A apropriação de gêneros textuais pelo professor: em ... · (ISD), assim como os aportes...

Preview:

Citation preview

Gêneros textuais e instâncias profissionais

A apropriação de gêneros textuais pelo professor: em direção ao desenvolvimento pessoal e à

evolução do “métier”.evolução do “métier”.

Profa. Dra. Anna Rachel Machado GRUPO ALTER – LAEL-PUC-SP

Profa. Dra. Eliane Lousada – GRUPO ALTER – USP

Objetivos� Apresentar e discutir nossa concepção sobre o papel

que o ensino de gêneros textuais pode desempenhar na atividade do trabalho docente e sobre o desenvolvimento pessoal, tanto epistemológico desenvolvimento pessoal, tanto epistemológico quanto praxiológico, teoricamente infinito ou infindável do próprio professor, assim como para a evolução do próprio “métier”, e não simplesmente sobre o desenvolvimento dos alunos, como é normalmente enfatizado nas diferentes prescrições educacionais.

Nosso posicionamento científico

em geral� Os princípios do interacionismo sociodiscursivo

(ISD), assim como os aportes teórico-metodológicos deles decorrentes, dado que acreditamos haver uma coerência interna nessa proposta, com a explicitação coerência interna nessa proposta, com a explicitação clara das relações entre sua posição filosófica, política, psicológica, linguística, didática e formativa.

� A necessidade de abordagem pluridisciplinar, sem a qual não podemos compreender os fenômenos especificamente humanos.

Nosso posicionamento científico

em geral� A não existência de um “modelo” teórico

metodológico fechado, que venha de qualquer dessas disciplinas, mas sim, que esteja sempre aberto a uma permanente (re-) construção; aberto a uma permanente (re-) construção;

� A não separação da teorias e das práticas, em favor de nenhuma das duas, mas o questionamento contínuo das teorias pelas práticas didáticas e das práticas didáticas pelas teorias.

Para que tomar os gêneros textuais como foco

no ensino de produção /leitura de textos?

� Texto fundador para responder a essa questão: artigo de Schneuwly (1994), seguido de pesquisas e trabalhos junto a Dolz, com uma leitura vigotskiana da noção de gênero bakhtiniana:da noção de gênero bakhtiniana:

� “ Les genres peuvent être considérés, en suivant Bakhtine (1984), comme des outils qui fondent la possibilité de communication”

Para que tomar os gêneros textuais como foco

no ensino de produção /leitura de textos?

� Schneuwly introduz a questão do ensino de gêneros de texto, mas dando ênfase à questão do desenvolvimento de operações de linguagem necessárias à produção de qualquer gênero. Não é o necessárias à produção de qualquer gênero. Não é o ensino do gênero apenas pelo ensino do gênero.

Problemas nos PCN

� Houve o que chamamos de “Transposição didática invertida”, dado que:

� Havia (e há) falta de consenso científico sobre a � Havia (e há) falta de consenso científico sobre a noção de gênero.

� Havia uma extraordinária falta de conhecimentos construídos sobre gêneros importantes da vida social brasileira a serem ensinados.

Instrumento (como conceito da psicologia)

1. Nao é algo que está aí, pronto, “dado” pela natureza ou pela sociedade, que se pode pegar com as mãos, mas de algo que é construído pelo sujeito e por ele utilizado para atingir o objetivo de sua ação.

2. O uso de um novo instrumento vai provocar transformações no ambiente físico ou social, no(s) outro(s) transformações no ambiente físico ou social, no(s) outro(s) que interage(m) com o sujeito, mas também sobre ele mesmo, fazendo com que ele tenha profundas transformações psíquicas:

� aumente seus conhecimentos sobre o mundo físico e social;

� desenvolva capacidades para agir sobre o outro e sobre o mundo.

� que regule seu comportamento.

Artefato ≠ Instrumento (Rabardel)

� Artefatos são “objetos” materiais ou simbólicos, sócio-historicamente construídos para:

o mediarem a ação do homem sobre o meio ou sobre o outro;

o para se atingirem determinadas finalidades.

� Entretanto, nenhum artefato, em si mesmo, pode servir como esse elemento mediador da ação humana.

� É preciso desmistificar essa visão.

Artefatos

�Colocados à disposição dos trabalhadores, em uma determinada época e em uma determinada sociedade.

�Mas existe a necessidade de o trabalhador apropriar-se do artefato

O que é apropriar-se de alguma coisa?

� Apropriar-se è adaptar alguma coisa a um uso ou a uma finalidade determinada; atribuir alguma coisa a si mesmo, fazer com que ela seja SUA (algumas vezes, até mesmo de modo indevido).

O artefato nunca é apropriado em sua totalidade, � O artefato nunca é apropriado em sua totalidade, mas em parte, de acordo com as necessidades dos sujeitos, de suas capacidades, da situação etc.

� Assim, é só quando algum artefato é apropriado pelo sujeito que ele passa a ser verdadeiro instrumento para sua ação, na concepção da teoria vigotskiana.

O trabalho docente� Aportes da Clínica da Atividade (Clot, 1999) e da

Ergonomia da Atividade (Amigues, 2004; Saujat, 2004; Faïta, 2004) e o interacionismo sociodiscursivo.

� É constituído de múltiplas atividades, desenvolvidas em diferentes situações, que precisam ser investigadas, pois se interelacionam, mas implicando interactantes, objetos (ou objetivos), artefatos e instrumentos diferenciados, que podem ser representados por triângulos constituídos por três pólos internos à atividade.

Trabalho em sala de aulaa) O professor mobiliza seu ser integral, em suas

múltiplas dimensões (físicas, cognitivas, linguageiras, afetivas etc.),

b) Com o objetivo/objeto de criar um ambientepropício à aprendizagem de determinados propício à aprendizagem de determinados conteúdos pelos alunos e ao desenvolvimento de capacidades a eles relacionadas, direta ou indiretamente.

c) é desenvolvida em interação permanente com outros actantes (com os alunos, principalmente, mas também com “outros” não presentes fisicamente na situação)

Trabalho em sala de aulaa) é uma atividade instrumentada, nos sentido de que o

professor utiliza instrumentos materiais ou simbólicos,oriundos da apropriação, pelo professor, por si e para si, de artefatos disponibilizados pelo seu meio social.

a) Nesse sentido, ela pode ser altamente criativa, dado que o a) Nesse sentido, ela pode ser altamente criativa, dado que o professor não re-cria esses artefatos de acordo com as diferentes situações, necessidades e capacidades.

a) é uma atividade orientada por diferentes prescriçõesinstitucionais de diferentes níveis (PCNs, no caso do ensino de gêneros textuais) e por modelos do agir (Bronckart, 2004), historicamente construídos pelo coletivo de trabalho.

O trabalho docenteContexto sócio-histórico particular

Sistema educacional

Sistema de ensinoArtefatos:Obj. materiais ou simbólicos sociohistoricamente construídos e

Professor

Objeto Objeto –– Na aula, organizar Na aula, organizar um meio de trabalho coletivo um meio de trabalho coletivo que propicie a aprendizagemque propicie a aprendizagem

construídos e disponibilizados (prescrições, modos de agir, ferramentas etc.)

Outrem– alunos, pais, colegas, diretor, outros não presentes, outros “dentro do P”, as outras atividades do P, as atividades dos outros.

Instrumentos

Trabalho do professor e gêneros

textuais

� Como podemos considerar o papel do ensino centrado nos gêneros textuais em relação a esse trabalho? trabalho?

� Qual seu papel no desenvolvimento dos professores e na evolução da profissão docente, ou seja, do métier?

O papel do ensino centrado nos gêneros

textuais em relação ao trabalho docente

� São colocados diferentes artefatos para mediar a atividade do professor:

1)As finalidades do ensino, as concepções sobre ensino-1)As finalidades do ensino, as concepções sobre ensino-aprendizagem, os conteúdos, os procedimentos de ensino, a disposição das disciplinas etc.

2)Dentre esses artefatos: as prescrições dos PCN para LP: ensino de produção e leitura com foco em gêneros textuais na forma de sequências: ou seja, um ARTEFATO, que, se assumido pelo professor, levará a atingir as finalidades prescritas.

Papel do ensino dos gêneros no desenvolvimento

dos professores e na evolução do métier

� No entanto, para que os professores se desenvolvam e para que haja evolução do métier:

�Seria importante que o professor se apropriasse dessas finalidades .

�Ele teria de fazer com que essas finalidades impostas de fora passassem a ser seus próprios objetivos.

Conclusões

� É preciso que o professor se aproprie do artefato (por si e para si) e se certifique que ele pode ser útil para o seu trabalho, para si mesmo, para sua transformação, para seu bem-estar, e não transformação, para seu bem-estar, e não apenas para o aluno.

Conclusões

- Os gêneros textuais podem se constituir em instrumentos para os alunos e seu uso influencia profundamente a construção do saber e os processos de conceitualização.

- Eles podem se tornar instrumentos para os professores no sentido de que eles também podem influenciar profundamente a construção do saber o os processos de conceitualização do próprio professor (sobre produção e leitura). Desse modo, o professor estará caminhando em direção ao desenvolvimento profissional pessoal, assim como estará contribuindo para evolução do “métier”.