2 CRÔNICA “Pois é, muita gente não sabe que Galeano DO...

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SALVADOR SÁBADO 9/12/20174 2CRÔNICA

DO

Desencontrando Galeano

JaguarCartunista

Quando estive em Montevi-déu, em janeiro de 2015, pro-curei Eduardo Galeano na suamesa habitual no Cafe Brasi-lero, onde dava expediente to-dososdias.Ogarçomdissequeele tinha estado lá na véspera.Mentira. Depois fiquei saben-do que já estava doente. Te-lefone? Não estavam autori-zados a dar. Foi o nosso últimodesencontro. Quando esteveno Brasil – acho que em 2013- eu estava longe do Rio. Agente se conheceu em BuenosAires, quando lancei Nadie esperfecto (Ninguém é Perfeito)em 1972. Lá e cá a coisa estavapreta, quero dizer, afro-porte-nha e afro-brasileira. Lanusse e

Médici, que o Diabo os tenha.Eduardo na revista Crisis, eu noPasquim. Quino (prefaciou omeu livrinho), Sábat, Fonta-narossa, o uruguaio Tabaré eoutros cartunistas comparece-ram. Depois, fomos todos vi-sitar Oski, nosso ídolo. Velhi-nho, não saía mais de casa.Pois é, muita gente não sabeque Galeano (autor de As veiasabertas da América Latina)também se garantia no traço.Mas sofria horrores – comocontou numa entrevista - parafazer uma charge. A folha embranco o apavorava. Havia umabismo entre o que imaginavae o que conseguia desenhar. Ochefe de redação de Crisis, ogrande poeta argentino JuanGelmann (teve um filho assas-sinado pela ditadura) tambémapareceu. A história da revistaé curiosa: um milionário ex-cêntrico, Frederico Vogelius,vendeu um quadro de Chagall

para financiar o lançamento. Aideia era fazer uma revista cul-tural. O nome – Crisis - foi umachado: é só abrir uma revistacultural para termos uma crisepela frente. Garcia Marquéz,Ernesto Sábato, Cortazar, Má-rio Benedetti, Jorge Amado (ti-maço) colaboravam regular-mente. Mas a barra pesou. Em76 a revista fechou depois de40 números. Muitos, como Ga-leano, deram o fora da Argen-tina para não serem jogadosno mar. Já no Brasil padecía-mos com o Milagre Brasileiro.MédicimandoubuscaremPor-tugal os ossos de Dom Pedro Ipara os festejos dos 150 anosda Independência (risos). Umvelório de cinco meses atravésdo Brasil; nem o Imperadorescapou da tortura. Enquantoisso, desapareciam outros os-sos, os dos mortos pela dita-dura. Bolsonaro (olha ele devolta, agora com cria) soltava

rojões para festejar mais umaniversário da Redentora. Emabril de 79, exilado na Espa-nha, Galeano mandou para oPasca (edição 521) um artigoem que dá uma geral nas re-públicas e republiquetas cuca-rachas. Do Brasil, ele conta queum professor da USP, BorisSchnaiderman (falecido noano passado com 99 anos) foilevado a uma prisão especial einterrogado sobre suas cone-xões com um russo, SergueiEssenin (rima com Stalin),mencionado pelo professornuma conversa telefônica comum aluno. Essenin foi um poe-ta, amigo de Maiakowski e ca-sado com a lendária IsadoraDuncan. Ele se matou aos 40anos, em 1925, quando Bóris,nascido na Ucrania e criado noBrasil, professor emérito daUSP, tinha 7 anos. Mas possoestar enganado: sou péssimoem fazer contas.

“Pois é, muita gente não sabe que Galeanotambém se garantia no traço. Mas sofriahorrores para fazer uma charge”

DINHEIRO/ FELIZ MARTIN

Felix Martin deixa cla-ro que o entendimen-to convencional sobreo que é o dinheiro estáequivocado e revelaque este é um dosmaiores problemaspráticos que se enfren-tam. Oferece a expli-cação do conceito realde dinheiro e suas con-sequências radicaispara a economia e ca-pitalismo. Portfo-lio/Penguin/ 392 pá-ginas/ R$ 62,90

ARMÁRIO DE LETRAS

RÁDIO YOGA: A SABEDORIA

DOS GRANDES MESTRES /

ROBERTO FIGUEIREDO

Apresentador do pro-grama Rádio Yoga, Fi-gueiredo reúne nestelivro cerca de 500 fra-ses e pensamentos so-bre felicidade, alegria,silêncio, prece, grati-dão e vida. Em suaspáginas, ele vai deEinstein a Nietzsche,além dos mestres in-dianos tradicionais dayoga. Fábrica das Le-tras/ 144 p./ R$ 35

LENIN: VIDA E OBRA / LUIZ

ALBERTO MONIZ BANDEIRA

Escrito em 1968 eapreendido ainda nagráfica pelos milita-res, esta obra do ve-nerável historiadorbaiano, morto há ummês, volta à livrariasem edição revista eampliada. Análise emprofundidade da vidae da obra do líder mar-xista por um de seusmaiores estudiosos.Civilização Brasileira/224 p./ R$ 44,90

MARIA CHOROU AOS PÉS DE

JESUS / CHESTER BROWN

Subintitulado Prosti-tuição e ObediênciaReligiosa na Bíblia, es-ta polêmica HQ se sus-tenta em especialistassobre o livro de Ma-teus, questionando acondição de Maria. Emresumo, ele pergunta:“Você acha que Deusquer adoradores de-mentes que apenas se-guem instruções”?WMF Martins Fontes/292 p./ R$ 44,90

FILA E DEMOCRACIA /

ROBERTO DAMATTA COM

ALBERTO JUNQUEIRA

Ensaio a quatro mãosdos estudiosos brasi-leiros, a obra se de-bruça sobre uma ques-tão do cotidiano pararefletir profundamen-te sobre temas comoigualdade social e de-mocracia, burla denormas e práticascoercitivas comuns dopaís. Rocco/ 128págs/R$ 24, 50/www.rocco.com.br

INOVAÇÃO SOCIAL: NO FLUXO

DO PROGRESSO / LUCIANO

PORTO

O livro registra ten-dências globais e or-ganiza um histórico deinovações sociais vi-venciadas no pelo Bra-sildesdeosanos1980.É um convite a obser-var o efeito integradoe exponencial das ino-vações sociais, naperspectiva de apon-tar caminhos e solu-ções. Editora Réptil/208 p./ R$ 34,90

A CIDADE SOLITÁRIA/ OLIVIA

LAING

Para Olivia Laing, a so-lidão não constituipropriamente um far-do e sim uma das con-dições indispensáveisao pleno desenvolvi-mento da criatividadee de um estilo própriodistintivo. Com a vi-vência da solidão, aautora discorre sobreo tema e sobre as re-lações humanas. Roc-co/ 304 páginas/R$49,50

LETRAS Nelson Pretto lança Educações, Culturas e Hackers: escritos e reflexões, na próxima quarta-feira, no Palacete das Artes

“Qualquer um pode ser hacker em sua profissão”EDUARDA UZÊDA

“Necessitamos de alunos eprofessores conectados, comcondições de produzirem cul-turas, de modo a não seremtransformados em meros con-sumidores de informações dis-tribuídas por portais ou appinstalados de forma fechadanos equipamentos fornecidosasescolas.Aescolapublicapre-cisa de tudo: computadorespotentes, portáteis, tabuletas,televisões, câmeras de vídeo,gravadores, rádiosweb,biblio-tecas com livros... . Mas, es-sencialmente, é necessário umprofessor fortalecido”

O texto é do livro Educações,Culturas e Hackers — escritos ereflexões, de Nelson Pretto,professor titular da Faculdadede Educação da UFBA, que serálançado, quarta-feira, das 17hàs 20h, no Palacete das Ares,na Graça.

A obra mostra o pensamen-to do combativo e provocadorpesquisador que ao longo desua trajetória sempre aliou adefesa do ensino com a lutapolítica.

Não por acaso é que estetexto foi escolhido pelo vicepresidente da Sociedade Bra-sileira para o Progresso daCiência (SBPC), professor titu-lar da UFMG e da PUC-MG, Car-los Roberto Jamil Cury, naapresentação da obra que será

lançada.“Este livro, escrito de modo

claroedistinto,vemtrazerumacontribuição inestimável nãoao campo educacional strictosensu, mas a tantos quantos seempenham na pesquisa cien-tífica, nas artes, na cultura emgeral, em fazer da busca dacidadania digital um meio ain-da mais amplo e ousado, o da

via para uma cidadania uni-versal”, destaca

ReflexõesO livro é composto de duaspartes. Na primeira , o autorfaz um reflexão sobre a pers-pectiva plural que deve acom-panhar a educação e a cultura,propondo educações com umjeito hacker de ser. Ele explica

Divulgação

O combativo autor e professsor Nelson Pretto criador do projeto Polêmicas Contemporâneas

que hackers, neste sentido,são aqueles que agem de for-ma colaborativa, aberta, pro-positiva e solidária.

Na segunda parte estão or-ganizados pequenos artigospublicados em jornais de Sal-vador e de fora da Bahia, emblogues e revistas eletrônicas,além de outros textos origi-nais, escritos para o livro.

A obra traz textosoriginais e artigospublicados emjornais deSalvador e de forada Bahia

“Estes artigos permitem aoleitor perceberem a unidadedo meu pensamento”, afirmaPretto, que é líder do grupo dePesquisa Educação, Comunica-ção e Tecnologias (GEC) da Fa-culdade de Educação da UFBA.“Qualquer um pode ser hackerem sua profissão”, comple-menta.

Nélson: um hackerSérgio Amadeu da Silveira,professor da UFABC, membrodo Comitê Gestor da Internet,que assina a orelha do livrodevolve: Um hacker da Edu-cação. Nelson Pretto é isso”.

Ele complementa: ”NelsonPretto trata da Educação e dacolaboração como um hackerdesenvolve seus programacom elegância, com rigor, comprazer e com garra.... Aqui asideias são sua potência”.

Já Pier Cesare Rivoltela, daUniversidade Católica de Mi-lão, Roma, Itália, que assina oprefácio, destaca que a impor-tância do livro de Nelson Pretto“é entrar no mérito do quesignifica fazer comunicaçãocientífica hoje assumindo umaposição que é inevitavelmentepolítica....”

LANÇAMENTO DO LIVRO EDUCAÇÕES,

CULTURAS E HACKERS— ESCRITOS E

REFLEXÕES, DE NELSON PRETTO/QUA, DAS

17 ÁS 20 HORAS/ PALACETE DAS ARTES (R.

DA GRAÇA, 289 - GRAÇA/ENTRADA FRANCA

Educações, Culturas eHackers: escritos ereflexões/Nelson de LucaPretto

Edufba/220 págs/ R$ 17, 50(no lnçamento)/www.eduf-ba.ufba.br

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