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JEAN RODRIGO DOS SANTOS Especialista em Dentística com Ênfase em Prótese e Estética
Professor Col. Aperfeiçoamento em Odontologia Estética Professor Colaborador Anatomia Humana e Fisiologia
Membro do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica
Membro do Grupo de Odontologia Estética Brasileira – GOEB Membro da Academia Brasileira de Odontologia Estética
O CONCEITO DE PROPORÇÃO ÁUREA E SUA RELAÇÃO COM A PERCEPÇÃO DA BELEZA
EM ODONTOLOGIA
A SUBJETIVIDADE DO BELO NA ARTE, NAS DIVERSAS CIÊNCIAS E SUA APLICAÇÃO ODONTOLÓGICA
1º EDIÇÃO
2011
Dedicatória
A minha avó Francisca (in memorian). Minha poetisa inspiradora. A alma
iluminada. Suas palavras e seus conselhos sempre soarão como eco em
meus ouvidos. Sempre vou sentir sua luz. Seu exemplo de integridade na
vida me fez crescer e me estimulou a ocupar o meu lugar.
“Um sorriso agradável pode produzir uma “Um sorriso agradável pode produzir uma “Um sorriso agradável pode produzir uma “Um sorriso agradável pode produzir uma auraauraauraaura quququque amplia a e amplia a e amplia a e amplia a
beleza da face, fazendo parte das qualidades e virtudes da beleza da face, fazendo parte das qualidades e virtudes da beleza da face, fazendo parte das qualidades e virtudes da beleza da face, fazendo parte das qualidades e virtudes da
personalidade humana.”personalidade humana.”personalidade humana.”personalidade humana.” Claude Rufenacht
APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO
O presente livro visa contribuir com o
aprofundamento e compreensão do importante
tema em estética dental que é o conceito de
proporção áurea e sua relação com a percepção
da beleza em odontologia. Sabe-se que desde os
tempos mais remotos da civilização humana, o
padrão de estética facial ocupa um lugar de
destaque na sociedade, e é importante citar
ainda, que esta afirmação pode ser observada de
inúmeras formas; sendo uma delas, na civilização
egípcia, onde através das Artes, as pinturas e as
esculturas deixavam bem claras o culto imposto à
beleza da época. Desta forma, como objetivo
geral do presente trabalho, tem-se, pois, a
discussão do conceito de proporção áurea e sua
relação com a percepção da beleza em
odontologia.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Arte da Beleza – Beleza da Arte .............................................................. 23
Figura 2 – Formas e Arte Grega ................................................................................ 24
Figura 3 – A Criação de Adão – Michelangelo .......................................................... 25
Figura 4 – Vênus – Botticelli ...................................................................................... 25
Figura 5 – Homem Vitruviano .................................................................................... 26
Figura 6 – Geisha ...................................................................................................... 28
Figura 7 – Mona Lisa – Leonardo Da Vinci ............................................................... 29
Figura 8 – Tom Cruise ............................................................................................... 31
Figura 9 – Scarlett Johansson ................................................................................... 31
Figura 10 – Estado de Fragmentação ....................................................................... 34
Figura 11 – Arte em Gatos ........................................................................................ 34
Figura 12 – Acrópole, Atenas – Arquitetura Moderna ............................................... 35
Figura 13 – O Grito - Munch ...................................................................................... 36
Figura 14 – Almoço na Relva - Manet ....................................................................... 37
Figura 15 – Homem Amarelo – Anita Malfati ............................................................. 38
Figura 16 – Cubismo - Picasso ................................................................................. 38
Figura 17 – Fauvismo - Matisse ................................................................................ 39
Figura 18 – Andy Warhol ........................................................................................... 40
Figura 19 – Obama, Progress ................................................................................... 40
Figura 20 – Dentes Perfeitos ..................................................................................... 43
Figura 21 – Dentes em Proporção Áurea .................................................................. 44
Figura 22-a – Simetria Facial x Assimetria ............................................................... 44
Figura 22-b – Simetria Facial x Assimetria ............................................................... 45
Figura 23 – Linhas do Sorriso ................................................................................... 45
Figura 24 – Telerradiografia em norma lateral em PNC ............................................ 48
Figura 25 – Posição da Cabeça ................................................................................ 49
Figura 26 – Grandezas Cefalométricas Lineares ...................................................... 51
Figura 27 – Ângulo ANB ............................................................................................ 52
Figura 28 – Pontos Tegumentares ............................................................................ 52
Figura 29 – Ângulo da Convexidade Facial ............................................................... 53
Figura 30 – Ângulo Nasolabial .................................................................................. 54
6
Figura 31 – Desenho anatômico ............................................................................... 54
Figura 32 – Pontos Cefalométricos ........................................................................... 55
Figura 33 – Ângulo Mentolabial ................................................................................. 56
Figura 34 – Tipos de faces ........................................................................................ 56
Figura 35 – Planeta Terra.......................................................................................... 59
Figura 36 – Teia de Aranha ....................................................................................... 60
Figura 37 – Cacto ...................................................................................................... 60
Figura 38 – Peixes .................................................................................................... 61
Figura 39 – Favo de Mel ........................................................................................... 62
Figura 40 – Flocos de Neve ...................................................................................... 62
Figura 41 – Sistemas Cristalinos ............................................................................... 63
Figura 42 – Formas Pentagonais nas Flores............................................................. 64
Figura 43 – Formas pentagonais nos organismos marinhos ..................................... 64
Figura 44 – Montagem – Lei da Proporção no Corpo, Natureza, Arte ...................... 65
Figura 45 – Quadro de Da Vinci ................................................................................ 66
Figura 46 – Girassol e padrão das sementes ............................................................ 67
Figura 47 – Espiral de Arquimedes e Espiral Logarítmica ......................................... 68
Figura 48 – Conchas em Espiral ............................................................................... 68
Figura 49 – Esquema da expansão de uma concha ................................................. 69
Figura 50 – Tipo de triângulo usado nos experimentos de Klausmeier e Goodwin ... 72
Figura 51 – Sequência de Fibonacci ......................................................................... 74
Figura 52 – Retângulo Áureo .................................................................................... 74
Figura 53 – Nautilus .................................................................................................. 75
Figura 54 – Nautilus Marinho .................................................................................... 75
Figura 55 – Segmento da Reta A-B .......................................................................... 76
Figura 56 – Razão e Segmento ................................................................................. 76
Figura 57 – Resultado do maior segmento ............................................................... 78
Figura 58 – Proporção encontrada ............................................................................ 78
Figura 59 – Ramos de Troncos em Árvores .............................................................. 79
Figura 60 – Problema das abelhas ............................................................................ 80
Figura 61 – Filotaxia .................................................................................................. 81
Figura 62 – Pintura e Arte ......................................................................................... 82
Figura 63 – Anatomia ................................................................................................ 83
Figura 64 – Arquitetura .............................................................................................. 84
7
Figura 65 – Prédio Sede da ONU .............................................................................. 85
Figura 66 – Cartão .................................................................................................... 85
Figura 67 – Dimensões Áureas no Homem .............................................................. 87
Figura 68 – Montagem – Rostos e Raças ................................................................. 88
Figura 69 – Punk ....................................................................................................... 89
Figura 70 – Rastafari ................................................................................................. 89
Figura 71 – Black Power ........................................................................................... 89
Figura 72 – Mulheres Girafa ...................................................................................... 89
Figura 73 – Indígenas ............................................................................................... 90
Figura 74 – Piercings ................................................................................................ 90
Figura 75 – Julia Roberts e seu Sorriso .................................................................... 91
Figura 76 – Altura do Incisivo Central x Largura dos Incisivos .................................. 93
Figura 77 – Utilização da Gengivectomia para regularizar margens gengivais ......... 93
Figura 78 – Blocos Transparentes usados em Fotografias ....................................... 94
Figura 79 – Altura das linhas dos Lábios .................................................................. 94
Figura 80 – Linha Interpupilar .................................................................................... 95
Figura 81 – Ângulo Nasolabial .................................................................................. 95
Figura 82 – Diagrama de Referências Estéticas Dentárias ....................................... 96
Figura 83 – Simetria .................................................................................................. 96
Figura 84 – Eixos dentários ....................................................................................... 97
Figura 85 – Limite do contorno gengival ................................................................... 97
Figura 86 – Nível do contato interdentário ................................................................ 97
Figura 87 – Bordas incisais em forma de prato fundo ............................................... 98
Figura 88 – Proporções Dentárias ............................................................................. 98
Figura 89 – Linhas do Sorriso ................................................................................... 98
Figura 90 – Efeito Paralax ......................................................................................... 99
Figura 91 – Tratamento Ortodôntico e Reabilitador .................................................. 99
Figura 92 – Sorriso Invertido ................................................................................... 100
Figura 93 – Ausência do Paralelismo ...................................................................... 100
Figura 94 – Correção de inclinação ......................................................................... 104
Figura 95 – DRED Pré e Pós-Tratamento ............................................................... 104
Figura 96 – Referência Fotométrica ........................................................................ 105
Figura 97 – DREF para avaliar simetria .................................................................. 105
Figura 98 – Terços Faciais ...................................................................................... 105
8
Figura 99 – Depressão Infraorbitária, Proj. Zigomática e Dist. Intercantal .............. 106
Figura 100 – Sulcos Nasogeniano, mentolabial e distância interpupilar ................. 106
Figura 101 – Vista Sagital ....................................................................................... 106
Figura 102 – Discrepância entre os terços faciais ................................................... 107
Figura 103 – Vista Frontal da face e do Arco .......................................................... 108
Figura 104 – Arcos Pré e Pós-Tratamento .............................................................. 108
Figura 105 – Sorriso Pré e Pós-Tratamento ............................................................ 109
Figura 106 – Vista Frontal e Sagital ........................................................................ 110
Figura 107 – Vistas Laterais dos Arcos ................................................................... 110
Figura 108 – Sorriso Pré e Pós-Tratamento ............................................................ 111
Figura 109 – Equilíbrio da Estética Bucal, Dental e Facial ...................................... 111
Figura 110 – Sorriso Agradável ............................................................................... 115
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17
1.1. Objetivos Gerais e Específicos ....................................................................... 18
1.2. Justificativa ...................................................................................................... 18
1.3. Metodologia ..................................................................................................... 19
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 20
2.1. Breve Análise sobre o Belo e a Estética ......................................................... 20
2.2. Princípios e Padrões Estéticos ........................................................................ 42
2.3. A Análise Facial e seu Diagnóstico ................................................................. 47
2.4. Geometria, Fibonacci e a Proporção Áurea .................................................... 57
2.5. A Proporção Áurea e sua Utilização na Odontologia ...................................... 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 116
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 118
10
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo visa contribuir com o aprofundamento e compreensão do
importante tema em estética facial, que vem a ser o conceito de proporção áurea e
sua relação com a percepção da beleza em odontologia. Sabe-se que desde os
tempos mais remotos da civilização humana, um padrão facial ocupa um lugar de
destaque na sociedade, e é importante citar ainda, que esta afirmação pode ser
observada por inúmeras formas sendo que uma delas, na civilização egípcia, onde
através das Artes, as pinturas e as esculturas deixavam bem claras o culto imposto à
beleza da época.
O tratamento ortodôntico é um dos meios comprometidos com a busca e a
preocupação referentes à estética e à harmonia facial tornando-se totalmente
essencial nesta área de atuação. Assim contextualiza-se que a Ortodontia tem como
foco dentro dos processos de tratamento a correta posição dentária e também a face
do paciente. Preconizava-se que no início do século XX, a maioria dos autores
procuravam estudar apenas a posicionamento dentário bem como questões que
envolviam os aspectos ósseos do tratamento. E para que pudessem primar por
diagnóstico e tratamento ortodôntico eficiente surgiu também a cefalometria.
Observa-se ainda que a utilização de imagens digitais apresenta
vantagens potenciais em relação a imagens ana lóg icas , inc lu indo o
armazenamento, manipulação, transmissão de dados. Recentemente, a utilização
da cefalometria digital tornou-se comum em laboratórios de radiologia
odontológica e em consultórios de ortodontia.
Diante da crescente valorização da beleza, o grande avanço
adquirido pela cirurgia ortognática fez com que surgissem alguns pontos
dentro da Ortodontia moderna, havendo assim a necessidade de destacar a
face de cada paciente que procura por tratamento. Preconiza-se então que
avaliar a beleza e o processo de harmonia da face é uma tarefa muita
complexa, pois a meta a ser alcançada é vista como algo subjetivo e muito
pessoal. Assim mesmo por ser extremamente atual e amplamente utilizada,
a análise facial também é alvo de inúmeras críticas sobre a questão da
fidelidade como forma de diagnóstico.
11
O conhecimento da estética facial é amplamente importante para os
profissionais da área da Odontologia e, além disso, é de interesse das pessoas de
uma forma geral. Muitos são os estudos que apresentam, de forma clara, as
diferenças entre os indivíduos, como pacientes ou pessoas independentes, quanto
às suas preferências, se comparados às idéias de beleza dos profissionais de
diferentes áreas.
1.1. Objetivos Gerais e Específicos
Desta forma, como objetivo geral do presente trabalho, tem-se, pois, a
discussão do conceito de proporção áurea e sua relação com a percepção da beleza
em odontologia.
Os nossos objetivos específicos são: - compreender aspectos diversos e
agregar valor cultural e educacional ao profissional odontólogo quando se trata do
assunto “beleza x belo”, proporção áurea no mais amplo aspecto do termo -
compreender aspectos básicos da beleza e do belo artístico; no conceito filosófico,
histórico e cultural - conhecer a importância da estética dental no meio profissional; a
utilização de técnicas de medição de proporção facial e todos os demais aspectos
que venham a ser pertinentes para o entendimento da questão proposta e um
estudo necessário e mais aprofundado para a proporção áurea em si, devidamente
ilustrada mediante imagens e figuras a serem anexadas com fins ilustrativos para
melhor entendimento prático do tema.
1.2. Justificativa
A questão da estética facial e dentária é objeto de décadas de estudos
recentes e de inúmeras técnicas e teorias que surgiram no campo da odontologia.
Sua análise e preocupação para o tratamento esperado pelo paciente são hoje
bastante costumeiras e na maioria das vezes mais do que necessárias para o devido
tratamento odontológico, sobretudo nas situações onde a avaliação subjetiva da
beleza deve ser levada em consideração.
12
1.3. Metodologia
Para a realização deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica.
Segundo Gil (1991), a pesquisa bibliográfica é aquela “desenvolvida a partir de
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Mas
a pesquisa bibliográfica também inclui outras modalidades de publicação, tais como
artigos de revistas e jornais direcionados ao público em geral.
Segundo Santos (1999) as vantagens de uma pesquisa bibliográfica é que
esta é “mais simples e confortável, já que dispensa todo o trabalho de
montagem/escolha/testagem/relato de dados. Os dados já estão prontos,
organizados, publicados”. Pesquisaram-se as bibliografia e as fontes. As fontes
referem-se a textos originais relacionados a um determinado assunto. A bibliografia
diz respeito aos esclarecimentos referentes às fontes; é toda a literatura originária de
determinada fonte ou de determinado assunto.
A pesquisa bibliográfica pode conduzir a novas visões sobre um
determinado problema. Segundo Parra Filho (2002), “qualquer que seja o campo a
ser pesquisado, sempre será necessária uma pesquisa bibliográfica, para se ter um
conhecimento prévio do estágio em que se encontra o assunto”.
A leitura exploratória e interpretativa favoreceu a construção dos argumentos
por progressão ou por oposição. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica
encontra-se no fato de viabilizar ao pesquisador a cobertura de uma ampla gama de
fenômenos, bem maior do que a que seria possível pesquisar diretamente. Esse
método de pesquisa é particularmente vantajoso quando o problema da pesquisa,
como é o caso do estudo em questão, exige dados dispersos pelo espaço.
O tipo da pesquisa utilizada será a pesquisa bibliográfica, mediante artigos,
livros e relatos clínicos de diversos estudiosos brasileiros e estrangeiros, bem como
dos grandes mestres da odontologia e especialistas. Procuramos colher lições e
aprendizados que serão aqui expostos. Serão ainda lidos livros de diversos autores,
bem como artigos e materiais disponíveis em portais na rede web de computadores,
periódicos, revistas, enciclopédias, arquivos digitais, e a pesquisa documental.
As fontes utilizadas para a pesquisa consistem basicamente na consulta
destes materiais já citados, de onde se buscarão embasamento para o
desenvolvimento dos objetivos aqui arrolados. Já como instrumento de coleta de
13
dados, teremos o fichamento de informações coletadas das pesquisas bibliográficas
empreendidas.
Assim, os dados coletados serão individualmente lidos e estudados, para em
seguida serem entendidos em separados e conjuntamente, quando daremos início
ao desenvolvimento do texto e do tema como um todo. O método utilizado para a
análise dos dados consiste no método indutivo, pois se partirá de princípios
particulares para se chegar à generalização do assunto, como decorrência natural e
posterior do trabalho de coleta dos dados particulares e individualizados.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Breve Análise sobre o Belo e a Estética
Observa-se que as mais variadas definições do que seja o belo e do que
seja a estética, sempre marcaram ativa presença na história e para inúmeros
estudiosos e filósofos. Desta forma, entendeu-se que o harmônico, qualidade do
Belo, esteja nítido e se manifeste na vida, na saúde, na alegria e no amor. Portanto,
trata-se de algo que seduz que preexiste na própria natureza e pode ainda adquirir
novas formas, algo que brilha, que ornamenta, que alegra e que emociona.
Segundo um importante estudo de Pauli (1997), “o filósofo e o cientista
experimental estendem e aprofundam sistematicamente a contemplação do belo” de
forma que “não somente se limitam a observar e apreciar o belo, mas ainda se
aplicam a esclarecer o que ele é”. Para o autor:
Dilata-se, então, o significado do belo para noções progressivamente mais amplas, até ao espaço imponderável da metafísica, onde muito se expande o saber, ainda que pouca seja a segurança de vôo nesses espaços imponderáveis aos quais nos aventuramos. (Mas) Que seria o belo em si mesmo? Uma tentativa metafísica (ou seja, uma das hipóteses), reza o seguinte: o belo é o ser enquanto se destaca como perfeição. Equivale, em outras palavras a dizer: o belo é a perfeição em destaque. Ou, com alguma nuance: o belo é o esplendor da forma. Então a palavra forma equivale à
14
essência, e já dizemos: o belo é o esplendor da essência da coisa. (Pauli, 1997, p. 1).
É possível deduzir que “o belo seja como o esplendor da coisa”, ou “o
esplendor da forma”, ou seja, métricas perfeitas, harmonia, devida proporção são
componentes do belo em sua plenitude. Desta forma, é necessário também ao
filósofo ou analista deste fenômeno, que se estenda e se aprofunde na
contemplação do que se julga belo, procurando determinar seus aspectos,
decorrências e possíveis contradições ou contrapontos. Diz-se que esse “cuidado
prévio com a lógica da investigação se denomina Introdução ao Tratado do belo,
olhando-o como que primeiramente a partir de fora”, assim Pauli (1997) incrementa:
É o belo como desfila todos os dias diante de nós: o belo das flores dos jardins, o belo das aves do céu, o belo da juventude que passeia. Uma primeira abstração chamada total separa o belo de suas individuações, passando do individual ao universal; temos então o belo enquanto tal (ou o belo em geral), porque a abstração total o separou da totalidade dos seus indivíduos. Podemos dizer que nesta primeira abstração, - a total, - o belo já deixou de ser concreto. Contudo, depois desta primeira abstração (chamada total), continuamos ainda no plano do objeto material, embora já com o título de objeto geral; neste sentido se diz que a ciência cuida do universal, por exemplo, da planta em geral, e não desta ou daquela planta. Portanto, o Tratado do belo trata do belo universal. (Pauli, 1997, p. 3)
Desta forma, quer o autor dizer que se observando as belezas consideradas
concretas por conseqüência as ciências se ampliam, de modo que a visão, por
exemplo, se desvinculando da abstração total e optando pela formal, passe a
indagar e analisar todos os aspectos próprios do objeto em análise separadamente.
Desta forma, perceber-se-á que cada um destes aspectos específicos do
objeto poderão ser reconhecidos de maneiras e formas pela ciência, assim, por
exemplo, Pauli (1997) chega a citar alguns destes meios: - metafísico (Tratado
metafísico, ou gnosiologia e ontologia do belo); - psicológico (Tratado psicológico do
belo ou Estética psicológica do belo); - moral (Tratado moral do belo); - educacional
(Tratado educacional do belo); - cultural (Tratado cultural do belo); - social (Tratado
social do belo); - sociológico (Tratado sociológico do belo); - artístico (Tratado
artístico do belo, ou o belo na arte); - técnico (Tratado técnico do belo); - industrial
(Tratado industrial do belo).
15
Assim, o autor define:
Convertidas a filosofia, a ciência experimental e a técnica em instrumentos de clarificação do belo, nos seus mais variados aspectos, tornam-se belas à própria filosofia, ciência e técnica. O estudo do belo não é um tratado no sentido de ciência autônoma. Ele é parte integrante de uma ciência maior, ou de várias ciências maiores, da qual ou das quais é recortado, em virtude da importância do tema. Então se torna uma disciplina de saber, em vista de se dar um desenvolvimento maior, com uma organização didática particular. O mesmo acontece com outros temas da filosofia e ciência, os quais, pela sua importância se desenvolvem didaticamente como disciplina. Estudado o belo do ponto de vista meramente metafísico, a respectiva disciplina se diz adequadamente Metafísica do belo. Dividida a metafísica em gnosiologia e ontologia, vale também dizer Gnosiologia e ontologia do belo. Por ênfase, chamamos, sobretudo à metafísica do belo, pela expressão Tratado do belo. A rigor, também as outras disciplinas sobre o belo são denomináveis Tratados do belo. Mas dentre todas assume particular destaque a Metafísica do belo, que por isso é enfaticamente O tratado do belo. (Pauli, 1997, p. 5).
Para o autor, “a esteticidade do belo não é um elemento da essência do
belo, todavia uma sua propriedade muito peculiar”. Assim, ter-se-á um diferente
ponto de vista a partir da qual forma científica se avistar e se analisar a matéria.
Pauli (1997) explicou que “há um único ponto de partida concreto, denominado o
objeto material, - que não é senão aquele belo que desfila todos os dias diante de
nós como realidades nas mais diversas coisas”. No entanto, percebe-se que dentre
os autores estudados, a maioria tem notável preferência pela análise do ponto de
vista metafísico (ou ontológico), o que não interessaria ao presente estudo, posto
que se pretenda observá-lo principalmente sobre o ponto de vista prático e ativo.
16
Figura 1 – Arte da Beleza – Beleza da Arte (Fonte: Desarte1)
Assim, pelo já exposto e por todas as principais verificações de estudiosos
como o autor citado, a análise do belo ultrapassa eras e vem acompanhando o
homem desde a antiguidade. É sabido, portanto, que os filósofos gregos já
estudavam e discutiam o belo e todos os seus variados aspectos, bem como suas
propriedades, como proporção e harmonia, sem contar obviamente com a análise de
sua ação estética. O autor explicou que “o objetivo prático evidentemente prevalecia,
no sentido do fazer belas as coisas, quer as simplesmente úteis, quer as de
expressão artística, o que equivalia dar-lhes correta proporção e harmonia”. (Pauli,
1997). Desta forma, na verdade a “metafísica do belo foi tema apreciado dos
grandes filósofos clássicos, e assim também dos grandes nomes da filosofia
moderna”.
1 Disponível em: http://desarte.wordpress.com/page/3/
17
Figura 2 – Formas e Arte Grega (Fonte: São Francisco2)
Pauli (1997) explicou ainda que “a bem da verdade, os tratados do belo
poderiam ser mais breves, se não houvessem ocorrido tantos acidentes de percurso”
e que “assim sendo, o tratado do belo ficou sendo uma espécie de tratado de
exercício de coisas intrincadas”. Assim, quer o autor dizer que “conhecer e estudar
sistematicamente o belo resulta em vantagens, e que se situam em vários planos”, e
justifica:
Primeiramente, vale o princípio geral que todo o conhecimento é em si mesmo valioso, enquanto nos agrada o conhecer. Neste caso se encontra o belo, por ser qualidade aperfeiçoativa. Como já advertiu Aristóteles, o belo é o preferido. Em decorrência direta destaca-se o valor do Tratado do Belo, pois atenta para o belo e alarga o conhecimento sobre o mesmo. Ainda que o belo não fosse valioso em si mesmo, bastaria, para determinar sua importância, a atração que exerce. A curiosidade pelas coisas belas e a afetividade estética produzida induzem a fazer dele uma indagação. Enfim, todo o saber vale por si mesmo. É bom saber. E por isso é bom saber algo sobre o belo. É mesmo bom conhecer o seu contrário, o feio, porquanto destaca, pelo contraste, ao belo. (Pauli, 1997, p. 10).
2 Disponível em: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/arte-grega/arte-grega-4.php
18
Figura 3 – A Criação de Adão – Michelangelo (Fonte: H.Effting3)
Figura 4 – Vênus – Botticelli (Fonte: MetalloArts4)
Assim, o autor explicou:
Antes que surgisse a arte, o belo já existia. Muito antes de aparecer o homem sobre a face da terra para produzir a arte, já resplandecia o belo na luz dos astros, no colorido das auroras, no azul da abóbada celeste, nas noites estreladas, nas nuvens vagando no espaço, nas montanhas sinuosas, nas florestas verdejantes, nas flores coloridas, no zumbido dos insetos e canto dos pássaros, nos brutos das campinas, no rolar das ondas do mar. Imenso sempre foi o número das coisas belas, antes que a primeira obra de arte surgisse. Mesmo na arte, o som já pode ser belo,
3 Disponível em: http://www.heffting.com.br/?pagina=arte
4 Disponível em: http://metalloarts.com/birth-of-fortuna/
19
harmonioso, agradável antes de se transformar em música expressiva. Por isso, há na música muito do belo pré-artístico, antes da expressão musical propriamente dita. O mesmo pode acontecer com os materiais da arquitetura e da escultura, sempre capazes de serem belos em si mesmos, independentemente da expressão que passam a assumir. Sobretudo as cores são belas, mesmo quando nada expressam. A arte literária, sobretudo a poesia, também explora o belo da cadência dos sons e das rimas. Portanto, por toda a parte reina o belo nas coisas, mesmo antes que a arte as transforme em novas maravilhas. (Pauli, 1997, p.10).
Figura 5 – Homem Vitruviano (Fonte: Chazit5)
É ainda importante desde já deixar clara a relação viva existente entre o belo
e a arte. O belo não só é o tema preferido da arte, como advém de sua própria
natureza. Concebe-se a arte como uma forma de expressão humana ou natural, em
que certos objetos se tornam a representação de outros existentes na realidade ou
na imaginação. A arte é de certa forma representação da vida, da existência, do
imaginário e porque não da beleza. Sobre isso afirmou Pauli (1997) que “esta
representação busca ser perfeita, ao mesmo tempo em que prefere os temas
perfeitos, isto é belo” e então “é por si mesmo evidente que a expressão artística
busque ser perfeita e que prefira expressar os temas perfeitos, ainda que as
circunstâncias a obriguem à universalidade dos temas”.
5 Disponível em: http://www.chazit.com/cybersio/arhj/renasc.html
20
Argumenta o autor que:
Sem ser ela mesma o belo, foi a arte sempre amiga do belo: tanto ela busca o belo na função do expressar com perfeição, como também o busca nos temas belos. Por causa desta dupla possibilidade de beleza da arte, acontece que o mais degradante dos temas, ainda que como tema possa não ser o belo, passa, contudo a ter uma expressão bela, porque ao menos perfeita como expressão. Importa ainda conhecer o belo como um dos ideais de construção do homem, seja do homem como belo corpo, seja do homem como bela pessoa. Neste contexto surge o belo como um dos objetivos gerais da educação. A filosofia da educação, ao tratar dos objetivos gerais da educação, advertirá sobre este aspecto. Quando se toma alguma beleza em separado, esquecidas as outras, pode eventualmente acontecer que o belo, sobretudo na arte, por vezes conduz ao mau caminho. Então já não se trata da beleza artística por ser artística, e sim do tema que foi mau, e foi introduzido pela palavra, ou pela música, ou pelas artes visuais. Se, entretanto abstrairmos do tema, aquela expressão poderá ter sido artisticamente perfeita. Se, porém o próprio tema for bom, teremos a aliança do belo temático com o belo artístico. Se dentre os bons temas o próprio tema belo, a aliança havida será de beleza com beleza, isto é, do belo expressar e do tema belo. (Pauli, 1997, p. 11).
Isso por que:
A tendência do artista não é apenas o expressar belamente, mas expressar um bom tema. E este poderá ser um tema instrutivo, um tema capaz de divertir, um tema curioso pela sua originalidade, enfim poderá ser um tema belo. Acontecerá então uma seletividade temática, desde os mais úteis até os mais belos. Ainda que o artista se preocupe em funcionalmente expressar-se belamente, o que verdadeiramente lhe importa é o tema. A arte pela arte é uma situação abstrata. Ninguém fala simplesmente para falar; fala-se para dizer algo de interesse temático. A arte pela arte, como simples virtuosismo funcional do bem expressar, é apenas um momento abstrato, tomado a um todo maior; cuida somente da arte pela arte o apreciador que faz a ciência da arte, a crítica da arte, a história da arte, porquanto cada ciência toma em conta um ponto de vista a parte. Pode a arte pela arte ser uma preferência de quem a aprecia; mas nunca é toda a arte. Aparentemente o cientista da arte, o seu crítico e historiador parecem conduzidos à indiferença moral; todavia, o estado deles é apenas o da abstração, porque na verdade simplesmente por definição não lhes cabe diretamente cuidar do conteúdo simplesmente em si mesmo; este já pertence a um outro setor, o da filosofia moral da arte. (Pauli, 1997, p.11).
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Figura 6 – “Geisha” (Fonte: Locutório6)
Desta forma, subentende-se que “apesar da distinção entre o belo e a arte, é
na arte, que, - ao mesmo tempo em que busca ser bela, - muito se valoriza o belo”.
O autor ainda entendeu que “quando se trata do belo e da arte como valiosos à
educação, importa primeiramente o conteúdo belo e o conteúdo expresso pela arte;
surge então o belo como a perfeição em destaque e a expressão artística como
mensagem direta do tema”, no entanto, “a expressão enquanto bela expressão
também educa, porquanto excita o sentimento estético, em si mesmo apreciável e
elevado”. (Pauli, 1997).
Já Schiller (apud Pauli, 1997) aborda a questão do belo como fator de
educação, explicando que “é verdade que já ouvimos, até o cansaço, a afirmação de
que o sentimento educado da beleza refina os costumes, de modo que parecem
desnecessárias novas provas”, e que “o problema que se levanta por causa
distinção entre o gozo pela beleza da forma e o conteúdo expresso” e ainda:
Existem vozes dignas de atenção que se declaram contra os efeitos da beleza, armadas de atenção que se declaram contra os efeitos da beleza, armadas pela experiência terrível. É inegável, dizem elas, que os encantos da beleza, em boas mãos podem servir a fins louváveis; não lhes contradiz a essência, entretanto, quando, em mãos danosas, fez justamente o
6 Disponível em: http://locutorio.blog.com/2006/2/
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inverso, utilizando sua fascinação sobre as almas em favor do engano e da injustiça. O gosto atenta apenas na forma e nunca no conteúdo, e por isso conduz a ama ao perigoso pendor de negligenciar a realidade em geral e de sacrificar a verdade e a moralidade em favor de uma vestimenta encantadora. (Pauli, 1997, p. 12).
Nem ignora Schiller (apud Pauli, 1997) de que “a objeção do fato de que o
florescimento das mais belas artes ocorreu por vezes em períodos de decadência”:
Não temos um exemplo que seja de coexistência amistosa em um mesmo povo entre o alto grau de cultura estética generalizada e a liberdade política ou virtude cívica, entre os belos e bons costumes, entre a polidez do comportamento e sua sinceridade... O nosso olhar, onde quer que perscrute o mundo passado, verá sempre que gosto e liberdades se evitam e que a beleza funda seu domínio somente no crepúsculo das virtudes heróicas. E ainda assim, esta energia de caráter é justamente a mola com cujo empenho se obtém a cultura estética, a mola maior de tudo, quanto é grande e excelente no homem, cuja falta nenhuma outra virtude, por grande que fosse, poderia suprir. (Pauli, 1997, p. 12).
Figura 7 – Mona Lisa – Leonardo da Vinci (Fonte: SGallery7)
7 Disponível em: http://www.sgallery.net/artnews/2007/01/22/evidence-on-mona-lisa-model-found.html
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No famoso quadro Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, o retângulo áureo aparece diversas vezes. Note que as proporções do próprio quadro seguem a razão áurea nesse caso. Veremos mais adiante as designações e explicações referentes ao assunto da proporção relacionada com o retângulo áureo.
Pauli (1997) explicou ainda que “o belo tem muitos nomes” e que conhecê-
los “abre um leque de sugestões sobre sua natureza”, de forma que:
O fato mesmo de ter o belo muitos nomes nos adverte, que ele é um fenômeno de caráter bastante genérico. Efetivamente o belo participa de outras noções. Tanto importa conhecer estas relações, quanto não confundi-lo com elas. Além disto, importa não perder de vista a advertência de Aristóteles, de que os nomes costumam derivar de qualidades ou propriedades mais evidentes, e não do que é essencial ao objeto denominado; por isso, ao colhermos a informação vinda através do nome, não devemos logo identificá-la simplesmente com o essencial da coisa denominada. O belo, não obstante à costumeira superficialidade dos nomes, costuma ter, contudo bons nomes. Essencialmente o belo é perfeição em realce; ora este caráter é quase sempre sugerido em seus nomes.
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Importante análise faz ainda o autor quando explicou que:
Perfeição por si só não indica o belo. Está, todavia, como que na posição de gênero para a sua espécie. O sentido etimológico de perfeito (do latim per-fectum), derivado de perfazer, encontra-se ainda evidente. Sugere o acabamento, cuja feitura foi conduzida até ao fim, até a integridade. Lembra, portanto a verdade ontológica, a idéia exemplar, portanto ao modelo arquétipo em função ao qual uma realização completa se subordina. A evolução semântica do termo admite hoje que o perfeito não somente se diga da obra que se faz, ou se cria, mas também de um ser que se realiza dentro de um conceito absoluto. Neste sentido, o perfeito também se diz de Deus. O belo não diz respeito diretamente à noção do fazer. Por isso, o que já existe, embora não tenha sido feito, pode ser belo independentemente da noção do fazer. O belo é a perfeição enquanto se destaca do que é menos perfeito. Há, pois, uma distinção entre o perfeito e o belo. (Pauli, 1997, p. 15, grifo nosso).
Figura 8 – Tom Cruise (Fonte: Popsquire8)
Figura 9 – Scarlett Johansson (Fonte: Sidereel9)
8 Disponível em: http://popsquire.com/category/tom-cruise/
9 Disponível em: http://www.sidereel.com/Scarlett_Johansson
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Assim, conclui o autor ao fazer importante análise sobre a Estética, nos
seguintes termos:
Filosofia da arte é nome que tem a vantagem de definir o campo ao qual se restringe, - a expressão em obra sensível. Não envolve filosofia da arte diretamente o belo. Ainda que o belo possa ser um dos objetivos da arte, ele ocorre também fora do campo da arte; por sua vez, a arte tem um objetivo essencial que não se confunde com o belo. Comparando estética e filosofia da arte, importa dizer que o campo da estética é mais amplo por incluir mais vastamente o belo não artístico, por exemplo, o belo da natureza. O mesmo acontece com o uso da palavra belo, que alguns, por exemplo, Baumgarten e Hegel, definem de maneira muito particular. Os nomes Estética de conteúdo e Estética psicológica apresentam a vantagem de distinguir nitidamente dois campos: a de conteúdo examina o objeto capaz de agradar (entre eles o belo e o artístico), a psicológica examina o sentimento estético em si mesmo. Com referência ao conteúdo que pode agradar, diferenciam-se muito nitidamente o conteúdo belo e o conteúdo artístico. Agrada o belo simplesmente por ser belo; agrada o conteúdo artístico, porque havendo na expressão artística uma informação, esta agrada, na acepção de que agrada saber algo. Combinado com o nome de arte, sobretudo em suas espécies, o contexto da palavra estética sempre se torna mais ou menos claro, de que se trata de uma arte; por exemplo, estética literária, estética musical, estética das cores (ou da pintura), estética das formas (ou da escultura). Mas se tratar da estética conjunta de todas as artes, mais claras ficam as expressões: filosofia geral da arte, ciência geral da arte, inspiração artística, gêneros artísticos, estilos da arte. (Pauli, 1997, p. 18).
Desta forma, pode-se claramente observar a relação do belo com a arte.
Gusman (2008) observa que “em antigas culturas gregas o conceito de belo teve
implicações morais e intelectuais que condicionaram o alcance do seu sentido
estético”. A autora ainda menciona que:
Foram três acepções fundamentais que prevaleceram entre os gregos: Estética, moral e espiritual. Estético: No sentido estético o belo é a qualidade de certos elementos em estado de pureza, como cores agradáveis e formas abstratas. Depende de condições sensíveis e formais. A beleza desses elementos puros repousa na adequação aos sentidos, sobretudo aos ouvidos e vista. Belo é o que agrada ver e ouvir e no belo estético há uma antecipação das qualidades morais que o homem devera possuir e expressar em seus atos. Moral: Se refere ao estado da alma. Na acepção moral a beleza é o patrimônio das almas equilibradas, que consegue manter-se em perfeita harmonia consigo mesmas, constituindo assim a medida do Bem. As idéias do Belo e do Bem formam uma união essencial, teórica e prática. Sócrates ensinou que tudo o que se pode chamar de belo é útil, e também não separou a Beleza do Bem, entendendo que nada é verdadeiramente bom sem que também seja útil. Sendo assim, o que é Belo e Bom representa uma parcela da verdade, ideal do conhecimento teórico que coincide com o Ser em sua plenitude. A verdade possui sua própria beleza, a mais alta de todas, igual a do Belo. (Gusmam, 2008, p. 1).
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Desta forma, explicou a autora, que “as artes estão subordinadas ao belo
estético” e “preenchendo uma finalidade moral, objeto da segunda espécie de
beleza”. Assim, “o significado comum das acepções analisadas que se ligam entre
si, é a excelência e o grau de perfeição desejáveis nas coisas exteriores”, “por isso é
que a beleza constitui fonte de prazer para os sentidos e para inteligência”.
(Gusman, 2008).
A autora ainda explicou que:
É arte no sentido de fazer e produzir. São artísticos aqueles processos que, mediante o uso de meios adequados, permitem-nos fazer bem uma determinada coisa. Arte é a própria disposição prévia que habilita o sujeito a agir de maneira pertinente, seguindo o conhecimento antecipado do que quer fazer ou produzir. Aristóteles fixou a conceituação da arte nos seguintes termos: Hábito de produzir de acordo com a reta razão, de acordo com a idéia de coisa a fazer. Dentro disso cabem tanto as artes da medida e da contagem, consideradas básicas, quanto as manuais, que possibilitam a fabricação de objetos, e por fim as artes imitativas, como pintura e escultura. Sendo que esses últimos Aristóteles abrangeu com a denominação genérica de poesia. (Gusman, 2008, p. 2).
A autora cita ainda os três princípios adotados pela filosofia da antiguidade
sobre a análise da arte: - Imitação: para definir a natureza da arte; - Estético: para
estabelecer as condições necessárias de sua existência; - Moral: para julgar de seu
valor. E então explicou:
Quanto à natureza, a arte reproduz as aparências e representa os aspectos essenciais das coisas. Ela assenta naquilo que chamamos de beleza estética: o equilíbrio e a simetria, o respeito às proporções, etc. O valor da arte é aferido pelos efeitos que ela produz que dependem da qualidade que ela representa. Deve as artes representar o que é belo, tanto esteticamente quanto moralmente, para que o espírito sinta-se inclinado a pratica das virtudes e ao conhecimento da verdade. O principio da imitação, invocado para explicar a natureza da arte, define a função ética e espiritual que ela desempenha que consiste em induzir a alma a imitar o que é bom e digno de ser imitado. O belo, como valor atribuído às coisas, deriva da Beleza universal, uma essência, na acepção que estas palavras adquirem na filosofia. As coisas são belas, na medida em que participam da beleza transcendente, que não nasce nem morre. A beleza se comunica com o sensível, da-lhe qualidades que enriquecem a matéria, mas que não pertencem a esse mundo. As três espécies de Beleza convertem-se, na filosofia platônica, em três momentos ou etapas do dialogo com o ser. O amor acende na alma humana o desejo de imortalidade, passando do conhecimento dos belos corpos ao das belas ações, das belas almas aos belos conceitos, até que revela-se-lhe o “oceano da beleza universal”, onde finalmente ela pode aplacar a sua infinita inquietação. (Gusman, 2008, p. 5).
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Figura 10 – “Estado de Fragmentação” (Fonte: Cultura Religare10)
Figura 11 – “Arte em Gatos” (Fonte: XizTudo11)
Enquadramento fotográfico adequado, (proporção áurea em fotografias), utilização do retângulo de Fibonacci.
10
Disponível em: http://culturareligare.wordpress.com/2007/08/12/a-necessidade-da-arte-ernst-fischer/ 11
Disponível em: http://www.xiztudo.com/2008/08/arte-em-gatos.html
28
Figura 12 – Acrópole, Atenas – Arquitetura Moderna (Fonte: Obvious12)
Os gregos já usavam o retângulo áureo em suas construções mais importantes, o Partenon é um exemplo claro disso. Exemplos de proporção áurea também na arquitetura moderna. Torre CN (Toronto, Canadá) e o prédio da ONU, respectivamente.
A respeito das questões sobre a imagem, Barbosa (2002) diz que “a imagem
é hoje, um componente central da comunicação, com sua multiplicação e ampla
difusão, com sua repetitividade infinita, estes dispositivos fazem com que, por
intermédio de sua materialidade, uma imagem prolongue sua existência no tempo”.
Assim, para Coli (1995) a partir das pinturas do período Paleolítico foram surgindo
cada vez mais novas formas de criação e recriação de sentimentos expressos pela
12
Disponível em: http://blog.uncovering.org/archives/2006/08/perfeicao_divin_1.html
29
natureza por meio de imagens como as linhas, cores, formas que eternizam
emoções individuais ou coletivas, por isso a pintura é um dos meios de comunicação
mais importantes do espírito humano. Lopera et al. (1995) entendeu que através da
pintura, se pode compreender melhor o passado e também a conduta no presente, é
por meio dela que se criam novos conceitos e assim se percebe que novas
ideologias foram surgindo com novas concepções de arte.
Figura 13 – O Grito – Munch (Fonte: Estadão13)
Pode-se afirmar que essas concepções, de acordo com Lopera et al. (1995)
tomaram conta de alguns artistas do século XX, como, por exemplo, Manet, que
pintou no final do século XIX, o quadro “Almoço na Relva”, o qual retrata dois
homens da burguesia francesa e uma mulher nua entre eles em um jardim aberto.
Nesta época a França adotava o academicismo, que padronizava uma pintura
voltada para o moralismo, a beleza da elite francesa. Tal quadro chocou a sociedade
parisiense.
Figura 14 – Almoço na Relva – Manet (Fonte: Observarte14)
13
Disponível em: http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art135464,0.htm
30
Os pintores que não fugiam deste padrão tinham no museu do Louvre uma
sala especial chamada de “a sala dos recusados”. Aqui no Brasil, a situação se deu
com a exposição de Anita Malfatti, pois uma nova ideologia estava por se firmar em
contrapartida com os costumes da época, por esta conduta artística foi muito
criticada por Monteiro Lobato.
Segundo Lopera et al. (1995):
“(...) uma das razões pelas quais o homem cria é um impulso irresistível de reestruturar a si próprio e ao seu ambiente de forma ideal. A arte representa a compreensão mais profunda e as altas aspirações de seu criador; ao mesmo tempo o artista muitas vezes tem a importante função de articulador de crenças comuns. Eis por que uma grande obra contribui para nossa visão de mundo e nos deixa profundamente emocionados. Uma obra-prima tem esse efeito sobre muitas pessoas. Em outras palavras, ela é capaz de suportar a análise mais minuciosa e resistir ao tempo. Na arte, assim como na linguagem, o homem é, sobretudo um inventor de símbolos que transmitem idéias complexas sob formas novas (...) a pintura sugere muito mais que afirma” (Lopera et al., 1995, p. 35).
14
Disponível em: http://observarte.zip.net/
31
Figura 15 – “Homem Amarelo” – Anita Malfatti (Fonte: Estadão15)
Os artistas dão explicação clara uma vez que a arte é a própria afirmação,
se fossem capazes de dá-las em forma de palavras, então seriam escritores. Os
grandes movimentos da pintura moderna foram provocados pela juventude, embora
se possa citar Picasso que renovou ao criar o cubismo aos oitenta anos ou mesmo
Matisse que se satisfez à beira da morte ao Fauvismo.
Figura 16 – Cubismo – Picasso (Fonte: IsabelDesporto16)
15
Disponível em:
http://blog.estadao.com.br/blog/piza/?title=anita_malfatti_e_o_estilo&more=1&c=1&tb=1&pb=1&cat=97
16
Disponível em: http://isabeldesporto2.googlepages.com/trabalhos
32
Figura 17 – Fauvismo – Matisse (Fonte: Vallarte17)
A arte poderia ser aquilo que distingue uns dos outros, e ao mesmo tempo
aproxima na idealização ou numa sátira da vida cotidiana, nesta distinção cabe a
comunicação, e tem que se valer de recursos para dar maior sentido à obra, embora
essa comunicação esteja muito além do que a obra apresenta. O único lugar que
restaria para fomentar a liberdade seria então a cultura artística.
Para Miskolci (1995), “o estilo caracteristicamente idealista do pensamento
alemão foi mais hospitaleiro à investigação estética do que o racionalismo francês ou
o empirismo inglês” e “a estética moderna surge como categoria teórica quando a
produção cultural ganha autonomia em relação às várias funções sociais a que
servia tradicionalmente”.
E continua o autor:
A estética é uma ciência autônoma da sensibilidade, mais precisamente, um discurso sobre o belo que desafia a lógica. A estética desafia a lógica ao declarar o objeto belo radicalmente não-inteligível (irracional) e a filosofia racionalista não tem como desviar os olhos do que está fora da razão. A arte vai ser a maneira pela qual o homem poderá ultrapassar o devir do cotidiano. Um dos meios para se ultrapassar os “obstáculos” do cotidiano é através da experiência apolínea, através do prazer e da eternidade. Sem a produção da bela aparência a vida se desqualifica, pois a bela aparência é uma verdade superior. Em suma, o apolíneo e o dionisíaco são apresentados como saídas estéticas. (Miskolci, 1995).
17
Disponível em: http://vallarte.wordpress.com/2007/11/23/
33
Desta forma, considerando a arte como construção social constituída de
significados, imersa em signos e códigos que aguçam a inquietação de entender os
significados; não cabe o papel de formar o artista e sim o leitor é significativo que a
alfabetização dele, se dê artística e esteticamente; e considerando ainda, que alguns
elementos da estética podem contribuir para a leitura de imagem tomamos como
referência a beleza, o conteúdo e a forma, os quais, na percepção, permitirão
compreender o desenvolvimento de uma proposta de trabalho significativa numa
perspectiva contemporânea.
Figura 18 – Andy Warhol (Fonte: Erdmenger18)
Figura 19 – Obama, Progress (Fonte: SoulBounce19)
18
Disponível em: http://erdmenger.wordpress.com/2007/02/ 19
Disponível em:
http://www.soulbounce.com/soul/2009/01/your_soulbounce_guide_to_soulful_and_affordable_inauguration_eve
nts.php
34
No que se refere à beleza, verificou-se, mediante o estudo de Silva (2004) o
engessamento em torno da noção do belo, por parte dos profissionais da educação.
Para a autora, tais profissionais, sem formação adequada na área de arte, sinalizam
que sua compreensão de beleza está vinculada a uma perspectiva voltada a
selecionar apenas as obras de arte canônicas, reforçado pela idéia do belo como
inatingível, em função, naturalmente, não só das lacunas na formação, mas também
do distanciamento estabelecido entre a arte hegemônica a as classes populares.
Assim, a beleza, como um dos elementos escolhidos, a ser considerado na
leitura da obra de arte e/ou de uma imagem, não se dá pela sua importância
descritiva e/ou subjetiva, como ocorre com outros elementos a serem observados.
Dá-se, principalmente pelos critérios de escolha de uma determinada obra e/ou
imagem a ser trabalhada em sala de aula. Geralmente, os critérios que norteiam
essa escolha, pelas razões já mencionadas, são influenciados, ainda, pela noção de
beleza canônica. Noção esta, oriunda dos conhecimentos produzidos na Grécia
Antiga, os quais fazem parte da herança do classicismo para o ocidente.
Já no que se refere ao conteúdo e forma, a escolha desses dois elementos
em detrimentos de tantos outros tratados pela estética, se deu em função de se
considerar a dimensão subjetiva que envolve o processo de leitura de uma imagem
e de uma obra de arte. A partir dos estudos de Pareyson (2001), verifica-se que a
arte se distingue de outras atividades não apenas pela elaboração de seus
conteúdos, mas também pela forma, sobretudo, por voltar-se não ao o que de seus
conteúdos e sim ao como, ou seja, a sua forma.
Na contemporaneidade, emerge uma concepção de forma reconhecendo a
expressão e nesse sentido “a obra de arte é, antes de tudo, um objeto sensível,
físico e material, e que fazer arte quer dizer, antes de qualquer outra coisa, produzir
um objeto que exista como coisa entre coisas, exteriorizado numa realidade sonora
e visiva” (Pareyson, 2001). Nesse sentido, o conteúdo da arte, estando disponível
para estabelecer uma relação direta com o leitor (observador) e a forma, revelada
em sua inteireza permeando toda composição da obra, indica mudança na relação
entre sujeito/objeto. Essa relação traduz-se nas discussões e proposições das
propostas contemporâneas de ensino de arte, podendo ser identificada no
reconhecimento da presença dos elementos: leitor, código e autor, implicados no ato
de ler (ou observar), que na verdade se expressar como codificação mecânica e
como processo de compreensão.
35
2.2. Princípios e Padrões Estéticos
Francischone (2005) entendeu que “os princípios estéticos participam de
forma muito importante na Odontologia restauradora, protética e corretiva”. Para a
autora:
A busca pelos padrões de beleza e perfeição das formas e dimensões têm proporcionado uma supervalorização da aparência de cada indivíduo dentro da sociedade. Um conceito de beleza é dado como a harmonia em relação numérica ou geométrica das estruturas faciais. A odontologia estética tem grande destaque dentro da odontologia, e tem como um de seus objetivos criar uma harmoniosa proporção entre os dentes maxilares anteriores. A estética está relacionada à cor, textura e forma dos dentes. A forma é a parte mais crítica do trabalho estético, estando diretamente relacionada ao bom senso de harmonia do profissional.
Segundo Lerman (1942) “o cirurgião-dentista deve desenvolver: bom gosto,
sensibilidade estética e percepção visual a fim de que possa criar uma harmonia nas
estruturas faciais”. Observam ainda que “os dentes mantêm entre si certa
proporcionalidade, assim há a necessidade de parâmetros na harmonização do
sorriso” e que “a proporção áurea descrita por Pitágoras é considerada a essência
da beleza na natureza, estando presente em diversos pontos desta”. (Lerman,
1942). Sabe-se que Lombardi (1973) foi o “primeiro a descrever a aplicação da
proporção áurea na odontologia” e que posteriormente Levin (1978) usou a
proporção áurea para “relacionar as sucessivas larguras mesiodistal dos dentes
superiores anteriores com a proporção áurea”.
Já no estudo de Marzola (2009), compreende-se que:
RICKETTS (1982) fez algumas considerações à respeito da proporção divina com relação à análise facial, constatando como verdadeiro que nas faces consideradas belas a proporção divina se mostra presente. Essa afirmação vem sendo estudada e avaliada por outros pesquisadores e, as respostas encontradas são pouco ou bastante contraditórias, principalmente por estarem relacionadas ao conceito e a caracterização daquilo que se reconhece como belo. O conhecimento a cerca da estética facial é amplamente importante para os profissionais da área da Odontologia e, além disso, é de interesse das pessoas de uma forma geral. Há uma tendência, enquanto profissionais de se impor os valores estéticos quando realmente deveriam se observar os valores do próprio indivíduo.
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