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2.5. Alterações do cotidiano escolar: doenças, remédios e vacinações; eleições nas escolas
e as relações extramuros.
- Doenças, remédios e vacinações
“Desenvolvimento das crianças –
Evitar a anemia
é evitar a desgraça futura”.
(O Itaborahyense, Itaboraí, Ano XXII,
n. 1.064, domingo, 21 maio 1916, p. 3)
Essa epígrafe constou como título de um texto que foi publicado no jornal O
Itaborahyense, que anunciava um remédio que ajudava no desenvolvimento das crianças.
Anúncios de remédios apareciam, comumente, nas páginas do jornal, pois, desde meados da
década de 1870, “o tema da saúde vinha frequentando a agenda intelectual e política brasileira
por meio de sua faceta mais preocupante: a doença” (SCHUARCZ, 2012, p. 51). O anúncio
afirmava que:
Sendo a anemia, o estado que conduz a todas as doenças graves, com as quaes a pessoa
não póde lutar por falta de forças, e sendo as crianças seres irresponsáveis, é obrigação
dos paes procurarem que seus filhos se desenvolvam fortes e sadios, evitando que se
criem fracos e sejam mais tarde homens e mulheres inúteis e doentes.
O «IODOLINO DE ORH», que, além de outros contém em si todos os princípios do
oleo de bacalhau, sem os inconvenientes deste, é um fortificante depurativo de
primeira ordem como atestam muitos e distinctos médicos, e deve ser o único remédio
aproveitado para fortificar e ajudar a formar o esqueleto das crianças, evitando a
fraqueza, com o que se evitará a desgraça futura: Em todas as drogarias e Pharmacias. Agentes geraes: Silva Gomes & C. – Rio.1
Certamente, havia o interesse em vender remédios, entretanto essa época foi um período
em que “médicos e cientistas sociais refletiam [...] sobre enfermidades [...], doenças da cidade
e do meio rural, e, cada vez mais, acerca das patologias da modernidade” (SCHUARCZ, 2012,
p. 51). Havia uma preocupação com o bem-estar das pessoas e, principalmente, das crianças.
Na citação acima, foi anunciado um remédio para anemia, porém havia medicamentos
indicados para outros problemas de saúde, como pode ser observado abaixo:
1 DESENVOLVIMENTO das crianças: evitar a anemia é evitar a desgraça futura. O Itaborahyense, Itaboraí, ano
22, n. 1.064, domingo, p. 3, 21 maio 1916.
19
Figura 2.13: Anúncio do Elixir de Nogueira
Depurativo do Sangue
FONTE: Itaborahyense, Itaboraí,
ano 22, n. 1.063, domingo, p. 4, 14 maio 1916.
Figura 2.14: Anúncio de remédio Bromil
para doenças das vias respiratórias
FONTE: Itaborahyense, Itaboraí,
ano 22, n. 1.046, p. 2, domingo, 09 jan. 1916.
20
Ao considerar os dois anúncios, é perceptível que as doenças – que foram
sublinhadas em vermelho – no primeiro anúncio (corrimento dos ouvidos, raquitismo,
sarnas, manchas de pele, afecções do fígado e dores no peito) e no segundo (doenças do
peito, pulmões e garganta) atingiam de forma mais considerável as crianças. Isso ocorre
porque são indivíduos mais suscetíveis a doenças, por não terem adquirido imunidade
suficiente para evitar certas
enfermidades. Na época, “ao
sangue atribu[íam] a causa de muitas
enfermidades” e “diante da
ausência de boticas e de médicos, as
populações rurais enfrentavam a
adversidade das doenças com
receitas caseiras”
(WISSENBACH, 2001, pp. 69-70),
ou com os medicamentos
que quase tudo curavam, como o
“Elixir de Nogueira”, de
acordo com o exposto acima.
Em Itaboraí, a situação não era muito diferente. Um médico – Dr. Heitor Machado
– saía de Rio Bonito para realizar “Consultas aos sabbados na Pharmacia Maia, em
Tanguá”.2 Em outra ocasião, o médico – Dr. Egas Ribeiro de Mendonça – que residia em
Niterói, atendia “a qualquer chamado para todo município de Itaborahy”, como observado
no anúncio abaixo:
Figura 2.15: Médico para crianças (1915)
2 ANUNCIO Dr. Heitor Machado. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 16, n. 761, domingo, p. 4, 01 maio 1910.
21
FONTE: ANUNCIO Dr. Egas Ribeiro de Mendonça.
Itaborahyense, Itaboraí, ano 21, n. 1.038, domingo, p. 4, 07 nov. 1915.
O médico poderia ter uma relação de sociabilidade com a municipalidade, visto
que atenderia “a qualquer chamado”; todavia, a situação que existia era da ausência de
profissionais responsáveis pela saúde da população. Ao ficar doente, o indivíduo teria que
esperar o dia de sábado chegar para obter uma consulta, ou usufruir de poções feitas em
suas residências ou por outras pessoas das redondezas.
Nessa época, a questão da vacinação já havia se disseminado. O tema da
imunização foi discutido diversas vezes na história do país e “se apresenta como um
eficiente método na prevenção e erradicação de muitas doenças e epidemias” (NEGRI,
2015, p. 8540). A introdução da vacina no Brasil aconteceu em 1804, sendo apoiada por
D. João VI, que havia enviado seus filhos para serem vacinados em Portugal; embora ele
tenha demorado um pouco a agir, tomou “a iniciativa de criar a Junta da Instituição
Vacínica em 1811” (CHALHOUB, 1996, pp. 107-108). A “cultura da imunização” se
deu a partir do final do século XIX, quando houve “campanha de vacinação em massa
empreendidas pelo Estado”, que a tornava obrigatória (HOCHMAN, 2011, p. 376);
contudo, a população foi resistente à vacinação, gerando o episódio da “Revolta da
Vacina”, em 1904, no Rio de Janeiro.3
3 Para ver mais sobre a Revolta da Vacina, ver: SEVCENKO, Nicolau. A revolta da vacina: mentes insanas
em
corpos rebeldes. Nova ed. rev. São Paulo: Scipione, 1993.
22
Entretanto, para fazer parte desta “cultura da imunização”, as escolas foram
colocadas a postos e, em Itaboraí, algumas dessas foram utilizadas como local de
vacinação. Essa situação leva a perceber que “a escola não age apenas intramuros, e sim
tem uma ampliada atual social na medida em que funciona como uma instituição que
produz, divulga e legitima identidades, competências e modos de vida, ao mesmo tempo
que deslegitima outros” (BERTUCCI; FARIA FILHO; OLIVEIRA, 2010, p. 50).
Na época, havia a preocupação de erradicar os casos de varíola, pois “a doença
esteve no topo da agenda sanitária do país até o final da década de 1910” (HOCHMAN,
2011, p. 377). Em Itaboraí, houve um surto dessa doença, em 1899, quando o jornal O
Itaborahyense se pronunciou ao afirmar que “a Camara Municipal d’esta cidade, já teve
conhecimento que nos lugares desta freguesia – Venda das Pedras, Pico, Sapê, Dendê,
Cabussú e Pachecos – estão infestados da epidemia da varíola, e não deu nem pretende
dár as providencias precisas [...]”.4 No entanto, desde 1897, a municipalidade se
organizava, ocasionalmente, para vacinar a população contra a doença, o que,
provavelmente, não estava atingindo bons resultados. É demonstrada essa situação,
quando foram colocados postos de vacinação – em dias diferenciados – na Câmara e em
duas escolas da região, como pode ser observado a seguir:
Figura 2.16: Vacinação em duas escolas (1897)
4 A BEM do município. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 230, domingo, p. 1, 08 out. 1899.
23
FONTE: VACCINAÇÃO. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 3, n. 131, domingo, p. 1, 17 out. 1897.
A notícia foi publicada na primeira página e seu objetivo, certamente, era fazer
com que a população comparecesse aos locais de vacinação. Havia, no período, também
grande número de crianças com sarampo, que frequentavam as escolas da cidade –
masculina, do professor Israel Marques de Freitas, e feminina, da professora Paulina Rosa
da Cunha Porto, na época5 – e, por esse motivo, o jornal solicitava que fosse suspenso o
ensino nas mesmas.6
Fazia-se necessária a criação de um hospital para tratar das doenças que surgiam,
já que a população tinha dificuldades para curar suas enfermidades e isso tanto era uma
prioridade que, em 28 de novembro de 1897, na coluna “Boatos Miudinhos” do Jornal O
Itaborahyense, foi evidenciado “que todos os dias sent[ia]-se falta de um hospital, n’esta
cidade”. 7 Apesar disso, somente quase dois anos depois, em 1899, saiu uma nova nota
no mesmo jornal, evidenciando uma manifestação na Câmara Municipal com o propósito
de construir um hospital. No apontamento do jornal, dizia-se o seguinte:
Em sessão de 16 [de outubro], o Sr. vereador Major Cid, apresentou um
requerimento pedindo a creação de um hospital, com medico e pharmacia, subvencionados, compra de carroças e o que mais fosse necessário, para
prontos soccorros as infelizes victimas da varíola que há tempos invadio este
município, e que ultimamente tem tomado proporções aterradoras.8
Contudo, o Vigário, que também era Presidente da Câmara, foi contra isso e,
segundo o jornal O Itaborahyense, “sob futeis pretextos, mas o major Cid, fundamentou
o seu requerimento com tanta energia e demonstrou o estado lastimavel em que nos
acha[va]mos devido aquella epidemia, que a Câmara approvou-o, contra o voto do
Vigario presidente”.9
5 APERJ (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro) – Relatório do Diretor da Instrução Pública do
Estado do Rio de Janeiro, A. M. Alberto de Oliveira, apresentado ao Exm. Sr. Dr. Sebastião Eurico
Gonçalves de Lacerda, secretário de Interior e Justiça. Rio de Janeiro – 1897. Rio de Janeiro: Typ. Do
Jornal do Commercio, de Rodrigues e Comp., 1897. Anexos. 6 SARAMPO. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 221, domingo, 06 ago.1899, p. 1. 7 BOATOS miudinhos. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 3, n. 137, domingo, p. 2, 28 nov. 1897. 8 CAMARA Municipal. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 232, domingo, p. 1, 29 out. 1899. (grifo nosso) 9 Ibidem, p. 1. (grifo nosso)
24
Na edição seguinte, de 29 de outubro de 1899, o jornal fez uma crítica à situação
de que o hospital poderia não sair, atendendo a caprichos “d’aquelle que só tem sido eleito
contra a vontade da maioria, e em obediencia a conveniências partidárias”.10 Esse
discurso fazia uma alusão ao Presidente da Câmara, mas não afirmava, explicitamente,
que era ao próprio a quem o jornal estava se dirigindo. A publicação, então, fez um pedido
aos vereadores para que fossem tomadas medidas enérgicas, pois, caso contrário, a cidade
seria tomada por uma epidemia, já que, em eventos anteriores, haviam sido registrados
casos como:
o de uma mãe trazer o filho nos braços, atacado da peste reinante, e ir procurar
socorros em uma pharmacia d’esta cidade; e agora outro, em um dos ultimos
dias, de uma senhora que conduzio um engeitado a nossa Igreja Matriz,
também com essa moléstia, ao pedir ao vigário remédio para esse infeliz!11
A conjuntura em relação à saúde não era agradável e a criação do hospital
continuava sendo uma dúvida, quando, dias depois, em uma sessão da Câmara, houve
uma resposta em relação a essa situação. No dia 22 de novembro de 1899, em sessão do
Conselho Municipal da cidade – convocada especialmente para a criação do hospital e o
que mais necessitasse para o seu pronto estabelecimento –, houve a “votação, depois de
bastante animada discussão, na qual falava pró o Sr. Major Cid e contra o Revd. Vigario
desta freguesia, que tambem é Presidente da Camara Municipal”, quando finalmente “foi
o projecto rejeitado por 8 votos!”. Segundo o jornal, esta resposta foi movida pela
politicagem local, 12 mesmo que a “obrigação do Estado de cuidar da saúde dos cidadãos
[fosse] postulado, portanto, há pelo menos dois séculos” (ORNELLAS, 1988, p. 258,
grifo nosso).
Até a década de 1920, as pesquisas mostraram que não foram realizadas ações
para criação de um hospital na cidade. Em 1913, o jornal O Itaborahyense lançou uma
nota, afirmando que Deus haveria de livrar as pessoas “dessas epidemias, porque com a
10 A BEM do municipio. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 233, domingo, p. 1, 29 out. 1899. (grifo
nosso) 11 A BEM do municipio. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 233, domingo, p. 1, 29 out. 1899. 12 CAMARA Municipal. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 5, n. 236, domingo, p. 1, 26 nov. 1899.
25
Camara que temos toda a população seria sacrificada”.13 E essa foi mais uma crítica,
dentre outras, em razão da não constituição do hospital.
Dessa forma, o que continuaram a fazer, em Itaboraí, foram as campanhas a favor
da distribuição de remédios, quando, por exemplo, em 1913, o inspetor de higiene e saúde
pública, Dr. Bernardino de Almeida Senna Campos, enviou remédios para indivíduos
residentes na cidade, para que fossem distribuídos entre os enfermos de “opilação”; essas
pessoas estariam responsáveis em fornecer “todas as instrucções para seu uso e conselhos
para evitar a propagação do mal”.14 Dentre os indivíduos escolhidos, estavam:
Figura 2.17: Pessoas que receberam remédios para distribuição (1913)
FONTE: TRATAMENTO da opilação.15 Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, ano 87, n. 28, terça-feira, p. 6, 28 jan. 1913.
Em Itaboraí, a maioria dos indivíduos designados para essas ações era professor
(a) da localidade; e esses docentes, ao distribuírem remédios e permitirem a aplicação de
vacinas, no recinto escolar, estariam fazendo com que a instituição exercesse sua função
social, mais uma vez. A escola estaria funcionando, dessa forma, como uma “mediadora
da saúde preventiva” (NEGRI, 2015, p. 8549) e exercendo uma dimensão profilática.
Assim, as escolas fizeram parte da cultura da imunização estando a postos como local de
vacinação e entrega de remédios.
13 CAMARA Municipal. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 19, n. 925, domingo, p. 1, 24 ago. 1913. 14 TRATAMENTO da opilação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, ano 87, n. 28, terça-feira, p. 6, 28
jan. 1913. 15 Segundo o Dicionário da época, já citado, opilação era a obstrução dos canais ou dutos do corpo. In:
SILVA, Antonio de Moraes e. “Diccionario da língua portuguesa”. p. 367. Disponível em: Catálogo
Eletrônico/
Dicionário.IEBhttp://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaDocumentos.asp?Tipo_Consulta=Acer
vo&Acervo_Codigo=2&Setor_Codigo=11. Acesso em: 13 fev. 2019.
26
- As eleições nas escolas.
Uma outra atividade que alterava o cotidiano escolar era quando ocorriam eleições
e eram escolhidos os governantes para aquela sociedade. Ao pensar sobre as relações
entre o urbano e o escolar, são notáveis os fenômenos das formações sociais (FARIA
FILHO, 2005, p.33) e, nesse entroncamento, estava o processo de eleger candidatos para
governar a cidade.
Em Itaboraí, a rotina das escolas era alterada nessas épocas também, visto que
funcionavam como locais de votações. Nesta pesquisa, já foi observado que as aulas
funcionavam de segunda a sábado e, por muitas vezes, as votações eram realizadas nesses
dias. Como exemplo, têm-se as eleições de 1918 – que foram executadas no dia primeiro
de março, ocorrendo em uma sexta-feira –, cujas mesas eleitorais foram designadas para
funcionarem nos seguintes locais:
— Primeiro Districto-Séde do Municipio e da Comarca
— Primeira Secção: Na Camara Municipal. — Segunda Secção: No edifício onde funciona a Collectoria Federal.
— Terceira Secção: No edifício onde funciona a Escola de meninos.
— Segundo Districto
— Porto das Caixas — (Secção unica) — Funccionará no edifício da Escola
Mixta.
— Terceiro Districto — Itamby (Secção unica) — Funccionará no edifício da
Escola Mixta.
— Quarto Districto — Sambaetiba (Secção unica) — Funccionará no edifício
da Escola Mixta.16
Ao observar os locais em que seriam realizadas as votações, é possível perceber
que a maioria das sessões era localizada nas escolas da região, pois das 6 existentes, 4
ficavam em unidades escolares, o que, naturalmente, ocasionava uma dinâmica
diferenciada para o determinado dia, enquanto os alunos e alunas ficavam destituídos de
suas aulas. De acordo com a legislação da época, as professoras não poderiam votar e
16 DIVISÃO eleitoral. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 24, n. 1.151, domingo, p. 3, 27 jan. 1918.
27
muito menos fazer parte da mesa receptora dos votos, posto que o voto das mulheres
apenas seria autorizado depois de 1932 e com ressalvas (PERROT, 2008, p. 152).
No Censo de 1910, a população de Itaboraí era de 21. 194 indivíduos, sendo desses
10.431 homens e 10.763 mulheres17; entretanto, em 1914, havia em Itaboraí apenas 1.584
votantes18, o que acarretava um quantitativo pouco maior que 15% da população valendo-
se do direito de voto.
- As relações extramuros.
Outra questão importante para pensar são os motivos que levavam as crianças a
saírem das suas escolas para algum evento. Em Itaboraí, o que pode ser observado é que
as professoras, ao se ausentarem das suas escolas com seus alunos, não faziam isso por
uma simples questão pedagógica, mas sim de forma deliberadamente política, situação
observável quando “a instituição escolar se inscreve – constituindo e sendo constituída –
nas teias das relações urbanas” (FARIA FILHO, 2005 p. 33).
Essa situação pode ser exemplificada em algumas ocasiões em que houve
deslocamento das professoras com seus alunos para prestigiar pessoas influentes da e na
cidade, sendo esses indivíduos padres, candidatos à presidência e superintendentes.
Algumas saídas das unidades escolares foram informadas pelo jornal O Itaborahyense,
que relatava os seguintes acontecimentos:
Partiram no dia 6 do corrente desta cidade com destino a Petropolis, passando
por Nictheroy, onde foram apresentar ao Sr. Bispo da Diocese o resultado da
santa missão nesta freguezia, os RRevdm. Padres lazaristas Paulo e Fernando.
A população da cidade, sem distincção de classes, tendo à frente os alumnos
das escolas publicas, acompanhou os beneméritos missionários até a estação
de Venda das Pedras, que foram ahi recebidos por uma commissão de
senhoritas que sobre eles espargiram petalas de flores. Antes da chegada do comboio, a menina Olga Cid pronunciou um emocionante
discurso de despedida, seguindo-se com a palavra o Sr. tenente-coronel
17 IBGE. Censo de 1900. Recenseamento Geral do Brasil de 1900 (IBGE). Coleção Digital do IBGE.
Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/detalhes.php?id=7115. Acesso em: 12 jul. 2016. 18 EDITAES. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 21, n. 998, domingo, p. 2, 21 jan. 1915.
28
Antonio Leal, que manifestou aos dignos missionarios a gratidão que lhes
ficava a dever a população Itaborahyense.19
Em outra ocasião, Feliciano Sodré estava em campanha presidencial, quando fez
uma visita à cidade e, novamente, as escolas estavam no local para lhe dar boas-vindas.
O jornal narrou a situação da seguinte maneira:
Ao espoucar de foguetes foi o Dr. Feliciano Sodré recebido entre aclamações
por gentis senhoritas e prestimosos políticos, na estação de Itamby, tocando
nessa ocasião a Banda Musical Nova Euterpe Itambyense [...] No Porto das
Caixas a estação achava-se repleta de pessoas gradas e distinctas famílias [...]
No mesmo local [na estrada da cidade] aguardavam também a chegada de S.
Ex. os alumnos das escolas publicas de ambos os sexos. [...]20
O Vigário Egydio Cavuoti também foi motivo para que os professores e seus
alunos fossem ao seu encontro. Em retorno de viagem à Europa, quando aportou na
estação de Venda das Pedras, o local “era insufficiente para saudarem-no”, quando “a
professora D. Cecilia Santos fez suas alumnas formarem em alas e á passagem do Revdm.
Vigario a menina Rosa Novaes usou da palavra e deu-lhe as boas-vindas”. Depois desse
ato, foi feita uma comitiva até a cidade, onde foi “recebido pelos alumnos das escolas
publicas, regidos pelas professoras DD. Paulina Porto e Maria Innocencia, banda de
musica, senhoras, senhoritas, cavalheiros e populares [...]”.21
Outra pessoa que teve a honra de os alunos o acompanharem à estação de trem foi
o superintendente de ensino do município, o tenente-coronel Antonio Leal. Ao participar
da mesa examinadora da escola mista de Tanguá, a cargo da professora D. Orphila
Alvares, o tenente-coronel ficou “bem impressionado com o adiantamento dos alumnos”
e, ao término dos trabalhos, se dirigiu à estação, quando percebeu que havia comparecido
ao local “a professora acompanhada de todos os seus alumnos e convidados, o que muito
captivou a autoridade escolar”.22
19 SANTA missão. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 20, n. 958, domingo, p. 1, 19 abr. 1914. 20 DR. FELICIANO SODRÉ. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 20, n. 969, domingo, p. 1, 05 jul. 1914. 21 VIGARIO Egydio Cavuoti. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 20, n. 978, domingo, p. 1, 06 set. 1914. 22 EXAMES de promoção. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 21, n. 1.042, domingo, p. 3, 05 dez. 1915.
29
Em 1917, o jornal O Itaborahyense relatou que a mesma professora havia feito,
novamente, a mesma honraria de comparecer à estação de trem com seus alunos. Dessa
vez, o superintendente não pode comparecer e designou Hermeto Júnior – o gerente do
jornal citado – para representá-lo naquela ocasião.23
Como pode ser percebido, existia uma certa rede de sociabilidade entre as pessoas
da cidade de Itaboraí e o ato de sair da escola com seus alunos e alunas, certamente, não
era nada fácil, devido às condições desfavoráveis das locomoções na época. Todavia, para
manter uma boa relação entre os pares, era feito esse sacrifício, visto que, no cotidiano da
relação entre cidade e escola, cada um poderia vir a necessitar de favores do outro.
23 ESCOLA mixta de Tanguá. O Itaborahyense, Itaboraí, ano 23, n. 1.145, domingo, p. 2, 16 dez. 1917.
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