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E M E N T A Órgão : 3ª TURMA CRIMINAL Classe : HABEAS CORPUS N. Processo : 20140020256009HBC (0026060-53.2014.8.07.0000) Impetrante(s) : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL Autoridade Coatora(s) : JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DO PARANOÁ DF Relatora : Desembargadora NILSONI DE FREITAS Acórdão N. : 827827 HABEAS CORPUS . ROUBO SIMPLES. MODALIDADE TENTADA. PRISÃO PREVENTIVA. FUMUS COMISSI DELICTI. MATERIALIDADE. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO. CARÊNCIA. GRAVIDADE EM ABSTRATO. CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS DO FATO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. CONCESSÃO DA ORDEM. I. Revoga-se a prisão preventiva quando, embora presente o fumus comissi delicti , consubstanciado na presença de materialidade e indícios suficientes de autoria, não se revela presente o periculum libertatis, fundamentado, no caso, na gravidade em abstrato do crime, cometido com simulacro de arma de fogo. II. Ordem concedida. Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Fls. _____ Código de Verificação :2014ACOLMC61CWOM0RAZNCLJ8SV GABINETE DA DESEMBARGADORA NILSONI DE FREITAS 1

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E M E N T A

Órgão : 3ª TURMA CRIMINALClasse : HABEAS CORPUSN. Processo : 20140020256009HBC

(0026060-53.2014.8.07.0000)Impetrante(s) : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO

FEDERALAutoridadeCoatora(s)

: JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DO PARANOÁDF

Relatora : Desembargadora NILSONI DE FREITASAcórdão N. : 827827

HABEAS CORPUS. ROUBO SIMPLES. MODALIDADE

TENTADA. PRISÃO PREVENTIVA. FUMUS COMISSI

DELICTI. MATERIALIDADE. INDÍCIOS SUFICIENTES DE

AUTORIA. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO.

C A R Ê N C I A . G R A V I D A D E E M A B S T R A T O .

CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS DO FATO. CONDIÇÕES

PESSOAIS FAVORÁVEIS. CONCESSÃO DA ORDEM.

I. Revoga-se a prisão preventiva quando, embora presente o

fumus comissi delicti, consubstanciado na presença de

materialidade e indícios suficientes de autoria, não se revela

presente o periculum libertatis, fundamentado, no caso, na

gravidade em abstrato do crime, cometido com simulacro de

arma de fogo.

II. Ordem concedida.

Poder Judiciário da UniãoTribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Fls. _____

Código de Verificação :2014ACOLMC61CWOM0RAZNCLJ8SV

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A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª TURMA CRIMINAL

do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, NILSONI DE FREITAS -

Relatora, JOÃO BATISTA TEIXEIRA - 1º Vogal, JESUINO RISSATO - 2º Vogal,

sob a presidência do Senhor Desembargador JOSÉ GUILHERME, em proferir a

seguinte decisão: CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEÇA-SE

ALVARÁ DE SOLTURA. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas

taquigráficas.

Brasilia(DF), 23 de Outubro de 2014.

Documento Assinado Eletronicamente

NILSONI DE FREITAS

Relatora

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Alega a impetrante que a decisão está eivada de ilegalidade, porque

fundamentou a conversão do flagrante em prisão preventiva mediante a gravidade

em abstrato do delito em apuração.

Afirma que a grave ameaça já é elemento do tipo penal e a conduta

do paciente em nada o extrapolou, sendo necessária para a segregação cautelar

fundamentação concisa e coerente.

Assevera que a decisão não utilizou requisitos objetivos para

fundamentar a restrição de liberdade, ao afirmar somente que a suposta simulação

de porte de arma denotaria a ousadia da ação, sendo certo que o paciente ostenta

bons antecedentes.

Requer liminarmente a revogação da prisão preventiva e no mérito,

sua confirmação.

O habeas corpus vem instruído com documentos de fls. 10/22.

Em informações, às fls. 27/28, o MM. Juiz de Direito da 1ª Vara

Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá comunica que houve pedido de

revogação da prisão preventiva, o qual foi indeferido, tendo a denúncia sido recebida

em 08/10/2014.

A 4ª Procuradoria de Justiça Criminal Especializada, mediante

parecer da lavra do Promotor de Justiça, em substituição Paulo Roberto Binicheski,

às fls. 33/36, oficia pela denegação da ordem.

É o relatório.

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado pela

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, em favor de RANGEL ROCHA

E SILVA, preso pela suposta prática do delito descrito no art. 157, caput, c/c art. 14,

inc. II, todos do Código Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de

Direito da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá que converteu o

flagrante em prisão preventiva para garantia da ordem pública.

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Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado pela

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, em favor de RANGEL ROCHA

E SILVA, preso pela suposta prática do delito descrito no art. 157, caput, c/c art. 14,

inc. II, todos do Código Penal, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de

Direito da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá que converteu o

flagrante em prisão preventiva para garantia da ordem pública, em face do que se

insurge a impetrante requerendo a soltura do paciente diante da ausência dos

requisitos descritos no art. 312 do Código de Processo Penal.

É, em síntese, o que consta.

De acordo com as inovações trazidas pela Lei nº 12.403/11, ao

receber o comunicado da prisão em flagrante, o magistrado deve relaxá-la se

verificar ser ilegal; ou conceder a liberdade provisória se a prisão cautelar for

dispensável, podendo aplicar medidas cautelares diversas; ou ainda convertê-la em

preventiva, desde que presentes o fumus comissi delicti e opericulum libertatis.

O art. 312, do Código Penal estabelece que: A prisão preventiva

poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por

conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,

quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria, e o art.

313, do Código Penal, determina que a prisão preventiva será admitida: nos crimes

dolosos com pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro), aos réus

reincidentes em crimes dolosos ou a crimes cometidos em situação de violência

doméstica.

Acrescente-se que, conforme dispõe o inc. II do art. 282 do Código

de Processo Penal, as medidas cautelares devem ser aplicadas tendo-se em vista a

adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições

pessoais do indiciado ou acusado.

Desse modo, Guilherme de Souza Nucci pontifica que tratando-se

da gravidade do crime, em qualquer situação, deve-se ponderar a sua

concretude. Pode-se dizer que o roubo é um delito grave, mas, para a

decretação da prisão preventiva ou de medida cautelar alternativa, depreende-

se da avaliação dos fatos concretos. Faz-se em gradação: quando muito grave,

associado a outros elementos, opta-se pela prisão cautelar; quando de média

gravidade, pode-se impor medida cautelar. (Código de Processo Penal

V O T O S

A Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS - Relatora

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da impetração.

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Comentado, Editora Forense, 13ª edição, p. 644).

Verifica-se que o paciente foi preso em flagrante pela suposta

prática do delito de roubo simples, na modalidade tentada, tendo a denúncia sido

recebida em 8 de outubro de 2014. Denota-se que, apesar da comprovação da

materialidade delitiva e dos indícios suficientes de autoria e o fato do crime de roubo

ser doloso e possuir pena máxima superior a 4 (quatro) anos, resta ausente a

demonstração do periculum in libertatis.

O Juiz da 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária do Paranoá

converteu o flagrante em prisão preventiva para a garantia da ordem pública, sob o

fundamento de que o paciente agiu com ousadia ao tentar subtrair o celular da

vítima, com simulacro de arma de fogo, o que indicaria sua periculosidade e o risco

de sua liberdade para a garantia da ordem pública. (fl. 10).

Eis excertos de sua decisão:

(...) o 'periculum libertatis' também está presente, na

medida em que a liberdade do preso representa afronta a

ordem pública. Embora não possua antecedentes

criminais, vê-se que o relato do APF narra ação ousada, em

que o autuado, mediante grave ameaça, consistente na

simulação de porte de arma, tentou subtrair o celular da

vítima Iago, só não conseguindo o seu intento em razão da

pronta ação das vítimas que, ao perceberam tratar-se de

arma de um simulacro, imobilizaram a autuado. Do relato,

ressalta a periculosidade do preso e o risco que a

liberdade representa para a ordem pública. (...).

Posteriormente, o Juiz, mantendo inalterados os fundamentos da

primeira decisão, indeferiu pedido de revogação da prisão preventiva. (fl. 31).

No caso, a prisão preventiva não é adequada nem proporcional ao

crime cometido pelo paciente, em que pese sua gravidade abstrata, porquanto as

circunstâncias concretas que envolveram a moldura fática e as suas condições

pessoais indicam que a aplicação de outras medidas cautelares seriam mais

adequado.

Isso porque, conforme narrado pelas vítimas Márcio de Caldas

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Verçosa e Iago de Caldas Verçosa, no Auto de Prisão em Flagrante, quando eles

estavam descendo do ônibus, na parada da Quadra 15, do Itapoã, de madrugada,

por volta de 1 hora e 30 minutos, foram abordados por um rapaz que colocou a blusa

no rosto para escondê-lo e os ameaçou, apontando um simulacro de arma de fogo e

exigindo que lhes entregasse seus telefones celulares e também objetos de valores.

Uma das vítimas, Iogo, lhe entregou o celular e disse que estava bloqueado,

momento em que o paciente determinou que ele o desbloqueasse. Nesse momento,

a vítima percebeu que se tratava de simulacro de arma de fogo e por isso, pegou

seu skate e o acertou na cabeça, enquanto que Márcio lhe deu um soco na boca e

puxou a arma falsa de suas mãos, quando então o paciente caiu no chão e foi

imobilizado. Márcio pegou um táxi e foi procurar ajuda, tendo encontrado uma

viatura da Polícia Militar, a qual compareceu ao local e os conduziu à Delegacia.

Assim sendo, apesar da ousadia, conforme asseverado pelo Juiz, a

periculosidade do réu e o risco à ordem pública não restaram devidamente

delineados nos autos. Extrai-se, pela leitura das declarações das vítimas que, tão

logo perceberam que o paciente utilizava um simulacro de arma de fogo para

intimidá-las, resolveram reagir. Enquanto um deles atingiu o paciente na cabeça com

o skate, o outro, logo em seguida, lhe deu um soco na boca, pegou o simulacro e

logo após o réu cair no chão, conseguiram imobilizá-lo, ou seja, o modus operandi

do paciente não pode ser considerado como suficiente para amparar a segregação

cautelar, pois as vítimas, apesar da grave ameaça inicialmente empregada,

conseguiram imobilizar o paciente, não tendo logrado êxito na consumação do delito.

Além disso, o réu é primário, está declinado seu endereço na

Ocorrência Policial nº 8.971/2014-0 (fl. 22) na qual ainda consta que, diante de seu

estado físico, ele foi conduzido ao Hospital do Paranoá pelos policiais militares.

Depreende-se, portanto, que a decisão resistida fez referência à

gravidade em abstrato da conduta típica praticada pelo paciente, todavia não se

desincumbiu de justificar concretamente os motivos da prisão preventiva, nem de

demonstrar que, caso solto, voltaria a delinqüir. Não se pode olvidar que, nos termos

do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, todas as decisões do Poder Judiciário

devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade e no caso em exame, o

Magistrado não descreveu ou especificou quais fatos, afora as elementares do tipo

penal em questão, levaram-no a concluir pela gravidade em concreto do crime.

Desse modo, o Superior Tribunal de Justiça se posicionou:

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(...) Considerações acerca da gravidade abstrata do crime

em tese cometido e do clamor social por ele provocado -

além de menção à suposta periculosidade do réu,

comprovadamente primário e sem antecedentes criminais -

não são argumentos idôneos a sustentar a manutenção da

medida de cautela sob a rubrica da garantia da ordem

pública (Precedentes).(...).

(HC 182433/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, Dje de

28/03/2011).

Também, nesse sentido, esta 3ª Turma Criminal já decidiu:

Revoga-se a prisão preventiva quando ausentes os

requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo

Penal, sobretudo quando as circunstâncias do crime, bem

como a comprovação de que o paciente possui condições

favoráveis, endereço fixo e trabalho lícito, afastam a

suposição de que sua liberdade possa colocar em risco a

ordem pública.

(Acórdão n. 808908, 20140020157953HBC, Relator: JOÃO

BATISTA TEIXEIRA, 3ª Turma Criminal, Data de Julgamento:

31/07/2014, Publicado no DJE: 06/08/2014. Pág.: 300).

Noutro giro, ausentes os requisitos descritos no art. 312 do Código

de Processo Penal, aptos a dar supedâneo à custódia cautelar, verifica-se ser

adequado ao caso a aplicação de medidas cautelares, diversas da prisão, descritas

no art. 319 do Código de Processo Penal.

Ante o exposto, CONCEDO A ORDEM para revogar a prisão

preventiva, e conceder a liberdade provisória ao paciente, sujeitando-o, porém, à

medida cautelar de comparecimento em juízo, a cada 30 (trinta) dias, para

informar e justificar suas atividades, nos termos do art. 319, inciso I, do Código

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de Processo Penal.

Expeça-se alvará de solturaem favor do paciente, salvo se por

outro motivo estiver preso.

É o voto.

O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Vogal

Com o relator

O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Vogal

Com o relator

D E C I S Ã O

CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEÇA-SE ALVARÁ

DE SOLTURA. UNÂNIME.

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