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E M E N T A

Órgão : 3ª TURMA CRIMINALClasse : HABEAS CORPUSN. Processo : 20140020256009HBC

(0026060-53.2014.8.07.0000)Impetrante(s) : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO

FEDERALAutoridadeCoatora(s)

: JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DO PARANOÁDF

Relatora : Desembargadora NILSONI DE FREITASAcórdão N. : 827827

HABEAS CORPUS. ROUBO SIMPLES. MODALIDADE

TENTADA. PRISÃO PREVENTIVA. FUMUS COMISSI

DELICTI. MATERIALIDADE. INDÍCIOS SUFICIENTES DE

AUTORIA. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO.

C A R Ê N C I A . G R A V I D A D E E M A B S T R A T O .

CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS DO FATO. CONDIÇÕES

PESSOAIS FAVORÁVEIS. CONCESSÃO DA ORDEM.

I. Revoga-se a prisão preventiva quando, embora presente o

fumus comissi delicti, consubstanciado na presença de

materialidade e indícios suficientes de autoria, não se revela

presente o periculum libertatis, fundamentado, no caso, na

gravidade em abstrato do crime, cometido com simulacro de

arma de fogo.

II. Ordem concedida.

Poder Judiciário da UniãoTribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Fls. _____

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GABINETE DA DESEMBARGADORA NILSONI DE FREITAS 1

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª TURMA CRIMINAL

do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, NILSONI DE FREITAS -

Relatora, JOÃO BATISTA TEIXEIRA - 1º Vogal, JESUINO RISSATO - 2º Vogal,

sob a presidência do Senhor Desembargador JOSÉ GUILHERME, em proferir a

seguinte decisão: CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEÇA-SE

ALVARÁ DE SOLTURA. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas

taquigráficas.

Brasilia(DF), 23 de Outubro de 2014.

Documento Assinado Eletronicamente

NILSONI DE FREITAS

Relatora

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Habeas Corpus 20140020256009HBC

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Alega a impetrante que a decisão está eivada de ilegalidade, porque

fundamentou a conversão do flagrante em prisão preventiva mediante a gravidade

em abstrato do delito em apuração.

Afirma que a grave ameaça já é elemento do tipo penal e a conduta

do paciente em nada o extrapolou, sendo necessária para a segregação cautelar

fundamentação concisa e coerente.

Assevera que a decisão não utilizou requisitos objetivos para

fundamentar a restrição de liberdade, ao afirmar somente que a suposta simulação

de porte de arma denotaria a ousadia da ação, sendo certo que o paciente ostenta

bons antecedentes.

Requer liminarmente a revogação da prisão preventiva e no mérito,

sua confirmação.

O habeas corpus vem instruído com documentos de fls. 10/22.

Em informações, às fls. 27/28, o MM. Juiz de Direito da 1ª Vara

Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá comunica que houve pedido de

revogação da prisão preventiva, o qual foi indeferido, tendo a denúncia sido recebida

em 08/10/2014.

A 4ª Procuradoria de Justiça Criminal Especializada, mediante

parecer da lavra do Promotor de Justiça, em substituição Paulo Roberto Binicheski,

às fls. 33/36, oficia pela denegação da ordem.

É o relatório.

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado pela

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, em favor de RANGEL ROCHA

E SILVA, preso pela suposta prática do delito descrito no art. 157, caput, c/c art. 14,

inc. II, todos do Código Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de

Direito da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá que converteu o

flagrante em prisão preventiva para garantia da ordem pública.

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Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado pela

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, em favor de RANGEL ROCHA

E SILVA, preso pela suposta prática do delito descrito no art. 157, caput, c/c art. 14,

inc. II, todos do Código Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de

Direito da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá que converteu o

flagrante em prisão preventiva para garantia da ordem pública, em face do que se

insurge a impetrante requerendo a soltura do paciente diante da ausência dos

requisitos descritos no art. 312 do Código de Processo Penal.

É, em síntese, o que consta.

De acordo com as inovações trazidas pela Lei nº 12.403/11, ao

receber o comunicado da prisão em flagrante, o magistrado deve relaxá-la se

verificar ser ilegal; ou conceder a liberdade provisória se a prisão cautelar for

dispensável, podendo aplicar medidas cautelares diversas; ou ainda convertê-la em

preventiva, desde que presentes o fumus comissi delicti e opericulum libertatis.

O art. 312, do Código Penal estabelece que: A prisão preventiva

poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por

conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,

quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria, e o art.

313, do Código Penal, determina que a prisão preventiva será admitida: nos crimes

dolosos com pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro), aos réus

reincidentes em crimes dolosos ou a crimes cometidos em situação de violência

doméstica.

Acrescente-se que, conforme dispõe o inc. II do art. 282 do Código

de Processo Penal, as medidas cautelares devem ser aplicadas tendo-se em vista a

adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições

pessoais do indiciado ou acusado.

Desse modo, Guilherme de Souza Nucci pontifica que tratando-se

da gravidade do crime, em qualquer situação, deve-se ponderar a sua

concretude. Pode-se dizer que o roubo é um delito grave, mas, para a

decretação da prisão preventiva ou de medida cautelar alternativa, depreende-

se da avaliação dos fatos concretos. Faz-se em gradação: quando muito grave,

associado a outros elementos, opta-se pela prisão cautelar; quando de média

gravidade, pode-se impor medida cautelar. (Código de Processo Penal

V O T O S

A Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS - Relatora

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da impetração.

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Comentado, Editora Forense, 13ª edição, p. 644).

Verifica-se que o paciente foi preso em flagrante pela suposta

prática do delito de roubo simples, na modalidade tentada, tendo a denúncia sido

recebida em 8 de outubro de 2014. Denota-se que, apesar da comprovação da

materialidade delitiva e dos indícios suficientes de autoria e o fato do crime de roubo

ser doloso e possuir pena máxima superior a 4 (quatro) anos, resta ausente a

demonstração do periculum in libertatis.

O Juiz da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá

converteu o flagrante em prisão preventiva para a garantia da ordem pública, sob o

fundamento de que o paciente agiu com ousadia ao tentar subtrair o celular da

vítima, com simulacro de arma de fogo, o que indicaria sua periculosidade e o risco

de sua liberdade para a garantia da ordem pública. (fl. 10).

Eis excertos de sua decisão:

(...) o 'periculum libertatis' também está presente, na

medida em que a liberdade do preso representa afronta a

ordem pública. Embora não possua antecedentes

criminais, vê-se que o relato do APF narra ação ousada, em

que o autuado, mediante grave ameaça, consistente na

simulação de porte de arma, tentou subtrair o celular da

vítima Iago, só não conseguindo o seu intento em razão da

pronta ação das vítimas que, ao perceberam tratar-se de

arma de um simulacro, imobilizaram a autuado. Do relato,

ressalta a periculosidade do preso e o risco que a

liberdade representa para a ordem pública. (...).

Posteriormente, o Juiz, mantendo inalterados os fundamentos da

primeira decisão, indeferiu pedido de revogação da prisão preventiva. (fl. 31).

No caso, a prisão preventiva não é adequada nem proporcional ao

crime cometido pelo paciente, em que pese sua gravidade abstrata, porquanto as

circunstâncias concretas que envolveram a moldura fática e as suas condições

pessoais indicam que a aplicação de outras medidas cautelares seriam mais

adequado.

Isso porque, conforme narrado pelas vítimas Márcio de Caldas

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Verçosa e Iago de Caldas Verçosa, no Auto de Prisão em Flagrante, quando eles

estavam descendo do ônibus, na parada da Quadra 15, do Itapoã, de madrugada,

por volta de 1 hora e 30 minutos, foram abordados por um rapaz que colocou a blusa

no rosto para escondê-lo e os ameaçou, apontando um simulacro de arma de fogo e

exigindo que lhes entregasse seus telefones celulares e também objetos de valores.

Uma das vítimas, Iogo, lhe entregou o celular e disse que estava bloqueado,

momento em que o paciente determinou que ele o desbloqueasse. Nesse momento,

a vítima percebeu que se tratava de simulacro de arma de fogo e por isso, pegou

seu skate e o acertou na cabeça, enquanto que Márcio lhe deu um soco na boca e

puxou a arma falsa de suas mãos, quando então o paciente caiu no chão e foi

imobilizado. Márcio pegou um táxi e foi procurar ajuda, tendo encontrado uma

viatura da Polícia Militar, a qual compareceu ao local e os conduziu à Delegacia.

Assim sendo, apesar da ousadia, conforme asseverado pelo Juiz, a

periculosidade do réu e o risco à ordem pública não restaram devidamente

delineados nos autos. Extrai-se, pela leitura das declarações das vítimas que, tão

logo perceberam que o paciente utilizava um simulacro de arma de fogo para

intimidá-las, resolveram reagir. Enquanto um deles atingiu o paciente na cabeça com

o skate, o outro, logo em seguida, lhe deu um soco na boca, pegou o simulacro e

logo após o réu cair no chão, conseguiram imobilizá-lo, ou seja, o modus operandi

do paciente não pode ser considerado como suficiente para amparar a segregação

cautelar, pois as vítimas, apesar da grave ameaça inicialmente empregada,

conseguiram imobilizar o paciente, não tendo logrado êxito na consumação do delito.

Além disso, o réu é primário, está declinado seu endereço na

Ocorrência Policial nº 8.971/2014-0 (fl. 22) na qual ainda consta que, diante de seu

estado físico, ele foi conduzido ao Hospital do Paranoá pelos policiais militares.

Depreende-se, portanto, que a decisão resistida fez referência à

gravidade em abstrato da conduta típica praticada pelo paciente, todavia não se

desincumbiu de justificar concretamente os motivos da prisão preventiva, nem de

demonstrar que, caso solto, voltaria a delinqüir. Não se pode olvidar que, nos termos

do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, todas as decisões do Poder Judiciário

devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade e no caso em exame, o

Magistrado não descreveu ou especificou quais fatos, afora as elementares do tipo

penal em questão, levaram-no a concluir pela gravidade em concreto do crime.

Desse modo, o Superior Tribunal de Justiça se posicionou:

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(...) Considerações acerca da gravidade abstrata do crime

em tese cometido e do clamor social por ele provocado -

além de menção à suposta periculosidade do réu,

comprovadamente primário e sem antecedentes criminais -

não são argumentos idôneos a sustentar a manutenção da

medida de cautela sob a rubrica da garantia da ordem

pública (Precedentes).(...).

(HC 182433/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, Dje de

28/03/2011).

Também, nesse sentido, esta 3ª Turma Criminal já decidiu:

Revoga-se a prisão preventiva quando ausentes os

requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo

Penal, sobretudo quando as circunstâncias do crime, bem

como a comprovação de que o paciente possui condições

favoráveis, endereço fixo e trabalho lícito, afastam a

suposição de que sua liberdade possa colocar em risco a

ordem pública.

(Acórdão n. 808908, 20140020157953HBC, Relator: JOÃO

BATISTA TEIXEIRA, 3ª Turma Criminal, Data de Julgamento:

31/07/2014, Publicado no DJE: 06/08/2014. Pág.: 300).

Noutro giro, ausentes os requisitos descritos no art. 312 do Código

de Processo Penal, aptos a dar supedâneo à custódia cautelar, verifica-se ser

adequado ao caso a aplicação de medidas cautelares, diversas da prisão, descritas

no art. 319 do Código de Processo Penal.

Ante o exposto, CONCEDO A ORDEM para revogar a prisão

preventiva, e conceder a liberdade provisória ao paciente, sujeitando-o, porém, à

medida cautelar de comparecimento em juízo, a cada 30 (trinta) dias, para

informar e justificar suas atividades, nos termos do art. 319, inciso I, do Código

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de Processo Penal.

Expeça-se alvará de solturaem favor do paciente, salvo se por

outro motivo estiver preso.

É o voto.

O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Vogal

Com o relator

O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Vogal

Com o relator

D E C I S Ã O

CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEÇA-SE ALVARÁ

DE SOLTURA. UNÂNIME.

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