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por reprimir a agresso que o ser humano a expressa da pior forma. Se ele fosse mais
livre, dissesse o que pensa, realizasse seus desejos e sublimasse energia em atividades fsicas e
ldicas, no lidaria to mal com sua prpria agressividade. Ou seja: regras demais acabam tendo
efeito nocivo, despertando reao torta contra o excesso de restries. Em nossos tempos,
aparentemente libertrios, h um monte de "no faa isso, no faa aquilo" disfarado. E um montede promessas de desprendimento. Talvez a confuso seja mais problemtica?
Adolescentes de classe mdia queimam vivos mendigos nas ruas. Alguns bebem em
excesso. Outros tantos usam drogas pesadas. H os que se armam como se vivessem em um pas em
guerra o arsenal, variado, compreende desde pistolas at ces ferozes. Os mais cruis so capazes
de metralhar, a sangue frio, colegas na escola. A sociedade pergunta: por qu?
A resposta no fcil. Culpar o jovem, estigmatiz-lo como algoz incorrigvel seria tanto
uma precipitao quanto um equvoco. Afinal, o jovem no s pratica a violncia como tambm
vtima dela. Parece evidente que a educao, sem amparo de leis e medidas de segurana pblica,
no poder sozinha, sobretudo em curto prazo, dar cabo dos atos de incompreenso, intolerncia e
vandalismo com que nos fartamos nos noticirios.
Porm, mesmo nas aes destinadas a prevenir e corrigir os comportamentos que
desrespeitam os direitos humanos e a natureza, preciso ter em mente essa perspectiva mais ampla
da educao. Caso contrrio, manteremos reformatrios que mais alimentam a violncia do que
reeducam potenciais cidados.
2 VIOLNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE
A agressividade prpria da natureza animal, includa a espcie humana. Denota o nosso
esprito de sobrevivncia. Frente a determinadas circunstncias, cada um agressivo a seu modo:
ironia, humor, astcia desprezo, presuno etc. Violncia quando se rompe a barreira da alteridade
e a fora fsica se impe sobre o mais frgil ou indefeso e como reao ao agressor.
Quase nunca entendemos como violenta a ao que atinge o outro, exceto quando ns somos
as vtimas. Se a polcia cerca, na sada de um cinema, nosso grupo de amigos, e exige que fiquemos
todos de mos na parede e pernas abertas, enquanto nos revista, consideraremos uma violncia. Se
do alto da janela do apartamento vemos a mesma cena, com a diferena de que os detidos so
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jovens de periferia, admitimos que a polcia cumpre o seu dever. Sentimos mesmo certo alvio por
saber-nos protegidos pelo Estado que, sustentado por nossos impostos, nos oferece segurana.
Se um dos amigos protesta pelo modo como est sendo apalpado e recebe em resposta um
empurro, fica patente a violncia. Para o policial em nenhum momento houve violncia. Julgaapenas que cumpre o seu dever. o caso do pai que, ao retornar do trabalho, descobre que o filho
mais velho bateu no mais novo. Para dar-lhe uma lio de que nunca deve bater em algum mais
fraco do que ele, o pai d uma surra no mais velho. Sem nenhuma conscincia de que pratica
exatamente o que recriminou. essa contradio entre o discurso sobre a educao e os mtodos
aplicados que dissemina o comportamento violento.
Por que o mesmo ato cometido por um repreensvel e, por outro , legtimo? Esse paijamais se considerar violento. Se questionado, dir apenas que seu dever educar.
Esta a estrutura em que a violncia se apia: sempre praticada, como se fosse ato de justia,
legitimada por uma razo superior, seja o Deus dos cruzados ou dos fundamentalistas; a defesa da
propriedade privada; o liberalismo do Mercado; os deveres de uma boa educao etc.
A violncia a mais primria forma de manifestao da agresso. Toda a estrutura da
sociedade, com suas leis e instituies, contm boa dose de agressividade, assim como a disciplina
que os pais impem boa educao dos filhos. Ela favorece a nossa convivncia social e reprime
nossas tendncias auto-destrutivas. O melhor exemplo de agressividade sem violncia o esporte.
E a educao fsica escolar tem contribudo para o desenvolvimento e perpetuao dadesigualdade ao reduzir as chances dos excludos de duas formas: ao privilegiar o esportede alto rendimento voltado para as competies escolares ensinado, ainda hoje, nas prticasde ensino das Faculdades de Educao Fsica, e atravs de professores que simplesmentedeixam uma bola de futebol com os alunos, voltando as costas para a quadra, deixando-osao lassez-faire sob o pretexto de uma suposta pedagogia de autonomia, um mero fazer por
fazer (ODALIA, 2004, p.25) .
J a violncia rasteira, cruel, repetitiva, o que permite polcia identificar os criminosos,
pois ela se propaga sem a menor criatividade, exceto os equipamentos blicos concebidos para
torn-la mais e mais brutal e massiva. Para saber lidar com a agressividade preciso certo
refinamento de esprito. J a violncia burra, no exige educao, est ao alcance de qualquer um.
O mais grave que nos acostumamos prtica da violncia. Covardes, no ousamos usar as
prprias mos, mas aplaudimos quando a polcia espanca o bandido; a lei retroage a idade penal,
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sem nos dar conta de que nos deixamos dominar pela parte mais primria de nosso crebro, l onde
se aloja o rptil que nos precede na escala evolutiva e do qual somos tributrios.
A violncia no fora, mas fraqueza, nem nunca poder ser criadora de coisa alguma,
apenas destruidora. (SILVA e SILVA, 2005, p. 382).
2.1 CONCEITO DE VIOLNCIA
A discusso sobre possveis formas de violncia importante no que diz respeito sua
dinmica de funcionamento, uma vez que as formas sob as quais o fenmeno se apresenta
colaboram na tentativa de sua conceituao.
A violncia tem duas conotaes primordiais: fsica e moral. Ela pode ser ostensiva ousecreta. Ser praticada fisicamente, atravs da agresso material. Mas tambm evidenciada
por meio de gestos, atitudes, palavras, orais ou escritas, e at mesmo pelo simples olhar.Numerosas so as formas de que se reveste a violncia como ingrediente de muitas aeshumanas (PEREIRA, 1975, p.61).
O estudo da violncia se realiza a partir de trs grandes vertentes que se subdividem em
vrias ramificaes, dando origem a formas cada vez mais especficas do fenmeno. So estas: afsica, a psicolgica e a moral. O desrespeito em alguma dessas esferas parece ser um ingrediente
indispensvel para se considerar que uma situao possa ser definida como violenta. No momento
em que ocorre o desrespeito acontece uma desconsiderao seja do corpo, da mente ou dos valores
de outrem. Portanto um erro conceber a situao da violncia somente em nveis de agresso.
Tentamos dar uma definio que d conta tanto dos estados quanto dos atos de violncia:H violncia quando, numa situao de interao, um ou vrios atores agem de maneiradireta ou indireta, macia ou esparsa, causando danos a uma ou vrias pessoas em grausvariveis, seja em sua integridade fsica, seja em sua integridade moral, em suas posses, ouem suas participaes simblicas e culturais. (MICHAUD, 1989, p.11).
Pode-se perceber uma atitude consciente no fenmeno da violncia. Em outras palavras, o
indivduo violento faz uma escolha por essa conduta, causando danos em alguma esfera da vida de
algum. Em sua concepo, o fenmeno da violncia eclode mediante a privao do ser humano de
algo que seria importante para sua existncia. Sendo assim, toda situao em que um elemento
impede o outro de se realizar enquanto sujeito, sem haverem motivos que justifiquem
plausivelmente esse impedimento (como, por exemplo, pessoas passando fome em um pas que ano
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aps ano estabelece novos recordes na produo agrcola), tal circunstncia representa uma situao
violenta.
Dessa forma, podemos definir violncia como qualquer relao de fora que um indivduo
impe a outro. (SILVA e SILVA, 2005, p.412).
A violncia um fenmeno social presente no cotidiano de todas as sociedades sob vrias
formas. Em geral, ao nos referirmos violncia, estamos falando da agresso fsica. Mas a violncia
uma categoria com amplos significados. Hoje, esse termo denota, alm da agresso fsica,
diversos tipos de imposio sobre a vida civil, como a represso poltica, familiar ou de gnero, e
do pensamento de determinados indivduos e, ainda, o desgaste causado pelas relaes de trabalho e
condies econmicas.
2.2 VIOLNCIA E EDUCAO
Ao se realizar uma comparao entre o mercado de trabalho atual e a natureza, poder
verificar-se que, em ambas as instncias, a agressividade condio essencial para que se tenha
sucesso na empreitada que representa o sobreviver em uma sociedade cada vez mais permeada pela
competio. A educao est intimamente relacionada ao controle dos nveis de violncia de um
pas. Na escola, aprendem-se lies que norteiam o comportamento humano para atitudes
minimamente tolerveis de forma que seja possvel existir vida em sociedade.
Se os homens se falam, entendem-se. Vale dizer: se os recursos de mediao, se os
instrumentos de mediao so acionados, o mundo continua seguro e tranqilo. Mas se uma pessoa
abre mo disto, a realidade se transforma. Assim, o violento o direto, a ao que dispensando
intermedirios age numa relao direta dos meios com os fins, sem considerao de quaisquer
outras ordens. Quer dizer, meios e fins aqui no tm nenhuma legitimao, portanto no so
mediatizados nem pela moralidade nem pelas leis. Deste modo, se quero, tomo; se desejo, estupro;
se no possuo, roubo; se odeio, assassino; se sou contrariado, espanco. a fora bruta como
instrumento direto que conta na violncia, no o uso de um elemento intermedirio como o
costume, a palavras, o amigo ou a lei.
Estudos contemporneos sobre a violncia no a coloca como sinnimo de pobreza.
Inclusive, pelo fato de a pobreza j representar uma forma de violncia que se encerra em si mesma.
Afinal de contas, nem todas as pessoas que so pobres, so violentas; violncia e pobreza seria uma
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teoria difcil de ser provada. No entanto, no se pode negar que a situao de pobreza colabora
muito mais para a ecloso de situaes de violncia do que para a sua inibio.
A escola no Brasil, sobretudo a pblica, tem funo primordial no combate a violncia, pois
l seria um dos locais adequados para se aprender lies de cidadania. E, geralmente, os estudantesdas instituies de ensino mantidas pelo governo so oriundos de meios sociais nos quais a
possibilidade de imerso no universo da violncia muito maior, uma vez que o contato com
formas marginais de viver muito prximo. Mas como proporcionar, atravs das instituies
pblicas de ensino, algo que simplesmente deixado margem no pas?
A parte pobre da populao, alm de no ter o mesmo potencial de consumo, no percebe
esforos consistentes por parte do Estado em relao sua melhoria de vida e ainda por cima vem
esse mesmo Estado cometendo diariamente o que se poderia denominar de um atentado suacidadania.
A cidadania no Brasil, sobretudo, no que se refere aos direitos civis e sociais, exercidaapenas por alguns brasileiros, havendo uma relao entre o expressivo aumento daviolncia e a desigualdade no exerccio dos direitos. A reduo do poder do Estado parainvestimentos sociais, a concentrao de renda e a impunidade afetam a cidadania,mostrando que o problema da violncia extremamente complexo. (TAVARES DOSSANTOS, 2002, p.79).
No possvel estabelecer uma relao direta entre pobreza e violncia. Algumaspopulaes (em regies da ndia e da frica, por exemplo, embora mais pobres que a sociedade
brasileira) apresentam menores ndices de violncia do que no Brasil. De fato, a desigualdade social
uma das maiores causas de violncia entre os jovens. Claro que situaes de pobreza tendem a
aumentar os conflitos nas relaes sociais e parte desse conflito pode se concretizar em solues
violentas que implicam a submisso das pessoas a formas inadequadas de vida aos direitos civis
mutilaes, torturas e mortes. Ora, o que est por trs de tudo isso a questo da cidadania.
No se est tratando aqui de Instituies Universitrias mantidas pelo governo mas sim, de
escolas pblicas de ensino fundamental e mdio. Claro que no se pode atribuir somente escola
pblica toda a tarefa de formar cidados em um pas que no colabora nessa empreitada. Talvez
possa se mostrar til nas orientaes quanto resoluo de conflitos pela via do dilogo ou nos
ensinamentos acerca de respeito, leis e regras de convvio em sociedade.
As cenas de imagens que freqentemente so divulgadas na mdia atravs de propagandas e
telenovelas, que exibem jovens bem abastados financeiramente, desfrutando de bens que despertam
seu desejo, surge a situao de criminalidade e conseqentemente, violncia.
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na imagem e pela imagem que as verdades de nosso tempo so feitas e desfeitas e as
imagens que chegam atravs da mdia apresentam uma verdade preocupante: a marcante presena
da violncia no dia-a-dia. (ODALIA, 2004, p. 48).
Portanto, o estudo da violncia, principalmente em relao juventude, mostra-sepertinente na busca de solues para diminuir a escalada das situaes de criminalidade.
3 CONCLUSO
Somos bombardeados diariamente pela violncia, nas suas diversas manifestaes. Esse
tema recorrente, sobretudo na mdia, nos grandes jornais e revistas, bem como nos vrios
noticirios da TV local ou nacional. A partir disso precisamos questionar: como a mdia nos d a ler
o que seja violncia? Com que fins ela explora a violncia? preciso perceber que, por tratar-se de
um tema de apelo emocional significativo, a mdia tende a usar a violncia como carro-chefe para a
venda e audincia de seus jornais.
Os vrios meios de comunicao classificam todos os atos de grupos de resistentes,
manifestantes e questionadores da violncia, mas no problematizam a possvel violncia indireta
que vivem ou viveram, at partirem para uma ao direta violenta e objetiva, no banal, como
querem nos fazer crer muitas vezes. As mdias tambm so imperdoveis e intransigentes com
qualquer tipo de violncia hedionda, praticada por indivduos criados em ambientes extremamente
corruptos e indignos, que possuem traumas psquicos profundos, mas nunca problematizam a
barbrie que foram e esto sujeitos, e por elas so chamados de brbaros.
Mas a mdia, ao abordar a violncia do Estado, tanto junto a grupos opositores, quanto aos
marginais que trazem histricos de vidas que no lhes sugerem outra opo, seno a bandidagem,usam outras expresses para a violncia institucional, como fora, ou defesa.
A violncia pode ser chamada de um estado, onde assume mltiplos papis, tem inmeras
causas e se encontra submergida em vrios domnios. (CARAM, 1978, p. 77).
A prtica do trote a cada incio de semestre mantm uma tradio secular violenta e
incompreensvel do ponto de vista do que se espera dos futuros profissionais a serem formados emuma universidade. So vrios os casos de tortura, humilhao e morte ao longo dos ltimos anos.
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Do ponto de vista do senso comum o trote representa uma comemorao, mas mais que isso, uma
justificativa social, festividade pblica demarcada por um ritual de iniciao imposto pelos
veteranos, que, afinal de contas sentem-se no direito de manter uma tradio qual possivelmente
se submeteram. Um comportamento perverso por conter requintes cruis sadomasoquistas,
colocando a sua vida em risco e a dos colegas.
Surge ento o caminho que parece ser a soluo para o problema da violncia que seria a via
da educao. Seria necessrio tambm o aprimoramento dos aparelhos repressivos como as
polcias, a colaborao do poder judicirio no sentido de punir com rigor as condutas violentas na
sociedade, alm do mnimo de infraestrutura, tal como educao, moradia, saneamento, lazer e
trabalho.
muito fcil colocar a responsabilidade da formao dos cidados brasileiros nas costas da
escola, quando a mesma quase invariavelmente tem um mnimo de estrutura para funcionar. Isso
sem falar na desmotivao do corpo docente, muitas vezes em virtude das condies de trabalho, e
ainda sem se mencionarem os baixos salrios. Ausncia de formao adequada para os professores
tambm constatada freqentemente.
Portanto, a educao seria uma possibilidade, mas no a nica, inclusive porque a soluo da
situao de criminalidade e violncia no Brasil necessita medidas urgentes visando o combate
imediato, e atitudes orientadas para o futuro tais como a reviso de todo o sistema educacional.
4 REFERNCIAS
CARAM, Dalto. Violncia na Sociedade Contempornea. Petrpolis: Editora Vozes Ltda., 1978.
MICHAUD, Yves. A Violncia. Srie Fundamentos. So Paulo: tica, 1989. Traduo de L. Garcia.
ODALIA, Nilo. O Que a Violncia. So Paulo: Brasiliense, 2004.
PEREIRA, Jos. Violncia: Uma Anlise do Homo Brutalis. ColeoAtualidade. Vol 1. So
Paulo: Alfa-Omega, 1975.
SILVA, Maciel Henrique; SILVA, Kalina Vanderlei. Dicinonrio de Conceitos Histricos. So
Paulo: Editora Contexto, 2005.
TAVARES DOS SANTOS, Jos Vicente. Violncias, Amrica Latina: a disseminao de
formasde violncia e os estudos sobre conflitualidades. Sociologias. Porto Alegre. 2002.
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