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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 1 – nº 2 - 2007
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A Apresentação e o Pagamento do Cheque na Lei nº 7.357/85
Maria Bernadete Miranda
Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada.
Resumo
Objeto destas reflexões é o estudo do pagamento do cheque, que se faz
mediante sua apresentação ao sacado, que será o ato preliminar e obrigatório
entre as relações do portador com o Banco que deve pagá-lo, pois o
estabelecimento bancário somente toma ciência da ordem quando o título lhe é
exibido. Abordaremos também o não pagamento, a devolução do cheque e a
insuficiência de fundos, e como conseqüência a faculdade do protesto cambiário.
Abstract
I object of these reflections it is the study of the payment of the check, that
is made by means of its presentation to the taken out, that will be the preliminary
and obligatory act among the relationships of the carrier with the Bank that should
pay it, because the bank establishment only takes science of the order when the
title is it exhibited. We will also approach the non payment, the refund of the check
and the inadequacy of funds, and as consequence the ability of the protest
cambiário.
1. Histórico
O instituto do cheque é bastante antigo, cuja história se confunde com a
letra de câmbio, porém bem mais recente do que a cambial.
Na antiguidade, câmbio era toda permuta e principalmente a de dinheiro.
Os comerciantes de praças diferentes corriam os riscos de roubo e extravio
quando tinham de remeter dinheiro para realizar seus negócios, criando-se assim
o sistema de troca, em que a remessa da moeda passou a ser feita sem o
transporte. O devedor da quantia entregava a um depositário ou banqueiro da
mesma cidade a importância para ser paga ao seu credor de outra praça. Este
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depositário tinha, na cidade onde residia o credor, outro depositário, a quem
ordenava, por carta, fosse feito o pagamento da importância avençada. Tal ordem
escrita deu origem à letra de câmbio, podendo esse mecanismo ser considerado
como verdadeiro sistema bancário em que a carta contendo a ordem,
representaria o cheque.
Não se pode precisar, exatamente a data em que o cheque teve origem,
pois alguns autores vêem na Grécia a gênese do instituto, outros atribuem o
cheque aos romanos sob a alegação de que em Roma os argentários recebiam
depósitos pecuniários, efetuando pagamento por ordem do depositante. Afirmam
alguns que a antiga frase de Cícero mostra que o cheque foi usado pelos
romanos: “Qui de CC C HS CC pressentia solverimus, relique rescribemus” - “Dos
restantes 400 sestérios, pagos 200 à vista, mandarei pelo resto uma ordem de
pagamento”. “Rescribere”, na frase de Cícero, significa a transferência, no livro do
banqueiro, da conta de um cliente para a outra, configurando-se, assim, uma
ordem de pagamento, portanto, um cheque.
Na Idade Média, conheceu-se, também, a ordem de pagamento ou
mandato de pagamento, que era muito parecido com o cheque.
Porém na atualidade, o cheque remonta aos fins da Idade Média e
princípios do Renascimento, tendo como causas o progresso comercial das
cidades italianas e a conseqüente expansão do serviço bancário.
Os Bancos medievais lançavam em seus livros os depósitos que podiam
ser movimentados pelos clientes mediante títulos emanados dos próprios
estabelecimentos ou mediante ordens do depositante. Na Itália, o Banco de Santo
Ambrósio, por exemplo, permitia o uso de ordens de pagamento, em contas
correntes, ordens estas que configuravam um cheque.
O Banco de Santo Gerígio emitia os “biglietti di cartulario”, que tiveram
grande aceitação tanto quanto o dinheiro contado.
No século XVI, os ingleses incorporaram essas ordens de pagamento à
sua prática bancária e as regulamentaram com o nome de cheque. Denominação
esta que parecia derivar das “exchequeter bill”, ou “exchequeter debenturis”, que
os reis giravam sobre a tesouraria real.
Na Inglaterra o cheque se popularizou tanto nas operações mercantis que
muitos doutrinadores dizem ser nesse país o berço de tal figura.
A primeira regulamentação sobre o cheque surgiu na França, com a Lei de
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14 de julho de 1865, completada posteriormente pela Lei de 19 de fevereiro de
1874; porém, a procedência da primeira referência oficial do instituto, segundo
alguns autores, seria o Brasil, quando o Governo aprovou o regulamento do
Banco Comercial da Província da Bahia, mediante o Decreto nº 438, de 13 de
novembro de 1845, que dizia: “As operações do Banco serão... receber
gratuitamente dinheiro de quaisquer pessoas para lhes abrir contas correntes e
verificar os respectivos pagamentos e transferências por meio de cautelas
contadas dos talões que devem existir no Banco, com a assinatura do proprietário
na tarja, contanto que tais cautelas não sejam de quantia menor de cem
cruzeiros”.
A partir daí temos a descrição do cheque, porém, a palavra cheque só veio
aparecer em nossa legislação no ano de 1893, por meio da Lei nº 149-B : Art. 16
– “As disposições desta lei se aplicam aos seguintes títulos sempre que forem ao
portador: a) recibos e cheques ou mandatos passados para serem pagos na
mesma praça em virtude de conta corrente ...”
2. O Cheque no Brasil
No Brasil, em 1906, coube ao Presidente Rodrigues Alves, por intermédio
do Ministro da Fazenda, Leopoldo de Bulhões, a iniciativa de, confiar ao Dr.
Ubaldino do Amaral, na época presidente do Banco do Brasil, a tarefa de elaborar
o anteprojeto de lei sobre a regulamentação do cheque no País; “no intuito de
suprir lacuna de nossa legislação e atender às necessidades do comércio,
dotando-o de um instrumento de maior eficácia para o desenvolvimento de suas
transações”, conforme Exposição de Motivos.
O anteprojeto transformou-se no Decreto-lei nº 2.591, de 07 de agosto de
1912, que vigorou durante muito tempo. O Brasil adotou com reservas o Decreto
nº 57.595, de 07 de janeiro de 1966, a Lei Uniforme sobre o cheque que passou a
sobrepor-se ao citado Decreto-lei, segundo entendimento do Supremo Tribunal
Federal em decisão prolatada em 1971.
Atualmente, em nosso País, o cheque encontra-se disciplinado pela Lei nº
7.357, de 02 de setembro de 1985, que acolheu quase todos os princípios do
direito chéquico uniforme.
A referida lei consta de setenta e um artigos distribuídos em doze capítulos
que cuidam de toda a matéria pertinente ao cheque.
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3. Personagens Essenciais do Cheque
No cheque a relação passa somente entre três pessoas básicas: o sacador
ou emitente, o sacado e o beneficiário ou tomador, podendo ser acrescentado o
endossante e o avalista.
a) O sacador ou emitente - é o que ordena o pagamento, o correntista
legitimado a criar o cheque por força de pacto celebrado com o Banco-sacado. É
considerado sujeito ativo na relação contratual bancária, ele dá a ordem de
pagamento que o Banco deve cumprir, desde que haja fundos disponíveis na sua
conta corrente.
Diz a Lei nº 7.357/85, em seu Art. 4º: “O emitente deve ter fundos
disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque,
em virtude de contrato expresso ou tácito”.
Existe o contrato expresso, quando o acordo de vontade é explícito
reduzido a termo, quer com cláusula do contrato de conta corrente, quer como
pacto adjecto. Esse acordo será tácito, quando as partes não o deixam escrito em
algum lugar, mas se verifica que o Banco autorizou o cliente a sacar cheques. A
entrega do talonário ao cliente constitui por si só autorização para criar o título.
O sacador ou emitente tanto pode ser pessoa física como pessoa jurídica.
Tratando-se de pessoa física deverá ser observado o que dispõe o Código Civil e
referente as pessoas jurídicas o que dispõe as normas do Direito Societário.
b) O sacado - é quem recebe a ordem para efetuar o pagamento da
importância consignada no cheque. Ao contrário do emitente que poderá ser
qualquer pessoa, o sacado necessariamente deverá ser empresa bancária.
Diz o Art. 3º: “O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira
que lhe seja equiparada, sob pena de não valer como cheque”.
A lei fala em “Banco ou Instituição Financeira”, sendo que a segunda
expressão é mais abrangente, compreendendo tanto o Banco em sentido estrito
(de depósito, de desconto e de pequenos empréstimos) como as outras empresas
bancárias previstas em Lei, como por exemplo, as caixas econômicas.
c) O beneficiário ou tomador - da mesma forma que o sacador ou emitente
poderá ser pessoa física ou jurídica, não precisando sequer ter seu nome lançado
no título.
O sacado pode ser o beneficiário do cheque, pois nada obsta a que o
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emitente dê a ordem em favor do próprio Banco onde tem a disponibilidade de
fundos.
Pode também o sacador ser beneficiário do cheque, se o emite em seu
próprio favor, para a retirada de dinheiro da conta corrente.
O sacador e o sacado podem ser a mesma pessoa, desde que o Banco
emita o cheque contra sua própria tesouraria.
O sacador equipara-se ao aceitante de uma letra de câmbio e contra ele se
dá a ação cambiaria direta, que é executiva.
O cheque admite também a intervenção de terceiros, endossante e
avalista.
Diz o Art. 17: “O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula
expressa “à ordem”, é transmissível por via de endosso”.
Endosso é uma declaração lançada nas costas “in dorsum” do título
cambial. Tecnicamente, indica dois atos jurídicos diversos: a transferência da
propriedade do título e o mandato. O endosso poderá ser em branco e em preto.
Endosso em branco é aquele em que se omite o nome do beneficiário,
fazendo-se parecer um título ao portador, transfere-se pela tradição, sem
responsabilidade do possuidor.
Endosso em preto ou nominativo, ou completo, é o que lança no verso do
título a fórmula da transferência, com o nome do beneficiário, data (facultativa) e
assinatura do beneficiário.
Diz o Art. 29: “O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em
parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário
do título”.
Aval é derivado do francês “à val”, quer dizer em baixo e traduz a garantia
prestada em forma cambial ao pagamento de um cheque ou, por extensão, ao
título de crédito.
O aval é uma obrigação autônoma e independente das outras, vincula
pessoal e diretamente ao portador do cheque o seu avalista e é formal,
decorrendo da simples assinatura do avalista, pouco importando a sua causa ou
origem.
Devemos observar que o Banco sacado não tem obrigação para com o
portador do cheque, pois não está vinculado cambiariamente no título, uma vez
que o não assina, mas simplesmente age como mandatário do emitente no
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cumprimento da ordem. Sendo assim, não é passível de ser coagido judicial ou
extrajudicialmente a pagar o montante devido, pois, sua responsabilidade é para
com o emitente e deriva do contrato que este celebrou.
4. O Pagamento do Cheque e sua Apresentação
O pagamento do cheque se faz mediante a apresentação ao sacado, que
deverá pagar, pois o estabelecimento bancário só toma ciência da ordem quando
o título lhe é exibido.
A apresentação traz em si o pedido de pagamento, diz o Art. 32: “O cheque
é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em contrário”.
Observando o referido artigo acima transcrito, podemos dizer que o
chamado cheque pré-datado não existe, pois o que temos ao pré-datarmos um
cheque para uma apresentação posterior é uma prática de usos e costumes do
comércio; para que assim as pessoas simplifiquem as operações de crédito com a
simples apresentação de um cheque com uma data posteriormente marcada à
Câmara de Compensação. O cheque é uma ordem de pagamento à vista.
O cheque deve ser apresentado para pagamento na agência bancária
indicada no seu anverso, que é a dependência onde o emitente tem conta para
fins de emissão chéquica.
A apresentação pode ser pessoal ou por intermédio da rede bancária,
sendo que no primeiro caso, o portador legitimado dirige-se à agência bancária
indicada no título, que é aquela onde o emitente tem sua conta corrente para fins
de emissão de cheque e onde estão depositadas as suas assinaturas. No
segundo caso, basta depositar o cheque em conta corrente de banco a sua
escolha, e o pagamento far-se-á pela Câmara de compensação.
Em qualquer hipótese o apresentante sujeita-se a um prazo breve, pois diz
o Art. 33: “O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da
emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser
pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou exterior”.
Justifica-se a brevidade do prazo, pelo fato de ser o cheque instrumento de
pagamento e, portanto, possuir uma vida curta, pois torna-se desnecessário
obrigar o correntista emitente a manter provisão de fundos em poder do sacado
por um período muito longo. Findo o prazo de apresentação, pode o emitente
revogar o cheque mediante contra-ordem, onde o cheque então não será mais
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pago.
Diz o Art. 35: “O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo,
mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou
extrajudicial, com as razões motivadoras do ato”.
Parágrafo único - “A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de
expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar
o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do Art. 59 desta Lei”.
Porém, apesar de decorrido o prazo de apresentação, deverá o Banco, se
não houver contra-ordem nem oposição, e a conta corrente tiver fundos, pagar o
cheque até a data da prescrição.
A prescrição diz respeito à ação de cobrança executiva do cheque, o seu
prazo é de 06 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação,
conforme mencionado no Art. 59: “Prescreve em 06 (seis) meses, contados da
expiração do prazo de apresentação, a ação que o Art. 47 desta Lei assegura ao
portador”.
O emitente, ao lançar em circulação o cheque, obriga-se a possuir fundos
suficientes para saldá-lo e a mantê-los em sua conta corrente durante o prazo
destinado à apresentação. Esta obrigação não cessa, mesmo decorrido este
tempo, motivo pelo qual o emissor fica adstrito a possuir a disponibilidade em
moeda até a data da prescrição, ou seja, enquanto o cheque mantém íntegras as
suas características jurídicas.
O cheque estando prescrito deixa de valer como título de crédito
cambiariforme, passando a ser apenas documento comprobatório de dívida do
emitente para com o portador legitimado, o qual, se desejar cobrá-lo judicialmente
deverá valer-se da via ordinária ou do procedimento monitório, provando o
negócio que deu caução ao cheque. Este valerá apenas como início de prova,
porque depois da prescrição, sua literalidade e abstração desaparecem.
5. A Obrigação do Banco na Apresentação do Cheque
Quando o título é apresentado ao Banco surge a obrigação de pagar, que é
de natureza extracambiária, pois não deriva do cheque propriamente, mas do
contrato de conta corrente celebrado com o sacador. O descumprimento da
obrigação contratual torna o Banco responsável por danos que cause ao emitente
correntista. Caso o Banco não possa honrar o pagamento no dia em que o
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cheque lhe é apresentado, pode valer-se da marcação, porém com o
consentimento do apresentante.
O Banco, antes de efetuar o pagamento, deverá averiguar a existência de
fundos na conta do sacador, se o título é autêntico, se o apresentante é realmente
o beneficiário, bem como, examinar também a regularidade dos endossos,
quando houver mais de uma transferência, sendo que esta mesma obrigação será
também do Banco apresentante do cheque à Câmara de compensação. Diz o
Art. 39: “O sacado que paga cheque “à ordem” é obrigado a verificar a
regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos
endossantes. A mesma obrigação incumbe ao Banco apresentante do cheque a
Câmara de compensação”.
O Banco deve ser rigoroso no exame do cheque, pois responde civilmente
pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, conforme dispõe o
parágrafo único do Art. 39: “Ressalvada a responsabilidade do apresentante, no
caso da parte final deste artigo, o Banco sacado responde pelo pagamento do
cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do
endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte,
reaver o que pagou”.
Estando o cheque em ordem, o Banco deve pagá-lo, convertendo-o em
dinheiro.
6. A Prova do Pagamento do Cheque pelo Banco
Ao efetuar o pagamento de um cheque, o Banco deveria devolvê-lo ao
correntista emitente para fins de controle e prova de pagamento, mas isto não
ocorre na prática. Diz o Art. 68: “Os Bancos e casas bancárias poderão fazer
prova aos seus depositantes dos cheques por estes sacados, mediante
apresentação de cópia fotográfica ou microfotográfica”.
Portanto o estabelecimento bancário não precisa enviar os cheques ao
correntista para provar a movimentação da conta, o que deverá enviar
periodicamente serão os extratos de conta que reproduzem graficamente os
ingressos e as retiradas. Se o cliente solicitar, o Banco poderá, fazer prova dos
pagamentos efetuados através de cópia fotográfica ou microfotográfica dos títulos
pagos, conforme dispõe o referido artigo acima transcrito.
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7. A Apresentação Simultânea dos Cheques e a Insuficiência de
Fundos
O pagamento dos cheques deverá ser feito na medida em que forem sendo
apresentados ao sacado.
Diz o Art. 40: “O pagamento se fará à medida em que forem apresentados
os cheques e se dois ou mais forem apresentados simultaneamente, sem que os
fundos disponíveis bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de
emissão mais antiga e, se da mesma data, os de número inferior”.
Se forem apresentados dois ou mais cheques simultaneamente, e o
emitente não tiver fundos disponíveis em sua conta corrente, que bastem para o
pagamento de todos, o Banco deverá pagar o de emissão mais antiga, e se forem
da mesma data, os que tiverem número inferior, presumindo-se que tenham sido
emitidos com anterioridade.
8. Cheque em Moeda Estrangeira
O Cheque emitido em moeda estrangeira em outro País, para pagamento
no Brasil, deverá ser pago pelo Banco sacado, no prazo da apresentação, em
moeda nacional conforme o câmbio do dia do pagamento. Se o Banco não pagar
o cheque, na sua apresentação, dará o direito ao portador de optar entre o
câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento, para fins de conversão
em moeda nacional, conforme o Art. 42: “O cheque em moeda estrangeira é
pago, no prazo de apresentação, em moeda nacional ao câmbio do dia do
pagamento, obedecida a legislação especial”.
Parágrafo único – “Se o cheque não for pago no ato da apresentação, pode
o portador optar entre o câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento
para efeito de conversão em moeda nacional”.
9. Morte ou Incapacidade do Emitente
Após a emissão do cheque, pode ocorrer que o correntista venha a morrer
ou tornar-se incapaz, porém o título não perderá o seu efeito, pois, o portador
legitimado terá o direito de exigir o pagamento do cheque, e o banco sacado não
poderá negar-se a fazê-lo durante o período da apresentação, desde que
verificada a regularidade da emissão.
Diz o Art. 37: “A morte do emitente ou sua incapacidade superveniente à
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emissão não invalidam os efeitos do cheque”.
10. O não Pagamento do Cheque pelo Banco e sua Devolução
O banco pode deixar de pagar o cheque por insuficiência de fundos, por
irregularidade formal do título, por desconformidade da assinatura do emitente e
por contra-ordem ou oposição. Nestes casos deverá devolvê-lo ao apresentante,
declarando no verso o motivo do não pagamento. Declaração esta, que deverá
ser escrita e datada no próprio cheque, com a indicação do dia de apresentação,
constituindo prova da recusa de pagamento.
É muito importante a declaração do não pagamento, pois, nos termos da lei
atual do cheque, isto fará as vezes do protesto cambiário, podendo o portador
promover a execução contra os endossantes do cheque e seus avalistas, e ainda,
o portador que não apresentar o cheque em tempo, ou não comprovar a recusa
de pagamento pela declaração ou pelo protesto, irá perder o direito de execução
contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável,
conforme o Art. 47, II, § 3º - “O portador que não apresentar o cheque em tempo
hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo,
perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis
durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe
seja imputável”.
11. Falta de Provisão de Fundos
Quando o cheque é devolvido por insuficiência de fundos, uma das
hipóteses mais freqüentes de falta de pagamento poderá ser, reapresentado 02
(dois) dias após a apresentação, e, se por ocasião da apresentação, a conta
continuar sem fundos disponíveis, irá caracterizar-se o mau uso do cheque,
acarretando graves conseqüências ao emitente.
Anteriormente, tínhamos a Circular nº 162, de 26 de agosto de 1971, do
Banco Central, que determinava o encerramento da conta corrente quando o seu
titular fizesse uso indevido do cheque, caracterizando-se pela segunda
apresentação do cheque, feita após o mínimo de dois dias úteis da primeira
apresentação, sem que a conta tivesse fundos disponíveis e suficientes para o
pagamento do cheque.
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Hoje, temos a matéria disciplinada pela Resolução nº 1.631, de 24 de
agosto de 1989, do Banco Central, que prevê o Cadastro de Emitentes de
Cheques sem Fundos, no qual deve ser incluído o nome dos correntistas que
façam mau uso do cheque, conforme o Art. 4º da referida Resolução: “Fica a
critério de cada estabelecimento a abertura, manutenção ou encerramento de
conta de depósitos à vista cujo titular figure ou tenha figurado no Cadastro de
Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), observando-se as disposições do Art.
2º, podendo o Banco Central do Brasil determinar o seu encerramento”.
Diz o Art. 2º: “No fornecimento de talonários de cheque, deve-se observar:
a) é vedada a entrega se o correntista ou o seu procurador figurar no
Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) de que trata o Capítulo III
deste Regulamento ou quando tiverem restrição cadastral;
b) o primeiro talonário somente poderá ser entregue mediante expressa
autorização da administração da agência”.
Para que o correntista tenha uma boa reputação perante o Banco, sem
dúvida, a sua principal obrigação será a de manter fundos suficientes em sua
conta corrente para que o sacado acolha as ordens de pagamento que lhe são
dirigidas.
Quando o correntista emitir cheques sem fundos, ele não só irá constituir
uma violação ao contrato da conta corrente bancária, além de crime; como
também irá colocar em risco a credibilidade do instituto e do estabelecimento de
crédito contra o qual é sacado, comprometendo ainda todo o sistema bancário,
daí, termos a intervenção do Banco Central com normas específicas, visando a
evitar o mau uso do cheque.
O beneficiário que tiver o cheque devolvido, após a apresentação, por falta
de fundos, terá o direito de obter do Banco sacado, as informações necessárias à
identificação e localização do emitente, tais como: nome completo, número
registro geral, endereço residencial e comercial, conforme o Art. 24 da Resolução
nº 1.631/89: “O Banco sacado é obrigado a fornecer ao portador do cheque
devolvido por falta de fundos todas as informações que permitam a identificação e
a localização do emitente”.
12. O Protesto Cambiário
Quando ocorrer o não pagamento do cheque, terá o beneficiário o direito
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ao protesto cambiário, típico dos títulos de crédito como a letra de câmbio, a nota
promissória e a duplicata.
Protesto deriva do latim “protestare” que significa, declarar alto e em bom
som, afirmar, é a apresentação pública do título do devedor para pagamento.
Segundo a Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, em seu Art. 1º
“Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de
dívida”.
Quando um título não é pago na data prevista, o credor pode exigi-lo
publicamente, através do Cartório de Protesto de Título, no primeiro dia útil
posterior ao do vencimento.
Dá-se a falta de pagamento, quando o sacado a quem o título deve ser
apresentado, não é encontrado ou se a ele apresentado, não o pagar, sem recusa
formal. Dá-se a recusa de pagamento se o título, uma vez apresentado por
portador legitimado, não é solvido, com negativa formal do sacado legítimo. Para
o cheque prevalecem ambas as situações relacionadas.
O protesto é um ato público e solene e serve para demonstrar de maneira
inequívoca que o título foi apresentado em tempo oportuno e o sacado deixou de
convertê-lo em dinheiro, tendo, ainda, que salvaguardar os direitos cambiários
emergentes do documento.
Devemos ressaltar que o protesto é facultativo para fins de execução
judicial do cheque, conforme dispõe o § 1º do Art. 47: “Qualquer das declarações
previstas neste artigo dispensa o protesto e produz os efeitos deste”.
Porém, como é grande a publicidade de um protesto, será um excelente
meio de compelir o devedor a saldar o débito, pois o cheque protestado pode
implicar restrição ao crédito do emitente na praça, pois os serviços de proteção ao
crédito e as agências de informações costumam anotar em seus arquivos; hoje
em dia todos os protestos que se realizam foram substituídos por sofisticados
computadores.
13. Lugar e Tempo do Protesto
O protesto se faz no Cartório de Protesto de Títulos, no lugar do
pagamento ou do domicílio do emitente, porém antes de expirado o prazo para a
apresentação do cheque. Se a apresentação ocorrer no último dia do prazo, o
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protesto será feito no primeiro dia útil subseqüente.
Diz o Art. 48: “O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-
se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do
prazo de apresentação. Se esta ocorrer no último dia do prazo, o protesto ou as
declarações podem fazer-se no primeiro dia útil seguinte”.
A Lei nº 9.492/97, em seu Art. 6º, também refere-se ao lugar do protesto:
“Tratando-se de cheque, poderá o protesto ser lavrado no lugar do pagamento ou
do domicílio do emitente, devendo do referido cheque constar a prova de
apresentação ao Banco sacado, salvo se o protesto tenha por fim instruir medidas
pleiteadas contra o estabelecimento de crédito”.
Ao receber um cheque para protesto, o oficial do cartório deverá observar
as seguintes regras: a) a entrega do cheque para protesto deverá ser prenotada
em livro especial e o protesto tirado (realizado) no prazo de 03 (três) dias úteis a
contar do recebimento do título; b) antes de concluir-se o protesto, deverá intimar
o emitente e seus coobrigados, que poderão efetuar o pagamento no cartório,
evitando assim o protesto, ou então, justificando o não pagamento; c) não pago, o
cheque será então protestado, lavrando-se em livro especial e expedindo-se ao
portador o documento comprobatório do ato, chamado instrumento de protesto,
que deverá ser datado e assinado pelo oficial público.
O instrumento de protesto deverá conter: a) a transcrição literal do cheque,
com todas as declarações nele inseridas, na ordem em que se acham lançadas;
b) a certidão da intimação do emitente, de seu mandatário especial ou
representante legal, e as demais pessoas obrigadas no cheque; c) as respostas
dadas pelos intimados ou a declaração da falta de resposta; d) a certidão de não
haverem sido encontradas ou de serem desconhecidos o emitente ou os outros
obrigados, realizada a intimação, nesse caso, pela imprensa.
Depois de registrado em livro próprio, o instrumento de protesto será
entregue ao portador legitimado ou a pessoa autorizada para retirá-lo.
Se o cheque for pago após o protesto, este poderá ser cancelado
mediante a apresentação de cópia autenticada da quitação, segundo Art. 48, § 4º:
“Pago o cheque depois do protesto, pode este ser cancelado, a pedido de
qualquer interessado, mediante arquivamento de cópia autenticada da quitação
que contenha perfeita identificação do título”.
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Referências Bibliográficas
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