 DO CÓDIGO CIVIL. INAPLICABILIDADE.ASSISTÊNCIA SINDICAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. Súmula nº 219, I, dotribunal superior do trabalho 1.na justiça do trabalho, a condenação aopagamento de honorários advocatícios, conforme diretriz perfilhada na Súmulanº 219, I, do TST, não decorre pura e simplesmente da sucumbência. Talcondenação exige a satisfação da assistência jurídica por sindicato dacategoria profissional e da declaração de hipossuficiência econômica. 2.otribunal superior do trabalho pacificou o entendimento de que
os arts. 389 e 404 do Código Civil são inaplicáveis ao processo do trabalho.Precedentes. 3.contraria, pois, a diretriz perfilhada na Súmula nº 219, I, do TSTacórdão regional que defere o pagamento de honorários advocatícios a títulode indenização por perdas e danos. 4.recurso de revista da reclamada de quese conhece e a que se dá provimento, no particular. 10
158.- Assim sendo, deve ser reformada a r. sentença para excluir da condenação a
parcela de honorários advocatícios.
III.- CONCLUSÃO: DOS REQUERIMENTOS
159.- Diante do exposto e por tudo o mais que dos autos consta, vem a Recorrente,
respeitosamente à presença de V.Exas., requerer que:
(i) seja conhecido e regularmente processado o presente recurso
ordinário, por estarem presentes os pressupostos objetivos e subjetivos
de admissibilidade, quais sejam: cabimento, tempestividade,
adequação, singularidade e legitimidade da Recorrente;
(ii) seja dado provimento a este recurso para reformar a r. sentença em
relação às matérias apontadas nestas razões de recurso ordinário.
160.- Por fim, requer a Recorrente que todas as publicações, notificações e intimações
porventura expedidas sejam feitas em nome do Dr. Roberto Trigueiro Fontes, inscrito na
OAB/SP sob o nº 244.463, com escritório de advocacia na Rua Haddock Lobo, 846, Torre B,
10 (TST; RR 0001816-55.2011.5.11.0016; Quarta Turma; Rel. Min. João Oreste Dalazen; DEJT26/06/2015; Pág. 1310)
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13º andar - Jardins – São Paulo/SP, CEP: 01414-000, sob pena de nulidade, nos termos do
parágrafo 1º do artigo 236 do Código de Processo Civil, aplicado subsidiariamente, e da
Súmula nº 427 do E. TST.
Nesses termos,pede deferimento.
São Paulo/SP, 13 de abril de 2016.
Roberto Trigueiro FontesOAB/SP 244.463
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