13794-53195-1-PB.pdf

Preview:

Citation preview

159

CARVALHO, Cesar Augusto De (org.). A Sociologia no Ensino Médio: uma experiência. Londrina: EDUEL, 2010, 220 p.

Sociologia no Ensino Médio:

um processo social em construção

Josimar Priori*

Em tempos em que a educação enfrenta sérios desafios é tarefa mais do que urgente que o professor busque se aperfeiçoar e oferecer perguntas instigantes e problematizadoras a seus educandos. Nessa seara, o professor de sociologia do nível médio possui uma função de suma importância, qual seja, oferecer ao aluno condições de compreender e interpelar a sociedade a qual pertencemos. Nesta direção, a tarefa do professor de sociologia é estimular o estudante a desenvolver as habilidade de estranhamento e desnaturalização dos fenômenos sociais.

Em tempos também em que a sociologia busca se fortalecer e criar uma tradição como conhecimento disciplinar do nível médio, o livro recém lançado “A Sociologia no Ensino Médio: uma experiência”, organizado pelo professor César Augusto de Carvalho1, se apresenta como uma ferramenta de auxílio ao sociólogo-

1 Doutor em História pela UNESP de Assis (2005). Atualmente é professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde trabalha com metodologia de ensino.

professor. De acordo com o organizador “a expectativa é que o material disponibilizado neste livro mostre a

importância da Sociologia na grade curricular do ensino médio e, dessa forma, contribua para sua consolidação” (p. 12). Escrito com a participação de autores experimentados na luta pela implantação da sociologia no ensino médio, balanceado pela juventude e vigor de cientistas sociais recém-formados pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), a obra agora resenhada nasceu com a própria atuação dos

professores e alunos da mesma universidade em defesa do ensino de sociologia e da criação de novas metodologias de ensino.

Composto por sete capítulos, os autores relatam o trabalho desenvolvido desde 1994, quando a professora Lesi Corrêa – nome que percorre todo o livro, dado seu pioneirismo na área do ensino de sociologia – iniciou o projeto de extensão “A Reimplantação da Sociologia no 2° grau” junto às escolas da rede pública, cujo resultado foi a inserção da sociologia em 30 % das escolas da região de Londrina. No entanto, o livro avança histórica e

160

teoricamente, de modo a apresentar a trajetória da atuação dos professores e acadêmicos da UEL na área do ensino de sociologia até a atualidade, bem como propõe reflexões pedagógico-metodológicas.

De autoria de Eduardo Carvalho Ferreira, o primeiro capítulo, “Relação escola e universidade: a Sociologia no ensino médio em perspectiva”, objetiva analisar o ensino de sociologia no contexto das escolas estaduais da cidade de Londrina. Por meio desta incursão, o autor se propõe a debater qual lugar ocupa a sociologia dentro das escolas, sobretudo a partir dos projetos de extensão desenvolvidos pelo departamento de Ciências Sociais da UEL. Advogado de uma postura crítica, o autor defende ainda que o professor de sociologia para o ensino médio se porte como um intelectual orgânico. Sem perder o rigor científico, o docente deve pensar politicamente a sociedade, juntamente com seus alunos.

Em Seguida, a professora Ileizi Luciana Fiorelli Silva desenvolve suas reflexões em capítulo intitulado “O Ensino de Sociologia como laboratório: educação e formação de professores nos projetos do Departamento de Ciências Sociais da UEL – LES/GAES/LEMPES (1994-2009)”. A autora narra com propriedade as ações desenvolvidas pelo departamento de Ciências Sociais da UEL desde 1994, quando ainda era professora do ensino médio. Para a autora

A ideia-força dos projetos sempre foi a de que o ensino de Sociologia deveria ser expandido com base na ciência, que transformada em disciplina escolar seria capaz de desvendar os mecanismos mais obscuros da complexa teia social em que todos os indivíduos estão inseridos. Sairia do ambiente acadêmico e de especialistas e

ganharia uma amplitude maior, uma legitimidade social (p. 40).

Neste período, progressivamente os espaços de atuação docente dos formados em Ciências Sociais foram se encolhendo, de modo que os professores de metodologia de ensino passaram a fomentar novas alternativas de atuação para os estagiários e futuros professores. Certos de que a legitimação das Ciências Sociais no Paraná requeria a presença da sociologia no ensino médio, criaram-se os projetos “A Reimplantação da sociologia no 2° grau (1993-1997)” e “A Sociologia no Ensino Médio, Conteúdos e Metodologias: assessoramento aos professores e alunos do Núcleo Regional de Educação de Londrina (1998-1999)”.

Com o intuito de forjar novas metodologias de ensino, em 2000 criou-se o Laboratório do Ensino de Sociologia (LES). A autora salienta a escolha da expressão laboratório para nominar o projeto, pois esta remete a experiência, algo inacabado, em construção:

É isso que estamos fazendo desde então: experimentos de aulas, de materiais, de cursos para professores, de semanas de Filosofia e de Sociologia nas escolas, de metodologias de pesquisa e ensino, de encontros com alunos do ensino médio e de assessorias às equipes de ensino dos Núcleos Regionais da Secretaria de Estado de Educação do Paraná, entre outros (p. 47-48).

No ano de 2003, o LES, por exigências burocráticas, se torna GAES (Grupo de apoio ao Ensino de Sociologia). Sob a coordenação do professor Cesar Augusto de Carvalho, as atividades voltadas para a fomentação do ensino de sociologia continuam sendo

161

desenvolvidas, inclusive através da publicação deste livro agora resenhado.

Em seguida, o capítulo “O Ensino das Ciências Sociais: mapeamento do debate em periódicos das Ciências Sociais e da Educação de 1940 a 2001” foi escrito a seis mãos. Além da professora Ileizi, assinam o artigo Carolina Branco de Castro Ferreira e Karina de Souza Pêra. Por meio de um trabalho de pesquisa em periódicos na área de Ciências Sociais e Educação de grande circulação no Brasil durante o período de 1940 a 2001, as autoras levantam a hipótese de que a Sociologia desenvolveu-se mais nos campos acadêmico e científico em detrimento do escolar no Brasil, a partir dos anos 1960. Apesar de reconhecerem que a pesquisa não apresenta caráter definitivo, considera-se a possibilidade de um menor interesse guardado pelos sociólogos ao ensino de sociologia tanto em nível médio como universitário.

Na seqüência, no capítulo “As experiências das Semanas temáticas e do Encontro Regional de Filosofia e de Sociologia com alunos do ensino médio: primeiros retornos”, as autoras, Ângela Maria de Sousa Lima, Silvana Aparecida Mariano e Adriana de Fátima Ferreira, narram como se desenvolveu “As semanas de sociologia para alunos e professores do Ensino Médio das Escolas Públicas da Rede Estadual de Londrina”, realizadas no período de 2001-2008. O texto da professora Maria José de Rezende, intitulado “Os desafios e os percalços da implementação de conteúdos para os alunos do ensino médio sobre desigualdade, violência e democracia”, relata uma “Ação Diferenciada” cujo objetivo foi discutir a exclusão social e a violência com professores e alunos da rede pública de ensino da região de Londrina. Por meio de textos

produzidos pelas estagiárias mostravam-se as diversas formas pelas quais a violência atinge as pessoas, não somente através de crimes e assassinatos, mas também por meio das condições precárias de vida a que somos submetidos, bem como outras formas de violência simbólica. Ao final deste capítulo segue um anexo no qual Rezende, em parceria com a Professora Angélica Lyra de Araújo, relata a percepção dos jovens sobre a política institucional brasileira.

O penúltimo capítulo, redigido a dez mãos, tece um relato sobre a abordagem da temática da sexualidade e saúde com os alunos do Ensino médio. Intitulado “Relatos do projeto Juventude, Sexualidade e Saúde: como abordar a sexualidade em sala de aula”, Leila Sollberger Jeolás, Daniele Ribeiro da Silva, Dulcinéia Agueda da Silva, Mônica Matos Ricardo e Thaís Regina M. Da Silva contam que o projeto surgiu da necessidade de se realizar um trabalho de prevenção de gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis. A abordagem do tema foi feita por meio de filmes e textos, cujo objetivo central era demonstrar como a sexualidade é um produto das relações humanas e requer respeito às diversas expressões sexuais. Findo o capítulo, segue uma lista de filmes e/ou vídeos resumidos cuja temática central é sexualidade e saúde.

Finalmente, Carolina Branco de Castro Ferreira e Joana D'Arc Moreira Nolli encerram o livro com o relato “Da graduação à profissão: trajetórias de ex-alunas do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que participaram da consolidação do Laboratório de sociologia (LES)”. Com efeito, Ferreira e Nolli contam momentos de sua participação nas atividades

162

desenvolvidas ao longo de sua formação, os trabalhos que realizaram, a importância da presença da sociologia no ensino médio, a contribuição que esta experiência trouxe as suas respectivas vidas acadêmicas, inclusive influenciando na escolha de temas de pesquisa na pós-graduação.

A publicação deste livro, bem como as reflexões e histórias que ele traz, faz parte do esforço de fortalecimento da sociologia no ensino médio frente a sociedade e entre os próprios cientistas sociais, como campo de pesquisa e

atuação profissional. O professor de sociologia ou o curioso da área encontrará nesta obra uma belíssima narrativa sobre o ensino de sociologia, que poderá, certamente, inspirar outros projetos semelhantes. Se pudermos fazer uma crítica ao texto, esta se dá pela ausência de uma breve biografia dos autores. No entanto, o detalhe não suprime a qualidade do livro, fruto de absoluto esforço e trabalho do setor de Estágios do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina.

* JOSIMAR PRIORI é graduado em Ciências Sociais (UEM e mestrando em Ciências Sociais (UEM).

Recommended